sexta-feira, 28 de julho de 2017

Momento da Petrobras | Míriam Leitão

- O Globo

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse que a empresa hoje é totalmente diferente da que era. Não há a tomada de decisão por um único diretor, as diretorias não são mais compartimentos estanques e existe até a checagem da vida pregressa da pessoa nomeada. “Eu mesmo passei por esse procedimento duas vezes”. Garante também que os diretores foram nomeados por ele, sem indicação política.

É um alívio ouvir isso no dia em que foi preso o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine, acusado de ter recebido propina durante o período em que comandou a companhia e com a Lava-Jato já em estágio avançado. Ele foi nomeado para a estatal como homem de confiança de Dilma Rousseff. Poria ordem na empresa, segundo a mensagem que o governo na época passou. Que nada, muitos empreiteiros já estavam presos e ele pediu — e recebeu — propina da Odebrecht.

É estarrecedor o relato dos procuradores, delegados e o que está na decisão do juiz Sérgio Moro. Bendine teria pedido propina da Odebrecht, quando era presidente do Banco do Brasil, como condição para liberar empréstimos. A negativa que seu representante ouviu de Fernando Reis, que dirigia a Odebrecht Ambiental, não foi por qualquer barreira moral que, todos sabemos, não havia na empresa. Mas porque Marcelo Odebrecht não acreditava nos poderes de Bendine. Ao ser nomeado para a Petrobras, tudo mudou de figura, e Bendine quis deixar claro isso.

Antes que ele fosse nomeado para a presidência da Petrobras, Fernando Reis já sabia. Foi informado por André Gustavo, o marqueteiro amigo de Bendine. Em seguida, o próprio Bendine fez reunião com Marcelo Odebrecht. E chegou ostentando uma pasta da Presidência da República. Dentro dela, um texto enviado por Marcelo ao então chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante sobre o risco econômico que a Lava-Jato estaria impondo às empresas. A pasta era a mensagem. Mas ele reforçou ser emissário da presidente da República. Isso foi no fim de janeiro de 2015. No dia 6 de fevereiro, assumiu a presidência da Petrobras.

Dilma o nomeou apesar das reportagens sobre o empréstimo sem garantias que ele deu a uma socialite e outras estranhezas. No dia 18 de maio, um mês antes de ser preso, Marcelo Odebrecht se encontrou novamente com Bendine em Brasília, na casa de André Gustavo, e com Fernando Reis. O combinado entre André e Fernando era que Bendine não falaria diretamente da propina, apenas repetiria uma senha para ficar claro que os pedidos do marqueteiro eram seus.

Fernando Reis tem cara de bom moço. Só cara. Antes da delação, ele garantia a interlocutores incrédulos que a Odebrecht era diferente das outras empreiteiras. No dia da prisão de Marcelo, foi ele que tranquilizou funcionários afirmando que a empresa nada fizera de errado e as dúvidas seriam esclarecidas. Foi ele, o enviado da empresa para vários negócios escusos. Acertou com o intermediário de Bendine o pagamento de R$ 3 milhões. A propina foi quitada em três parcelas. Duas delas, depois de Marcelo ser preso. André, ao receber o dinheiro, deveria repetir as senhas: “Oceano. Rio. Lagoa”. Marcelo Odebrecht diz o seguinte na delação: “A gente estava cedendo ao achaque porque ele estava na posição de presidente da Petrobras”.

Ontem, entrevistei Pedro Parente, horas depois de Bendine ser preso. Ele não quis falar da prisão do antecessor, nem de fatos de antes de ele estar na Petrobras.

— É uma empresa, sob o ponto de vista dos controles, conformidade, compliance, completamente diferente da que existia anteriormente — afirmou. Parente disse também que tem tido total autonomia. — Não me lembro de um presidente da Petrobras que teve concedida a autonomia que o presidente Temer me concedeu. Não houve indicação política seja no conselho, seja na diretoria. Eu fiz as minhas escolhas — disse.

Temer, ao assumir, acertou em algumas decisões, uma delas foi a nomeação para o cargo mais delicado da República: o de presidente da empresa que foi reiteradamente saqueada. Mas errou em outros momentos. E pelos erros está respondendo na denúncia feita pelo procurador-geral. Ao reagir, Temer erra ainda mais por usar o cargo para se manter no cargo. Mas o dia de ontem foi para lembrar o que era o tempo de Bendine na Petrobras.

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