quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Opinião do dia – Norberto Bobbio

Quanto à Itália, grande parte da obra de Benedetto Croce, sobretudo depois de 1925, pode ser interpretada como uma defesa dos “valores da cultura” contra a sua confusão com os “valores empíricos”, e como uma constante e corajosa afirmação do dever que tem o homem de cultura de assumir tal defesa diante da incompreensão ou, pior, da deliberada vontade de pisoteá-los, própria dos políticos. A política de Croce foi, na realidade, sobretudo uma política da cultura. Com o amadurecimento de seu pensamento e de sua compreensão histórica, e com o agravamento na Itália da crise das instituições liberais, Croce foi consolidando cada vez mais sua convicção de que cabia aos intelectuais uma função política própria, a de afirmar o valor da liberdade entendido como ideal moral da humanidade, e de que dessa atribuição de tarefas devia-se extrair a distinção inevitável entre a função do intelectual e a função do político e, ao mesmo tempo a indicação da importância do homem de cultura na sociedade. Nas últimas páginas de Storia d’Europa (que é de 1932) podemos recordar com que ênfase acurada ele se dirige à pequena e aristocrática respublica literaria de nobres intelectos que, apesar de dispersos no mundo, tem fé no ideal da liberdade, e nos quais deposita suas esperanças de uma renovação moral e política europeia.
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Norberto Bobbio. ‘Os intelectuais e o poder’ pp.33-4. Editora Unesp, 1996.

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