quinta-feira, 20 de julho de 2017

Temer tirou o sofá da sala | Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A anedota é antiga. Ao chegar do trabalho, o sujeito abre a porta de casa e encontra a mulher (ou o marido) com o vizinho no sofá. No dia seguinte, resolve tomar uma providência: tira o sofá da sala.

O governo lembrou a piada ao comprar um misturador de vozes para o Planalto. A geringonça, instalada pelo Gabinete de Segurança Institucional, emite um sinal que impede a captação do som ambiente. O objetivo é evitar que o presidente volte a ser alvo de gravadores indiscretos.

Temer já caiu duas vezes no grampo. No ano passado, o autor foi um ministro que se dizia pressionado a favorecer um colega. O presidente era suspeito, mas fez pose de vítima. "É uma indignidade absoluta alguém meter um gravador no bolso para gravar outrem", esbravejou.

Em março, ele foi fisgado pelo gravador do empresário Joesley Batista. A fita deu origem à primeira denúncia criminal contra um presidente no cargo desde a proclamação da República.

O uso do aparelho antigrampo contraria o discurso do presidente. Em novembro, ele disse que mandaria o GSI gravar suas conversas.

Chegou a definir a medida como uma "depuração dos costumes". "Talvez desse limão nós façamos uma limonada institucional, fazendo com que as audiências do presidente sejam todas gravadas", declarou.

Se a ideia fosse para valer, os historiadores do futuro saberiam o que Temer prometeu aos deputados que o visitaram antes de votar na Comissão de Constituição de Justiça.

O GSI existe para garantir a segurança da Presidência, não para encobrir as práticas de quem ocupa o cargo. Se Temer quer evitar novas gravações constrangedoras, bastaria não dizer nada que possa ser usado contra ele na Justiça. Apelar ao misturador de vozes é o mesmo que tirar o sofá da sala —ou do gabinete.
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O governo bateu o martelo: vai aumentar o imposto da gasolina. Será que agora o pato da Fiesp acorda?

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