quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Sem a reforma da Previdência, os ganhos serão desfeitos: Editorial/Valor Econômico

Depois de combater um grave surto inflacionário, o Banco Central levou os juros para os menores patamares da história, o que garante uma boa margem de segurança para enfrentar eventuais turbulências em um ano de eleições presidenciais. Mesmo num cenário de calmaria, porém, os desafios diante do BC em 2018 não são triviais. No curto prazo, será preciso decidir sobre ampliar ainda mais os estímulos à economia para cumprir as metas de inflação. Mais adiante, será a vez de refletir sobre a normalização da política monetária.

No ano passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 2,95%, abaixo não apenas da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o ano, de 4,5%, mas também do limite inferior do intervalo de tolerância, de 3%. Nas suas justificativas apresentadas em carta aberta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, disse que a inflação ficou baixa devido à queda de preços de alimentos. Ele sustentou que a política monetária já está sendo conduzida para levar a inflação à meta, de 4,5%, neste ano.

De fato, projeções do Banco Central apresentadas no seu Relatório Trimestral de Inflação mostram que, se os juros forem reduzidos dos atuais 7% ao ano a 6,75% ao ano na reunião de fevereiro de seu Comitê de Política Monetária (Copom), a inflação deverá fechar 2018 em 4,2%, bem perto da meta. Nos o ano passado, o BC já havia acelerado o corte de juros, que em 2016 chegou a um pico de 14,25% ao ano.

A questão é que os membros do Copom, hoje, têm mais dúvidas do que o costume se a inflação vai caminhar conforme o previsto. Eles apontam riscos dos dois lados: fatores positivos podem fazer a inflação seguir muito baixa e fatores negativos poderão fazê-la acelerar mais rápido que o desejado.

O Banco Central vem acompanhando de perto, em especial, os chamados núcleos de inflação. Essas medidas, que eliminam oscilações de preços mais voláteis e procuram determinar a tendência subjacente da inflação, emitem sinais ambíguos. Alguns deles indicam que a inflação vai convergir para a meta em 2018, enquanto outros apontam o risco de perpetuação dos índices de preços abaixo do piso da meta.

O Banco Central vai monitorar os núcleos de inflação, ao lado de outros indicadores, para decidir se será necessário ampliar ainda mais os estímulos monetários. Segundo a leitura dos especialistas do mercado, os núcleos mais recentes, referentes a dezembro, reforçam a tese de que a inflação vai caminhar para o centro da meta.

Do lado dos riscos negativo, o BC esta acompanhando a tramitação da Reforma da Previdência. Graças ao ambiente de alta liquidez internacional, o mercado tem ignorado a falta de progressos, mas poderá cair em si caso o ambiente externo vire, por exemplo, com uma alta de juros mais forte nos Estados Unidos. Durante as eleições presidenciais, o mercado vai reavaliar, a todo o momento, o compromisso dos candidatos com o equilíbrio fiscal.

Quanto menores as chances de aprovação da reforma da Previdência, seja neste ou no próximo governo, maior o risco Brasil e a taxa de câmbio. Ao longo do ano, o BC deverá avaliar esses eventuais impactos na inflação e decidir se será preciso combatê-los, seja cortando menos os juros ou subindo.

Outro desafio para o Copom ao longo de 2018 é uma eventual normalização da política monetária. Quando a inflação estiver encaminhada para a meta e a economia operando sem ociosidade, a política monetária deverá deixar de ser estimulativa.

Há dúvidas enormes, entre os economistas, sobre quando a inflação vai acelerar para a meta. Alguns acham que, depois de uma recessão histórica, uma boa parte da capacidade produtiva foi destruída - por isso a economia vai bater rapidamente no teto, acelerando a inflação. Outros acham que levará anos para os preços reagirem.

Outra dúvida é sobre quanto os juros terão que subir, quando a política monetária for normalizada. O Banco Central tem afirmado que a taxa neutra caiu depois de aprovadas reformas importantes, como a trabalhista. Se isso for verdade, os juros terão que subir menos para sair do terreno estimulativo. Mas especialistas dizem que, sem a reforma da Previdência, todos os ganhos serão desfeitos. Nesse caso, os juros terão que subir mais.

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