quarta-feira, 16 de março de 2016

Opinião do dia – Elio Gaspari

O ministro Jaques Wagner tem toda a razão quando diz que a Operação Lava- Jato está criminalizando a política. Ele e o PT não perceberam que o juiz Moro está botando na cadeia criminosos que se meteram em transações políticas para atacar a bolsa da Viúva. Quem criminalizou a política foram os criminosos, seguindo um velho hábito da oligarquia. O PT se meteu nesse jogo porque quis.

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Elio Gaspari é jornalista. ‘Dilma decidiu inflar Lula’, O Globo, 16.3.2016

STF aceita delação de Delcídio e Dilma pode ser investigada

• Ex-líder do governo no Senado diz que negociou indicação de ministro para o STJ para ajudar empreiteiro

• Senador cita ex-presidente Lula, vice Michel Temer e líder do PSDB, Aécio Neves

• Aloizio Mercadante aparece em gravação negociando com assessor de Delcídio

A homologação e a divulgação pelo STF da delação do senador Delcídio Amaral (PT-MS) arrastaram ainda mais o governo e Dilma Rousseff para o centro da crise e da Lava Jato. A Procuradoria-Geral da República (PGR) avalia abertura de investigação para apurar as citações à presidente no depoimentodo ex-líder do governo no Senado. O ponto que mais chama a atenção dos procuradores é a afirmação de Delcídio de que negociou com Dilma a nomeação de Marcelo Navarro para o STJ com a missão de tirar da prisão o empreiteiro Marcelo Odebrecht. Ela nega. Delcídio também cita supostas irregularidades envolvendo o ex-presidente Lula, o senador Aécio Neves (PSDBMG), o vice Michel Temer (PMDB) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, aparece em gravação negociando com assessor de Delcídio e fala em “encontrar uma saí- da” para evitar que o senador fizesse delação. Mercadante diz que agiu de forma “pessoal”

Supremo homologa delação de Delcídio e PGR avalia investigar citação a Dilma

• Em depoimento explosivo à Procuradoria-Geral da República, ex-líder do governo no Senado aproxima a presidente ainda mais da Lava Jato, cita o petista Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG)

A homologação e divulgação pelo Supremo Tribunal Federal da delação do senador Delcídio Amaral (PT-MS) arrastou ainda mais o governo Dilma Rousseff – e a própria presidente – para o epicentro da crise política e para o âmbito da Lava Jato. A Procuradoria-Geral da República já avalia abrir uma investigação para apurar as citações à presidente no depoimento do ex-líder do governo no Senado. O ponto que mais chama atenção dos procuradores é a afirmação de Delcídio de que negociou com Dilma a nomeação do ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) com a missão de libertar da prisão o empreiteiro Marcelo Odebrecht. Ela nega. 

Em 400 páginas, Delcídio cita supostas irregularidades envolvendo também o ex-presidente Lula, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o vice-presidente Michel Temer (PMDB), a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os primeiros trechos da delação foram revelados no início deste mês pela revista IstoÉ e confirmados ontem com a divulgação oficial do documento. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ex-chefe da Casa Civil de Dilma, aparece em uma gravação negociando com um assessor de Delcídio. Na conversa, Mercadante fala em “encontrar uma saída” para evitar que o ex-líder do governo faça delação. 

Delcídio confessou ter recebido propina no negócio da compra da refinaria de Pasadena (EUA) pela Petrobrás. Segundo ele, Lula foi um dos responsáveis pela indicação de Nestor Cerveró, ex-diretor da estatal preso pela Lava Jato. Ainda sobre o ex-presidente Lula, o senador afirmou que o pecuarista José Carlos Bumlai ficou incumbido de reformar o sítio de Atibaia (SP) frequentado pelo petista, mas o trabalho acabou sendo assumido pela empreiteira OAS. Com a homologação da delação, a Procuradoria vai analisar os desdobramentos das afirmações de Delcídio e ele deverá receber os benefícios previstos em lei por ter se tornado colaborador da investigação. Ao Estado, ele previu muita “confusão” para o futuro

Lula é citado 186 vezes em delação premiada

• Acusações chegam no momento que o ex-presidente se prepara para assumir um ministério para tentar salvar o governo de Dilma Rousseff

Fábio Fabrini, Adriano Ceolin, Beatriz Bulla, Ricardo Brandt – O Estado de S. Paulo

A delação premiada do senador Delcídio Amaral (PTMS) atinge o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no momento em que ele ensaia assumir vaga no ministério da presidente Dilma Rousseff com a missão de reaglutinar a base aliada para salvá-la do impeachment e fazer esforços para atenuar as crises política e econômica. O nome do petista, já implicado na Operação Lava Jato, aparece ao menos 186 vezes na colaboração, homologada pelo Supremo Tribunal Federal. Delcídio diz que partiu do ex-presidente a ordem para que ele convencesse o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró a não delatar o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. A tentativa resultou na prisão do senador em novembro.

Delcídio diz que conversou com o ex-presidente na sede do Instituto Lula sobre a situação do pecuarista e a necessidade de evitar que ele caísse na Lava Jato. “O depoente pode dizer que o pedido de Lula para auxiliar Bumlai no contexto de ‘segurar’ as delações de Cerveró certamente visaria ao silêncio deste último e o custeio financeiro de sua respectiva família, fato que era de interesse de Lula”, registra a PGR na transcrição.

Nos depoimentos, Delcídio dá detalhes do envolvimento de Lula com o pecuarista. Segundo ele, Bumlai teria ficado responsável, num primeiro momento, pelas obras no sítio em Atibaia que Lula frequenta. O senador contou que amigos do ex-presidente se referiam à propriedade como “sítio do Lula”.

As reformas ficaram a cargo da empreiteira OAS. Mensalão. Delcídio afirmou também que o ex-presidente e o ex-ministro Antonio Palocci atuaram para comprar o silêncio do operador do mensalão, Marcos Valério Fernandes.

A negociação teria custado entre R$ 110 milhões e R$ 220 milhões, possivelmente pagos por empreiteiras do esquema de corrupção na Petrobrás. “Havia conversas muito fortes ao longodacampanhade2008 (disputa municipal) de que os pagamentos estavam sendo por (para) Marcos Valério no exterior, em suas contas ou de terceiros”, relatou o senador.

O ex-ministro Palocci esclareceu, em nota, que vinha a público “para desmentir e repudiar, com veemência e indignação, as falsas informações contidas nos termos da delação”. Em outro trecho da delação, Delcídio contou que Lula o procurou para tentar evitar a convocação do lobista Mauro Marcondes Machado e de sua esposa, Cristina Mautoni, na CPI do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). O casal está preso e é réu na Operação Zelotes, que investiga a compra de medidas provisórias.

Investigadores apuram o pagamento de R$2,5milhões feito pela consultoria de Marcondes à empresa de Luís Cláudio Lula da Silva, um dos filhos de Lula. Em nota, o Instituto Lula alegou que “não comenta falatórios”. “Quem quiser levantar suspeitas em relação ao ex-presidente, que o faça diretamente e apresente provas, ou não merecerá resposta. ”O advogado de Bumlai, Arnaldo Malheiros, afirmou que “ele sempre negou enfaticamente as acusações”. /

Dilma usou Mercadante para tentar sabotar a Lava Jato, acusa Delcídio

Delcídio diz que Mercadante ofereceu ajuda financeira para evitar delação

Márcio Falcão, Aguirre Talento – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) entregou gravações à PGR (Procuradoria-Geral da República) de conversas de um de seus assessores com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, na qual ele tenta evitar a delação de Delcídio, oferecendo ajuda financeira e lobby junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) para sua soltura.

A ofensiva de Mercadante foi relatada por Delcídio no quinto termo de depoimento de sua colaboração premiada, homologadanesta terça-feira (15), ao qual a Folha teve acesso.

A informação foi antecipada pela revista "Veja".

"Aloizio Mercadante, em tais oportunidades, disse a Eduardo Marzagão [assessor de Delcídio] para o depoente ter calma e avaliar muito bem a conduta a tomar", diz o depoimento do senador.

"A mensagem de Aloizio Mercadante, a bem da verdade, era no sentido do depoente não procurar o Ministério Público Federal para, assim, ser viabilizado o aprofundamento das investigações da Lava Jato", completou.

Segundo o depoimento, Marzagão comentou que a família do senador estava em dificuldades financeiras e recebeu oferta de ajuda de Mercadante.

"Mercadante disse que a questão financeira e, especificamente, o pagamento de advogados, poderia ser solucionado, provavelmente por meio de empresa ligada ao PT", afirmou Delcídio.

Para o senador, o ministro "agiu como emissário da Presidente da República e, portanto, do governo".

Marzagão gravou as conversas com Mercadante e entregou-as a Delcídio, para que fossem apresentadas como prova em sua delação. Foram três encontros, todos em dezembro do ano passado.

De acordo com a delação, também houve promessa de lobby no Judiciário e no Senado para que Delcídio fosse solto. "Mercadante disse que também intercederia junto a Ricardo Lewandowski [presidente do STF] e Renan Calheiros [presidente do Senado] para tomarem partido favoravelmente ao depoente, no sentido de sua soltura".

Delcídio implica Lula e Dilma em delação, diz revista

Solidariedade
O senador relatou ainda que decidiu fazer a delação porque "não sentiu qualquer firmeza nas promessas de solidariedade e de ajuda política que, eventualmente, receberia".

Delcídio se comparou a Marcos Valério, preso hoje por conta do mensalão, dizendo que a mesma situação ocorreu com ele e com outras pessoas que enfrentaram problemas semelhantes.

Segundo o senador, outras pessoas próximas ao PT e ao governo também buscaram outros envolvidos na Lava Jato para convencê-los a não fechar delação premiada.

"Pode recordar que Sigmaringa Seixas [advogado], Paulo Okamotto [presidente do Instituto Lula] e José Eduardo Cardozo [ex-ministro da Justiça e atual advogado-geral da União] são agentes ligados ao PT que buscaram contato com outros envolvidos, a exemplo de Renato Duque, para o fim de serem frustradas, por exemplo, as investigações realizadas a partir do caso Lava Jato".

Delcídio afirmou ainda que as discussões sobre os desdobramentos da Lava Jato eram restritas a um reduzido número de pessoas da cúpula do governo, dentre elas, a presidente Dilma, Cardozo, Sigmaringa Seixas, Mercadante e, mais recentemente, o ministro da Casa Civil Jaques Wagner.

R$ 1, 5 milhão
O acordo de delação premiada revela que o petista terá que devolver R$ 1, 5 milhão aos cofres públicos por seu envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.

"O acordo de colaboração celebrado também teve por fim a recuperação do proveito das infrações penais praticadas pelo colaborador, no valor de R$ 1, 5 milhão", diz o procurador-geral da República Rodrigo Janot no pedido de homologação.

Senador Delcídio do Amaral implica 74 pessoas em delação premiada

SÃO PAULO - Em depoimentos de colaboração premiada, o senador Delcídio do Amaral, que se desfiliou do PT nesta terça-feira (15), implicou 74 pessoas, fez acusações ao governo e à oposição e elevou a pressão sobre a presidente Dilma Rousseff dois dias depois depois da maior manifestação contra a petista.

Entre os citados nos relatos de Delcídio, estão alguns dos principais líderes políticos do país, como Dilma, o vice Michel Temer, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador tucano Aécio Neves (MG).

O agora ex-petista disse que Dilma tentou interferir na Operação Lava Jato por meio do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça. Também atribuiu a ela a nomeação para um cargo na BR Distribuidora de Nestor Cerveró, preso e já condenado em processos da Lava Jato.

Sobre Lula, o senador afirmou que ele ordenou um pagamento a Cerveró para impedir um acordo de delação.

Em relação a Michel Temer, Delcídio disse que foi o peemedebista quem chancelou a indicação de dois executivos da Petrobras que acabaram condenados na Lava Jato, João Augusto Henriques e Jorge Zelada.

Delcídio também levantou suspeitas sobre a atuação de congressistas em CPIs e descreveu supostas operações para frear investigações nas comissões parlamentares sobre o bicheiro Carlinhos Cachoeira, em 2012, e da Petrobras, em 2014.

Ao todo, foram implicados na delação 37 políticos, quatro partidos e 27 empresas.

O senador descreveu um suposto esquema de propinas para políticos em Furnas, empresa da Eletrobras, que teria Aécio Neves como um dos beneficiários. O delator lançou suspeitas ainda sobre negócios da Petrobras durante o governo Fernando Henrique Cardoso, quando ocupou uma diretoria da estatal.

O efeito Delcídio

• Delcídio diz que foi ‘ escalado’ por Dilma e ex- presidente para barrar Lava- Jato

Colaboração de ex-líder do governo inclui gravação de conversa de Mercadante com assessor que indicaria uma tentativa de impedir acordo com a Justiça, com oferta de ajuda política e financeira. Presidente diz que iniciativa foi ‘ ação pessoal’

Ainda às voltas com os ecos das manifestações de domingo, o governo se viu ontem diante de outra crise de grandes proporções: a homologação da delação do senador Delcídio Amaral, que deixou ontem o PT. Em 21 sessões de depoimentos, ele fez denúncias contra governo e oposição. O MP Federal já decidiu pedir ao STF autorização para investigar o ministro Aloizio Mercadante (Educação), o ex- presidente Lula, o vice- presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB- MG). O ex-líder do governo acusou Mercadante de tentar obstruir as investigações da Lava- Jato ao procurar convencê- lo de não colaborar com a Justiça. Em conversa gravada por um assessor do senador, o ministro teria oferecido ajuda financeira e política para evitar a delação. A presidente Dilma chamou de “ação pessoal” a atitude de Mercadante. A Lauro Jardim, Delcídio disse ontem que foi “escalado” por Dilma e por Lula para barrar a Lava- Jato.

• Delação cai como bomba no Planalto, acirra crise, e envolve governo e oposição em suspeitas

André Souza, Eduardo Bresciani, Jailton de Carvalho e Vinicius Sassine - O Globo

- BRASÍLIA- Ainda sob o impacto das manifestações do último domingo, o governo Dilma Rousseff se viu ontem no centro da mais nova crise, causada pela divulgação da delação do senador Delcídio Amaral (sem partido), ex-líder do governo. O senador anexou à delação, formalizada em fevereiro, gravações de conversas de seu assessor José Eduardo Marzagão com o ministro Aloizio Mercadante (Educação). Nelas, o ministro oferece ajuda ao senador, que estava preso pela Lava- Jato, inclusive se propondo a fazer gestões no Senado e no Supremo. Os diálogos sugerem oferta de auxílio financeiro para pagamento de advogados em troca de que o ex-líder do governo não celebrasse o acordo com os investigadores. Marzagão disse ao GLOBO que achou “muito estranho” Mercadante chama-lo, em duas ocasiões, para falar sobre a situação do senador petista, já que o ministro “sempre foi desafeto” de Delcídio

Da presidente Dilma ao presidente do PSDB, Aécio Neves ( PSDB- MG), passando pelo ex- presidente Lula ( PT), pelo vice Michel Temer ( PMDB), pelos presidentes do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), e da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), a delação de Delcídio, narra casos de corrupção e a ingerência política de governistas e opositores em assuntos do governo e do Congresso.

A metralhadora giratória do senador vai provocar a abertura de inquéritos no Supremo Tribunal Federal, a serem requisitados pelo MPF. Na homologação do acordo, o relator, ministro Teori Zavascki, cita trecho de parecer do MPF dando conta da extensão dos crimes narrados nos depoimentos: “Tal acordo foi firmado com a finalidade de obtenção de elementos de provas para o desvelamento dos agentes e partícipes responsáveis, estrutura hierárquica, divisão de tarefas e crimes praticados pelas organizações criminosas no âmbito do Palácio do Planalto, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, do Ministério de Minas e Energia e da companhia Petrobras, entre outras”.

Em relação a Dilma, Delcídio relata conversa dela sobre a nomeação do ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça ( STJ), com um “compromisso” de ajudar na liberação de presos da Lava- Jato. Cita ainda recursos de propina para a campanha dela em 2010, e sugere que Dilma sabia de irregularidades na refinaria de Pasadena. Enquanto os detalhes da delação de Delcídio caíam como bomba, Dilma discutia à noite a nomeação de Lula para o Ministério.

Para senador, Mercadante agiu como emissário de Dilma ao oferecer ajuda

• Ministro propôs pedir socorro do Judiciário e do Senado a Delcídio

Vinicius Sassine e Renata Mariz - O Globo

BRASÍLIA - O senador Delcídio Amaral afirmou em sua delação que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, tentou evitar a colaboração do parlamentar junto à Procuradoria- Geral da República ( PGR), inclusive com uma ajuda financeira e com promessa de atuação junto aos presidentes do Supremo Tribunal Federal ( STF), Ricardo Lewandowski, e do Senado, Renan Calheiros ( PMDB-AL).

As acusações fazem parte da colaboração, homologada ontem pelo ministro do STF Teori Zavascki. As acusações de Delcídio a Mercadante são embasadas por uma prova: a gravação de duas conversas, em 1 º e 9 de dezembro de 2015, entre o ministro e José Eduardo Marzagão, assessor do senador.

O delator entregou os áudios à PGR como prova das acusações. Há ainda uma terceira conversa gravada, de 28 de dezembro, entre Marzagão e uma assessora de Mercadante chamada “Cacá”. As conversas ocorreram no próprio ministério. Delcídio já estava preso preventivamente por ter tentado atrapalhar a delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

Na primeira conversa, Mercadante se ofereceu para ajudar no que fosse possível, mas disse não ser advogado e que não iria se “meter na defesa”. No segundo diálogo, Mercadante prometeu uma conversa com Lewandowski para “ver se a gente encontra uma saída”. A mesma oferta de conversa foi feita em relação a Renan.

O ministro respondeu assim ao saber de supostas dificuldades financeiras de Delcídio: “Bom, isso aí também a gente pode ver o que é que a gente pode ajudar, na coisa de advogado, essa coisa. Não sei. Pô, Marzagão, você tem que dizer no que é que eu posso ajudar.”

Ao depor, Delcídio fez uma interpretação sobre o significado das conversas do assessor com o ministro: “A mensagem de Mercadante, a bem da verdade, era no sentido do depoente não procurar o Ministério Público Federal para, assim, ser viabilizado o aprofundamento das investigações da Lava- Jato”.

Repúdio com indignação
Segundo o delator, o pagamento de advogados ocorreria “provavelmente por meio de empresa ligada ao PT”: “O depoente assim conclui porque este é o modus operandi do PT”.

Delcídio ressaltou: Mercadante “é um dos poucos que possui a confiança de Dilma Rousseff, tendo afirmado, inclusive: ‘ Se ela tiver que descer a rampa do Planalto sozinha, eu descerei ao lado dela’”. Pela visão do delator, o ministro agiu como emissário de Dilma. Delcídio disse que sua mulher havia sido procurada por Mercadante, e teria “declinado” da ajuda por saber dos “atritos de natureza política” entre os dois.

Em nota, a presidente Dilma se disse indignada e negou qualquer relação com a iniciativa de Mercadante. “A presidenta da República, Dilma Rousseff, repudia com veemência e indignação a tentativa de envolvimento do seu nome na iniciativa pessoal do ministro Aloizio Mercadante”, diz nota.

Na delação, Delcídio atribuiu a Mercadante a seguinte declaração: “Se o depoente resolvesse colaborar com o Ministério Público Federal e com o Poder Judiciário, receberia uma responsabilidade monumental por ter sido um agente de desestabilização”.

Mercadante negou que tenha tentado influenciar Delcídio. Segundo ele, vários trechos do diálogo mostram com clareza que ele não arquitetava comprar o silêncio do senador, prestar apoio financeiro ou acionar autoridades para ajudar na soltura de Delcídio, tais como: “Eu não vou entrar nisso, a decisão ( de fazer delação) é dele, é um direito dele”, e “Não tô nem aí se vai delatar, não vai delatar”.

Ele isentou Dilma, dizendo que a conversa com Marzagão foi um gesto pessoal, de solidariedade à família de Delcídio. Disse que jamais tratou do assunto com qualquer ministro ou com Renan Calheiros. Afirmou ainda que, ao se referir a Lewandowski, falava da construção de uma tese jurídica sobre o papel do Senado, que manteve Delcídio preso, num eventual pedido de soltura do senador. Nesses termos, defendeu, não haveria problema em procurar Lewandowski:

— Acho que não há nenhum problema discutir teses ( jurídicas). Não posso entrar é na defesa específica, no devido processo legal. E disse ( na gravação) que não ia me meter: ‘ Não sou advogado, não tenho o que fazer, não sei do que se trata’. Vocês querem algo mais claro que isso? — perguntou.

‘ Fui escalado por Dilma e Lula para barrar a Lava- Jato’, diz senador

• Acordo de delação prevê devolução de R$ 1,5 milhão aos cofres públicos

Lauro Jardim e Juliana Castro - O Globo

Além das referências à presidente Dilma, ao ex-presidente Lula e ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante, em sua delação premiada, homologada ontem pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, o senador Delcídio Amaral sinalizou que não pretende parar por aí nas acusações que envolvem o governo.

— Cadê o governo que se dizia republicano, que nada interferiria nas investigações? A gravação do Aloizio (Mercadante) confirma o que eles sempre negaram. Na minha delação, fica claro que fui escalado, como líder do governo, pela Dilma e pelo Lula para barrar a Lava- Jato — afirmou Delcídio, em entrevista publicada ontem pelo blog do jornalista Lauro Jardim, no site do GLOBO

Desfiliação do PT
O senador, que pediu ontem sua desfiliação do PT, envolveu também o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, que foi tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à reeleição à Presidência em 2014.

— O Edinho não sairá vivo deste processo. Ele arrecadava recursos ameaçando, na linha do “ou está com a gente ou está contra” — disse o senador.

Em nota, Edinho Silva rebateu a acusação: “É uma grande mentira. O senador não participou da campanha Dilma 2014, jamais esteve presente em nenhuma conversa que fiz com empresários. A afirmação do Senador não passa de uma tentativa grotesca de envolver a campanha de 2014 em denúncias infundadas. A defesa do meu trabalho e a licitude da minha conduta pode ser constatada pelas dezenas de empresários com quem conversei durante a campanha”.

Teori Zavascki estabeleceu que Delcídio deverá devolver aos cofres públicos R$ 1,5 milhão, como já constava no documento enviado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que tratava da homologação. Em seu despacho, o ministro do STF cita partes do documento do Ministério Público Federal.

“Tal acordo foi firmado com a finalidade de obtenção de elementos de provas para o desvelamento dos agentes e partícipes responsáveis, estrutura hierárquica, divisão de tarefas e crimes praticados pelas organizações criminosas no âmbito do Palácio do Planalto, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, do Ministério de Minas e Energia e da companhia Petróleo Brasileiro S/ A entres outras”.

A homologação da delação do senador coube ao STF porque Delcídio, nos depoimentos, citou autoridades com o chamado foro privilegiado. Nos 21 termos de declaração, feitos entre os dias 11 e 14 de fevereiro, o senador fala sobre o esquema de corrupção na Petrobras e em outros setores, envolvendo políticos da base e da oposição. No texto em que homologa a delação, Zavascki diz:

“Dos documentos juntados com o pedido é possível constatar, efetivamente, que há elementos indicativos, a partir dos termos do depoimento, de possível envolvimento de várias autoridades detentoras de prerrogativa de foro perante tribunais superiores, a exemplo de parlamentares federais, o que atrai a competência do Supremo Tribunal Federal”.

180 dias de sigilo
Os advogados de Delcídio pediram que a delação permanecesse em sigilo por 180 dias. A estratégia era dar tempo ao senador no Conselho de Ética para que conseguisse salvar o mandato. No entanto, após a divulgação de trechos dos depoimentos pela revista “IstoÉ”, concordaram que o sigilo perdurasse até a homologação. Os advogados dizem que a publicação de parte da delação prejudicou o interesse da investigação e a segurança do parlamentar.

“Com o vazamento parcial de parte dos anexos dos acordos que serviram de base para os termos prestados pelo colaborador, os signatários concordam em abrir mão do sigilo antes do prazo pactuado”, diz o documento dos advogados.

STF reabre discussão de impeachment

• Corte tende a manter rito, e processo deve voltar a andar na Câmara amanhã

Carolina Brígido - O Globo

- BRASÍLIA- O Supremo Tribunal Federal ( STF) deve pôr hoje um ponto final na discussão sobre o rito do processo de impeachment no Congresso. Em dezembro, a Corte estabeleceu regras para o andamento do processo, e o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDBRJ), recorreu da decisão.

Hoje, os ministros do STF tendem a confirmar o entendimento fixado em dezembro. Com isso, Cunha não terá mais motivos para atrasar a instalação do processo de impeachment. Cunha promete fazer o caso andar assim que o STF bater o martelo.

O rito fixado pelo STF representou duas importantes vitórias para a presidente Dilma Rousseff. A primeira foi a decisão de anular a sessão da Câmara que elegeu integrantes para a comissão do impeachment, a maioria de oposição. Será preciso realizar nova eleição, com voto aberto e indicações de líderes de partidos políticos, sem a possibilidade da candidatura de chapa avulsa.

A segunda vitória do governo foi a declaração de que o Senado tem poderes para arquivar o processo, mesmo que a decisão tomada antes pela Câmara seja no sentido oposto.

A tendência é de que o relator do recurso, ministro Luís Roberto Barroso, mantenha o voto dado em dezembro, que foi seguido pela maioria dos colegas.

Oposição defende que Mercadante seja demitido e preso

Mariana Haubert, Ranier Bragon e Débora Álvares – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Líderes da oposição no Congresso defenderam nesta terça-feira (15) que o ministro Aloízio Mercadante (Educação) seja demitido do cargo e estudam como solicitar sua prisão após a revelação de que ele tentou subornar o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) para que ele não fizesse uma delação premiada.

Delcídio entregou gravações à PGR (Procuradoria Geral da República) de conversas de um de seus assessores com o ministro, na qual Mercadante tenta evitar a delação do senador, oferecendo ajuda financeira e lobby junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) para sua soltura.

Integrantes da oposição da Câmara firmaram que vão acionar a PGR (Procuradoria-Geral da República) e solicitar que Rodrigo Janot encaminhe ao STF (Supremo Tribunal Federal) um pedido de prisão do ministro da Educação Aloizio Mercadante.

PSDB, DEM e PPS estudam as formas jurídicas de apresentar a peça. Os líderes dos partidos avaliam, contudo, que as acusações contra Mercadante são gravíssimas e semelhantes às que levaram, em novembro do ano passado, o senador Delcídio do Amaral à prisão.

"Houve uma tentativa de compra de testemunha e de obstrução da Lava Jato. Isso está muito claro. O ministro precisa deixar o cargo e ser preso", afirmou o líder de bancada Rubens Bueno (PPS-PR).

A ofensiva de Mercadante foi relatada por Delcídio no quinto termo de depoimento de sua colaboração premiada, homologada nesta terça-feira (15), ao qual a Folha teve acesso. A informação foi antecipada pela revista "Veja".

"Delcídio foi preso justamente por obstruir os trabalhos da Justiça e era exatamente isso que o ministro Mercadante estava fazendo. Se Dilma tivesse o mínimo de dignidade exoneraria o ministro na hora", afirmou o líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA).

Delcídio foi preso porque o filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró, gravou uma conversa com o até então líder do governo ofereceu R$ 50 mil para a sua família e um plano de fuga para que o ex-diretor não fechasse acordo de delação premiada com o Ministério Público, o que acabou acontecendo.

O senador Álvaro Dias (PV-PR) pediu que a presidente Dilma Rousseff saia a público para esclarecer se Mercadante falou em seu nome e em nome do governo.

"É algo grave que exige uma posição da presidente. Como pode permanecer o ministro se a presidente entender como verdadeira a delação? [...] Ficou subentendido que sim, em nome do governo, pelo menos é o que está revelado na delação, que não está mais sob sigilo", disse.

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO) foi um pouco mais além que os seus colegas e defendeu a prisão de Mercadante.

"Fica claro que a oferta foi idêntica só que os figurantes são outros. Não podemos ter dois pesos e duas medidas. Pau que dá em Chico tem que dar em Francisco. Então, diante desse fato a sociedade brasileira espera que o tratamento dado a Delcídio seja o mesmo dado a Mercadante", afirmou.

"O que precisamos neste momento é encarar esse fato como sendo então uma rotina que se aplicará a todos independente de ser senador, ministro, qualquer autoridade política do país. Na gravação, fica claro que o objetivo do ministro Mercadante foi dificultar que a Justiça tivesse acesso às provas, fica evidente que o tratamento que tem que ser dado a ele não pode ser um milímetro diferente do que dado ao senador Delcídio do Amaral", completou Caiado.

Oposição tenta barrar na Justiça nomeação de Lula

Thiago Resende e Raphael Di Cunto – Valor Econômico

BRASÍLIA - Líderes da oposição na Câmara recorreram à Justiça Federal para tentar impedir que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja nomeado ministro do governo Dilma Rousseff. O ato, avaliam, seria uma manobra que influencia o andamento da investigação contra o petista que está a cargo do juiz Sergio Moro, na 13ª Vara Federal, em Curitiba.

Como ministro, a apuração de supostas irregularidades cometidas por Lula passa a ser analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), já que ele ganharia foro privilegiado logo depois de ter sido denunciado por suposta ocultação de bens.

"É um tapa na cara dos brasileiros honrados. É um escárnio aos brasileiros. A nomeação de Lula pela presidente Dilma [...] é um movimento desesperado para tentar barrar o processo de impeachment que essa semana será instalada aqui na Câmara dos Deputados", disse o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM).

Para reagir, a oposição anunciou que apresentará ações à Justiça Federal nos 27 Estados. O caso será analisado na primeira instância e, assim, qualquer juiz federal de qualquer Estado pode decidir. Ontem, o pedido já foi protocolado na Justiça do Distrito Federal.

A oposição alega que a nomeação de Lula seria um desvio de finalidade e fraude à lei, pois a presidente usaria o poder para promover um "ato ilícito", para dar um ministério a uma pessoa que pode virar réu a qualquer momento. "Um drible à competência dos órgãos do Poder Judiciário", sustentam.

Na Secretaria de Governo, o ex-presidente atuaria na articulação política e tentaria restabelecer a base de apoio de Dilma para barrar o pedido impeachment.

Antonio Imbassahy (BA), que lidera o PSDB na Casa, disse que o impeachment será aprovado "de qualquer jeito", pois Dilma cometeu crime de responsabilidade, não traz esperança para o país e está absolutamente desacreditada.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), não confirmou a nomeação do ex-presidente, mas afirmou que "qualquer governo sente-se honrado em ter o Lula como ministro". Segundo o governista, a bancada do PT e líderes da base aliada desejam que Lula se torne ministro. E negou que Dilma tenha cometido qualquer crime, o que desfaz a tese para o impeachment.

Realismo mágico - Merval Pereira

- O Globo

A presidente Dilma, cujo único patrimônio era sua suposta honestidade, vai sendo tragada pela enxurrada de delações premiadas que a colocam no centro das atividades corruptas das administrações petistas, como não podia deixar de ser. Seria estranhável que tantas falcatruas e transações tenebrosas venham sendo praticadas há 13 anos sem que ela, e seu tutor Lula, nada soubessem.

Hoje, os dois alvos preferenciais dos milhões de brasileiros que foram às ruas no domingo dar- se- ão um legítimo abraço de afogados, Dilma abdicando em favor de Lula, ela para tentar salvar seu governo que caminha para o fim antes do tempo, ele para tentar um salto triplo carpado que possa recolocá- lo na disputa presidencial de 2018, mas, sobretudo, para fugir do alcance do juiz Moro.

Nunca aquela música cujo refrão dizia “se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão” foi tão apropriada para a trilha sonora desses tempos políticos, em que as ruas sabem o que não querem. Não querem mais essa baixa politicagem, essa permissividade, que abre espaço para todo tipo de mutreta, apartidariamente.

Mas, mesmo com as acusações sendo espalhadas no ventilador para todos os lados, nunca houve manifestações tão focadas como as de domingo, contra Dilma, contra Lula, contra o PT, pelo impeachment e a favor do Moro. Quer dizer, a favor da decência na vida pública, em todos os seus aspectos.

Provavelmente hoje também o ministro Aloizio Mercadante deixará seu posto, varrido pela revelação de sua tentativa de obstruir a Justiça. Suas explicações foram tão bizarras que nem mesmo a presidente Dilma, sua grande e talvez única aliada — Mercadante não é especialmente gostado no meio político —, acreditou.

Se achasse mesmo que seu ministro procurara o assessor de Delcídio com espírito humanitário, em solidariedade ao sofrimento de sua família, por que Dilma emitiria aquela nota extemporânea para afirmar que qualquer coisa que aconteceu não teve nem terá seu apoio? Foi um bilhete azul que Mercadante fingiu não entender, mas a ficha dele cairá mais cedo ou mais tarde, mesmo porque dizem que o novo manda- chuva no pedaço, que nunca engoliu Mercadante, quer vê- lo fora do ministério em que assumirá papel de relevo.

Lula acha que Mercadante prejudica sua imagem, vejam vocês, que triste fim daquele que chegou a almejar ser o candidato governista na eleição de 2018.

O poder quase mágico atribuído pelos petistas a Lula, no entanto, terá que se defrontar com a realidade, que nada tem a ver com o realismo mágico de nossa cena política, onde tudo é possível, inclusive dormir no Brasil e acordar na Venezuela, como definiu uma amiga.

A realidade das ruas clamando por Justiça e honestidade não combina com a nomeação de Lula para obter foro privilegiado no STF. O constitucionalista Gustavo Binenbojm, professor titular da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ( Uerj), diz que o propósito indisfarçável de burlar a regra de competência do “juiz natural” deverá desafiar os ministros do Supremo.

Binenbojm entende que há duas possibilidades para o Supremo coibir essa manobra:

(I) A primeira seria adotar o entendimento de que, em relação a fatos pretéritos ao exercício da função ministerial ( isto é, quanto a fatos anteriores à nomeação para o cargo de ministro de Estado), a competência subsiste nas instâncias ordinárias. Tal entendimento importaria a revisão parcial da jurisprudência da Corte, que tem entendido que o foro privilegiado é prerrogativa da função, independentemente do momento em que os fatos em apuração ocorreram.

(II) A segunda solução seria adotar o entendimento da vedação à fraude à lei. O STF teria que se posicionar sobre a nomeação de Lula para o Ministério, entendendo que se trata de uma tentativa de burla às normas processuais definidoras de competências — tanto do Judiciário como do MP — para definir que os procedimentos investigativos ou processos judiciais eventualmente em curso contra o ex- presidente devem prosseguir sob a condução dos promotores e juízes naturais. Eventual posicionamento do STF nessa linha não impediria a nomeação de Lula para o Ministério.

Com a decisão do STF de desmembrar o processo contra Cunha, mandando para Moro os casos da mulher e da filha do presidente da Câmara, fica claro que Lula pode até ganhar foro privilegiado, mas Dona Marisa, seus filhos e noras serão julgados por Moro.

Não tem salvação - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

Numa canetada do ministro Teori Zavascki virou pó a entrega do governo ao ex-presidente Luiz Inácio da Silva como solução para tentar contornar a crise política, reaglutinar aliados e dar um novo rumo à economia. Se tudo isso já era um milagre de difícil operação, depois da homologação da delação premiada do senador Delcídio Amaral tornou-se missão impossível.

Sem contar o aumento da chance de fracasso da ideia de proteger o ex-presidente sob o instituto do foro especial de Justiça para afastá-lo do alcance do juiz Sérgio Moro. Além de Lula não reunir condições objetivas para tirar a presidente Dilma Rousseff da rota do desastre, a gravação em que o ministro da Educação, Aloísio Mercadante, tenta por intermédio de um assessor de Delcídio comprar o silêncio do senador com promessas de “ajuda”, é um tiro no peito do Planalto.

Ainda que não tenha o efeito da chamada bala de prata, o teor da conversa põe a presidente da República na seguinte situação: ou joga Mercadante ao mar dizendo que ele agiu por conta própria ou mantém o ministro no cargo tornando-se seu cúmplice. Ou pior, assumindo a condição de mandante. De qualquer modo, nessa altura é absolutamente irrelevante Lula aceitar ou não ocupar um gabinete no Palácio do Planalto.

Em todos esses anos de poder o PT se caracterizou por reagir com a criação de factoides para combater fatos adversos. Na impossibilidade de resolver os problemas, muda de assunto e, na maioria das vezes, cria um enrosco ainda maior para si e para o governo. Na situação extrema dos últimos tempos, a usina de equívocos entrou em fase de produção acelerada. Quanto mais grave a crise, mais ideias estapafúrdias saem das cabeças dos dirigentes do partido e das autoridades com assento no Palácio do Planalto.

Essa mais recente, de dar a Lula a tarefa de salvar a lavoura esbarra na evidência de que já não há terreno fértil para bom cultivo.

O PMDB não volta, inclusive toma providências estatutárias para impedir desobediência à convenção do último sábado e pode até antecipar a manifestação do Diretório Nacional sobre o rompimento marcada para daqui a 30 dias, a economia tende a piorar se forem atendidos os apelos por mudanças feitos pelo PT e nada de interesse crucial do governo (CPMF e reforma da Previdência) passa no Congresso.

A outra finalidade, de proteger Lula, mostra-se igualmente inútil. Nada garante, conforme anunciou o ministro Marco Aurélio Mello, que o Supremo Tribunal Federal será benevolente com ele.

Já mandou prender um senador no exercício do mandato, pode perfeitamente mandar prender um ministro demissível do cargo.

A ida de Lula para o ministério ainda tem a desvantagem de aumentar o clima de tensão permanente, de representar uma deposição (consentida) da presidente, de significar reconhecimento de culpa e de deixar o ex-presidente na condição de sócio da débâcle no caso nada improvável de o governo cair.

As águas turbulentas e lamacentas ainda não pararam de rolar. Há as delações premiadas de empreiteiras e o desenrolar das investigações feitas a partir das informações fornecidas por Delcídio Amaral.

Delas, a Lava Jato vai extrair a dimensão do envolvimento do tucano Aécio Neves e do vice-presidente Michel Temer, ambos citados na delação, no escandaloso caso. Serão investigados e talvez venham a integrar o rol dos implicados.

Mas o senador Aécio Neves não é governo e Michel Temer não está por ora sob ameaça de um pedido de impeachment, embora possa vir a sucumbir à acusação de abuso de poder econômico na última eleição. Isso, no entanto, faz parte de etapa adiante. Dilma, Lula e o PT estão sentados sobre uma bomba de efeito premente.

Dilma na mira da Lava-Jato - Luiz Carlos Azedo

• A oposição avalia que a denúncia de Delcídio pode ser a gota d´água para o impeachment de Dilma Rousseff

- Correio Braziliense

Foi mais um dia de cão para a presidente Dilma Rousseff, que entrou na mira da Operação Lava-Jato com a delação premiada do ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral, homologada ontem pelo ministro Teori Zavascki, relator do escândalo da Petrobras no Supremo Tribunal Federal (STF). A pedido de seus colegas da força-tarefa, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já avalia a possibilidade de abrir uma investigação sobre o envolvimento de Dilma no esquema de desvio de recursos da Petrobras, que ela sempre negou conhecer.

Delcídio afirmou que Dilma usou sua influência para evitar a punição de empreiteiros envolvidos na Lava-Jato junto ao STF e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os integrantes da Operação Lava-Jato até agora não investigaram Dilma porque a Constituição impede que um presidente da República seja investigados por fatos ocorridos antes do exercício do mandato, apesar das evidencias de que parte dos recursos desviados da Petrobras foram destinados à campanha de Dilma Rousseff em 2010. Ocorre que Delcídio relatou fatos ocorridos em 2015, primeiro ano do segundo mandato de Dilma.

A divulgação dos termos do acordo de delação premiada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República e da defesa de Delcídio, ontem, foi uma bomba nos meios políticos. Havia grande expectativa em relação à entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo para salvar Dilma do impeachment. Enquanto os petistas comemoravam a desejada volta de Lula ao Palácio do Planalto, as ações do Banco do Brasil despencavam na Bovespa e o dólar voltava a subir. Um sinal de que a manobra petista não foi bem recebida pelos agentes econômicos.

O dólar, porém, parou de subir com a notícia da delação premiada de Delcídio. Ele acusa Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula, o vice-presidente Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de envolvimento no esquema da Petrobras. Citou também o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), a quem acusou de ser responsável pela indicação de Dimas Toledo para Furnas, onde haveria um esquema semelhante ao da Petrobras com envolvimento do antigo Banco Rural. Todos negam as acusações.

Delcídio tem prazo de trinta dias para provar as denúncias que fez. O foco principal da delação premiada, porém, é mesmo a presidente Dilma, que ele acusou de tentar interferir na Lav- Jato com a ajuda do ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de tentar promover a soltura de réus presos no curso da referida operação”, afirmou.

O ex-líder do governo acusou Dilma de tentar influenciar o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e buscar um acordo com o presidente do TJ de Santa Catarina, Nélson Schaefer, que seria nomeado para o STJ se o juiz substituto na corte Newton Trisotto, também de Santa Catarina, votasse pela libertação dos empreiteiros. Para corroborar suas acusações, entregou à força-tarefa a gravação de uma conversa do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, com seu assessor de imprensa, Eduardo Marzagão, na qual o petista promete ajudá-lo em troca de não envolver a presidente da República na delação premiada.

Dilma disse que não sabia das supostas negociações do ministro com o ex-líder do governo, o que foi reiterado por Mercadante em entrevista coletiva. Os procuradores não pedirão a prisão do ministro porque os fatos só foram narrados por Delcídio três meses depois do acontecido. Segundo eles, Mercadante não oferece risco às investigações. A acusação, porém, fragiliza um dos principais conselheiros de Dilma Rousseff, não por acaso, um dos ministros que Lula tentou neutralizar, forçando sua substituição na Casa Civil pelo ex-governador da Bahia Jaques Wagner. A gravação, porém, não comprova a oferta de dinheiro para Delcídio por parte de Mercadante.

Terra arrasada
A oposição avalia que a denúncia de Delcídio pode ser a gota d´água para o impeachment de Dilma Rousseff, mas os governistas, devido ao número de políticos envolvidos, acreditam que o impeachment perderá força no Congresso. A indicação de Lula para o governo Dilma no começo da noite havia subido no telhado, segundo o próprio revelou aos petistas com quem conversou antes de ir para o Palácio da Alvorada, para jantar com a presidente Dilma Rousseff. Novo encontro entre os dois deverá ocorrer na manhã de hoje.

Mercadante, o caridoso – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A delação de Delcídio do Amaral fez um novo e inesperado alvo no governo. O senador acusou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, de tentar obstruir as investigações da Lava Jato.

A rigor, foi o ministro quem se complicou sozinho. Escudeiro da presidente Dilma Rousseff, ele procurou um assessor do senador para tentar convencê-lo a não denunciar outros petistas. Sem que ele soubesse, a conversa foi gravada.

"Acho que ele devia esperar e não fazer nenhum movimento precipitado. Ele já fez um movimento errado, [deveria] deixar baixar a poeira", disse Mercadante sobre Delcídio. "Senão vai sobrar uma responsabilidade para ele monumental, entendeu?".

O ministro não fez uma oferta direta de dinheiro, mas indicou que poderia "ajudar" Delcídio caso ele não falasse. "Eu só tô aqui pra ajudar", disse. "Veja no que eu posso ajudar", insistiu. Não é preciso saber diferenciar Hegel de Engels para entender aonde o ministro queria chegar.

A trapalhada de Mercadante não parou aí. Ele prometeu "construir com o Supremo uma saída" para Delcídio. Disse que procuraria o presidente da corte, Ricardo Lewandowski. O senador esperava um habeas corpus para sair da cadeia e passar o Natal em casa, o que não ocorreu.

Depois da divulgação da fita, o ministro convocou uma entrevista para se explicar. Ele negou ter oferecido dinheiro ao senador, mas não convenceu ao dizer que sua única intenção era se "solidarizar" com Delcídio.

"Não vejo como uma pessoa possa ficar abandonada", murmurou. "Espero que este país valorize a solidariedade, o companheirismo, o gesto de generosidade e de caridade num momento de tragédia pessoal."

Em outro trecho da conversa gravada, o caridoso Mercadante jurou fidelidade a Dilma. "Se ela tiver que descer a rampa do Planalto sozinha, eu descerei ao lado dela", disse. Se a ideia é manter a presidente no palácio, talvez seja melhor que o ministro desça a rampa antes dela.

Pó de pirlimpimpim - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Todos batem, todos apanham, e o PT e a presidente Dilma Rousseff tentam se agarrar a um salvador da Pátria: Luiz Inácio Lula da Silva. É como se Lula, num passe de mágica, ou com seu pó de pirlimpimpim, tal qual na obra de Monteiro Lobato, tivesse poderes para acabar com a pancadaria, estancar a Lava Jato, dar um choque na economia, inebriar a sociedade, salvar Dilma e se eleger nos braços do povo em 2018. Ufa!

Antes de todos esses resultados mirabolantes, Lula precisa salvar a si mesmo do tríplex, do sítio e das empreiteiras que desabam sobre ele sob o peso das delações premiadas que se sucedem. A do senador Delcídio Amaral, que explodiu de vez o ambiente político, cita Lula 186 vezes e acrescenta duas bombas contra ele: a tentativa de comprar (literalmente) o silêncio de Marcos Valério no mensalão e de Nestor Cerveró no petrolão.

Como advertiu o ministro Marco Aurélio Mello, em entrevista à Rádio Estadão, a posse num ministério assegura a Lula foro privilegiado, não impunidade. Ele sai das garras do juiz Sérgio Moro, mas “nada garante que o Supremo será benévolo”.
E a tal recuperação da confiança? Assim como os fiéis creem em dogmas e as ovelhas pagam dízimos, os lulistas se dizem convencidos de que basta Lula sentar no Planalto e assumir um “superministério” para que todos se rendam à sua divindade e a economia dispare. Será?

Ontem mesmo, o dólar, que despencava com a possibilidade do impeachment, voltou a subir. As Bolsas, que se alvoroçavam, murcharam de novo. Entre o impeachment de Dilma e a ressurreição de Lula, parece claro qual a torcida do “mercado”. Aliás, assim como a dos milhões de pessoas que cobriram as ruas do País de verde e amarelo e transformaram a Avenida Paulista num rio Amazonas de críticas e de esperança.

A única coisa certa é que, com Lula de volta, está decretado o fim de Dilma. Quem vai dar os rumos da economia e da comunicação para “animar” os incrédulos? Com quem ministros, assessores, jornalistas e empresários vão despachar? O que sobra para Dilma fazer, além de andar de bicicleta?

Será uma renúncia branca, menos de uma semana após Dilma arrogantemente dizer que “não tem cara de quem renuncia”. Será também um autogolpe, com uma boa dose de ironia: o PT tanto falou que seria golpe aplicar a Constituição para estancar a crise e é quem está derrubando a sua presidente.

Dilma fica na cadeira, Lula ganha foro privilegiado, mas nem por isso a Lava Jato vai parar de inundar o País de notícias estarrecedoras. Todo dia uma pior do que a outra. E a fila de delatores continua crescendo. Delcídio implode o Executivo, o Legislativo, quiçá o Judiciário, Pedro Corrêa faz a ponte entre mensalão e petrolão, Monica Moura sabe tudo sobre as relações perigosas entre políticos e empreiteiras. E continua o bolão de apostas sobre se, ou quando, Marcelo Odebrecht vai jogar a toalha.

A oposição está em festa, certo? Em tempos normais de tempo e temperatura, faria sentido, mas o senador Aécio Neves está sendo arrastado por Delcídio para o olho do furacão por causa da recorrente Furnas e porque teria interferido na CPI dos Correios para livrar o PSDB de Minas de mutretas com o Banco Rural.

Quanto ao ministro Aloizio Mercadante, há três pontos cruciais na fala dele para o assessor de Delcídio: disse que o governo poderia ajudar, ofereceu-se para dar uma palavrinha com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e deixou no ar uma frase deveras intrigante. Ao explicar seu empenho pró-Delcídio, justificou assim: “Pra ele não ser um agente que desestabilize tudo”. Tudo o quê? E por quê?

Senhoras e senhores, o mundo está desabando. Só crê que o pó de pirlimpimpim de Lula vai resolver tudo quem acredita em histórias da carochinha, ou precisa desesperadamente se agarrar a qualquer coisa.

Abraçados até o fim - Rosângela Bittar

• A presidente Dilma não tem mais o que perder no governo.

- Valor Econômico

A discussão sobre se é Lula ou Dilma quem perde ou quem ganha mais com a devolução precoce da faixa presidencial ao candidato declarado do PT à sucessão em 2018, uma antecipação de quase três anos, é inócua. Estão ambos completamente perdidos.

Porém, no detalhe, a se configurar a nomeação do ex- presidente como ministro forte do governo Dilma, hoje, para conduzir a administração petista para longe da crise econômica e coordenar a política no sentido objetivo de evitar o impeachment, é o ex-presidente quem se expõe a mais riscos.

Dilma não tem mais o que perder. Faltam-lhe as condições mínimas para retomar o governo, equipe, competência política, destreza administrativa, credibilidade, confiança da população, e claramente está pedindo socorro e dizendo que não tem mais o que fazer. O convite a Lula foi o único fato novo que lhe ocorreu apresentar ao Brasil.

Entrando o novo sangue velho, ele pode levar um dos que pensa ser milagreiro para conduzirem a economia e ver se ainda dá para fazer alguma mágica.

É muito tempo para dividirem o trono, não são três meses, são três anos. Mas já fizeram isso antes, com Lula na posição de presidente e Dilma na de primeiro-ministro. Não se tem notícia de babado, confusão e gritaria entre eles, apenas entre cada um e seus subalternos.

Lula pode tentar adiar o impeachment, embora tenha sobrado pouco a negociar votos no Congresso. Fazer movimentos, misturar sindicatos, MST e sua base social com Palácio do Planalto. O que vier, para Dilma, é lucro, ela não tem nada. Parece disposta a praticar a humildade e procurar um bom lugar para ver a banda passar.

Para o ex-presidente, entretanto, há muitas pedras no caminho, e nada autoriza imaginar que sua situação política não vá piorar com a entrada no governo.

Uma instituição sai prejudicada, a Presidência da República, então transformada numa espécie de esconderijo de alguém procurado pela justiça.

A vantagem cantada em prosa e verso é o foro privilegiado, para, investigado por corrupção, ser julgado no Supremo Tribunal Federal. Embora tenha nomeado a maioria dos ministros, de quem já cobrou alguma solidariedade no Mensalão, e de outros seja dileto amigo até hoje, o Petrolão guarda características que impedem contar com uma superproteção. Ele terá foro privilegiado, sua família não.

Mas digamos que tendo a caneta presidencial quase à mão, consiga tempo bom para os seus e possa ser visto como um político que voltou a governar e não apenas a só tratar de denúncia, investigação, corrupção, defesa. É inexorável a constatação de que se impregnará de todos os males que atingem o governo Dilma.

Já estaria atingido se não viesse integrar a equipe, mas tinha a esperança de recuperação nas caravanas que faria Brasil afora.

Não terá tempo para isso, pois seu destino estará soldado ao da presidente Dilma. Se ela sofrer impeachment, ele também terá que descer a rampa do Palácio do Planalto, e aí, sim, com uma marca desnecessária que não teria se tivesse ficado na sua para se defender, a de presidente escorraçado, posto para fora.

O governo está tão abalado que não conseguirá ajudar o presidente a superar a forte imagem da manifestação popular gigante, que correu o país e o mundo, do ex-presidente embonecado como presidiário.

A esperança de um Lula funcional, que possa colher a glória de resolver os problemas do governo, não existe. Para isso, ele teria que se transformar novamente. O cientista político e sociólogo Antonio Lavareda avalia que Lula só pode ser útil ao governo "com um figurino de lulinha paz e amor; não pode ser o lulinha jararaca".

Terá Lula capacidade, a esta altura das investigações, fazendo-se conhecer melhor pelo depoimento que deu à polícia, de resgatar o figurino? E sem isso, como conquistará os votos contra o impeachment?

Hoje, quem está às vésperas do impeachment é a Dilma. Ele é candidato a manchar sua biografia com a corrida ladeira abaixo.

Quanto à questão de sua densidade eleitoral, suas chances na campanha presidencial, sua volta por cima para surgir em 2018 em plenas condições de disputar, a entrada no governo Dilma não melhora em nada sua situação. Melhor seria fazer campanha na oposição, o que acontecerá se sofrerem o impeachment.

O que o Lula tem, efetivamente, hoje? As pesquisas que medem o potencial eleitoral dele são feitas com a apresentação do nome em uma lista, e essas são consideradas de pouca eficiência na medição que se pretende, pois oferecem nomes com diferentes graus de conhecimento, todos os que gostariam de ser candidatos mas não têm a menor chance.

Essa comparação não ajuda a entender o cenário eleitoral futuro. As pesquisas são importantes para medir a probabilidade do voto, quem votaria naquele nome com certeza, poderia votar ou não votaria nunca.

O que as últimas pesquisas mostraram sobre isso não é muito confortador para o ex-presidente. No Ibope de fevereiro último o eleitor, quando perguntado se votaria com certeza no Lula, 19% responderam que sim. Esse é, no momento, o contingente do lulismo que se pode considerar firme e forte. E 61% disseram que não votariam de jeito nenhum, uma rejeição bastante alta.

O PT teve a expectativa de que o episódio da condução coercitiva seria especial para a imagem de vítima do ex-presidente, e melhoria sua performance no eleitorado. Pode não ter funcionado tão bem para Lula.

O ex-presidente se contrapor a duas instituições que estão agradando ao eleitorado e fazendo um trabalho de combate à corrupção, ao erro, à irregularidade, duas instituições muito melhor avaliadas do que ele nesse momento, com índices de apoio maiores que os 19% que ele tem, pode não ter sido uma estratégia certeira. A policia federal, segundo o Ipea, tinha, em outubro de 2010, teve 83% grau de confiança da população, e de lá para cá só melhorou sua atuação. E o juiz Sergio Moro, que tem mais de 70% de admiração.

O embate do Lula contra a PF e o Moro, sua retórica na sexta-feira, o deboche do seu depoimento, teve com certeza um efeito positivo para reunificar seu grupo político, animar a militância que estava meio perdida, à procura de discurso.

No governo Dilma, seja descendo a rampa com ela, seja conseguindo adiar o impeachment, seu desempenho eleitoral pode estar até pior do que agora, pois assumirá o desgaste do governo. Mas para Dilma é bom, ela tem a metade do tamanho do Lula, entre 5 e 11 em diferentes medições, pode se beneficiar de uns pontinhos do popular ex-presidente.

Dilma decidiu inflar Lula - Elio Gaspari

• Resta saber qual, o do Pixuleco das ruas ou o regente que voltaria a Brasília livrando-se de Sérgio Moro

- O Globo

Dizer que o 13 de março foi a maior manifestação política da história do país é pouco. Ao contrário dos grandes comícios das Diretas, as manifestações de domingo não tiveram participação relevante de governos estaduais, muito menos transporte gratuito. Isso para não mencionar o vexame dos tucanos que tentaram surfar a cena, foram para a Avenida Paulista e ouviram o ronco da rua.

Em 1984, o palanque do Comício da Sé tinha 120 metros quadrados e foi montado pela Paulistur. No do Rio, os palanques foram dois, um só para VIPs, mais um pódio e passarela para os artistas que se acomodavam num prédio próximo. Sinal dos tempos: em 1984, receando vaias da militância petista, o governador de São Paulo, Franco Montoro, chegou ao proscênio ao lado de Lula. ( A cena foi coordenada pelo advogado Márcio Thomaz Bastos.) Passou o tempo, e Lula, onipresente nas ruas com seus bonecos infláveis, foi convidado pela doutora Dilma para voltar a Brasília como regente do ocaso do governo e do PT.

O que houve no dia 13 foi povo na rua repudiando o governo e uma oligarquia ferida pela Lava- Jato. A prova disso esteve na beatificação do juiz Sérgio Moro. O paralelo com as Diretas resume- se a uma questão numérica, mas difere nos desdobramentos.

Nos dois casos, a iniciativa caduca se não conseguir dois terços dos votos dos deputados. Em 1984 caducou, pois, apesar de ter conseguido 298 votos, faltaram- lhe 22. Hoje 171 votos dos 518 deputados seriam suficientes para arquivar o pedido.

Admita- se que, num improvável gesto de ousadia dos oligarcas, o impeachment seja mandado ao arquivo. Em 1984, o arquivamento da emenda fechou a porta. Hoje há outra. É a possibilidade da cassação da chapa Dilma- Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral. Os dois processos têm origens diversas. O impedimento está ancorado nas pedaladas fiscais. O TSE julgará a conexão das contas da campanha da doutora com as propinas confessadas por empresários e políticos. A votação do impeachment ocorrerá antes do julgamento. Entre um e outro, poderá ressurgir o grito de Diretas Já, pois, nesse caso, seriam convocadas eleições para até 90 dias depois da sentença.

O ministro Jaques Wagner tem toda a razão quando diz que a Operação Lava- Jato está criminalizando a política. Ele e o PT não perceberam que o juiz Moro está botando na cadeia criminosos que se meteram em transações políticas para atacar a bolsa da Viúva. Quem criminalizou a política foram os criminosos, seguindo um velho hábito da oligarquia. O PT se meteu nesse jogo porque quis.

Jaques Wagner atribui o tamanho do 13 de março à crise econômica. Novamente, tem razão, mas expõe a ruína do governo. Essa crise foi inteiramente fabricada pela doutora Dilma e pelo comissariado. Pode- se dizer que ela não sabia que o PT tinha uma cloaca de pixulecos. (Isso seria o mesmo que dizer que o presidente Medici não sabia das torturas do Doi, onde esteve a Estela-Dilma em 1970.) No caso da crise econômica, a responsabilidade é dela, e só dela.

Os críticos da Lava- Jato repetem com frequência que a Operação Mãos Limpas italiana levou ao poder o teatral Silvio Berlusconi. Se as coisas continuarem dando errado, o PT poderá pensar que Lula é o seu Berlusconi.
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Elio Gaspari é jornalista

A política do fingimento - Roberto Romano*

- O Estado de S. Paulo

O romano Tácito ressurgiu na modernidade como patrono do segredo, técnica essencial em toda razão de Estado. O “tacitismo político” vigorou no século 17 sob o signo de Maquiavel, teórico desvirtuado por governantes como Richelieu. Tácito revela a dissimulação principesca e as formas persuasivas hoje intituladas “ideologias”. Para conseguir obediência do populacho os dirigentes fingem acreditar nos valores por ele acarinhados. Uma frase de Tácito ilustra o controle social: “Fingebant simul credebantque”(Anais, V, 10) – os líderes ao mesmo tempo geram ficções e nelas parecem acreditar.

O enunciado explica a cultura política romana que alicerça a ordem jurídica e retórica sob a qual ainda vivemos. Nele são revelados os atos que levaram à abolição da República. Após a batalha de Actium (31 a.C.), ao vencer Marco Antônio, Otávio estabelece a paz interna e dobra os joelhos do Senado. Em 27 a.C. os senadores concedem-lhe o título de Augusto. Otávio é dito Princeps senatus e controla as importantes magistraturas militares, civis, religiosas. Ele instala prefeituras de abastecimento, segurança e vida civil. Daí, nomeia os magistrados superiores e os candidatos às eleições. Para obter adesão ao novo regime o líder usa a propaganda. Sob Otávio dito Pai da Pátria, o mês sextilis é rebatizado comoAugustus e o quinctilis passa a ser Julius em honra de Júlio César. O império mistura fórmulas republicanas e monárquicas e nele restam como focos do poder o Senado, o povo e o príncipe (Yavetz, Zvi: La plèbe et le prince. Foule et politique sous le haut empire romain, 1984).

Para a eficácia da propaganda imperial urge que o líder pareça acreditar na sua própria divindade. Outra ficção é a soberania do povo, somada à fantasmagórica importância do Senado. Se as instituições não funcionam, resta a fantasia de que elas cumprem seu papel. A prerrogativa de colocar indivíduos em cargos elevados permanece hoje nas mãos imperiais de presidentes da República, sejam eles ditadores ou democratas. É preciso, pois, refletir sobre a escolha dos magistrados.

Aproveitemos a morte de um juiz da Suprema Corte dos EUA para pensar os valores, reais ou fictícios, que norteiam a seleção para o pretório. Antonin Scalia foi ali posto pelo Partido Republicano. Além dele vieram Anthony Kennedy e Clarence Thomas. Tais indicações inclinaram o plenário para a direita. Scaglia foi o primeiro ítalo-americano a chegar ao posto. A nomeação de Clarence Thomas, magistrado negro, surgiu de exigências políticas ligadas à cor. Com ajuda republicana Ruth Bader Guinsburg foi a segunda mulher na Corte. Só com tais exemplos vislumbramos que a ida ao tribunal tem vários motivos políticos, sociais, ideológicos. Diria Tácito: a Presidência finge acreditar em valores que transcendem o âmbito jurídico.

Em análise sobre a indicação de um “justice”, Richard Davis (Electing Justice: fixing the Supreme Court Nomination Process, 2005) mostra que a nomeação é cheia de rupturas. Além dos fins presidenciais e dos lobbies econômicos, políticos, étnicos, ideológicos, religiosos, existem outros filtros entre a Casa Branca e o Senado. A escolha não começa na indicação de um indivíduo, mas nos tribunais inferiores em âmbito federal, pois gabinetes ficam vazios após a ida de magistrados para o topo da máquina jurídica. O intervalo entre juízes comuns e a Suprema Corte ilumina o ambiente nas altas esferas jurídicas. É o que acontece com a morte de Scalia (Charlie Savage, Battle Over Bench Started Well Before Scalia’as Death,The New York Times, 16/2). Todo escolhido do tribunal é síntese de muitos coletivos empenhados em defender interesses maiores, ou menores, do país. O processo é violento, mas integra a ética democrática. A nomeação deixa de ser assunto privativo do presidente e dos senadores, pois acolhe amplos interesses opostos. O indicado passou pelo crivo de múltiplos estratos, na sociedade e no Estado. O segredo é enfraquecido, para infelicidade dos que seguem Tácito.

Se deixamos a República norte-americana e nos dirigimos ao Brasil, o panorama difere. Quando se substitui um juiz do STF, múltiplos interesses também entram em liça, mas fora da política visível. É o segredo segundo o tacitismo. Grupos de pressão defendem alvos contraditórios e tentam conduzir o processo. A Presidência da República e o Senado decidem o assunto no sigilo do gabinete e dos corredores congressuais. Tudo se faz como se interesses não existissem e não tivessem raízes sociais profundas. O nomeado, após sabatina em parte fingida, é visto como devedor de presidentes e parlamentares. Resultam suspeitas de alinhamento ao campo oficial. Como parte deles não exerceu a magistratura, inexistem alianças institucionais para substituir vagas nos escalões inferiores, a exemplo dos EUA. A nomeação é alheia ao que se passa em níveis menores. Não raro a distância se transforma em litígio, como nos embates de Joaquim Barbosa, presidente do STF, e titulares de Cortes federais de Justiça.

Muito se escreve sobre o modo de indicar magistrados para o STF. Propostas diversas acodem a juristas e políticos, segundo a conjuntura dos Poderes. Insuportável é a forma como decidem a Presidência da República e o Senado. Agem como se não devessem partilhar – ou fingir partilhar – valores republicanos, imaginam-se entes imperiais. Augusto indica, o Senado aplaude. Sem licença para gravar seu nome em ruas e prédios públicos, políticos buscam impor marcas nos magistrados que nomeiam. Se não mudam o calendário nem se proclamam divinos, decidem como se fossem numes que não precisam justificar seus atos. Os nomeados seguem atitude idêntica e julgam-se acima da plebe, que para eles é a massa ignara dos “leigos”. Todos mostram que a igualdade democrática não existe e nunca existiu entre nós. O imaginário imperial desgraça a vida brasileira, pois é quase impossível identificar, entre nós, uma República. Os Poderes insistem na prática enunciada por Tácito: “Fingebant simul credebantque”, ou, na ironia popular, “me engana que eu gosto”.
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*Roberto Romano é professor da Unicamp

Daqui pra frente - Zuenir Ventura

• Solução pós- impeachment de Collor talvez tenha dado certo porque Itamar Franco não era carismático. Vocês veem algum novo Itamar no horizonte do possível?

- O Globo

A partir de uma semana como esta, com tantas notícias de última hora — instalação da comissão do impeachment na Câmara, a explosiva delação de Delcídio e até Lula num ministério ( escrevo quando ainda não tinha sido oficializado) — tudo pode ser diferente. Ou não. Diante do futuro imprevisível de um governo inteiramente desorientado, quem ousa arriscar previsões? Prefiro fazer como Glória Pires na entrega do Oscar: não sou capaz de opinar. A não ser sobre a impressionante manifestação de domingo, considerada impecável do ponto de vista cívico. Achei bacana, gostei muito, incrível. Falando sério: além de ter sido o maior espetáculo do gênero no país, me impressionou o seu caráter apartidário, revelado pela hostilidade aos tucanos Geraldo Alckmin e Aécio Neves e à peemedebista Marta Suplicy, xingados e obrigados a sair com seguranças.

Por um lado, o incidente demonstrou a autonomia dos participantes em relação a qualquer partido; mas, por outro, pode ser um sinal que preocupa, o de que a rejeição aos políticos está se transformando em rejeição à política. Quando isso acontece, é grande o risco de surgir um salvador da pátria. O sebastianismo é uma herança portuguesa muito forte. Costuma- se admirar o carisma como virtude, quando é apenas uma característica de personalidade nem sempre positiva, como no caso de alguns ditadores sanguinários. A solução pós- impeachment de Collor talvez tenha dado certo porque Itamar Franco não era carismático, apenas um cidadão comum, sem aura, mas honrado e sensato. Vocês veem algum novo Itamar no horizonte do possível?

O cenário está tão confuso que a principal reivindicação da jornada de domingo, o impeachment da presidente, é conduzida por alguém contra o qual há mil$ ões de motivos para ter o mesmo fim, logo ele que pode vir a sucedê- la, no caso de cassação da chapa pelo TSE. Confesso que fiquei com pena imaginando Dilma diante da televisão vendo os protestos. Por mais autossuficiente que seja, a presidente deve ter tido seus momentos de fraqueza e amarga solidão com aquela multidão em todo o país gritando “Fora Dilma” — e ela, para evitar isso, não tem a garantia de poder contar nem com o indispensável apoio de 171 dos 513 deputados da Câmara.

O seu desamparo é tanto que apelou para a solução Lula, mesmo sabendo que, assim, estava nomeando um presidente de fato. Resta- lhe a esperança de que as manifestações a seu favor depois de amanhã consigam empatar o jogo ou vencê- lo. De qualquer maneira, o seu destino não vai se resolver nas ruas, por mais importantes que elas sejam como instrumento de pressão.

Nova afronta aos brasileiros – Editorial / O Estado de S. Paulo

Confirmada a nomeação de Lula para não importa qual Ministério, Dilma Rousseff estará abrindo mão, de fato, de sua condição de chefe do governo, como preço a pagar pela possibilidade de prorrogação do prazo de sobrevivência do PT no poder.

Ao mesmo tempo, ao transferir o comando do País a seu padrinho – que no domingo passado, na forma do Pixuleco, foi um dos principais alvos das clamorosas manifestações de protesto que tomaram conta do País –, Dilma desmascara o apreço que o lulopetismo alega ter pela “voz das ruas”. Fazer de Lula ministro de Estado, neste momento, é afrontar os brasileiros. Mais uma vez.

Afirmar que, uma vez ministro, Lula passará a governar de fato o País não é exagero retórico, como certamente alegarão os petistas, mas o desfecho natural da escalada por meio da qual Lula exigiu que Dilma, nos últimos meses, moldasse o Ministério segundo suas preferências e conveniências. Assim, ela se livrou de ministros com os quais mais se identificava, mas foram condenados pelo PT: Pepe Vargas, da Secretaria de Relações Institucionais; Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência; Joaquim Levy, da Fazenda; Aloizio Mercadante, da Casa Civil; e José Eduardo Cardozo, da Justiça. 

Finalmente, Lula e o PT se deram conta de que o problema não era a equipe, mas a própria Dilma. E, ao que tudo indica, o chefão do PT, docemente constrangido, acabará cedendo aos apelos da tigrada e assumirá o poder de fato como último recurso para salvar a si mesmo e a seu partido.

Estará sendo implantado no País, então, o tal semipresidencialismo que algumas sumidades lulopetistas passaram a defender nos últimos dias, numa versão que concentrará nas mãos de Lula o poder político e em particular o comando da política econômica, restando a Dilma Rousseff a pompa e circunstância necessárias para salvar as aparências. Poderá continuar pedalando todas as manhãs pelas vizinhanças do Palácio da Alvorada.

Não há o que lamentar sobre o futuro imediato que parece reservado a Dilma Rousseff. Ela já está e continuará pagando o preço de sua inacreditável incompetência política e gerencial, agravada pela teimosia, arrogância e prepotência que esconde sob o manto de uma falsa altivez.

Para Lula, tornar-se ministro é mais que voltar ao poder. É obter foro especial – no caso, a Suprema Corte – para os vários processos em que consta como investigado.

E, se o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir adotar o mesmo procedimento do mensalão, o foro privilegiado estará estendido a todos os demais implicados nesses processos, inclusive o clã Da Silva. Não é desprezível o peso dessa implicação judicial na decisão de Lula de superar sua “hesitação” e “aceitar” um Ministério.

Mas isso não significa que ele se livrará da cadeia. Que o digam os “guerreiros do povo brasileiro”, também conhecidos como mensaleiros.

É claro que uma vez ministro Lula colocará todo o peso de sua influência política na tarefa de impedir o impeachment de Dilma. E terá à sua disposição todo o aparelho estatal, que usará com a desfaçatez que demonstrou cabalmente nos anos em que exerceu a Presidência.

Mas isso não é tudo – o que significa que pode vir coisa mais cabeluda por aí. Foram apresentadas a Dilma como conditio sine qua non para a “aceitação” do cargo de ministro por Lula medidas que levarão a economia nacional para o subsolo da cova funda em que já nos meteram. Entende Lula, com o apoio do PT e das entidades que o partido controla, que é indispensável agir rápida e vigorosamente em duas frentes: acabar com essa história de ajuste fiscal e promover a abertura de farto crédito para a compra de bens de consumo e investimentos em infraestrutura. Dinheiro para tudo isso? Dá-se um jeito, nem que seja metendo a mão nas reservas internacionais.

Se tudo isso de fato acontecer, o Destino, além de deixar órfãos os brasileiros, comprovará que Lula é bom profeta. Pois foi ele quem disse, em 1998: “No Brasil é assim: quando um pobre rouba, vai para a cadeia; mas quando um rico rouba, vira ministro”.