terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A métrica eleitoral do presidente Temer - Raymundo Costa

- Valor Econômico

Popularidade vem com perseverança na economia

A baixa popularidade de Michel Temer causa ansiedade na área de propaganda do governo, mas é tratada com frieza na área política e no grupo mais próximo ao presidente. A métrica de Temer não é e nem deve ser eleitoral, neste momento, como devem ser a de Lula e Aécio Neves, por exemplo, candidatos à sucessão de 2018. A escala do presidente, segundo auxiliares, são os indicadores econômicos - inflação, juros, emprego. Neste último quesito, aliás, o Palácio do Planalto comemora o crescimento do emprego formal em São Paulo, no mês de janeiro, o que não ocorre ao menos desde 2015.

Foram 6.500 empregos a mais em janeiro de 2017 em relação a dezembro de 2016, um aumento expressivo, comparado à seca de carteiras assinadas verificada nos últimos anos. Registro que passou quase despercebido, o que para o Planalto é apenas mais uma prova do radicalismo que tomou conta do debate político brasileiro.

É óbvio, Temer não pode se sentir confortável com seus níveis de aprovação popular, estimados em 10,3%, segundo pesquisa da MDA feita sob encomenda da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), divulgada semana passada. Mas sabe que a única chance de chegar a 2018 mais bem avaliado é conseguindo encaminhar uma solução para a mais grave crise política da história do país.

Seria ingenuidade pensar que Temer e seu grupo político não gostariam de continuar ou ter influência sobre a sucessão presidencial de 2018. É da natureza dos partidos e dos políticos. Se conseguir elevar seu índice de aprovação e chegar a dezembro com algo em torno de 20% a 25%, e em ascensão, conforme imagina-se no marketing presidencial, é claro que Temer pensará em fazer o sucessor. O ex-presidente José Sarney costuma dizer que qualquer governo, mesmo mal avaliado, é capaz de colocar um candidato na disputa com cerca de 20% na largada. Mas para que essa condição seja criada o presidente precisa que a economia dê as respostas positivas esperadas.

Há sinais claros de recuperação, mas a aprovação do presidente equipara-se à de Dilma Rousseff, a presidente que jogou no chão a economia. Esperava-se o contrário disso, o que não aconteceu. Poderia, então, Temer ceder ao apelo fácil de medidas econômicas populares, numa desesperada manobra para subir no ranking das pesquisas? Nada mais falso, segundo avaliações feitas por integrantes do núcleo palaciano do governo, para os quais a imprensa, mercado e os políticos como um todo precisam quebrar paradigmas.

O Planalto avalia que está no rumo certo. Prova disso é que a inflação caminha para ficar abaixo do centro da meta, aumentou o financiamento externo, o dólar está em baixa, a bolsa em alta e o governo já trabalha hoje pensando na queda do juro real e não apenas da taxa Selic. "Sem o voluntarismo e sem as estripulias do governo passado", como faz questão de ressaltar um auxiliar do presidente da República.

O que se reitera nos bastidores do governo é que as medidas requerem "tempo para apresentar resultados e obstinação e perseverança para manter o curso previsto". Há aqui e ali uma ou outra manifestação favorável a que o governo tome atalhos, mas isso seria mais latente no Congresso, entre aliados - sinceros mas ansiosos - que no governo, onde o prestígio da equipe econômica permaneceria intacto, segundo fontes com conhecimento do que se passa nos gabinetes e corredores palacianos. "A crise econômica não será resolvida nem miraculosamente, nem milagrosamente".

O maior obstáculo aos intentos do governo, na realidade, é a permanência da tese segundo a qual ele trabalha contra a Lava-Jato. O Planalto se queixa de que há setores defendendo que a prioridade é a Lava-Jato e não a economia, como se fossem coisas excludentes entre si. Auxiliares do presidente reclamam que o governo até hoje não tomou nenhuma atitude concreta contra a Lava-Jato, mas para efeito externo é como se não fizesse ou pensasse em outras coisas, dia e noite, 24 horas. Pergunta recorrente: "o que o Michel tem a ver com a eleição do senador Edison Lobão para presidir a Comissão de Constituição e Justiça do Senado"?

De acordo com auxiliares que cuidam da imagem presidencial, Temer teve um dezembro melhor que fevereiro. No fim do ano passado, as manifestações voltaram com algum volume às ruas, mas o "Fora Renan" é que foi predominante. Não houve "Fora Temer". Às vésperas do Natal, o presidente se sentiu encorajado o suficiente para fazer um pronunciamento em rede de rádio e TV; e o governo, aliviado por não serem registrados panelaços. Já havia sinais de que a economia traria os bons indícios de agora. Esperava-se que Temer fosse surfar uma boa onda.

A virada de ano, no entanto, não foi boa para Temer e caíram por terra as previsões mais otimistas. Logo em janeiro, o governo não reagiu a tempo às rebeliões nos presídios no Norte do país. O governo errou feio na avaliação política dos incidentes no Amazonas, quando tentou passar ao largo da crise, mas já foi proativo no Espírito Santo e, agora, com o Carnaval batendo à porta, se antecipou ao enviar tropas para o Rio de Janeiro, onde é forte o cheiro de queimado na segurança.

Entre o fim da primeira e o início da segunda semana de fevereiro ocorreram os fatos que mais contribuíram para a queda ainda maior da popularidade de Temer, na avaliação das fontes. Todos relacionados com a Operação Lava-Jato, sempre ela.

A eleição para as Mesas do Congresso, especialmente para o comando do Senado, criaram a sensação de que havia um complô em marcha contra a Lava-Jato. A indicação do ministro Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal deu ares de certeza à suspeita, que enfim se consolidou com a criação de um ministério para abrigar o secretário do programa PPI, Moreira Franco, e com a confirmação de Lobão na CCJ do Senado. Entre a economia e a Lava-Jato, o êxito da primeira é o que pode garantir a sobrevivência de Temer e aliados.

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