terça-feira, 4 de abril de 2017

Opinião do dia – Nelson Jobim

"A questão da corrupção tem que ser tratada com lucidez porque não se constrói o futuro retaliando o passado. É bom ter presente que o Judiciário trata do passado. Ele aplica penas ao passado que se cumprirão no futuro. Mas o Judiciário não resolve o problema do futuro. Não se constrói o futuro com sentenças.

*Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Valor Econômico, 3/4/2017

Defesas de Temer e Dilma tentarão adiar julgamento

Presidente e ex-presidente querem evitar leitura de voto do relator

Sessão do TSE para julgar chapa eleita em 2014 está marcada para a manhã de hoje; PSDB entrou com ação, mas Fernando Henrique afirma que eventual cassação causaria ‘mais confusão’ no país

No primeiro dia do julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE, hoje, a estratégia dos advogados do presidente e os da ex-presidente será a mesma: pedir o adiamento da sessão marcada para analisar o processo de cassação dos dois eleitos em 2014. O pedido, feito com a apresentação de uma questão de ordem, será feito antes mesmo da leitura do relatório do ministro Herman Benjamin. O objetivo das defesas é tentar impedir o início da votação. Ontem, o ex-presidente Fernando Henrique disse que uma eventual cassação da chapa causaria “mais confusão” no país. A ação foi proposta pelo PSDB do tucano.

A estratégia é o adiamento

Defesas de Dilma e de Temer vão fazer pedido logo no início da sessão de julgamento da chapa

Carolina Brígido, Simone Iglesias e André de Souza | O Globo

-BRASÍLIA- Os advogados do PT e do PMDB devem apresentar hoje em plenário pedido para adiar o julgamento do processo de cassação da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) logo no início da sessão, antes mesmo da apresentação do relatório do ministro Herman Benjamin. A estratégia das defesas é tentar impedir o início da votação, alegando que não houve tempo suficiente para a contestação de todas as acusações apresentadas. Ministros ouvidos pelo GLOBO confirmaram a possibilidade de apresentação de questão de ordem no início da sessão. A defesa do PSDB, autor da ação, também já se preparava para contestar o argumento prévio, se fosse necessário.

Planalto espera pedido de vista para adiar julgamento no TSE

Julgamento no TSE começa e governo prevê interrupção

Planalto confia que início da análise do pedido de cassação da chapa Dilma-Temer seja paralisado hoje por pedido de vista; FHC vê risco para economia do País

Vera Rosa, Rafael Moraes Moura, Beatriz Bulla e Breno Pires | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto aposta em uma estratégia amplamente usada no meio jurídico para interromper nesta terça-feira, 4, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o julgamento do processo que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer e pode tirar o mandato do presidente. A expectativa do governo é de que um ministro da corte eleitoral peça vista do caso – o que significa mais tempo para análise –, suspendendo a sessão. Mesmo assim, há receio de que o processo ressuscite o movimento “Fora, Temer” e aumente a crise.

A defesa do presidente quer adiar o julgamento pelo maior prazo possível, se necessário empurrando o desfecho do caso para 2018, último ano do governo. Às vésperas da abertura do sigilo das delações da Odebrecht pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o Planalto teme que o julgamento no TSE, agora, afugente investidores e prejudique votações importantes, como a da reforma da Previdência.

TSE começa julgamento do pedido de cassação da chapa Dilma-Temer

Por Luísa Martins e André Guilherme Vieira | Valor Econômico

BRASÍLIA E SÃO PAULO - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) inicia hoje um julgamento que, pela primeira vez, pode cassar um presidente no exercício do mandato. A ação impetrada pelo PSDB logo após a derrota nas eleições presidenciais de 2014 investiga se a chapa vencedora, a de Dilma Rousseff e Michel Temer, cometeu ilegalidades durante a campanha. Se a maioria dos ministros entender que sim, Temer pode deixar o Palácio do Planalto - neste caso, é convocada uma eleição indireta, a ser realizada no Congresso Nacional, para escolher seu sucessor.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, sinalizou que a Corte poderá levar em conta a questão da governabilidade até 2018, no julgamento "Não vou emitir juízo sobre isso. É um julgamento complexo e o Tribunal terá de fazer uma análise de toda a ordem", afirmou.

Julgamento de Temer e Dilma no TSE começa com embates

Julgamento histórico da chapa Dilma-Temer deve ter disputa logo no início

Camila Mattoso, Letícia Casado, Reynaldo Turollo Jr., Marina Dias e Gustavo Uribe | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, SÃO PAULO - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) inicia nesta terça (4) seu primeiro julgamento de uma chapa presidencial (Dilma Rousseff-Michel Temer) com disputas jurídicas entre o relator da cassação, ministro Herman Benjamin, e as defesas da petista e do peemedebista.

A única certeza do dia é que Benjamin pretende levar o julgamento adiante nesta terça e impedir que um pedido de mais prazo feito pela defesa da ex-presidente seja acatado no plenário.

A expectativa no tribunal, no entanto, é que o julgamento seja suspenso por causa dessa solicitação de Dilma ou em razão de pedido de um ministro para ter mais tempo para analisar o caso.

Dentro do governo, é dado como certo esse pedido de vista –a dúvida é se isso ocorrerá agora ou numa segunda etapa do julgamento, após a leitura do voto do relator, que deve ser a favor da cassação da chapa.

Sem uma perspectiva positiva de votos no plenário neste momento, o tempo conta a favor do Planalto.

Primeiro, porque dois novos ministros assumem mandato no TSE até maio, além do fato de o julgamento começar em meio ao cronograma de votação de reformas importantes no Congresso, como a da Previdência.

A primeira sessão começa às 9h desta terça. Os advogados de Dilma querem cinco dias para as alegações finais, seguindo o rito da ação de impugnação de mandato.

O relator concedeu 48 horas, esgotadas na semana passada.

Ao todo, quatro ações diferentes, todas de autoria do PSDB, vão ser analisadas. Desde 2015 caminham em conjunto, por decisão da então relatora, Maria Thereza Assis de Moura.

Segundo a Folha apurou, Benjamin, que substituiu a ministra no cargo, avalia propor o julgamento de apenas uma dessas quatro ações, justamente aquela que prevê as 48 horas de prazo.

‘É mais confusão’, diz FHC sobre eventual cassação de Temer

Em entrevista à rádio CBN, o ex-presidente disse que a ação que corre no TSE, proposta pelo próprio PSDB em 2014, traz riscos para o País

- O Estado de S.Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse nesta segunda-feira, 3, que uma eventual cassação do presidente Michel Temer (PMDB) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e uma consequente eleição indireta traria uma “confusão” ainda maior para o País. “Já temos tantas dificuldades hoje, o Congresso ainda vai eleger uma pessoa pra ser presidente por um ano? É mais confusão”, disse o ex-presidente em entrevista à rádio CBN.

Para FHC, o processo que corre na Corte Eleitoral, cujo julgamento começa nesta terça-feira, traz riscos para o Brasil, principalmente no setor econômico. “A percepção das pessoas, especialmente dos investidores é: vamos ter outro problema no Brasil? Eles se retraem”, disse o ex-presidente. “O Brasil está há muito tempo de pernas para o ar, está começando a assentar um pouco. Levar muito tempo em um julgamento que põe em risco a situação vigente tem consequências negativas.”

A ação em análise pelo TSE foi proposta em 2014 pelo PSDB contra a chapa eleita, formada pela petista Dilma Rousseff e por Temer, que derrotou o então candidato do partido, Aécio Neves. Os ministros decidirão se houve abuso de poder político e econômico na campanha presidencial daquele ano.

FH diz que eventual cassação de Temer é ‘mais confusão’ para o país

Ex-presidente diz que Brasil está de ‘pernas para o ar’ e que país tem que estar à frente de interesses pessoais

- O Globo

SÃO PAULO - “É mais confusão”. Foi assim que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se referiu nesta segunda-feira à possibilidade de realização de uma eleição indireta no país, em caso de uma eventual cassação do presidente Michel Temer (PMDB) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A corte começa a julgar nesta terça-feira a ação em análise pelo TSE, proposta em 2014 pelo PSDB, contra a chapa eleita, formada pela petista Dilma Rousseff e por Temer. O tribunal decidirá se houve abuso de poder político e econômico na última campanha presidencial.

— Não se trata de eleição. O Congresso é quem elege. Porque já temos muitas dificuldades hoje. Então, o Congresso vai eleger uma pessoa, que eu não sei quem é, para ser presidente por um ano no momento da eleição? É mais confusão. Meu Deus! Nós temos que pensar que temos 12 até 13 milhões de desempregados. Chegou um momento de fazer uma reflexão sobre o Brasil que tem de estar a frente dos interesses pessoais e partidários — disse o ex-presidente, em entrevista à rádio CBN, na qual tratou do lançamento do terceiro volume do seu livro ‘Diários da Presidência’ em que revela detalhes da crise no início do segundo mandato, em 1999.

Para o dia de São Nunca | Merval Pereira

- O Globo

Tudo indica que resultado ficará para o Dia de São Nunca. O julgamento da chapa Dilma-Temer, que deveria começar hoje pela manhã no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pode nem ter início se os ministros aceitarem as chamadas “preliminares” dos advogados de defesa da ex-presidente Dilma. Eles vão pedir mais tempo para a análise dos novos materiais que foram enviados pela Procuradoria-Geral da República e pelo juiz Sérgio Moro ao TSE, especialmente as delações dos executivos da Odebrecht.

A defesa alega que o prazo de dois dias dado pelo relator Herman Benjamin para as alegações finais foi insuficiente, e pedem no mínimo cinco dias. Acontece que o TSE unificou quatro ações diferentes que pediam a cassação da chapa: uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije), duas ações de Impugnação de Mandato Eletivo (Aime) e uma representação.

A Lei das Inelegibilidades, que regula as Aijes, dá um prazo de dois dias para as alegações finais, mas a Lei das Ações de Impugnação é mais elástica, e concede cinco dias. A defesa da ex-presidente considera que o prazo maior deve ser concedido nesses casos, em favor do direito de defesa do acusado.

Por favor, enrolem | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

O TSE deve dar início hoje ao julgamento da chapa Dilma-Temer por abuso de poder econômico. Para além do eterno flá-flu entre partidários e adversários do grupo que está no poder, há duas formas de analisar esse juízo, que correspondem grosseiramente a duas formas de encarar a própria Justiça.

Para a primeira corrente, que podemos chamar de principista, os juízes devem apenas considerar as provas nos autos e fechar os olhos para possíveis efeitos adversos de sua decisão. Se não há dúvida de que a chapa vencedora em 2014 se beneficiou de recursos ilegais, ela deve ser cassada. Nesse quesito, não faz sentido separar as contas de Dilma e Temer, já que ambos teriam sido eleitos valendo-se de vantagem indevida.

Julgamento tardio | Míriam Leitão

- O Globo

Crise não é motivo para impedir ação contra a chapa. A defesa do presidente Michel Temer tenta separar as duas metades da chapa eleita em 2014, mas usa os mesmos argumentos sustentados pela defesa da ex-presidente Dilma Rousseff. Ambos querem que os depoimentos da Odebrecht não sejam considerados, já que foram prestados muito tempo depois da denúncia feita originalmente pelo PSDB.

Nos argumentos da defesa, os dois integrantes da chapa se igualam, tanto que confirmam serem partes de uma mesma unidade. Hoje a chapa Dilma-Temer começa a ser julgada com a apresentação do voto do relator Herman Benjamin, exatamente dois anos, cinco meses e nove dias após a eleição que os reconduziu aos cargos. Demorou tanto esta ação que o mandato está na sua segunda metade e é exercido pela segunda pessoa da chapa. Passou tanto tempo que já não é possível realizar outra eleição direta, e a escolha de um sucessor, em caso de dupla vacância, tem que ser feita pelo Congresso. Exatamente este que aí está. No caso, a Justiça falha porque tardou.

Eleição indireta | Eduardo Cucolo

- Folha de S. Paulo

É pouco provável que o julgamento que se inicia nesta terça-feira (4) no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) termine com o afastamento de Michel Temer da Presidência. Mesmo que as discussões se arrastem pelos próximos meses, como esperado.

Ainda assim, é difícil resistir e não especular sobre quem poderia substituí-lo no caso de uma eleição indireta pelo Congresso Nacional.

Em Brasília, não faltam candidatos. Ou melhor, opções de presidenciáveis. Um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), um ex-presidente da República, o próprio Temer (sim, isso é possível). São possibilidades ventiladas aqui ou ali. Provavelmente com o objetivo de reduzir o entusiasmo daqueles que querem o "Fora, Temer" pelas mãos do TSE.

A Justiça em julgamento | José Casado

- O Globo

Ação no TSE é sobre a força do dinheiro na vitória de Dilma e Temer na eleição de 2014. Numa época de desencanto com a política, a Justiça também estará em julgamento

Ação no TSE é sobre a força do dinheiro. Começa hoje, às 9h, em Brasília, um julgamento sobre o modo como se faz política e justiça no Brasil. Aberto ao público, será um acontecimento ímpar, porque vai permitir aos governados entender, avaliar e tirar conclusões sobre o funcionamento das instituições.

O processo é sobre a arquitetura e o poder do dinheiro na vitória da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer durante a disputa presidencial de 2014. Numa época de desencanto com a política, a análise do comportamento de governo, partidos e empresas vai incluir, também, a apreciação da qualidade de atuação da cúpula do Judiciário. Agora, a Justiça também abertura 

Pesquisa põe em xeque discurso do PT

Estudo de fundação petista com ex-eleitores da sigla na periferia de SP diz que para população não há luta de classes e Estado é ‘inimigo’

Ricardo Galhardo e Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo

Pesquisa qualitativa realizada pela Fundação Perseu Abramo, o braço acadêmico do PT, entre ex-eleitores do partido na periferia de São Paulo, mostra que para uma parcela deste segmento o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o apresentador Silvio Santos e o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), têm perfis semelhantes.

Segundo a pesquisa Percepções e Valores Políticos nas Periferias de São Paulo, o eleitor da periferia vê o Estado não como indutor de qualidade de vida e oportunidades, mas como “inimigo” responsável por se apropriar do dinheiro dos impostos e fornecer serviços de baixa qualidade. A única forma de ascensão social é o mérito pessoal. Neste sentido, os eleitores que abandonaram o PT veem tanto Lula quanto Silvio Santos e Doria como principais exemplos de homens que “saíram de baixo” e venceram na vida.

Estudo será tema de debate entre pesquisadores

Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, pretende convidar especialistas com posições políticas diferentes, inclusive do Instituto Fernando Henrique Cardoso, para discutir a pesquisa Percepções e Valores Políticos nas Periferias de São Paulo

Ricardo Galhardo e Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo

O presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, disse que pretende convidar pesquisadores com posições políticas diferentes, inclusive do Instituto Fernando Henrique Cardoso, para um debate aberto sobre a pesquisa Percepções e Valores Políticos nas Periferias de São Paulo.

“Há acúmulos sobre a temática da estratificação social, classes sociais, mas o debate até agora foi empobrecedor. Por isso há a sugestão de fazermos um convite. A ideia é chamar pessoas que estudam o tema, com posições políticas diversas das nossas, para um debate aberto”, disse Pochmann.

Relator vai incluir crime de caixa 2 na reforma política

Vicente Cândido diz que não vai inserir tema em texto de forma explícita, mas que interpretação será 'de cada um', já que políticos não podem ser punidos por prática não criminalizada

Igor Gadelha, Daiene Cardoso e Isadora Peron | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Relator na comissão especial da reforma política na Câmara, o deputado Vicente Cândido (PT-SP) vai propor em seu relatório, que será apresentado nesta terça-feira, 4, a tipificação do crime de caixa 2, com pena de 2 a 4 anos de prisão. O deputado disse que não vai inserir no parecer a anistia explícita a quem cometeu a irregularidade, mas a expectativa é de que uma emenda nesse sentido seja apresentada quando as propostas forem votadas no plenário da Casa.

Atualmente, o crime de caixa 2 não está previsto no Código Penal brasileiro. Com a ausência de tipificação, investigadores da Operação Lava Jato estão enquadrando os praticantes do ato em outros crimes, como lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. "Não vou prever anistia explícita no parecer. Vai ser a interpretação de cada um", afirmou Cândido ao Broadcast Político, serviço de notícia em tempo real do Grupo Estado. Uma dessas interpretações é de que políticos não podem ser punidos por atos cometidos no passado, quando a prática não era criminalizada.

Reforma política terá tipificação do caixa 2

Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - O relator da reforma política na Câmara dos Deputados, Vicente Cândido (PT-SP), decidiu incluir a tipificação do caixa dois de campanha entre a série de medidas que apresentará hoje em seu relatório O fundo público para custear campanhas será proposto com recursos na ordem de R$ 2,185 bilhões.

A criminalização do caixa dois de campanha ganhou força no Congresso com as delações de executivos das grandes empreiteiras, como a Odebrecht. A tese é de que essa prática só se tornará crime a partir da sanção da lei e, por isso, não pode ocorrer punição para irregularidades cometidas em eleições anteriores. O Ministério Público argumenta que há a previsão de crime por falsidade ideológica eleitoral e também a possibilidade de classificar como corrupção.

Um grupo de parlamentares e partidos tentou aprovar, no projeto das "10 Medidas Contra a Corrupção", emenda que deixasse explícita a anistia do caixa dois de campanhas passadas, mas ninguém quis assumir o ônus e a iniciativa não prosperou. O projeto foi encaminhado ao Senado na semana passada.

Cartas na mesa | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

Os partidos políticos, porém, estão sendo pautados pela necessidade de sobrevivência eleitoral de seus parlamentares

Com as principais lideranças do Congresso assediadas pela Operação Lava-Jato, a reforma política ganhou pernas longas e começou a andar bem rápido. Ontem, o relator da reforma, Vicente Cândido (PT-SP), tratou de antecipar os termos de sua proposta, que prevê lista fechada, voto distrital, 30% de financiamento eleitoral de pessoas físicas e o fim dos cargos de vice-presidente, vice-governador e vice-prefeito já no pleito de 2018.

Na véspera, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, num artigo intitulado Apelo ao bom senso, apresentou também suas sugestões, depois de analisar alguns inconvenientes de propostas mais audaciosas, como o parlamentarismo e o voto distrital misto. “Melhor sermos realistas e começarmos com mudanças menos ambiciosas”, avalia. Eis a proposta do líder tucano:

Eleição estatizada – Editorial | Folha de S. Paulo

Causam estupefação as cifras em estudo na Câmara dos Deputados para o financiamento, com dinheiro público, das eleições gerais do próximo ano.

Na comissão encarregada de formular a reforma política, fala-se em instituir fundo eleitoral que poderia atingir R$ 6 bilhões em 2018 —por coincidência a ilustrar a dimensão do absurdo, é o mesmo que se pretende obter neste ano com a alta emergencial de impostos.

Tal valor seria somado ao do já existente fundo partidário, cuja dotação, hoje na casa dos R$ 800 milhões anuais, pode crescer.

Os candidatos a presidente, governador, senador, deputado federal e estadual contarão ainda com o horário de rádio e TV dito gratuito, que custa ao erário ao menos R$ 600 milhões em abatimento de impostos oferecido às empresas de mídia pelo serviço.

O fator Renan nas reformas de Temer | Raymundo Costa

- Valor Econômico

Líder perdeu o trono mas ainda não é um leão desdentado

O Palácio do Planalto duvida que Renan Calheiros seja capaz de nomear o senador Roberto Requião como relator da reforma da Previdência, quando a proposta chegar ao Senado. Primeiro por considerar que o líder do PMDB cria dificuldade para negociar facilidades. Segundo, porque Renan já não exibe o poder de antigamente. Líder da bancada de 22 senadores do PMDB, é certo que não será seguido se tentar levar o partido para a oposição. O senador joga, na realidade, seu futuro eleitoral em Alagoas, em 2018, a esta altura pouco promissor.

Lula e o PT adoraram, em termos, a notícia de que o líder do PMDB no Senado ameaça desembarcar do governo e se reaproximar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem, na prática, nunca esteve distante. Em termos, porque Lula já tem processos demais para ficar se preocupando com a situação dos outros na Justiça. Já o PT entende que Renan apenas procura pressionar o presidente Michel Temer, mas não acha ruim ver o governo às voltas com o fogo amigo.

Um país de São Tomés | Bolívar Lamounier*

O Estado de S.Paulo

Sabemos que cedo ou tarde um frio intenso nos espera, mas não fazemos fé com agasalho

Acreditar ou não acreditar que uma coisa exista é uma questão de grau. São Tomé era um moderado: vendo, acreditava. Radical era a operária imortalizada por Noel Rosa no samba Três apitos, que no inverno ia sem meias para o trabalho, não fazia fé com agasalho e nem no frio acreditava.

Pior, porém, são certos setores satelitizados pelo PT e pela CUT, que atribuem a atual catástrofe brasileira aos sete meses do governo Temer, e não aos 13 nefastos anos de Lula e Dilma Rousseff. Tais setores se recusam a enxergar a herança mais que maligna da passagem do PT pelo poder: três anos de recessão, o número de desempregados saltando para 13,5 milhões e uma contração de 9% no PIB por habitante, registrada pelo IBGE. Em vez de se debruçarem sobre esses dados, os referidos setores insistem em que o trem estava nos trilhos enquanto as rédeas da economia estavam nas mãos de Dilma e Guido Mantega, e só descarrilou por obra e graça dos “golpistas” e de Michel Temer, esquecidos, naturalmente, de que Temer só chegou ao Planalto porque foi o vice na chapa da sra. Rousseff. Exultaram, dias atrás, quando o Ibope informou que a impopularidade de Temer é alta e crescente. Entenderam os números da pesquisa como uma “demonstração” de seu esdrúxulo argumento e aproveitaram a ocasião para ulular estridentemente nas ruas e nas redes sociais contra as reformas que ora tramitam no Congresso.

Liberalismo Popular Brasileiro | Joel Pinheiro da Fonseca

- Folha de S. Paulo

A periferia é liberal. Essa é a conclusão do estudo qualitativo feito pela Fundação Perseu Abramo (do PT) sobre como pensam e no que acreditam os moradores da periferia de São Paulo.

Com evidente desconforto, buscando minar as opiniões dos entrevistados com imagens irônicas e caracterizações depreciativas (eles "sobrevalorizam" o mérito e o mercado, sua noção de público é "distorcida", sua agenda é pautada pela "mídia hegemônica"), a apresentação expõe o abismo existente entre a visão de mundo da periferia e a ideologia da esquerda nacional, reduto de acadêmicos e militantes.

E no que consiste essa visão de mundo, que o estudo nomeou apropriadamente de "liberalismo popular"?

Sem hesitação – Editorial | O Estado de S. Paulo

Políticos, é claro, são movidos a voto, razão pela qual trabalham sempre tendo em vista a ampliação de seu capital eleitoral e evitam, tanto quanto possível, situações que erodam sua popularidade. Mas há circunstâncias excepcionais, como esta crise que tumultua o País, em que fica bem claro quem são os politiqueiros – aqueles que não se importam com o País e se empenham somente em proteger seu capital eleitoral – e quem são os líderes políticos de verdade, aqueles que honram seu ofício ao ter coragem de contrariar a opinião pública e demonstrar à sociedade quais devem ser as prioridades neste grave momento.

Assim, a grande impopularidade do presidente Michel Temer, aferida por diversas pesquisas nos últimos dias, não pode ser argumento para fazer o governo titubear diante do imenso desafio de reparar os fundamentos econômicos do Brasil, arruinados pelo desastroso governo petista.

Déficit da Previdência pressiona Congresso – Editorial | O Globo

Deputados e senadores, antes de votarem a reforma, deveriam acompanhar os números do esforço do governo para fechar este ano ainda com um déficit gigantesco

Qualquer reforma em sistema previdenciário pode ser comparada à conhecida imagem da manobra no transatlântico — aconselha-se fazêla com grande antecedência, para o navio poder se mover a tempo. Quando isso não acontece, aumenta o risco de acidentes, porque se torna mais difícil a correção de rumo. No caso, por resistências políticas, principalmente de corporações sindicais e de categorias existentes dentro da máquina burocrática do Estado, em defesa de privilégios.

É sintomático que um juiz no Rio Grande do Sul tenha aceitado pedido de liminar de sindicatos para impedir o governo federal de colocar no ar uma campanha de esclarecimento sobre a reforma. Não passa despercebido que o Poder Judiciário é uma das castas do funcionalismo que se opõem à proposta de uniformização crescente das regras de aposentadorias entre setores público e privado.

Manobra da Justiça mostra o beco sem saída do chavismo – Editorial | Valor Econômico

A face verdadeira do governo de Nicolás Maduro se revelou na retirada dos poderes da Assembleia Nacional e não em seu recuo, dois dias depois. Aturdido por inflação de três dígitos, severa escassez de bens de consumo e pagamentos futuros da dívida externa de US$ 110 bilhões, com reservas que sequer chegam à metade dessa quantia, Maduro não tolera oposições. A manobra do Tribunal Supremo de Justiça, na quarta-feira, foi mais uma demonstração explícita de que o chavismo não sairá do poder pela vontade das urnas.

À vitória que colocou o Congresso sob domínio oposicionista em dezembro de 2015 seguiram-se, já a partir de janeiro de 2016, a anulação e invalidação de todos os seus atos pelo TSJ. A Justiça bolivariana, dependente do Executivo, considera o Legislativo em desacato por não ter impedido a titulação de três deputados do Estado de Amazonas, acusados de fraudes eleitorais. Com os três, os opositores conseguiriam os dois terços da Assembleia necessários para não só mudar a Constituição, mas também para remover a cúpula do TSJ.

Nada vem do nada | Arnaldo Jabor

- O Estado de S. Paulo

José 318 falou: 'Um dia, só haverá informações sem homens'. Era 1957 e não se sonhava com internet

Hoje vou falar de filósofos - não fujam. Eles são Lucrécio, Spinoza e José de Oliveira, o José 318. José 318 era morador da Tijuca, perto da Pça. Saenz Pena.

Ninguém o conhece hoje, mas eu o carrego na memória dos dias extasiados de minha juventude. José 318 (seu número de matrícula) era meu colega de colégio no final dos anos 1950 e, sem dúvida, foi o cara mais inteligente que conheci na vida. Isso. Nunca vi cara tão genial aos 17 anos. Conversávamos muito de noite, sob as estrelas, na amurada da Urca, em frente à baía.

Uma vez, apontei para o universo e, filosófico, arrisquei minha perplexidade: “Afinal, o que é isso tudo?”.

- Não “é” nada - respondeu José, com suave discordância.

- Como “nada?” - estranhei.

- A pergunta está errada por achar que o universo “é” alguma coisa. O problema é a nossa linguagem limitada, como se o universo fosse “algo” fora dele mesmo. Não dá para usar o verbo “haver ou ser”.

- Como assim? - numa pergunta típica de mau diálogo.

- Tudo e nada são a mesma coisa. São impensáveis. A ideia de “nada” e de “tudo” é uma ideia de viventes. Como você vai morrer, o seu cérebro se programa para imaginar que “há” uma coisa e “não há” outra. De que há o “cheio” e o “vazio”, de que há o vivo e o morto. Ideia de viventes.

Eu... | Graziela Melo

Quando meu coração parou de bater, senti que já era defunta. Ainda tinha um corpo na jogada, mas logo, logo as bactérias, vermes e tapurús tomariam conta do pedaço. Aí sim, não tinha antibiótico que resolvesse.

Nem sequer tinha um espelho por perto para que eu pudesse me ver depois de morta. Como ficara meu visual. Fiquei agoniada, insegura. Dei uma olhada no entorno. Ninguém por perto! Só eu mesma e eu sozinha.

Quando alguém me descobrisse ali, naquele recanto frio, certamente se providenciaria o enterro...

Ser enterrada era o que eu menos queria. Apodrecer sobre a terra era bem menos angustiante. Poderia ver o meu redor. Dá uma espiada, de vez em quando! Mesmo comida e beliscada pelos vermes, essas verdadeiras feras roedoras de cadáveres!

Marisa Monte - Dança da solidão