quinta-feira, 25 de maio de 2017

Isolado, Temer usa Exército após depredações em Brasília

Ato de centrais acaba em vandalismo

Confrontos das ruas se repetem no Congresso

Presidente perde mais um assessor direto

Um protesto convocado pelas centrais CUT e Força Sindical contra as reformas e pela saída do presidente Temer acabou em vandalismo em Brasília, com prédios públicos depredados, bombas e até fogo dentro da sede do Ministério da Agricultura. A Esplanada dos Ministérios teve de ser esvaziada. Forte aparato policial fechou os acessos à Praça dos Três Poderes. Houve atos de violência tanto de manifestantes quanto de policiais. Sete pessoas foram detidas e 49 ficaram feridas, inclusive PMs. Dentro do Congresso, o clima também era de muita tensão. Deputados chegaram a trocar empurrões quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou a convocação de tropas federais. O presidente Temer, que ontem perdeu mais um assessor em meio à grave crise, assinou decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) convocando as Forças Armadas para atuarem na segurança e contra a violência em protestos, sendo criticado pela oposição. Reunido ontem em Washington, o Conselho Permanente da OEA ressaltou a força das instituições brasileiras para enfrentar a crise.

Temer chama o Exército

Ato contra governo e reformas acaba em violência, e presidente convoca Forças Armadas

Renata Mariz e Karla Gamba | O Globo

-BRASÍLIA- Prédios de ministérios incendiados, com uma longa coluna de fumaça preta que tomava o céu de Brasília, mascarados armados com coqueteis Molotov, policiais disparando com munição letal na direção de manifestantes, e toda a Esplanada esvaziada às pressas em meio a um cenário de caos. Foi esse o saldo de um protesto de 35 mil pessoas contra o governo de Michel Temer e as reformas previdenciária e trabalhista, organizado por centrais sindicais, ontem à tarde na capital federal. Diante da perda de controle, e cada vez mais enfraquecido no Palácio do Planalto, o presidente editou um decreto que autoriza o uso das Forças Armadas para garantir a lei e a ordem na capital federal. A medida, embora tenha amparo na lei, foi vista por especialistas como um sinal de perda de legitimidade do presidente. Ontem à noite, militares já patrulhavam alguns dos principais pontos da cidade.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, houve 49 atendimentos de emergência e sete presos. A pasta não detalhou, porém, quantos feridos foram alvos de tiro de arma de fogo e qual o estado de saúde dos atingidos até a conclusão desta edição. Em nota, o Governo do Distrito Federal afirmou que a PM “agiu de acordo com o Protocolo Tático Integrado assinado pelos governos federal e distrital no mês passado, em que a segurança dos prédios públicos ficou sob responsabilidade da União”.

Os manifestantes vieram de várias partes do país organizados principalmente pelas centrais sindicais, como CUT, Força Sindical, CSB e Conlutas, e por movimentos populares, como o dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Havia ainda grupos específicos identificados por camisetas ou bandeiras, como agremiações estudantis. Faixas, adesivos e outros símbolos de partidos de oposição também podiam ser vistos no protesto.

Eles se concentraram no estádio Mané Garrincha, de onde saíram em marcha por volta do meio-dia. Tão logo chegaram à linha final do protesto — uma barreira colocada para proteger o Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal —, a confusão começou. Bombas de efeito moral eram lançadas a longa distância, dispersando tanto as pessoas que tentavam furar o bloqueio quanto outras que estavam distantes do local de tensão e eram surpreendidas pelo gás.

A todo momento, em pontos diferentes da Espúblicos, planada, manifestantes corriam por conta do gás que dificulta a respiração e causa ardência nos olhos e na pele. Muita gente passou mal. Do alto dos carros de som que puxavam o protesto, ambulâncias eram chamadas para socorrer vítimas das bombas de efeito moral e de balas de borracha. A ordem aos manifestantes, porém, era não recuar:

— O gás arde, mas vai doer muito mais perder direitos — bradava um manifestante do alto do carro de som com microfone em punho.

Em seguida, grupos de manifestantes começaram a depredar prédios. Ao menos os ministérios da Fazenda, Turismo, Minas e Energia, Planejamento e Cultura foram alvos de vandalismo. Em um dos vídeos captados pelo GLOBO, é possível ver um militante trajando camiseta do Juntos, um movimento nacional de juventude, lançando uma pedra contra um edifício público.

Além de pedras, os manifestantes usavam mastros de bandeiras para quebrar vidros nos prédios públicos. Placas de trânsito, telefones paradas de ônibus e até semáforos, nada ficou intacto nos arredores. Grupos, em geral com rosto coberto por capuz ou camisetas, se juntavam para quebrar as estruturas.

A quebradeira logo se transformou em incêndio. Os manifestantes atearam fogo ao edifício do Ministério da Agricultura. Eles retiraram sofás do prédio para queimá-los em frente ao edifício. O Corpo de Bombeiros teve que ser acionado para controlar as chamas, que provocaram uma fumaça escura e volumosa, acentuando ainda mais o cenário de destruição.

A Casa Civil determinou que os prédios de todos os ministérios fossem esvaziados e os servidores liberados. As paredes de vários edifícios foram pichadas com “Fora Temer” e outras palavras de ordem contra o governo. Helicópteros das forças de segurança sobrevoaram o local, em baixa altitude.

Além do incêndio de proporções consideráveis na Agricultura, pequenas barricadas feitas de lixo e outros materiais foram queimados ao longo da Esplanada.

Foi também nos arredores do Ministério da Agricultura onde ocorreu um dos muitos confrontos do dia. Os policiais se colocaram em fileira para evitar maiores danos ao prédio, após o incêndio. Ao ver os PMs, manifestantes espalhados no gramado começaram a correr de forma coordenada em direção a eles. Um enfrentamento aberto só não ocorreu porque a polícia usou bomba de gás para dispersar o grupo.

Por volta das 17h, os manifestantes, que se mantiveram dispersos na Esplanada, exceto o grupo que continuava na barreira de isolamento em frente ao Congresso, começaram a deixar o local. Do protesto, surgiu a ideia de uma nova greve geral, desta vez de 48 horas. A última, durou um dia.

CUT E FORÇA CRITICAM PM
Em nota, a CUT afirmou que o protesto reuniu 200 mil pessoas, e não as 35 mil informadas pela Secretaria de Segurança Pública do DF. Para a Força Sindical, o movimento reuniu 100 mil pessoas. As duas entidades se dividiram no que diz respeito às causas da confusão que tomou conta da Esplanada dos Ministérios. Mas ambas criticaram a atuação da Polícia Militar.

A CUT nem sequer criticou o vandalismo e culpou a “falta de preparo” do Estado para receber o protesto, afirmando que “milhares de mulheres, homens, jovens e crianças foram recebidos com balas de borracha e gás lacrimogêneo”. Em nota, a Força ressaltou a presença de infiltrados: “Mais do que lamentar, nós rechaçamos a infiltração de black blocs”. A central sindical também afirmou que atribui à PM “grande parte da responsabilidade pelas cenas lamentáveis de depredação do patrimônio público”.

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