terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Opinião do dia – Aécio Neves

Houve muita picaretagem na campanha, mas para mim essa Operação Acarajé é o que de mais grave ocorreu até aqui em níveis de contaminação da presidente Dilma e sua campanha. A operação é a comprovação de que houve dinheiro desviado da Petrobras através do operador Zwi Skornicki.
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Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB

Prisão de marqueteiro de Lula e Dilma alarma Planalto

• Santana recebeu US$ 7,5 milhões no exterior

• Para Moro, dinheiro está vinculado a campanhas do PT

• Acusado reage: país vive clima de perseguição

Publicitário das duas campanhas de Dilma Rousseff à Presidência e da de reeleição do ex-presidente Lula, João Santana e sua mulher, Mônica Moura, tiveram a prisão decretada ontem pela Operação Acarajé, 23 ª fase da Lava- Jato. Santana é suspeito de receber US$ 7,5 milhões ilegalmente no exterior, parte enviada pela Odebrecht. No Planalto, ministros próximos à presidente classificaram a situação como “grave e muito ruim” para o governo. O PSDB vai pedir ao TSE que anexe a investigação ao processo contra a campanha de 2014 de Dilma. Para o juiz Sérgio Moro, Santana e a mulher sabiam que os recursos recebidos no exterior, atribuídos por ele a serviços prestados ao PT, tinham origem espúria. O marqueteiro, que estava a trabalho na República Dominicana, disse que as acusações são infundadas e lamentou “clima de perseguição”.

A vez do marqueteiro

• Decretação da prisão de João Santana assusta Planalto; oposição quer incluir provas em ação no TSE

Simone Iglesias, Maria Lima, Isabel Braga Leticia Fernandes - O Globo

- BRASÍLIA- A decretação da prisão do marqueteiro João Santana deixou o Palácio do Planalto muito preocupado ontem. Santana é o alvo principal da 23 ª fase da Operação Lava- Jato, que apura pagamentos irregulares no exterior ao marqueteiro por empreiteiros que mantinham contratos com a Petrobras, como a Odebrecht. Ele só não foi preso ainda porque está na República Dominicana a trabalho, mas avisou que voltará ao Brasil para se entregar à Polícia Federal.

A situação foi descrita por ministros e assessores próximos da presidente Dilma Rousseff como “grave e muito ruim” para o governo. Além de marqueteiro das duas campanhas da presidente, Santana é uma das pouquíssimas pessoas em quem Dilma confia plenamente, e única que ela ouve antes de qualquer exposição pública relevante, como anúncio de medidas e pronunciamentos de TV. Por isso, a simbologia da possível prisão do marqueteiro e de sua mulher e sócia, Mônica Moura, é considerada péssima para o governo.

— Ele é a pessoa que mais cuida da imagem de Dilma. E essa prisão, com ou sem motivo, afeta diretamente essa imagem. É péssima — resumiu um assessor do Planalto próximo à petista.

Moro ressalta vinculação
Além da preocupação com a imagem de Dilma e do governo, a avaliação é de que a decretação da prisão, com direito a alerta vermelho da Interpol, poderá ser mais um combustível no pedido de impeachment de Dilma, que já parecia assunto superado para o Planalto, além de influenciar o julgamento das ações do PSDB contra a presidente que tramitam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os partidos de oposição anunciaram que hoje vão pedir ao TSE a inclusão do assunto na investigação contra Dilma.

O PSDB enviará uma petição à ministra Maria Thereza, relatora da ação de impugnação do mandato da chapa Dilma/ Michel Temer no TSE, para que as provas da Operação Acarajé, como a PF batizou a 23 ª fase da Lava- Jato, sejam anexadas ao processo. O PSDB vai pedir também que seja colhido o depoimento do operador Zwi Skornicki, suspeito de repassar a Santana US$ 4,5 milhões em contas no exterior entre 2012 e 2014, de recursos desviados da Petrobras.

Para o juiz Sérgio Moro, “é extremamente improvável que a destinação de recursos espúrios e provenientes da corrupção na Petrobras” a Santana e sua mulher, no exterior, esteja “desvinculada dos serviços que prestaram à aludida agremiação política”. Segundo o juiz, “por mais que tenha declarado ao Fisco” os valores, o casal “tinha conhecimento da origem espúria dos recursos” e ocultou valores no exterior “mediante expedientes notoriamente fraudulentos”.

Apesar do temor que se abateu sobre os governistas, em sua defesa o Planalto vai alegar que não há prova alguma de que exista vínculo do dinheiro dado pela Odebrecht a Santana no exterior com a campanha à reeleição de Dilma.

— Precisa ter vínculo e, até agora, não há vínculo das contas dele com a campanha dela — afirmou um ministro.

O presidente do PT, Rui Falcão, disse que as denúncias não afetam o PT e que a legenda “não tem marqueteiro”, apenas contrata pessoas para produzir seus programas partidários.

— Não diz nada com relação ao PT. Quem acusa tem que provar, continuo defendendo que as pessoas são inocentes até que se prove o contrário — disse Falcão. — O PT não tem marqueteiro, contrata as pessoas para fazerem programas.

Falcão comparou com a situação do PSDB, dizendo que as doações de campanha feitas à legenda foram legais e apresentadas à Justiça Eleitoral, e que as transações foram “muito semelhantes” às realizadas pelos tucanos.

Segundo relatos, apesar da nova crise, Dilma está “tranquila” porque pagou legalmente ao marqueteiro por seus serviços durante a campanha de 2014. Dos R$ 318 milhões gastos para reelegê- la, R$ 89 milhões foram pagos a Santana. O auxiliar diz que não houve pagamentos por meio de caixa dois.

A última participação de Santana aconteceu no pronunciamento de Dilma sobre o vírus zika, este mês. O pronunciamento foi gravado pela equipe de Santana. O texto teve o dedo do marqueteiro. Na abertura do ano Legislativo, Santana colaborou no discurso e no convencimento da presidente de que seria importante ir ao Congresso.

— Ficou muito claro que a campanha da presidente Dilma veio para dentro da Lava- Jato com a prisão de seu marqueteiro João Santana — disse o coordenador jurídico do PSDB, Carlos Sampaio, que decidiu pedir ao TSE a juntada das novas provas, em conjunto com o presidente do partido, Aécio Neves.

Aécio: "Mudança de patamar"
Aécio disse que a apresentação do conjunto de provas documentais na Operação Acarajé irá “mudar de patamar” o julgamento da ação no TSE.

— Houve muita picaretagem na campanha, mas para mim essa Operação Acarajé é o que de mais grave ocorreu até aqui em níveis de contaminação da presidente Dilma e sua campanha. A operação é a comprovação de que houve dinheiro desviado da Petrobras através do operador Zwi Skornicki — disse Aécio.

Segundo o tucano, durante a disputa eleitoral ele percebia “que tinha dinheiro demais” circulando na campanha da adversária, a começar pelos valores pagos a João Santana, cerca de R$ 90 milhões.

O líder do PT na Câmara, Afonso Florence ( BA), disse que agentes públicos estão agindo de forma parcial para tentar encontrar provas que incriminem Dilma e o ex- presidente Lula:

— Certamente instituições de Estado devem investigar, mas tem gente vestindo a camisa do PSDB quando passou em um concurso para agir em nome do Estado e está agindo em nome de interesses políticos específicos.

Segundo o advogado da campanha de Dilma, Flávio Caetano, foi pago ao marqueteiro dinheiro legal e contabilizado:

“Este valor, por si só, demonstra que o pagamento feito ao publicitário se deu de forma legal e absolutamente transparente”, escreveu Caetano, em nota. (Colaborou Catarina Alencastro)


Mulher de Santana tentou apagar em bilhete nome de empresa offshore

• Marqueteiro se queixa de perseguição e diz que acusações ‘ são infundadas’

- O Globo

BRASÍLIA, RIO e CURITIBA - Para pedir a prisão do marqueteiro João Santana, que comandou as últimas três campanhas do PT ao Planalto — a do ex- presidente Lula em 2006 e as da presidente Dilma em 2010 e 2014 — a Polícia Federal descobriu que o publicitário recebeu US$ 7,5 milhões em uma conta não declarada na Suíça. Os pagamentos saíram de empresas offshores controladas pela construtora Odebrecht e pelo operador de propina Zwi Skornick, que foi preso ontem na casa dele, no Rio. Para a Lava-Jato, o dinheiro foi desviado da Petrobras.

As investigações contra Santana partiram de um bilhete apreendido na casa de Zwi Skornick no ano passado. O papel assinado pela mulher e sócia do publicitário, Mônica Moura, orientava sobre como o operador deveria ter feito um contrato: “Apaguei, por motivos óbvios, o nome da empresa. Não tenho cópia eletrônica, por segurança”, escreveu Mônica. Apesar do cuidado, o nome da empresa não foi bem apagado no documento, e a força-tarefa da Lava- Jato conseguiu identificar o nome das offshores Klienfeld e Innovation, as mesmas usadas pela Odebrecht para efetuar pagamentos de propina no exterior a ex- diretores da Petrobras.

Junto com o bilhete, Mônica enviou também os números das contas onde Zwi deveria fazer os depósitos. Uma delas era da offshore ShellBill Finance, constituída no Panamá e com conta na Suíça. Foi nela que o operador pagou US$ 4,5 milhões a Santana, entre abril de 2013 e novembro de 2014. A conta também recebeu US$ 3 milhões da Klienfeld e da Innovation, entre abril de 2012 e março de 2013.

No despacho de prisão, o juiz Sérgio Moro disse que a conta ShellBill foi usada para transferir recursos à filha de João Santana, que mora nos Estados Unidos. Suria Santana recebeu US$ 442 mil entre 2008 e 2015, e o marido dela, Matthew Pacinelli, US$ 75 mil em 2009.

Na República Dominicana
Santana e Mônica tiveram prisão temporária decretada. Os dois estavam na República Dominicana, onde comandavam uma campanha de reeleição do presidente Gabriel Medina. Através de advogados, o casal informou à Justiça que chega hoje a São Paulo para se entregar à PF. Os dois foram incluídos na lista vermelha da Interpol. Moro decretou o bloqueio de até R$ 100 milhões de Santana, da mulher e das duas empresas de publicidade do casal, a Pólis, que fez a campanha de Dilma, e a Santana & Associados.

Ao saber do pedido de prisão, o marqueteiro renunciou ao comando da campanha de de Medina. Na carta que encaminhou ontem ao comitê nacional do Partido de la Liberación Dominicana ( PLD), o publicitário assumiu a própria defesa e disse que o Brasil está vivendo um clima de “perseguição” e que as acusações contra ele “são infundadas”.

Os demais alvos da operação são ligados à Odebrecht. O principal deles é Benedito Barbosa, atual presidente da construtora, acusado de comandar o pagamento de propinas no exterior ao lado do empresário Marcelo Odebrecht, que está preso e foi transferido para a sede da PF de Curitiba ontem.

Outros dois executivos da Odebrecht tiveram prisão temporária decretada: Hilberto Silva, que assinou uma das contas usadas pela construtora na Suíça, e Fernando Migliaccio. De acordo com os investigadores, Migliaccio era o principal gerenciador das contas usadas pela empreiteira no exterior para pagar propina. Quando Marcelo Odebrecht foi preso, em julho do ano passado, Migliaccio e a família foram morar nos Estados Unidos. Para acelerar o processo, a Odebrecht teria cuidado da obtenção de vistos e da escolha da casa onde morariam nos Estados Unidos.

Segundo Moro, uma planilha controlada por Migliaccio retrata pagamentos a João Santana e ao PT e “há fundada suspeita de que esses pagamentos são ilícitos”, considerando que a função dele era administrar as contas secretas da Odebrecht usadas para repasses de propinas a agentes públicos. Moro também bloqueou até R$ 50 milhões de Zwi e R$ 25 milhões de Migliaccio.

O juiz afirma no despacho que os valores seriam “doações eleitorais subreptícias”, comparando os pagamentos a João Santana aos que foram feitos a João Vaccari Neto, ex- tesoureiro do PT preso na Lava- Jato. Moro lembra que uma das anotações de Marcelo Odebrecht — “900 via Bonus PT” — em setembro de 2010, mostrou correspondência com o registro de doação oficial ao PT no valor de R$ 900 mil feita naquele mês. No caso, “bônus” seriam as doações oficiais.

Em nota, a defesa de Santana informou que vai mostrar que todos os valores recebidos no exterior estão ligados a campanhas realizadas por ele fora do país. Também em nota, a Odebrecht informou que a empresa só vai se manifestar nos autos.

PF diz que Lula deve ser investigado

•Delegado fala em 'possível envolvimento em práticas criminosas' na relação com a Odebrecht

Relatório da PF afirma que o ex- presidente Lula precisa ser investigado, “com parcimônia”, pelo “possível envolvimento em práticas criminosas”. Documentos apreendidos na Odebrecht, segundo a PF, mostram valores associados à inscrição “Prédio IL”, que, para os investigadores, seria Instituto Lula. Os valores seriam referência a R$ 12,4 milhões supostamente gastos em obras. No celular de Marcelo Odebrecht havia menção a “prédio novo”. Em nota, o Instituto Lula argumentou que em 2010, “ano indicado na planilha” apreendida, a entidade ainda não existia.

PF aponta ‘ possível envolvimento’ de Lula em ‘ práticas criminosas’

• Relatório liga gasto da Odebrecht a instituto do ex- presidente, mas diz que pode haver equívoco

lávio Freire, Tiago Dantas - O Globo

 SÃO PAULO-Relatório da Polícia Federal diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ser investigado “com parcimônia” pelo “possível envolvimento em práticas criminosas”. O documento, revelado durante a 23 ª fase da Operação Lava- Jato, coloca sob suspeita o financiamento de obras do prédio do Instituto Lula, em São Paulo, feitas pela Odebrecht.

Segundo a PF, R$ 12,4 milhões foram gastos na obra. Ao analisar documentos apreendidos na empreiteira, a polícia identificou como sendo Instituto Lula a sigla “IL”, que aparece em uma planilha. Diz o texto dos investigadores: “Em relação à anotação ‘ Prédio ( IL)’ e ao valor a ela referido de R$ 12.422.000,00, (...) a Equipe de Análise consignou ser possível que tal rubrica faça referência ao Instituto Lula”.

“O possível envolvimento do ex-presidente da República em práticas criminosas deve ser tratado com parcimônia, o que não significa que as autoridades policiais devam deixar de exercer seu mister constitucional”, diz o relatório.

A sigla “IL” aparece em planilha criada em 2 de agosto de 2010 por Maria Lucia Guimarães Tavares. De acordo com a PF, a administradora tinha um telefone criptografado para conversar com Marcelo Odebrecht e auxiliava o presidente da empresa “nas suas práticas criminosas”. O documento foi salvo pela última vez em 31 de julho de 2012 por Fernando Migliaccio da Silva, administrador de contas offshores.

Chamou a atenção dos investigadores a indicação na planilha que o valor foi dividido: três parcelas de R$ 1.057.000, e outras de R$ 8.217.000 e 1.034.000.

“Valores ‘ quebrados’ foram identificados em duas situações: quando a vantagem indevida era calculada a partir de percentuais — no caso dos contratos da Petrobras — e quando a vantagem se travestia na disponibilização de serviços, bens e outras benesses passíveis de serem valoradas precisamente”, afirma o texto.

Os policiais dizem que, seguindo essa lógica, “caso a rubrica ‘ Prédio ( IL)’ refira- se ao Instituto Lula, a conclusão de maior plausibilidade seria a de que o Grupo Odebrecht arcou com os custos de construção da sede da referida entidade e/ ou de outras propriedades pertencentes a Luiz Inácio Lula da Silva”. Mas o texto alerta que as conclusões “podem estar equivocadas” e sugere que o depoimento de pessoas investigadas nesta fase da operação possa ajudar a revelar o significado de cada uma das anotações.

Os investigadores tentaram cruzar a planilha com informações encontradas em blocos de notas do celular de Marcelo Odebrecht. Não há nenhuma menção à sigla IL, mas a palavra prédio aparece algumas vezes. Em 22 de outubro de 2010, há uma referência a “prédio novo”, mas sem detalhes do que poderia ser. A outra citação é de 9 de janeiro de 2013.

Por fim, a PF afirma que “a investigação não se presta a buscar a condenação e a prisão de ‘ A’ ou ‘ B’. O ponto inicial do trabalho investigativo é o de buscar a reprodução dos fatos. (...) Se os fatos indicarem a inexistência de ilegalidades, é normal que a investigação venha a ser arquivada”.

Em nota, o Instituto Lula refutou as acusações: “O Instituto Lula ( IL) foi fundado em agosto de 2011, na mesma casa onde antes funcionava o Instituto Cidadania, ao qual sucedeu, e antes desse o IPET ( Instituto de Estudos e Pesquisas dos Trabalhadores). A sede fica em um sobrado adquirido em 1991. Em 2010, ano indicado na planilha, o Instituto Lula não existia ainda. Tanto o Instituto Lula quanto o Instituto Cidadania não construíram nenhum prédio”.

A Odebrecht disse que não conhece os termos do inquérito e que não poderia se manifestar.

PF diz que marqueteiro ‘possui proximidade’ com Dilma e ‘influência sobre as ações’ de Lula

• Quebra do sigilo de e-mal de João Santana, alvo da Operação Acarajé, mostra que autoridades o procuram frequentemente para fazer contatos com a presidente e com o ex-presidente

Por Ricardo Brandt, Mateus Coutinho e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

Relatório de análise de uma conta de e-mail do publicitário João Santana – cujo sigilo foi afastado por decisão judicial – revela, na avaliação da Polícia Federal, que o marqueteiro ‘possui relação de muita proximidade’ com a presidente Dilma Rousseff e “possui certa influência sobre as ações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.

O documento, de 21 de janeiro, foi encartado pela Polícia Federal nos autos da Operação Acarajé, deflagrada nesta segunda-feira, 22, com ordem de prisão contra Santana, sua mulher, Monica Regina Cunha Moura, e outros investigados.

Santana foi o marqueteiro da campanha da reeleição de Lula à Presidência (2006) e das duas campanhas de Dilma, em 2010 e em 2014.

O relatório da PF não faz nenhuma acusação, nem levanta suspeitas sobre os interlocutores do marqueteiro. Apenas transcreve as mensagens contidas no e-mail para demonstrar ‘os vínculos pessoais dos investigados (Santana e a mulher) com membros do alto escalão do Governo Federal e do Partido dos Trabalhadores’.

O rastreamento pegou, por exemplo, diversas mensagens trocadas entre João Santana e Roberto Mangabeira Unger, ex-ministro de Assuntos Estratégicos.

No dia 25 de outubro de 2015, Mangabeira mandou mensagem para Dilma, usando o endereço eletrônico do marqueteiro. “Senhora presidente. Renovo meu pedido de audiência – se for possível na segunda-feira, 9 de novembro, ou na terça-feira, 10 de novembro, quando estiver em Brasília desde as 7 da manhã daquela segunda-feira, vindo dos Estados Unidos. Ficarei, senhora presidente, triste e inconformado se não puder levar adiante a colaboração que a senhora me propôs. As dificuldades por que passam o país e o governo só reforçam o meu desejo de ajudá-la.”

O ex-ministro diz que tem uma sugestão para qualificação do ensino, “ao produtivismo includente e ao sistema de gestão e controle”.

Ele completou. “Estou à disposição, senhora presidente. Não desejo cargo nem remuneração. Desejo apenas tarefa.”

O delegado da PF Filipe Hille Pace, que subscreve o relatório, anotou. “A conclusão possível de ser tirada da simples leitura das mensagens trocadas é a de que Roberto Mangabeira Unger utiliza João Santana para repassar mensagens à Presidente da República. Além disso, pede, explicitamente, que o investigado (Santana) interceda junto à Presidente em seu favor, solicitando, inclusive, que João Santana empreenda esforços a fim de viabilizar um encontro pessoal entre Mangabeira e Dilma Rousseff.”

Em outro trecho, o relatório policial diz que “nas mensagens corrobora-se a conclusão já alcançada de que João Santana possui relação de muita proximidade com a Presidente da República, sendo indicado por ela, através de ministros e de assessores, para tratar de assuntos relevantes para o governo federal, dentre elas a CPMF e as Olimpíadas de 2016″.

“Edinho Silva, Ministro de Estado, é quem trata com maior frequência dos assuntos de interesse da Presidente Dilma Rousseff”, destaca o relatório da PF.

No dia 19 de novembro de 2015, Edinho escreveu para o marqueteiro. “Estou enviando uma proposta de peças para as Olimpíadas e um resumo da pesquisa em que os conceitos foram testados. A Presidente pediu que eu ouvisse sua opinião sobre o que seria uma campanha para as Olimpíadas (essa ideia ou outra). Tomei a liberdade de mandar o que já temos, mas podemos começar do zero. Aguardo sua opinião. Abraço, Edinho.”

“Além do evidente acesso que João Santana possui junto à Presidente da República, outra mensagem trocada com Roberto Mangabeira Unger demonstra que o investigado também tem acesso exclusivo ao ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva”, pontua o relatório da Acarajé.

No dia 15 de novembro, Mangabeira envia recado para Lula, via e-mail de João Santana.

O ex-ministro comenta sobre textos que publicou na imprensa e se queixa de não ter recebido atenção da presidente. “Presidente Lula, foi um enorme prazer vê-lo em São Paulo. O texto ‘produtivismo includente: empreendedorismo vanguardista’, que reúne propostas para libertar o impulso empreendedor no país. Entreguei-o à Presidente em julho. Não obtive dela qualquer reação. A maior parte destas propostas não custa um único centavo. São de mudanças de regras e de regime. Estas propostas foram discutidas com Deus e o mundo – inclusive amplamente com o empresariado. Só não foram discutidas com a Presidenta, que não demonstrou qualquer interesse por elas.”

“Observa-se, pelo início da mensagem de Mangabeira, que ele encontrou pessoalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, ao que parece, havia prometido que encaminharia alguns textos”, assinala a PF. “Curioso é que Mangabeira, para encaminhar os textos ao ex-presidente, enviou-os para o e-mail de João Santana. A conclusão lógica é que o investigado (Santana) também possui relação extremamente próxima com Luiz Inácio Lula da Silva até os dias atuais. O mesmo tipo de relação é partilhado com a atual Presidente da República.”

Em mensagem, de 29 de novembro de 2015, José Manuel De La Sota, ex-governador de Córdoba, na Argentina, solicita a João santana ‘reunião reservada’ com Lula. Segundo a PF, La Sota quer tratar da situação política da Argentina e da posição do presidente Maurício Macri na reunião do Mercosul que aconteceria em 21 de dezembro de 2015.

“José Manuel indaga ao investigado (Santana) se ele considerava que o encontro pretendido seria interessante”, diz o relatório da PF.

No dia seguinte, o marqueteiro apresentou sua posição a La Sota. “Pelo teor da resposta, verificamos que o investigado João Santana possui certa influência sobre as ações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma vez que expõe ao ex-governador de Córdoba que, por mais que não considere bom o momento para a realização da reunião pretendida por ele – pois o “presidente Lula está sob uma carga muito forte da ação adversária (…)”, o avisará tão logo entenda que o momento venha a ser oportuno”, diz a Polícia Federal.

“O presente relatório foi produzido com o fim de subsidiar a investigação conduzida em face de João Santana e Monica Moura, notadamente para tentar comprovar a existência de ativos oriundos de corrupção mantidos ilicitamente no exterior, demonstrar o intenso fluxo migratório dos investigados, demonstrar os vínculos pessoais dos investigados com membros do alto escalão do Governo Federal e do Partido dos Trabalhadores e comprovar que os investigados estão cientes de que podem ser objeto de investigação por fatos apurados na Operação Lava Jato contratando profissionais para fornecimento de atualizações quanto a divulgação de tais fatos nos mais diversos veículos de comunicação e também por contatos mantidos com pessoas politicamente expostas.”

‘Excepcional é o grau de deterioração da coisa pública’, diz Moro ao mandar prender João Santana

• Ao deflagrar Operação Acarajé, 23ª fase da Lava Jato, juiz federal rebate críticas de defensores de alvos da investigação e afirma que 'País já paga um preço elevado, com várias autoridades públicas denunciadas, comprometendo a democracia'

Por Ricardo Brandt, Andreza Matais e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

O juiz federal Sérgio Moro rebateu com veemência as críticas que a Operação Lava Jato tem recebido de advogados e juristas, inclusive defensores de investigados e réus em ações penais sobre o esquema de propinas e corrupção instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014.

“Excepcional não é a prisão cautelar, mas o grau de deterioração da coisa pública revelada pelos processos na Operação Lava Jato, com prejuízos já assumidos de cerca de seis bilhões de reais somente pela Petrobrás e a possibilidade, segundo investigações em curso no Supremo Tribunal Federal, de que os desvios tenham sido utilizados para pagamento de propina a dezenas de parlamentares, comprometendo a própria qualidade de nossa democracia”, escreveu Moro no despacho em que mandou prender o publicitário João Santana, marqueteiro do ex-presidente Lula e da presidente Dilma.

Moro autorizou nesta segunda-feira, 22, a deflagração da Operação Acarajé, 23.ª fase da Lava Jato, que mira em Santana. O marqueteiro estava trabalhando na campanha de reeleição presidencial na República Dominicana. Na manhã desta terça, 23, ele deverá chegar ao Brasil. Segundo seus advogados, Santana e sua mulher, Monica Moura, vão se entregar à Polícia Federal.

Em sua decisão, Moro assinalou que “a Operação Lava Jato identificou elementos probatórios que apontam para um quadro de corrupção sistêmica, nos quais ajustes fraudulentos para obtenção de contratos públicos e o pagamento de propinas a agentes públicos, a agentes políticos e a partidos políticos, bem como o recebimento delas por estes, passaram a ser pagas como rotina e encaradas pelos participantes como a regra do jogo, algo natural e não anormal”.

O juiz apontou para os críticos da Lava Jato que têm condenado publicamente o que chamam de “excesso de prisões”.

“Embora as prisões cautelares decretadas recebam pontualmente críticas, o fato é que, se a corrupção é sistêmica e profunda, impõe-se a prisão preventiva para debelá-la, sob pena de agravamento progressivo do quadro criminoso. Se os custos do enfrentamento hoje são grandes, certamente serão maiores no futuro. O País já paga, atualmente, um preço elevado, com várias autoridades públicas denunciadas ou investigadas em esquemas de corrupção, minando a confiança na regra da lei e na democracia. Impor a prisão preventiva em um quadro de fraudes, corrupção, lavagem e evasão fraudulenta sistêmica é aplicação ortodoxa da lei processual penal.”

Para aliados de Temer, pedido de prisão de Santana pode reacender discussão sobre impeachment

• Avaliação é de que episódio deverá ter impactos tanto no Congresso como na opinião pública, já que marqueteiro foi responsável por comandar as campanhas do PT desde 2006, incluindo a da reeleição de Dilma em 2014

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Aliados do vice-presidente Michel Temer (PMDB) acreditam que a nova fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira, 22, e que tem como alvo o marqueteiro João Santana, pode ser a fagulha que faltava para reacender a discussão sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O episódio, afirmam, deverá ter impactos tanto no Congresso como na opinião pública, já que Santana foi o responsável por comandar as campanhas do PT desde 2006, incluindo a da reeleição de Dilma em 2014.

Por outro lado, os peemedebistas reconhecem que o pedido de prisão de Santana também é um elemento novo no processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e que pede cassação tanto do mandato de Dilma como de Temer.

Esses mesmo aliados argumentam, porém, que ainda é cedo para fazer qualquer avaliação, mas dizem que o pedido de prisão de Santana aproxima Dilma do esquema de corrupção que desviou cifras bilionárias da Petrobrás.

Apesar da opinião de aliados, o vice, por ora, deve se manter afastado da discussão sobre o impeachment. Temer não quer ser novamente acusado de “conspirar” pela saída de Dilma do cargo, como aconteceu no fim do ano passado.

No Palácio do Planalto, o discurso é que o pagamento feito ao marqueteiro na disputa presidencial de 2014 foi legal e que as investigações da PF tem como foco tanto Dilma quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Operação reativa pressão sobre mandato de Dilma

• Prisão de João Santana reacende as suspeitas, especialmente entre os partidos de oposição, de que a campanha de Dilma possa ter sido irrigada com dinheiro irregular

Marcelo de Moraes - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O papel central do marqueteiro João Santana nas últimas campanhas presidenciais petistas é inegável. Se com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ele foi importante, nas duas eleições da presidente Dilma Rousseff assumiu o papel de principal estrategista. Responsável pela construção da candidatura à reeleição e, especialmente, pela desconstrução dos adversários petistas, Santana foi o cérebro de toda a campanha. Sem ele, Dilma dificilmente teria vencido uma disputa na qual o desgaste do governo petista e da economia já se tornavam fatores relevantes.

Assim, quando Santana recebe ordem de prisão por receber pagamentos no exterior que teriam origem ilegal, e tendo conhecimento dessa irregularidade, conforme afirmaram nesta segunda-feira, 22, representantes da Polícia Federal, a situação se torna muito complicada. Porque reacende as suspeitas, especialmente entre os partidos de oposição, de que a campanha de Dilma possa ter sido irrigada com dinheiro irregular. Incluindo o próprio pagamento pelo trabalho de marqueteiro.

Essa suspeita trará o mandato de Dilma de volta para o centro das discussões. Se politicamente, o pedido de impeachment contra ela nasceu contaminado por ter sido deflagrado por um inimigo declarado - o presidente da Câmara, Eduardo Cunha - a tentativa de cassação da chapa pela suspeita de irregularidades no pagamento ao marqueteiro e em outras despesas surge com outro conteúdo. Na verdade, se basearia na investigação de crime eleitoral por uso de verbas não declaradas à Justiça Eleitoral.

Num exercício de futurologia, pode-se imaginar as consequências da prisão de Santana, que não foi detido pela operação por estar na República Dominicana. Preso, o marqueteiro prestará depoimento. Pode confirmar ou não suas acusações. Pode contar ou não qual foi a origem de seus pagamentos. Pode empurrar ou não o abacaxi para o colo de Dilma, atribuindo-lhe um suposto conhecimento dos pagamentos suspeitos.

É cedo para adivinhar todos os efeitos do novo escândalo. Mas a temperatura política subiu muito pela Lava Jato ter fechado o cerco em cima de uma figura tão próxima de Dilma e Lula.

Planalto. Para o governo, o timing não poderia ser pior. A presidente ensaiava movimentos de recuperação, depois de atravessar um 2015 desastroso na política. A vitória do deputado Leonardo Picciani (RJ) na eleição para líder do PMDB na Câmara representou um enfraquecimento de Eduardo Cunha, desafeto declarado do governo. Além disso, na economia, a troca do ministro Joaquim Levy por Nelson Barbosa, na Fazenda, trouxe um fôlego para que o governo voltasse a discutir mudanças conjunturais e reformas constitucionais. Tal coisa parecia impossível tamanho era o desgaste de Levy no fim do ano passado.

Em busca de uma agenda positiva, Dilma e o PT só tem encontrado problemas. Seja a proliferação do mosquito Aedes aegypt e das consequentes zika e dengue, seja a crise econômica. Para sair dessa sinuca de bico, o governo contava com o sucesso da tática de reconquistar a base de apoio dentro do Congresso. Agora, com Santana tendo a prisão ordenada, Dilma precisará atravessar o deserto desgastada pela prisão do aliado e com a sombra do pedido de cassação de sua chapa se tornando uma realidade.

Operação fortalece ações que pedem cassação de Dilma no TSE

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - As suspeitas de que o PT tenha usado o esquema de desvios da Petrobras para fazer pagamentos no exterior a João Santana, responsável pela campanha de Dilma Rousseff em 2014, devem fortalecer os argumentos de ações que buscam cassar o mandato da presidente no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Quatro ações foram protocoladas pelo PSDB apontando irregularidades na campanha petista –inclusive no financiamento por meio de doações de empreiteiras envolvidas na Lava Jato, que poderiam encobrir propinas da estatal.

Nesta segunda (22), os partidos de oposição defenderam que as provas obtidas na 23ª fase da Operação Lava Jato sejam enviadas ao TSE. O governoargumenta que os pagamentos recebidos por Santana "não têm nenhuma relação" com a campanha para a reeleição da presidente.

Não é a primeira vez que a situação de Dilma no TSE se complica por causa da Lava Jato. O juiz Sergio Moro informou ao TSE, em outubro passado, que estava comprovado o direcionamento de propinas para doações eleitorais, citando uma ação penal que condenou o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

O juiz já enviou documentos ao tribunal e afirmou que, se houver novos indícios de irregularidades eleitorais, também os encaminhará ao TSE. Moro sugeriu ainda que a corte ouvisse delatores como Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, que diz ter sido persuadido pelo ministro Edinho Silva (Comunicação), então tesoureiro da campanha à reeleição de Dilma, a aumentar as doações.
Com o foco na campanha de Dilma, a nova fase da Lava Jato tem ainda potencial para reacender a pressão pelo impeachment, que havia perdido força no Congresso.

Em sua defesa, o PT afirma que o PSDB também recebeu doações de empreiteiras e que não há indícios de que Dilma tenha participado de irregularidades.

O TSE deve discutir se unifica a tramitação das quatro ações –duas Aijes (Ação de Investigação Judicial Eleitoral), uma Aime (Ação de Impugnação de Mandato Eleitoral) e uma representação.

Sob a relatoria da ministra Maria Thereza de Assis Moura, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), a Aime está em estágio mais avançado. Após receber as defesas de Dilma e do vice Michel Temer, deve determinar novos depoimentos. O governo espera que a ação se arraste por até seis meses.

Entenda
A 23ª fase da Operação Lava Jato, iniciada na manhã desta segunda (22), intitulada "Acarajé", tem como alvo o publicitário João Santana, que encabeçou campanhas presidenciais petistas, e a empreiteira Odebrecht.

O Ministério Público Federal e a Polícia Federal encontraram transferências de US$ 7,5 milhões (R$ 30 milhões, em valores desta segunda) de investigados da Lava Jato para a conta da offshore Shellbill Finance S.A., controlada pelo marqueteiro João Santana e pela mulher e sócia dele, Mônica Moura.

A offshore, baseada no Panamá, não foi declarada às autoridades brasileiras. Deste montante, US$ 3 milhões foram pagos ao marqueteiro por meio das contas das offshores Klienfeld e Innovation Services, que são atribuídas pelos investigadores à Odebrecht, entre 13 de abril de 2012 e 08 de março de 2013.

Para a Procuradoria, "pesam indicativos de que consiste em propina oriunda da Petrobras transferida aos publicitários em benefício do PT".

Denúncia sobre marqueteiro eleva pressão em processo contra Dilma no TSE

Denúncias aumentam pressão sobre processo no TSE

Por Andrea Jubé e Carolina Oms – Valor Econômico

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto recebeu ontem com perplexidade a notícia do decreto de prisão temporária do marqueteiro João Santana na Operação Lava-Jato. A preocupação do governo era tentar descolar a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff das acusações de que o publicitário recebeu pagamentos com recursos desviados da Petrobras. O principal receio era o impacto das denúncias no processo de cassação da chapa Dilma/Michel Temer que tramita no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O Valor apurou, com fontes ligadas ao Judiciário, que embora as informações relativas à nova fase da Lava-Jato ainda não tenham chegado ao TSE, serão mais um elemento de pressão sobre o processo de cassação de Dilma. Cabe aos ministros aceitarem a inclusão de novas provas e por enquanto, não há limite de prazo para isso. As fontes alertam que se as investigações comprovarem que o dinheiro transferido para as contas de João Santana no exterior foi utilizado para pagar os custos da campanha de reeleição de Dilma, a presidente enfrentará ainda acusações de caixa dois.

Mesmo à distância, trabalhando para a campanha presidencial na República Dominicana, Santana mantinha contato com Dilma, sempre que acionado pela presidente. Foi com auxiliares de Santana que Dilma gravou, no dia 1º de fevereiro, o pronunciamento de alerta sobre a epidemia do vírus zika, exibido no rádio e na televisão uma semana depois.

Ontem auxiliares presidenciais divergiam sobre a conveniência da divulgação de uma nota para reafirmar a legalidade dos pagamentos ao publicitário na campanha à reeleição de Dilma. Se a preocupação era dissociar a imagem da presidente do marqueteiro, o comunicado oficial não poderia partir do Planalto.

Foi nesse contexto que o coordenador jurídico da campanha de 2014, Flávio Caetano, divulgou uma nota à noite na qual reafirmou que todas as despesas foram "devida e regularmente contabilizadas" e aprovadas pela Justiça Eleitoral. Ele informa que Santana recebeu R$ 88,9 milhões pelos serviços prestados à campanha. Ele ressalta que um dos investigadores afirma, em relatório da Polícia Federal, que em relação aos pagamentos feitos a Santana pela campanha de Dilma "não há, e isso deve ser ressaltado, indícios de que tais pagamentos estejam revestidos de ilegalidades". Os termos do documento foram discutidos previamente com auxiliares de Dilma.

À tarde, o presidente do PT, Rui Falcão - que foi coordenador nacional da campanha à reeleição de Dilma -, também tentou descolar a imagem do partido de João Santana. "O PT não tem marqueteiro, contrata pessoas para fazer programas", desconversou.

Mas Falcão ressaltou que todas as doações ao partido "foram legais, feitas por meio de transação bancária, e aprovadas pela Justiça Eleitoral". E que são necessárias provas das acusações. "Eu continuo defendendo direitos fundamentais de que quem acusa tem de provar, as pessoas são inocentes até prova em contrário".

Falcão falou com a imprensa após a exibição do programa nacional do PT, que vai ao ar hoje no rádio e na televisão. No programa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que o PT errou, mas acertou mais. Ele não faz menção às denúncias contra ele, sobre suas ligações com um apartamento triplex no Guarujá (SP) e um sítio em Atibaia (SP).

"É verdade que erramos, mas acertamos muito mais", diz o ex-presidente. Segundo Lula, são realizações como a redução da miséria e da desigualdade social que "incomodam" quem não gosta do PT. "É isso no fundo que incomoda quem não gosta de dividir poltrona de avião com o nosso povo", diz o ex-presidente.

Sobre as denúncias contra Lula, um narrador atribui as acusações aos "mesmos preconceituosos de ontem, que nunca aceitaram suas ideias e origem". Dilma não gravou participação para o programa, que é assinado pelo marqueteiro Edson Barbosa, o "Edinho", que nos últimos anos prestou serviços para o PSB. Os programas anteriores foram feitos pela equipe de João Santana.

PF apura "possível envolvimento de Lula"

Por Letícia Casado - Valor Econômico

BRASÍLIA - Um relatório de inteligência da Polícia Federal informa que os investigadores da Operação Lava-Jato apuram "possível envolvimento" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em práticas criminosas, mas "com parcimônia, o que não significa que as autoridades policiais devam deixar de exercer seu mister constitucional".

O relatório faz parte de material sobre a 23ª fase da Lava-Jato, deflagrada ontem, e que analisa uma anotação, "Prédio (IL)", encontrada no celular do empreiteiro Marcelo Odebrecht. Ao lado da nota há um valor, R$ 12,4 milhões, que os analistas acreditam, teria sido pago a João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, preso pela Lava-Jato.

"Assim, caso a rubrica 'Prédio (IL)' refira-se ao Instituto Lula, a conclusão de maior plausibilidade seria a de que o Grupo Odebrecht arcou com os custos de construção da sede da referida entidade e/ou de outras propriedades pertencentes a Luiz Inácio Lula da Silva", diz o relatório.

"As anotações da planilha possivelmente idealizada por Marcelo Bahia Odebrecht revelam, a partir do que foi possível apurar em esfera policial, o controle que o dirigente máximo do Grupo Odebrecht tinha sobre a destinação de recursos, à margem da lei, ao Partido dos Trabalhadores".

A PF informa que as possíveis conclusões podem estar equivocadas. O delegado federal Filipe Pace, que assina o relatório, diz esperar que investigados como Fernando Migliaccio e Maria Lúcia Tavares, ex-funcionário e funcionária da Odebrecht, assim como o ex-presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, esclareçam a razão e o significado de cada uma das anotações.

"É importante que seja mencionado que a investigação policial não se presta a buscar a condenação e a prisão de 'A' ou 'B'. O ponto inicial do trabalho investigativo é o de buscar a reprodução dos fatos. A partir disto, se tais fatos apontarem para o cometimento de crimes, é natural que a persecução penal siga seu curso, com o indiciamento pelo delegado de polícia, o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público etc. Se os fatos indicarem a inexistência de ilegalidades, é normal que a investigação venha a ser arquivada", diz o relatório.

A anotação "Prédio (IL)" tem valor referido de R$ 12,422 milhões. O valor foi composto por três parcelas de R$ 1,057 milhão (R$ 3,171 milhões), acrescidos de R$ 8,217 milhões e R$ 1,034 milhão. O relatório sugere ter encontrado uma possível referência ao Instituto Lula. Segundo a PF, esses valores referem-se talvez a "serviços prestados".

Procurado, o Instituto Lula afirmou que os supostos fatos são improcedentes e que o Instituto Lula funciona em um sobrado adquirido em 1991, pelo antigo Instituto de Pesquisas do Trabalhador. A Odebrecht nega que as referências encontradas no material apreendido tenham relação com Lula, seu instituto ou o PT. (Colaborou Carmen Munari, de São Paulo)

‘ Proximidade do PMDB com o PT me incomodava’, diz Osorio

• Sem espaço no PMDB para disputar a prefeitura do Rio, Carlos Roberto Osorio deixou a Secretaria estadual de Transportes e vai migrar para o PSDB. A filiação será formalizada nesta quinta- feira, em um ato na sede do partido, em Brasília.

Marco Grillo - O Globo

O ato de quinta-feira será só de filiação ou de lançamento de sua pré-candidatura?

Ato de filiação.

O que motivou o senhor a sair do governo e se filiar ao PSDB?

A primeira motivação foi o convite do PSDB. Há uma identificação grande. Por outro lado, fui o deputado estadual mais votado pelo PMDB na capital, mas é um partido com muitas lideranças. O espaço para uma pessoa nova não é muito grande, porque o PMDB tem uma fila. Entendi que, com a definição (do PMDB) da candidatura à prefeitura do Rio, o espaço para mim talvez não fosse o que imaginava.

A proximidade do PMDB do Rio com o PT incomodava o senhor?

Fui convidado por um partido que tem uma visão de mundo diferente da do PMDB, que está alinhado estritamente ao governo federal. Eu não concordo. Essa proximidade incomodava.

O senhor vai ser o candidato do PSDB à prefeitura do Rio?

Apresentei meu nome, mas entendo que é uma coisa que tem que ser construída. Meu nome está à disposição, mas o partido tem outros bons nomes.

O senhor quer ser prefeito?

Eu me sinto preparado e em condições de ser um bom prefeito. Mas isso não está acima do projeto do partido. Se eu não for o nome ideal, será outro.

O senhor fez parte da atual administração. Como se diferenciar?

Com um projeto voltado ao atendimento das necessidades dos cidadãos e reconhecendo o que foi feito. Fiz parte da administração e participei dos avanços dos últimos anos. É preciso defender as conquistas e agregar outra visão, de mais proximidade com o cidadão. Para construir uma cidade, não bastam tijolo, cimento, pontes e viadutos.

A gestão atual peca nesse quesito?

Entendo que pode ser melhorado.

É o único ponto fraco da gestão?

É prematuro entrar em discussão de avaliação da atual administração.

Dentro do PMDB, o senhor manifestou a intenção de ser candidato?

Sim. Respeito a hierarquia partidária e entendo que prefeito tenha direito de coordenar processo de sua sucessão. Se houve decisão, não me cabe questionála, mas sim meu posicionamento dentro da instituição.

O fato de o prefeito ter dito ao COI que a Linha 4 do Metrô pode não ficar pronta para as Olimpíadas acelerou a saída?

Acabou precipitando, mas a saída já estava definida.

O senhor se sentiu traído?

Não. Tenho que tratar do que sei. Quando tomei conhecimento, liguei para o governador e mandei um WhatsApp ao prefeito, dizendo que as obras estavam no prazo e me colocando à disposição para esclarecer qualquer dúvida.

Ficou alguma mágoa do prefeito?

De maneira nenhuma. O prefeito deve ter tido seus motivos. Com as responsabilidades que tem, entendeu por bem fazer essa alerta.

O senhor volta a exercer o mandato de deputado estadual. Como fará oposição ao governo que integrava?

Estarei afinado com a posição do PSDB, que é correta: não fazer oposição por oposição. Vou defender o governo Pezão nos pontos importantes neste momento de crise. Não serei um deputado do quanto pior melhor.

Eventualmente, se for a orientação do partido, votar contra o governo...

Se for necessário, votar contra o governo, mas votar a favor nos pontos que eu entender meritórios.

Já circula uma foto sua com Pedro Paulo (secretário municipal de Coordenação de Governo e possível candidato do PMDB) dizendo que, na campanha, vocês vão se dizer adversários, mas que sempre estiveram juntos.

Fomos do mesmo governo. Mas vou representar uma visão diferente, se for escolhido o candidato. A cidade teve ganhos nos últimos anos e tenho orgulho de ter participado de alguns projetos. Mas tenho uma visão crítica. Eu sou eu, e o Pedro Paulo é o Pedro Paulo.

Ele é acusado de ter agredido a ex-mulher. Na campanha, o senhor se sentiria confortável para tocar nesse assunto ?

Primeiro, tenho que me tornar candidato e depois responder. Entendo que quem vai fazer essa avaliação é a população. É um fato de domínio público. Evidentemente, esse vai ser um tema do debate eleitoral.

Com o surgimento do tema, qual seria sua posição?

Obviamente, qualquer agressão a mulher ou a qualquer outro ser humano é condenável. Acredito que essa é a posição majoritária na sociedade. Caberá a ele explicar e se defender.

Foi um erro o PMDB insistir na candidatura dele?

Acho que é antiético falar de decisão de um partido do qual estou saindo.

Para Aécio, decisão de prender Santana comprova propina da Petrobrás na campanha de Dilma

• Na avaliação do presidente do PSDB, fato 'é o de mais grave que ocorreu na Operação Lava Jato até aqui' e mudará abordagem do TSE em relação às ações movidas pelo partido para cassar o mandato da presidente e do vice

Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG) afirmou nesta segunda-feira, 22, em entrevista ao Broadcast Político, serviço de notícias em tenpo real da Agência Estado, que a decisão do juiz Sérgio Moro de mandar prender o marqueteiro João Santana comprova que houve propina com recursos da Petrobrás abastecendo a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

"Sem dúvida nenhuma, na nossa avaliação é o de mais grave que ocorreu na Operação Lava Jato até aqui", disse ele, ao ressaltar que o fato mudará a abordagem que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) terá em relação às ações movidas pelo PSDB para cassar o mandato de Dilma e do vice, Michel Temer.

O tucano observou que, antes da decisão de Moro, já existia depoimentos e delações premiadas que indicavam o suposto financiamento irregular da campanha à reeleição de Dilma. E que agora não é mais o PSDB alegando crimes, mas sim um mandado judicial respaldando as suspeitas.

Aécio disse que nesta terça-feira, 23, pedirá ao TSE a inclusão nas ações do PSDB dos documentos e da decisão que fundamentou o decreto de prisão de Santana. Ele também vai requerer ao tribunal que tome o depoimento de Zwi Skornicki, apontado pela Polícia Federal como o operador de propinas do esquema envolvendo o marqueteiro.

Questionado se a decisão de Moro fortalece a saída via TSE, em que poderia haver novas eleições este ano, o presidente do PSDB afirmou que as denúncias restabelecem todas as possibilidades: a saída do tribunal ou o impeachment de Dilma com a assunção do vice Michel Temer. "Temos um governo que está nas cordas hoje e incapaz de reagir", disse. "Qualquer saída é possível", completou.

Reservadamente, Aécio tem se mostrado favorável à solução do TSE em que poderia concorrer, como um dos favoritos, a uma nova eleição ainda em 2016.

Merval Pereira: Crime repetido

- O Globo

A desconfiança de que o PT mantinha contas secretas no exterior, de onde retirava dinheiro para financiar suas campanhas eleitorais, inclusive as do ex- presidente Lula e da presidente Dilma, sempre esteve presente na crônica política.

Desde que o marqueteiro Duda Mendonça, em 2005, confessou que fora pago em uma conta não declarada no Caribe aberta a mando o lobista Marcos Valério, até hoje, de acordo com as investigações da Lava- Jato, esse procedimento continuou sendo usado para pagar o marqueteiro João Santana.

Isso significa que o PT atua na ilegalidade pelo menos desde a primeira eleição de Lula, em 2002, e os métodos de lavagem de dinheiro foram sendo aperfeiçoados para tentar esconder as contas secretas.

A teia de contas e bancos pelo mundo montada pela Odebrecht e, segundo as investigações, controlada pessoalmente por Marcelo Odebrecht, serviu para lavar dinheiro desviado da Petrobras para o PT, e pagou os serviços do marqueteiro do momento, assim como Marcos Valério pagou Duda Mendonça no mensalão.

A repetição de métodos criminosos já devidamente comprovados impede que a questão seja tratada pelo Tribunal Superior Eleitoral como banal, pois vários políticos já perderam seus mandatos, de prefeito e governador, devido a abusos do poder econômico muito menos evidentes e sofisticados do que o que agora está sendo desvendado sobre as campanhas da presidente Dilma Rousseff em 2010 e em 2014.

Mesmo que tentem analisar de maneira burocrática a situação posta, interpretando a lei ao pé da letra e sem contextualizar o que representa esse imenso esquema criminoso que está sendo revelado nos detalhes pela Lava- Jato, será um ônus enorme para ministros do TSE fingir que não se depararam com um escândalo sem precedentes na história política brasileira.

Em 2005, tudo era novidade para o mundo político, tanto que provocou choro e ranger de dentes entre os petistas mais sensíveis às questões éticas, que àquela altura já não eram obstáculo à ascensão meteórica do PT ao comando central do país.

Muito antes disso, a ação criminosa de que foram vítimas prefeitos petistas — Toninho, de Campinas, e Celso Daniel, de Santo André — já demonstrava que o caminho do poder petista não seria barrado por pudores de nenhuma espécie.

A consequência da descoberta de grossa corrupção na campanha eleitoral de Lula em 2002 só não teve maior repercussão por um erro estratégico do PSDB, que considerou o então presidente como carta fora do baralho na sucessão presidencial de 2006 e decidiu deixa-lo “sangrar” até o final de seu primeiro mandato.

A recuperação da economia produziu um efeito contrário e ajudou Lula a recuperar o fôlego que parecia ter perdido no início do escândalo. Adaptando-se à situação como o camaleão político que sempre foi, Lula saiu de uma posição de humildade, dizendo- se traído e pedindo desculpas na televisão, para negar até mesmo que tenha existido o mensalão.

Desta vez, não apenas a repetição, mas o aprofundamento do esquema criminoso demonstram que não se deve ter complacência com um partido político que usa de todos os artifícios criminosos possíveis para obter vantagem sobre seus adversários, desde a calúnia e a infâmia, até mesmo desviar dinheiro público para a manutenção de suas atividades político- eleitorais.

O juiz Sérgio Moro já enviou ao TSE os documentos da primeira condenação do ex- tesoureiro do PT João Vaccari, em que está provado o uso do dinheiro desviado da Petrobras para campanhas do PT. A continuidade dessa sistemática utilização de dinheiro público para o caixa de suas campanhas, seja pelo uso de caixa dois, seja pela lavagem através de doações “legais” registradas no TSE, está confirmada em várias delações que confirmam que a campanha presidencial de 2014 também foi irrigada com dinheiro desviado da Petrobras.

Se em 2005 Duda Mendonça acabou sendo absolvido pelo STF, que não viu dolo na sua ação, e safou- se pagando uma multa à Receita Federal, hoje a situação é diferente: a intenção de fraudar as leis está configurada, segundo a PF e os procuradores da Lava- Jato.

Agora, fecha- se o círculo com o esquema da Odebrecht para o marqueteiro João Santana, que pode também ter ajudado o PT em outra circunstância, igualmente criminosa: a Polícia Federal apura a suspeita de que empresas dele trouxeram de Angola para o Brasil cerca de US$ 16 milhões, em 2012, numa operação de lavagem de dinheiro para beneficiar o PT.

Não há como negar as evidências, e o mundo político já joga com a alternativa de o PMDB, diante da realidade, decidir- se pelo impeachment da presidente Dilma para evitar a cassação da chapa pelo TSE.

Mario Sergio Conti: Fim de feira

- Folha de S. Paulo

Quando o relógio bate 13 vezes, ele não anuncia a aurora de uma nova era. Significa apenas que está quebrado. A decretação da prisão de João Santana é sinal de que o cuco do marketing não serve mais para marcar a hora da política.

O tique-taque começou na campanha de Fernando Collor ao Planalto, a primeira a usar recursos de propaganda dos países centrais. Deu no que deu, mas a mercadologia mercantil só fez crescer. Empresários e políticos se cercaram de uma chusma de consultores. Caixas um, dois e três ficaram abarrotados.

A primeira trinca na tapeação se deu em 2005, numa Comissão Parlamentar de Inquérito. Foi quando Duda Mendonça admitiu que o PT lhe pagou parte da campanha de Lula com depósitos no exterior, ocultados do Fisco. Mesmo assim, o conluio entre candidatos e propagandistas seguiu o seu curso, impávido.

Com a derrocada de Mendonça, Santana assumiu o comando da segunda campanha de Lula e das duas vitórias de Dilma. Disputado a tapa, foi contratado por candidatos na África, na América do Sul e no Caribe. Entregava o que prometia: elegeu oito presidentes.

Jornalista que largara o ofício por "não dar camisa a ninguém", ele entrou em Eldorado. Só do PT, recebeu R$ 158 milhões, oficiais e declarados. Virou um misto de guru e ninja, sem abandonar os modos afáveis e o dry martini antes do jantar.

O seu relógio começou a atrasar na tarde de 6 de junho de 2013, na frente do Teatro Municipal de São Paulo. Houve ali uma manifestação corriqueira contra o aumento das passagens de ônibus. Em poucos dias, porém, ela virou uma insurgência nacional.

Ruíram não apenas os estádios à la Coliseu, erigidos para honra e lucro da santa aliança de imperadores e empreiteiros. Entrou em pane a política do pão (Bolsa Família) e circo (Copa e Olimpíadas). Com isso, a revolta pegou em cheio o marketing vicioso de governos que sucatearam hospitais, escolas e metrôs.

O canto de cisne foi a última campanha de Dilma. A partir daí, Santana, que pouco falava em público, ficou cada vez mais silencioso. Seu nome surgiu nas investigações da Lava Jato e ele quase não se explicou –atitude bizarra para quem ganha a vida explicando a vida dos outros, os candidatos.

Reza a lenda árabe que todo acusado é inocente até prova em contrário. Na prática, contudo, Duda Mendonça nunca voltou a ser quem era, apesar de ter sido absolvido pelo Supremo.

Igualmente, Petrobras, Odebrecht, Andrade Gutierrez e OAS não serão mais multinacionais, como ambicionavam, apesar de os seus donos e dirigentes terem sido meliantes, e não os seus funcionários.

No auge da fama, Santana publicou um romance, "Aquele sol negro azulado". Embora tenha saído no Brasil, na Argentina e em Angola, ele só fez sucesso entre os clientes do autor: cinco governadores foram à noite de autógrafos em Salvador. Também, pudera: nem Carlos Zéfiro apreciaria imagens como "seus dias pareciam bananeiras repletas de cachos de orgasmos".

O melhor do livro são as epígrafes. Uma, de Dickens, que fala do "inverno do desespero", cabe bem ao Santana com prisão decretada. Seria bom que a outra epígrafe, de Dryden, servisse para acertar o relógio no fim de feira ora em curso, no qual vira-latas disputam a xepa com mendigos:

"Enfim está no fim a era velha,
Pois é tempo de uma nova hora".

Luiz Carlos Azedo: A blindagem de Dilma

• Dilma está fora da alçada de Sérgio Moro, ao contrário do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que agora enfrenta um problema muito maior do que as investigações sobre o sítio de Atibaia e o tríplex do Guarujá

- Correio Braziliense

A presidente Dilma Rousseff ainda não sabe o que fazer para blindar sua imagem em relação à Operação Acarajé, que investiga a utilização de caixa dois para financiar as campanhas eleitorais do PT. Oficialmente, o marqueteiro João Santana recebeu R$ 88 milhões durante a campanha à reeleição de Dilma, mas há dois problemas: suspeita-se que a verdadeira origem do dinheiro seja os contratos das empreiteiras com a Petrobras e há a possibilidade de que Santana tenha recebido dinheiro “por fora” durante a campanha e depois dela, por meio de caixa dois.

Ontem, João Santana e a mulher e sócia, Mônica Moura, só não foram presos porque estavam na Republica Dominicana. Ambos anunciaram a volta imediata ao Brasil. Por meio de carta, João Santana deixou a campanha eleitoral de Danilo Medina à reeleição para o cargo de presidente da República Dominicana. No documento, em espanhol, Santana diz que existe um “clima de perseguição” no Brasil e que seu nome “está sendo ligado a um suposto esquema relacionado ao financiamento de campanhas políticas” no país.

O marqueteiro teria recebido dinheiro da empreiteira Odebrecht em contas na Suíça. A empresa é uma das investigadas na operação. Dilma se reuniu ontem com a coordenação política para avaliar o quadro e cobrou informações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O ex-deputado foi surpreendido pela operação, embora a Polícia Federal seja a ele subordinada. Seu desgaste junto ao PT aumentou, até porque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre foi contra sua presença na pasta e agora está se sentindo ainda mais ameaçado pela Operação Lava-Jato.

Dilma está fora da alçada de Sérgio Moro, ao contrário do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enfrenta um problema muito maior do que as investigações sobre o sítio de Atibaia e o tríplex do Guarujá, em São Paulo: a suspeita de que a Odebrecht teria construído o prédio do Instituto Lula no Ipiranga, em São Paulo, em troca de vantagens indevidas.

Santana foi o responsável pela campanha de sua reeleição, em 2006, e o grande artífice da eleição de Dilma Rousseff, em 2010. Segundo os investigadores da Lava-Jato, teria recebido pagamentos no exterior que totalizam mais de US$ 7 milhões, mas ainda não foi comprovado que esses recursos foram destinados ao pagamento da campanha de reeleição de Dilma ou serviços prestados ao governo sem contrato.

O PSDB acusa Dilma de abuso do poder econômico e de utilizar recursos desviados da Petrobras na campanha eleitoral de 2014. O caso tramita no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que recebeu do juiz Sérgio Moro depoimentos e provas reunidas pela Operação Lava-Jato que reforçam as suspeitas de que parte dos recursos desviados da Petrobras foram destinados à campanha do PT.

Aliado incômodo
Dilma Rousseff tem ainda outro problema: a volta do senador Delcído do Amaral (PT-MS) ao Senado. Ex-líder do governo na Casa, ele teve a prisão preventiva relaxada pelo ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal federal (STF). Em prisão domiciliar, porém, poderá voltar a exercer o mandato. O senador petista cobra solidariedade dos pares e não esconde a mágoa com o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a revogação da prisão preventiva, o senador petista pode voltar normalmente aos trabalhos na Casa, mas a repercussão dessa decisão está sendo muito negativa. Delcídio sofre pressões do Palácio do Planalto para se licenciar do cargo e não reassumir as funções de presidente da poderosa Comissão de Assuntos Econômicos. Por ora, pretende voltar à tribuna do Senado na quarta-feira para se defender. Alega que foi vítima de uma armação do ex-diretor de Relações Internacionais da Petrobras, Nestor Cerveró, que aceitou fazer delação premiada.

Mesmo antes de ser solto pelo ministro Teori Zavascki, Delcídio havia revelado a amigos e parentes que poderia recorrer à delação premiada se tivesse o mandato cassado e perdesse o direito ao foro privilegiado, ou seja, se for a julgamento pelo juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba. Como existe um processo de cassação de Delcídio no Conselho de Ética do Senado, aumenta a tensão no governo e no Senado. Outros senadores do PT, do PMDB e do PP também estão sendo investigados pela Lava-Jato.

A cúpula petista pretendia discutir a expulsão de Delcídio da legenda na sexta-feira, mas pode ser que mude de ideia. Jogá-lo ao mar pode ser uma péssima ideia. Os senadores que estão envolvidos no escândalo da Petrobras trabalham para evitar a cassação do petista, mas fazem isso discretamente. Desde a redemocratização, somente o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), escapou da cassação em plenário, mas, para isso teve que renunciar ao comando da Casa.

Raymundo Costa: Lava-Jato dá novo gás ao impeachment

• Operação desafia Dilma a convencer que não sabia

- Valor Econômico

O governo da presidente Dilma Rousseff acreditava piamente que estava pronto para sair da defensiva, quando foi apanhado em cheio pela 23ª fase da Operação Lava-Jato. O mandado de prisão expedido contra o publicitário e jornalista João Santana, responsável pelas principais campanhas do PT, pelo menos nos últimos dez anos, fragilizou ainda mais a posição do ex-presidente Lula, aproximou-se perigosamente da presidente da República e deu um novo gás à oposição. Hoje será instalado o "comitê do impeachment" na Câmara dos Deputados, juntando parlamentares com os movimentos de rua.

Em reunião ontem em São Paulo, líderes do PSDB chegaram à conclusão de que a prisão de Santana pode reforçar as manifestações de rua, convocadas para o dia 13 de março. Com a Lava-Jato ao pé da rampa do Palácio do Planalto, a oposição decidiu entrar formalmente na organização dos protestos. Para o presidente do PSDB, Aécio Neves, o impeachment volta a ser "prioridade zero" do partido, seja por meio do pedido em tramitação na Câmara ou via Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma anotação encontrada no celular de Marcelo Odebrecht - "Dizer do risco cta [conta] suíça chegar na campanha dela" - aproximou definitivamente a campanha de Dilma dos desvios na Petrobras.

Ainda hoje Aécio Neves deve se reunir com a bancada na Câmara dos Deputados, inquieta com os sinais trocados emitidos por seus dirigentes e líderes. Aécio dirá que a prioridade do PSDB é tirar Dilma, mas que o partido deve examinar e até aprovar propostas do governo que sejam convergentes com o que defendem os tucanos. Esse é o desafio do PSDB: fazer oposição sem transparecer que joga no quanto pior melhor. O governo tinha esperança de avançar nessa vereda, conversas que ficaram mais difíceis após a deflagração da "Operação Acarajé", como foi sugestivamente batizada a 23ª fase da Lava-Jato.

Aos olhos do governo, havia razão para algum otimismo. Num mesmo dia, o Palácio do Planalto comemorou efusivamente duas vitórias, uma singularidade onde o natural são as más notícias. A primeira delas a suspensão do depoimento de Lula marcado para um fórum da Barra Funda, em São Paulo, graças a uma manobra legal. A outra foi a eleição do deputado Leonardo Picciani (RJ) para a função de líder do PMDB na Câmara dos Deputados, em que pese o desgaste sofrido por Dilma pelo envolvimento ostensivo do Palácio do Planalto na eleição. Picciani não só comanda a tropa de choque anti-impeachment, como pode ser uma carta na manga da presidente para a eventualidade do afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ).

A manobra legal patrocinada pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP) evitou o constrangimento de Lula e de sua mulher, Marisa, terem de responder às perguntas do promotor Cássio Conserino. O desgaste político seria aceitável, se o PT armasse barricada para defender o ex-presidente. O ato de apoio a Lula na frente do fórum criminal da Barra Funda foi o principal ganho do dia, na opinião dos petistas. Teria mostrado que agora há uma unidade no diagnóstico de que a Lava-Jato é um processo direcionado para pegar o ex-presidente. O ato também teve repercussão nas redes sociais, especialmente depois da denúncia de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pode ter usado os préstimos de uma empresa para enviar dinheiro ao exterior para a manutenção de uma ex-amante.

A contabilidade das boas notícias fechou a semana com a saída da prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado. Pelo menos na aparência, os integrantes do primeiro escalão do governo parecem tranquilos com a notícia de que Delcídio, em troca do alvará de soltura, assinou um termo de delação premiada. As versões são contraditórias. Fato é que o PT aos poucos foi adiando sua expulsão do partido, depois de suspendê-lo com estardalhaço tão logo foi decretada sua prisão. E não foi por falta de oportunidade ou de reunião da direção partidária.

No fim de semana, o diagnóstico era que houve uma retomada efetiva da iniciativa política. O governo não só demonstrara capacidade de organizar uma tropa de apoio no Congresso (eleição de Picciani), como a militância do PT fora para a rua (ato na Barra Funda). Consequência imediata era o esvaziamento ainda maior da tese do impeachment e a abertura de um espaço para o governo tentar avançar nos projetos de seu interesse. Avaliação otimista, quando se leva em conta que a reedição da CPMF e a reforma da Previdência, as propostas mais destacadas por Dilma, enfrentam resistências que permeiam os partidos, independentemente da posição de cada um em relação ao governo federal.

O quadro mudou entre o fim de uma semana e o começo da outra. Com as amarrações feitas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para o processamento do impeachment, o afastamento da presidente pelo Congresso continua a ser uma decisão improvável, mas voltou à ordem do dia. Na ótica mais otimista, a 23ª fase da Lava-Jato atrasa um pouco o processo de retomada da estabilidade política. É preciso deixar baixar a poeira para definir o que pode ou não ser feito agora.

Reforma da Previdência, por exemplo, não é tarefa para governo fraco. Não dá para fazer agora, segundo até mesmo os setores do PT que julgam a reforma necessária. E fica cada vez mais difícil. Como cada vez mais difícil fica a posição da presidente, independentemente de ser ou não comprovado que houve dinheiro da corrupção na sua campanha à reeleição. Dilma está no governo desde a posse de Lula, como ministra das Minas e Energia, e no centro das decisões do país desde 2005, quando assumiu a chefia da Casa Civil. Um dos motivos pelos quais o impeachment não andou é que a presidente era a única "não política" numa linha sucessória de alto risco com Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Hoje o desafio é convencer que Dilma não viu nada do que se passou nesses seus dez anos de palácio. Talvez tenha tentado consertar por dentro o que viu. Sem êxito.

Bernardo Mello Franco: A maldição do marqueteiro

- Folha de S. Paulo

As lágrimas rolaram no carpete da Câmara. Na tarde de 11 de agosto de 2005, deputados da esquerda do PT choraram copiosamente no plenário. Eles estavam abalados com revelações de Duda Mendonça, marqueteiro da campanha que levou Lula à Presidência.

Naquele dia, o publicitário admitiu à CPI dos Correios ter recebido R$ 11,9 milhões do partido no exterior. "Esse dinheiro era claramente de caixa dois", afirmou. O relato chocou petistas que ainda empunhavam a bandeira da ética na política.

"Nós nos sentimos apunhalados", disse o deputado Chico Alencar. "Entramos em parafuso", reforçou Ivan Valente. Desiludidos com o mensalão, os dois deixaram o PT. Onze anos depois, a maldição do marqueteiro volta a assombrar o partido.

A ordem de prisão de João Santana é mais um duro golpe no petismo. O publicitário foi responsável pelas últimas três campanhas presidenciais da sigla. Em 2014, ajudou a reeleger Dilma Rousseff com um bombardeio impiedoso aos adversários Marina Silva e Aécio Neves. Até ontem, continuava entre os únicos conselheiros ouvidos pela presidente.

A Lava Jato rastreou depósitos de US$ 7,5 milhões (cerca de R$ 30 milhões) numa offshore atribuída ao marqueteiro. O dinheiro foi repassado pela Odebrecht e por um lobista acusado de desvios no petrolão.

Em nota, João Santana disse que as acusações são "infundadas" e que o país vive um "clima de perseguição". O juiz Sergio Moro viu "fundada suspeita" de que os pagamentos eram para "remunerar, com produto de acertos de propina em contratos da Petrobrás, serviços prestados ao Partido dos Trabalhadores".

Ainda não está claro se o caso atingirá a campanha de Dilma, mas já é possível apontar ao menos uma diferença entre os escândalos com marqueteiros do PT. Há 11 anos, muitos políticos do partido tinham motivos sinceros para se chocar. Agora, ninguém pode mais derramar lágrimas de surpresa.

Míriam Leitão: O Plano Barbosa

- O Globo

No Plano Barbosa, o aumento do déficit é imediato, e o limite para a despesa é uma possibilidade futura. A reforma da Previdência é só uma lista do que será discutido no Fórum e na qual não há a idade mínima. O sistema de limitar os gastos será anunciado depois, e a ameaça mais dura, a de não dar aumento real para o salário mínimo, é factoide, porque já não haverá aumento real do mínimo até 2019.

O ministro Nelson Barbosa quis dar ao seu plano um ar de reforma estrutural, mas é o mais escancarado projeto de aumentar o desequilíbrio fiscal do país. Na prática, o Ministério da Fazenda joga a toalha e empurra com a barriga.

O que ele chama de “reforma fiscal” é uma coleção de ideias preliminares de projetos ainda não formulados. Mas o que ele chama de “espaço fiscal” é o eufemismo para déficit, que vai se tornar realidade já, em 2016. Quem achou alto o rombo de 1% do PIB deve ler o “Valor Econômico” de ontem, em que o ministro mostra que há mais déficit por aí. Quando os jornalistas Ribamar Oliveira e Leandra Peres perguntaram se o impacto da renegociação da dívida dos estados e municípios está incluído nos R$ 84 bilhões de gastos excedentes às receitas que o governo anunciou na sexta- feira, ele respondeu: “seria preciso fazer o recálculo e adicionar isso aos R$ 84 bilhões”. E “isso" é um custo de R$ 36 bilhões.

Quanto à reforma fiscal, ela funcionará assim: será formulado um projeto de lei para incluir na Lei de Responsabilidade Fiscal um limite plurianual de gastos federais que fique abaixo dos atuais 19% do PIB. Quando estiver aprovado, o Plano Plurianual será alterado para incluir esse limite. A Lei de Diretrizes Orçamentárias estabelecerá, então, um valor nominal de teto de despesas, que será seguido no Orçamento dos anos vindouros.

E se o limite estiver sob ameaça de não ser cumprido será disparado um gatilho que imporá uma série de restrições em três estágios. Parece bom, mas vejamos as restrições. Elas começam impedindo ampliação das desonerações, aumento dos gastos de custeio, aumento de despesas discricionárias. No segundo estágio, tem, entre outras coisas, o “impedimento de aumento de subsídios”. Convenhamos, tudo isso tinha que estar cortado desde já, este é o terceiro ano de déficit primário. O último ponto do terceiro estágio — ou seja, a pior das ameaças —é a “suspensão do aumento real do salário mínimo”.

Mas o fato é que o salário mínimo já não terá aumento real até 2019 porque a fórmula estabelece que ele sobe de acordo com a inflação do ano anterior e o crescimento de dois anos antes. Como se sabe, o país teve recessão no ano passado, terá este ano e deve ficar em zero em 2017. Aplicando- se a fórmula, só há possibilidade de aumento real, ou seja, acima da inflação, em 2020, e se o país crescer em 2018. Resta apenas uma dúvida: o governo anunciou isso porque pensa que somos todos bobos?

Sobre a reforma da Previdência, o que houve até agora é o seguinte: foi criado o Fórum há tempos. Falou- se muito dele, mas ele só fez uma reunião, a da semana passada. E tudo o que aconteceu é que foram listados itens de discussão. Nestas conversas preliminares já houve um desfalque importante: sumiu a proposta do ministro Nelson Barbosa de que seja incluída a idade mínima de aposentadoria, como existe na maioria absoluta dos países. Ele já entrou perdendo a discussão.

O governo promete para até o final de abril uma proposta de reforma da Previdência, mas o ministro disse que ela só terá impacto fiscal positivo daqui a 10 anos. O problema é que o déficit está explosivo. Nos últimos dois anos deu um salto ornamental. Só o déficit do INSS foi de R$ 56,6 bilhões em 2014, pulou para R$ 85,8 bilhões no ano passado e a projeção deste ano é de R$ 120 bilhões. O ministro Nelson Barbosa disse que o gasto com a Previdência e com os benefícios de longo prazo ( Loas) consomem 44% do Orçamento. Os benefícios para servidores civis e militares consomem outros 10%. E ele ainda acha que temos 10 anos para resolver isso.

Barbosa promete que através do seu plano o país conseguirá “conter a pressão pelo aumento de carga (tributária)”. Como se diz hoje em dia: é brincadeira.