quinta-feira, 29 de junho de 2017

Crédito melhora para consumo e continua ruim para empresas – Editorial | Valor Econômico

A oferta de crédito melhora marginalmente ao longo do ano, acompanhando o ritmo lento de recuperação da economia e abalos na confiança dos agentes econômicos provocados pela crise política. A concessão de empréstimos deu um forte salto em maio, mas esse deve ser um movimento que não terá continuidade. Maio teve 4 dias úteis a mais que abril e, além disso, o Banco Central reestimou as perspectivas para o ano e cortou pela metade o crescimento previsto, de 2% para 1%. Haverá queda real em torno de 2,5%, ainda assim bem menor que a de quase dois dígitos registrada em 2016.

O crédito com recursos livres nada crescerá em 2017, mas essa estabilidade revela situações distintas. Os empréstimos para empresas continuam encolhendo significativamente, enquanto que alguma distensão e avanço se nota no dinheiro oferecido para as pessoas físicas. A forte recessão iniciada no segundo trimestre de 2014 encontrou pessoas físicas e jurídicas muito endividadas, para os padrões brasileiros, e o débito das empresas, inclusive com recursos externos, aumentou mais rapidamente.

Com a crise em que grandes grupos se envolveram ao serem atingidos pela Lava-Jato, a retranca dos bancos nos empréstimos para as companhias foi e continua sendo maior que no crédito ao consumo. Até novembro de 2016, os saldos de empréstimos totais, livres e direcionados, eram maiores para as pessoas jurídicas que para as físicas. A partir daí, ocorreu o contrário.

Uma atitude mais favorável dos bancos depende da melhoria da capacidade de pagamentos de dívidas de empresas e consumidores. No caso de boa parte das empresas, entre as maiores, a geração de receitas tem sido inferior a seus compromissos financeiros, o que explica de alguma maneira a posição defensiva dos bancos. No caso das pessoas físicas, o impacto da recessão na capacidade de pagamento foi um pouco menos acentuado, embora relevante. A parcela que manteve seu emprego não viu seus salários desabarem e o ajuste recaiu preponderantemente sobre o nível de ocupação. Assim, nos doze meses encerrados em maio, a taxa de inadimplência das famílias recuou 0,2 ponto percentual (4,1%), enquanto que a das empresas continua em alta - mais 0,8 ponto, para 4%.

O esforço para se livrar de dívidas, ou desalavancagem, começa a abrir espaço para novas dívidas pelos consumidores, mas nem tanto para as empresas. Desde o fim de 2015, o endividamento dos primeiros encolheu o equivalente a 2% do PIB e dos últimos, 3% do PIB, segundo dados divulgados pelo BIS.

Dessa forma, a concessão de novos empréstimos para companhias deixa de piorar lentamente. No ano, os empréstimos com recursos livres para elas caíram 9,9% até maio, ante -10,6% até abril. Em 12 meses, o recuo é de impressionantes 14,1%. Os indicadores mensais de modalidades importantes apresentam avanço, como no caso do desconto de duplicatas, que foi de 18,6% em maio, enquanto que os recursos destinados a empréstimos para capital de giro subiram quase 50%. Em todos os tipos de crédito a capital de giro, considerando-se todos os prazos, houve aumento de 17,8% no mês. Mas as demais evoluções continuam negativas, com queda de 7,9% no trimestre, 14,5% no ano e 18,4% em doze meses.

Para as pessoas físicas, com o salto de 16,5% no aumento de concessões com recursos livres em maio, a oferta de crédito deixou de ser negativa para tornar-se positiva tanto no trimestre (8,6%) quanto no ano (7,1%). O crédito pessoal subiu 15,2% no trimestre, mas ainda é negativo no ano (-2,1%). O crédito para aquisição de veículos, nos cinco primeiros meses do ano, já encosta em 20% (19,8%).

Os bancos preservaram sua boa rentabilidade, mantida mesmo durante a maior recessão da história. Em 2016, seu lucro líquido (1,99%) em relação aos ativos é a maior do mundo, na comparação com bancos dos principais países emergentes e avançados. Sua margem de intermediação financeira (3,22%) só é inferior à das instituições financeiras russas, segundo dados do BIS.

Com o rebaixamento das estimativas de crescimento no ano, para algo mais próximo de zero, tanto a demanda quanto a oferta de crédito não deverão avançar rapidamente nos próximos meses. Por outro lado, salvo o agravamento abrupto e significativo da crise política, a oferta de crédito não será mais tão drasticamente racionada quanto no ano passado.

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