terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Raymundo Costa: Um viés de esquerda na chapa de Alckmin

- Valor Econômico

Barbosa quer, mas PSB não tem como assegurar legenda

É remota a hipótese de o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa se filiar ao PSB para disputar a Presidência da República. As conversas do ex-ministro com o partido ainda estão abertas, mas nada neste momento sugere que elas possam chegar a um desfecho capaz de embaralhar as cartas da sucessão presidencial. Barbosa quer, pelo menos esta é a percepção dos dirigentes do PSB, mas teme levar uma rasteira e não ganhar a indicação do partido. A direção do PSB, por seu turno, não se sente segura para garantir a legenda a Joaquim Barbosa.

A dificuldade de Joaquim Barbosa não chega a ser inédita no PSB. O próprio Eduardo Campos teve dificuldade para se lançar candidato em 2014. O então governador de Pernambuco tinha o controle do partido e acabou por assegurar legenda para concorrer às eleições, mas no processo saíram Ciro Gomes, Cid Gomes, o à época prefeito de Fortaleza Roberto Claudio e o ex-prefeito de Duque de Caxias (RJ) Alexandre Cardoso, para citar apenas os mais bem posicionados. Sem falar dos que ficaram no PSB, como o ex-presidente da sigla Roberto Amaral, um integrante histórico do partido. O ex-presidente Lula e o PT atuaram fortemente para evitar a entrada de Campos na competição.

Das sete eleições disputadas desde o restabelecimento das diretas para presidente da República, em 1989, o PSB entrou na chapa em três: foi vice de Lula em 1989, disputou com Anthony Garotinho, em 2002 e com Marina Silva em 2014, no lugar de Eduardo Campos, morto durante a campanha eleitoral. Nas outras quatro o partido fez coligação com o PT em três e não apoiou ninguém para presidente em 2006 - talvez a campanha sucessória mais parecida com a que deve enfrentar o PSB em 2018.

Em 2006, o PT entrou na eleição recém-saído do mensalão, foi amplamente vitorioso, mas a aliança com o parceiro já tradicional, àquela altura, ia contra os interesses do PSB. Em Pernambuco, Campos se elegeu governador contra o PT. No Rio Grande do Norte o PSB também subiu ao pódio sem o PT. O preço pago por Campos foi não poder colocar a foto de Lula no seu programa eleitoral de televisão. Ganhou assim mesmo. Hoje o PSB tem dez candidatos competitivos nos Estados, vai se sentir muito satisfeito se reeleger Márcio França (atual vice), em São Paulo, Rodrigo Rollemberg, no Distrito Federal, e Paulo Câmara, em Pernambuco. Dependendo do nome, interessa ou não a cada um ter um candidato nacional.

Pernambuco e o Distrito Federal são bons exemplos. Além de Joaquim Barbosa, a ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade) também procurou o PSB pedindo apoio. Mas há coisas que só acontecem no Rede: da última vez que Marina esteve com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, seu partido havia acabado de deixar o governo do DF e estava de rompimento anunciado com Paulo Câmara, de Pernambuco. Nesse aspecto Barbosa está mais perto do PSB que Marina: sentindo que um bom puxador de votos pode estar escapando entre os dedos, a bancada do PSB também abriu conversa com o ex-presidente do STF.

Uma aliança com Geraldo Alckmin, PSDB, poderia resolver os problemas de Rollemberg com os tucanos do Distrito Federal; em Pernambuco, Câmara e familiares de Eduardo Campos estiveram recentemente com Lula, em São Paulo, mas alegaram que se tratou apenas de uma visita de retribuição - em caravana pelo Nordeste, Lula fez uma visita a Renata, a viúva de Eduardo Campos. Difícil. A chave para resolver o PSB está em São Paulo. "A reeleição do Márcio França é a prioridade máxima do PSB", diz Carlos Siqueira.

França é o atual vice-governador. Quando Alckmin sair para disputar a Presidência pelo PSDB, o que está previsto para o início de abril, ele assume o cargo com direito a disputar mais uma reeleição. Se tiver o apoio de Alckmin, o PSB não vai se negar a associar seu nome ao do PSDB numa campanha nacional. A aliança com o PSB daria um verniz de esquerda para a candidatura do governador de São Paulo, que hoje já é um nome bem aceito pelos setores de centro-direita. O PSB tem até um nome para eventual candidato a vice: Aldo Rebelo, recentemente filiado. O problema todo é o PSB, que insiste em ter candidato próprio.

Uma saída seria a filiação de Márcio França ao PSDB, arriscada, pois mais adiante os tucanos poderiam deixar o governador a pé. O PSB é seu único partido desde a juventude. Eduardo Campos e a atual direção o consideram um "homem de partido". É difícil também para Alckmin simplesmente recusar a sigla - com o tempo de TV e o simbolismo que a sigla carrega - e o vice, pessoa pela qual tem apreço desde quando ambos compartilhavam a amizade de Mário Covas, ex-governador morto em 2001.

O objetivo do PSB para 2018 é continuar o histórico de crescimento do partido desde 1990, quando fez 0,82% dos votos para a Câmara dos deputados - em 2006 rompeu a definitivamente barreira dos 6%, onde tem se equilibrado. A expectativa hoje é eleger entre 35 e 45 deputados. Nos Estados, entra com candidatos competitivos em Minas Gerais, DF, Pernambuco, Sergipe, Paraíba, Tocantins, Amazonas, Amapá, Espírito Santo e, claro, São Paulo, onde terá em mãos o governo estadual. Essa a equação para chegar a um candidato ou candidato nenhum. Pelo andar da carruagem é difícil que apareça um candidato capaz de unificar as vontades, sobretudo se a eleição de outubro mantiver a característica que marcou as últimas disputas: o pessoal do PSB na região Nordeste votou no PT e no Sul e Sudeste no candidato do PSDB.

Sem mandato
Um dos principais articuladores da intervenção federal no Rio de Janeiro, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) insiste que não é candidato ao governo fluminense, conforme o Twitter que postou no fim de semana. Mais ainda, não será candidato a cargo eletivo nenhum, decisão tomada na fila de votação da Câmara dos Deputados que votou a cassação do ex-deputado e ex-ministro José Dirceu. Naquele momento - conta - Moreira concluiu que não estava ali "para isso".

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