domingo, 5 de março de 2017

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna

A reanimação do campo reflexivo entre os intelectuais e políticos é também animadora na comunidade dos economistas, envolvida na controvérsia suscitada por um dos seus notáveis, André Lara Resende, sobre as complexas relações entre políticas fiscais e inflação, em que um dos temas de fundo versa sobre o papel maior ou menor do Estado na economia, uma questão ainda em aberto não apenas entre os especialistas. Mas, tudo contado, ainda é lento o movimento reflexivo, tal como na economia a retomada de um ciclo expansivo. Enquanto esses movimentos não ganham maior vigor, o que importa é manter os antagonismos em equilíbrio, tema maior de Ricardo Benzaquen de Araújo, notável intérprete da obra de Gilberto Freire, que há pouco, infelizmente, nos deixou.

*Sociólogo, PUC-Rio. “A retomada das atividades reflexivas”, O Estado de S. Paulo, 5/3/2017.

Bernard-Henri Lévy: 'Há uma fadiga da democracia, um ódio das elites'

Filósofo e diretor francês alerta para a ascensão da extrema-direita e, em âmbito global, acredita que os Estados democráticos rumam para o populismo e o niilismo

Por Fernando Eichenberg | O Globo

PARIS - O filósofo Bernard-Henri Lévy está bastante inquieto com o estado atual da França e do mundo. Em seu país, ele alerta para a ascensão da extrema-direita face à crise das forças da direita e da esquerda tradicionais. Em âmbito global, acredita que os Estados democráticos rumam para o populismo e o niilismo, e que as tensões atuais lembram o clima às vésperas da eclosão da Primeira Guerra Mundial. O presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, são considerados por ele como duas verdadeiras ameaças à estabilidade e à paz mundial. Na América do Sul, respeita Lula e condena a experiência venezuelana de Hugo Chávez. Intelectual engajado, dirigiu recentemente dois documentários em torno da luta dos combatentes curdos do Iraque, os peshmergas, contra o Estado Islâmico (EI). O último, "A batalha de Mossul", foi exibido neste sábado pelo canal franco-alemão Arte. BHL, como é conhecido, conversou com O GLOBO na biblioteca de um grande hotel parisiense, nas proximidades do Palácio do Eliseu.

O senhor analisa o estado atual da democracia no mundo?

Infelizmente, os Estados democráticos avançam, mas na direção errada. Avançam na direção do populismo, para o niilismo, para o que os vienenses de pré-1914 chamavam de “apocalipse alegre”. Há um romance de Hermann Broch que se chama “Os sonâmbulos”: as pessoas avançavam como sonâmbulas para a guerra de 1914. Estamos hoje em situação análoga. Muitas vezes se faz a comparação com os anos 1930. Mas a verdadeira comparação seja, talvez, com os anos anteriores a 1914. Porque o sonambulismo, este clima de hipnose coletiva, esta maneira como as grandes democracias rumam para sua destruição, estas ameaças sobre a segurança coletiva criadas por Vladimir Putin e Donald Trump, isso tudo é muito novo. E não há como não nos fazer lembrar do clima às vésperas de 1914.

Odebrecht pagou às Farc para executar obras na Colômbia, diz revista

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em troca de "permissão" para executar obras em territórios dominados pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a Odebrecht pagou aos guerrilheiros colombianos "mensalidades" que variavam de US$ 50 mil a US$ 100 mil nos últimos 20 anos, segundo a edição da revista "Veja" desta semana.

Procurada, a assessoria de imprensa da empreiteira afirmou, em nota, que "desmente com veemência a afirmação de que a empresa teria feito pagamentos a grupo guerrilheiro na Colômbia, supostamente para obter 'permissão' à realização de obras em territórios onde atua este grupo".

Crise faz PSDB debater chances de Doria para o Planalto em 2018

Daniela Lima | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O desgaste enfrentado por quadros tradicionais do PSDB levou a cúpula do partido a ponderar com seriedade uma discussão que, antes, estava restrita a cochichos nos bastidores: a possibilidade de o prefeito de São Paulo, João Doria, se firmar como um nome competitivo para as eleições presidenciais de 2018.

Parlamentares e dirigentes do PSDB ouvidos pela reportagem admitem que o assunto saiu da seara das fofocas.

A avaliação é que a crise política tende a macular sobremaneira a classe política tradicional que levará o eleitor a buscar, em 2018, fórmula parecida à que fez sucesso em algumas das principais capitais do país no ano passado, nas eleições municipais.

Mais: acham que a pressão por avaliar as chances de Doria tende a crescer dentro da própria militância, com a aproximação do pleito.

Congresso teme ‘cataclismo’ com delações

Pelo lado do governo, preocupação é salvar reformas previdenciária e trabalhista do turbilhão político

Eduardo Bresciani e Jailton de Carvalho | O Globo

BRASÍLIA - A expectativa por uma nova lista com dezenas de investigados de diversos partidos, desta vez com base nas delações da Odebrecht, faz parlamentares preverem um “cataclismo” no cenário político para os próximos meses. Aliados do governo Michel Temer trabalham, agora, para tentar salvar as reformas previdenciária e trabalhista do turbilhão de acusações. A Procuradoria-Geral da República deve encaminhar ao Supremo Tribunal Federal, nesta semana, uma lista com mais de 30 pedidos de abertura de inquérito contra deputados, senadores e ministros suspeitos de receberem propina da Odebrecht. Na segunda lista de Janot estão ainda governadores e pelo menos um ministro do Tribunal de Contas da União.

Os pedidos têm como base depoimentos, emails, mensagens eletrônicas e outras provas fornecidas por 78 executivos da maior empreiteira do país que, no final do ano passado, fecharam acordo de delação premiada com a equipe de Rodrigo Janot. As acusações atingem deputados, senadores e líderes políticos de todos os grandes partidos, inclusive nomes cotados para as próximas eleições presidenciais.

Estrelas do PT resistem à estratégia eleitoral de Lula

Ex-presidente tenta convencer principais nomes do partido a reforçar disputa para vagas na Câmara dos Deputados

Sérgio Roxo | O Globo

SÃO PAULO - Com receio de que o desgaste do PT provoque uma drástica diminuição da sua bancada na Câmara em 2018, o ex-presidente Lula elaborou um plano para lançar os principais nomes do partido na disputa pelas vagas de deputado federal. A estratégia, porém, está ameaçada pela resistência de alguns nomes a aceitar a tarefa.

A ideia de Lula é ter na disputa ex-governadores como Jaques Wagner, Tarso Genro e Olívio Dutra e ex-prefeitos de capitais como Fernando Haddad e João Paulo.

Se perder parlamentares, o PT terá menos tempo de televisão e repasses do fundo partidário, o que pode inviabilizar o seu futuro. A legenda elegeu 68 deputados em 2014, a maior bancada da Câmara. Debandadas provocadas pela crise originada pela Lava-Jato e pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff já reduziram o número de parlamentares para 58, permitindo que o PMDB se tornasse a legenda com mais representantes: 65. Um cacique petista afirma: — Se o número de deputados cair para em torno de 20, vamos virar partido pequeno, e a recuperação, mesmo no futuro, fica difícil. Agora, se fizermos uma boa bancada, podemos manter a estrutura partidária e aí dá para recuperar, mesmo perdendo a eleição presidencial.

Possíveis candidatos têm outras pretensões

Suplicy quer Senado, Haddad e Tarso não demonstram interesse

- O Globo

SÃO PAULO - Pelo menos três nomes apontados pela cúpula do PT como possíveis puxadores de voto na disputa por uma vaga na Câmara colocam empecilhos para entrar na disputa. A ideia de brigar por um mandato no ano que vem não agrada ao exprefeito de São Paulo Fernando Haddad, ao ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro e ao ex-senador Eduardo Suplicy.

Vereador mais votado de São Paulo no ano passado, com 300 mil votos, Suplicy tem afirmado em reuniões internas que gostaria de disputar o governo do estado, o Senado ou até uma prévia para a Presidência da República, se Lula não for candidato. A imagem de político honesto do ex-senador é vista como o principal trunfo do partido em São Paulo. O cálculo de petistas é que o ex-senador poderia garantir a eleição de pelo menos mais dois nomes, caso se candidatasse à Câmara.

Jorge Picciani se torna esteio de Pezão no Rio

Lucas Vettorazzo, Nicola Pamplona | Folha de S. Paulo

RIO - Depois de fazer duras críticas ao governador Luiz Fernando Pezão, chegando a indicar possíveis interventores para tirar o Rio do buraco, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio e líder do PMDB local, Jorge Picciani, se tornou o principal suporte do governo fluminense em 2017.

Eleito em janeiro para seu sexto mandato como presidente da Alerj, Picciani assumiu a articulação política para a votação das medidas anticrise exigidas como contrapartida para o socorro do governo federal e tem nas mãos o poder de decidir pela abertura ou não de um dos processos de impeachment de Pezão protocolados na Casa.

Nos bastidores, é chamado como "governador de fato" do Estado, diante do enfraquecimento de Pezão, cujo governo fechou 2016 com um deficit fiscal de R$ 9,8 bilhões e não vem conseguindo pagar salários nem fornecedores.

Ilha rompeu contratos para garantir recursos à Odebrecht

Raquel Landim – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Para garantir recursos às obras tocadas pela Odebrecht, o governo cubano rompeu contratos com outros exportadores brasileiros. A empreiteira absorveu 64% dos US$ 980 milhões em financiamentos aprovados pelo BNDES para a ilha entre 2009 e 2014.

No início, quando o governo Lula decidiu apoiar Cuba e participar de investimentos no país, o compromisso era emprestar US$ 600 milhões.

Os recursos seriam aplicados em projetos de vários setores, como infraestrutura, farmacêutico e turismo, e liberados durante quatro anos.

Em outubro de 2009, um ano após o início do projeto, uma missão cubana esteve em Brasília e visitou vários membros do Cofig. Os cubanos queriam convencer os brasileiros a cancelar contratos já assinados e direcionar recursos para o porto de Mariel.

Técnicos do Ministério do Desenvolvimento e do BNDES argumentaram que o fim dos contratos prejudicaria outros exportadores brasileiros, mas não tiveram êxito, segundo os documentos examinados pela Folha. Nos meses seguintes, Cuba cancelou vários contratos unilateralmente, e as tentativas dos técnicos de punir o país não prosperaram.

Uma das maiores empregadoras de Cuba depois do governo, a Odebrecht tinha prestígio com os irmãos Castro. Numa visita de Lula a Mariel, Raúl disse que "os cubanos deveriam aprender com a Odebrecht", conforme telegrama diplomático revelado pela Folha em novembro.

A retomada das atividades reflexivas - *Luiz Werneck Vianna

- O Estado de S. Paulo

Esse movimento ainda é lento, tal como na economia a retomada de um ciclo expansivo

Nessa loucura que nos assola deve haver um método. Mas qual?

Se observadas as coisas pela sua superfície, há quem procure remédio para nossos males atuais na remoção imediata do governo Temer, que estaria identificado com ações que visariam a criar obstáculos ao andamento da chamada Operação Lava Jato, em sua intervenção saneadora sobre nosso sistema político. Removê-lo dependeria de uma decisão congressual ou de um ato de força, mas como essas alternativas estão bloqueadas tanto pela larga coalizão parlamentar que o sustenta como pela recusa das Forças Armadas a admitir caminhos de aventura, parece aos interessados na empreitada que não lhes resta outra via que não a de um levante das ruas.

De modo explícito ou em surdina, o argumento ecoa nos meios de comunicação, e não só nas redes sociais, em artigos que não hesitam em cogitar de um colapso iminente de nossas instituições. Importa pouco se em meio a essas fabulações os blocos carnavalescos, até na outrora mais recolhida São Paulo, tenham comemorado as festas de Momo como se não houvesse amanhã. Se a saída não se encontra na política nem nas armas, é deixar o carnaval passar que ela viria pela convulsão social, em embrião nas revoltas do sistema penitenciário e nos motins da Polícia Militar do Espírito Santo.

Jogo de gente grande - *Fernando Henrique Cardoso

- O Estado de S. Paulo

Os sinais do futuro podem não ser do nosso agrado, mas com eles teremos de nos haver

No carnaval passeei com casais amigos por Florença e vizinhanças. Há mais de meio século, eu, minha mulher Ruth, Bento e Lucia Prado e Arthur Giannotti passeáramos pela mesma região com a fascinação da primeira vez e a energia da juventude. Lá, de onde escrevo este artigo, passamos o 31 de dezembro de 1961.

Desta vez, com o mesmo deslumbramento, revi o que pude das cidades toscanas. Em 1961 vivíamos o clima da guerra fria – russos e americanos se enfrentavam por procuração, como na “crise dos mísseis” em Cuba – e as marcas da guerra quente estavam presentes na Europa bombardeada. Agora, nem mesmo a eventual tensão belicosa que os dias de Trump deixam entrever assusta o Ocidente. A memória se esfuma: passa-se por um ou outro cemitério americano em solo italiano e só os mais velhos, imagino, ainda se lembram do que foi a luta dos Aliados contra o Eixo totalitário. Em poucos brasileiros ressoam os nomes de Monte Cassino e Monte Castello, marcos do heroísmo dos soldados brasileiros.

O passado na fogueira - Fernando Gabeira

- O Globo

Sei que mais de um milhão de pessoas visitaram o Rio. Senti um cheiro mais forte de pipi nas ruas em que caminho. Mas isso é quase tudo que retive do carnaval. No momento em que a Nasa anuncia a descoberta de sete novos planetas, perdi a chance de explorar esse estranho planeta de celebridades que inundam as páginas dos sites de notícias nacionais. O velho Brasil estava presente no tratamento dos dois desastres com alegorias de escolas de samba na avenida. D epois da queda, a discussão sobre as regras do jogo, que praticamente não existiam. Trump suavizou-se com o carnaval, falando em manter milhões de imigrantes nos EUA, desde que não tenham cometido crimes. Ótima notícia para os brasileiros que vivem lá. As pesquisas indicavam a baixa popularidade de Trump. Na sua equipe, já se falava em algum tipo de ajuste com a realidade. Trump dizia que as pesquisas eram falsas, mas foi esperto o bastante para não acreditar no que dizia.

Meu coração se deixou levar - Cacá Diegues

- O Globo

Em meio a desastres na avenida, vitória da Portela foi indiscutível Na mosca. Na coluna de domingo passado, previ que o princípio do fim desse longo verão seria coroado com a vitória da Portela no carnaval. É claro que isso era mais um desejo do que uma profecia, mas não deu outra. Depois de 33 anos sem título, a Portela é campeã.

Quando eu era moleque, minha turma costumava torcer por uma combinação de times de futebol e escolas de samba. Quem era Flamengo, devia, em geral, torcer pela Mangueira. Quem era Fluminense, pelo Salgueiro. Vasco, o Império Serrano. E quem era Botafogo, torcia pela Portela. Para nós, os quatro grandes do futebol combinavam-se com os então quatro grandes do carnaval. Embora isso fosse uma grande tolice juvenil de nossa turma, pois sabemos que, entre outros muitos exemplos, Paulinho da Viola é um exaltado torcedor do Vasco, sendo um dos mais ilustres e fiéis portelenses.

Ninguém é bobo - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Estresse é geral, o pior ainda vem, a economia e as reformas não vão resolver tudo

O estresse do mundo político é tal que PT, PSDB, PMDB, PDT, PP e a maioria dos partidos, com raras exceções à esquerda, começam a fazer uma torcida inacreditável, ao contrário do que seria natural. É a torcida pelo “quanto mais, melhor”, ou “quanto pior, melhor”, todos no mesmo saco e ninguém é bobo.

São tantas empresas, diretores, delatores, frentes, partidos, nomes, candidatos a presidente, a governos, ao Congresso e principalmente tantos milhões e milhões de dólares e reais que a opinião pública, sem fôlego, já não consegue acompanhar os relatos e separar quem é quem. O tsunami embola tudo e todos e, quanto mais a sociedade se escandaliza, mais os personagens políticos se calam.

Tiro pela culatra – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Uma investigação aberta a pedido do PSDB virou motivo de dor de cabeça para o PSDB. O partido terminou a semana na mira do processo que ele mesmo moveu para tentar cassar a chapa Dilma-Temer, que o derrotou em 2014.

Na quinta (2), o delator Benedicto Junior disse ao TSE que a Odebrecht repassou R$ 9 milhões em caixa dois aos tucanos. Segundo o executivo, a dinheirama foi entregue ao marqueteiro de Aécio Neves e a três protegidos dele: Antonio Anastasia, Pimenta da Veiga e Dimas Fabiano.

Na véspera, Marcelo Odebrecht fez outra revelação embaraçosa para o PSDB. Ele disse que Aécio o procurou pessoalmente para pedir um socorro de R$ 15 milhões. A abordagem ocorreu quando o senador corria risco de ficar fora do segundo turno.

A sombra e o braço direito - Míriam Leitão

- O Globo

As últimas semanas foram difíceis para o governo Temer. Apesar de não dizer que tratou de valores com o presidente, Marcelo Odebrecht deu elementos suficientes para elevar o risco de um voto pela cassação da chapa. As desavenças entre José Yunes e o ministro Eliseu Padilha mostram como as suspeitas chegaram ao círculo próximo do presidente. Os dois sempre foram a sombra e o braço direito de Temer.

Qual será o Lula de 2018? – Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

Nelson Barbosa, professor titular da Escola de Economia da FGV de São Paulo, participante da equipe econômica do período do petismo e último ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, escreveu artigo criticando a interpretação de André Lara Resende sobre o tema dos elevados juros reais brasileiros. O texto de Nelson apareceu no caderno de fim de semana do jornal "Valor Econômico" que circulou na sexta-feira de Carnaval, 24 de fevereiro.

Discordando do diagnóstico de André e defendendo que no Brasil o modelo ortodoxo funciona –os juros causam a inflação, e não o inverso–, Nelson escreveu: "As principais ações para reduzir a taxa real de juro são a estabilização do endividamento público, a redução relativa do volume de crédito direcionado e o aumento da produtividade da economia".

Por que Lula? - Vera Magalhães

- O Estado de S. Paulo

É a candidatura que visa interditar, no grito, as investigações contra ele

A semana promete ser tomada pelo “lançamento” da sexta candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. O pontapé inicial foi um manifesto “espontâneo” assinado pelos intelectuais de cabeceira do petismo, e que dará origem a um site e um road show do ex-presidente e réu na Lava Jato pelo País. O título do abaixo-assinado é “Por que Lula?”.

Está aí uma boa pergunta, mas a resposta está longe de ser o misto de ingenuidade, desonestidade intelectual e manipulação contidos no documento.

Por que Lula? Por que o Brasil precisa dele ou por que ele precisa dessa candidatura como escudo para se defender das acusações de que, no exercício da Presidência e depois de deixá-la, praticou corrupção passiva, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e outros crimes investigados no petrolão?

O leite derramado - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Fernando Henrique Cardoso endossou o coro dos que criticam o vazamento das delações premiadas e defendeu uma espécie de separação do joio do trigo

As delações premiadas dos executivos da Odebrecht ainda estão em sigilo, mas parte de seu teor já chegou ao conhecimento público em razão dos depoimentos na Justiça Eleitoral de Marcelo Odebrecht e mais quatro executivos da Odebrecht envolvidos nas operações de financiamento da campanha da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, via caixa dois da empresa. Os depoimentos foram prestados na ação de cassação da chapa impetrada pelo PSDB, a pedido do relator do processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Herman Benjamin.

A reação é uma espécie de Deus nos acuda no establishment político do país. O ex-diretor da Odebrecht Fernando Reis, por exemplo, disse, em depoimento, que foi incumbido de repassar R$ 4 milhões à tesouraria do PDT em troca do apoio do partido à reeleição da chapa Dilma-Temer. Esse teria sido o preço do acordo feito com o presidente da legenda, Carlos Lupi, ex-ministro do Trabalho do governo petista (aquele mesmo que disse “Dilma, eu te amo!”, ao pedir desculpas à ex-presidente da República, depois de ser demitido da pasta por ela).

A boa notícia vem do São Francisco – Elio Gaspari

- O Globo

Durante o consulado petista, Lula encantou-se com a ideia de transposição das águas do Rio São Francisco e transformou-a numa das joias de sua coroa. A obra demorou dez anos e custou o dobro do que se previa, salpicada por mordidas de empreiteiras. Apesar de tudo isso, uma parte do projeto está ficando pronta. As coisas boas também acontecem.

Desde janeiro, as águas do São Francisco saem do lago da barragem de Itaparica, em Pernambuco, percorrem 222 quilômetros pelo chamado Eixo Leste e entram na Paraíba. Na próxima quinta-feira, elas chegarão ao açude de Poções, no município de Monteiro, de onde descerão por gravidade para o reservatório de Boqueirão, que abastece Campina Grande e outras 18 cidades.

A Revolução Pernambucana – Editorial | Revista Será?

Vitral do Palácio do Campo das Princesas em homenagem a Revolução de 1817.

Há duzentos anos, no dia 6 de março de 1817, os pernambucanos se rebelaram contra o domínio português e implantaram o sistema republicano no território do Brasil, cinco anos antes da independência e 72 anos antes da proclamação da república.

A Revolução Pernambucana, que dominou parte do Nordeste brasileiro por mais de dois meses, foi uma reação da elite econômica e intelectual pernambucana aos pesados impostos cobrados pelo Reino de Portugal para financiar o luxo, a opulência e os gastos conspícuos da corte instalada no Rio de Janeiro, em 1808. No início do século XIX,

Pernambuco era a mais rica capitania do Brasil, centro exportador de açúcar e algodão, e vivia uma grande efervescência política e intelectual, alimentada pelas ideias iluministas, discutidas e defendidas nas lojas maçônicas e por líderes da Igreja Católica em Olinda e Recife.

A combinação do espírito libertário e republicano com o sentimento de exploração pela corte portuguesa desencadeou a revolução, que declarou a independência de Portugal, proclamou a República e decretou a liberdade religiosa e de imprensa.

A Revolução Pernambucana foi esmagada pelas tropas apoiadas pela frota naval de D. João VI em 19 de maio de 1817, com a execução de alguns dos seus principais líderes. Mas deixou marcas profundas nas elites econômicas e políticas do Brasil e, principalmente, de Pernambuco, alimentando todo um ciclo de revoltas, como a Confederação do Equador, em 1824, reagindo à monarquia centralizadora do Brasil independente, e a Revolução Praieira de 1848, de inspiração liberal, republicana e federalista, que defendia a liberdade de imprensa, a extinção do Poder Moderador, o fim do monopólio comercial dos portugueses e a instituição do voto universal.

Duzentos anos depois, Pernambuco carrega o espírito da Revolução de 1817, expresso na bandeira do Estado, criada pelos revolucionários, e presente na denominação de várias ruas e avenidas do Recife, como Cruz Cabugá, Gervásio Pires, Domingos José Martins, Padre Roma, Frei Caneca, Vigário Tenório e Barros Lima, principais líderes da revolução

Os 200 anos da Revolução Pernambucana de 1817

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP), do PPS, promoverá, em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e com o Centro Josué de Castro (CJC), no próximo dia 9 (quinta-feira), às 17 horas, no Auditório Calouste Gulbenkian (Av. Dezessete de Agosto, 2187, bairro Casa Forte), no Recife, um Seminário para relembrar a Revolução Pernambucana de 1817, considerada um dos mais importantes movimentos de caráter revolucionário do período colonial brasileiro e que teve ricas consequências para o País.

O evento, 1817 – A Contestação da Ordem Monárquica, será aberto pelos presidentes das instituições organizadoras, no caso o senador Cristovam Buarque, presidente do Conselho Curador da FAP; o advogado ‎Luiz Otávio de Melo Cavalcanti, presidente da Fundaj, e o sociólogo José Arlindo Soares, presidente do CJC.

Na sequência, farão suas palestras os historiadores e professores Socorro Ferraz, abordando o tema “Os Contos Loucos e as Fantásticas Carrancas”; Flávio Cabral, com o tema “A Missão Cabugá nos EUA: Uma página da Revolução Pernambucana”; e José Luiz Mota Menezes, “Um Campo do Erário Régio, Dois Pátios e uma Revolução Republicana”. Em seguida, as pessoas presentes, mediante inscrição, poderão fazer curtas intervenções ou fazer perguntas aos palestrantes.

O governo provisório instalado pela Revolução declarou independência de Portugal e proclamou a República; decretou liberdade religiosa e de imprensa, mas não alterou as relações de trabalho escravo dominantes na produção canavieira. Os sublevados resistiram, por mais de dois meses, à ofensiva de dom João VI, instalado no Rio de Janeiro, que enviou cerca de 8 mil homens e uma frota naval para bloquear o porto do Recife, conseguindo esmagar o movimento republicano no dia 19 de maio.

A Revolução Pernambucana de 1817 foi liderada por destacados membros da maçonaria, como o comerciante Domingos José Martins; por militares, como José de Barros Lima, conhecido como o Leão Coroado, e Pedro da Silva Pedroso, além de vários religiosos, Muniz Tavares, João Ribeiro, Padre Roma e Padre Miguelinho.

O historiador Carlos Guilherme Mota considera a Revolução de 1817 como o maior movimento de contestação à ordem monárquica até então ocorrido no mundo afro-luso-brasileiro.

O país dos maus caminhos – Editorial | O Estado de S. Paulo

No Brasil é muito mais fácil produzir uma supersafra do que levá-la aos mercados. Recordes de produção foram batidos muitas vezes no último quarto de século, e isso se repete, agora, com a perspectiva de colheita de 219,14 milhões de toneladas de grãos na temporada 2016-2017. Mas a supersafra pode ir para o ralo, adverte o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, por causa do estado lamentável das estradas. Num país dependente de rodovias para a maior parte do transporte de produtos, a malha rodoviária, além de insuficiente, é muito mal conservada. Nem se investe para ampliá-la nem se faz o necessário para mantê-la em condições aceitáveis de uso. Ao alertar para o risco de novas perdas, o ministro apontou especialmente os problemas de tráfego na parte sem pavimentação da BR-163. Essa estrada federal é a mais importante ligação entre a zona produtora de grãos de Mato Grosso e os portos do Norte do Brasil. A chuva tornou intransitável um trecho normalmente ruim, mas isso é só um exemplo de uma enorme coleção de problemas.

A descabida tentativa de ressuscitar a CPMF – Editorial | O Globo

Dentro da tradição de o Estado sobrecarregar o contribuinte, volta-se a falar no ‘imposto do cheque’, e quando a carga tributária está nas alturas

Os caminhos que levaram o Brasil, a partir do Plano Real, em 1994, a acrescentar dez pontos percentuais de PIB no volume de receita tributária do Estado, de 25% para 35%, ajudam a entender não apenas a tendência atávica de o poder público pressionar de forma constante o contribuinte para pagar contas crescentes, como também sua feroz resistência a abrir mão de impostos.

Há muito em tudo isso que a Ciência Política e a História explicam: grupos de pressão que atuam na máquina burocrática em defesa de interesses próprios; corporações de todos os tipos, à direita e à esquerda, capazes de aprovar no Congresso gastos crescentes em seu benefício.

Existem lobbies variados em defesa do aumento das despesas públicas. Mas, a favor do contribuinte, da melhoria da qualidade dos gastos e de economias nas despesas, inexistem.

Reforma questionada – Editorial | Folha de S. Paulo

A primeira reação da Câmara dos Deputados à reforma da Previdência foi questionar pilares da proposta do governo, ao menos na comissão especial encarregada de dar início a sua tramitação.

Conforme levantamento desta Folha, metade dos 36 integrantes do colegiado se opõe à fixação da idade mínima de 65 anos para aposentadoria; a maioria discorda da equiparação de direitos entre homens e mulheres, do novo cálculo do valor dos benefícios e das regras de transição para quem já está no mercado de trabalho.

Das preferências já manifestadas, depreende-se que os deputados queiram normas mais favoráveis aos segurados da Previdência, seja por convicção autêntica ou mero oportunismo.

Auto do Frade - João Cabral de Melo Neto

(Trechos – Frei Caneca)

Acordo fora de mim
como há tempos não fazia
Acordo claro, de todo,
acordo com toda a vida,
com todos cinco sentidos
e sobretudo com a vista
que dentro desta prisão
para mim não existia.
Acordo fora de mim
como vida apodrecida.
Acordar não é de dentro,
acordar é ter saída.
Acordar é reacordar-se
ao que em nosso redor gira.
Mesmo quando alguém acorda
para um fiapo de vida
como o que tanto aparato
que me cerca me anuncia:
esse bosque de espingardas
mudas, mas logo assassinas,
sempre à espera dessa voz
que autorize o que é sua sina,
esses padresque as invejam
por serem mais efetivas
que os sermões que passam largo
dos infernos que anunciam.
Essas coisa ao redor
Sim me acordam para a vida,
embora somente um fio
me reste de vida e dia.
Essas coisas me situam
e também me dão saída;
ao vê-las me vejo nelas,
me completam convividas.
Não é o inerte acordar
na cela negra e vazia:
lá não podia dizer
quando velava ou dormia.

Alceu Valença - Hino de Pernambuco