sábado, 17 de dezembro de 2016

Saída eleitoral - Míriam Leitão

- O Globo

Marina Silva acha que o presidente Temer deveria renunciar. A porta-voz da Rede Sustentabilidade não falou isso com todas as letras, mas foi o que sugeriu. “Nós temos um presidente sem popularidade, sem credibilidade e agora padecendo de falta de legitimidade.” Segundo ela, no Brasil, erroneamente, a renúncia é considerada fraqueza. “Às vezes, a renúncia é a única fortaleza que resta.”

Marina vem pedindo novas eleições há muito tempo. Numa entrevista que fiz com a ex-senadora há oito meses, foi o que defendeu, e na época o movimento era pelo impeachment da presidente Dilma. Repetiu agora em nova entrevista, que fiz esta semana na Globonews. Na sua visão, “a chapa Dilma-Temer mentiu ao país”. Segundo ela, na campanha de 2014, “PMDB e PT não falaram a verdade e ainda tiveram uma atitude de violência política jamais imaginada com quem teve a coragem de dizer que nós estávamos à beira de uma crise econômica”. Isso sem falar no que se soube depois, argumentou:

— Eu sempre bati na tecla de o TSE cassar a chapa Dilma-Temer porque a chapa inteira, como vem sendo comprovado, utilizou dinheiro de corrupção para fraudar aquelas eleições.

Ela garante que esta posição não tem nada a ver com o resultado das pesquisas de opinião. O Instituto Datafolha informou que Marina está na frente em todas as simulações de segundo turno.

Perguntei se ela estava propondo a renúncia do presidente Temer, já que apenas se ele saísse, e antes do fim do ano, poderia haver novas eleições. Qualquer outro desfecho levaria o país a uma eleição indireta pelo Congresso:

— A renúncia é sempre um ato individual, unilateral. E obviamente que é uma decisão do presidente. Infelizmente no Brasil se criou essa ideia de que quem renuncia é fraco e quem renuncia é porque não está lutando. Na verdade, às vezes, a renúncia é a única fortaleza que nos resta. Porque o estadista jamais coloca um projeto de poder acima de um projeto de país. Um estadista jamais coloca o futuro de sua nação subordinado à sua eleição. O estadista faz o que é melhor para o país. E neste momento para o país o melhor é uma nova eleição. Mais de 60% das pessoas querem uma nova eleição.

Marina diz que qualquer partido só pode pensar em candidatura depois que seja devolvido à sociedade a possibilidade de votar. Antes disso, qualquer discussão de nome seria um atropelo.

A origem da crise econômica, segundo ela, foi a falta de capacidade do governo de conduzir o país às mudanças necessárias para enfrentar a crise de 2008. O governo teria trocado o dever de casa pela popularidade. E ainda ocorreram as manipulações contábeis. Quando os sinais de crise ficaram mais evidentes, a ex-presidente Dilma negou que o problema existisse.

Durante o impeachment, no entanto, parlamentares da Rede defenderam a ex-presidente e afirmaram que o governo de então tinha apenas cometido erros contábeis. Por isso, perguntei se a Rede não havia sido uma linha auxiliar do PT naquele embate:

— Não. A Rede como um partido político fez uma longa reunião de dois dias quando mais de 60% da sua direção aprovou a admissibilidade do impeachment. Eu mesma advoguei essa tese. Nós temos quatro deputados, dois deles, o Miro Teixeira e o João Derly, votaram a favor do impeachment. O deputado Molon e o deputado Aliel Machado votaram contrários. Como partido, tínhamos uma posição, mas não fechamos questão. A nossa bancada ficou liberada. A Rede era pela admissibilidade do impeachment por entender que havia, sim, um crime de responsabilidade pelo descumprimento da Lei Orçamentária. Depois o Banco Central atestou que de fato foram feitas operações de crédito com bancos públicos e havia crime de responsabilidade.

Sobre o ajuste fiscal feito pelo governo Temer, ela diz que o Brasil precisa de reformas e que como candidata propôs controle de gastos. Mas tem críticas tanto à Lei de Teto de Gastos quanto à reforma da Previdência. Citou dados mostrando que o Brasil é um país de jovens e com um gasto previdenciário como se tivesse população idosa. Disse que nas duas propostas há “arbitrariedades” e teme principalmente que um governo sem legitimidade toque uma pauta que o Brasil precisa enfrentar e a desmoralize.

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