terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Íntimo do mundo político, advogado é a antítese do perfil 'sóbrio' de Teori

Por Murillo Camarotto | Valor Econômico

BRASÍLIA - A escolha de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal (STF) marca o desfecho de uma carreira recheada de relações políticas e busca por um cargo público de envergadura. Desde que seu nome passou a frequentar o noticiário, há 20 anos, o advogado paulistano aparece com frequência entre os cotados para a disputa de cargos eletivos importantes. Ironicamente, ocupará um posto que não depende das urnas.

Hoje com 49 anos, Moraes iniciou a carreira como promotor no Ministério Público de São Paulo, função na qual teve destaque durante um escândalo de corrupção envolvendo a compra de frango pela prefeitura da capital paulista, caso que ficou conhecido como "Frangogate". A partir dali, construiu uma trajetória dividida entre os mundos jurídico, acadêmico e, principalmente, político, quase sempre com posições que podem ser consideradas conservadoras.

Além de ocupar cargos importantes na prefeitura, no governo de São Paulo e, mais recentemente, no governo federal, Alexandre de Moraes atuou como advogado de vários políticos, entre os quais o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, hoje preso por corrupção. Foi filiado ao PFL (atual DEM), ao PMDB e atualmente está no PSDB.

O primeiro posto de maior destaque foi a Secretaria de Justiça de São Paulo, que ele comandou durante a primeira passagem de Geraldo Alckmin pelo governo paulista. Na época com 33 anos, ele e o ex-deputado Gabriel Chalita integravam a ala jovem do governo.

Já naquela ocasião, foi considerado favorito para ser candidato a vice-prefeito de São Paulo na chapa do hoje ministro José Serra. Na reta final do processo, acabou preterido por Gilberto Kassab, que também é seu colega no ministério do presidente Michel Temer.

A inclusão da segurança pública na biografia de Moraes começou a ser escrita naquele mesmo ano, quando Alckmin lhe entregou o comando Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (Febem). Desde de então, a determinação de Moraes em endurecer as punições a menores infratores passou a ser outra marca forte de sua trajetória.

O trabalho na área foi interrompido após uma indicação para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2005. Com o governo petista em crise, Moraes acabou vencendo a disputa com o candidato indicado pelo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Moraes voltou para São Paulo dois anos mais tarde, convidado pelo então prefeito Kassab para comandar a cobiçada secretaria municipal de transportes. Nesse período, ficou encurralado entre dois aliados, já que Kassab e Alckmin foram adversários nas eleições municipais de 2008. O trabalho na secretaria foi interrompido em junho de 2010, sob críticas da base aliada do prefeito de São Paulo.

Nos quatro anos seguintes, Moraes se dedicou à advocacia e às aulas na USP. Além de Cunha, defendeu o atual secretário de Habitação do governo paulista, Rodrigo Garcia, que teve o nome envolvido no escândalo do cartel dos trens.

Moraes voltou à ribalta em janeiro de 2015, como secretário de segurança de Alckmin. A passagem foi marcada por polêmicas, entre as quais a ocupação de escolas públicas por estudantes. Nesse período, se filiou ao PSDB e foi cotado para disputar a Prefeitura de São Paulo. Foi mais uma vez preterido, desta vez por João Doria.

Com o impeachment de Dilma Rousseff, teve o nome sondado para a AGU, mas foi para o Ministério da Justiça. Além de criar um mal-estar com a Procuradoria-Geral da República, cometeu gafes, como o anúncio de um possível atentado terrorista na Olimpíada e o vazamento de uma fase da Lava-Jato.

Também foi criticado ao defender que conversas entre advogados e clientes presos fossem gravadas. Moraes indicou o filho de um ex-sócio para uma secretaria no ministério e disse que quer erradicar a maconha do continente.

Prestes a ser realizado, o desejo de ingressar no STF não é recente. Ao tomar posse na Academia Paulista de Letras Jurídicas, em 2012, disse que disputaria uma vaga. O plano original de Temer, de indicar alguém com o perfil de Teori Zavascki - em especial a discrição - foi deixado de lado com Moraes.

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