quinta-feira, 20 de abril de 2017

Por reforma da Previdência, governo endurece com aliados

Temer enquadra siglas ‘infiéis’ para aprovar reformas

Sob pena de ficarem insustentáveis no cargo, ministros são cobrados para garantir votos nas mudanças na aposentadoria e trabalhistas

Vera Rosa e Isadora Peron | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Diante de sinais de rebelião no Congresso, a cúpula do governo endureceu o tom e decidiu cobrar dos ministros que enquadrem as bancadas aliadas, sob pena de ficarem insustentáveis nos cargos. O Planalto quer agora que os partidos mais divididos fechem questão para conseguir aprovar a reforma da Previdência. Os parlamentares que desrespeitarem a ordem correm risco de punição.

O PMDB deve ser o primeiro a dar o exemplo. Depois de mostrar infidelidade em votações consideradas mais leves, como a da terceirização e a do requerimento de urgência, nesta terça-feira, 18, para a reforma trabalhista, o partido do presidente Michel Temer sofre cada vez mais pressão do Palácio do Planalto.

“Fechar questão é um instrumento legítimo para o partido marcar posição”, afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), presidente do PMDB. Interlocutores de Temer observam que, com a estratégia, os parlamentares poderão dizer aos eleitores que foram obrigados a seguir diretriz do partido para aprovar as mudanças na aposentadoria.

Em fevereiro, Jucá protagonizou confronto público com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, para quem a tendência do partido era liberar a bancada na votação da reforma da Previdência. “Não temos tradição leninista”, disse Moreira, na ocasião.

De lá para cá, porém, o governo sofreu derrotas na Câmara e as delações da Lava Jato contribuíram para aumentar a crise. É tanto o esforço do Planalto para transmitir à sociedade a mensagem de que a Lava Jato não parou o governo que Temer já planeja recorrer a ministros-deputados para a aprovação da reforma da Previdência.

Dos 28 ministros, 12 são deputados licenciados que podem voltar ao posto, se necessário, para ajudar Temer na Câmara. Os ministros também foram orientados a intensificar o contato com os parlamentares e a procurar individualmente os integrantes de suas bancadas.

A ideia é que eles apresentem ao governo um mapeamento do voto de cada deputado. “Os ministros vão ter de trabalhar suas bancadas. Senão, vão ter de deixar os cargos”, disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).

Recado. Na lista dos “traidores contumazes” estão PSB, PRB e PPS, embora o próprio PMDB e o PSDB também tenham se mostrado infiéis. Nesta semana, os ministros Leonardo Picciani (Esporte) e Marx Beltrão (Turismo), ambos deputados licenciados, participaram da reunião da bancada do PMDB. Ali, o recado foi claro: quem votar contra a reforma terá de devolver os cargos.

O ministro da Cultura, Roberto Freire, também ameaçou sair se o PPS enfrentar o governo na reforma da Previdência. A advertência foi feita a parlamentares após as traições verificadas na votação da terceirização.

Considerado o aliado mais infiel, o PSB deve fechar questão, mas contra as reformas da Previdência e trabalhista. “Há uma avaliação de integrantes da bancada de que esse governo está tendo uma inflexão excessivamente liberal”, disse o presidente do PSB, Carlos Siqueira.

O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), afirmou que o partido não obrigará ninguém a votar com o governo. Assegurou, porém, que o DEM é favorável à reforma da Previdência.

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