sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Trocam princípios por cargo, diz candidato da oposição

• Para André Figueiredo (PDT-CE), apoio de PT e PC do B a Maia é lamentável

Daniel Carvalho | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Único candidato da oposição a disputar a presidência da Câmara, o deputado André Figueiredo (PDT-CE) qualificou como "lamentável" o apoio do PC do B à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciado na quarta-feira (18), e a tendência de o PT seguir o mesmo caminho.

"É frustrante para quem confia nesses partidos, para quem veste a camisa deles. É absolutamente lamentável alguns parlamentares realmente defenderem a tese de que é necessário trocar seus princípios por cargos", afirmou à Folha. Leia a seguir.

• Folha - Dizem que o senhor foi "convencido" a disputar. Não queria?
André Figueiredo - No primeiro momento, eu realmente resisti à tese de lançar uma candidatura do PDT, até porque achava que o PT iria lançar uma candidatura como maior partido da oposição. Não lançando, começaram deputados do próprio PT a instigar o PDT a apresentar uma opção. Conversei com vários parlamentares do PT, do PC do B, da Rede e do PSOL e tivemos a expectativa de que, já num primeiro momento, pudéssemos apresentar uma candidatura que representasse a unidade do nosso campo político. Não sei o que levou o PT a ter essa hesitação, talvez por parte de alguns setores ou de alguns parlamentares tanto do PT como do PC do B mais pragmáticos, que talvez estejam defendendo a ocupação de um espaço na Mesa em detrimento da coerência com seus princípios.

• O apoio a candidatos que apoiaram o impeachment frustra o senhor?
É frustrante não para mim. É frustrante para quem confia nesses partidos, para quem veste a camisa deles. É absolutamente lamentável alguns parlamentares realmente defenderem a tese de que é necessário trocar seus princípios por cargos. Isso é um absurdo e rechaçamos qualquer hipótese disso. Movimentos sociais que têm uma identidade com PT e PC do B não aceitarão a possibilidade de que esses partidos tomem a decisão de caminhar ao lado de candidatos da linha de frente do golpe.

• Apoiar uma candidatura governista pode ser um tiro no pé para partidos de esquerda?
É o esfacelamento da história do PT, do PC do B. Você ter a opção de votar num candidato que representa a história e os princípios do nosso campo e acabar votando num candidato que representa justamente aquilo que combatemos, é um grande tiro no pé. Têm uma opção que foi instigada por eles mesmos. Não foi ideia do PDT.

• O senhor chegou a conversar com o ex-presidente Lula sobre sua candidatura?
Conversei com a [ex] presidenta Dilma [Rousseff], e o Lupi [presidente nacional do PDT] falou com o Lula. Ela considera verdadeiramente um absurdo o PT apoiar um candidato que tenha participado ativamente [do impeachment].

• Em que termos Lupi conversou com Lula?
Nos termos de que seria inadmissível. Mas as notícias recentes mostram que ele [Lula] deu o aval [para o PT apoiar Maia].

• Como seria sua relação com o Executivo?
Respeitosa. Michel Temer foi presidente da Câmara e sabe como agir com o Legislativo sem necessariamente colocar a faca no pescoço.

• Como vai tratar a agenda econômica do governo?
A reforma tributária é uma necessidade do Brasil. O que precisamos é, dentro deste processo, tributar quem ganha muito.

• O sr. pautaria a reforma trabalhista?
Vamos pautar, mas não vamos votar no afogadilho. Não vamos embarreirar nenhum projeto oriundo do Poder Executivo. Mas vamos discutir com muita exaustão qualquer projeto que complique as gerações atuais e as gerações futuras e, principalmente, projetos que tirem direitos dos trabalhadores.

• E a anistia para caixa dois?
Não é nosso projeto. Não queremos corroborar anistia a qualquer tipo de crime.

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