quarta-feira, 12 de abril de 2017

O destino do governo depende das ruas | Jorge Bastos Moreno

- O Globo

A consequência imediata da divulgação da lista de Fachin poderá recair sobre a votação da reforma da Previdência, dificultando sua tramitação e até mesmo aprovação pelo Congresso. Foi esta a primeira avaliação feita ontem à noite em reunião do presidente Temer com os chamados ministros da Casa.

Por isso, o governo estuda uma reação, que evite a paralisia administrativa. Tanto que, depois da divulgação da lista, o setor de Comunicação, comandado pelo ministro Moreira Franco, continuou trabalhando normalmente, reunido com publicitários para a divulgação das peças de campanha da reforma da Previdência.

O fato de “o protocolo Temer”, que prevê afastamento temporário aos denunciados e demissão aos condenados, não se aplicar neste caso dá um relativo conforto aos nove ministros investigados, já que todo esse processo é muito demorado.

É claro que, nessas primeiras avaliações, o governo está voltado para o seu umbigo e não examinou um componente fundamental para a sua própria estabilidade: as ruas, suas excelências, as ruas. Delas, dependem o futuro deste governo.

O tamanho da lista só aumenta a descrença popular na política, o que não deixa de ser ruim para a democracia. Pior seria se, em vez da política, perdesse o povo a crença na Justiça, pois aí, sim, não há lei e não há democracia. A vantagem da lista está justamente nisso: a Justiça não está brincando em serviço. O que vem depois dessa hecatombe, ninguém sabe.

A lista, em si, não traz surpresas, a não ser pela quantidade de gente envolvida: muita gente, segundo poucos, e, pouca gente, segundo muitos, haja visto que são as empreiteiras as maiores colaboradas das campanhas.

Resta saber apenas quando surgirá o primeiro réu confesso dessa lista. Alguém que diga publicamente que recebeu doações ilegais. Quando entrei, pela primeira vez, no Carandiru, na companhia de Drauzio Varella, ouvi dessa doce pessoa, a seguinte advertência: “Aqui, você não vai encontrar nenhum criminoso. Todos se dizem inocentes e que estão aqui por injustiça.”

Na política, é assim também. Claro que, certamente, alguns serão inocentados. Há pessoas na lista com bons antecedentes. Mas não chegam a formar uma maioria, infelizmente. A maioria não tem defeito novo.

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