sábado, 18 de junho de 2016

Opinião do dia – Fernando Gabeira

Os partidos seguem um pouco como sonâmbulos. Mas deviam perceber que, apesar da responsabilidade dos indivíduos, o próprio sistema político se inviabilizou.

Nada será como antes da Lava Jato. Será preciso aprender a fazer campanha com pouco dinheiro, quase nenhum, abandonar as superproduções do marketing, retornar ao mundo das ideias.

--------------------------
Fernando Gabeira é jornalista. ‘Inverno em Curitiba’, O Estado de S. Paulo, 17/6/2016

PT ameaçava empresas, afirma procurador

Em documento enviado ao STF, o procurador Rodrigo Janot afirma que o PT tinha o hábito de ameaçar empresas com contratos com o governo para obter doações ao partido. Ele citou o ex-ministro Edinho Silva.

Janot: PT tinha hábito de ameaçar empresas para obter doações

• Segundo procurador, método era usado pelo ex-ministro Edinho Silva

André de Souza - O Globo

-BRASÍLIA- Em documento apresentado no Supremo Tribunal Federal (STF), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, escreveu que o PT tinha o hábito de receber doações eleitorais “muitas vezes mediante ameaças” a empresas com contratos com o governo federal. Segundo Janot, a prática do partido era centralizada, em parte, no ex-ministro da Comunicação Social Edinho Silva, que foi tesoureiro em 2014 da campanha à reeleição da presidente afastada, Dilma Rousseff. As doações obtidas desta forma eram tanto as oficiais como as pelo caixa dois.

No documento, de 2 de junho, Janot escreveu: “Em verdade, o pedido de pagamento para auxílio financeiro ao Partido dos Trabalhadores, notadamente para o custeio oficial e não oficial (caixa 2) das campanhas eleitorais, muitas vezes mediante ameaças de cessação das facilidades proporcionadas ao núcleo econômico pelos núcleos político e administrativo da organização criminosa, revelam-se como medida habitual, institucionalizada e centralizada, em parte, na pessoa de Edson Antônio Edinho da Silva, consoante se depreende dos indícios apresentados acima. Tais facilidades proporcionadas ao núcleo econômico ocorriam inclusive em contratos com a Petrobras — embora não se limitassem a estes”.

Delator acusa Aldo Rebelo de corrupção

Em delação, o ex-deputado Pedro Corrêa detalhou a corrupção no Minha Casa Minha Vida e disse que o ex-ministro Aldo Rebelo (PCdoB), que nomeou um diretor, recebeu uma parte da propina.

Aldo Rebelo recebeu propina, diz Pedro Corrêa

  • Ex-deputado narra esquema de desvios no Minha Casa Minha Vida

- O Globo

-BRASÍLIA- O ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE) acusou o ex-diretor de Produção Habitacional do Ministério das Cidades Daniel Vital Nolasco, militante do PCdoB, de envolvimento num esquema de desvio de dinheiro destinado a projetos do programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal. Corrêa disse ainda que Nolasco foi indicado para o cargo no Ministério das Cidades pelo ex-ministro Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Disse também que um terço da propina destinada ao partido era entregue ao ex-ministro, segundo informou o “Jornal Nacional”, da Rede Globo, na noite de ontem.

A delação de Corrêa, que tem 72 anexos sobre casos de corrupção, depende de homologação do ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-deputado também apontou o envolvimento de pessoas ligadas ao PP e ao PT em desvios de dinheiro do Minha Casa Minha Vida. Um dos casos citados pelo ex-deputado diz respeito a um projeto executado pela RCA Assessoria, empresa de Daniel Nolasco e de um exassessor dele no Ministério das Cidades, Fernando Borges.

Governo corta verba de blogs

Temer suspende R$ 11 milhões para blogs políticos

• Governo diz que verba publicitária financiava opinião política

Catarina Alencastro e Paulo Celso Pereira - O Globo

O governo previa gastar este ano mais de R$ 11 milhões com patrocínios em sites de política. Após a posse do presidente interino, Michel Temer, no dia 13 de maio, essas despesas tiveram seu pagamento suspenso em junho. A justificativa para a suspensão dos contratos, segundo fontes do Palácio do Planalto, é que o dinheiro público estava abastecendo blogs de opinião, o que, na avaliação da nova gestão, contrariava o interesse público.

O campeão de patrocínio federal, sob a gestão da presidente afastada, Dilma Rousseff, era o site Brasil 247, idealizado pelo jornalista Leonardo Attuch, cuja previsão de patrocínio para este ano somava R$ 2,1 milhões. No documento que o GLOBO teve acesso, 19 sites recebiam patrocínio do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobras, Ministério da Justiça, Ministério da Previdência Social, Ministério da Educação e Ministério da Saúde.

Já o jornalista Luis Nassif, idealizador do site GGN, receberia até o fim do ano R$ 1,15 milhão. Em terceiro lugar estava o Diário do Centro do Mundo (DCM), dirigido pelo jornalista Paulo Nogueira, com previsão de receber R$ 1,11 milhão este ano. Também recebiam patrocínios de estatais e ministérios os sites Conversa Afiada, Carta Maior, Esmael Morais, O Cafezinho, Opera Mundi, Viomundo, Pragmatismo Político, Revista Forum, Sul 21, Carta Capital e Sidney Rezende.

Janot pede investigação sobre mais um ministro de Temer

• Mendonça Filho, da Educação, é acusado de receber propina de empreiteira

Presidente interino faz reunião com Geddel e Padilha e determina que integrantes do primeiro escalão se demitam caso tenham qualquer envolvimento com a Lava-Jato, para evitar novos constrangimentos ao governo

Depois das demissões de Romero Jucá e Henrique Alves, mais um ministro de Temer está sob investigação da LavaJato: Mendonça Filho (DEMPE), da Educação. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu autorização ao STF para apurar se Mendonça recebeu propina de R$ 100 mil da empreiteira UTC, em 2014. O presidente interino, Michel Temer, determinou que todo ministro que tiver envolvimento com irregularidades deve pedir demissão do governo.

Outro ministro investigado

• Janot apura possível propina para Mendonça Filho; Temer quer demissão de envolvidos em denúncias

André de Souza, Simone Iglesias, Catarina Alencastro e Eduardo Barretto - O Globo

-BRASÍLIA- No mesmo dia em que o presidente interino, Michel Temer, reuniuse no Palácio do Jaburu com o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), e determinou que todo o primeiro escalão do governo seja consultado para que quem tiver envolvimento com irregularidades peça para sair do governo, mais um ministro foi envolvido na Lava-Jato. Desta vez, foi Mendonça Filho (DEMPE), da Educação. Ontem, após retirada de sigilo de um dos processos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), descobriu-se que, em janeiro deste ano, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu abertura de investigação para apurar se o atual ministro da Educação recebeu propina de empreiteira investigada na Operação Lava-Jato. Na época, Mendonça era deputado federal, e só assumiu o ministério em maio.

O pedido de investigação está em inquérito cujo alvo é o ex-ministro da Comunicação Social Edinho Silva. No caso de Mendonça, há suspeita em relação a uma doação eleitoral de R$ 100 mil feita pela UTC em 2014. Janot identificou que a empresa fez duas doações nesse valor, uma em 5 de agosto de 2014 e outra em 5 de setembro de 2014, ao diretório nacional do DEM.

Governo calcula ter até 61 votos a favor do impeachment

Por Estevão Taiar – Valor Econômico

SÃO PAULO - O governo do presidente interino Michel Temer tem entre 58 e 61 votos a favor do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, mais do que o necessário para o afastamento da petista. A conta é do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha

"Na votação do impeachment na Câmara, fiz uma previsão de que teríamos 368 votos, tivemos 367. No Senado, fiz uma previsão de que teríamos 55, tivemos 55. Se a votação fosse hoje, teríamos entre 58 e 61 votos", disse ontem após evento de um grupo de empresários, em São Paulo, organizado pelo pré-candidato à prefeitura de São Paulo, João Doria (PSDB). Padilha não revelou a maneira como chegou a esses números, mas disse que o monitoramento do Senado é "diário" e realizado "com várias fontes".

Como o próprio Temer já havia dito, o ministro garantiu que o presidente interino não será candidato à Presidência em 2018. Daqui a dois anos, na visão de Padilha, serão beneficiados candidatos que ainda não estão no cenário político. Por isso, "a missão dele [Temer] é recolocar o Brasil nos trilhos de desenvolvimento. Se precisarmos tomar medidas mais duras, elas serão tomadas".

Temer quer que ministros envolvidos em escândalos se demitam

• Presidente interino orientou Padilha e Geddel a conversarem com todo o primeiro escalão

Simone Iglesias / Catarina Alencastro / Eduardo Barretto – O Globo

BRASÍLIA — Em reunião na manhã desta sexta-feira, no Palácio do Jaburu, o presidente interino Michel Temer determinou aos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), que conversem com todos os integrantes do primeiro escalão sobre qualquer envolvimento que possam ter com as investigações da Operação Lava-Jato.

Temer ficou muito irritado com a saída de Henrique Eduardo Alves do Ministério do Turismo, antecipando-se a denúncias que surgirão nos próximos dias. Segundo auxiliares presidenciais, ele quer evitar novas baixas por conta de potenciais escândalos.

Na reunião, os peemedebistas demonstraram preocupação com a delação de Fábio Cleto, que era vice-presidente da Caixa Econômica Federal. Segundo um integrante do governo, há citação a Geddel. Cleto é afilhado político do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Ex-deputado cita propina para Dornelles em CPI

• Lava Jato. Pedro Corrêa diz em delação que governador interino do Rio recebeu R$ 9 mi para abafar comissão que investigou Petrobrás em 2009; ele classificou afirmação de ‘absurda’

Ricardo Brandt, Fausto Macedo, Julia Affonso, Mateus Coutinho, Valmar Hupsel Filho, Roberta Barbieri e Marcelo Godoy – O Estado de S. Paulo

O ex-deputado federal Pedro Corrêa (PP-PE) afirmou no anexo 8 de sua delação premiada que o governador interino do Rio de Janeiro Francisco Dornelles (PP) recebeu R$ 9 milhões para abafar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás, aberta em 2009 pelo Senado. Corrêa disse que o dinheiro foi entregue pelo então presidente da empreiteira Queiroz Galvão, Ildefonso Colares Filho.

Em nota, o governador interino afirmou ao Estado que “não comenta declarações absurdas e ridículas feitas no âmbito de delação premiada”. O delator contou ainda que, na época, tentou confirmar com Dornelles o recebimento da propina, mas o senador negou “veementemente” ter recebido o dinheiro.

Corrêa só teria confirmado o pagamento quando estava preso no Complexo Médico de Pinhais, no Paraná, durante a Operação Lava Jato. Ali, Renato Duque, ex-diretor de serviços da Petrobrás, disse que o pagamento foi feito pela Queiroz Galvão por determinação de sua diretoria.

Rio decreta calamidade, e União libera R$ 2,9 bi

• Medida permite repasse de recursos para o estado concluir a Linha 4 do metrô e pagar salários atrasados. Dornelles alega que situação financeira poderia comprometer Olimpíada e levar a colapso de serviços

Depois de o governo estadual decretar estado de calamidade pública, alegando que a crise financeira ameaça compromissos olímpicos e poderia levar ao colapso de serviços essenciais, a União vai liberar R$ 2,9 bilhões para o Rio. O dinheiro será usado para concluir a Linha 4 do metrô e pagar salários atrasados e horas extras de policiais. Para especialistas, a medida, pouco comum, é corajosa e necessária para que o estado, hoje inadimplente, possa equilibrar as finanças e pegar empréstimos com bancos federais, sem ferir a lei. O governador em exercício, Francisco Dornelles, disse que tomará “medidas duras”. Para a Firjan será necessário um amplo ajuste.

Estado de calamidade

• Governo baixa decreto para poder receber ajuda de R$ 2,9 bilhões da União

Carina Bacelar, Luiz Gustavo Schmitt, Martha Beck - O Globo

BRASÍLIA E RIO - A decisão do governador em exercício Francisco Dornelles de decretar estado de calamidade pública no âmbito da administração financeira faz parte de uma estratégia, combinada com o Palácio do Planalto, para que a União possa dar uma ajuda emergencial ao Rio. Segundo integrantes do governo federal, será feita nos próximos dias uma transferência extraordinária de R$ 2,9 bilhões ao estado. O dinheiro será usado para concluir a Linha 4 do metrô (Ipanema-Barra) e pagar horas extras de policiais e salários de servidores até os Jogos Olímpicos. Para viabilizar a operação, será enviado ao Congresso um projeto de lei com urgência ou vai ser editada uma medida provisória.

Após acordo com Temer, Estado do Rio decreta calamidade

Rio pode receber ajuda de R$ 3 bi da União

• Governador do Estado diz que decretação da calamidade pública abre espaço para ‘medidas duras’, mas que não se pretende dar calote

Fábio Grellet, Luciana Nunes Leal, Mariana Sallowicz e Vinicius Neder - O Estado de S. Paulo

RIO - A 49 dias do início das Olimpíadas, o Rio de Janeiro decretou estado de calamidade pública em razão de sua grave crise financeira. A medida inédita foi acertada durante jantar realizado na quinta-feira, 16, no Palácio do Jaburu, em Brasília, com o presidente em exercício, Michel Temer, o governador do Rio, Francisco Dornelles (PP), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e a secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi.

A medida foi discutida com Temer como caminho para justificar o socorro financeiro da União sem necessidade de cumprimento das exigências do Ministério da Fazenda. Com dificuldades em cumprir obrigações assumidas para realização dos eventos esportivos, o governo do Estado pleiteia emergencialmente pelo menos R$ 3 bilhões.

O governo fluminense não detalhou as consequências práticas do decreto. Segundo Dornelles, a decisão abre caminho para que o Rio tome “medidas duras na área financeira”. Questionado se fornecedores deixarão de receber, disse que “não se pretende dar calote”.

A intenção do governador é chamar atenção das autoridades federais para as dificuldades enfrentadas pelo Estado nas áreas de saúde, segurança e também na obtenção de financiamento para obra do metrô.

Rio decreta calamidade pública por crise financeira e Olimpíada

Italo Nogueira – Folha de S. Paulo

RIO - O governo do Rio decretou nesta sexta-feira (17) estado de calamidade pública em razão da crise financeira por que passa o Estado.

Entre as razões apontadas pelo governador em exercício, Francisco Dornelles (PP), estão os compromissos assumidos para bancar a Olimpíada, que começa em agosto.

O decreto, publicado no "Diário Oficial", não deixa claro quais as implicações da medida. Atos do tipo em caso de desastres permitem a contratação de empresas sem licitação. O texto afirma que "as autoridades competentes editarão atos normativos necessários à regulamentação do estado de calamidade pública, com vistas à Olimpíada".

Segundo a legislação, é possível decretar estado de calamidade pública em situações anormais, provocadas por desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento substancial da capacidade de resposta do poder público.

O governo afirma no texto que a grave crise financeira "vem impedindo o Estado de honrar com seus compromissos para realização dos Jogos Olímpicos". A construção da linha 4 do metrô, essencial para o transporte dos torcedores no evento, está sob risco de não ser concluída para os Jogos.

Rio 24 horas
No decreto, Dornelles afirma que a crise "pode ocasionar o total colapso na segurança pública, saúde, educação, mobilidade e gestão ambiental".

A crise volta ao Planalto

• Depois de sitiar o governo de Dilma Rousseff e desmascarar os líderes do PT, a Lava Jato fecha o cerco à cúpula do PMDB e dispara a primeira acusação direta contra o presidente interino Michel Temer

Por: Daniel Pereira - Veja

O país começou a conviver com dois Michel Temer desde a semana passada. O primeiro está promovendo uma agenda positiva na economia, formou uma equipe de excelência comprovada e acaba de apresentar uma proposta de emenda cons¬titucional para definir um teto para o crescimento do gasto público. O segundo está agora às voltas com uma acusação dura.

O delator Sérgio Machado, em depoimento aos investigadores da Lava-Jato, disse que o presidente interino lhe pediu 1,5 milhão de reais durante um encontro na Base Aérea de Brasília, em setembro de 2012, para a campanha de Gabriel Chalita, então no PMDB, à prefeitura de São Paulo. O dinheiro foi repassado pela Queiroz Galvão na forma de doação eleitoral, numa tentativa de dar à transação ares de legalidade.

Às autoridades, Machado confessou que a verba não tinha origem lícita. Era propina. E Temer, que encomendara a mercadoria, tinha plena consciência disso. A acusação é forte, mas, do ponto de vista jurídico, tende a morrer na praia, já que Temer não pode ser investigado por atos estranhos ao mandato.

O presidente interino estava certo de que teria uma semana positiva. Com pompa e circunstância, apresentaria aos parlamentares, como de fato fez, a proposta do teto. Embalado pela repercussão da iniciativa, faria um pronunciamento em rede de rádio e televisão para exaltar seu governo, sua capacidade de dialogar com o Congresso e sua injeção de ânimo nos agentes econômicos. Um otimismo compartilhado por muitos. 

Sentindo-se fortalecido, o presidente do Senado, Renan Calheiros, anunciou que analisaria um pedido de impeachment contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que defendera as prisões preventivas dele, do ex-presidente José Sarney e do senador Romero Jucá, rechaçadas pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. O céu parecia clarear para o bom e velho PMDB, finalmente no exercício pleno do poder. Implacável, a Operação Lava-¬Jato devolveu os peemedebistas à realidade dos desvios da Petrobras, a estatal que, na definição já nascida imortal de Sérgio Machado, é a "madame mais honesta dos cabarés do Brasil".

Ex-tucano convertido em peemedebista, Sérgio Machado comandou a Transpetro, subsidiária da Petrobras, entre 2003 e 2014. Em sua delação, fez acusações a Temer, Renan, que o indicou ao cargo, e mais oito expoentes do partido de se beneficiarem do dinheiro desviado dos cofres da Petrobras.

A divulgação do depoimento pegou Temer de surpresa. Primeiro, o presidente interino soltou uma nota para dizer que sempre respeitou os limites legais ao buscar recursos para campanhas eleitorais. Soou protocolar. Como não conseguiu se afastar das cordas, fez uma declaração à imprensa, em que tachou de "levianas", "mentirosas" e "criminosas" as afirmações do colega de partido. Não disse que vai processá-lo. "Alguém que teria cometido aquele delito irresponsável que o cidadão Machado apontou não teria condições de presidir o país", afirmou, acrescentando que contestará cada menção a seu nome em defesa de sua honra e "da harmonia do país". Machado não se intimidou. Em tréplica, reafirmou tudo o que declarara às autoridades. Diante da agenda negativa, Temer cancelou o pronunciamento em rádio e TV que faria na sexta-feira com receio de um panelaço.

A delação de Machado chama atenção pela riqueza de detalhes, como o uso de senhas para impedir que a empreiteira, no papel de corruptor, soubesse a identidade do destinatário final da propina, o corrompido.

Ele contou que repassou pelo menos 115 milhões de reais a 23 políticos de oito partidos. O PMDB ficou com 100 milhões de reais, sendo as maiores partes destinadas a Renan (32 milhões), Edison Lobão (24 milhões), Romero Jucá (21 milhões) e José Sarney (18,5 milhões). A maioria dos valores era paga em dinheiro vivo. Na delação, Machado diz que teve atritos com Renan, que chegou a receber mesada de 300 000 reais, porque não conseguia saciar o apetite do padrinho político, que pedia mais do que o afilhado podia entregar. 

Afirma ainda que Lobão, então ministro de Minas e Energia, exigia uma bolada maior do que a de seus colegas de bancada. A disputa pelo dinheiro sujo era renhida. Foi ela, segundo o delator, que levou Temer a reassumir a presidência do PMDB em 2014, para arbitrar o rateio de 40 milhões de reais repassados ao partido, a pedido do PT, pela JBS. Temer e os deputados estariam se sentindo ludibriados pelos senadores, que na época comandavam a presidência e a tesouraria da legenda. Por muito pouco, a arenga não ultrapassou as fronteiras partidárias.

Criminosos ou não, os depoimentos de Machado provocaram uma nova baixa no governo. Apontado como beneficiário de 1,5 milhão de reais em propina levantada na Transpetro, Henrique Eduardo Alves pediu demissão do Ministério do Turismo. Com a decisão, disse que fazia um gesto de grandeza, para não constranger a Presidência interina de seu amigo. Balela. Henrique Alves já era investigado pela Procuradoria-Geral da República sob a suspeita de embolsar propina paga pela OAS. 

Também foi citado na delação premiada de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, que coletava propinas para o PMDB da Câmara, do qual Henrique Alves era expoente. Para completar, tramita na Justiça um processo de improbidade administrativa contra o ex-ministro no qual são citadas suas contas na Suíça. Os extratos foram entregues por sua ex-mulher. Temer cobrou explicações sobre essas contas no exterior supostamente abastecidas por meio de transações nebulosas. Recebeu, no dia seguinte, um pedido de demissão de Alves, que admitiu estar à espera de chumbo grosso.

Foi o terceiro ministro de Temer a cair em decorrência da Lava-Jato. Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência) foram exonerados depois de ser gravados pelo operante Sérgio Machado maquinando para "estancar a sangria" das investigações. O horizonte também é sombrio fora da Esplanada dos Ministérios. Hoje, a principal preocupação de Temer está na Câmara dos Deputados. O presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha, peça-chave no afastamento de Dilma Rousseff, sente-se credor do interino e cobra dele ajuda para se safar de um processo por quebra de decoro parlamentar. Na semana passada, o Conselho de Ética, depois de uma infindável sucessão de manobras protelatórias, finalmente aprovou parecer favorável à cassação de Cunha. 

Isso foi o suficiente para recrudescerem os boatos de que ele, caso perca o mandato, negociará um acordo de delação premiada por meio do qual entregará o mandarinato de Temer de bandeja ao Ministério Público. O Planalto sabe que Cunha levantou recursos para financiar a campanha eleitoral de Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo, em 2014. Sabe também que ele intermediou o repasse de dinheiro para outras eminências peemedebistas. Numa delação, citaria de cabo a rabo sua clientela. Com isso, está posta a ameaça.

Os assessores de Temer dizem ter a informação de que Cunha será preso nos próximos dias, o que, se confirmado, pode acelerar eventual colaboração com as autoridades. Há um pedido de prisão preventiva contra ele sobre a mesa do ministro Teori Zavascki. As informações prestadas às autoridades por Fábio Cleto, afilhado político de Cunha na Caixa Econômica, também alimentam a expectativa de prisão do deputado. A VEJA, Cunha disse que não fechará delação premiada porque não tem o que delatar. Marcelo Odebrecht dizia a mesma coisa.

Mudou de ideia depois de quase um ano preso. Deflagrada em março de 2014, a Lava-Jato teve peso decisivo na perda de apoio popular e no afastamento da presidente Dilma. Agora, ameaça o PMDB e, com a acusação a Temer, instala-se novamente no Palácio do Planalto.

No governo anterior, Lula, Dilma, um senador e dois ministros foram pilhados tentando sabotar as investigações da Lava-Jato.

A ascensão de Temer ao poder não diminuiu o ímpeto da operação. Todas as incursões contra as investigações até hoje foram malsucedidas. Diante do fracasso, políticos passaram a tentar reduzir o poder dos investigadores e constrangê-los. Alvo de oito inquéritos no petrolão, Renan quer aprovar um projeto para proibir presos de aderir à delação premiada. Suspeito de receber favores de empreiteiras e assustado com o garrote da prisão, Lula entrou com uma representação contra o juiz Sergio Moro na Procuradoria-Geral da República. Os criminosos ainda sonham com um golpe de última hora no Supremo Tribunal Federal. E olhe que nem vieram a público as delações dos empreiteiros Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro e do ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto. A faxina ganhou tração e, ao que parece, não para mais.

As histórias que comprometem Dilma Rousseff na delação de Pedro Corrêa

• Ex-deputado narra um encontro de Dilma com Paulo Roberto Costa e a cúpula do PP, os pedidos de dinheiro e apoio político da petista na campanha de 2010 e esquemas de propina no período em que era a 'mãe do PAC'

Por: Robson Bonin, - Veja

BRASÍLIA - Afastada do cargo desde que o Senado determinou a abertura do processo de impeachment, a presidente Dilma Rousseff é uma das grandes estrelas da delação premiada do ex-deputado Pedro Corrêa. Ex-presidente do Partido Progressista, Corrêa narra uma profusão de episódios de corrupção envolvendo a petista que, analisados em conjunto e se confirmadas, implodem de vez a imagem da presidente imaculada e incorruptível.

As narrativas de Corrêa que envolvem Dilma Rousseff nas falcatruas dos caciques do PP começam no anexo 9 da delação. A presidente é personagem de um jantar que marca a origem das articulações do PP para entrar no petrolão. Segundo Corrêa, em 2003, os caciques progressistas, liderados pelo ex-deputado José Janene, já morto, organizaram o evento numa mansão que o ex-tesoureiro do PP João Claudio Genu, atualmente preso pela Lava-Jato em Curitiba, mantinha em um bairro nobre de Brasília. A convidada especial da noite era ninguém menos que a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. O governo Lula, então nos seus primeiros meses, já discutia uma ampla reforma no setor elétrico.

Como presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara, José Janene enxergava na reforma uma oportunidade de extorquir empresários do setor. O jantar para Dilma serviria para que o PP conseguisse a relatoria da proposta. Mas teria um papel histórico importante na organização do petrolão. Foi naquela noite de confraternização que Dilma Rousseff ouviria o primeiro apelo dos corruptos do PP pela nomeação de um certo Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras. Paulinho, que viria a se tornar um dos principais operadores da corrupção na Petrobras, conquistou naquela noite, segundo Corrêa, o apoio da petista. "Dilma ficou comprometida em ajudar na nomeação de Paulo Roberto", diz Corrêa.

Dilma pediu dinheiro ao PP
O anexo 10 da delação de Pedro Corrêa também é dedicado à presidente Dilma Rousseff. A exemplo de 2003, novamente, os corruptos do partido confraternizam com a petista em um jantar. O ano é 2010. O grande homenageado da noite é ninguém menos do que o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Entre comes e bebes com Paulinho e os corruptos do PP, Dilma Rousseff, então candidata do PT à Presidência da República, pede apoio político do partido e até apoio financeiro.

Romário (PSB) será candidato a prefeito do Rio

Cristian Klein – Valor Econômico

RIO - O senador e ex-jogador de futebol Romário, do PSB, se lançará candidato a prefeito do Rio. A informação é da assessoria do parlamentar, cuja participação na corrida municipal já era descartada e muda radicalmente agora o cenário de sucessão ao prefeito Eduardo Paes (PMDB).

Em pesquisas recentes, Romário sequer constava nos cenários eleitorais desenhados pelos institutos. Nos levantamentos anteriores, porém, ombreava com o também senador Marcelo Crivella (PRB) na liderança pela preferência dos eleitores, ambos em torno de 30%.

A entrada de Romário deixa a disputa pela prefeitura ainda mais pulverizada, com cerca de dez candidatos, entre eles o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), terceira força nas pesquisas. A chegada do senador complica a situação do pré-candidato de Paes, o deputado federal Pedro Paulo (PMDB), ainda pouco conhecido do eleitorado e que espera crescer com as realizações da prefeitura, sobretudo as obras relacionadas à Olimpíada.

Romário diz que será candidato

Romário anuncia candidatura à prefeitura do Rio

• Decisão foi comunicada ontem à direção nacional do PSB, e lançamento oficial acontecerá na segunda-feira

Marco Grillo - O Globo

O senador Romário (PSB-RJ) anunciou ontem que será candidato à prefeitura do Rio. A decisão será formalizada em um evento na sede da direção estadual do partido, na segunda-feira. A informação foi antecipada pelo colunista Lauro Jardim, do GLOBO.

Na semana passada, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, havia estabelecido um prazo até o fim desta semana para que o senador decidisse o futuro. No início da tarde, Romário ligou para Siqueira e manifestou a intenção.

— Outros partidos estavam nos procurando, então disse a ele que o assunto precisava ser resolvido. Ele me ligou e avisou que vai ser candidato. O ideal é que tenhamos uma coligação, mas isso ainda vai ser discutido — disse Siqueira.

No fim do ano passado, Romário chegou a ser afastado da presidência estadual do PSB no Rio após O GLOBO mostrar que um de seus assessores parlamentares, que também ocupava a tesouraria da sigla, era réu na Justiça sob a acusação de ter cometido quatro homicídios. O senador retomou o comando da legenda em fevereiro, pouco mais de dois meses após ser destituído.

— A providência que nós cobramos, que era afastar o assessor da direção estadual do partido, foi tomada — disse Siqueira, minimizando possíveis rusgas na relação com Romário.

Desde que surgiu como potencial candidato ao posto, Romário ora sinalizava a aliados que disputaria o cargo, ora demonstrava desinteresse na disputa. Em fevereiro, o PSB praticamente selou a filiação do senador Marcelo Crivella (PRBRJ), que seria o candidato a prefeito. Após uma reunião em que foi recebido por Siqueira, Romário e os outros senadores do partido, Crivella afirmou que poderia ser o candidato do PSB, caso a legenda desejasse e Romário estivesse de acordo.

A mudança de legenda, no entanto, não se concretizou. Segundo fontes do PSB, Crivella gostaria de assumir a presidência estadual após se filiar. Romário teria pedido para permanecer no posto mais um mês, o que Crivella interpretou como uma estratégia para que Romário se viabilizasse eleitoralmente.

Em outro momento, Romário chegou a conversar com o prefeito Eduardo Paes, que sonhava com o apoio do senador ao pré-candidato do PMDB, Pedro Paulo. As negociações, no entanto, não avançaram.

Os guizos falsos da alegria - Bolívar Lamounier*

- O Estado de S. Paulo

Toda sociedade é continuamente corroída por conflitos individuais e coletivos. É por isso que o Estado, tendo como uma de suas missões fundamentais a manutenção da ordem, não se pode apoiar exclusivamente na força. Entre a estrutura social e o poder público sempre há uma “ponte”, quero dizer, um conjunto de ideias e símbolos mediante o qual a sociedade se vê e diz como quer ser num futuro não muito distante.

O conjunto de ideias a que acima me referi é o que os discípulos de Max Weber designam como “princípios de legitimidade” e os marxistas, como “ideologia”. A expressão “projeto nacional”, muito difundida no Brasil, sugere algo intelectualmente “trabalhado”, subestimando a contribuição anônima do povo para a formação de tais ideias – daí me agradar mais a expressão “filosofia pública”, cunhada pelo jornalista americano Walter Lippmann.

Neste momento em que o Brasil começa a se livrar de uma tralha ideológica acumulada ao longo de três décadas, penso ser útil pôr em relevo algumas etapas e aspectos de nossa “filosofia pública”, remontando aos anos 40.

Calamidade no Rio - Merval Pereira

- O Globo

O estrago está consumado. Não há como evitar o desgaste da imagem do país. A decretação do estado de calamidade pública no Estado do Rio é uma consequência de duas crises, uma local e outra internacional, que se entrelaçaram. A economia do estado tornou-se dependente do petróleo, e a crise internacional que derrubou os preços do barril reduziu o repasse de royalties para o estado que é o maior produtor no país.

Ao mesmo tempo, toda a cadeia produtiva do petróleo sofreu um baque com a redução dos preços e da própria produção, tudo tendo com o pano de fundo a criminosa dilapidação da Petrobras, maior estatal brasileira, um verdadeiro crime de lesa-pátria que, nada estranhamente, não mobiliza sindicatos na defesa do patrimônio do país, e nem mesmo o seu próprio patrimônio e de seus associados.

À serviço de projetos políticos particulares, as centrais sindicais são incapazes de se mobilizar contra os que sangraram a maior empresa brasileira, assim como os fundos de pensão, por exemplo, que foram literalmente assaltados por decisões políticas que provocaram sérios prejuízos aos associados, inclusive o da Petrobras.

'Bad trip' – Igor Giolow

- Folha de S. Paulo

Quando o Brasil sair da "bad trip" glauberiana em que vive desde 2013, decorrente do esgotamento de seu modelo político, do abuso paroxístico das más práticas de sempre e da destruição da frágil estabilidade econômica, que país subsistirá? Quem irá liderá-lo?

Este é o questionamento que as poucas cabeças dedicadas a não apenas se manter sobre o pescoço em Brasília fazem. Como elas pensam, não se rendem a prestidigitações milagrosas como eleições gerais agora, uma lindeza para quem quer ser enganado. Mas a angústia reina.

Promessas vazias - João Domingos

- O Estado de S. Paulo

Há exatamente três anos, São Paulo viveu uma noite de caos. Houve ataques à sede da Prefeitura, saques a lojas, choque entre Polícia Militar e manifestantes, muita gente ferida e pelo menos 47 presos. Situação bem semelhante foi registrada nas principais cidades do País, tomadas por centenas de milhares de pessoas que, a princípio, foram às ruas reclamar do aumento das passagens de ônibus.
Logo foram levantadas outras bandeiras, mais políticas, a exemplo da exigência da retirada de uma emenda constitucional que limitava o poder de investigação do Ministério Público, conhecida também por PEC 37 e por PEC da Mordaça.

Os protestos prosseguiram. No dia 20 de junho, mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas em mais e mais cidades, a violência cresceu e a presidente Dilma Rousseff, sem entender o que estava acontecendo no País – e era mesmo difícil entender, porque as reivindicações eram esparsas e as lideranças pouco conhecidas – convocou para o dia 24 uma reunião emergencial com todos os governadores e com os prefeitos das capitais.

Lava Jato ameaçada - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Uma ameaça ronda a Lava Jato. Ela não vem dos suspeitos de sempre, que são os políticos de Brasília, mas do próprio STF. A corte iria rediscutir na semana que vem, agora com efeito vinculante, se a decisão que tomou em fevereiro de permitir que réus sejam presos a partir de uma condenação em segunda instância continuará a valer.

O zunzunzum é o de que alguns ministros que votaram pela alteração poderiam mudar de ideia, o que faria com que voltasse a valer a regra de que a prisão só começa após o trânsito em julgado, isto é, até que não haja mais a possibilidade de recurso.

Vestígios da Idade da Pedra - Rosiska Darcy de Oliveira

• Violência contra as mulheres é um crime contra a Humanidade a ser reconhecido pela comunidade internacional

- O Globo

Eu era menina quando, discutindo com um grupo de garotos que punham em dúvida uma história que eu contara, usei o argumento que encerrava as discussões entre eles: dei minha palavra de honra. Fui recebida com uma gargalhada sonora, e um deles, mais agressivo, provocou: “E mulher lá tem honra?”Fiquei sabendo que na cabeça dos meninos e, mais tarde dos homens, a honra é um privilégio masculino. Às mulheres só se atribuía honra em relação com a virgindade quando se dizia de uma delas que tinha sido desonrada. A honra das mulheres se perdia com o hímen.

Anos mais tarde, vi uma mulher ser assassinada e o assassino absolvido em nome da legítima defesa da honra. Explicitava-se assim o direito de matar a mulher que preferira um homem a outro. Às mulheres cabia respeitar o seu lugar de objetos pertencentes a um senhor. Objetos são coisas, não têm honra a defender, tampouco vontade própria.

Brexit, o fim do mundo – Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

A imagem de uma multidão de refugiados caminhando pela estrada, sob o slogan "Ponto de ruptura" –eis a mais recente peça publicitária de Nigel Farage, líder do ultranacionalista Ukip, em campanha contra a permanência britânica na União Europeia (UE). Tudo ainda pode mudar, graças a uma onda de participação de eleitores jovens e ao genuíno engajamento do Partido Trabalhista na reta final da campanha. Contudo, faltando dias para o referendo, a média das sondagens indica vantagem para a proposta de ruptura. O Brexit (Britain exit, saída britânica) não significaria o fim do mundo –mas seria, em diversos sentidos, o fim do mundo que conhecemos.

"Nós, poucos; nós, felizes poucos": a mítica exortação de Henrique 5º a seus soldados, na versão de Shakespeare, ganharia um sentido desafortunado. O Brexit significaria o fim do Reino Unido, pois deflagraria um novo plebiscito na Escócia, com triunfo assegurado do separatismo. Os escoceses renunciariam ao Tratado de União de 1706 para permanecer na Europa, redefinindo sua identidade nacional. Longe da Europa, o Reino Desunido –"esta pedra preciosa depositada no mar prateado", "este pequeno mundo"– estaria condenado a declinar sob o cetro de uma triunfante direita nativista constituída pela soma do Ukip com os detritos xenófobos do Partido Conservador.

Dure o tempo que durar – Editorial / O Estado de S. Paulo

Em encontro com empresários no dia 16 passado, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, fez elogios à Operação Lava Jato e disse que o presidente em exercício Michel Temer apoia as investigações, mas fez uma significativa observação: “Tenho certeza de que os principais agentes da Lava Jato terão a sensibilidade para saber o momento em que eles deverão aprofundar ao extremo e também de caminhar rumo a uma definição final”, pois só assim serão evitados “efeitos deletérios”. Com isso, o ministro jogou a cartada da possibilidade do colapso do sistema político – como aconteceu com a Mani Pulite, na Itália – para evitar que a Lava Jato vá, segundo sua opinião, longe demais.

Teto para gastos é o marco zero de reformas - Editorial / O Globo

• Limitara evolução das despesas primárias à inflação do ano anterior é básico, mas não conseguirá deter, como é preciso, a elevação da dívida sobre o PIB

Não se trata de uma jabuticaba, porque não existe só no Brasil, e sequer é inédito no país, pois o último ministro da Fazenda da presidente afastada, Nelson Barbosa, proporia algo na mesma linha ao Congresso. Estabelecer teto para gastos, revelou ontem O GLOBO, foi medida adotada por pelos menos 26 países, de acordo com levantamento do próprio Barbosa. Como se viu, o descalabro do descompasso entre aumento das despesas e crescimento econômico é tão grave que já preocupava o próprio PT.

Anunciada na posse do governo do presidente interino, Michel Temer, a proposta de um teto para que as despesas deixem de crescer acima da inflação foi apresentada na quarta-feira. É medida estratégica para o reequilíbrio das contas públicas. Chega a rivalizar em importância com a Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada em 2000, e cuja desobediência provocou o atual desastre fiscal e levou ao pedido de impeachment de Dilma.

O dia da criação – Vinicius de Moraes

Macho e fêmea os criou.
Bíblia: Gênese, 1, 27

I

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.

Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.

Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.

E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.

III

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.

Raphael Rabello & Paulinho da Viola - Valsa Verde (Capiba)