quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Vinicius Torres Freire: Lula, reformas e o besteirômetro 2018

- Folha de S. Paulo

Os donos do dinheiro grosso ficaram animados com a possibilidade de Lula da Silva ser julgado e, pressupõem, condenado logo em janeiro do ano que vem.

Não chegaram nem de longe a fazer uma festa, mas foi o bastante para uma "happy hour", notável em alguns preços do mercado financeiro da tarde desta terça-feira (12). Então passava a circular a notícia de que se tornou mais provável a hipótese de que o ex-presidente seja impedido de concorrer em 2018.

Foi um gole de animação, um "shot", em um ambiente que, aos poucos, tem ficado nebuloso, sob risco de ficar sombrio, exceto para aqueles que souberem ganhar dinheiro com as reviravoltas políticas. Não se trata apenas de um novo lulômetro, a medida da piora financeira causada pela possibilidade de Lula ganhar a eleição, como em 2002.

Não apenas do ponto de vista do povo do mercado, são vários os riscos de a política dar em besteira, da eleição de um boçal à escolha de um programa de governo que não demonstre de modo razoável que vá evitar o colapso das contas públicas a partir de 2019. O besteirômetro de 2018 está ligado faz uns três meses, pelo menos nas medidas do mercado financeiro.

Desde setembro, outubro, o tempo vai fechando. As taxas de juros para negócios de prazo mais longo vão subindo, sem grandes saltos ou alarde, mas sistematicamente. Grosso modo, no fim das contas o custo de investir em novos empreendimentos ou em expansões de empresas fica mais alto.

Para mencionar um indicador "pop", considere-se o preço do dólar, que chegou a ficar em baratinhos R$ 3,09 em setembro e que, desde outubro, flutua entre R$ 3,20 e R$ 3,30, tendo chegado a R$ 3,33 ontem. Desde então, os jogos da Bovespa também ficaram mais desanimados. Mais importante, porém, é o estrago lento, gradual e contínuo no preço do dinheiro, nas taxas de juros.

Pouco importa se as pessoas não gostam do "mercado" ou que não acreditam nele, mas que ele existe, existe, e cobra seu preço ou foge com o dinheiro diante da perspectiva de tumulto (confusão nas ruas, governo quebrado, ameaça de calotes públicos ou privados). Sim, essas nuvens por vezes se dissipam em semanas. Mas a frente de más notícias estacionou sobre o país e não há sinal de que se vá embora tão cedo.

Como se escrevia nestas colunas faz um mês, o tempo está ruim por causa da quase morte da reforma da Previdência, da dianteira de Lula, da indefinição e da fraqueza das candidaturas do programa reformista liberal.

Caso ocorresse o milagre da aprovação de uma reforma da Previdência, algumas nuvens desapareceriam, por mais que a mudança em discussão seja provisória. Caso Lula fosse condenado em janeiro, com escassas chances de recorrer a tempo, haveria sol na cara dos donos do dinheiro grosso.

Combinados, os dois eventos tenderiam a evitar mais dificuldades nessa retomada econômica minúscula e, de quebra, em tese facilitariam a arrancada de uma candidatura "de centro" (novo nome da direita que não se identifica, por ora, com o ferrabrás das cavernas). Nada disso é necessariamente verdade, mas assim seria percebido pelos donos e operadores do grande dinheiro.

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