sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Guilhotina moral para políticos | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Mal começou a conversa sobre a eleição de 2018 e o debate já está em "adiantado estado de decomposição", como se escrevia sobre cadáveres nas folhas policiais de antanho. As finanças do governo do Brasil estão à beira do colapso, mas a discussão de candidaturas limita-se à desconversinha de costume.

Mesmo neste país tumultuado e de crises recorrentes, a situação é de gravidade e emergência raras. De certo modo, o governo de 2019 começa agora, nas decisões que serão tomadas neste 2017 ou até o início de 2018. A depender do que se decidir, mal haverá o que governar.

No entanto, a especulação e o debate políticos se restringem à reação da "base aliada" e de outros chantagistas desclassificados ao pacotinho de agosto de Temer-Meirelles. Candidatos a presidente e líderes de partidos maiores são tratados como turistas em visita ao país.

Discutem-se caravanas ou visitas de jatinho a uma Piraporinha Peba do Norte qualquer, se fulano é o plano B, se o governador está de malzinho com o prefeito e o último vídeo de hipocrisias jecas em que os dois se fazem votos da mais alta estima e consideração.

A nenhum deles se pede uma explicação adulta do que fazer da ruína. Nenhum deles sente a ameaça de ser pendurado no cadafalso dos desonestos político-intelectuais por não explicar em detalhe seu plano para o desastre.

Quem deveria sentir o medo da guilhotina moral? Lula da Silva e seu plano B, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo. Geraldo Alckmin e João Doria, governador e prefeito de São Paulo. Romero Jucá, presidente do PMDB, e outros líderes de PMDBs aboletados no temerismo.

Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara, candidato-mirim a alguma coisa. Marina Silva (Rede), que deve dar fim a suas inanidades em linguagem de vidente de circo hipster. Ciro Gomes (PDT), que deve dar explicações coerentes de sua falação.

Para começar, a pergunta é a respeito dos planos declarados deste governo Temer, em particular da reforma da Previdência.

No geral, a pergunta é o que fazer a respeito da despesa e da dívida, que, crescendo sem limite, como agora, vão nos levar à inflação ou ao corte cruel de serviços públicos, se não a uma combinação calamitosa dos dois problemas.

Desnecessário dizer que são inaceitáveis respostas do tipo "o governo precisa cortar na carne", "imposto sobre grandes fortunas", "extinção de ministérios", "a sociedade não aguenta mais impostos" (como se o governo gastasse em Marte), "nenhum direito a menos" ou outra dessas baboseiras de redes sociais.

Espera-se um plano de governo paralelo e, no caso da rejeição das hipóteses na mesa de debates ou em tramitação no Congresso, de alternativa factível, para agora. Com números, divisão social do prejuízo e desdobramentos dos efeitos da solução.

Em caso de sugestão de aumento de impostos, deve-se explicar o que fazer da despesa crescente. Impostos crescendo também sem limite? Em caso de sugestão de aumento de gastos a fim de colocar a economia em movimento, deve-se explicar como financiar a dívida extra (a que taxa de juros?). São perguntas óbvias, colegiais, mas esse é o nível atual da conversa. Nem para isso as lideranças políticas se sentem obrigadas a dar satisfação.

Nenhum comentário: