segunda-feira, 26 de junho de 2017

Temor de um Supremo ‘imprevisível’

Presidente reúne ministros e líderes aliados para avaliar cenário com denúncia

Cristiane Jungblut, Manoel Ventura, O Globo

-BRASÍLIA- Em uma reunião que durou cerca de três horas ontem, no Palácio da Alvorada, a avaliação foi que é preciso “aguardar os acontecimentos” no Judiciário para o governo definir suas estratégias em relação à denúncia que será apresentada até amanhã pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Há uma constatação de que os movimentos dos ministros do STF se tornaram imprevisíveis, o que teria sido demonstrado pela sessão da semana passada, na qual a maioria dos ministros validou a delação da JBS. Por isso, a ordem agora é aguardar os movimentos de Janot; do relator no STF, ministro Edson Fachin; e da presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia.

O presidente Michel Temer se reuniu ontem à noite com seus aliados de maior confiança: os ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco, Antônio Imbassahy, Aloysio Nunes Ferreira, Henrique Meirelles, Torquato Jardim e Sérgio Etchegoyen, além do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e dos líderes do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e no Congresso, André Moura (PSC-SE).

Oficialmente, o Planalto disse, em nota, que o encontro foi para discutir a “pauta de votação do Congresso”. No entanto, até Gustavo Guedes, advogado do presidente, estava presente e teve uma conversa privada com ele antes da reunião geral.

O Palácio do Planalto quer barrar com rapidez a denúncia. Só que a tarefa pode ser difícil. O presidente quer a escolha de um único relator para cuidar das denúncias — já que o provável é que Janot apresente ao menos duas — e que este seja de sua total confiança. Já identificou, porém, que terá problemas com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Rodrigo Pacheco (PMDB-MG).

Embora pertença ao partido do presidente, o deputado mineiro é considerado independente. Ao GLOBO, o presidente da CCJ, deputado Rodrigo Pacheco (MG), disse que ele é quem escolherá o relator, alguém com perfil técnico e “alguma independência”. Parte dos ministros defende que o relator na CCJ seja do PMDB. Houve especulações em torno do nome do deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), que já disse que não quer a função. Há ainda outro gaúcho, Jones Martins (PMDB-RS), e até José Fogaça (PMDB-RS), que é da ala histórica do partido.

— O relator precisa ter um perfil técnico, com alguma independência. Não pode ser uma pessoa abertamente atrelada ao governo ou que faça oposição ferrenha. E quem for colocado na CCJ como substituto, quem entrar no casuísmo, não será o relator — afirmou Pacheco.

O governo deseja que a CCJ funcione inclusive durante o recesso branco, na segunda quinzena do mês que vem. Mas Pacheco manda outro recado ao Planalto: é a favor de um descanso em julho.

— Politicamente seria melhor acelerar. Ficar sangrando é um problema — explica um interlocutor de Temer.

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