domingo, 14 de agosto de 2016

Opinião do dia – Catherine Osborne

Tudo flui, mas flui sistematicamente. Os opostos vêm e vão, dependendo de como se olha para as coisas, mas existem padrões em como eles surgem e no que faz deles importantes. São esses padrões e a harmonia estrutural mais profunda que se encontra por baixo das mudanças o que mais intensamente impressiona Heráclito; é a isso que devemos atentar, é isso que dá sentido ao mundo que nunca cessa de se transformar.

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Catherine Osborne, professora e pesquisadora de Filosofia Grega na Universidade de East Anglia. ‘Filosofia pré-socrática’, pp. 111-2. L & PM Editores, Porto Alegre, 2013.

Por 2018, PSDB já ataca área econômica de Temer

• Principal partido aliado do presidente em exercício, legenda age para forçar governo a assumir caráter ‘transitório’ e desgastar imagem do ministro da Fazenda

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

Com a provável confirmação do afastamento da presidente Dilma Rousseff pelo Senado no fim deste mês, o governo Michel Temer deixará a condição de interino. A gestão definitiva, porém, já começa contaminada pelo cenário eleitoral de 2018, que estimula o PSDB a criticar a área econômica e a figura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

A legenda tucana, principal aliada do governo do peemedebista, quer se preservar como alternativa de poder e age para forçar o governo Temer a assumir um caráter “transitório”. Nesse sentido, tenta carimbar em Meirelles o desgaste pelas concessões feitas pelo Planalto.

O discurso majoritário na legenda é que o chefe da equipe econômica estaria compactuando com a flexibilização de medidas de ajuste fiscal com a intenção de construir uma alternativa eleitoral competitiva fora da “antiga oposição” – PSDB, DEM, PPS e PSB.

Da mesma forma que cobra que Temer abdique de disputar a reeleição, os tucanos querem que Meirelles assuma compromisso semelhante.

Apesar das cobranças por uma maior austeridade, as bancadas tucanas na Câmara e no Senado respaldaram as “bondades” do presidente em exercício nestes três meses de governo interino.

Câmara. O estranhamento do PSDB com o presidente em exercício começou após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defender em entrevista ao Estado, há duas semanas, a candidatura de Temer em 2018 se o governo for efetivado e sua aprovação crescer.

Desde então, o peemedebista vem tentando convencer o meio político, empresarial e financeiro de que não está em campanha para renovar o mandato. O temor é de que o presidente em exercício perca o foco do ajuste fiscal se embarcar no projeto eleitoral.

Apesar da promessa de Temer de ficar fora da disputa, o PMDB defende que pretende ter candidato próprio a presidente.

Filiado ao PSD, Meirelles integra um novo polo político que surgiu da aproximação entre Temer e o ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicação, Gilberto Kassab, presidente da legenda. Em eleições anteriores, Kassab cogitou lançar o atual ministro da Fazenda em disputas majoritárias.

Nesse cenário, o desgaste de Meirelles interessa aos três postulantes do PSDB, por motivos diferentes. Para o senador Aécio Neves (MG), significaria a implosão de uma aliança (PMDB-PSD), competitiva em 2018; para o governador paulista, Geraldo Alckmin, a consolidação de uma nova força política que teria musculatura suficiente para vencer a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Já para o chanceler José Serra, significaria a derrota de um adversário interno – os dois presidenciáveis da gestão Temer têm visões diferentes da economia: o tucano integra a escola desenvolvimentista e o ministro da Fazenda é um representante da ortodoxia.

As críticas do PSDB a Meirelles se intensificaram após a decisão do governo de abdicar da exigência de que os Estados não poderiam conceder reajustes salariais aos seus servidores por dois anos. O PSDB defendia a inclusão da medida no texto principal do projeto de lei sobre a renegociação das dívidas estaduais, que foi votado no plenário da Câmara. Os tucanos entendem que a medida era desgastante, porém necessária.

Essa seria a contrapartida dos Estados para os benefícios que eles terão do governo federal com a renegociação de suas dívidas. “Se era dispensável, conforme afirmou em seguida o ministro Meirelles, ele deveria ter evitado uma operação que passa a imagem de um recuo”, disse o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA).

Carta. A insatisfação do PSDB com a área econômica ganhou contornos públicos com a divulgação de uma Carta de Formulação do Instituto Teotônio Vilela, o braço teórico do partido.

Após assinalar que a inflação acumulada nos primeiros sete meses de 2016 (4,96%) já supera a meta prevista para todo este ano, o texto diz que o Banco Central “não pode esmorecer” em sua política de combate à alta de preços. E afirma que o governo “precisará, contudo, de um apoio que não teve durante os anos de governo do PT e de que ainda carece com mais nitidez na atual gestão: uma política vigorosa de controle dos gastos públicos.”

Para o presidente do instituto, o senador José Aníbal (SP), “o que o governo fez até aqui não foi o suficiente”. “Fez anúncios.” Segundo Aníbal, Meirelles cometeu um erro na semana passada. “Ele disse que, do ponto de vista da renegociação das dívidas dos Estados, contemplar categorias acima do teto (Judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas) não era relevante”, disse.

Maior legenda aliada ao Planalto no Congresso, com 55 deputados e 11 senadores, o PSDB pode sair de posição de apoio integral para crítico e, no limite, avançar para a oposição, admitem seus líderes.

Governo ainda ajusta relação com Congresso

• Temer discute estratégias para aprovar medidas urgentes e prepara pronunciamento à Nação

Ricardo Brito e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A três semanas de provavelmente ser efetivado no comando do País, o governo do presidente em exercício Michel Temer precisa ainda definir uma estratégia clara para aprovar as propostas da agenda econômica no Congresso Nacional. A avaliação de interlocutores no Legislativo é de que essa ação será fundamental para o sucesso na votação de medidas duras, como a proposta de emenda à Constituição (PEC) do teto dos gastos e a reforma da Previdência, dois dos principais pilares do ajuste fiscal e que devem sofrer forte resistência.

De concreto, Temer vai fazer um pronunciamento à Nação no qual pretende repactuar os compromissos para os dois anos e quatro meses de gestão efetiva, a exemplo do que fez quando tomou posse como interino, em maio. Também deseja conversar com outras forças políticas e até com a oposição para discutir o encaminhamento das reformas.
Ele, preliminarmente, já tem tido conversas com setores da oposição sobre esses temas.

O receio de aliados de Temer é de que, sem uma ação “coesa” no Parlamento após o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, o governo tenha dificuldades para levar adiante medidas duras. Os focos de temor estão no Centrão da Câmara, grupo que insinua não se alinhar automaticamente com o Palácio do Planalto, e o PSDB, descontentes com os rumos da gestão fiscal, chegando até a especular se o peemedebista estaria em campanha após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em entrevista ao Estado, lançá-lo candidato em 2018, se estiver bem avaliado.

Para um líder governista com livre acesso ao Planalto, é preciso “construir uma base de sustentação do governo para trazer equilíbrio econômico”. A avaliação é que o governo possui “um equilíbrio político, mas o econômico só vai prevalecer se tiver tranquilidade no Congresso”.

Embora venha exaltando ter pacificado as relações com o Legislativo, o governo Temer foi marcado nos três meses de interinidade por sucessivos recuos na renegociação da dívida dos Estados com a União e na concessão de reajustes a categorias do funcionalismo, justificados por serem em sua maioria de acordos da gestão petista – os novos compromissos, com ambiente de baixa arrecadação, ameaçam novamente levar ao estouro da meta fiscal de 2016, fixada em R$ 170,5 bilhões.

As disputas entre a equipe econômica, liderada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e a ala política do governo também precisam ser administradas pelo presidente, avaliam aliados no Congresso.

A ordem de interlocutores de Temer no Planalto e no Congresso é levar a cabo o ajuste a fim de inverter o que chamam de curva de desemprego, endividamento das famílias e baixo crescimento. Para isso, serão necessárias as reformas para reequilibrar as contas e restaurar a confiança. Também para dissuadir eventuais desconfianças sobre os reais propósitos do seu governo, o presidente tem feito questão, em entrevistas e em conversas com políticos e empresários, de negar o desejo de concorrer à reeleição.

Disputa. Maia afirmou ao Estado que o governo, tão logo seja efetivado, terá de fazer um trabalho de convencimento com o Congresso e a sociedade para aprovar as reformas. Ele defendeu o uso de uma campanha de comunicação pesada, com TV, internet e outros meios, para mostrar à população que, por exemplo, a reforma da Previdência é necessária se for feita agora, sob pena de afetar as futuras gerações.

“Os temas são polêmicos, há muito lobby contra, e o governo tem de se preparar para a guerra da comunicação”, disse ele, que ressalvou não ter participado de conversas do governo sobre a base aliada.

A intenção de Temer, uma vez efetivado, não é radicalizar seu posicionamento em relação ao Congresso: não está no radar ceder menos nas negociações de propostas como têm ocorrido na interinidade. Interlocutores diretos do presidente asseguram que isso não ocorrerá porque ele é um homem que veio do Congresso e que defende que o convívio entre os Poderes tem de ser harmônico.

Temer, em discurso, já atribuiu as recentes vitórias no Congresso a uma visão de que o Executivo não governa sozinho. “Foi o que eu mais fiz nesse período, graças aos 24 anos que eu passei lá: restabelecer o diálogo com o Legislativo.”

Sob o signo da desconfiança, PMDB e tucanos tentam manter convivência

• Aliados no governo Temer, os dois partidos já miram a sucessão presidencial em 2018

Maria Lima e Simone Iglesias - O Globo

-BRASÍLIA- Ponte para a corrida presidencial, a eleição municipal deste ano está gerando turbulências na relação entre PMDB e PSDB, ambos de olho em 2018. Os dois partidos são adversários em 11 capitais, e a disputa ocorre em clima de desconfiança. Com três pré-candidatos à Presidência da República — Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin —, o PSDB vê no partido do presidente interino, Michel Temer, uma máquina eleitoral com o objetivo de impulsioná-lo à reeleição.

Apesar dos peemedebistas reiterarem que Temer está fora de 2018, os tucanos não estão convencidos disso e ainda temem uma possível candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, filiado ao PSD.

Será uma relação delicada nos próximos dois anos, já que PSDB e PMDB estão jogando todas as fichas nas eleições municipais de outubro para se cacifarem para a grande disputa pelo espólio do combalido PT em 2018.

No mapa das candidaturas nas 26 capitais, PSDB e PMDB são mais adversários do que aliados. Das 13 capitais onde os tucanos têm candidatos a prefeito, em dez o PMDB está no campo adversário: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, São Paulo, Belém, Maceió, Campo Grande, Cuiabá e Porto Velho.

Um dos raros exemplos de parceria é em João Pessoa, onde os dois apoiam a candidatura à reeleição do prefeito Luciano Cartaxo (PSD). Mas são adversários no segundo maior colégio eleitoral da Paraíba, Campina Grande, base do líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima. O tucano diz esperar que o PMDB não use o peso da máquina federal para derrotar as candidaturas do PSDB.

—É o lógico. Do contrário, terá repercussão negativa. Além do mais, o uso da máquina é crime — alerta Cunha Lima.

A contabilidade muda nas cidades grandes — fora as capitais — e de médio porte. Nesses redutos, os tucanos foram os maiores beneficiados com o rompimento entre PMDB e PT. As alianças de outrora entre petistas e peemedebistas, impulsionadas pelos governos Lula e Dilma, desintegraram. E PMDB e PSDB retomaram antigas parcerias.

Paralelamente às disputas municipais, os tucanos nutrem desconfiança em relação ao uso da máquina federal para alavancar uma candidatura do PMDB em 2018. Os tucanos estão irritados com a movimentação do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Dizem que ele atua pesadamente para tirar partidos das coligações do PSDB nas capitais, principalmente em Porto Alegre.

— Padilha está atuando direto, por debaixo dos panos, em desfavor do PSDB. Está tirando partidos das nossas coligações. Articulou pesado em umas quatro capitais, principalmente em Porto Alegre. Padilha é gato, ele tira a castanha sem se queimar na fogueira — reclama um dos dirigentes tucanos.

O ministro nega envolvimento nas campanhas municipais. Diz que não houve qualquer tentativa de impedir a candidatura tucana em Porto Alegre, tanto que o deputado Marchezan Júnior está na disputa.

— A determinação do presidente Michel Temer está sendo seguida à risca por mim. E ela é no sentido de que onde houver disputa entre candidatos de partidos que integram a base do governo, não haja nenhuma participação — disse Padilha.

O ministro citou uma mensagem que enviou a todos os demais ministros, em um grupo privado no WhatsApp: “O governo não pode tomar partido nas disputas entre as legendas que formam sua base congressual”.

Padilha reafirmou que a candidatura de Temer em 2018 está fora de cogitação, posição reforçada pelo ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo):

— Temer já disse que não é candidato, e eu estou dizendo que ele não será candidato. Para nós do PMDB, o mais importante é a nossa palavra.

O secretário-geral do PSDB, deputado Sílvio Torres (SP), chama a atenção para a ação do presidente Temer de não deixar que a disputa municipal contamine sua base de apoio no Congresso:

— Desde que o PSDB se dispôs a ajudar o governo do PMDB, Temer deixou claro que não só ele, como membros do governo, não se envolveriam na disputa municipal. Estamos contando com isso.

Aposta em voo solo

• Por motivos diversos, PMDB e PT terão mais candidatos próprios nas capitais do que em 2012

Sérgio Roxo e Silvia Amorim - O Globo

-SÃO PAULO- O PMDB tenta aproveitar o impulso da chegada ao poder com o presidente interino, Michel Temer, para ampliar sua força nas maiores cidades do país nas eleições deste ano. Por isso, aumentará em um terço o número de candidatos a prefeito em capitais, em comparação com a disputa de 2012. Será a maior representação desde 1996.

O PT é o partido que disputará eleição em mais capitais, mas o que o move é outro objetivo. A legenda lançou nomes, mesmo com poucas chances de vitória, para garantir espaço no horário eleitoral e defender suas bandeiras, forma de amenizar o desgaste sofrido nos últimos anos com os escândalos de corrupção.

Entre as três maiores forças políticas no país atualmente, o PSDB é o único que reduzirá as campanhas em capitais. Após o resultado conquistado na eleição presidencial de 2014, o partido pretendia aproveitar o sentimento antipetista para ampliar suas fronteiras na eleição municipal. No entanto, não conseguiu viabilizar nomes competitivos e preferiu ser vice de candidatos de outras siglas em muitas cidades.

Sinal do apetite peemedebista, o partido entrará em campo nesta semana — a campanha eleitoral começa terça-feira — com mais postulantes a prefeito do que o PSDB em capitais. Serão 16, enquanto o PSDB terá 13 e o PT, 19. Em 2012, eram 12, 18 e 17, respectivamente.

Os partidos têm até amanhã para apresentar o registro de seus candidatos à Justiça Eleitoral. Podem ocorrer mudanças de última hora, apesar de o prazo para a realização de convenções já ter sido encerrado.

As eleições municipais são consideradas estratégicas para a disputa presidencial, na medipelas da em que têm potencial para ampliar as bases partidárias nos estados. Quanto maior a pretensão de um partido de lançar candidato à Presidência da República, mais valorizado o trabalho na disputa municipal.

Temer tem negado que disputará a reeleição, se confirmado o impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff. Ele tem um entrave jurídico, por ter sido incluído no cadastro de inelegíveis pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo. Também há um obstáculo político: o acordo de não tentar se reeleger, fechado com o PSDB, em troca do apoio tucano ao seu governo. Mas a cúpula do PMDB, após a chegada à Presidência, não vê a eleição de 2018 sem um candidato do partido na disputa.

— A chegada ao poder através do Michel Temer estimula candidaturas porque tira o discurso do PT de que é importante o alinhamento com o poder central. Se é que existe isso, esse discurso agora é nosso — afirmou o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão do ministro da Secretaria de Governo da Presidência, Geddel Vieira Lima.

O PMDB que, nos últimos anos foi uma força auxiliar no plano nacional, manteve seu poderio nas pequenas cidades; agora investe em candidaturas fortes em grandes capitais.

— Temos candidatos competitivos no Rio, em São Paulo, em Vitória. Isso para falar só do Sudeste — disse Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães e secretário do Programa de Participação de Parcerias do governo federal.

Para o cientista político Fernando Abrucio, professor da FGV, o afastamento de Dilma deu força ao projeto que o PMDB vinha preparando desde o início do segundo mandato da petista.

— Há uma sensação de que o PMDB tem um desejo de ocupar o centro do palco político. Estão apostando muito que as eleições nas capitais podem ser uma demonstração de que o partido já tem condições de ser o protagonista da eleição presidencial em 2018. É um projeto de poder — disse Abrucio.

Outra consequência do desgaste do PT para esta eleição é a dificuldade de fechar apoios. Em Fortaleza e João Pessoa, os candidatos petistas farão campanha sem aliados. O secretário nacional de Organização do partido, Florisvaldo Souza, diz que a pulverização de candidatos é um fenômeno nacional este ano.

— Há uma tendência de mais candidaturas próprias de todos os partidos em função da conjuntura política.

Para Abrucio, a expansão de candidatos do PT é uma tentativa de renovação interna.

— Mais importante do que ganhar, o que parece pouco provável para o PT, é começar um processo de reconstrução, que pode durar alguns anos — avaliou o cientista político.

Já o comportamento do PSDB, para Abrucio, é resultado de conflitos internos entre lideranças:

— O PSDB não consegue se articular internamente. É um clima muito ruim. O desafio do PSDB é, de um lado, unificar-se e, de outro, ter uma cara própria.

O secretário nacional do PSDB, deputado Silvio Torres, explicou que o partido preferiu investir em candidatos com chance de vitória.

— Onde não tivemos nomes fortes, decidimos coligações. Teremos candidatos a vice em mais de sete capitais — afirmou.

Em São Luís, onde tiveram candidato em 2012, os tucanos indicaram este ano o vice na chapa do PPS, um aliado em potencial para a eleição de 2018. Em Curitiba, o partido apoiará um candidato do PMN.

Tucanos voltam a disputar em BH
A novidade no mapa das candidaturas tucanas este ano é Belo Horizonte. Lá, o partido rompeu um jejum de 16 anos sem candidato à prefeitura. A mudança atende a uma necessidade do presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, précandidato à Presidência em 2018, de usar a eleição para defender seu legado no estado, ameaçado por denúncias de envolvimento em esquemas de corrupção de empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato.

Quarto partido com o maior número de deputados federais eleitos em 2014, o PP terá seis candidatos a prefeitos em capitais, contra cinco de 2012. O destaque é o retorno da ex-prefeita Angela Amin para a sucessão em Florianópolis. Ela administrou a cidade entre 1997 e 2004. A quinta maior legenda, o PSD, não forneceu informações sobre as suas candidaturas. Já o PSB, sexto maior, manterá em 11 o total de representantes nas disputas em capitais, apesar da morte de seu principal líder, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, num acidente de avião em 2014. O partido havia conseguido eleger o maior número de prefeitos de capitais há quatros anos: cinco (Fortaleza, Belo Horizonte, Recife, Cuiabá e Porto Velho).

O PT vai disputar a reeleição em duas capitais (São Paulo e Rio Branco). Os tucanos tentarão um segundo mandato em Manaus, Maceió, Teresina e Belém. Já o PMDB vai para a reeleição em apenas uma cidade, Boa Vista.


Estreia da Rede em eleições terá alianças que vão do DEM ao PSOL

João Pedro Pitombo, Felipe Bächtold – Folha de S. Paulo

SALVADOR, SÃO PAULO - Partido comandado pela ex-senadora Marina Silva, a Rede Sustentabilidade leva ao extremo nas eleições deste ano a premissa de não ser "nem de esquerda nem de direita", conforme definição da própria presidenciável.

Em sua estreia nas urnas, o partido firmou alianças que vão do DEM ao PSOL na disputa por prefeituras. E, apesar de ter ex-petistas entre seus principais líderes, não fechou parceira com o PT.

Ao todo, o partido terá candidatos próprios em 11 capitais. Marina, que lidera a corrida presidencial para 2018 em cenários de segundo turno pesquisados pelo Datafolha, participou de atos da pré-campanha e deve viajar pelo país até outubro para fortalecer seus correligionários.

Nas capitais em que não terá candidato, a Rede firmou quatro alianças com o PSB e, em outros dois casos, vai apoiar o PMDB. Adversário de Marina nas duas últimas eleições presidenciais, o PSDB receberá o apoio da Rede em Teresina, onde o tucano Firmino Filho tenta reeleição.

Candidato mais competitivo da Rede, o prefeito de Macapá, Clécio Luís, disputa reeleição em chapa heterodoxa que inclui DEM, PSDB e PC do B e apoio informal de PSOL e PCB.

"Minha formação é no campo da esquerda. Mas tivemos que reunir forças plurais, incluindo partidos de direita, para tentar vencer as eleições e evitar retrocessos", disse ele à Folha.

Eleito em 2012 pelo PSOL, Clécio foi para a Rede em 2015 e diz que a parceria "pode dar alguma dor de cabeça" junto à militância, mas mostra a "maturidade" do partido.

O prefeito enfrentará nas urnas o ex-senador Gilvan Borges (PMDB), aliado do ex-presidente José Sarney.

No outro extremo, a Rede vai apoiar candidatos do PSOL e indicar os vices em Salvador e Florianópolis.

São as únicas capitais em que as duas siglas são aliadas, apesar da recente atuação conjunta no Congresso.

Reflexo de 2014
Em cidades como João Pessoa e Recife, pesou na definição da aliança a relação entre Rede e PSB, que abrigou Marina na campanha de 2014, quando ela não conseguiu criar a sigla na Justiça Eleitoral.

Naquele ano, ela seria vice na chapa do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, que acabou morto em acidente aéreo.

A proximidade com o PSB também influenciou na decisão de apoiar a candidatura do atual vice-prefeito Sebastião Melo (PMDB) em Porto Alegre. Há dois anos, Melo articulou a candidatura de Marina no Rio Grande do Sul.

Em Curitiba, a Rede vai apoiar o filho do senador Roberto Requião, o deputado estadual peemedebista Requião Filho. "Ele foi franco, queria um contribuição em projetos de sustentabilidade. Abraçou o programa e ganhou nosso apoio", diz Eduardo Reiner, da Rede no Paraná.

O porta-voz nacional da Rede, José Gustavo, diz que o partido aposta "na indignação com o sistema político" na eleição. Ele afirma que a ordem é firmar só alianças "programáticas" com pessoas de "histórico ilibado".

"A 'nova política' está para além do rótulo do que é um partido."


Debate sobre impeachment perde força nas redes sociais e nas ruas

• Assunto gera desinteresse, e movimentos já apostam no pós-Dilma

Bruno Góes, Maria Lima e Dimitrius Dantas - O Globo

-RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA- O processo contra a presidente afastada, Dilma Rousseff, ainda não acabou, mas o interesse pelo assunto diminuiu consideravelmente nas ruas e até mesmo nas redes sociais. Segundo levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV), as menções ao “impeachment” caíram drasticamente desde abril.

No Twitter, entre quinta e sexta-feira , quando Dilma virou ré por decisão do Senado, foram registradas cerca de 257 mil menções ao assunto. Em 17 de abril, no dia da aprovação do processo pela Câmara, foram 1,9 milhão. Já em 12 de maio, quando Dilma foi afastada, foram 1,1 milhão.

— O debate nas redes sobre o impeachment da presidente Dilma reflete o sentimento de fato consumado que parece ter se consolidado nas últimas semanas — avalia Marco Aurelio Ruediger, diretor da DAPP.

Movimentos enfraquecem
Até mesmo nas páginas de movimentos que lideraram os protestos pela perda do mandato de Dilma as menções foram mais comedidas. O Movimento Brasil Livre (MBL) fez apenas três publicações sobre o tema na sua página no Facebook e o Vem Pra Rua, quatro. O Nas Ruas também teve uma atuação tímida, e fez apenas quatro publicações — numa delas, usou a imagem com a inscrição “Tchau querida”, em alusão à conversa flagrada entre Dilma e o ex-presidente Lula.

No último dia 31, uma manifestação na Avenida Paulista, local marcado pelos protestos a favor do impeachment, acabou esvaziada.

Para Rogério Chequer, portavoz do Vem Pra Rua, a diminuição do interesse pelo tema é normal, porque a maioria já não duvida que o impeachment ocorrerá. Carla Zambelli, do Nas Ruas, diz que o grupo já se planeja para o cenário pósimpeachment, com novas pautas de mobilização. Uma delas é o chamado “Dia D+1”, que pedirá a saída do senador Renan Calheiros. Ela reconhece, entretanto, que a possibilidade de gerar manifestações de rua é pequena

— A partir de agora, vai haver interesse pontual por fatos relevantes. Em 2013, quando houve o surgimento das manifestações, alguns movimentos surgiram e depois acabaram. Agora vai ser outro momento de peneirar, saber quem tem força — avalia.

No Congresso, nova página
Com pouco barulho, a decisiva votação que transformou Dilma em ré mostra, segundo senadores, que o povo não tem mais paciência para o processo.

— O povo já se cansou e dá isso como resolvido. Além do cansaço com o longo processo, a presidente Dilma não conseguiu criar fatos para alterar o cenário — avalia o exministro das Minas e Energia senador Eduardo Braga (PMDB-AM).

Outra explicação encontrada foi o início da Olimpíada.

— Todos já sabem o resultado antecipado — disse o líder do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE).

— As manifestações estão mornas porque as pessoas não aguentam mais tanto lero-lero — avalia o líder do Democratas na Câmara, deputado Pauderney Avelino (AM).

Nem vira-lata nem Brasil potência - Sergio Fausto - O Estado de S. Paulo

Nelson Rodrigues criou a expressão “síndrome de vira-lata” para se referir ao sentimento de inferioridade que abatia os jogadores brasileiros em confrontos internacionais, só superado depois da conquista do primeiro título mundial, em 1958, na Suécia. Com o tempo, a expressão ultrapassou as quatro linhas do gramado e passou a ser empregada para designar uma descrença atávica na possibilidade de o País realizar grandes feitos em outros campos da atividade humana.

No polo oposto da síndrome de vira-lata surgiu a mania do “Brasil potência”, resultado do cruzamento do nativismo romântico (“gigante pela própria natureza”) com o nacionalismo autoritário (“ninguém segura este país”). Ao longo dos últimos 40 anos, pelo menos, oscilamos entre um extremo e outro da autoestima nacional, numa ciclotimia que produziu um enorme desperdício de recursos produtivos, ambientais e financeiros.

É verdade que o primeiro laivo de “Brasil potência” apareceu com os “50 anos em 5” de Juscelino Kubitschek. No entanto, apesar da expansão monetária excessiva e da inflação acelerada, JK deixou sua marca de político democrata, presidente “bossa nova”, símbolo de um Brasil criativo e conectado ao mundo.

- O Globo O pesadelo de Trump - Fernando Gabeira

- O Globo

Um dos mais interessantes comentários que li sobre o espetáculo de abertura da Olimpíada: parece um pesadelo de Trump. Diversidade, aquecimento global, celebração das diversas levas de imigrantes e até uma delegação de refugiados nos jogos — Trump passaria toda a noite pensando naquelas cenas e, naturalmente, nos muros e proibições para evitá-las.

Na lagoa sem fronteiras, matinal, agora encontro gente de muitas partes do mundo. E penso: se há alguma coisa que nos une é o medo de Donald Trump tornar-se o presidente dos EUA. É o tipo de desastre político que atingiria a todos. Vejo dois homens com a camisa da Nova Zelândia e penso na juíza americana Ruth Bader Ginsburg, que, em caso de vitória de Trump, disse que seria tempo de se mudar para a Nova Zelândia.

Conciliar o inconciliável - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Quanto mais perto de se tornar presidente de fato e de direito, mais Michel Temer fica diante de um desafio e tanto: conciliar dois objetivos inconciliáveis por definição. Ele precisa conquistar apoio popular e, ao mesmo tempo, tomar medidas consideradas pelo senso comum como “impopulares”. Não se trata de opção ou de vontade. Buscar popularidade e patrocinar reformas é fundamental – e urgente.

O ponto central desse desafio de Temer é a reforma da Previdência, um debate que percorre igualmente países desenvolvidos e emergentes e é uma exigência da realidade também no Brasil. Fernando Henrique começou, Lula continuou, Dilma anunciou antes de cair e Temer não tem alternativa: é fazer ou fazer.

Apesar da defesa, a torto e a direito, de quem tem responsabilidade de governo e tem noções de contabilidade, a questão da Previdência está no foco das relações entre capital e trabalho e deixa o governo Temer entre a cruz e a espada, fustigado pela percepção da sociedade, a versão das centrais sindicais e a pressão dos investidores. Mas a encruzilhada de Temer vai além da reforma da Previdência.

Perigo de retrocesso – Merval Pereira

- O Globo

Uma decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF) está causando polêmica, pois altera um ponto central da Lei da Ficha Limpa, liberando a maioria dos prefeitos que são considerados inelegíveis ao terem suas contas rejeitadas pelos tribunais de contas municipais.

O plenário do STF decidiu que somente a votação da Câmara Municipal pode confirmar a inelegibilidade do prefeito e, em caso de omissão dos vereadores, o parecer emitido pelo Tribunal de Contas não gera a inelegibilidade prevista no artigo 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei Complementar 64/1990, conhecida como Lei da Ficha Limpa.

Essa decisão é a parte mais polêmica, pois um prefeito que teve as contas rejeitadas por um tribunal pode permanecer impune para sempre, desde que consiga que os vereadores não se reúnam para analisar suas contas. Para se ter uma ideia, o Congresso Nacional tem contas de governos anteriores que ainda não foram analisadas.

Depois do impeachment - Luiz Carlos Azedo

• A Operação Lava-Jato atingirá um novo patamar com as delações premiadas de Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro (OAS)

Correio Braziliense

“O único meio de salvar e engrandecer o Brasil, é tratar de colocá-lo em condições de poder ele tirar de si mesmo, quero dizer, do seio de sua história, a direção que lhe convém. O destino de um povo, como o destino de um indivíduo duo, não se muda, nem se deixa acomodar ao capricho e ignorância daqueles que pretendem dirigi-lo.” O “estalo de Vieira” do sergipano Tobias Barreto (1839-1889), no ensaios Questões vigentes, permanece atualíssimo. Notável orador, filósofo e professor de direito, germanista ao seu tempo, patrono da cadeira 38 da Academia Brasileiro de Letras, por indicação de seu amigo Sílvio Romero, Barreto, um dos expoentes da chamada Escola do Recife e precursor do pensamento social no Brasil.

O impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, que deve se consumar a partir do dia 25, quando começará seu julgamento pelo Senado, encerra um ciclo de experimentalismo político e econômico de esquerda no Brasil, que se esgotou porque o projeto do ex-presidente Lula e do PT estava referenciado em ideias nacionais desenvolvimentistas e socialistas derrotadas historicamente no século passado, além de alicerçadas em práticas políticas pautadas pelo populismo, pelo fisiologismo e pela corrupção. Além disso, o voluntarismo de Dilma, que tentou mudar o destino do país com “capricho e ignorância”, resultou na mais longa e profunda recessão de nossa história, agravada por uma crise ética cujos desdobramentos ainda estão por vir do ponto de vista dos partidos e do sistema eleitoral. É nesse contexto que o presidente interino, Michel Temer, será efetivado no cargo e precisará tirar da história do país, como diria Tobias Barreto, e não da “transa” política, o rumo seguro para consolidar seu governo e conduzir o país às eleições de 2018.

Os dois momentos da depressão brasileira – Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

A forte depressão que assola a economia brasileira tem dois momentos.

No primeiro momento, do fim de 2010 até o primeiro semestre de 2014, a economia sofreu contínua desaceleração. O crescimento médio no biênio 2009-2010, de 3,6% ao ano, desacelerou-se para 0,1% em 2014.

A principal característica dessa desaceleração é que não houve nenhum sinal de carência de demanda agregada. Muito pelo contrário, ao longo de todo esse período a absorção, a soma do consumo com o investimento, cresceu sempre acima da produção. Mesmo se nos restringirmos ao investimento, ele somente cresceu abaixo do produto, e ainda assim pouca coisa, no último trimestre de 2012 e no primeiro semestre de 2013.

Morreu, é óbvio - Sérgio Besserman Vianna

- O Globo

A genialidade de Nelson Rodrigues criou a expressão “Óbvio ululante”. É óbvio, visível, nítido, ulula na sua frente, mas, ainda assim, não é percebido, é ignorado.

O mesmo, de forma transversa, aparece na sabedoria popular: “O pior cego é o que não quer ver”. Todo cego que é consciente de sua cegueira quer ver, mas todos nós, humanos, sem exceção, por medo, culpa, interesse, conservadorismo, neurose, optamos inconscientemente por não querer ver algo, geralmente alguma verdade bem evidente sobre nós mesmos, que não reunimos a coragem para enfrentar ou que optamos pelo conforto de não mudar.

Nós, brasileiros, nessa quadra da história nacional, somos, por medo, interesse, opção pela zona de conforto ou sentimento de impotência, cegos que não queremos ver.

Reduzimos o debate a algo raso e a uma busca de culpados pela profunda e sistêmica crise nacional. Intelectual e emocionalmente, temos nossas opiniões sobre quem são os bandidos da vida pública e quem são os que podem nos levar à solução de nossos problemas. Mas creio que, no fundo, estamos todos na posição do cego que não quer ver.

A história mais feia não cabe nos balanços - Rolf Kuntz

- O Estado de S. Paulo

Saqueada por um bando de ladrões e devastada por 13 anos de erros e irresponsabilidades, a maior empresa do Brasil, a Petrobrás, apenas começa a emergir do atoleiro. O lucro trimestral de R$ 370 milhões ficou muito abaixo dos R$ 2 bilhões projetados por analistas financeiros. Mas pelo menos as contas ficaram positivas depois de três períodos no vermelho. A reconstrução ainda vai ser demorada e será impossível, já avisaram os novos administradores, completar os investimentos de US$ 20 bilhões programados para este ano. Com prejuízo de R$ 2,17 bilhões no primeiro semestre, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também exibe as marcas do governo petista. Em um ano a provisão para risco de crédito passou de R$ 480 milhões para R$ 4,44 bilhões, aumentando 824,4%. Mas os danos à Petrobrás e a outras estatais são apenas marcas especialmente visíveis dos estragos causados por uma rara combinação de incompetência, irresponsabilidade, arrogância e corrupção. Não cabe nessas tabelas a parte mais importante e mais impressionante da história.

Nem tudo é explicitado nos balanços e nas demonstrações de lucros e perdas. Não aparecem, por exemplo, as consequências econômicas – para a empresa e para o País – do enfraquecimento da Petrobrás. Não se explicitam os efeitos do enorme desperdício de recursos nas operações do BNDES ou de outros bancos estatais. Não se passa diretamente dessas contas para a inflação e para a deterioração da economia nacional, mas todos esses fatos são componentes da mesma história.

Primeiros sinais - Míriam Leitão

- O Globo

Há sinais, mas eles são sutis. É preciso usar a lupa e olhar os números. Juntos, eles revelam uma luz fraca ao longe. É a saída do difícil túnel desta crise econômica. Estamos vivendo uma grande recessão em formato de “U”, na qual o país cai, estabiliza no fundo e aos poucos começa a se recuperar. Seria melhor se o movimento do PIB desenhasse a letra “V”, em que cai, bate e volta.

Mas, olhando com a lupa, dá para ver algumas boas novas. Nas consultas feitas em abril aos analistas do mercado financeiro pelo Banco Central, sobre o PIB do ano que vem, a mediana foi que o país cresceria 0,2%. Agora, quatro meses depois, a previsão é de que o país crescerá 1,1%. É só previsão, pode mudar, mas antes nem isso o país tinha.

A política pode ser diferente – Editorial / O Estado de S. Paulo

Já houve um tempo, não tão distante, em que as forças do Congresso Nacional se organizavam em blocos governista e oposicionista com base em considerações programáticas. Isso significa que o toma lá dá cá, a transformação de cada deputado em partido de si mesmo, sem qualquer vínculo com ideias e propostas para o País, não são uma fatalidade. O abastardamento da política, infelizmente visto hoje quase como algo natural, é na verdade resultado da meticulosa engenharia dos artesãos lulopetistas, cuja pretensão de permanecer para sempre no poder jamais foi compatível com o funcionamento normal das instituições democráticas, a começar pelo Congresso. A defenestração do PT, portanto, deveria sinalizar a reversão desse processo de desmoralização da democracia, restabelecendo o princípio das alianças em torno de projetos, e não de verbas, sinecuras ou coisa pior. Mas o atual governo não parece suficientemente disposto a romper a terrível lógica do fisiologismo - e tal hesitação cobra seu preço na forma de incerteza permanente sobre o apoio político a medidas essenciais para a recuperação econômica do País.

Salto no escuro – Editorial / Folha de S. Paulo

Encerra-se nesta segunda-feira (15) o prazo para que partidos políticos e coligações registrem seus candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador. No dia seguinte terá início a campanha para as eleições municipais, quando pela primeira vez será testada a proibição à doação de empresas.

Imposta antes pelo Supremo Tribunal Federal e depois sacramentada em lei pelo Congresso, a restrição faz parte de um conjunto de novas regras que têm suscitado considerável controvérsia.

Ponto mais polêmico do pacote, o veto ao dinheiro empresarial desperta preocupação mesmo entre pessoas que o defendem, como Nicolao Dino, vice-procurador-geral eleitoral. Para ele, a medida pode levar à ampliação do caixa dois.

Raciocínio semelhante faz Susan Rose-Ackerman, americana referência em pesquisas sobre corrupção. "Tenho a preocupação de que proibições absolutas a doações corporativas vão simplesmente produzir um aumento em pagamentos que serão corruptos", afirmou em entrevista a esta Folha.

Suspensão de usina no Tapajós reforça opção nuclear – Editorial / O Globo

• Brasil limita usinas na Amazônia, compensa com termelétricas poluidoras, mas continua sem ampliar as alternativas de fontes de geração

Junto com os novos donos do poder que desembarcaram em Brasília na comitiva do presidente Lula em janeiro de 2003 estava uma militância ambientalista aguerrida. Não que a questão ambiental não deva ser prioritária, e cada vez mais, diante do aquecimento global, mas alguns preconceitos passaram a interferir na avaliação de projetos de forma mais contundente. Um deles relegou de vez a energia nuclear a um plano bastante inferior na geração de energia.

O desastre nas usinas de Fukujima, no Japão, durante uma tsunami, em 2011, repercutiu no mundo, com vários adiamentos e eliminação mesmo de projetos de usinas. O próprio Japão desativou seu sistema termonuclear — mas teve, depois, de religá-lo em parte, para evitar um colapso energético. A Alemanha planejou livrar-se de vez dessa fonte de energia, ao contrário da França, que aproveita o fato de ser detentora de tecnologia no ramo. No Brasil, um programa para usinas fora de Angra dos Reis desapareceu do mapa.

A arte deve ser feita para dar alegria às pessoas, não para chocá-las – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

Uma coisa é certa: não tenho medo de pensar, mesmo quando o que penso contradiz o que eu mesmo pensei e defendi. Digo isso agora porque ultimamente têm me ocorrido ideias que contrariam o que eu penso e o que os críticos e estudiosos da arte também pensam. É que a arte deve ser feita para dar alegria às pessoas, não para agredi-las ou chocá-las ou mostrar-lhes apenas o lado negro da vida.

Ao ler isso, uma pessoa inteligente e culta dirá que estou andando para trás, negando o que a arte moderna conquistou ao pôr de lado a noção de que beleza é o que se enquadra no bom gosto e no bem acabado. Se é assim, onde ficariam Picasso com suas figuras deformadas e Pollock com seus respingos caóticos e nascidos do acaso?

Cotovia – Manuel Bandeira

— Alô, cotovia!
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que saudades me deixaste?

— Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe . . .
Voltei, te trouxe a alegria.

— Muito contas, cotovia!
E que outras terras distantes
Visitaste? Dize ao triste.

— Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, Bahia . . .

— E esqueceste Pernambuco,
Distraída?

— Voei ao Recife, no Cais
Pousei na Rua da Aurora.

— Aurora da minha vida
Que os anos não trazem mais!

— Os anos não, nem os dias,
Que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino
Para o bem que é deste mundo:
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, aonde alcança
Só a asa da cotovia,
— Do mais remoto e perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.

O Mar serenou - Clara Nunes