quarta-feira, 12 de abril de 2017

A Nova República vem aí! Será? | Ricardo Noblat

- O Globo

Porque a Justiça não cedeu à inércia, aliada da impunidade e, por tabela, cúmplice da corrupção, o Brasil deu ontem um passo importante na direção do que o presidente Tancredo Neves pregou para se eleger em 1985 mas não viveu para ver: o possível surgimento de uma Nova República.

Deu-se esse nome, erradamente, à fase de transição entre a ditadura de 64 que durou 21 anos e a consolidação da democracia restaurada. Mas que democracia é essa que se deixou corromper pelos males de um presidencialismo mercantil de cooptação?

Antes, o presidente governava com base no apoio de partidos ideológicos, à esquerda ou à direita. Havia distribuição de cargos, natural para a formação de maioria no Congresso. Mas não com a intenção deliberada de roubar e deixar roubar.

Roubo sempre existiu e sempre existirá. Mas, com a multiplicação de partidos, sindicatos e de outras entidades a eles ligadas, o roubo inflacionou o preço dos apoios, os custos das campanhas e degradou os valores e princípios que caracterizam o regime democrático.

A democracia estabelece que as eleições sejam disputadas em igualdade de condições. O caixa dois favorece um lado em detrimento do outro menos aquinhoado. A propina pura e simples também. Mais ainda quando ela deriva da compra de medidas governamentais e de contratos superfaturados.

Só para ficarmos em um exemplo: não foi isso o que aconteceu na última eleição presidencial? Marcelo Odebrecht disse em depoimento à Justiça que foi ele que inventou a candidatura da ex-presidente Dilma à reeleição. Por quê?

Ora, porque foi a construtora que carrega seu sobrenome que tornou a reeleição de Dilma factível mediante a doação de milhões de reais omitidos à Justiça e o pagamento no exterior de serviços prestados à campanha. Quando isso acontece, subverte-se a livre manifestação do desejo dos eleitores. É crime de lesa democracia.

Quando falta luz em casa, a primeira coisa que fazemos é conferir se o disjuntor caiu. Disjunção! Os representantes do povo desligaram-se dos seus representados. A democracia deu à luz uma sociedade mais exigente e uma imprensa mais atenta.

O resultado é o que vemos. Que seja só o começo.

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