terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Opinião do dia – Michel Temer

Se houver denúncia, o ministro que estiver denunciado será afastado provisoriamente. Depois, se acolhida a denúncia, o afastamento é definitivo. Portanto, eu faço essa declaração para dizer que o governo não quer blindar ninguém. E não vai blindar. Apenas não pode aceitar que a simples menção inauguradora de um inquérito, para depois inaugurar uma denúncia, para depois inaugurar um processo, já seja uma incriminação definitiva.

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Michel Temer é presidente da República, ontem, em declaração à imprensa.

Temer diz que afastará ministros denunciados

Quase uma semana após a Justiça suspender a nomeação de Moreira Franco, citado na Lava-Jato, para a Secretaria Geral, o presidente Michel Temer disse que o governo “não quer blindar ninguém”. Afirmou ainda que ministros que forem denunciados à Justiça pelo Ministério Público serão afastados dos cargos. Cinco ministros são citados em delações.

Linha de corte

Após críticas de blindagem a aliados, Temer promete afastar ministros denunciados ou réus

Simone Iglesias, Eduardo Barretto | O Globo

-BRASÍLIA- Para tentar rebater as críticas de que seu governo busca blindar peemedebistas envolvidos na Operação Lava-Jato, o presidente Michel Temer afirmou ontem que ministros que forem formalmente denunciados pelo Ministério Público Federal serão afastados temporariamente e, caso a Justiça aceite o pedido e os torne réus, perderão o cargo de forma definitiva. Em declaração à imprensa, Temer buscou afastar as críticas de que ao nomear Moreira Franco para ministro da SecretariaGeral da Presidência quis dar a ele foro privilegiado, já que o peemedebista foi citado em delações de executivos da Odebrecht.

— Se houver denúncia, o ministro que estiver denunciado será afastado provisoriamente. Depois, se acolhida a denúncia, o afastamento é definitivo. Portanto, eu faço essa declaração para dizer que o governo não quer blindar ninguém. E não vai blindar. Apenas não pode aceitar que a simples menção inauguradora de um inquérito, para depois inaugurar uma denúncia, para depois inaugurar um processo, já seja uma incriminação definitiva — argumentou o presidente.

Em meio à série de críticas, Temer repetiu o discurso de que não pretende influenciar o resultado da operação:

Temer diz que demitirá ministro réu na Lava Jato

Presidente anuncia condições para a eventual saída de auxiliares citados na operação; alvos de denúncia do Ministério Público serão afastados de maneira provisória

Carla Araújo, Tânia Monteiro e Ricardo Brito | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Após ser criticado por nomear Moreira Franco ministro-chefe da Secretaria-Geral, concedendo foro privilegiado ao auxiliar, o presidente Michel Temer disse nesta segunda-feira, 13, que os ministros citados na Lava Jato só serão demitidos quando virarem réus em processos. Temer convocou a imprensa para defender a operação e ressaltar que não pretende blindar nenhum integrante do governo. Na prática, porém, a condição adotada pelo presidente pode servir como proteção não só a Moreira Franco como a outros ministros, já que os inquéritos criminais costumam tramitar por um prazo longo no STF.

Temer afirmou que “uma simples menção não pode ser modo definitivo de incriminar” ou afastar a autoridade do cargo. “Se houver denúncia, que é um conjunto de provas, eventualmente que possam conduzir ao seu acolhimento, o ministro que estiver denunciado será afastado provisoriamente. Logo depois, se acolhida a denúncia, e aí o ministro se transformando em réu, o afastamento é definido”, disse o presidente. “Se alguém converter-se em réu estará afastado, independentemente do julgamento final.”

Ministros citados na Lava Jato só serão demitidos se virarem réus, diz Temer

Gustavo Uribe | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Sob críticas por ter concedido foro privilegiado a Moreira Franco, o presidente Michel Temer disse nesta segunda-feira (13) que o governo federal não quer blindar ninguém e anunciou que ministros citados pela Operação Lava Jato só serão demitidos se virarem réus.

Em pronunciamento no Palácio do Planalto, convocado com o objetivo de responder às acusações de blindagem, o peemedebista ressaltou que a menção a um ministro em uma denúncia não pode servir para incriminá-lo ou afastá-lo definitivamente.

A nomeação de Moreira Franco para a Secretaria-Geral da Presidência da República foi feita na mesma semana em que o Supremo Tribunal Federal homologou 77 delações premiadas da Odebrecht. Ele foi citado 34 vezes na delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht.

Britto faz apelo em defesa da Lava-Jato

Ex-presidente do STF recebeu, no Rio, Prêmio FGV de Direitos Humanos

Jeferson Ribeiro | O Globo

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto fez ontem um apelo em defesa da Operação Lava-Jato, em meio à expectativa pelo impacto que a delação premiada da Odebrecht terá sobre o meio político. O jurista foi homenageado com o Prêmio FGV de Direitos Humanos, concedido pelas escolas de Direito da Fundação Getulio Vargas.

— Que ninguém se atreva sozinho ou enturmadamente a estancar o curso do amazônico rio da Justiça. Da justa e jurídica tomada penal de contas dos defraudadores da inegociável honra do país — disse, classificando a Operação Lava-Jato de “emblemática” e “irreversível”.

Segundo ele, o país passou por uma inflexão histórica durante o julgamento do mensalão, e a Lava-Jato é a continuidade dessa mudança de visão.

STF adia por 30 dias decisão sobre liminar para ajuda ao Rio

Prazo foi anunciado em reunião convocada pelo ministro Luiz Fux

André de Souza | O Globo

O governador e o prefeito do Rio bateram ponto, no mesmo dia, no Supremo. Pezão queria socorro financeiro para o estado. Crivella, defender a nomeação de seu filho (foto). A União e o estado têm, a partir de hoje, 30 dias para conseguirem a aprovação, tanto no Congresso Nacional como na Assembleia Legislativa (Alerj), do acordo de socorro financeiro aos cofres fluminenses. O prazo foi anunciado ontem pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), que analisa um pedido do governador Luiz Fernando Pezão para antecipar, por meio de uma liminar, a ajuda da União, que depende de mudanças na legislação. Se não houver definição do Congresso e da Alerj nesse período, Fux voltará a estudar o pedido. Foi uma derrota parcial para Pezão, que queria o início imediato do acordo — assim, o estado poderia contrair empréstimos acima de seu limite de endividamento.

Além do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de Pezão e do próprio Fux, participaram do encontro a ministra da Advocacia-Geral da União (AGU), Grace Mendonça, o presidente do Branco do Brasil, Paulo Rogério Caffarelli, o vice-presidente de Governo da Caixa Econômica Federal, Roberto Derziê de Sant’Anna e representantes do Tribunal de Contas da União. Na semana passada, as instituições financeiras, assim como a AGU, deram pareceres contrários à concessão da liminar, colocando em xeque a capacidade do Rio de pagar um novo empréstimo. Ontem, ficou combinado que a ajuda ao Rio só sairá do papel após ser avaliada por senadores e deputados estaduais e federais.

Alerj adia decisão sobre venda da Cedae, mas servidores mantêm protesto

Funcionários públicos realizam ato nesta terça-feira, 14, contra privatização da estatal de saneamento; apesar de pedido de celeridade de Pezão, presidente da Casa diz que não há clima para acelerar votação de pacote fiscal

Vinícius Neder | O Estado de S.Paulo

RIO - O Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais do Rio (Muspe) anunciou que está mantido o protesto marcado para esta terça-feira, às 10 horas, em frente à sede da Assembleia Legislativa (Alerj), contra a privatização da estatal de águas e esgoto do Rio, a Cedae. Os deputados estaduais do Rio, no entanto, votarão a autorização para a venda da companhia de saneamento apenas na semana que vem, afirmou nesta segunda-feira, 13, o presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Jorge Picciani (PMDB). Mais cedo, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) afirmou, em Brasília, que a venda da Cedae poderia ser votada ainda esta semana, mas Picciani descartou essa possibilidade.

Na semana passada, outra manifestação também contra a venda da companhia deixou um homem baleado e prédios depredados no centro do Rio após confronte entre polícia e manifestantes.

A privatização da Cedae é a primeira das medidas de contrapartida exigidas pelo governo federal no plano de recuperação fiscal do Estado a ser enviada à Alerj. O projeto autoriza o governo estadual a privatizar a Cedae, dada como garantia para novos empréstimos com aval da União. O valor total chega a R$ 6,5 bilhões.

Deputados de vários partidos se unem contra venda da Cedae

Por Rodrigo Carro e Robson Sales | Valor Econômico

RIO - O projeto que autoriza a privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) - uma das contrapartidas exigidas do Rio de Janeiro pela União dentro do plano de recuperação fiscal - conseguiu a proeza de unir parlamentares estaduais dos mais diferentes matizes ideológicos contra a venda da empresa controlada pelo Estado. Deputados estaduais do Psol, do PSDB e do DEM se declararam contra o projeto, que está previsto para ser votado na assembleia legislativa fluminense na próxima semana.

Marcada para hoje, a votação foi adiada - horas antes do Supremo Tribunal Federal (STF) negar o pedido de antecipação de recursos feito pelo governo do Estado - para os próximos dias 20, 21, 22 e 23. Após uma audiência de conciliação no STF, com a presença do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e de representantes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, o ministro Luiz Fux deu o prazo de 30 dias para que sejam implementadas as medidas previstas no acordo do Rio com a União.

"Seja qual for o resultado [da votação], a margem vai ser apertada", acredita o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB). "Sou contra o projeto não porque seja contra concessões. Como é que o governo vai vender ações da companhia antes de ter uma modelagem das concessões?", questiona.

‘Pacote duro tem que ser negociado’

Eurico de Lima Figueiredo, cientista social e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) |O Globo

As assembleias legislativas funcionam nas democracias como caixas de repercussão das demandas da sociedade. Os partidos funcionam como elos de transmissão entre as demandas da população em seus diversos segmentos.

Portanto, partidos não fazem parte do estado; eles representam a sociedade. Eles não estão sempre no poder, a não ser que você tenha um regime autoritário.

Dito isso, há, na situação do Rio de Janeiro, um paradoxo que não existe no governo federal. Na União, vemos um Executivo com ampla base parlamentar que não tem o apoio da população.

No estado, a situação é mais grave porque o governo não tem aceitação popular nem base parlamentar. Isso implica numa dificuldade muito grande no processo de tomada de decisão.

O peso da Lava-Jato - Merval Pereira

- O Globo

Temer admitiu o peso político da Lava-Jato. Ao explicitar o critério que o guiará a partir de agora para lidar com prováveis acusações a membros de sua equipe de governo no âmbito da Lava-Jato, o presidente Michel Temer admitiu o peso político da operação em curso, e demonstrou que não está disposto a arrostar a opinião pública aderindo ao movimento que se organiza no Congresso para tentar barrar as ações contra os políticos.

Ele tem agora um dead line definido para não entrar na lista dos que serão alvo dos movimentos populares, que estão convocando manifestações para o dia 26 de março. Esse critério para afastamento de auxiliares é um avanço, mas nada indica que poderá ser seguido à risca, pois as condições políticas de cada caso definirão as chances de um ministro citado permanecer no cargo, mesmo sem denúncia ou ter virado réu.

Governo de Jucás - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

O risco de Temer é criar dois governos, um 'provisório' fora e um 'provisório' dentro

Desde ontem, a partir do pronunciamento do presidente Michel Temer pela TV, o governo está nas mãos de uma pessoa: Rodrigo Janot, o procurador-geral da República, a quem cabe oferecer denúncia contra os implicados na Lava Jato. Basta Janot denunciar os ministros “A”, “B” ou “C” para que sejam afastados “provisoriamente”. E, pelo andar da carruagem, as denúncias podem ser de “A” a “Z”.

Na fala de Temer, os denunciados sairão apenas provisoriamente, até que o Supremo decida acatar, ou não, a denúncia. Se acatar, o ministro virará réu e estará permanentemente fora do governo. Se não, volta ao cargo. O horizonte é de um duplo governo: o dos que saírem provisoriamente e os seus substitutos também provisórios.

Perímetro de segurança - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

A decisão de Temer tem a ver também com as articulações em curso no Congresso para anistiar o caixa dois eleitoral e conter a Operação Lava-Jato

O presidente Michel Temer anunciou ontem, em entrevista fora da agenda, que nenhum ministro denunciado pela Operação Lava-Jato — ou qualquer outra, deduz-se disso — permanecerá no governo. Nesse caso, será afastado provisoriamente; se a denúncia for aceita em juízo, será demitido. A fórmula é uma espécie de perímetro de segurança para o governo não ser levado de roldão pelas delações premiadas da Odebrecht, nas quais muitos ministros estão citados, segundo as informações vazadas até agora. Trocando em miúdos, a citação não derrubará ninguém, até porque esse critério levaria o próprio presidente da República à renúncia.

A fórmula é engenhosa e obedece à regra jurídica da “presunção da inocência”, na qual o ônus da prova cabe a quem acusa, no caso, os delatores e o Ministério Público Federal, mas avança uma casa quando o ministro se tornar réu, pois estará definitivamente fora do governo. Pode ser fruto de um pacto de Temer com seu estado-maior, particularmente os ministros mais poderosos no Palácio do Planalto: o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário-geral da Presidência, Moreira Franco.

À moda Trump, mas nem tanto - Raymundo Costa

- Valor Econômico

Há muita fumaça e pouco fogo na promoção de Franco

Dizem auxiliares diretos de Temer que a "entrevista" do presidente, ontem, no Palácio do Planalto, é o novo padrão da comunicação social, no qual o chefe do governo vai falar mais e se posicionar sobre os assuntos relevantes da conjuntura.

Afirmam que o presidente vai falar sempre "para definir as regras e defender o que for necessário para a retomada do crescimento econômico". A ideia é que o governo precisa "trabalhar, mobilizar toda a sua energia para as questões econômicas capazes de produzirem aumento do emprego e renda".

Ontem o assunto foi a Lava-Jato, diante de notícias de que o governo articula uma operação-abafa. O presidente precisava vir a público e "defender a continuidade da Lava-Jato, como procedeu no caso do mensalão, mas sem perder de vista que a tarefa do executivo é governar, tirar o Brasil da maior crise econômica da nossa história".

Temer oficializou a blindagem – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Alguns políticos são mestres em fazer uma coisa e anunciar o seu contrário. Michel Temer lembrou que domina a arte nesta segunda (13), ao divulgar novas regras para a demissão de ministros.

Com uma penca de auxiliares na mira da Lava Jato, o presidente convocou a imprensa para dizer o seguinte: "O governo não que blindar ninguém, e não vai blindar". Em seguida, ele acrescentou: "Não há nenhuma tentativa de blindagem".

Não é preciso ir longe para ver que o discurso não para em pé. Há menos de duas semanas, Temer recriou um ministério para Moreira Franco. O cargo deu foro privilegiado ao peemedebista, que foi citado 34 vezes numa delação da Odebrecht. Em português claro, Temer nomeou o aliado para blindá-lo da Justiça.

Falta combinar com a rua - José Casado

- O Globo

Nos 25 anos da Mãos Limpas, na Itália, há lições sobre a encruzilhada política em que a Lava-Jato se encontra hoje, quando alguns insistem num certo ‘acordo nacional’

Reação põe Lava-Jato em encruzilhada. Aconteceu há 25 anos. No fim da tarde de sexta-feira, 17 de fevereiro de 1992, um empresário do setor de higiene hospitalar foi recebido pelo presidente de uma instituição pública de saúde. Tenso, entregou-lhe um envelope com dinheiro, sete milhões, já explicando que ainda não conseguira os outros sete combinados. Era parte da propina de 10% exigida para novo contrato de limpeza. — Quando vem o resto? Luca Magni ouviu, ajeitou o paletó com a caneta transmissora no bolso, e respondeu: — Na próxima semana. O empresário saiu, policiais entraram e prenderam o presidente do serviço de Saúde, Mario Chiesa, político do Partido Socialista Italiano que sonhava ser prefeito de Milão.

Voltar às ruas - Marco Antonio Villa

- O Globo

O impeachment somente destampou a panela de pressão. Crise se agravará após as revelações das delações da Odebrecht

Delações da Odebrecht vão agravar a crise. Em Brasília são sempre 19 horas. Como na fatídica “Hora do Brasil”. Pontualmente — e com a monotonia habitual —, os locutores apresentam um relato diário das atividades dos Três Poderes. Falam de um Brasil imaginário. Tentam, com muito esforço, apresentar as atividades da demoníaca Praça dos Três Poderes. O Brasil pode estar vivendo uma guerra civil. Mas lá, em Brasília, tudo continua como se vivêssemos o melhor dos mundos.

Durante a semana que passou, os principais assuntos foram a designação de Alexandre de Moraes para a vaga do STF, as manobras para dificultar o andamento da Lava-Jato, a tentativa fracassada de (novamente) aprovar a anistia para os crimes eleitorais e as especulações em torno do nome do novo ministro da Justiça. A tragédia do Espírito Santo não sensibilizou a elite política. Foi tratada como algo irrelevante — ou de restrita importância. Afinal, qual vantagem poderia ser obtida? Isto poderia levar a algum ganho na estrutura de poder? Abriria possibilidade de um bom negócio?

De pinguela a ponte - José Márcio Camargo*

- O Estado de S.Paulo

Com nove meses de governo, a mudança no ambiente político e econômico surpreende

O presidente Michel Temer assumiu o governo com um ambicioso programa de reformas estruturais. Uma extensa, difícil e impopular, mas indispensável agenda, incluindo ajuste fiscal, reforma da Previdência, reforma trabalhista, reforma do sistema educacional e outras reformas pró-mercado. Diante do conflituoso ambiente político, das denúncias de corrupção da Lava Jato e de ter assumido o mandato como resultado de um processo de impeachment contestado por parte da sociedade, havia grande pessimismo quanto à viabilidade da implementação do programa apresentado.

A grande maioria dos analistas econômicos e políticos se mostrou extremamente cética quanto à capacidade do presidente de obter no Congresso o apoio para aprovar as reformas necessárias. Refletindo este ambiente, o governo foi comparado a uma “pinguela”, que, apesar de frágil, era o que o País tinha no momento.

O tormento do Rio - Míriam Leitão

- O Globo

Rio não consegue encurtar o caminho do acordo. O ministro Luiz Fux disse que faltava “juridicidade”, não concedeu a liminar ao Rio nem a negou. Repetiu a fórmula usada na crise da dívida dos estados e agora os governos federal e do Rio têm 30 dias para aprovar os termos do acordo no legislativo. Difícil. De um lado, o Congresso terá que mudar, nesse tempo, a Lei de Responsabilidade Fiscal; de outro, a Assembleia do Rio terá que aprovar projetos polêmicos.

Nada é simples, nada se resolve em 30 dias. O governador Luiz Fernando Pezão estava tentando conseguir no STF uma antecipação de parte do acordo para que ele pudesse levantar um empréstimo e assim acertar as contas com os funcionários. O Rio deve aos servidores parcelas atrasadas dos salários. O empréstimo total para pôr a folha em dia seria de R$ 3,5 bilhões, segundo me confirmou ontem o governador.

Velha novidade - José Paulo Kupfer

- O Estado de S. Paulo

Diagnósticos e propostas do novo projeto de redução dos spreads repete anteriores

O Banco Central está empenhado em reduzir o spread bancário – a diferença entre o custo de captação dos recursos e o cobrado nos empréstimos –, que é há muito tempo um dos mais altos do mundo. Com o objetivo de baratear o crédito e dar mais eficiência ao sistema financeiro, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, acaba de lançar o “Projeto Banco Central+”, que engloba uma série de reformas regulatórias e administrativas.

Não deixa de ser uma boa notícia – de que adianta, afinal, cortar os juros básicos se, na ponta, os spreads mantêm as taxas nas alturas? Só que essa novidade é velha. As mesmas palavras do período acima poderiam ser usadas, sem tirar nem pôr, para descrever o “Projeto Juros e Spread Bancário”, lançado por Arminio Fraga, então presidente do Banco Central, em 1999. Com algumas poucas modificações, serviriam também para resumir outras tentativas com o mesmo objetivo empreendidas nos últimos 50 anos.

A pós-mentira - Arnaldo Jabor

- O Estado de S. Paulo

É difícil imaginar esse cara por quatro anos no poder. Se bobear, o mundo acaba antes

“Pós-verdade” é a nova palavra para justificar o caos psicológico do mundo atual. Que p.... é essa? É o seguinte: a História ficou mais imprevisível. Ninguém sabe a solução e, pior, nem entendemos ainda a extensão do problema.

As pessoas passam a buscar uma certeza qualquer. No entanto, já sabemos que o presente é inexplicável e não nos levará a plenitude alguma. A ideia de ‘futuro’ mixou. E, como não há em que acreditar, como não há verdades sólidas, inventaram esse termo para travestir a boa e velha mentira.

Parece filosofia barata (e talvez seja), mas o grande vazio atual pode ser simplesmente a saudade dos ‘universais’. Ou seja, conceitos que servem para nomear definitivamente, totalmente, fenômenos e sentimentos humanos: liberdade, amor, solidariedade, compaixão, direitos e deveres morais, dignidade na vida. A propósito, disse uma vez o Baudrillard: “Hoje, não há mais o ‘universal’ – só o singular e o mundial”. Na mosca.

A longa e árdua batalha para diminuir o custo do crédito – Editorial | Valor Econômico

Não deixou de causar alguma decepção o seminário sobre spread bancário realizado na semana passada pelo Banco Central (BC). A intenção da Agenda BC+ era boa ao reunir nomes importantes para debater o assunto, a começar pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e dois de seus antecessores, Armínio Fraga e Gustavo Loyola, além do presidente Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal. Esperava-se que o BC e os bancos anunciassem caminhos concretos para reduzir o spread de modo a baratear o crédito. Mas nada de novo aconteceu.

O Banco Central divulgou pesquisa a respeito da composição do spread bancário no crédito para pessoas físicas que mostra variações significativas conforme a origem dos recursos que lhe servem de lastro, sem indicar o que pode ser feito em cada caso de modo a reduzir os juros, que é o que as pessoas e empresas desejam. No crédito prefixado com recursos livres, que constitui a imensa maioria das operações com pessoas físicas, a taxa média do spread ficou em 35,2 pontos de 2011 a 2016, dos quais nada menos do que 53% são embolsados pelos bancos como lucro; 20% são canalizados para pagar impostos; 18,5% servem para cobrir a inadimplência; e o restante, os custos administrativos. Já no crédito total, incluindo as linhas direcionadas, com funding abaixo dos custos de mercado como o crédito imobiliário e o agrícola, a inadimplência fica com 53,5% do spread, e troca de lugar com o lucro, que cai para 23,8%. Mantêm suas participações os impostos, com 15,8%, e as despesas administrativas, com 5,1%.

Temer impõe limites – Editorial | O Estado de S. Paulo

Ontem, em declaração à imprensa, convocada para este fim, o presidente Michel Temer traçou limites claros para a permanência das pessoas em seu governo: ministro denunciado será afastado provisoriamente. E, caso se torne réu, o afastamento será definitivo. “Se houver denúncia, que é um conjunto de provas, que eventualmente pode levar ao acolhimento, o ministro denunciado será afastado provisoriamente. Se acolhida a denúncia e o ministro se transformar em réu, o afastamento é definitivo”, afirmou Temer.

O esclarecimento presidencial devolve à população um pouco de tranquilidade a respeito da relação do governo federal com as denúncias de corrupção. Foi uma medida necessária, já que várias pessoas mencionadas em documentos da Lava Jato trabalham muito próximas ao presidente Michel Temer. E as suspeitas de proteção aos amigos, que já não eram recentes, ganharam corpo no início de fevereiro com a nomeação do ex-governador do Rio de Janeiro Moreira Franco como titular da Secretaria-Geral da Presidência, o que lhe assegurou foro privilegiado. É ocioso dizer que a nomeação foi um grave erro de governo, soando como indiferença aos clamores da opinião pública por uma ação transparente do poder público no combate à corrupção.

A confluência da melhora da economia com a política – Editorial | O Globo

Enquanto há indicadores de que a retomada começa a ganhar forma, o ambiente político fica tenso com a Lava-Jato. Temer se compromete a proteger o PIB

Como nada para, não apenas o tempo, começa-se a vislumbrar uma tendência de recuperação da economia — em bases mais concretas, não como logo após o impeachment de Dilma —, confluindo para uma degradação da política decorrente da divulgação dos depoimentos do grupo de 77 diretores e acionistas da Odebrecht. Mesmo que ainda seja necessário esperar denúncias e provas.

Mas a simples citação de nomes do governo e da base parlamentar de Michel Temer tenderá a fragilizá-los, nesta fase estratégica de início de debate da crucial reforma da Previdência, na Câmara. Sem ela, cedo ou tarde, o importante teto constitucional das despesas públicas será rompido.

O presidente precisa se preparar para esta confluência, a fim de blindar o máximo possível a mudança dos humores para melhor dos agentes econômicos, protegendo-a dos efeitos das delações. Neste sentido, é louvável que Temer haja tomado a iniciativa de ontem anunciar que ministro denunciado será afastado de forma provisória, e, se virar réu, demitido. É sempre indicado, nesses casos, antecipar-se aos fatos. Parece ter sido aprendida a lição dada pelo presidente Itamar Franco ao afastar seu braço direito, Henrique Hargreaves, da chefia da Casa Civil, por ele ter sido citado na CPI dos Anões do Orçamento, em 1993.

Interesse público – Editorial | Folha de S. Paulo

Em decisão que não pode ser qualificada senão como censura inadmissível, o juiz Hilmar Castelo Branco Raposo Filho, da 21ª Vara Cível de Brasília, concedeu liminar que impede esta Folha de publicar reportagem sobre tentativa de extorsão sofrida pela primeira-dama Marcela Temer.

Os fatos são de conhecimento público: em abril do ano passado, a mulher do presidente Michel Temer (PMDB), então interino, teve seu telefone celular clonado; em outubro, Silvonei José de Jesus Souza foi condenado pelo crime de ter exigido R$ 300 mil em troca da não divulgação dos arquivos a que teve acesso.

Este jornal publicou informações sobre o caso na sexta-feira (10), em sua versão digital. Naquele dia, um advogado lotado na Casa Civil pediu à Justiça, em nome da primeira-dama, a supressão do texto, também reproduzido na edição impressa de sábado (11).

Anistia a PMs em greve seria risco para a democracia – Editorial | O Globo

No Espírito Santo, apesar da volta de alguns policiais, maioria continua aquartelada. Número de homicídios no estado passa de 140, segundo Sindicato de Policiais Civis

Em meio aos problemas provocados pelas greves de policiais militares no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, é importante o recado que foi dado pelo governo federal no fim da semana passada. O ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, responsável pela articulação política, disse que o Palácio do Planalto mobilizará a base aliada no Congresso para vetar qualquer projeto que proponha anistia aos PMs amotinados. “É importante deixar isso claro, pois há movimentações iludindo pessoas que estão em greve como se fossem escapar de uma penalização”, afirmou Imbassahy.

Exposição de fotografia faz uma interpretação sobre o 'Poema Sujo', de Gullar

A obra máxima de Ferreira Gullar ganha testemunho e outros olhares nas imagens de Márcio Vasconcelos no Museu Afro Brasil

Amilton Pinheiro | O Estado de S.Paulo

Em um dos trechos do seu livro Poema Sujo, escrito em 1975, no seu exílio em Buenos Aires, e lançado no Brasil no ano seguinte, o poeta Ferreira Gullar (1930-2016) diz: “Era a vida a explodir por todas as fendas da cidade sob as sombras da guerra”. Gullar na urgência de rememorar sua infância e as primeiras descobertas de adolescente em São Luís do Maranhão, queria deixar seu testemunho, diante da possibilidade da morte que assombrava seus pensamentos de exilado da ditadura militar do Brasil.

Diante desse material tão particular e único, que inaugurou uma nova linguagem na poesia brasileira, quis o fotógrafo Márcio Vasconcelos se debruçar, enfrentando o desafio quase intransponível de interpretar em imagens o manancial de vida que pulsa no livro Poema Sujo. “Eu nasci e vivo até hoje em São Luís do Maranhão. E, desde que me entendo por gente, convivo com os lugares e as pessoas que estão no Poema Sujo de Gullar. Encontro resquícios de sua poesia nos bares, nos becos, nas ruas, nas águas que escorrem pelas ladeiras depois da chuva, nas paredes rachadas dos casarões abandonados, dos telhados das casas, do cheiro do sexo que exala nas ruas do centro histórico, etc.”, explica Vasconcelos.

Convite Triste - Carlos Drummond de Andrade

Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.

Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.

Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber apenas.

Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um embigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.

Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.

(Em: Brejo das Almas)

Moraes Moreira - O Bom Sebastião - (Getúlio Cavalcanti)