sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Corte de juros pode marcar uma guinada na economia – Editorial | Valor Econômico

A reunião desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom) pode significar o primeiro passo rumo à retomada do crescimento. Em um primeiro momento, é certo que o humor melhorou. De praticamente todos os lados vieram elogios à decisão do Copom de intensificar o ritmo de corte da taxa básica de juros. Depois de cair meio ponto, em duas etapas de 0,25 ponto cada, ao longo dos três últimos meses de 2016, a Selic foi aliviada em mais 0,75 ponto agora, passado para 13% ao ano, sem viés, a menor taxa em 20 meses. A expectativa é que caia mais nos próximos meses, chegando a um dígito no fim do ano e abrindo caminho para a recuperação econômica.

Acreditava-se que o Copom aceleraria o corte, mas a maior parte das apostas se concentrava em um ritmo de meio ponto. Mas o Copom foi sensível aos vários sinais negativos que se avolumaram nos últimos dias. Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a produção industrial cresceu apenas 0,2% de outubro para novembro, bem menos do que os até 2% esperados. Dos 24 setores pesquisados, apenas 13 apresentaram crescimento. A queda acumulou 7,1% de janeiro a novembro, e o ano fechado não deverá ter um desempenho muito melhor do que em 2015, quando a produção industrial encolheu 8,3%. Nesta semana, o mesmo IBGE trouxe números do varejo que interrompeu uma sequência de quatro meses de queda em novembro, graças à Black Friday, quando aumentou em 2% as vendas, bem acima do esperado. Mas não foi o suficiente para reverter as perdas anteriores e o ano acumula queda de 6,4%, depois de ter recuado 4,3% em 2015. Os dados do setor de serviços, divulgados ontem, vão na mesma direção: a receita aumentou 0,1% em novembro, mas a queda no ano é de 5%, superior à de 3,6% de 2015.

Todas essas informações contaminaram negativamente as previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre, que pode repetir a queda de 0,8% do terceiro trimestre, e as expectativas para 2016 como um todo, configurando uma recessão acumulada ao redor de 7% nesses dois anos. Até 2017 foi contaminado, pelo simples carregamento estatístico esperado. Como se não bastasse há os cruéis números do mercado de trabalho, com 12,1 milhões de desempregados. O empurrão final para a decisão do Copom veio certamente do resultado da inflação, que ficou em 0,3% em dezembro, fechando 2016 em 6,29%, abaixo do teto de 6,5% da meta e bem inferior aos 10,67% de 2015. Foi a taxa anual mais baixa desde 2013.

Para quem critica o Banco Central acusando-o de "apenas" se preocupar em levar a inflação para o centro da meta, basta ler o comunicado do Copom para concluir que a realidade é diferente. Logo no início, o texto menciona que "o conjunto dos indicadores sugere atividade econômica aquém do esperado", e que a "retomada da atividade econômica deve ser ainda mais demorada e gradual que a antecipada previamente". O comunicado avalia também que "no âmbito externo, o cenário ainda é bastante incerto" e que "os efeitos do fim do interregno benigno têm sido limitados", até agora.

Só então o Copom faz menção à inflação, reconhecendo o comportamento "mais favorável que o esperado" do índice em 2016. O comunicado revela que as projeções no cenário de referência com o juro estável em 13,75% encontram-se em torno de 4% e 3,4% para 2017 e 2018, respectivamente; e, no cenário de mercado, com uma taxa básica em torno de 10,25% a partir de outubro, em torno de 4,4% e 4,5%, respectivamente. O câmbio com tendência de baixa no momento, a promessa de uma boa safra agrícola e o elevado nível de ociosidade na economia sustentam as previsões de uma inflação bem mais comportada.

O novo quadro alimentou a expectativa de que mais cortes na taxa básica de juros virão nos próximos meses, no mínimo de igual magnitude ao desta semana, ou eventualmente maior, de 1 ponto. O primeiro movimento já levou os grandes bancos a anunciarem redução no custo de algumas linhas de crédito, o que é uma boa notícia para os endividados, famílias e empresas. O bom humor pode se transformar em confiança para a retomada do nível de atividades e investimento. No entanto, é necessário dar andamento ao processo de ajuste da economia, que é outro fator levado em conta pelo próprio Copom e constitui o alicerce básico do caminho da retomada.

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