segunda-feira, 27 de março de 2017

Ideias de museu | Míriam Leitão

- O Globo

PT nada aprendeu com seus erros na economia. Quase 10% de queda do PIB per capita, estagnação do desenvolvimento humano após 20 anos de avanço, três anos de prejuízo na Petrobras, disparada da dívida pública, um déficit primário que deve ser zerado só em 2021, 12 milhões de desempregados. Tudo isso e até agora o PT não fez autocrítica e acha que pode sustentar as mesmas ideias na economia.

Os petistas parecem congelados no tempo em alguns temas. Nada aprenderam nem com seus erros, nem com seus acertos. Ainda querem manipular a opinião pública apresentando panaceias que infelicitaram o país e nos levaram a um retrocesso histórico.

Os economistas do partido voltaram a se reunir para escrever um “programa emergencial”, segundo o “Valor Econômico”. Entre eles, o ex-ministro Guido Mantega. E defendem ainda as mesmas ideias que defendiam há duas décadas. Aquelas que foram obrigados a deixar de lado para chegar ao poder. Depois de viabilizarem o governo, eles retornam para o seu projeto e afundaram o país. Nada aprenderam com a queda da economia. Podem continuar agarrados aos seus equívocos, podem ignorar os dados da realidade, mas deveriam, ao menos, aprender com as consequências das decisões que tomaram. O país está em crise pela aplicação do ideário que eles ainda preparam para levar ao palanque no ano que vem. Nas reuniões que fazem, eles espanam as velhas ideias.

Os economistas do PT que se reuniam em 1989 para fazer o programa da primeira campanha presidencial de Lula achavam que a solução era “alongar a dívida pública”. Na marra. Se assumissem o poder naquela época teriam tentando fazer algum programa da mesma natureza do que foi feito pelo ex-presidente Collor. Os que se reuniram para fazer o programa da quarta campanha presidencial de Lula, em 2002, propuseram a auditoria da dívida e um plebiscito para saber se o país deveria pagar ou não. A dívida não é devida a inimigos. É a nós que o Tesouro deve. A todos nós que temos dinheiro aplicado em títulos do Tesouro. É o grande, o médio e o pequeno poupador. E o Brasil precisa de poupadores e que eles acreditem em títulos do Tesouro.

Em 2002, o PT só foi eleito porque recuou do que os economistas haviam dito em seu Congresso e escrito em seu programa. A Carta aos Brasileiros viabilizou a vitória e o governo de Lula. Os economistas que se reúnem agora para a sexta campanha presidencial de Lula começam a defender, segundo informou o “Valor”, incentivo ao crédito através de empréstimos subsidiados nos bancos públicos, aumento do endividamento público para alavancar investimentos, e o que eles chamam de “alongamento da dívida privada”, através da liberação do empréstimo compulsório dos bancos.

Eles acham que reduzindo o que os bancos têm que recolher compulsoriamente ao Banco Central, isso é, deixando mais dinheiro com os bancos, eles vão querer dar mais prazo para as dívidas das empresas e famílias. Aí as famílias e empresas poderão se endividar de novo com o crédito subsidiado dos bancos públicos. O governo poderá aumentar mais ainda a dívida, já que o objetivo será o investimento. O próprio Lula disse isso no 6º Congresso. “Esse negócio de que não pode aumentar não existe. Se fizer endividamento para construir ativos produtivos você pode fazer.”

Tudo isso eles já colocaram em prática nos anos finais do governo Lula e no governo Dilma. Tudo deu errado. E estamos pagando a conta altíssima dessa irresponsável política econômica. A dívida entrou numa trajetória perigosa de aceleração. A redução do compulsório é tudo que os bancos querem, mas isso só irrigará a economia num contexto de mais confiança. Se o governo ampliar seu gasto, a confiança despenca. O uso dos bancos oficiais para empréstimos subsidiados exauriu os cofres públicos e alimentou a corrupção. Empresários e políticos, hoje na cadeia, pagaram para ter acesso ao dinheiro barato, como, por exemplo, o do FI-FGTS.

Pelo que vêm dizendo nas reuniões preparatórias do programa do candidato Lula, o fracasso lhes subiu à cabeça. E pretendem repetir o que não deu certo. Eles tiveram 13 anos e meio no poder, e só acertaram quando não seguiram a própria cartilha. Se não aprenderam com a tragédia que provocaram, não aprendem mais.

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