terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Rumo ao centro - Miriam Leitão

- O Globo

A inflação pode voltar ao centro da meta já no mês de maio. O Banco Central prevê, em um dos seus cenários, que a taxa acumulada em um ano vai recuar a 4,5% nos próximos meses e ficará até abaixo disso por um período. O IPCA de dezembro do ano passado deve ficar em 0,35% — o IBGE divulga o número amanhã — e, se for isso, o último trimestre de 2016 terá acumulado alta de apenas 0,8%.

O quadro inflacionário é tão favorável que alguns economistas, centros de análise e consultorias mudaram as suas previsões de queda da taxa de juros esta semana de 0,5 ponto percentual para 0,75. A maioria, contudo, continua prevendo que o Copom vai reduzir em meio ponto, mas isso já será uma aceleração do corte.

A previsão de Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, para a taxa de inflação de dezembro, de 0,35%, faz o ano de 2016 terminar em 6,3%. Em janeiro, estava em 10,71%.
— Acho que o Banco Central tem todos os motivos para acelerar o corte para 0,75 ponto. Ele tem uma janela de oportunidade, com cenário externo tranquilo, cenário interno também favorável para a inflação e a atividade desabando. Não pode perder essa oportunidade — diz Cunha.

Em parte, a forte desinflação vivida pelo país no ano passado, e que continuará este ano, é consequência da recessão. Mas não é apenas por esta notícia ruim.

A taxa mensal pode ficar entre 0,6% e 0,5% em janeiro e fevereiro, segundo o professor, mas no ano passado as taxas dos dois meses foram 1,27% e 0,9%. É por isso que no acumulado de 12 meses a inflação pode estar no centro da meta em maio, mas no segundo semestre deve subir um pouco.

Os preços ficarão mais amenos entre outras coisas porque os alimentos estão com safra muito boa, lembra Cunha. Mas outro motivo é que a economia está muito mais fria do que se esperava que estives- se a esta altura. O dado da produção industrial, divulgado na semana passada, impressionou porque foi muito mais baixo do que se calculava. Alexandre de Ázara, economista-chefe e sócio da Mauá Capital, foi um dos que, após a divulgação da produção industrial, refizeram seus cálculos para concluir que os juros vão cair 0,75 ponto:

— Mudamos nossa projeção de 0,5 p.p. para 0,75 no corte de juros porque o dado da produção industrial foi muito baixo e os últimos dados de inflação vieram melhores do que o esperado.

Ele acha que o mês de agosto terá a mínima da inflação no ano, com uma taxa de 3,5% em 12 meses, para depois subir e fechar em 4,3%. Por isso, aposta nesse corte maior da Selic. O Itaú soltou relatório dizendo que acredita que haverá dois cortes de 0,75 p.p., nesta reunião e na próxima, e depois novas quedas de 0,5 para chegar ao final do ano em 10%. Nem todo mundo pensa assim. MB Associados, Tendências, Bradesco, Rosenberg Associados e Gradual continuam acreditando que os juros vão ser reduzidos em meio ponto amanhã. Mas não descartam aceleração à frente.

Qualquer que seja o resultado da reunião do Copom, os juros cairão mais do que nos últimos encontros e consolidou-se a ideia de que novas reduções virão neste ciclo de queda. O Boletim Focus de ontem informou que o mercado prevê juros de 10,25% para o fim do ano, o que significa um corte total de 4,5 pontos.

— Se a inflação terminar o ano em 4,7%, por causa de um corte maior de juros, isso não muda nada para o Banco Central, mas ter juros reais mais baixos fará toda a diferença na recuperação da economia — diz Cunha, em defesa de uma redução de 0,75 ponto.

Há, contudo, muita incerteza fiscal. A situação dos estados não está resolvida, pelo contrário. Por enquanto, o risco é o governo ter novas perdas, tanto na renegociação da dívida quanto na nova lei complementar que terá que ser votada pelo Congresso para mudar os critérios da compensação com as desonerações da Lei Kandir. As contas públicas em qualquer instância administrativa estão fortemente deficitárias. Essas incertezas podem pesar na hora da decisão do Copom.

Contudo, o ano que começou muito mal na inflação termina bem. A taxa estava em dois dígitos e caiu ao ponto de ficar no intervalo de flutuação da meta. O BC não terá que escrever a carta se desculpando, como no ano passado. E o país fugiu da estagflação. A economia permanece com problemas, ainda não saiu da recessão, o desemprego continua crescente, mas a inflação foi reduzida e as taxas de juros poderão cair. Economistas e o próprio BC estimam que a inflação voltará ao centro da meta nos próximos meses BC deve acelerar os cortes nas taxas de juros e crescem as apostas por reduções de 0,75 ponto Queda da inflação e dos juros ajuda a atenuar o quadro de recessão com desemprego elevado

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