quinta-feira, 30 de março de 2017

Presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani vira alvo da PF

Um dia antes, negociava com Temer projeto de dívida dos estados

Eduardo Barretto | O Globo

-BRASÍLIA- Um dia no Palácio do Planalto, outro na Polícia Federal. Na véspera de ser conduzido coercitivamente a depor ontem, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani, estava em Brasília com o presidente Michel Temer, ministros e líderes parlamentares. Usava o figurino que se habituou nos últimos anos, o de um cacique regional que ganhou cada vez mais importância, turbinada pelas investigações que levaram outros expoentes do PMDB fluminense a cair em desgraça.

Jorge Picciani, que preside a Alerj pela sexta vez e é presidente do PMDB no Rio, tirava sua força da política local, onde se enraizou de tal maneira, que ajudou a eleger um clã familiar. Em 2002, com ajuda do pai, Leonardo Picciani se elegeu deputado federal aos 22 anos. De parlamentar novato, chegou a liderança do PMDB na Câmara e, durante o maior evento esportivo do mundo, as Olimpíadas, foi nomeado ministro do Esporte.

Outro filho, Rafael Picciani, é deputado estadual e foi secretário municipal de Transportes na gestão de Eduardo Paes.

ALIANÇA COM AÉCIO
Em 2010, Picciani, o pai, testou seu poder disputando uma vaga no Senado, mas acabou derrotado. Em 2014, fez um novo teste de suas forças. Organizou uma dissidência no PMDB fluminense, para que a legenda apoiasse o candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves (MG). O partido concorria, formalmente, na chapa de Dilma Rousseff, com o peemedebista Michel Temer para vice-presidente. A oposição liderada por Picciani foi lançada em junho daquele ano em uma churrascaria na Barra da Tijuca, com 1.600 lideranças de 17 siglas. O movimento foi batizado de Aezão: a união política de Aécio e Pezão, que concorria ao Palácio da Guanabara.

— Me deem a vitória no Rio de Janeiro, que eu dou a vocês a Presidência da República — discursou Aécio à época.

Não deu certo de novo, Dilma venceu as eleições e meses depois Picciani acabou se reconciliando com a presidente eleita, apesar de nunca ter tido muita proximidade com o governo.

A última publicação no Facebook de Jorge Picciani, antes da operação “O quinto do ouro”, mostrou fotos de dentro do Planalto, no gabinete de Temer, com uma comitiva de ministros, incluindo Leonardo, e líderes do Congresso. O presidente da Alerj fez apelos para que o plano de recuperação fiscal dos estados, incluindo o Rio, fosse aprovado com urgência, sob risco de um colapso financeiro no estado em cerca de duas semanas. Temer repassou o pedido ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) e ao presidente da Câmara Federal, o também fluminense Rodrigo Maia (DEM).

Jorge Picciani se descreve nas redes sociais como “carioca da gema”.

Para os investigadores, ele é suspeito de ter organizado repasses aos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado de 15% dos valores liberados pelo Fundo Especial de Modernização do tribunal.

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