sábado, 27 de maio de 2017

Aliados reagem a articulação de tucanos para caso de queda de Temer

Igor Gielow | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O avanço da articulação liderada pelo PSDB para preparar cenários em caso de queda de Michel Temer gerou reação no PMDB, DEM e PSD, principais sustentáculos do governo e que também avaliam os cenários de substituição do presidente.

O estopim da revolta foi a reunião entre o presidente interino tucano, senador Tasso Jereissati (CE), o governador Geraldo Alckmin (SP) e o prefeito paulistano, João Doria, no apartamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em São Paulo.

Segundo um líder do PSD, o encontro na quinta (25) soou como uma "reunião de notáveis para ditar regras", e o partido queixou-se com FHC.

Para piorar, Alckmin declarou na manhã desta sexta (26) que "os grandes nomes" do PSDB para um pleito indireto são Tasso e FHC. Com isso, avalizou publicamente o nome de Tasso, que no acerto tucano não seria candidato à reeleição caso vencesse a disputa indireta, abrindo caminho para Alckmin ou mesmo Doria como presidenciável em 2018.

O ex-presidente foi colocado na mesma frase para tentar dividir a atenção com o senador, que ganhou visibilidade como nome do partido a ser indicado para compor uma chapa no Colégio Eleitoral —isso se Temer for cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

A principal figura até aqui nas especulações, o ex-ministro Nelson Jobim (PMDB), não gostou de ver seu nome citado ora como presidenciável, ora como eventual ministro da Justiça. Um conhecido afirma que Jobim está "fechado em copas", mas que aceitaria uma indicação à Presidência, apesar de ter seu nome ligado a investigados na Lava Jato. Seu maior ativo é a entrada que possui no Supremo —que presidiu—, na situação e na oposição.

No PMDB, a reação ocorreu na bancada na Câmara. Dois deputados, que pediram reserva porque ainda apoiam formalmente Temer, afirmam que o PSDB não tem voto para querer indicar a ordem dos fatores. E ressaltaram que, na Câmara, o favorito hoje seria o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Os tucanos somam meros 46 dos 594 possíveis eleitores, e Tasso só tem apoio fechado no Senado, que concentra 13,6% dos votos no Colégio. O baixo clero, designação suprapartidária para parlamentares sem maior expressão, tem entre 60% e 70% dos votos na Câmara, e hoje seguiriam a indicação de Maia.

Mesmo o PT, partido com 58 deputados, tende a só participar do processo indireto apoiando um nome simbólico de oposição se o candidato "para ganhar" for Jobim.

Isso evidencia como qualquer composição para um eventual pós-Temer passa por ter o PMDB, por seu peso político e bancada (63 deputados, 22 senadores) no jogo.

FHC passou a sexta apagando incêndios em reuniões e telefonemas, e a ordem no PSDB é silêncio sobre as articulações. Um cacique tucano avalia que a crise foi contida e que os presidentes dos partidos seguem alinhados.

O plano segue sendo apoiar o governo Temer até o julgamento, exceto que surjam novidades na seara judicial.

O presidente busca ganhar tempo para evitar a cassação no TSE. Até aqui, contudo, a avaliação entre os partidos que apoiam Temer é que ele perdeu as condições de permanecer no cargo.

O presidente é alvo de inquérito após ter sido atingido diretamente pela delação da JBS na Lava Jato.

Ele insiste em uma agenda legislativa positiva, mas dificilmente conseguirá fazer avançar a reforma da Previdência. Além disso, a crise periga abater o ensaio de recuperação econômica que se desenhava, trazendo o fantasma da volta da recessão.

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