segunda-feira, 24 de julho de 2017

Para aliados, Marina voltará a se candidatar

Por Fernando Taquari, Daniela Chiaretti e Cristiane Agostine | Valor Econômico

SÃO PAULO - A ex-senadora e ex-ministra Marina Silva (Rede) passou a dar sinais a aliados de que pretende disputar a Presidência da República em 2018, pela terceira vez consecutiva. Marina é, de largada, a principal beneficiária dos votos de Luiz Inácio Lula da Silva, no caso de um eventual impedimento da candidatura do ex-presidente. Em meio ao desgaste dos partidos e seus quadros, tem a vantagem competitiva de não ser identificada com a política tradicional.

A eventual candidatura da ex-ministra, no entanto, esbarra na estrutura precária do Rede, considerado um partido nanico, com quatro deputados federais, tempo de televisão residual, poucos recursos e capilaridade restrita. Os dirigentes da legenda, como a própria Marina e a ex-vereadora Heloísa Helena, têm se dedicado em organizar o partido nos Estados. Outra preocupação é com a saúde frágil da ex-senadora. O cenário eleitoral de 2018 indica uma campanha conturbada e uma disputa acirrada.

Marina ainda não fala em candidatura. Em entrevista ao Valor, diz que está em "fase de discernimento". "Tenho conversado com algumas pessoas muito próximas do Rede, amigos e família. Não tomei esta decisão, ainda que tenha presente a grande responsabilidade em relação ao momento que o país está vivendo".

A ex-senadora, porém, tem se articulado. Há uma semana, viajou ao Rio de Janeiro para um encontro com artistas e intelectuais, organizado pelo ator Marcos Palmeira. Após a condenação de Lula em primeira instância por corrupção e lavagem de dinheiro, no dia 12, marcou posição contra o ex-presidente ao afirmar que a sentença do juiz Sergio Moro "mostra que ninguém está acima da lei". Um dia depois, foi a Brasília e se reuniu com o senador Randolfe Rodrigues (AP) e o deputado Alessandro Molon (RJ) para debater o cenário político-eleitoral.

A movimentação recente coincide com o momento em que se fortalece a hipótese de Lula não disputar a sucessão presidencial. A pesquisa mais recente do Datafolha, de junho, revela que no cenário sem o ex-presidente petista, líder em todas as outras simulações, Marina cresce sete pontos e alcança 22% das preferências, percentual superior aos 9% registrados pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT), tido como possível herdeiro dos votos do petista. Os demais candidatos testados pelo instituto de pesquisa apenas oscilam dentro da margem de erro.

Marina, contudo, minimiza seu possível favorecimento em um cenário sem Lula. "Não gosto dos termos 'herdar' e nem 'transferência de voto'. O voto é livre e soberano e vai para quem o cidadão identifica como sendo a melhor alternativa naquele momento".

Correligionários de Marina já dão como certa sua candidatura presidencial. "Eu posso falar: ela está disposta e será nossa candidata. Há um espaço enorme para a terceira via", diz o senador Randolfe. "Pela primeira vez senti ela animada, algo que não via antes", afirma, ao lembrar de reunião recente com a ex-senadora.

Aliados, no entanto, divergem da estratégia adotada pela fundadora do Rede. O deputado federal Miro Teixeira (RJ) afirma que "não é cedo" para iniciar as articulações em torno da pré-candidatura. "Já podíamos ter começado", diz Miro, ao acrescentar que os demais pré-candidatos já estão se apresentando. "Marina não tem uma programação de pré-candidata. Mas compreendo e respeito esse posicionamento", continua.

O coordenador executivo do Rede Bazileu Margarido diz que o partido precisa se estruturar para oferecer condições ao lançamento da candidatura presidencial. O Rede teve registro aprovado em setembro de 2015. Nas outras eleições, Marina concorreu pelo PV e PSB, partidos de maior base eleitoral. "Ela tem disposição de ser candidata, mas não é uma decisão individual. É preciso criar as condições".

Porta-voz nacional do Rede, Zé Gustavo reforça. "Marina é liderança nacional, mas não há nenhuma decisão tomada sobre se ela será candidata", registra.

Entre os dirigentes do partido, o clima é de apreensão com a perspectiva de aprovação da reforma política, que poderá dificultar candidaturas do Rede. De acordo com o projeto em discussão na Câmara, que prevê a criação de um fundo eleitoral, a legenda terá 26 vezes menos recursos para abastecer suas campanhas do que o PMDB.

Para driblar parte das dificuldades, o Rede tenta atrair nomes de destaque nacional para ingressar no partido e disputar as próximas eleições. Os ex-ministros Ayres Britto e Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, foram procurados por aliados de Marina, mas não houve avanço nas sondagens. "Joaquim Barbosa é uma pessoa que qualquer partido se sentiria honrado de ter em seus quadros. Mas nas conversas que tive com o ministro até o momento nunca se falou em filiação", diz a ex-senadora.

Além da tarefa de reforçar a legenda, o Rede enfrentará o desafio para 2018 de buscar novos interlocutores com o sistema financeiro e o meio empresarial. Colaboradores das campanhas de Marina de 2010 e 2014, que estabeleceram pontes com o empresariado ou ajudaram no debate de propostas para o programa de governo, mostraram-se distantes das articulações de uma eventual candidatura presidencial neste momento.

Entre eles estão o consultor e ex-vereador Ricardo Young, a socióloga e empresária Neca Setubal, herdeira do Itaú Unibanco, e Guilherme Leal, sócio da Natura.

Young ajudou Marina em suas duas campanhas presidenciais e disputou três eleições, mas deixou a política e está afastado das articulações em torno de 2018. "Não estou pessimista, mas decepcionado com o quadro nacional". Neca afirma por meio de sua assessoria que atualmente está afastada de assuntos políticos por questões pessoais.

Vice de Marina em 2010, Leal diz que, por ora, não iria se manifestar. Consultados pela ex-senadora sobre temas econômicos nas campanhas passadas, os economistas Eliana Cardoso e André Lara Resende também optaram por não comentar o atual quadro político.

Um dos coordenadores da campanha de 2010, o ex-deputado Alfredo Sirkis afastou-se da política depois de 28 anos de intensa atuação partidária no PV. Com a ex-senadora, não conversa desde 2015 e o último contato foi por telefone. Sirkis afirma que além do descontentamento com o sistema político-partidário, não acredita no sucesso de um eventual governo Marina. "Não vejo no projeto dela capacidade de liderar uma transformação no país", diz. Para Sirkis, Marina deve ser pressionada pelos seus aliados a se lançar candidata, impulsionada pelo seu entorno. "Mas não a vejo talhada para o exercício da Presidência", diz.

Parte dos antigos aliados justificou o distanciamento alegando desilusão com o cenário político. Indiretamente, citam também a discordância com o apoio dado por Marina ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno das eleições de 2014. O tucano é um dos investigados na Operação Lava-Jato, acusado de receber R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista, dono da JBS.

Ao falar sobre o apoio ao tucano, a ex-senadora procura distanciar-se das denúncias contra ele. "Nem o eleitor de Aécio, nem o eleitor de Dilma e Temer tinham consciência de tudo o que estava acontecendo por trás das duas campanhas", diz. "Ninguém sabia que por trás de Aécio existiam os mesmos males praticados pela chapa Dilma-Temer".

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