segunda-feira, 7 de março de 2016

Opinião do dia – Dora Kramer

Triste do homem público cujo adversário é a lei. Desalento visto com nitidez no semblante do ex-presidente Luiz Inácio da Silva depois do interrogatório de sexta-feira quando, num angustiado esforço para se manter altivo, manifestou-se contra o perfeito funcionamento de instituições do País que presidiu.

-------------------------
Dora Kramer é jornalista. ‘O adversário é a lei’, O Estado de S. Paulo, 6.3.2016

Marina ataca violência do PT, e oposição bloqueia pauta

• Partidos fazem pressão para instalar a comissão de impeachment

Em clima de tensão, líder da Rede critica estratégia petista de fazer ‘ apologia do confronto para se defender de acusações’. Delação de Delcídio deve ser homologada no STF

A ex-senadora Marina Silva (Rede) criticou ontem o PT, seu antigo partido, por “fazer apologia do confronto” para se defender das acusações contra seus integrantes, incluindo o ex-presidente Lula, na Operação Lava Jato. Em clima de tensão crescente em Brasília, partidos de oposição prometem se revezar em discursos no plenário do Congresso, a partir de hoje, com ataques ao governo, além de obstruir as votações até que a comissão de impeachment da presidente Dilma seja instalada. O governo, que deverá enfrentar outro revés, com a homologação da delação premiada de seu ex-líder no Senado Delcídio Amaral, tenta articular sua base para enfrentar a obstrução no Congresso. Lula deverá se encontrar novamente com Dilma para discutir saídas para a crise.

Temperatura em ebulição

• Marina critica PT, e oposição vai obstruir votações até a criação da comissão de impeachment

Renata Mariz , Bárbara Nascimento e Eduardo Barretto - O Globo

- BRASÍLIA- Governo e oposição iniciam a semana, que antecede as manifestações de rua previstas para o próximo domingo em todo país, pintados para a guerra. Após uma semana de desgaste, com denúncias que colocaram a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no centro do escândalo de corrupção da Petrobras, o governo terá uma semana difícil também no Congresso.

O clima é de confronto. A oposição promete obstruir a pauta até que a comissão do impeachment seja instalada, além de reforçar os ataques ao Planalto, na tentativa de angariar mais adesão ao protesto do dia 13.

Marina Silva, fundadora da Rede, reapareceu ontem em Brasília e atacou a postura do PT, seu ex- partido, de “fazer apologia ao confronto para se defender de acusações”. Disse que o povo brasileiro merece ser reparado por erros do governo.

— É triste, obviamente, ver um partido, que no passado suscitou tantas esperanças na defesa da ética e no combate à corrupção, agora tendo que fazer apologia do conflito, do confronto, para se defender de acusações — afirmou Marina, em referência ao PT e ao comportamento do partido depois da fase mais recente da Operação Lava- Jato, em que Lula foi alvo.

Na expectativa de um encontro de Dilma com Lula — para se discutir uma agenda que tire o governo das cordas numa semana em que o ministro Teori Zavaski deve homologar a delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT- MS)—, a ordem entre os líderes da base também é partir para cima e rebater acusações. Os parlamentares governistas devem acentuar a pressão para que Dilma se aproxime da pauta do PT, principalmente na agenda econômica que flexibilize o aperto fiscal, desamarre gastos em investimentos e aumente oferta de crédito.

Deputados querem incentivar protesto
A delação de Delcídio e o depoimento de Lula agravam a situação de Dilma, com a volta do impeachment à pauta esta semana. A oposição vai tentar protocolar um pedido de aditamento ao processo de impeachment já em tramitação na Câmara, para incluir as denúncias de Delcídio envolvendo Dilma com o escândalo na Petrobras. E vai obstruir todas as votações na Câmara para pressionar pela instalação da comissão do impeachment.

Os líderes da oposição permaneceram o fim de semana em Brasília para acompanhar de perto os desdobramentos da crise política e prometem garantir número para abrir a sessão hoje nas duas Casas, para pôr fogo no plenário com discursos sobre Lula e a presidente. A previsão é que o Supremo Tribunal Federal (STF) volte a analisar esta semana a decisão sobre o rito do impeachment na Câmara.

Num clima de tensão que deixa apreensivo não só o núcleo palaciano, o domingo foi de muitos boatos sobre o plantão do ministro Teori Zavaski e de técnicos do STF para finalizar processos de delação que podem desembocar em mais uma leva de denúncias de parlamentares investigados na Lava- Jato, inclusive o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

A semana é considerada decisiva pelos oposicionistas para ampliar a dimensão das passeatas pró- impeachment marcadas para o próximo domingo. Líder do PSDB na Câmara, o deputado Antonio Imbassahy (BA), disse que, ao contrário das manifestações passadas, desta vez os parlamentares estão atuando de forma ativa:

— Estamos entrando de corpo e alma, usando a estrutura partidária. Com as redes sociais do partido, dos parlamentares e dos diretórios, vamos conseguir mais apoio — prevê.

Os parlamentares da base também chegarão a Brasília com o mesmo espírito armado, dispostos a questionar uma suposta perseguição ao PT:

— Quem vai com tudo é a gente. Estamos com sangue nos olhos — disse o senador Lindbergh Faria (PT-RJ).

— No que depender do governo, a Câmara vai funcionar. Vamos vencer tentativas de obstrução — diz José Guimarães ( PT- CE), líder do governo na Câmara.

Não bastasse o desgaste com as denúncias divulgadas semana passada — apontando o conhecimento de Dilma e Lula do esquema de corrupção na Petrobras —, o depoimento do ex-presidente na Lava- Jato e as dificuldades no Congresso e na economia, a convenção do PMDB marcada para sábado pode agravar o isolamento da presidente.

O encontro do PMDB é um potencial palco para críticas contra a gestão Dilma, reforçando a tese de saída do governo. A expectativa é que o vice-presidente Michel Temer seja reconduzido à presidência do partido na convenção.

— Diante dos fatos da semana, ninguém quer botar a cara para defender Dilma. O terreno na convenção é mais fértil para quem propõe o desembarque do governo e os protestos contra o PT — afirma o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB- BA).

Sem citar Dilma, Temer prega harmonia e união

• Para vice-presidente, melhora nas relações entre os três poderes pode ajudar o país a sair da crise

- O Globo

Sem fazer referência à presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer defendeu ontem a pacificação e a harmonia entre os poderes da República. A declaração foi dada durante a festa de aniversário de 174 anos do município de Tietê (SP), cidade natal de Temer. Em seu discurso, o vice evitou falar sobre a 24 ª fase da Operação Lava- Jato, em que o ex-presidente Lula foi conduzido coercitivamente para depor.

— Todos temos que dar as mãos para o país sair da crise. Não é momento de se pensar no valor governo, nem no valor partido e, sim, no país como um todo. Só assim conseguiremos retomar a confiança dos brasileiros. Judiciário, Executivo e Legislativo precisam caminhar em harmonia. A falta de harmonia entre os três poderes chega a ser uma inconstitucionalidade — afirmou Temer.

Sobre a economia, o vice-presidente ressaltou a necessidade do otimismo e união para o país sair da crise econômica:

— Hoje, o que o país mais precisa é de unidade, de reunificação, um instante em que todos têm que dar as mãos para tirar o país da crise. O desemprego vai gerar uma conflitância (sic) social. Por isso, temos que unir esforços para retomar o emprego no país

Na sexta-feira, quando aconteceu a 24 ª fase da Lava- Jato, Michel Temer cancelou compromissos do dia para acompanhar de perto os desdobramentos da ação da Polícia Federal. Temer estava em viagem em Campo Grande e tinha eventos marcados em Goiânia e Palmas.

Na cúpula peemedebista, o sentimento é de cautela. Há uma preocupação para que Temer não volte a se expor desnecessariamente, como fez no ano passado, quando fez críticas à presidente Dilma Rousseff e jogou combustível no fogo que consumia a relação do PMDB com o governo.

Há uma avaliação, no entorno de Temer, de que o andamento do processo de impeachment depende, primeiro, de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a forma como será conduzido no Congresso e, depois, das duas casas legislativas. Por isso, o vicepresidente tenta evitar qualquer movimento prematuro.

Apesar da cautela com que tenta agir, a oposição e a ala oposicionista do PMDB estão animados com os fatos da semana passada, que tiveram, além da condução coercitiva de Lula, as revelações da delação premiada do senador Delcídio Amaral, que envolvem o ex-presidente e Dilma. Oposicionistas têm a expectativa de conversar com o vice sobre o cenário de impeachment a partir desses novos fatos. (Com G1)

Local de protesto em Brasília terá militares no dia 13

• Evento de troca da bandeira na Praça dos Três Poderes foi adiado para o próximo domingo

Geralda Doca, Jaqueline Falcão - O Globo

- BRASÍLIA e SÃO PAULO- No próximo domingo, quando as ruas do país e a Esplanada dos Ministérios deverão receber milhares de manifestantes pedindo a saída da presidente Dilma Rousseff, o governo tomou uma providência que, na prática, coloca os militares das Forças Armadas na Praça dos Três Poderes. A Aeronáutica adiou o evento de troca da bandeira no local, que acontece sempre no primeiro domingo do mês, para o dia dos protestos.

Militares afirmaram que o aviso sobre a mudança foi feito somente na semana passada. A Aeronáutica nega que a mudança tenha relação com os protestos e alegou que a Força estava mobilizada para a realização da “Corrida da Paz”, realizada em 21 de fevereiro, e não houve tempo para treinar os militares para a troca da bandeira.

Na última sexta-feira, com o aumento da tensão nas ruas em São Paulo por causa do depoimento do ex- presidente Lula na Operação Lava- Jato, o governador Geraldo Alckmin recebeu o telefone de um oficial da Aeronáutica pondo a Força à disposição.

— Eles ligaram se colocando à disposição, mas não teve nenhuma necessidade — afirmou Alckmin.

A Aeronáutica foi surpreendida pela operação cumprida pela Polícia Federal, a mando da Lava- Jato, e não conseguiu fazer a segurança do aeroporto de Congonhas, onde simpatizantes pró e contra Lula se enfrentaram. O Comando da Aeronáutica mostrou- se irritado por não ter sido informado pela PF. O oficial agradeceu Alckmin pelo trabalho feito pela Polícia Militar no local.

Ex-comandante da PM e ex-secretário nacional de Segurança Pública, o coronel José Vicente da Silva Filho explicou que a decisão sobre oferecer reforço de militares a governos estaduais é da Presidência da República.

De novo, Temer fala em reunificar país contra crise

Em meio a agravamento da crise no governo, Temer prega unidade

Reynaldo Turollo Jr. – Folha de S. Paulo

TIETÊ (SP) - No momento em que a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff ganha novo fôlego por causa da Operação Lava Jato, o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), pregou "unidade" para tirar o Brasil da crise política e econômica.

Temer esteve na manhã deste domingo (6) em Tietê, cidade em que nasceu, no interior de São Paulo, para a comemoração do aniversário do município, que faz 174 anos.

Em discurso proferido na solenidade, Temer defendeu a "harmonia entre os Poderes da República" e a "conexão do trabalhador com o empresário" para superar a crise.

Em seguida, saiu sem falar com a imprensa e não quis comentar sobre a mais recente fase da Operação Lava Jato, que obrigou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a depor na sexta-feira (4).

No discurso, o peemedebista falou da Caravana da Unidade, uma iniciativa de seu partido que já passou por 19 Estados, e de como ela se transformou, conforme sua avaliação, em uma "caravana da unidade do país". A presidente Dilma não foi citada em nenhum momento.

"Hoje, o que o país mais precisa é de unidade, de reunificação, um instante em que todos têm que dar as mãos para tirar o país da crise", disse.

"Vamos unir esforços, o Legislativo, o Executivo, o Judiciário, os setores produtivos, porque é inadmissível que um país como o Brasil hoje tenha milhões e milhões de desempregados. É a iniciativa privada, prestigiada pelo poder público, que pode gerar empregos", afirmou, para uma plateia de autoridades e empresários locais.

"Essa conexão do trabalhador com o empresário, ou do capital com o trabalho, é fundamental. Em vez de separações, divisões entre a sociedade brasileira, nós precisamos de um somatório da sociedade brasileira."

Temer já havia falado de "unidade" em outras duas ocasiões. Em agosto passado, no auge da crise política e ante a ameaça da abertura de um processo de impeachment na Câmara, o vice disse a líderes da base governista que o país precisava de alguém que tivesse "a capacidade de reunificar a todos". A declaração incomodou assessores da presidente.

Em contexto diferente, defendeu, em dezembro, um "governo de união nacional". Àquela altura, o processo de impeachment já estava em curso, e Temer havia enviado uma carta com queixas à presidente Dilma –que repercutira mal para ele.

'Desarmonia'
Em Tietê, sem mencionar o impeachment, o vice-presidente afirmou que o governo tem de recuperar a confiança dos brasileiros, pois precisa de uma sociedade "pacificada" para conseguir trabalhar, e pregou harmonia entre os três Poderes.

"Não somos donos do poder, somos meros exercentes do poder. Hoje eu vejo muita desarmonia entre o Legislativo e o Executivo e, às vezes, o Judiciário [...] Toda vez que há uma desarmonia, está havendo uma inconstitucionalidade", afirmou, citando a determinação expressa na Constituição de que os Poderes devem ser "independentes e harmônicos entre si".

Na última quinta (3), a revista "IstoÉ" divulgou que o acordo de delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) implica diretamente a presidente Dilmana Lava Jato.

Segundo a delação do senador, Dilma tentou interferir no Judiciário em prol da libertação de executivos de empreiteiras presos, nomeando para o STJ (Superior Tribunal de Justiça) o ministro Marcelo Navarro, que teria prometido votar pela soltura.

Marina diz que Lula incita militância ao confronto e pede cassação de Dilma

Machado da Costa – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A candidata derrotada em 2014 e presidente do partido Rede, Marina Silva, criticou a atitude do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, após ser levado pela Polícia Federal para depor coercitivamente na última sexta (4), conclamou a militância petista a defendê-lo das acusações. Segundo Marina, Lula incita seus partidários a partirem para o confronto, até mesmo físico.

Marina diz ser preocupante a divisão política do país e que isso vem motivando agressões entre pessoas com posições apostas em relação às investigações da operação Lava Jato.

"É triste ver um partido fazer apologia ao confronto para se defender. Qualquer incitação [à violência] é preocupante", diz. "É algo triste ver pessoas se agredindo na rua."

Aproveitando-se do encerramento do congresso do seu partido, Marina declarou seu apoio às investigações feitas pela operação Lava Jato.

De acordo com Marina, a Polícia Federal deve apurar informações sobre supostas condutas ilícitas do ex-presidente. No entanto, o processo deve assegurar o direito de defesa de Lula.

"Não podemos condenar o ex-presidente, mas não podemos desqualificar os indícios de corrupção", diz Marina.

A ex-candidata não viu irregularidades na condução coercitiva determinada pelo juiz Sérgio Moro contra Lula.

"Ninguém está acima da lei. Temos que aguardar o andamento das investigações."

Marina também diz preferir que a presidente seja cassada no TSE, e não pelo processo de impeachment da Câmara.

"O impeachment cumpre a formalidade legal, mas não a finalidade que queremos. O melhor caminho é o processo no TSE, porque julga a chapa Dilma-Temer, devolvendo ao povo a possibilidade de corrigir um erro involuntário, pois foi induzido a ele", afirma.

Segundo ela, mesmo que o processo no TSE demore mais para sair do que na Câmara, seria melhor esperar.

Lula afirmou que só sairia de casa algemado, diz Polícia Federal

Leandro Colon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em relatório assinado neste domingo (6), o delegado Luciano Flores de Lima, da Polícia Federal, afirmou que o ex-presidente Lula se negou, num primeiro momento, a sair de casa para prestar depoimento em uma sala do aeroporto de Congonhas, durante a 24ª fase da Lava Jato.

O petista, segundo o delegado, disse que só deixaria seu apartamento "algemado". Flores de Lima foi o chefe da equipe policial que esteve no apartamento de Lula na manhã de sexta (4) durante a Operação Aletheia, que investiga a relação do ex-presidente com empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras.

A PF chegou na casa de Lula às 6h de sexta. A porta foi aberta pelo próprio, que então, na versão policial, foi informado da busca e apreensão no local e de que deveria acompanhar a polícia até Congonhas. "A fim de que sua saída do prédio fosse feita antes da chega de eventuais repórteres e/ou pessoas que pudessem fotografar ou filmar tal deslocamento", disse o delegado.

Foi quando Lula, segundo ele, recusou-se a acompanhá-lo: "Foi dito por ele que não sairia daquele local, a menos que fosse algemado. Disse ainda que se eu quisesse colher as declarações dele, teria de ser ali", contou Flores de Lima.

"Respondi então que não seria possível fazer sua audiência naquele local por questões de segurança, pois tão logo alguém tomasse conhecimento disso, a notícia seria divulgada e poderia ocorrer manifestações e atos de violência nos arredores daquele local, o que prejudicaria a realização do ato", informou o delegado, em documento tornado público pela Justiça Federal do Paraná.

A manifestação da PF ocorre em meio à polêmica sobre a condução coercitiva de Lula determinada pelo juiz federal Sérgio Moro na sexta. O ex-presidente e aliados, como a presidente Dilma Rousseff, consideravam a medida abusiva.

O ex-presidente afirmou que se sentiu um "prisioneiro" e que compareceria espontaneamente para depor caso fosse intimidado. Dilma falou em "absoluto inconformismo" com o episódio. O ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello também se manifestou contrariamente.

No sábado (5), o juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato se manifestaram defendendo a medida.

Pelo relato do delegado da PF, Lula foi informado que, caso se recusasse a acompanhar a autoridade policial, seria então aplicada a condução coercitiva, ou seja, ele seria levado à força para depor. "Momento em que lhe dei ciência de tal mandado", diz Flores de Lima.

Após conversar com seu advogado, Roberto Teixeira, por telefone, Lula concordou em seguir para o aeroporto. "Logo depois de ouvir as orientações do referido advogado, o ex-presidente disse que iria trocar de roupa e que nos acompanharia", afirma o relatório.

A PF diz que Lula entrou numa viatura "discreta", tendo sido orientado a ficar em posição atrás do motorista, "sem aparecer entre os bancos, pois assim impediria que qualquer pessoa que estivesse na rua conseguisse captar sua imagem".

De acordo com o delegado, as perguntas e respostas do depoimento foram gravadas em áudio e vídeo para posterior transcrição. "Após a assinatura do termo [do depoimento], foi permitida a entrada no local de diversos parlamentares federais que batiam na porta e chegaram a forçar para entrar naquele recinto, durante a audiência", destacou Flores de Lima.

Primo de Bumlai é dono de parte da residência de Lula

Lula usa cobertura em São Bernardo que foi comprada por primo de Bumlai

• Aposentado que vive em Campo Grande, Glaucos da Costamarques adquiriu em 2011 imóvel vizinho a apartamento pertencente ao ex-presidente e que já havia sido alugado pelo Planalto entre 2007 e 2010

Andreza Matais, Adriano Ceolin - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Um primo do empresário José Carlos Bumlai, preso na Operação Lava Jato, é o dono de uma cobertura usada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e família no prédio onde o petista mora em São Bernardo do Campo. O imóvel foi alvo de busca e apreensão na 24.ª fase da Operação Lava Jato, após o síndico do prédio indicar aos policiais federais que o imóvel pertenceria ao ex-presidente.

Lula é suspeito de ocultar patrimônio e receber vantagens de empreiteiras envolvidas em esquema de corrupção na Petrobrás. Para os investigadores, ele seria o verdadeiro dono de um sítio em Atibaia, registrado em nome de dois empresários sócios de seu filho, e de um tríplex no Guarujá que oficialmente é da OAS.

Documentos obtidos pelo Estado revelam que Lula usa mais um imóvel em nome de outros. A cobertura número 121 do edifício Hill House fica em frente à que pertence ao petista, a 122. Nesse caso, o aposentado Glaucos da Costamarques garante que Lula lhe paga aluguel – ele é primo de Bumlai, cujo nome completo é José Carlos Bumlai da Costa Marques, e disse ter comprado o apartamento em 2011.

Essa segunda cobertura já era usada por Lula desde o primeiro ano na Presidência, em 2003. Até 2007, o PT pagou pelas despesas do imóvel para que ele guardasse o acervo que doou ao partido. No segundo mandato, o governo assumiu os custos sob a justificativa de que era necessário para a segurança do então presidente.

Glaucos nega que a compra do imóvel tenha sido um pedido de Bumlai, amigo de Lula e investigado na Lava Jato por suspeita de contratar empréstimos simulados para beneficiar o PT e de pagar parte da reforma do sítio em Atibaia. Morador de Campo Grande (MS), o primo de Bumlai disse ao Estado que adquiriu a cobertura por sugestão do advogado Roberto Teixeira. A Lava Jato investiga se Teixeira atuou para ajudar Lula a ocultar a propriedade do sítio em Atibaia.

“Eu sou amigo do Roberto Teixeira e ele me falou: ‘Olha, tem um negócio bom aqui. O governo vai parar de alugar (o imóvel) e comprando você consegue uma boa porcentagem se quiser alugar.’”

Glaucos disse que, após uma única visita à cobertura em 2011, aceitou a sugestão e desembolsou cerca de R$ 500 mil pela propriedade. Lula foi mantido como inquilino e paga R$ 4,3 mil por mês, segundo ele, por meio de transferência bancária.

No cartório, a cobertura comprada por Glaucos está registrada em nome de Elenice Silva Campos, que morreu em fevereiro de 2015. Ela vendeu o imóvel que pertencia ao marido e não pagou o imposto que permitiria a transferência do registro. O caso agora está na Justiça. O primo de Bumlai é representado por Teixeira.

Autorização. Os policiais federais só conseguiram identificar a existência da segunda cobertura porque o síndico do prédio informou que ela era usada por Lula. Ele teria indicado um terceiro apartamento. Chamou a atenção dos investigadores o fato de a ex-primeira-dama ter autorizado a busca e apreensão nos imóveis que não pertencem ao casal.

Embora alugue a cobertura para Lula há cinco anos, Glaucos disse que, “se falarem no nome dele para Lula, ele não sabe quem é”.

Em 2010, o aposentado emprestou o endereço de uma empresa que estava em seu nome, a Bilmaker 600, para que os filhos de Lula Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, e Luís Claudio Lula da Silva registrassem na Junta Comercial de São Paulo a holding LLCS no mesmo local.

Na época, a Bilmaker era controlada por Glaucos, Otavio Ramos e Fabio Tsukamoto, que eram sócios de Luís Cláudio em outra empresa. Glaucos disse ao Estado que fez o empréstimo do endereço atendendo a um pedido do primo Bumlai.

Divulgação do que Delcídio disse agita gabinetes em Brasília

Alberto Bombig - O Estado de S. Paulo

A divulgação pela imprensa de parte do depoimento do senador Delcídio Amaral (PT-MS) deu início a um intenso debate nos bastidores da política sobre os supostos interesses no vazamento. Segundo a revista IstoÉ, Delcídio iniciou com a Procuradoria-Geral da República negociações para fechar uma delação premiada na Operação Lava Jato. Ele citou vários nomes, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff. Em nota, Delcídio não confirmou o conteúdo da reportagem, mas tampouco negou as informações.

Logo após a publicação do texto, na quinta-feira de manhã, Dilma se reuniu com ministros e assessores. Ao se pronunciar, no início da noite, afirmou: “Repudiamos, em nome do Estado Democrático de Direito, o uso abusivo de vazamentos como arma política”. Naquela altura, o que se especulava em Brasília era quem havia vazado parte do depoimento e a serviço de que interesses.

Conforme apurou o Estado com um senador governista, as citações a Lula e a Dilma dão a entender que o vazamento tinha intenção de prejudicar o governo e o PT. Mas ele aponta para uma possível “operação de redução de danos”. Ciente do estrago das revelações de Delcídio, o governo teria preferido abrir parte do conteúdo para se vitimizar e atacar os “vazamentos com fins políticos”.

Essa hipótese também embutiria a tentativa de “melar”, segundo termo usado pelo senador ouvido pelo Estado, a validade jurídica do depoimento de Delcídio. Em outras palavras, para o Planalto era preferível o estrago político, devidamente consumado assim que a reportagem foi publicada, ao estrago jurídico: a homologação da delação pelo ministro Teori Zavascki, responsável pela Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

O ponto mais intrigante é a celeridade e o domínio de informações sobre o caso do advogado-geral da União José Eduardo Cardozo, ex-titular da Justiça. Ele é citado por Delcídio em suposta tentativa de barrar o avanço da Lava Jato. Na tarde de quinta-feira, Cardozo expôs uma explicação pronta e acabada para as “motivações” de Delcídio: sair da prisão e se vingar de Dilma numa só tacada.

Para observadores dos mundos político e jurídico, Cardozo foi rápido demais na construção de uma linha de defesa que deixou a desejar em termos de consistência, por exemplo, na explicação das acusações de Delcídio de que Dilma acompanhou de perto a compra da refinaria de Pasadena (EUA) e de que participou de armações para libertar no Superior Tribunal de Justiça (STJ) empreiteiros presos. Adotou uma linha eminentemente política e partiu para a desqualificação de Delcídio, que até ser preso era líder de Dilma no Senado e privava da convivência direta com a presidente. O ministro é apontado, segundo apurou o Estado, pelo próprio Delcídio como responsável pelo vazamento – Cardozo nega.

Fora da esfera da luta política, o que Cardozo e o Planalto ganhariam com a divulgação? Os acordos de delação pressupõem, entre outros, a confidencialidade e o ineditismo das informações. Assim, os advogados dos citados por Delcídio teriam um argumento forte para uma luta judicial. No entanto, no fim da noite de quinta-feira, a jornalista Renata Lo Prete, da GloboNews, revelou que Zavascki está decidido a aceitar o conteúdo do depoimento de Delcídio, apesar do vazamento.

Do ponto de vista da oposição, conforme um deputado tucano, há suspeitas de que a divulgação possa ter partido da PGR ou de pessoas com acesso ao Supremo para evitar que o caso fosse abafado pelas autoridades em benefício do governo. Nessa hipótese, a divulgação pressionaria a Lava Jato a levar adiante a apuração do que relatou Delcídio. O problema é que ninguém, além das autoridades competentes, sabe tudo o que revelou o senador que tinha muito bom trânsito no Planalto, na Petrobrás e na própria oposição.

Mercado já opera com mudança de governo

Por Claudia Safatle - Valor Econômico

BRASÍLIA - O avanço da Operação Lava-Jato abre dois caminhos para a economia brasileira: o de uma paralisia ainda maior do governo Dilma Rousseff ou o da real possibilidade de mudança. Foi com essa visão binária que os mercados reagiram, na sexta-feira, à condução coercitiva do ex-presidente Lula para prestar depoimento na Polícia Federal, em São Paulo.

A mudança seria representada por um novo governo, seja liderado pelo vice-presidente Michel Temer em caso de impeachment ou por um novo presidente eleito na hipótese de cassação, pelo Tribunal Superior Eleitoral, da chapa vencedora em 2014. Isso possibilitaria a inauguração de uma política econômica centrada no enfrentamento da crise fiscal, porém, com ganhos de credibilidade que permitissem antecipar os benefícios. Nesse caso, seria factível a interrupção do aprofundamento da recessão e a criação de condições para a retomada do crescimento pela expansão do investimento.

O comportamento dos mercados reforça essa expectativa. A possibilidade de mudança de governo tem animado a bolsa de valores e valorizado o real. Na semana passada, o Ibovespa acumulou valorização de 18%, maior variação semanal desde outubro de 2008. Já o dólar fechou sexta-feira cotado a R$ 3,759, com depreciação de 5,96% na semana. As taxas de juros também recuaram.

A valorização do real foi a primeira demonstração do ganho que haveria com a perspectiva de uma política econômica mais austera conduzida por uma nova administração. A depreciação da taxa de câmbio no ano passado foi uma das mais relevantes fontes de inflação.

O recuo dos juros negociados em contratos do mercado futuro não refletiu apenas um ganho de curto prazo na política anti-inflacionária, mas a possibilidade de reforço de credibilidade pela percepção de menor interferência política nas decisões do Comitê de Política Monetária do Banco Central ou, ainda, a própria alteração do comando da equipe econômica como um todo.

Mercado se divide sobre sentido da Lava-Jato
O avanço da Operação Lava-Jato abre dois caminhos para a economia brasileira: o de uma paralisia ainda mais grave e aflitiva do governo Dilma Rousseff ou o da real possibilidade de mudança. Foi com essa visão binária que os mercados reagiram, na sexta-feira, à condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para prestar depoimento na Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas.

A mudança seria representada por um novo governo, seja liderado pelo vice-presidente Michel Temer ou mesmo uma nova eleição, que possibilitaria a inauguração de uma política econômica centrada no enfrentamento da crise fiscal, porém, com ganhos de credibilidade que permitam antecipar os benefícios.

Nesse caso seria factível a interrupção do aprofundamento da recessão e a criação das condições para uma retomada do crescimento pela expansão, sobretudo, do investimento.

O comportamento dos mercados na sexta-feira reforçou essa expectativa. A Bolsa de Valores fechou em alta de 4,01%, aos 49.085 pontos. A valorização do real frente ao dólar, que bateu na mínima de R$ 3,65, foi uma primeira demonstração do ganho cambial que haveria com a perspectiva de uma política econômica mais austera conduzida por uma nova administração.

A depreciação do câmbio hoje é uma das mais relevantes fontes de inflação. O dólar encerrou o dia cotado a R$ 3,75.

O recuo da taxa de juros revelou não apenas um ganho de curto prazo na política anti-inflacionária, mas a possibilidade de reforço de credibilidade pela percepção de menor interferência política nas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) ou, ainda, a própria alteração no comando da equipe econômica como um todo.

Ainda é cedo para avaliar o quanto a inclusão do ex-presidente Lula nessa atual fase da Lava-Jato vai comprometer o governo Dilma. O fato, porém, é que o atual governo, já bastante frágil, se enfraquece ainda mais. O que torna mais difíceis progressos na política econômica do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, cuja base é uma reforma fiscal de mais longo prazo que depende fundamentalmente do Congresso Nacional.

Na Fazenda a decisão é prosseguir na preparação e discussão das reforma fiscal e da previdência, até porque fora dessa agenda não há muito o que fazer. Apesar da imensa dificuldade de convencer o Congresso a votar as propostas, que ainda não foram enviadas, Barbosa tem esperança de contar com o apoio dos governadores para convencer o Legislativo a aprovar algumas medidas. Aos governadores foi dada a chance de alongar o prazo de renegociação das dívidas com a União em troca de ajudarem o governo a aprovar, no Legislativo, o limite para a expansão do gasto público e a criação da banda de tolerância para a meta de superávit primário das contas públicas.

O ministro não vê alternativa senão trabalhar nessas propostas, independentemente do desenrolar das investigações da Lava-Jato e da fragilidade do governo da presidente Dilma Rousseff.

Outra medida que o ministro quer viabilizar com rapidez é a de mudanças no relacionamento do Tesouro Nacional com o Banco Central. O foco, nesse caso, é o de substituir parte do estoque das operações compromissadas do Banco Central com títulos do Tesouro por depósitos remunerados de reservas bancárias excedentes. Muda-se, assim, o instrumental para a gestão de liquidez do sistema financeiro e, como consequência, reduz-se substancialmente a dívida bruta como proporção do PIB, que é o principal indicador de solvência do país.

Trata-se, porém, de uma mudança metodológica de cálculo da dívida que não ataca a gênese da crise fiscal. Mas pode indicar que, a despeito da perigosa trajetória da dívida dos próximos anos, o seu ponto de partida estaria um pouco melhor do que parece. A substituição de títulos por depósitos remunerados permitiria descontar uma parte dos 16% do PIB de operações compromissadas do estoque da dívida de 66% do PIB.

Do lado do Banco Central, a orientação é de "observação e cautela". A política monetária conduzida pelo Copom, que na semana passada manteve a taxa Selic inalterada em 14,25% ao ano, mira o controle da inflação. Diferentemente da política fiscal e da taxa de câmbio, que estão intimamente ligadas ao ambiente político, a taxa de juros obedece mais à necessidade de ancoragem das expectativas e de redução do IPCA para 4,5% em 2017.

Ainda é cedo para avaliar o quanto a inclusão do ex-presidente Lula na atual fase da Lava-Jato vai comprometer o governo Dilma. O fato, porém, é que a atual administração, já bastante frágil, se enfraqueceu ainda mais, tornando mais difíceis progressos da política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.

Bumlai negocia com MPF delação premiada

Por André Guilherme Vieira e Letícia Casado - Valor Econômico

SÃO PAULO e BRASÍLIA - O pecuarista José Carlos Bumlai está negociando delação premiada com investigadores da Operação Lava-Jato, apurou o Valor. Preso desde novembro em Curitiba e processado por corrupção, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro, o empresário, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se reuniu com procuradores há cerca de duas semanas e foi indagado sobre a sua disposição em colaborar com a força-tarefa.

Caso faça a delação, Bumlai poderá esclarecer as suspeitas do Ministério Público Federal de que o ex-presidente Lula teria tomado conhecimento e dado "aprovação" à contratação do Grupo Schahin, sem licitação, para operação de navio-sonda da Petrobras. A contrapartida para tanto teria sido um empréstimo de R$ 12 milhões, contraído por Bumlai no banco Schahin. O pecuarista confessou ter destinado o dinheiro ao financiamento de caixa dois do PT. A confissão foi um agravante à situação criminal do empresário.

Outro ponto de interesse dos investigadores é o sítio em Atibaia (SP), que, segundo a Lava-Jato, pertence a Lula. O ex-presidente afirma que não é dono do imóvel. Uma frente da investigação apura se Bumlai intermediou pagamentos para aquisição do imóvel.

Bumlai negocia delação premiada há duas semanas
O pecuarista José Carlos Bumlai está negociando delação premiada com investigadores da Operação Lava-Jato, apurou o Valor. Preso desde novembro em Curitiba e processado por corrupção, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro, o empresário, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se reuniu com procuradores há cerca de duas semanas e foi indagado sobre a sua disposição em colaborar com a força-tarefa.

Na primeira reunião não se tratou de assuntos que Bumlai poderia delatar. Em pouco mais de 30 minutos, o pecuarista foi informado sobre o funcionamento de uma delação premiada. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, foram apresentados detalhes sobre o procedimento, que envolve o deslocamento para prestar esclarecimentos sobre fatos investigados sempre que considerado necessário pelos procuradores. Os advogados de Bumlai negam categoricamente que ele negocie delação. A lei estabelece confidencialidade até que a delação seja homologada pelo juiz.

Caso feche delação, Bumlai poderá esclarecer suspeitas da Polícia Federal (PF) de que o ex-presidente Lula teria tomado conhecimento e dado "aprovação" à contratação do Grupo Schahin, sem licitação, para operação de navio-sonda da Petrobras. A contrapartida para tanto teria sido um empréstimo de R$ 12 milhões, contraído por Bumlai no banco Schahin, e que o pecuarista já confessou ter sido destinado ao financiamento de caixa dois do PT. A confissão do crime à Polícia Federal (PF), no ano passado, foi um agravante à situação criminal do empresário.

Bumlai também poderia esclarecer, na avaliação de pessoas a par da investigação, detalhes de sua suposta intermediação junto ao ex-presidente Lula buscando a contratação da OSX pela Sete Brasil, empresa criada para a construção de 28 sondas fora do balanço da petrolífera. A negociação não deu certo, mas, segundo o Ministério Público Federal (MPF) o lobista Fernando Soares, o "Baiano", "adiantou, a título de comissão, cerca de R$ 2 milhões a José Carlos Bumlai". A destinação dada à suposta comissão não está clara.

Outro ponto de interesse dos investigadores é o sítio em Atibaia (SP), que, segundo a Lava-Jato, pertence a Lula. O ex-presidente afirma que não é dono do imóvel. Uma frente da investigação apura se Bumlai intermediou pagamentos para aquisição do imóvel na área rural da cidade, que teria Lula como real proprietário - ele nega ser o dono do sítio. De acordo com a Lava-Jato, "apurações apontam também para o fato de que o ex-presidente Lula, em 2010, adquiriu dois sítios em Atibaia mediante interpostas pessoas" no valor de R$ 1,5 milhão, pagos com dinheiro que teria origem no esquema de corrupção na Petrobras.

Bumlai foi preso em novembro, durante ações da 21ª fase da operação Lava-Jato, batizada de "Passe Livre" - menção explícita ao fato de o empresário contar com livre acesso ao gabinete do então presidente Lula.

O filho dele, Maurício Bumlai, também responde a processo penal por corrupção por suposto envolvimento em esquema fraudulento com a Schahin.

O nome de Maurício reapareceu na semana passada: a revista "Isto É" publicou que o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) o implicou em delação premiada. Delcídio teria dito que pagou R$ 250 mil à família de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras, por intermédio de Maurício Bumlai.

Ainda que tenha relutado em fazer delação, a menção ao filho deixou José Carlos Bumlai mais preocupado com o avanço da Lava-Jato sobre seus familiares.

Nomeação para Justiça corre risco no STF

• Ministro diz que Constituição impede que membro do MP, caso de Wellington Lima e Silva, vá para Executivo

O governo corre o risco de sofrer uma derrota na próxima quarta- feira, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) julgará a ação que contesta a nomeação de Wellington Lima e Silva para ministro da Justiça. O ministro Marco Aurélio Mello disse que a Constituição tem cláusula explícita que impede membros do Ministério Público de exercer cargos no Executivo, mesmo que postos em disponibilidade. Essa opinião é compartilhada por outro ministro. A nomeação de Wellington foi suspensa sexta- feira, por liminar da Justiça Federal. –

Maria Lima, Eduardo Bresciani - O Globo

BRASÍLIA- Em meio ao tiroteio político com o avanço da Operação Lava- Jato, a presidente Dilma Rousseff deve sofrer um outro revés esta semana no Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da ação que discute a nomeação de Wellington Lima e Silva para o cargo de ministro da Justiça. Ministros da Corte ouvidos pelo GLOBO criticaram a falta de cuidado na observância da legislação constitucional e confirmaram que a jurisprudência existente indica que ele só poderá ser efetivado no cargo se pedir aposentadoria ou exoneração da carreira de promotor no Ministério Público. O relator da ação impetrada pelo PPS é o ministro Gilmar Mendes, e o julgamento está marcado para a quarta- feira.

Wellington já teve a nomeação suspensa na sexta- feira passada por uma liminar da Justiça Federal do Distrito Federal, concedida com base em questionamento levantado pelo DEM. Entre os precedentes que vêm sendo citados contra o ministro consta um voto de 2007 do atual presidente da Corte, Ricardo Lewandowski. Na ocasião, o ministro se posicionara contra a possibilidade de Luiz Fernando Delazari assumir a Secretaria de Segurança do Paraná por entender ser vedado aos membros do MP ocupar cargos no Executivo.

Indicação de Jaques Wagner
O ministro Marco Aurélio Mello diz que a Constituição tem uma cláusula explícita dizendo que integrantes do Ministério Público não podem exercer cargos no Executivo, ainda que colocados em disponibilidade. Diz que, embora Wellington seja um grande quadro, perante o texto constitucional, que deveria ter sido observado antes, ele não pode ser efetivado no cargo de ministro da Justiça:

— Isso tudo implica mais desgaste para o governo. A própria forma como saiu o ministro José Eduardo Cardozo não foi positiva. Estamos vivendo tempos estranhos, em que se exige temperança e serenidade, um momento crucial em que mais que nunca tem que se guardar os princípios e valores, agindo com punhos de aço, mas com luvas de pelica.
Para o ministro do Supremo, a decisão não será tomada com o intuito de criar dificuldades para o governo.

— Ninguém tem interesse em incendiar o país. O período é muito ruim. Mas, às vezes, é preciso piorar para melhorar — disse Marco Aurélio Mello.

A polêmica diz respeito a uma alínea do artigo 128 da Constituição. O texto afirma que é vedado aos membros do Ministério Público “exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério”. A interpretação que vinha sendo aplicada até agora é que tal proibição não se aplica a membros do MP que tenham assumido antes de 1988, como é o caso do ex-ministro José Eduardo Cardozo. O problema é que Wellington só entrou no MP da Bahia em 1991.

— A jurisprudência do Supremo não é favorável, diz que ele tem de sair. Ou ele se aposenta ou pede exoneração — afirmou outro ministro do STF.

A nomeação de Wellington foi marcada por polêmica desde o início. Ele foi escolhido para substituir José Eduardo Cardozo, que vinha sob fogo cerrado do PT, inconformado pela “falta de controle” sobre a Polícia Federal. O promotor baiano foi indicado pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Wellington foi procurador-geral da Bahia por quatro anos na gestão do hoje colega de ministério.

Atuação controversa na Bahia
A atuação do novo ministro na Bahia é controversa. Parlamentares da oposição a Wagner afirmam que ele atuou como aliado fiel do governador, engavetando ações que poderiam criar embaraços à administração. Uma das ações citadas aponta que o governador teria direcionado para outros fins recursos recebidos de financiamentos internacionais que deveriam ser carimbados para ações específicas. Wellington não deu qualquer andamento à denúncia, feita em 2013.

A própria chegada do novo ministro ao cargo de procurador- geral do estado foi marcada por polêmica. Ele foi apenas o terceiro colocado na eleição realizada para o cargo pela categoria em 2010. Wagner ignorou os dois primeiros, que seriam ligados ao grupo do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e indicou Wellington. Dois anos depois, porém, o procurador- geral conseguiu ser o mais votado e foi reconduzido.

Os petistas apostavam que o fato de ele vir do Ministério Público seria um atenuante para as críticas pela saída de Cardozo, que acabou deslocado para a Advocacia-Geral da União (AGU). Esperavam que, por ter conhecimento sobre investigação, tivesse condições de verificar se existiam ilegalidades na condução da Lava- Jato. A principal cobrança que existia era sobre as supostas escutas ilegais que teriam sido instaladas na Superintendência da PF em Curitiba, alvo de sindicâncias do órgão. De lá para cá, porém, a Lava- Jato passou a ser questionada diretamente pelo partido, especialmente após a condução coercitiva do ex-presidente Lula. Caso o STF confirme a tendência de não autorizar a posse, caberá a Wellington decidir se desiste da carreira de promotor ou de ser ministro.

Mercado vê inflação de 7,59% e queda de 3,5% para o PIB em 2016

Por Ana Conceição – Valor Econômico

SÃO PAULO - As expectativas dos economistas consultados pelo Banco Central (BC) para a atividade e a inflação deste ano voltaram a se deteriorar, de acordo com o boletim Focus. A mediana das previsões para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 caiu pela sétima vez consecutiva e a previsão agora é de contração de 3,50%, ante recuo de 3,45% estimado no documento anterior. Para 2017, a projeção seguiu sendo de crescimento de 0,50% para a economia brasileira.

Na quinta-feira passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o PIB de 2015 caiu 3,8%, valor que ficou dentro do esperado por analistas. Foi o pior resultado desde a queda de 4,3% em 1990, e que deixou uma significativa herança estatística negativa de 2,50% para este ano. O cenário político extremamente adverso, os efeitos da Operação Lava-Jato, a queda no consumo das famílias, do investimento e o aumento do desemprego são fatores que afetaram 2015 e devem continuar prejudicando a atividade econômica do país neste ano, segundo os analistas consultados pelo Valor.

Apesar de forte, a queda da atividade por dois anos consecutivos ainda não será capaz de debelar a inflação. No Focus, a mediana das projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a subir, após ter recuado no relatório anterior, indo de 7,57% para 7,59%, um pouco mais de um ponto acima do teto estabelecido para este ano. A previsão em 12 meses também teve um leve ajuste, de 6,67% para 6,70% de alta. Para 2017, a previsão seguiu em 6% de aumento pela quarta semana seguida. Também continuou a mesma - em 0,95% de avanço - a estimativa para o IPCA de fevereiro, que será divulgado pelo IBGE na quarta-feira.

Quanto aos juros, as apostas foram mantidas para a taxa básica em 14,25% em 2016 e em 12,50% em 2017. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 14,25% ao ano. Novamente, a decisão não foi unânime, com dois diretores do BC, Tony Volpon e Sidnei Corrêa Marques, votando por uma alta de 0,50 ponto percentual. No comunicado, o colegiado cita as incertezas domésticas e externas para justificar a decisão.

Entre os analistas grupo Top 5 - os que mais acertam as previsões - tudo continuou igual. Não foram alteradas as medianas de médio prazo para o resultado do IPCA em 2016 (7,95%) e 2017 (6,50%) e para a Selic neste (14%) e no próximo ano (12,25%).

Roberto Freire na Globo News: Lula é ‘caso de polícia’, Dilma é a crise

• Em entrevista ao programa “Entre Aspas”, presidente do PPS afirma que solução para a crise política passa pelo Congresso, com a votação do impeachment

Por Fábio Matos – Assessoria do Parlamentar

A grave crise política enfrentada pelo Brasil neste momento só será resolvida a partir do Congresso Nacional, que deve votar o impeachment da presidente Dilma Rousseff e encerrar o governo do PT de forma constitucional e democrática. A avaliação é do deputado Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, que participou neste sábado (5) da edição especial do programa “Entre Aspas”, exibido pela Globo News.

O debate sobre o cenário político do país e a mais nova fase da Operação Lava Jato, cujo alvo principal foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também contou com a participação do deputado Carlos Zarattini (PT-SP) e foi mediado pela jornalista Mônica Waldvogel, apresentadora do programa.

- See more at: http://robertofreire.org.br/site/noticias/item/3373-freire-na-globo-news-lula-%C3%A9-%E2%80%98caso-de-pol%C3%ADcia%E2%80%99-dilma-%C3%A9-a-crise-veja-o-programa-na-%C3%ADntegra#sthash.QQtabILm.dpuf

“Eu não tenho nenhum medo da luta política. O confronto político, dentro dos limites democráticos, é da vida. A solução política está no Congresso Nacional, que já deu início ao processo de impeachment. Dilma é a crise”, afirmou Freire ao ser questionado sobre o impasse político em meio ao escândalo do petrolão e às novas revelações da Lava Jato.

“Estamos diante de um dos maiores escândalos de corrupção do mundo, não apenas do Brasil. O problema envolvendo Lula já é uma questão de polícia”, avalia o parlamentar. “A questão mais grave é a denúncia do senador Delcídio do Amaral [ex-líder do governo no Senado] de que Dilma tentou obstruir a Justiça. Se confirmada, trata-se de um grave crime de responsabilidade.”

Para o presidente do PPS, os brasileiros vêm sofrendo com “um governo incompetente que nos levou a uma grave crise econômica e culpa os outros por seus próprios erros”.

Lula

Questionado sobre o agravamento da situação de Lula, Freire ironizou a defesa do ex-presidente feita pelas principais lideranças petistas. “Lula se transformou quase em um paradoxo lulopetista. É investigado por corrupção, mas tratado pelos petistas como herói”, destacou. “Lula é um caso de polícia. Nossa questão maior neste momento é Dilma. Precisamos colocá-la para fora [do governo] democraticamente.”

Durante o debate, Zarattini tentou comparar a situação atual do PT, supostamente “perseguido” por setores da sociedade brasileira, com o que ocorreu com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que deu origem ao PPS.

“O PCB sofreu uma perseguição em uma época em que o mundo vivia a Guerra Fria. Era um momento histórico completamente diferente do que vivemos hoje, não há nenhuma relação entre eles”, esclareceu Freire. “Cometemos muitos erros, mas nunca nos enxovalhamos com a corrupção, como fez o PT.”

O fim e o começo – Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

Vivemos um momento especialmente difícil da vida nacional. Um capricho do destino combinou o agravamento da crise econômica com o pior momento do terremoto político que ameaça o governo.

De um lado, a constatação de que, na economia, a queda vertiginosa do PIB configura anos de crescimento perdido para o país. De outro, as revelações vindas à tona na Operação Lava Jato lançam luzes sobre o mundo de sombras no qual opera o grupo instalado no poder. Trata-se de uma combinação letal. De certo, não sobreviverão nem mesmo algumas biografias.

O fracasso na gestão econômica e as impropriedades cometidas pelo grupo no poder –cada dia elas estão mais expostas– não são uma invenção da oposição e nem fruto de uma conjuntura adversa. O conjunto da obra tem DNA e carteira de identidade petistas. A crise na qual estamos mergulhados é resultado de crenças equivocadas, valores desvirtuados e ambições desmedidas.

Infelizmente o PT não entende a crise, sequer a reconhece. Faz o pior: parece querer aprofundá-la, com uma sucessão de atitudes que beiram a irresponsabilidade cívica, como as pressões a favor de troca de ministros, a crítica contumaz à independência das instituições e da imprensa e a divulgação recente de um programa econômico alternativo ao do próprio governo que preside.

À deriva e maculado por escândalos cada vez mais próximos do seu núcleo de poder, este governo não está apto a restaurar a confiança essencial à reconstrução do país.

A hora que vivemos exige coragem e serenidade de todos os democratas.

Serenidade para não aceitar as provocações que nascem da intolerância daqueles que, sem argumentos, insistem em disseminar o ódio e dividir o Brasil para tentar esconder a realidade. Palavras de ordem ensaiadas não vão calar o país. Não se trata de quem grita mais ou mais alto. Os brasileiros aprenderam a ouvir uma nova voz: a da Justiça.

Coragem para continuar a busca da verdade. A sociedade não merece menos do que isso. Devemos apoiar os trabalhos do Ministério Público, da Polícia Federal e das demais instituições que zelam pela democracia. É hora de assegurar que elas continuem trabalhando sem constrangimentos, sempre nos limites da ordem constitucional. Afronta a democracia quem, dizendo agir em seu nome, quer destruir seus pilares.

Mas, apesar de tudo o que enfrentamos, nosso olhar não pode ficar refém dos dias que vivemos. É preciso enxergar mais adiante. Do encontro com a verdade nascerá um novo Brasil. Confiante, fortalecido na sua esperança como povo e nação.

Um país com credibilidade, capaz de retomar o crescimento e recuperar o respeito da nossa gente e do mundo. É nessa direção que precisamos caminhar.
------------------
Aécio Neves é senador (MG), e presidente nacional do PSDB

No meio do redemoinho – José de Souza Martins

- O Estado de S. Paulo / Aliás

O cumprimento de um mandado de condução coercitiva do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva a um recinto da Polícia Federal, no Aeroporto de Congonhas, para três horas de depoimento nas investigações da Operação Lava Jato, expôs uma novidade histórica, com a qual temos que nos acostumar. As investigações que vêm sendo feitas pela Polícia Federal preenchem requisitos de um processo, que tramita na Justiça Federal, de apuração de uma rede de corrupção política que se instalou no poder por força mesmo dos defeitos de organização do Estado brasileiro. Mas que ganhou traços inéditos no governo do PT. Tanto a corrupção que se investiga quanto a Polícia que faz a investigação e a Justiça que a ordena são também novidades animadoras da reordenação da estrutura do Estado pela Constituição de 1988, contra a qual o PT votou. Aí vemos o cenário de um país governado pelo primado das instituições convencionadas na Assembleia Nacional Constituinte.

Ninguém está isento de ser chamado para depor quando há convicção de que a pessoa intimada possa esclarecer fatos sob investigação. Luiz Inácio, cidadão comum, como qualquer um de nós, não tem prerrogativas de pessoa de exceção que o livrem dos direitos e deveres da cidadania. Nem ele nunca se considerou, até onde sei, acima da lei e do dever nem diferente por direito de nascimento. Ao contrário, Lula tem sido, historicamente, um apóstolo da extensão da igualdade à imensa massa de brasileiros habitualmente tratada como de seres inferiores e de segunda classe.

Desde antes da eleição de Lula, em 2002, ele e o PT adotaram a retórica de considerarem-se vítimas da discriminação e do preconceito das elites, assim definidos todos aqueles que não eram petistas. A retórica vem sendo revigorada nas últimas horas, com grande probabilidade de eficaz repercussão entre os indecisos e vacilantes, aqueles cujo substrato de consciência política se nutre justamente de explicações minimalistas como essa. O argumento se apoia em simplificações religiosas, maniqueístas, como a de um mundo dividido entre Deus e o diabo ou entre os pobres e os ricos. Uma pregação que partidariza sem politizar e sem esclarecer, pois os acusados desse caso são os muito ricos que infestaram o governo petista.

O PT cumpre uma função histórica. É o único partido da história republicana brasileira que estabeleceu um elo entre os humilhados e ofendidos da terra, cronicamente desprezados pela direita e pela esquerda, e o poder. Foi o PT que os transformou em protagonistas do processo político, ainda que pela via torta de um certo messianismo e do clientelismo estatizado do Bolsa Família. Se o PT sucumbir, nenhum outro partido, entre os atuais, tem competência para preencher essa função política. Lula é um político bifronte que tanto se comunica com os sofisticados petistas da USP quanto com rústicos sertanejos dos sertões do Brasil, cujo bilinguismo oculta, sob um português arcaico, estruturas de linguagem e de pensamento remanescentes da língua nheengatu.

Mesmo que a Operação Lava Jato esteja investigando corrupção no exercício do poder político, como é necessário e é de lei, convém levar em conta que a corrupção política é endêmica no Brasil republicano. A questão é compreender como ela alcançou o PT, que surgiu e chegou ao poder em nome da ética na política, mesmo que na falsa suposição de que só ele era ético.

Entre nós, a política republicana fundou-se na trama da troca de favores entre os políticos e o governo e entre os próprios políticos em nome dos interesses oligárquicos das diferentes regiões. Os fatos destes dias indicam que os fundamentos retrógrados da República estão sendo revistos. O que estamos vivendo não é propriamente a crise do PT, mas a crise da negociata como instrumento de governação. O que a Justiça Federal está fazendo, com a Operação Lava Jato, é cobrar a fatura da decência tanto nos negócios privados como na administração pública.

São os arranjos políticos de 2002, para viabilizar a eleição de Lula, que explicam os fundamentos da crise atual. O PT e Lula trataram de demolir as poderosas e invisíveis resistências a que o partido chegasse ao poder. Aderiram ao sistema de trocas de favores entre o público e o privado, que caracteriza o nosso republicanismo. No Nordeste, Lula se dirigiu elogiosamente aos usineiros de cana de açúcar, considerados inimigos por parcela ponderável de um dos grandes grupos de sustentação do partido, o dos trabalhadores rurais. Lula falou aos militares num departamento da Escola Superior de Guerra e fez o elogio da economia da ditadura, justamente a economia que havia penalizado os trabalhadores do ABC, à frente dos quais nascera o líder sindical que ele era. A Carta ao Povo Brasileiro foi o documento que formalizou a profissão de fé do partido como entidade política da conciliação com o grande capital.

No que diz respeito a Lula, é compreensível que tenha sido signatário de um documento como esse. Ele vem do sindicalismo da mesa de negociação, o sindicalismo moderno, radicalmente diferente do sindicalismo de confronto, tão característico das ações sindicais do velho Partido Comunista dos tempos do stalinismo. De modo que o Lula enviado pelos eleitores ao Palácio do Planalto para nos governar era o oposto da figura imaginária de sindicalista que os operários do ABC acreditavam ter eleito. Oposto porque diferente do radical, do homem que enquadraria o capital e o capitalismo em nome dos trabalhadores e dos pobres.

Acabou enquadrado, seu governo infiltrado por agentes dos grandes interesses.

O mesmo ocorreu com os trabalhadores rurais, representados por organizações de mediação, como o MST, nascidas nas pastorais sociais da Igreja Católica e inspiradas em valores do que Edward Thompson definiu como economia moral. Em poucos meses, o governo de Luiz Inácio começou a afastar do governo esses setores, ao mesmo tempo que foi se aproximando do agronegócio, inimigo político dos setores agrícolas populares. Lula não soube aplicar a essa coexistência tensa a mesma habilidade de negociador que desenvolvera em São Bernardo. Aos poucos, a relação dos agrorreformistas com o governo petista foi se deteriorando. Porque representava menos os que ansiavam por reforma agrária e representava mais os interesses do partido, mesmo descartado, o MST continuou fiel ao petismo. Mas o que não ganhou a devida visibilidade é que essa ambivalência do MST escondia o afastamento dos setores católicos em relação ao governo e até mesmo em relação a Lula, isso já em 2005. Não é demais lembrar que, logo após sua posse, Lula foi recebido com aplausos pelos mais de 300 bispos brasileiros na reunião da CNBB, em Itaici, um fato inédito. Por trás sobretudo dos trabalhadores rurais, estava a Igreja e estavam os católicos de base, um dos pilares do petismo. Essa relação de confiança já não existe.

Ao longo dos 13 anos de PT no governo os grupos constitutivos do partido moveram-se em torno de eixos diferentes e desencontrados: o partido perdendo popularidade e o lulismo se robustecendo. Nesses anos era fácil ver a trama do poder se apossando do PT e do próprio Lula. Quando chegou ao poder, Lula e o partido achavam que governar era uma questão de vontade política e que o presidente mandava no poder. Aos poucos descobriu que o poder manda no presidente e que sua margem de conduta autoprotetiva e verdadeiramente governante depende de uma arte que é completamente diversa dos pressupostos do maniqueísmo partidário e da retórica da porta de fábrica.

Em 2005, Luiz Inácio já se dava conta de que ele e seu partido estavam à beira do abismo aberto pelos desencontros e contradições do Estado brasileiro e pelas contradições interiores do próprio Partido dos Trabalhadores. Lula percebeu, mas os petistas não, que a sociedade brasileira, como é normal e corrente, havia mudado desde o dia 1º de janeiro de 2003, dia de sua posse. Percebeu que seu partido se distanciava do Brasil real, o Brasil que muda de modo de ser, de modo de pensar e de modo de votar. Deu uma boa indicação disso quando sugeriu que o PT deveria se aproximar da classe média e da direita e quando, até mesmo, para assegurar a eleição de seu candidato a prefeito de São Paulo, visitou Paulo Maluf em sua casa e apertou sua mão. Muitos não compreenderam que, na linguagem gestual de Lula, apertar a mão é uma coisa e abraçar é bem outra. Nesse enigma há um Lula duplo, que anunciou seu ressurgimento na sexta-feira, do meio das cinzas.
------------
José de Souza Martins é sociólogo, membro da Academia Brasileira de Letras e autor, entre outros livros, de Do PT das lutas sociais ao PT do poder (Contexto, 2016)

Efeito matrioska - Carlos Melo

• Eis uma crise dentro da crise, na qual o problema maior é a falta de líderes que acalmem os ânimos

- O Estado de S. Paulo / Aliás

O maior problema é que o fundo do poço, às vezes, é falso. E este parece ser o caso da presente crise: quem poderá dizer que a condução coercitiva do ex-presidente Lula ao depoimento no Ministério Público será o auge desse processo? Quem poderá dizer que as revelações que Delcídio Amaral ainda não admite são as mais terríveis de toda a crise que se arrasta há mais de um ano? Por quanto tempo essa crise ainda se arrastará? Ninguém poderá dizer.

Nem sequer poderá dizer que o desenlace está próximo. Só se sabe que entramos numa nova e mais agressiva fase. A presidente da República foi finalmente envolvida, o ex-presidente, mito de liderança política para muita gente, foi arrolado. Esse é o começo do fim ou o fim do começo. Entramos numa terrível turbulência – ainda mais grave do que aquela em que já estávamos – e não temos tripulação à altura para pilotar esse Boeing enorme e desorganizado que parece ser o Brasil contemporâneo. Para onde vai esse avião?

O presidente do PT conclama sua militância. Mais orgânica e disposta, ela se mobiliza rapidamente. Mas isso não significa que ela seja maior e mais influente. Também os setores de oposição, as tais das classes médias urbanas e a oposição formal, irão mobilizar suas tropas. A batalha será na opinião pública. Uma opinião pública dividida e sectarizada, lado a lado. Esse é outro problema. As escaramuças de rua poderão ficar frequentes e perigosas.

Certamente, o Congresso Nacional vai ao seu modo espelhar isso. Batalhas verbais e quetais. Os oportunistas, no entanto, é que definirão o jogo, à espreita do espírito do tempo, na dependência das oscilações das maiorias. É claro que o impeachment volta à cena. E agora não mais pelas mãos comprometidas de Eduardo Cunha. Ele, o impeachment, ganha novo destaque, que são as declarações de Delcídio. Mesmo os argumentos do PT ficam mais frágeis: Delcídio não é Cunha. Ou pelo menos era assim que o PT, Lula e Dilma o consideravam até quase ontem.

O impeachment alçou, portanto, novo voo. Gera, agora, argumentos diferentes e mais claros do que pedaladas de uma contabilidade que ninguém entende. Para a pretensão de substituir Dilma por Temer, a delação que Delcídio não assume é sopa no mel. E, ao mesmo tempo, o impeachment se torna alternativa à impugnação, que colocaria eleições na rua em 90 dias e, em sua emoção, ninguém sabe no que daria.

O fato é que o impeachment de um presidente não é brincadeira de criança. Com Collor pareceu um passeio porque Collor era Collor e não tinha raízes sociais como Lula, o PT e Dilma. Não será de uma canetada e nem de repente, sem dor. Se vier, será de um processo tortuoso e cheio de conflitos. E mais, se não vier, também será por esse mesmo processo. Ruim com Dilma, ruim sem Dilma. Ruim de qualquer modo. O País decidirá entre vários péssimos.

O fato é que o caldo entornou e entramos na crise grande, no tsunami, que está muito além das tempestades perfeitas. Não é o apocalipse, mas um brutal movimento dos solos. Terá consequências. Ninguém se iluda. E ainda há pela frente umas tantas e complexas delações, dezenas de revelações, as milhares de especulações em torno disso tudo. Não sabemos o que será, mas será realmente agitado.

Mas o maior problema de todos nem é o fundo do poço, falso ou verdadeiro. O problema é a ausência de líderes capazes de acalmar os ânimos, sentar às mesas e propor saídas. O vazio de liderança, acompanhado pela ausência de projeto, pela incapacidade de comunicação, pela fragmentação política, pela crise de representação, pela impossibilidade de diálogo, depois que todos os radicais de festim fecharam as janelas uns para os outros. O maior problema é que, possivelmente, entramos numa crise sem saber como sair dela.

É evidente que a ausência de lideranças amplifica a crise e a alonga no tempo. Faz a crise dentro da crise. Ficaremos à mercê de ventos que se debatem, de rios que se distanciam, de opiniões que não se entendem, de figuras que não são confiáveis. Não há unanimidade neste momento e nem tão cedo haverá, e esta talvez seja mais uma crise dentro crise, dentro da crise. Crises que se sucedem.
---------------------
Carlos Melo é cientista político e professor do Insper

Vazamento é a mãe - Eugênio Bucci

• A sociedade livre precisa da imprensa porque só ela, só a imprensa, vai bulir com o que o poder prefere esconder e, depois, vai contar tudo (o que seja de interesse público) para todo mundo.

- O Estado de S. Paulo / Aliás

No detalhe do detalhe, o espírito da coisa toda. Você pode achar que a compreensão que as autoridades têm – ou não têm – da palavra “vazamento” é um mero e insignificante detalhe no meio dessa confusão convulsionada em que se converteu o País. Você pode achar que, enquanto as paredes da República despencam sobre cabeças ocas, ninguém vai querer se ocupar dos significados desse termo, “vazamento”. Qual a relevância disso? De fato, há temas bem mais urgentes, mais vitais, a merecer a atenção da cidadania. No entanto, os detalhes...

Este detalhe, por exemplo: o sentido da palavra “vazamento”. Se olharmos bem para esse mínimo detalhe, veremos que aí repousa, intacto, o espírito da coisa toda. O que é que o governo federal pensa sobre a imprensa? A resposta não está nos grandes movimentos, nas solenidades pomposas, nas performances midiáticas, desde as mais espetaculosas até as mais desastradas. Quem quer entender o que vai na cabeça dos estrategistas do Planalto sobre imprensa não deve se iludir com o jogo de cena das gravatas e dos tailleurs – deve seguir a trilha da palavra “vazamento”.

Vamos atrás dessa trilha. Depois que a revista semanal Isto É foi às bancas na quinta-feira com os termos da delação premiada do senador petista Delcídio Amaral, ex-líder do governo no Senado, autoridades federais das mais altas patentes iniciaram sua pregação contra o “vazamento”. Na visão delas, o que sai na imprensa sobre a corrupção praticada por réus mais ou menos ligados ao governo não decorrem do trabalho de reportagem, de esforço de apuração, do talento e da determinação de profissionais maduros. Tudo resulta daquilo que servidores da Polícia Federal, do Ministério Público ou do Judiciário “vazam” com as piores intenções deste mundo.

Na visão dos adeptos desse discurso fanatizante do governo federal, repórteres apenas recebem passivamente o “vazamento” e depois vão cuidar de estampá-lo nos jornais, com espalhafato e sensacionalismo, sem pensar nas consequências. Para as autoridades federais, jornalistas não investigam, não pesquisam, não entrevistam, não raciocinam, não escolhem, não hierarquizam as informações que publicam. Na narrativa oficial do Palácio do Planalto, que agora elegeu a entidade do “vazamento” como a grande culpada pela crise brasileira, a imprensa não passa de uma central de “office boys” a serviço da intriga, um bando de moleques de recados, um correio deselegante sem discernimento crítico e sem responsabilidade social. É assim que, quando falam em “vazamento”, essas autoridades ofendem o jornalismo.

Um bom exemplo dessa mentalidade pode ser encontrado na nota oficial da Presidente da República divulgada na quinta-feira. Vamos ao texto:

“Os vazamentos apócrifos, seletivos e ilegais devem ser repudiados e ter sua origem rigorosamente apurada, já que ferem a lei, a justiça e a verdade. Se há delação premiada homologada e devidamente autorizada, é justo e legítimo que seu teor seja do conhecimento da sociedade. No entanto, repito, é necessária a autorização do poder Judiciário. Repudiamos, em nome do Estado Democrático de Direito, o uso abusivo de vazamentos como arma política. Esses expedientes não contribuem para a estabilidade do País.”

Francamente, as recentes declarações presidenciais sobre “mulher sapiens” e “pernilonga” eram mais inteligentes. Há mais fundamento científico no conceito de “pernilonga” do que há conhecimento sobre a história da imprensa na democracia nas considerações que ela assinou sobre os “vazamentos”.

Não há dúvida de que um agente policial que entrega a um repórter um documento sigiloso da instituição em que trabalha incorre numa prática irregular ou mesmo criminosa (quando essa conduta corresponde a um tipo penal devidamente descrito na lei). Um segredo policial deve ser guardado pelos funcionários públicos que trabalham com ele. Do mesmo modo, um segredo de Justiça deve ser mantido em sigilo por aqueles que, no poder Judiciário, dele se ocupam. Segredos de Estado, sob guarda do Executivo, são resguardados por mecanismos institucionais análogos. Quando um servidor do Estado, em qualquer esfera estatal, comete o deslize de contrabandear uma informação sigilosa a ele confiada, seu ato deve ser investigado, julgado e, se condenado, punido. Até aí, estamos todos de acordo.

O problema começa quando estendemos o mesmo raciocínio para enquadrar os repórteres. Não dá certo. Essa lógica, que vale para o servidor público encarregado de tomar conta de segredos legalmente definidos como segredos, não vale para a imprensa. Ao contrário: se é papel do agente público zelar pela proteção de um ou outro sigilo, o papel da imprensa é o oposto. Ela deve – no sentido de ter o dever de – ficar de olho no poder e trabalhar para descobrir os segredos do poder. Ao descobri-los, deve avaliar a necessidade e a pertinência de torná-los públicos. Eis aí o núcleo do trabalho mais essencial da instituição da imprensa livre. O que é uma notícia senão um segredo revelado?

Até podemos chamar de “vazamento” a informação sigilosa que desliza, por algum motivo, para fora do âmbito de controle do poder, mas não podemos chamar de “vazamento” uma reportagem, mesmo que, para a realização dessa reportagem, possa ter sido usado o conteúdo informativo de um “vazamento”. O nome de reportagem é reportagem. Chamá-la de vazamento é injuriá-la. Reportagem é fruto do trabalho de repórteres. “Vazamento” é um conceito hidráulico que designa também o movimento da informação que escapa clandestinamente de uma esfera encarregada de mantê-la para um domínio ao qual ela não estava originalmente destinada. Chamar de “vazamento” uma reportagem para a qual contribuíram diversas equipes de profissionais é desqualificar e desrespeitar essas equipes. Quem insiste em chamar o trabalho da imprensa de colagem de vazamentos está interessado em confundir a opinião pública.

Não é só isso, infelizmente. Olhemos a questão com um pouco mais de detalhismo. O que é que a presidente quer dizer com “uso abusivo de vazamentos como arma política”? Ela por acaso acredita que alguma grande reportagem, grande no melhor sentido da palavra, uma reportagem que tenha ferido o nervo do poder, não contou com informações cedidas por pessoas ou grupos que tinham o objetivo de derrotar os interesses de outras pessoas e outros grupos, usando a informação como “arma política”? Escolha uma grande cobertura, qualquer uma, e você verá que a resposta é não. É sempre não.

Podemos pensar na sequência de boas reportagens (de vários órgãos de imprensa) que, em 1992, culminou com o afastamento do então presidente da República Fernando Collor de Mello. Em 1992, Pedro Collor, irmão do então chefe de Estado, deu sua famosa entrevista à revista Veja em que acusava o presidente de usar o tesoureiro de sua campanha como testa de ferro, além de outros abusos. Como Pedro Collor não provava nada, absolutamente nada do que dizia (e muitos dos que hoje querem expulsar Delcídio do PT aplaudiam de pé a revista que o entrevistou), é o caso de perguntar: ele não estava em guerra aberta contra o irmão? Não estava usando suas declarações como “arma política”?

Mudemos agora de país sem mudar de assunto. Será que o “Garganta Profunda”, a fonte que abasteceu Bob Woodward, do Washington Post, com pistas mais que privilegiadas sobre o escândalo de Watergate, no início dos anos 70, não estava usando e abusando de “vazamentos como arma política”? Estava, sim senhor. Nixon teve de renunciar em 1974, sem que fosse revelada a identidade daquela fonte fundamental. Somente três décadas depois é que se soube: “Garganta Profunda” era William Mark Felt, nada menos que o número 2 do FBI no governo Nixon. Ele só falou o que falou porque se ressentiu de não ter sido promovido a número 1.

Existe alguma fonte decisiva, em alguma cobertura decisiva, que fira o poder de verdade, que não esteja em guerra contra alguém? Existe alguma fonte só com boas intenções? Claro que não. No entanto, Dilma Rousseff e seus porta-vozes querem levar o Brasil inteiro a acreditar que sim.

Segundo a narrativa palaciana, os jornalistas só fazem aquilo que o poder Judiciário autoriza e só escutam fontes que não usam suas informações como “arma política”.

Na vida real das democracias, o ideal do jornalismo é o contrário. Jornalistas entrevistam gente descontente, gente que se sentiu ultrajada, gente com sede de vingança. O papel do jornalista é ouvir, com atenção absoluta, e então separar o que é rancor e ódio do que é de genuíno interesse público. Esse julgamento – que não é simples de fazer, e que o Judiciário é incompetente para fazer, em todos os sentidos – é o julgamento que só a imprensa pode fazer.

A sociedade livre precisa da imprensa porque só ela, só a imprensa, vai bulir com o que o poder prefere esconder e, depois, vai contar tudo (o que seja de interesse público) para todo mundo. Sem a profissão de jornalista, o totalitarismo triunfaria, seja sob Nixon, sob Collor ou sob Dilma. A sociedade precisa da imprensa porque só a imprensa tem compromisso não com os segredos do poder, mas com o direito à informação do cidadão. No dia em que abaixar a cabeça para os critérios editoriais de magistrados ou para as teorias jornalísticas desse pessoal que anda em Brasília, a imprensa terá morrido.

Você pode dizer que jornalistas erram, e terá razão. Todo tipo de agressão, desgraçadamente, é perpetrada em nome do direito de informar. Há páginas de vergonha na imprensa brasileira, e não são poucas. Mas não caiamos na ilusão de que o caminho para o bom jornalismo está na obediência à autoridade. Por melhor que esta seja. É graças ao jornalismo livre, por pior ele tenha sido, que os cidadãos têm conseguido saber sobre os crimes dos poderosos. É graças aos vazamentos e, ainda mais, graças a alguns jornalistas excepcionalmente bons, que não se curvam.

-------------------
Eugênio Bucci é jornalista, professor da USP