sábado, 17 de março de 2018

Adriana Fernandes; Sucessões

- O Estado de S.Paulo

Henrique Meirelles se equilibra entre dois figurinos aparentemente incompatíveis

O cenário mais provável hoje é de que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deixe o cargo para buscar sua candidatura à Presidência da República em outubro. O seu pé nesse momento está mais fora do que dentro do governo.

Sem o apoio garantido do MDB, Meirelles analisa convites que já recebeu de partidos menores para se filiar. As articulações no momento caminham nessa direção. O ministro não pretende deixar para o último minuto para anunciar a decisão de ficar ou sair . Fará isso dias antes do prazo final que a Justiça Eleitoral exige para os candidatos se desincompatibilizarem dos seus cargos (7 de abril).

Fora do governo, Meirelles terá mais liberdade para começar a campanha e viajar pelo País para lançar seu nome até agosto, quando as chapas terão de estar oficialmente formadas. Por enquanto, se equilibra entre dois figurinos aparentemente incompatíveis, o de pré-candidato declarado e o de comandante da política econômica – vide o ruído gerado com as declarações sobre estudos para reduzir preços dos combustíveis.

A aposta é que, no momento em que a campanha presidencial afunilar, muitos candidatos vão desistir. Será a hora de consolidar a sua candidatura. Se o “candidato” Michel Temer desistir de se lançar à reeleição, a percepção é de que terá apoio do presidente.

Hoje, Meirelles não tem aval do Palácio do Planalto e de caciques regionais do MDB, que fazem jogo de cena em torno da sua filiação no partido. Diga-se, um partido com histórico de grande complexidade e divisão nas eleições para a Presidência por conta das articulações políticas regionais. Em muitos Estados, é mais fácil encontrar emedebista ao lado do PT do que dos partidos aliados do governo.

Meirelles já foi avisado de que os diretórios do MDB estão divididos sobre os rumos a seguir na campanha e provavelmente criarão problemas para avalizar um “cristão novo” na cabeça da chapa. Uma decisão comparada pelos assessores do presidente a um “mercado de derivativos”, opção de investimento financeiro de altíssimo risco. A preferência do Planalto é que Meirelles volte logo a vestir o figurino completo de ministro.

Faltando 15 dias para o prazo final, a corrida para a sucessão na Fazenda é a que está em jogo. Ela está misturada com a substituição do presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro. A indicação do líder do governo no Senado, Romero Jucá, do nome do ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, para substituir Meirelles pode não ser para valer. Oliveira está sendo cotado mesmo é para assumir a cadeira de Rabello no BNDES, posto chave para a concessão de crédito no País.

Embora tenha sinalizado que não quer mais sair do governo, Rabello está sendo fritado, principalmente depois ter dado a declaração infeliz de que vai usar de “criatividade” para emprestar aos Estados. Perdeu mais ainda credibilidade. Não pega bem para um banqueiro.

Impasse. Não foi bem recebida a decisão do governo de prorrogar por mais 60 dias os trabalhos da comissão interministerial criada para resolver o impasse em torno da revisão do contrato de cessão onerosa de exploração de áreas de petróleo do pré-sal. O grupo será renovado por mais 60 dias, os debates estão evoluindo e há uma boa vontade das partes para chegar a um acordo. O governo quer fazer o megaleilão dos barris excedentes este ano.

Mas há dois problemas no caminho: as diferenças de números entre Petrobrás e governo e um contrato mal escrito. Os números dos pareceres das duas certificadoras contratadas, DeGolyer and MacNaughton (D&M) pela Petrobrás e a Gaffney, Cline and Associates (GCA) pelo Ministério de Minas e Energia e Agência Nacional de Petróleo, são muito diferentes. O trabalho todo do grupo consiste em ver as hipóteses usadas nos relatórios das duas certificadoras para ver se os números convergem para um único valor.

Há certeza de que isso acontecerá? Não. Essa negociação poderá levar semanas, meses ou anos. O que há é uma imensa boa vontade do governo e da Petrobrás de resolver o assunto o mais rápido possível, respeitando cada detalhe do contrato. Mas ainda há divergências. Essa é a realidade hoje.

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