quarta-feira, 5 de abril de 2017

Amor pelo Estado arruína estatais | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

O investimento das estatais federais caiu pela metade de 2014 para 2016. O investimento direto do governo federal "em obras" caiu 39%.

Tudo somado e corrigido pela inflação, dá uns R$ 83 bilhões de queda, de 2014 para 2016. Muito, pouco? Bastante para explicar parte da ruína. Nos últimos 12 meses, o governo investiu apenas R$ 38 bilhões. No fim deste ano, talvez pífios R$ 26 bilhões.

O investimento total na economia em novos equipamentos, máquinas e instalações produtivas foi da ordem de R$ 1 trilhão em 2016. Para alguém menos dado a acompanhar essa numeralha, menos R$ 86 bilhões pode não parecer um desastre.

Em si, essa baixa já seria um desastre. Para piorar, o investimento federal teria efeito indutor (levaria empresas privadas a investir também) e multiplicador (o investimento afetaria de modo positivo o movimento de outros negócios).

Não seria possível, muito obviamente, manter o nível de investimento de 2014. Qualquer autoridade econômica com algo mais do que vento entre as orelhas, de esquerda ou de direita, teria de dar uma arrumada drástica na economia e nas contas do governo. Uma arrumada recessiva, com cortes de gastos públicos e alta de juros.

Mas a coisa, o "ajuste", foi ainda pior, dada a extensão da ruína promovida de 2012 a 2014. A herança da desordem foi deixada para uma família inteira de setores da economia. Afetou contas públicas, preços, regulação da atividade produtiva, qualidade dos investimentos federais, endividamento de empresas e famílias. Etc.

Cerca de 85% dos investimentos das estatais federais saía da Petrobras, tanto em 2014 quanto em 2016. Logo, o grosso dessa baixa pela metade do investimento das estatais veio da Petrobras, que até 2014 era responsável por 10% do investimento total no país.

A petroleira foi a galinha quase morta dos ovos de ouro de Dilma Rousseff, em particular. Foi arruinada por endividamento excessivo, preços tabelados, gastos em projetos doidivanas, vários dos quais jamais darão retorno, e pela corrupção, como agora todo o mundo sabe ou deveria saber. O dano na Petrobras, no entanto, não se limitou à Petrobras.

A maior empresa do país entrou quase em agonia entre o fim de 2014 e 2015. O risco percebido ou imaginado de que o governo talvez tivesse de se endividar mais e entrar com montes de dinheiro a fim de salvar a empresa piorou ainda mais o crédito do país inteiro, do setor público e de empresas privadas. Risco e, pois, juros em alta contribuíram para acelerar a recessão.

O método de "ajuste" feito desde 2015 contribuiu também para talhar o investimento público.

Dada a campanha puramente ideológica da coalizão que depôs Dilma Rousseff, tapa-se o rombo das contas federais sem aumento algum de imposto. Isto é, prolonga-se e aprofunda-se o corte no dinheiro destinado a investimentos federais, pois quase toda a receita federal vai para despesas obrigatórias por lei (benefícios sociais, salários etc.) ou por fato político (reajustes de servidores, subsídios para empresas etc.).

Agora, tentamos sair do chão puxando os cabelos, à espera de algum estímulo da baixa de juros e, talvez, de concessões de investimento para a iniciativa privada. Vai levar tempo.

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