domingo, 29 de novembro de 2015

Opinião do dia: Marco Aurélio Nogueira

Não é pouca coisa para um único ano. Eppur si muove? Não dá para saber, mas a dinâmica alucinante do quadro está a criar sucessivas oportunidades para reformulações.

Pode ser que alguma luz se acenda no Planalto, vinda, quem sabe, de algum juiz ou dos pequenos partidos de oposição, o PSOL, a Rede, o PPS, o PSB. Pode até mesmo acontecer de alguns morubixabas se reunirem para estender a mão a Dilma e apoiá-la numa recomposição governamental séria. Os partidos não estão mortos. Podem render mais, recuperar sua vocação e sair da letargia.

Não é razoável que da gravíssima crise em que está o País não surja uma bandeira para que se reorganizem a sociedade e o Estado.

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* Marco Aurélio Nogueira é professor titular de teoria política e coordenador do núcleo de estudos e análises internacionais (Neai) da Unesp, ‘Fogo no circo’, O Estado de S. Paulo, 28 de novembro de 2015.

Prisão de Delcídio acelera investigação sobre o Planalto

Prisão de senador petista faz Lava Jato avançar na direção do Planalto

• Delcídio Amaral (PT-MS) e banqueiro André Esteves, presos na quarta-feira, são considerados pela força-tarefa da operação peças fundamentais para esclarecer se gestões petistas na Presidência tinham conhecimento do esquema de irregularidades na Petrobrás

Por Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Alberto Bombig – O Estado de S. Paulo

CURITIBA - A prisão do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), e do banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, precipitaram o avanço da Operação Lava Jato em sua investida sobre o Palácio do Planalto como origem do esquema sistematizado de corrupção no governo, desde o início do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003.

Delcídio é apontado pela investigação como um elemento de ligação entre as gestões de Lula (2003-2010) e a atual, da presidente Dilma Rousseff, iniciada em 2011, com a Petrobrás, onde fez carreira antes de entrar na política. Se contribuir com as apurações da força-tarefa, o senador petista poderá ajudar a investigação a esclarecer quem, como e com qual finalidade montou e operou o esquema de corrupção e desvios na estatal petrolífera.

Com quase dois anos de apurações ostensivas, a força-tarefa adotou a tática de avançar as frentes de apuração conforme o surgimento de pistas e provas a cada nova etapa deflagrada. A suposta tentativa de Delcídio e do banqueiro André Esteves de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró surgiu como um avanço inesperado das investigações da Lava Jato em direção ao núcleo de comando político do esquema.

Um movimento que ainda estava distante dentro da estratégia da força-tarefa e que pode comprovar que, mesmo com a operação deflagrada em março de 2014, a estrutura sistematizada de corrupção continuou a atuar na Petrobrás e em outros setores do governo, como a área de ener
gia e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Entre os negócios investigados pelas autoridades, por exemplo, está a parceria da Petrobrás com o banco BTG Pactual, de Esteves, na África, firmada em 2013, na primeira gestão de Dilma Rousseff.

De imediato, um ex-ministro do governo Dilma Rousseff afirmou ao Estado que, se encontrada irregularidade nessa transação, ela “destrói” a narrativa do governo de que as ilicitudes na Petrobrás se limitavam aos mandatos de Lula.

A força-tarefa da Lava Jato busca reunir elementos para apontar a Casa Civil como mentora do esquema que loteava politicamente cargos estratégicos, fixava porcentuais de pagamento de propina e que estruturou uma máquina de lavagem de dinheiro para ocultar o financiamento ilegal de partidos e campanhas eleitorais com o objetivo de garantir a governabilidade e a permanência no poder.

Seguindo a tática de montar o quadro de funcionamento da organização criminosa alvo das denúncias à Justiça como um quebra-cabeça, investigadores da força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba (PR) e em Brasília, fecharam neste ano o cerco em torno do ex-presidente Lula, mesmo sem tê-lo como alvo central de um inquérito.

Bumlai. A prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, na última terça-feira, como alvo central da Operação Passe Livre – 21.ª fase da Lava Jato – foi a mais recente peça nessa montagem do quebra-cabeça, fechando o círculo ao redor de Lula.

Amigo do ex-presidente, Bumlai é figura central do cerco para comprovar a origem do esquema no Planalto, acreditam procuradores. O pecuarista foi preso acusado de servir de avalista para o empréstimo de R$ 12 milhões do Banco Schahin, em 2004, para que o PT quitasse dívidas de campanha. Sua atuação como elo do empresariado e do setor financeiro com o governo, no entanto, ainda permanece obscura.

Com três ex-ministros da Casa Civil pegos no radar da Lava Jato – José Dirceu, Antonio Palocci e Gleisi Hoffmann –, os investigadores da força-tarefa consideravam ter até aqui a base para revelar o papel efetivo de integrantes do Planalto como figuras ativas e com decisão no esquema de corrupção descoberto na estatal petrolífera – onde o rombo pode ultrapassar os R$ 42 bilhões.

Bumlai – o amigo de Lula –, Delcídio e Esteves atrás das grades, faz a Lava Jato considerar inevitável que novos nomes do Planalto surjam nas investigações, ainda este ano. Além de consolidar o rol de provas para mostrar que o esquema desbaratado na Petrobrás foi reproduzido em outras estatais do governo, em diferentes áreas, como energia, comunicações e infraestrutura, dentro da mesma sistemática.

Familiares querem delação para tirar Delcídio da prisão este ano

• Na avaliação de pessoas muito próximas do senador, alvo da Lava Jato, a colaboração seria o melhor caminho para o petista escapar da prisão antes do Natal

Por Alberto Bombig – O Estado de S. Paulo

Parentes e amigos de Delcídio Amaral (PT-MS) aconselharam o senador a negociar um acordo de delação premiada. Eles avaliam que esse seria o melhor caminho para tirar o petista da prisão ainda este ano, a tempo de passar o Natal com a família.

Em conversas reservadas nos últimos dois dias, o entorno mais próximo do senador considerou pequenas as chances de Delcídio conseguir um habeas corpus na Justiça após a divulgação da gravação feita por Bernardo Cerveró. Na conversa, Delcídio relata suposta pressão a ministros do Supremo Tribunal Federal em busca de um habeas corpus para o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, pai de Bernardo.

A mulher de Delcídio, Maika, que visitaria o marido neste fim-de-semana na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, para tratar do tema da delação premiada, era uma ferrenha defensora da estratégia e discutiu o assunto com o advogado do senador. Ela tem dito que o marido não pode pagar sozinho por erros cometidos pelo PT e pelo Planalto – Delcídio era líder do governo até ser preso pela PF na quarta-feira.

Na delação, Delcídio contaria o que sabe sobre o esquema de corrupção e desvios na Petrobrás em troca de benefícios concedidos pela Justiça.

No depoimento que prestou na quinta-feira à PF, Delcídio citou a presidente Dilma Rousseff, de maneira espontânea, pelo menos três vezes. “A então ministra (de Minas e Energia no governo Lula) Dilma já conhecia Nestor Cerveró desde a época em que ela atuou como secretária de Energia no governo Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul”, afirmou o senador.

“Como a área de exploração de gás era bastante desenvolvida naquele Estado, havia contatos permanentes entre a Diretoria de Gás e Energia da Petrobrás e a secretaria comandada pela Dilma Rousseff”, disse.

O acordo de delação precisa ser acertado com a Procuradoria-Geral da República e, depois, homologado pelo STF.

STF investiga 67 citados na Lava Jato

• A lista inclui dois ministros, 13 senadores e 23 deputados, enquanto número de inquéritos abertos pela Corte chega a 33, com 13 denunciados

Beatriz Bulla e Gustavo Aguiar - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Oito meses após a abertura dos primeiros inquéritos contra políticos sob suspeita de envolvimento na Operação Lava Jato, o Supremo Tribunal Federal contabiliza, pelo menos, 67 investigados na Corte por suposto envolvimento nos esquemas de corrupção na Petrobrás. Na lista, estão um ministro de Estado (Edinho Silva, da Comunicação Social), um ministro do Tribunal de Contas da União (Raimundo Carreiro), 13 senadores e 23 deputados federais. Alguns estão no alvo por mais de um fato criminoso.

A primeira leva de inquéritos na Corte, com 49 nomes, se tornou pública nos primeiros dias de março deste ano. De lá para cá, o grupo de trabalho formado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, avançou em denúncias contra 13 pessoas, sendo cinco parlamentares: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Benedito de Lira (PP-AL) e os deputados Arthur Lira (PP-AL) e Nelson Meurer (PP-PR). Oferecida a denúncia, cabe agora ao STF decidir se abre uma ação penal e torna réus os investigados.

Sigilo. As primeiras denúncias, de Cunha e Collor, vieram em agosto. Entre os investigadores, o prazo de cinco meses entre a abertura de inquérito e o oferecimento da acusação formal é considerado célere. Além das delações premiadas que embasaram o início das investigações – de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás, e do doleiro Alberto Youssef –, novos delatores e quebras de sigilo bancário e fiscal engordaram o material da Procuradoria. A denúncia de Collor é mantida em sigilo até hoje, por conter trechos de depoimento do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da empresa UTC.

O Supremo não deve ter tempo hábil de dar ainda neste ano o primeiro passo no julgamento de políticos: o recebimento da denúncia. Defesa e Ministério Público têm prazos legais para manifestações. Os advogados de Collor e de Cunha, por exemplo, conseguiram ganhar tempo na Corte, com prazo em dobro para resposta.

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) e o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, assim como o assessor do congressista, Diogo Ferreira, e o advogado Edson Ribeiro, presos por tentativa de obstrução das investigações, devem reforçar o rol de denunciados.

Acesso restrito. No total, o Supremo tem, pelo menos, 33 inquéritos abertos. Uma investigação foi arquivada até o momento: a do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), por falta de provas, segundo a Procuradoria. O número é subestimado em razão dos chamados “inquéritos ocultos” – peças que, apesar de estarem em andamento, não existem no sistema eletrônico do tribunal e ficam acessíveis a um número restrito de servidores do gabinete do discreto ministro Teori Zavascki, o relator da Lava Jato no Supremo. No grupo de inquéritos ocultos estão o do ministro Edinho Silva, além da investigação sobre o ministro do TCU Raimundo Carreiro e do advogado Tiago Cedraz, filho do presidente da Corte de Contas, Aroldo Cedraz.

Na maioria das outras peças, sem denúncia, a Polícia Federal pediu no início do mês a prorrogação do prazo para investigações. É o caso do inquérito que investiga o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Braços. Os desdobramentos das investigações que não possuem relação direta com o esquema de corrupção na Petrobrás são distribuídos para relatoria de outros ministros. É o caso do inquérito que investiga o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP). Ambos foram citados na delação de Ricardo Pessoa e são suspeitos de uso de caixa 2 eleitoral, sem relação com a Petrobrás. O ministro Dias Toffoli recebeu outro desdobramento da Lava Jato, relativo a suposta fraude no Ministério do Planejamento com investigação da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR).

Inquérito ganha fôlego com prisão de Delcídio

• Principal investigação da Lava-Jato autorizada pelo STF reúne 39 pessoas, incluindo políticos como Renan

Vinicius Sassine e Eduardo Bresciani - O Globo

BRASÍLIA - A prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), a apreensão de novos documentos na operação e a delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró vão dar novo impulso ao maior inquérito da Lava-Jato aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar autoridades com foro privilegiado. Instaurado há quase nove meses, o inquérito investiga 39 pessoas e é considerado o principal dentre os autorizados pelo STF por conectar os políticos citados num mesmo crime: o de formação de quadrilha.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) acredita que os documentos recolhidos por ocasião da detenção do senador vão fornecer informações novas ao inquérito, assim como a delação premiada de Cerveró, fechada no último dia 18.

O cerne desse inquérito-mãe é detalhar a participação dos partidos nas diretorias da Petrobras e apurar se parlamentares agiram em quadrilha para se beneficiar dos desvios da estatal. A investigação será a oportunidade para o STF decidir, quando houver denúncia, se as autoridades integraram organização criminosa.

O PT controlou a Diretoria de Serviços; o PMDB, a Diretoria Internacional; e o PP, a Diretoria de Abastecimento. O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, denunciado e preso em Curitiba, foi incluído no inquérito no STF para avançar na apuração sobre a participação de parlamentares petistas. A cúpula do PMDB no Senado — o presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), Edison Lobão (MA), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO) — também é investigada, suspeita de agir no Congresso para garantir apoio ao ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e de controlar a área internacional. O PP tem 31 dos 39 investigados no inquérito, entre eles o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI). O lobista Fernando Baiano, operador do PMDB, integra o grupo dos 39.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidiu conectar os procedimentos relacionados a Delcídio a esse inquérito-mãe. “Os fatos tratados são conexos com os fatos que constituem o objeto do inquérito número 3989 e que envolvem diversos parlamentares em esquema criminoso montado dentro da Petrobras, com pagamentos periódicos de propina. Esse esquema se instaurou especialmente na Diretoria de Abastecimento, na Diretoria de Serviços e na Diretoria Internacional da Petrobras e contava com a participação de grupos de políticos ligados a pelo menos três partidos: PT, PMDB e PP”, escreveu o procurador-geral nos pedidos de busca autorizados pelo STF na semana passada.

Janot ressaltou como a delação de Cerveró vai contribuir para as investigações: “Os fatos relatados por Nestor Cerveró em sua colaboração, na qualidade de ex-diretor da Diretoria Internacional, são de enorme relevância para as investigações do inquérito 3989.” As buscas feitas na casa e no gabinete de Delcídio no Senado, e as apreensões relacionadas aos outros investigados, “também permitirão colher outros elementos que reforcem a participação deles e de terceiros no esquema de corrupção instalado na Petrobras”, em especial o que é investigado no inquérito 3989.

Delcídio foi preso na quartafeira por decisão do STF. Em conversa gravada pelo filho de Cerveró, Bernardo, o senador prometeu interceder junto ao STF pela liberdade do ex-diretor e discutiu um plano de fuga para Cerveró. Delcídio prometeu ainda o pagamento de R$ 4 milhões em honorários para o advogado Edson Ribeiro e uma mesada de R$ 50 mil para a família do ex-diretor, que seria paga pelo banqueiro André Esteves, do BTG Pactual. Ribeiro e Esteves foram presos. O objetivo do senador e do banqueiro, conforme as provas recolhidas pela PGR, era livrarem-se da delação de Cerveró.

Do áudio gravado por Bernardo, Delcídio afirmou que, no rascunho da delação, há citação a Renan e ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA) como beneficiários de recursos desviados.

PGR estudava arquivamento
O impulso novo ao inquérito ocorre num momento em que a PGR já decidiu promover arquivamentos em relação a alguns dos parlamentares citados, segundo fontes com acesso às investigações. Faltam provas sobre o envolvimento de todos os investigados.

Boa parte dos políticos do PP, por exemplo, foi incluída no inquérito devido a citações do doleiro Alberto Youssef de que eles recebiam mesada do esquema. Em depoimento em julho, porém, o doleiro deixou de dar detalhes sobre como seria o suposto recebimento de propina. Youssef citou como único motivo para tê-los incluído o fato de constarem em uma lista que lhe era repassada pela cúpula do partido.

Questionado no depoimento se os nomes de outros deputados poderiam ter sido incluídos só para que a cúpula recebesse mais repasses, o doleiro disse que não se pode duvidar disso. “Dessa gente pode-se esperar tudo”, registra o termo de depoimento do doleiro.

Delação de Fernando Baiano estava com Delcídio

• Polícia Federal apreendeu documento no gabinete do senador

Vinicius Sassine - O Globo

BRASÍLIA - A Polícia Federal (PF) apreendeu no gabinete do senador Delcídio Amaral (PT-MS) uma cópia da delação premiada do lobista Fernando Baiano, documento ainda sob sigilo e cujo repasse é fruto de um “canal de vazamento”, segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A informação sobre a apreensão foi confirmada ao GLOBO pelo advogado Délio Lins e Silva, que defende o chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira Rodrigues. A Procuradoria-Geral da República (PGR) e a PF mantêm sob sigilo o material apreendido na operação feita.

As buscas e apreensões foram pedidas pela PGR, autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e cumpridas pela PF na última quarta-feira. Delcídio foi preso preventivamente e Diogo, temporariamente — o prazo de cinco dias termina hoje. A PF também prendeu o banqueiro André Esteves, dono do Banco BTG Pactual, e o advogado Edson Ribeiro, que defendia o exdiretor da Petrobras Nestor Cerveró. A suspeita é que o grupo atuou para garantir a retirada dos nomes de Delcídio e Esteves da delação de Cerveró.

Um dos principais motivos para Janot pedir uma busca e apreensão no gabinete do líder do governo no Senado foi a informação de que ele detinha, de forma ilegal, cópias da delação de Baiano e do rascunho da delação de Cerveró. O próprio Delcídio, na gravação feita pelo filho de Cerveró e usada como prova para as prisões, afirma ter tido acesso ao material.

Pela 1ª vez, corrupção é vista como maior problema do país, diz Datafolha

Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

No ranking de problemas do país conforme a opinião dos brasileiros, a corrupção é, pela primeira vez, a campeã isolada.

Segundo pesquisa Datafolha realizada nos dias 25 e 26 em todo o país, 34% dos eleitores colocam a corrupção como o principal problema do Brasil na atualidade. Na sequência aparece saúde, com 16%; desemprego, com 10%, educação e violência, ambos os temas com 8%. Economia é assunto citado por 5%.

A pesquisa foi feita em meio à Operação Lava Jato, que começou apurando a atuação de doleiros em 2014, agigantou-se com a descoberta de um esquema de corrupção na Petrobras envolvendo funcionários da estatal, grandes empreiteiras e políticos, e depois estendeu-se para o setor elétrico.

Entre os investigados estão petistas de proa, como o ex-deputado José Dirceu e o ex-tesoureiro da sigla João Vaccari Neto (ambos presos); os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL); e diversos outros congressistas, como os senadores Edison Lobão (PMDB-MA), Fernando Collor (PTB-AL), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Romero Jucá (PMDB-RR).

A pesquisa foi feita logo após a prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, conhecido pela amizade com o ex-presidente Lula. E simultaneamente à prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e do banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, ambos suspeitos de sabotar a Lava Jato oferecendo vantagens ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que assinou acordo de delação premiada.

O Datafolha investiga a principal preocupação dos brasileiros desde 1996, ainda durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso na Presidência.

Durante todo o período tucano (até 2002), o tema líder no ranking de principais problemas foi o desemprego, com o recorde de 53% no fim de 1999. Em algumas rodadas, fome/miséria apareceu em segundo lugar na lista de preocupações, assunto citado por apenas 1% atualmente.

Desemprego continuou reinando no ranking até o fim do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.

O segundo mandato de Lula começou com um substancial aumento da preocupação com violência/segurança, assunto líder em todas as pesquisas de 2007. De 2008 até junho deste ano foi o período dominado pela saúde.

Sob Lula e FHC, corrupção nunca foi apontado como o principal problema do país por mais de 9% do eleitorado.

O tema começou a ganhar força em junho de 2013, primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, mês de enormes protestos de rua pelo país com pautas variadas, da tarifa do transporte à violência policial. Naquele momento, a corrupção foi citada como maior problema por 11%, recorde na série histórica do Datafolha até então.

Nas três pesquisas anteriores de 2015, ficou sempre acima de 20%. O Datafolha ouviu 3.541 pessoas. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Delcídio do Amaral: ‘A’ testemunha

• Nos últimos doze anos, o senador acompanhou de dentro o lado sombrio dos governos petistas. Viu o nascimento dos esquemas de corrupção, seus desdobramentos financeiros e eleitorais, participou dos esforços para debelá-los e agora pode apontar com precisão quem são os mentores e beneficiários

Por: Daniel Pereira e Rodrigo - Veja

Para entender a magnitude da prisão, na semana passada, de Delcídio do Amaral, senador petista e líder do governo, é preciso até um pouco de imaginação. Pois imaginemos que nenhum empresário preso na Operação Lava-Jato tivesse até hoje quebrado o silêncio nas delações premiadas - ou que nenhum político estivesse na lista que a Procuradoria-Geral da República mandou para o Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo no cenário irreal acima, a prisão de Delcídio e a possibilidade de ele recorrer à delação premiada - uma vez que foi abandonado pelo PT, ignorado por Dilma e ofendido por Lula - terão consequências devastadoras para a estabilidade do já cambaleante regime lulopetista. Delcídio do Amaral testemunhou os momentos mais dramáticos dos escândalos do governo do ex-¬presidente. Viveu e participou desses mesmos momentos no governo Dilma. Delcídio não é uma testemunha. Ele é "a" testemunha - e a melhor oportunidade oferecida à Justiça até agora de elucidar cada ação da entidade criminosa que, nas palavras do ministro Celso de Mello, decano do STF, "se instalou no coração da administração pública".

Terminada uma reunião no gabinete de Dilma Rousseff, em junho passado, Delcídio chamou-a de lado e disse a seguinte frase: "Presidente, a prisão (de Marcelo Odebrecht) também é um problema seu, porque a Odebrecht pagou no exterior pelos serviços prestados por João Santana à sua campanha". Delcídio contrariou o diagnóstico de Aloizio Mercadante, que ainda chefiava a Casa Civil, segundo quem a prisão de Marcelo Odebrecht "era problema do Lula". Ao deixar o Palácio do Planalto, Delcídio definiu Dilma a um colega de partido como "autista", espantado que ficou com o aparente desconhecimento da presidente sobre o umbilical envolvimento financeiro do PT com as empreiteiras implicadas na Lava-Jato. Na reunião, Dilma dissera aos presentes que as repercussões da operação nada mais eram do que uma campanha para "criminalizar" as empreiteiras e inviabilizar seu pacote de investimento e concessões na área de infraestrutura. "A Dilma não sabe o que é passar o chapéu porque passaram o chapéu por ela", concluiu Delcídio.

Passar o chapéu é bater na porta das empreiteiras e pedir dinheiro para campanhas políticas. Quando feitas dentro da lei, as doações não deixam manchas no chapéu. Mas, quando fruto de propinas como as obtidas nos bilionários negócios com a Petrobras, a encrenca, mesmo que seja ignorada por sua beneficiária, não vai embora facilmente. Menos de um mês após a reunião no Planalto, a Polícia Federal divulgou as explosivas anotações com que Marcelo Odebrecht incentivava seus advogados a encontrar uma maneira de fazer chegar a Dilma a informação de que as investigações sobre as contas da empreiteira na Suíça bateriam nela.

Poucos políticos tiveram mais acesso do que Delcídio aos bastidores do mensalão e do petrolão. Poucos políticos conhecem tão bem como ele as entranhas da Petrobras, onde trabalhou e fez amigos. Poucos políticos têm tanto trânsito como ele nos gabinetes mais poderosos da política e da iniciativa privada. Até ser preso, Delcídio atuava como bombeiro, tentando reduzir os focos de tensão existentes para Lula, Dilma e o PT. Na condição de encarcerado, é uma testemunha decisiva. A possibilidade de ele colaborar com os investigadores está sob avaliação de sua família.

BTG Pactual é o segundo maior doador eleitoral entre bancos

• Grupo de André Esteves contribuiu com R$ 619 mil a Delcídio Amaral

Bruno Góes - O Globo

O grupo do banco BTG Pactual, presidido pelo empresário André Esteves, doou R$ 42,5 milhões em 2014 para candidatos a presidente, governador, senador e deputado federal. A maior fatia dessas doações foi direcionada ao PT: cerca de R$ 13 milhões, embora o BTG tenha repassado dinheiro a 15 partidos.

Grande doador, o BTG Pactual foi responsável por um quinto de todas as doações de entidades financeiras a candidatos eleitos e não eleitos no ano passado. Só não doou mais que o Bradesco, que repassou R$ 72,5 milhões. Os dados são da ferramenta Mosaico Eleitoral, da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV).

O BTG Pactual doou R$ 619,8 mil à campanha de Delcídio Amaral (PT) ao governo de Mato Grosso do Sul. O petista foi derrotado no segundo turno das eleições pelo tucano Reinaldo Azambuja e retornou ao seu mandato no Senado. Delcídio Amaral e André Esteves foram presos semana passada por suspeita de tentar comprar o silêncio do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró e obstruir as investigações da Lava-Jato.

O BTG Pactual doou R$ 15,6 milhões a 15 candidatos a governador, sendo a maior doação à campanha de Eduardo Braga (PMDB) ao governo do Amazonas: R$ 3 milhões. Braga foi derrotado e hoje é ministro de Minas e Energia do governo Dilma Rousseff.

Cunha recebeu R$ 500 mil
Na disputa à Câmara dos Deputados, o então candidato à reeleição Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi agraciado com R$ 500 mil, a maior doação do BTG a quem tentava se eleger para a Casa. Artur Bisneto (PSDB-AM), em segundo, recebeu cerca de R$ 494 mil. Em terceiro lugar, o petista Zarattini (SP), com R$ 475 mil.

Já na disputa ao Senado, as maiores contribuições foram dadas ao senador eleito Antonio Anastasia (PSDB-MG) e ao candidato derrotado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA): ambos receberam R$ 1 milhão.

O quadro geral das contribuições do BTG Pactual mostra que o grupo fez mais doações às forças governistas. Enquanto o PT recebeu, no total das doações, cerca de R$ 13 milhões, o PMDB foi contemplado com um pouco mais de R$ 12 milhões. O PSDB, entretanto, partido de oposição, ficou em terceiro no ranking, tendo recebido R$ 10,4 milhões. O BTG fez doações até a candidatos de partidos nanicos, como PMN (R$ 140 mil) e PSDC (R$ 20 mil).

A maior doação do BTG Pactual foi à campanha da presidente Dilma Rousseff: R$ 9,5 milhões. Aécio Neves (PSDB), por sua vez, recebeu R$ 5,2 milhões.

Em 2014, o Banco BTG Pactual doou R$ 29,3 milhões para candidatos a governos, Câmara, Senado e Presidência. Já o BTG Pactual Asset Management S.A. Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários , R$ 4,1 milhões; o BTG Pactual comercializadora de energia, R$ 2 milhões; o BTG Pactual Corretora de Títulos e Valores Mobiliários S.A., R$ 4 milhões; o BTG Gestora de Recursos, R$ 2,1 milhões; e o BTG Pactual Serviços Financeiros S.A. Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, R$ 1 milhão.

As doações do BTG Pactual feitas à campanha de Delcídio Amaral em Mato Grosso do Sul representam apenas 2,5% do total arrecadado pela campanha. As empresas que mais doaram foram: Odebrecht (R$2,9 milhões), Andrade Gutierrez (R$ 2,8 milhões) e UTC (R$2,3 milhões). Essas três empresas são investigadas pela Operação Lava-Jato e os seus dirigentes são acusados de pagar propina em troca de contratos com a Petrobras.

Minha Casa é alvo de mais de 300 inquéritos

• Em ao menos 3 estados, MP descobre esquemas de cartel igual ao Lava-Jato

Empreiteiras de médio porte são acusadas de superfaturar obras e subornar agentes públicos
Cartel habitacional

• Mais de 300 ações do MPF apuram fraudes de empreiteiras no Minha Casa Minha Vida

Mariana Sanches - O Globo

SÃO PAULO e NOVO HAMBURGO (RS) - Nos moldes de esquema de corrupção revelado pela Operação Lava-Jato, o maior programa de habitação popular do país, o Minha Casa Minha Vida, tem sofrido com organizações criminosas de empreiteiras de médio porte que se associam em cartéis para burlar concorrências, superfaturar obras, repassar propinas a agentes públicos e irrigar campanhas políticas com desvio de verba pública. A Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Controladoria-Geral da União já descobriram quatro casos como esse em três estados. As fraudes ao programa, cujo orçamento já atingiu R$ 278 bilhões, são tantas que provocaram a abertura de mais de 300 ações, de acordo com um levantamento feito pelo grupo de trabalho do MPF dedicado ao tema. As denúncias envolvem ainda irregularidades na escolha de beneficiários, custo excessivo, baixa qualidade de casas, repasses de dinheiro público sem o cumprimento dos serviços ou mesmo sem garantia.

— Vemos que o programa abriu portas para a corrupção e o gasto desenfreado de dinheiro público — afirma Edilson Vitorelli, procurador-chefe do grupo de trabalho sobre o Minha Casa.

O GLOBO identificou o enredo no Rio Grande do Sul, no Acre e em Minas Gerais, estados onde projetos investigados somam mais de 4 mil unidades.

Quando os envelopes de uma licitação para construção de 336 casas na cidade gaúcha de Novo Hamburgo foram abertos, em agosto de 2012, os promotores do Ministério Público já sabiam quem ganharia. Nos meses que antecederam a licitação, acompanharam a negociação por escuta telefônica de seis empreiteiros que formavam cartel e organizavam a fraude da concorrência pública. Um deles afirmava estar disposto a “comprar a noiva” — o que, segundo os investigadores, significava pagar entre R$ 60 mil e R$ 80 mil para outras empresas desistirem do negócio de R$ 18 milhões. Outros comemoravam o fato de o preço por metro quadrado estar acima da média, e acertavam que o valor ofertado seria apenas cerca de R$ 1 mil abaixo do teto estabelecido.

Naquele momento, o então prefeito era candidato à reeleição. O empresário “vencedor” da concorrência entregou R$ 300 mil à então diretora de Licitações da prefeitura, que garantiria as condições favoráveis do contrato em troca do repasse para a campanha municipal. A investigação virou processo, ainda sem julgamento.

— É exatamente a história da Lava-Jato, só que em menor escala. São empresas de poderio econômico relevante que disputam contratos públicos em negociações com políticos locais. Mas o modus operandi é o mesmo de empresas multinacionais em contratos bilionários com a União — afirma o promotor Ricardo Herbstrith, responsável pela investigação em Novo Hamburgo.

As reclamações mais triviais entre os beneficiários do programa conduziconduta ram os investigadores do MPF, da PF e da CGU a um esquema milionário de desvio de dinheiro público envolvendo cartel de empresários e vereadores no leste de Minas.

Cabos eleitorais beneficiados
Os moradores das 400 casas nos municípios mineiros de Durandé e Martins Soares relatavam que o material de suas residências era péssimo. O fato chamou a atenção dos procuradores, que acabaram descobrindo que a entidade responsável pelas moradias operava em conluio com um cartel de empresas da construção civil, que forneciam os piores produtos a um custo pelo menos 10% maior do que os vistos no mercado. Os beneficiários eram escolhidos entre eleitores e cabos eleitorais de dois vereadores, que ignoravam os critérios de vulnerabilidade social estabelecidos pelo Ministério das Cidades, que gerencia o programa. A quadrilha ainda cobrava uma taxa ilegal de dois salários mínimos como se fossem custos do financiamento.

— Verificamos que o programa foi usado com finalidade política e para enriquecimento ilícito. Não provamos que os funcionários da Caixa tiveram dolosa, mas houve negligência na fiscalização de quem recebia as casas, do serviço feito. A Caixa não exigiu nem nota fiscal — afirmou o procurador Lucas Gualtieri, um dos responsáveis pela Operação Tyrannos, que prendeu, na semana passada, os dois vereadores e mais 11 pessoas envolvidas no esquema; no total, o grupo obteve R$ 56 milhões em contratos em 25 municípios, agora sob investigação.

Ainda em Minas, outra investigação revelou o cartel de três empreiteiras que atuava em obras do programa em Lavras. A quadrilha era formada por empresários da construção civil e servidores públicos municipais, além de funcionários da Caixa. As investigações, que transcorrem em segredo de Justiça, já indicaram que os suspeitos direcionavam licitações e superfaturaram as obras.

No Acre, há alguns dias, a Justiça Federal aceitou a denúncia contra 16 empreiteiros e três funcionários públicos — entre eles o então secretário estadual de Habitação — por fraude e cartel na construção de três mil casas em bairro de Rio Branco batizado de Cidade do Povo.

— A investigação mostra que os servidores chamaram as empresas que preferiam e repartiram a obra. Diziam que era importante para a eleição (do governador Tião Viana) — afirma o procurador Marino Lucianelli Neto, do Acre, que ainda investiga se houve repasses de propina a políticos ou campanhas eleitorais; o governo do Acre não respondeu ao GLOBO.

Em nota, o Ministério das Cidades afirmou desconhecer o teor das denúncias e disse que “a habilitação dos candidatos é feita pela Caixa através do Sitah (Sistema de Tratamento de Dados Habitacionais), confrontando os dados com os registros no CadÚnico, FGTS, Rais”, entre outros e sem interferência humana na confrontação desses sistemas”. Quanto à má qualidade dos imóveis, o ministério afirma que devem ser acionados os “contratantes — instituições financeiras oficiais —, a quem caberá adotar providências de reparação”. Já a Caixa informou que não cabe ao banco, mas, sim, ao “responsável técnico da entidade acompanhar e atestar a utilização dos materiais conforme projeto, memorial descritivo e demais peças de engenharia apresentadas.” Afirmou também que segue o estabelecido pelo ministério na escolha de beneficiários e que colabora com a PF e o MPF nas investigações.

Pessimismo e desesperança devem pautar ano de 2016

Mauro Paulino, Alessandro Janoni – Folha de S. Paulo

É improvável que os dados divulgados neste domingo (29) configurem uma trégua, mesmo que temporária, da opinião pública na reprovação da presidente Dilma Rousseff, taxa que cresceu 47 pontos percentuais ao longo de 2015.

O recorde negativo, conquistado em agosto e mantido em alto patamar agora, apesar de oscilações positivas, continua comparável apenas ao de Collor às vésperas da abertura do processo de impeachment. As crises política e econômica e as revelações da Lava Jato minaram a confiança dos brasileiros na viabilidade do país.

O pessimismo majoritário sobre a inflação e o desemprego associado à ideia cada vez mais presente no imaginário da população de que o Brasil é dominado pela corrupção –pela primeira vez apontada como principal problema do país– configura o balanço final do ano pós-reeleição da petista. O quadro arranhou o legado lulista.

Mesmo entre os mais pobres e menos escolarizados, perfil predominante na base eleitoral do PT, a avaliação negativa do governo tem índices expressivos.

Nesses segmentos, a taxa de eleitores frustrados com Dilma, aqueles que a escolheram na última eleição mas agora a reprovam, supera a média em mais de cinco pontos percentuais. Até entre os que recebem Bolsa Família, 62% a veem como ruim ou péssima. O próprio ex-presidente apresenta desgaste em sua imagem. As denúncias do envolvimento de amigos e familiares em episódios suspeitos intensificou a tendência.

Menções a Lula como o melhor presidente da história caíram 11 pontos nos últimos sete meses e metade da população rejeita o seu nome para concorrer à Presidência em 2018 –um choque para quem encerrou o segundo mandato com 83% de aprovação.

O Congresso também sofreu um revés forte. Os vários capítulos da crise política, além da descoberta das contas de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no exterior, refletiram na avaliação que os brasileiros fazem dos parlamentares. É uma das maiores taxas de reprovação da história.

Como parte da pesquisa foi realizada antes da prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), é bem provável que, se o campo se estendesse, a taxa superasse o recorde de 1993, de 56%.

Se os dados de hoje dão algum alento ao governo devido às oscilações positivas na avaliação da presidente, a manutenção da tendência depende de quanto 2016 conseguirá despertar a confiança dos brasileiros e reverter a onda de desesperança.

Em um ano, praticamente dobrou a expectativa pelo aumento do desemprego (de 39% para 76%) e por uma queda no poder de compra dos salários (34% para 67%).

Ambiente pessimista acompanhou também FHC em seu primeiro ano reeleito, quando mudou a política cambial, provocando a desvalorização do Real. Em dezembro de 1999, 66% dos brasileiros esperavam um aumento do desemprego e 67%, crescimento da inflação. As taxas diminuíram um pouco ao longo do ano seguinte, assim como a popularidade do tucano teve leve melhora.

Tais mudanças, porém, não foram suficientes para impedir um avanço importante da oposição, especialmente de candidatos do PT, nas eleições de 2000.

A permanência do clima atual em 2016 pode gerar efeito semelhante, mas com atores incertos, já que a crise de representação se agrava e há mais vácuo do que oposição aos olhos da opinião pública.

47% do eleitorado não votaria em Lula em 2018, aponta Datafolha

Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

Do ponto de vista eleitoral, o maior beneficiado com a combinação de crise política e econômica não parece ser o PSDB, principal opositor da presidente Dilma Rousseff, mas a hoje reclusa Marina Silva (Rede), ex-senadora que ficou em terceiro na disputa pela Presidência em 2014.

É o que mostra a pesquisa Datafolha nos dias 25 e 26 com 3.541 entrevistas e margem de erro de dois pontos.

Na simulação que coloca o senador Aécio Neves como candidato do PSDB, Marina avançou três pontos (de 18% para 21%) e agora aparece tecnicamente empatada com o ex-presidente Lula (22%) na segunda posição. O tucano lidera com 31%, mas tinha 35% na pesquisa anterior.

Quando o candidato do PSDB é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, Marina lidera isolada com 28%, seis pontos a mais que Lula (que caiu quatro desde junho) e dez a mais que o tucano (que oscilou dois para baixo).

Um dado que chama a atenção no levantamento é a taxa de rejeição do ex-presidente Lula. Quase metade dos eleitores (47%) dizem que não votariam nele de jeito nenhum. É uma taxa inferior apenas a atribuída a Ulysses Guimarães (1916-1992) em pesquisas feitas em 1989, quando disputou a Presidência pelo PMDB. Em agosto daquele ano, Ulysses amargou 52% de rejeição, recorde até hoje.

Aécio é rejeitado por 24% atualmente; o vice Michel Temer (PMDB), por 22%. Alckmin e Marina, por 17%.

O Datafolha mostra ainda que a imagem de Lula como ex-presidente perde força com velocidade. Em 2010, ele era visto como o melhor presidente que o Brasil já teve por 71%. Caiu para 56% no fim de 2014; 50% em abril; 39% agora. Apesar disso, segue líder.

Reprovação ao governo Dilma cai de 71% para 67%, aponta Datafolha

Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

A reprovação à gestão da presidente Dilma Rousseff caiu de 71%, em agosto, para 67% na pesquisa Datafolha dos dias 25 e 26 deste mês.

É uma novidade, considerando que não havia registro de variação maior que dois pontos neste indicador desde agosto de 2014, ainda durante a campanha eleitoral pela reeleição.

Não é a ocasião, porém, para que os governistas saiam comemorando. Os 67% de avaliação negativa da presidente petista (soma dos que julgam seu governo como ruim ou péssimo) são a segunda pior marca numérica desde a sua posse, em 2011.

Além disso, a queda de quatro pontos na reprovação não significou um aumento proporcional na aprovação.

Agora, 10% julgam o governo Dilma como bom ou ótimo, só dois pontos acima dos 8% apurados em agosto –o pior patamar de todos os presidentes desde a primeira pesquisa do gênero feita pelo Datafolha, em 1990, ainda no governo Fernando Collor.

A margem de erro no levantamento com 3.541 pessoas é de dois pontos percentuais.

Além da Operação Lava Jato, que mancha a imagem da Petrobras e atinge figuras importantes do PT e de sua base no Congresso, o persistente pessimismo geral com a economia ajuda a explicar as dificuldades de Dilma.

Para 77% a inflação irá aumentar no próximo período, taxa altíssima na comparação com os anos anteriores e praticamente inalterada desde março. Na opinião de 67% o poder de compra irá diminuir, um recorde (63% pensavam assim em junho).

E emprego, tema forte no discurso de Dilma, também é visto com inédito pessimismo pelos eleitores. Para 76%, o desemprego irá aumentar ante 73% que acreditavam nisso na última pesquisa.

Essa taxa vem crescendo seguidamente desde outubro de 2014, véspera do segundo turno das eleições. Era 26% naquele mês e já havia disparado para 62% no início do segundo mandato de Dilma.

O Datafolha também investigou a opinião dos eleitores sobre a hipótese de abertura de um processo de impeachment contra Dilma no Congresso Nacional. A ideia continua sendo apoiada pela maioria: 65% acham que os congressistas deveriam desencadear o processo, apenas um ponto percentual a menos que o apurado em agosto.

Para mais da metade dos entrevistados (56%), porém, ela não será afastada. Nesse cenário, 62% opinaram que Dilma deveria renunciar à Presidência da República.

Senadores resistem a fazer Conselho de Ética funcionar

• Além de PT e PMDB evitarem ofensiva contra Delcídio, regras do colegiado estimulam arquivamento ou morosidade de processos

Isabela Bonfim e Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O processo de cassação do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), no Conselho de Ética da Casa pode nem começar por causa da burocracia prevista no Código de Ética do Senado e da resistência nos partidos que controlam o órgão. O código permite que o presidente do colegiado, João Alberto Souza (PMDB-MA), engavete de imediato possível representação contra o senador.

Delcídio foi preso preventivamente na semana passada pela Polícia Federal acusado de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato. Quatro partidos de oposição – PSDB, DEM, PPS e Rede – prometem representar contra ele na terça-feira.

A tendência no PT e no PMDB, legendas com maior número de representantes no conselho, porém, é evitar uma ofensiva contra Delcídio. A maioria dos petistas, incluindo os três integrantes do colegiado – José Pimentel (CE), Regina Souza (PI) e Paulo Rocha (PA) – votou na quarta-feira da semana passada por revogar a prisão do líder de governo, mas foi derrotada. A bancada do partido se opôs ao Diretório Nacional, que divulgou nota negando solidariedade ao senador.

O PMDB também resiste a um processo de cassação, pois teme que ele abra precedentes indesejáveis. Quatro peemedebistas são investigados pela Lava Jato e, eventualmente, podem ser questionados no colegiado. Trata-se de Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, Romero Jucá, Edison Lobão (MA) e Valdir Raupp (RO).

Renan, que deixou claro seu posicionamento favorável à revogação da prisão de Delcídio, também não demonstrou interesse em abrir o processo no Conselho de Ética contra o petista, ato que ele poderia cumprir por meio de ofício da Mesa Diretora do Senado.

‘Engavetador’. Fora a indisposição dos partidos aliados ao governo, há ainda obstáculos no Código de Ética. Mudanças no texto foram feitas em 2008, poucos meses após as sucessivas denúncias que levaram Renan a renunciar à presidência da Casa.

Cabe ao presidente do Conselho de Ética decidir se aceita ou arquiva o processo. À frente do colegiado pela quarta vez, o peemedebista tem fama de “engavetador”. Ele arquivou, em 2010, por exemplo, processo contra o ex-presidente da República e ex-senador José Sarney (PMDB-AP), seu aliado.

Na votação que decidiria o destino de Delcídio, João Alberto, próximo a Renan, foi favorável tanto à votação secreta quanto à revogação da prisão do senador. Caso ele arquive a representação, pelo menos cinco senadores precisam apoiar eventual recurso, que precisa ser votado pelo plenário do conselho.

Ferreira Gullar: Nada justifica atentados

- Folha de S. Paulo / Ilustrada

O mundo inteiro ficou chocado com os atentados que, na sexta-feira (13), mataram e feriram mais de uma centena de indivíduos, em Paris. Onde quer que ocorressem, tais atos de selvageria teriam horrorizado as pessoas, mas, em Paris, ganharam um grau particular de afronta ao mundo civilizado, por ser aquela uma cidade símbolo do culto às artes e à liberdade. Tudo leva a crer, portanto, que aquela não foi uma escolha eventual dos terroristas islâmicos, e sim a explícita e desvairada manifestação de que seu propósito é pôr fim ao mundo civilizado.

Pode parecer exagero, uma vez que não será o assassinato absurdo de inocentes e a explosão de casas de espetáculos e restaurantes que os conduzirá ao seu delirante objetivo. De qualquer modo, movidos por esse propósito, submetem ao terror uma nação inteira.

Se há uma coisa difícil de evitar é atentado terrorista. É verdade que a frequência dessas ações termina por oferecer ao agredido elementos que o ajudarão a prever e se antecipar a novos ataques, mas anulá-los definitivamente é quase impossível, enquanto o núcleo gerador dos ataques se mantiver atuante.

No caso do Estado Islâmico, a coisa é mais complicada ainda, por envolver jovens de origem muçulmana, alguns dos quais nascidos na Europa, mas que, por sua formação religiosa, são facilmente cooptados pelos terroristas e passam a seguir suas decisões. Os atentados em Paris deixaram isso bem claro. Os terroristas que dele participaram eram descendentes de árabe, que o Estado Islâmico cooptou e adestrou ideológica e militarmente para atacarem o país (ou países) onde nasceram e onde vivem.

Não li nada sobre isso, mas acredito que, se a escolha do objetivo deve partir dos dirigentes do Estado Islâmico, o planejamento e a execução são obra dos grupos que realizam os atentados. Esses são, na verdade, fiéis seguidores de uma concepção de islamismo caracterizada por fanatismo delirante, conforme o qual quem não adere a ele deve morrer.

Não se trata apenas de um princípio doutrinário, e sim de uma prática que tem sido executada de modo implacável, como demonstram as frequentes execuções de "infiéis" que não aderem a esse fanatismo. Milhares de muçulmanos dos povoados e cidades que o Estado Islâmico ocupou foram sumariamente executados em nome de Alá.

Por outro lado, se os terroristas não respeitam a vida alheia, tampouco se apegam à sua própria, como demonstra a frequência como se suicidam, detonando as bombas que trazem presas ao corpo. Há, porém, uma diferença entre os dois tipos de mortes: os infiéis, que eles executam, vão para o inferno, enquanto eles, os suicidas, vão para o seio de Alá, onde os esperam 72 virgens, para cada um. Não estou dizendo nada de novo; ao contrário, apenas repito o que todo mundo sabe e que eles próprios alardeiam.

Por isso mesmo, causou-me surpresa a opinião de alguns comentaristas nos jornais e na televisão, segundo os quais os atentados terroristas ocorridos em Paris teriam sido consequência da discriminação com que são tratados, na França, os descendentes de árabes. Ou seja, a culpa pelos atentados, no fundo, cabe às vítimas, e não aos terroristas. Claro, os tais comentaristas não aprovavam os atentados, mas sugeriam que, se os imigrantes tivessem sido melhor tratados pelos europeus, nada daquilo teria acontecido.

É verdade que, em seus comentários, não afirmaram isso claramente, mas é o que estava implícito em seus argumentos. Certamente, ninguém vai negar que haja, na França, como em outros países europeus, discriminação contra imigrantes, sejam eles árabes, africanos ou latino-americanos. Isso, porém, não justifica o assassinato de alguém, muito menos de centenas de pessoas, que os terroristas nem sabem quem são, algumas das quais nem francesas eram. Terrorismo não pode ser justificado em qualquer hipótese.

Não sei bem o que leva pessoas inteligentes e informadas a adotarem tal posição. Admito que a chamada civilização ocidental não prime sempre pelo amor ao próximo e o respeito à vida. Ainda assim, já de há muito renegou o terrorismo como modo de afirmar suas convicções. Fundamental é olhar os fatos com isenção.

Fernando Gabeira: O amigo oculto

- O Globo / Segundo Caderno

Quando é que Eduardo Cunha vai chegar ao mar? Aqui, em Regência, na foz do Rio Doce, não consigo entender como não rompem certas barreiras em Brasília. Gastamos muito latim e nada resolvemos. Um ministro do supremo aconselhou Cunha a renunciar. O mesmo fez o ex-presidente Fernando Henrique. Preferia que se encontrassem oposição e Supremo, que um decidisse provocar o outro e tivesse resposta. O Supremo cassaria Cunha e, finalmente, ele seria arrastado para o mar.

Como presidente, Cunha barra a investigação. Além disso tem muitos adeptos na Câmara e um sólido núcleo de bandidos que acreditam ter sequestrado a instituição. Por muito menos, gente sem mandato foi presa e está em Curitiba. Bumlai, por exemplo, finalmente dançou. Ele conseguiu quase meio bilhão de empréstimos no BNDES. É amigo de Lula. Um dos empréstimos de R$ 12 milhões ele teria saldado com sêmen de boi. Porran, Bumlai. Não costumo escrever essa palavra. Mas depois de ouvi-la de uma travesti num vídeo de sucesso na rede, decidi adotá-la. Ao incluir o ene, creio, ela deu uma força exclamativa à palavra.

Sérgio Moro e alguns procuradores afirmam que não há nada contra Lula. Bumlai pode ter usado seu nome. Por que então a operação se chama Passe Livre e não Amigo Oculto? Ele conseguiria R$ 12 milhões para o PT sem que Lula soubesse? Felizmente, a hesitação que existe em torno de Eduardo Cunha caiu no caso Delcídio Amaral. Pasadena está atravessada na garganta de todos os brasileiros conscientes. Deu um prejuízo de US$ 700 milhões ao país.

Com a prisão de Delcídio, o braço político de Pasadena sofre o primeiro golpe. E mostrou o que se afirma em alguns artigos: a quadrilha não quer controlar apenas o governo, mas o Congresso e o Supremo. Mas as prisões do meio de semana levaram também o banqueiro André Esteves. Um importante banqueiro, que, ao lado de Marcelo Odebrecht, coloca uma importante questão sobre o capitalismo brasileiro. Esteves e Odebrecht são dois homens de sucesso, símbolos dos empresários que tocam o Brasil. Mas os fatos estão mostrando que a associação criminosa com o governo é um método comum a ambos. Naturalmente, não expressam a posição de todos os empresários. Assim como a maioria dos bandidos não sintetiza as aspirações políticas do país.

Bumlai, Esteves, Delcídio na cadeia ajudam a compreender a decadência da vida pública no Brasil, incluindo os empresários que se associam ao crime, sem hesitação, para impulsionar suas carreiras.

Chegamos a um momento decisivo. O caso Pasadena é muito emblemático. Não só porque é uma operação debochada que tratou os brasileiros como idiotas e quase conseguiu escapar sem nenhum julgamento. Pasadena é importante também porque é um daqueles momentos em que o elenco está reunido. Não preciso fazer ilações. Creio que a própria delação premiada de Nestor Cerveró vai demonstrar isto. Dilma está calada porque Pasadena explode no seu pé. Lula está calado porque a prisão de Bumlai explodiu no seu. A de Esteves cai, como a de Odebrecht, nos pés de um governo que sempre preferiu empresários ambiciosos e capazes de tudo para crescer.

É razoável aqui em Regência perguntar quando todos eles chegarão ao mar. Não desejo essa carga tóxica para o oceano. Pelo contrário, queria que não existisse. Encalhada no cotidiano, atraindo mais ratos, empesteando a vida do país, é muito mais perigosa para a saúde da democracia.

Cunha vai pedir todos os carimbos, atestados e reconhecimento de firmas necessários para sua cassação. Lula certamente dirá que Bumlai agia sem que ele soubesse, apesar do passe livre. Os atores continuarão representando seu papel. Mas o ritmo da peça mudou. Talvez Pasadena, pela sua extraordinária nitidez, pela possibilidade de internacionalização, pelo desespero dos seus agentes, possa ser o fator que nos arranque do marasmo, e finalmente, produza alguma coisa de novo em 2016. Sem grandes ilusões. O plano de liberar Cerveró caiu porque apareceu uma gravação. Ele tinha componentes importantes para o êxito da fuga, sobretudo a grana de um banqueiro e o poder de um líder do governo.

A Operação Lava-Jato é um grande momento do processo democrático no Brasil. As tentativas de neutralizá-la não mobilizam apenas bandidos de quinta categoria. Será necessária uma conspiração digna da importância. A tentativa de livrar os compradores de Pasadena está cheia de ferrugem, como as instalações da refinaria. Outras audaciosas virão e, dificilmente, polícia e justiça aguentarão sozinhas. É um tipo de batalha que vai depender da atenção de cada um. Pasadena não passará, mas não se trata apenas disso. É a viabilidade de um país decente que está em jogo.

Lula continuará dizendo que nada sabe. Cunha continuará exigindo todos os papéis, carimbos e reconhecimento de firma para que seja processado. Chega um dia em que os federais batem à porta. O problema é demorar muito, e os quadrilheiros assaltam o país e acabam nos tentando a ir buscar a justiça pelas próprias mãos. Felizmente resistimos a essa tentação. Tomara que tenha valido a pena.

Murillo de Aragão*: Presidencialismo de colisão

- O Estado de S. Paulo

Em fevereiro, aqui mesmo, no Estado, eu alertava para o prosseguimento de uma grave crise, iniciada ainda no primeiro mandato de Dilma Rousseff, no presidencialismo de coalizão – sistema que deveria tornar viável e assegurar a governabilidade.

No primeiro mandato, a distribuição de cargos não correspondia à base de sustentação no Congresso. Quando se fazia isso, apenas se manipulava a distribuição das verbas orçamentárias para construir maiorias ocasionais. No início do segundo mandato, a prática desandou totalmente, por uma mistura de incompetência política, crise econômica e efeitos colaterais da Operação Lava Jato.

Os sintomas da perda de controle do governo sobre sua base se tornaram claros com a aprovação da execução impositiva das emendas orçamentárias dos parlamentares e com a retomada, após 12 anos, da votação dos vetos presidenciais. Nove meses após a publicação do meu artigo, a situação política do governo só piorou, com a agenda do ajuste fiscal avançando lentamente em meio a grandes dificuldades.

Em outubro foi feita uma minirreforma ministerial, com resultados duvidosos. E aqui e ali pautas-bomba ameaçam explodir no colo do governo. A cada votação relevante é um deus-nos-acuda. E o governo corre da cozinha para a sala tentando apagar focos de incêndio. Ao mesmo tempo, sofre com intenso fogo amigo, altamente desestabilizador. Enfim, não é um governo de coalizão, pois carece de unidade de propósitos, unidade de comando e coesão operacional. É um presidencialismo de colisão!

Tudo seria mais simples se existisse uma sólida maioria a favor do Planalto. Não é o caso. Ao contrário de Fernando Henrique Cardoso e Lula, Dilma Rousseff não conseguiu criar uma supermaioria. Tanto pelas características doentias do sistema partidário nacional quanto pela notória incapacidade política de seu governo.

Temos, no momento, o Congresso mais fragmentado da História do País. São 28 partidos com representação legislativa. Na base governista há pelo menos 14 partidos, além de algumas outras nanolegendas. Na oposição são cinco partidos.

Além dessa fragmentação, nociva para o sistema partidário, temos um problema ainda mais grave: a falta de lideranças. Na ausência de líderes que possam construir consensos, resta outro tipo de fragmentação: a pulverização de microlideranças no Congresso. Vejamos o fenômeno nos principais partidos da base.

O PMDB, por exemplo, está cindido na Câmara em, pelo menos, três polos, sendo que um deles é assumidamente a favor do impeachment. No PT temos também três polos: a maioria pró-Lula, um pequeno grupo dilmista e cerca de 20 deputados envergonhados com a crise ética do partido e que não sabem como sair da enrascada.

Detalhando a base governista, temos cerca de dez blocos de lideranças! Sem seu consenso nada anda. O pior é que as lideranças que existem não estão adequadamente representadas no governo, o que causa insatisfação e sentimento de não comprometimento.

Para piorar, as investigações em curso na Lava Jato limitam a ação de algumas das principais lideranças do Congresso, que estão sendo investigadas. Assim, temos uma fragmentação aliada à fragilidade das lideranças partidárias. É um cenário ideal para a paralisia.

A combinação de fragmentação partidária, pulverização de microlideranças e efeitos da Lava Jato transforma num grande exercício de paciência o avanço legislativo de qualquer medida mais polêmica. É o que estamos vendo: governo e Congresso não reagem na rapidez que o País precisa hoje.

Até agora, todas as iniciativas adotadas foram parciais e/ou tiveram timinginadequado. A cada dia que o governo atrasa a construção de uma nova maioria, sua viabilidade política vai sendo consumida. O palácio parece acreditar que o tempo vai resolver seus problemas e no fim tudo vai acabar bem. Entretanto, um ano do mandato já se foi e aconteceu muito pouco.

O que fazer? Temos de construir uma nova maioria que se baseie em pontos claros de políticas públicas e reformas estruturais. O ponto inicial de uma nova maioria poderia partir de um programa de governo tecido com apoio dos partidos no Congresso. Seria um conjunto de propostas com a adesão formal das legendas da nova maioria.

O governo tem no ajuste fiscal o seu programa. Mas isso é insuficiente. E o ajuste não deveria ser apenas fiscal, mas embutir medidas destinadas a melhorar o ambiente de negócios, abrir a economia brasileira, simplificar o sistema tributário, atacar a questão previdenciária e buscar uma reforma política ampla e séria.

O segundo passo seria amarrar a nova maioria ao programa de governo com deveres e responsabilidades no Gabinete de ministros e no Congresso Nacional. Os partidos da base não deveriam agir de forma independente nem como aliados de ocasião, e sim ser o sustentáculo do governo.

O terceiro passo é anunciar um cronograma de votações dos temas constantes do programa de governo com votações alternadas na Câmara e no Senado. As propostas seriam assinadas por todos os líderes da base governista e submetidas ao rigor da fidelidade partidária.

Sem uma adequação entre governo, programa de governo, Ministério e base parlamentar, o modelo não vai funcionar. Ou funcionará parcialmente, como agora, ao sabor dos humores das microlideranças e dos arranjos de última hora.

A fórmula proposta é simples e não há grande mistério em sua concepção. Difícil é pô-la de pé com a qualidade de líderes que temos no momento. Complexa também é a vontade de romper o círculo vicioso e ter a coragem de enfrentar os desafios de agregar uma nova maioria que possa liderar o Brasil no caminho da retomada do desenvolvimento econômico e social. Simples e complexo ao mesmo tempo, mas é o caminho que deveria ser seguido.

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*Murillo de Aragão consultor, advogado, é mestre em ciência política e doutor em sociologia pela UNB

Merval Pereira: O caso Delcídio

- O Globo

O debate sobre a legalidade da prisão do senador Delcídio do Amaral, sem entrar no mérito de seus crimes revelados na gravação feita pelo filho de Nestor Cerveró, agita os meios jurídicos que, desde o julgamento do mensalão, está às voltas com decisões inabituais pelo Supremo Tribunal Federal, que passou, em casos específicos, a tomar decisões com base em interpretações da Constituição que saem do tradicional, colocando os advogados criminalistas em oposição a essas decisões.

No caso atual, a alegação é que o senador Delcídio do Amaral não poderia ser preso pelo estrito dizer da Constituição. Mas isso seria decretar a impossibilidade de punir um crime evidente, dar a um criminoso a proteção da Justiça quando a lei foi feita para protegê-lo e à democracia, quando no exercício de seu mandato, e não em situações de evidente delito como aquela flagrada na gravação.

Aliás, alega-se também que a gravação, tendo sido feita à revelia de Delcídio, não poderia ser usada como prova contra ele, ponderação que os ministros da 2ª Turma não levaram em conta. Em casos como esse, no entanto, o senador estaria se utilizando da democracia para atentar contra ela, e a Justiça tem que ter meios para reagir a isso.

Foi o que a 2ª Turma do STF fez ao interpretar a Constituição. É o que o STF está fazendo desde o mensalão. Os criminalistas alegam que, mesmo considerando a natureza do crime de organização criminosa como permanente, o fato de ser permanente não permite a prisão em flagrante a qualquer momento.

Quando um crime é inafiançável a lei diz expressamente, alegam, citando os crimes inafiançáveis: racismo, tráfico de drogas, terrorismo, crimes hediondos e ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático. (Art.5º, incisos XLII, XLIII, XLIV, da CF).

Não é o fato de caber prisão preventiva que torna um crime inafiançável, contestam. No mais, por que justificar essa suposta inafiançabilidade com o fato de ser possível a prisão preventiva, se o senador não pode ser preso preventivamente? O ministro Teori Zavascki, na última página da decisão, diz “decreto a prisão cautelar. Expeça-se mandado de prisão.”

Só existem dois tipos de prisão cautelar: prisão temporária e prisão preventiva. Prisão em flagrante não tem natureza cautelar. Se ele tivesse sido preso em flagrante teria de ter sido lavrado um auto de prisão em flagrante e deveria ter sido realizada uma audiência de custódia — do senador com o próprio Teori, o que não houve.

Mas há constitucionalistas, como Gustavo Binenbojm, agora professor titular da UERJ, que interpretam a decisão do Supremo de maneira positiva. O que o STF talvez considere, pondera ele, é que aquela prerrogativa do art. 52, parágrafo 2º, da Constituição exige é a prisão em flagrante por crime inafiançável, como título jurídico original da privação da liberdade.

Após o referendo dado pelo Senado, o que aconteceu nas 24 horas seguintes, o STF fica autorizado a prolongar a prisão em virtude da presença dos requisitos legitimadores da prisão preventiva, como única maneira de impedir que o preso volte a tentar obstaculizar as investigações da Lava-Jato.

Afinal, por que o art. 53, parágrafo 2º, admite a prisão em flagrante do parlamentar quando em questão a prática de crime inafiançável? Qual o sentido finalístico dessa norma? A meu ver, diz Binenbojm, só pode ser o de permitir a interrupção da prática delitiva e, por extensão, impedir que o parlamentar possa, imediatamente após ser detido, ser posto em liberdade e colocar em risco a persecução penal, até em função do poder inerente à sua condição de parlamentar.

Assim, caberá ao STF acompanhar as circunstâncias envolvidas nas investigações do caso e avaliar, permanentemente, a necessidade da manutenção da prisão, à luz dos requisitos legais da prisão preventiva. O entendimento contrário — de viés literal e formalista, classifica Binenbojm — levaria ao esvaziamento do sentido finalístico da prisão em flagrante do parlamentar, pois ele teria que ser sempre libertado imediatamente após a prisão, configurando quase uma contradição em termos.

O sistema admitiria a prisão do parlamentar, mas o preso teria que ser imediatamente libertado, sem possibilidade de o Judiciário (no caso, o STF) avaliar a necessidade da subsistência da prisão para preservar a persecução penal. Por evidente, comenta Binenbojm, a Constituição não pode ser interpretada de forma a institucionalizar a impunidade e retirar a credibilidade das instituições do Estado democrático de direito.

Dora Kramer: Castelo de areia

• 'Nada mais fica em pé na rede de mentiras e ilicitudes montada pelo governo para de um lado sustentar e de outro patrocinar o financiamento do projeto de perpetuação do PT no poder'

- O Estado de S. Paulo

Certeira a previsão da então presidente da Petrobrás, Graça Foster, lá pelos idos de 2014 de que não ficaria “pedra sobre pedra” quando concluídas as investigações sobre as traficâncias cometidas por funcionários, políticos e empresários em nome e ao custo da empresa outrora símbolo de pujança na economia do Brasil.

Em fidelidade à exatidão, a executiva se referia à capacidade da Petrobrás de promover ela mesma o desmonte da corrupção. Fazia uma promessa vã, quase uma bravata. A afirmação, no entanto, revelou-se premonitória no tocante ao resultado, uma vez que nada mais fica em pé na rede de mentiras e ilicitudes montada pelo governo para de um lado sustentar e de outro patrocinar o financiamento do projeto de perpetuação do PT no poder.

A semana passada foi exemplar: começou com a prisão do amigo do ex-presidente Lula, José Carlos Bumlai, sobre quem pesam várias acusações, entre as quais a de ter intermediado pagamento de propina para calar testemunha que ameaçava revelar fatos sobre o assassinato de Celso Daniel, prefeito de Santo André morto por ter descoberto esquema de corrupção na prefeitura.

No dia seguinte, foram presos o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, e o banqueiro André Esteves por tentativa de obstrução da Justiça. Na sexta-feira, a empreiteira Andrade Gutierrez se comprometeu a pagar multa de R$ 1 bilhão depois de confessar ser uma pagadora contumaz de subornos: na Petrobrás, nas obras da Copa do Mundo, na usina nuclear de Angra 3, em Belo Monte e na ferrovia Norte-sul.

Ao mesmo tempo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, corre o risco de ser cassado por quebra de decoro, está denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal e começa a temer que seu destino seja o mesmo do senador Delcídio, depois de estabelecido o precedente. Isso sem falar no presidente do Senado, Renan Calheiros, cuja denúncia por peculato e falsidade ideológica já foi aceita pelo STF.

Se disso tudo decorrerá algum tipo de ruptura, seja em relação ao mandato da atual presidente ou na consolidação da falência ao modelo político em vigor, os acontecimentos é que continuarão ditando o rumo. Mas, o cenário da demolição está posto, independentemente do que virá em substituição.

Não há escapatória. Um dado é preciso levar em consideração: Delcídio Amaral não é um senador qualquer. Era líder do governo, escolhido pelo Planalto (não pela bancada do PT no Senado) para em seu nome atuar e falar. Estava de posse dessa delegação quando se prontificou a interceder por Nestor Cerveró no Supremo e a proporcionar condições de fuga ao ex-diretor da Petrobrás. Em troca de um silêncio que, se quebrado, não prejudicaria apenas o senador, mas a todos os que nos últimos dois anos insistiram que nada de errado havia na Petrobrás.

Ladeira abaixo. O PT entrou numa trajetória “água de morro abaixo” que não tem volta. Erra até quando acerta. Acertou na recusa de emprestar solidariedade ao senador Delcídio Amaral – não obstante devesse tê-lo feito em relação a petistas de “raiz”, cujas ilicitudes levaram a condenações e prisões –, mas errou feio na justificativa.

Segundo a nota do presidente do partido, Rui Falcão, diferentemente dos outros, Delcídio não estava em “atividade partidária” e daí seu erro. Não foi um ato falho. Foi, antes, a manifestação explícita e consciente de que o PT governa em causa própria.

Bernardo Mello Franco: A caixa-preta da Andrade

- Folha de S. Paulo

A Andrade Gutierrez vai abrir sua caixa-preta para a Justiça. O resultado do acordo, que fechou uma semana marcada por prisões espetaculares, poderá ajudar a reescrever a história recente do país.

A empreiteira participa de grandes obras públicas desde o governo Dutra. Cresceu na onda desenvolvimentista de JK e se tornou uma gigante na ditadura militar, quando participou do consórcio de Itaipu.

Nas últimas décadas, continuou a faturar alto com a proximidade do poder. Lucrou com as privatizações da era FHC, quando abocanhou uma das maiores fatias da Telebrás, e se lambuzou no petrolão no governo Lula, como pivô de tenebrosas transações reveladas pela Lava Jato.

Pela primeira vez em mais de 50 anos, seus principais diretores conheceram a vida numa cadeia. Depois de cinco meses, resolveram falar. O acordo envolve a delação de seis altos funcionários, inclusive o ex-presidente Otávio Azevedo, e o pagamento de multa de R$ 1 bilhão.

As primeiras notícias da negociação com a Justiça são devastadoras. A Andrade vai admitir o pagamento de propina na Petrobras, nos estádios da Copa do Mundo e nas bilionárias usinas de Belo Monte e Angra 3.

O pacote também inclui a ferrovia Norte-Sul, um monumento à corrupção nacional. Os acertos entre as construtoras começaram a ser revelados em 1987, na histórica reportagem de Janio de Freitas, e a estrada de ferro até hoje não ficou pronta.

A existência de desvios nessas obras faraônicas não surpreende ninguém. A novidade é que a segunda maior empreiteira do país vai contar quanto levou, quanto pagou e, especialmente, quem recebeu.

Outra consequência é que as construtoras que ainda resistem a abrir suas caixas-pretas ganharão motivos para se arrepender. Se entregar tudo o que promete, a Andrade complicará parceiras como a Odebrecht, com quem dividiu a reconstrução do Maracanã. O estádio custou R$ 1,2 bilhão, 70% a mais que o previsto.

Eliane Cantanhêde: Flor da lama

• Em meio à crise política, à tragédia na economia, à lama e à microcefalia que avança, há algo de muito novo surgindo no País

- O Estado de S. Paulo

Os caciques do Senado passaram o dia inteiro maquinando o voto secreto e o relaxamento da prisão do líder do governo, Delcídio Amaral, mas, no frigir dos ovos, o resultado foi oposto: voto aberto e a manutenção da prisão por 59 votos a 13. Mais do que o corporativismo, pesou a presença da mídia e a pressão das redes sociais. À autopreservação da instituição, somou-se a autopreservação individual. Quem venceu foi... você!

De todos os partidos, só um votou pelo voto secreto: o PT. Quem diria?! Enquanto o presidente do partido, Rui Falcão, assinava nota declarando publicamente que não devia “qualquer solidariedade” ao líder do governo, a bancada petista agia em sentido contrário. Dos 13 votos contra o Supremo Tribunal Federal e a favor de tirar Delcídio da cadeia, nove foram do PT. Se não foi em cumprimento a uma ordem superior da direção, por que seria? “Eu posso ser você amanhã”?

Unidos ao PMDB na alegria do poder e na tristeza de julgar um companheiro, os petistas confundiram-se com Renan Calheiros e Jader Barbalho na apologia do voto secreto e com Fernando Collor no voto para livrar a cara de Delcídio, apesar de tudo.

Rede, DEM, PSB, PRB, PSD e PSDB encaminharam pelo voto aberto e o PMDB, ora, ora!, liberou a bancada para votar como bem entendesse. O inusitado ficou por conta do PDT. Telmário Motta decretou o voto secreto, mas Cristovam Buarque passou-lhe a rasteira com a maior elegância: pegou o microfone e, ironicamente, agradeceu a sua grandeza por “liberar a bancada”, já que ele próprio, fulano e beltrano votavam pelo voto aberto. Motta engoliu em seco e ficou por isso mesmo.

Como lembrou o jovem senador Randolfe Rodrigues, da Rede, ministros do Supremo são nomeados pelo presidente da República e têm cargo vitalício, mas senadores chegam aonde chegam pelo voto do povo brasileiro. Faz uma diferença danada. Se até os ministros já sucumbem daqui e dali à pressão que vem de fora para dentro, imagine quem depende do voto de quatro em quatro anos (deputados) ou de oito em oito (senadores)?

As manifestações de junho de 2013 não foram um episódio que brilhou intensamente e se apagou melancolicamente. Foram um marco, porque a sociedade brasileira foi para as ruas, mostrou a sua força e nunca mais recuou. Além das outras manifestações pelas capitais e cidades do interior, as pessoas estão nas redes, na imprensa, na mídia. Cobram, pressionam, tensionam. A votação de 25 de novembro de 2015 no Senado mostrou que não é em vão.

Emergem tanto o protagonismo de Sua Excelência, o eleitor, quanto um novo protagonismo de Sua Excelência, o parlamentar que tem princípios e coragem pessoal para remar contra a maré corporativista ao encontro do mar de insatisfação da sociedade.

Randolfe, Cristovam, Luiza Erundina, Mara Gabrilli, Jarbas Vasconcellos, Chico Alencar e tantos outros que, em vez de seguirem tudo o que “seu” mestre mandar, seguem suas consciências e ouvem o que seu eleitor tem a dizer. A união dessa minoria com a grande maioria do País é que faz a força.

Essa força tende a pesar nesta semana na direção da cassação de Delcídio e de Eduardo Cunha no Senado e na Câmara, como já norteia a tramitação da nova CPMF. Mas o principal é que a união da maioria de fora com a minoria de dentro respalda o vigor das instituições brasileiras, capazes de confrontar uma história e séculos de injustiça e fazer valer o princípio de que a Justiça é igual para todos.

Começa a parecer trivial, aqui dentro, que um banqueiro como André Esteves esteja entre as grades. Mas, lá fora, agentes políticos e financeiros já anotam que algo está mudando neste país. Em meio à crise política, à tragédia na economia, à lama de Mariana e à microcefalia que avança, há algo de muito novo surgindo no horizonte do Brasil.