sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Opinião do dia – Valor Econômico

Com tamanhas precauções, teme-se uma farsa de grandes proporções. Parte dos Estados de fronteira venezuelanos estão sob estado de sítio, depois das provocações feitas à Colômbia. Os distritos eleitorais foram redesenhados em favor dos candidatos governistas. Autoridades eleitorais estão vetando nomes indicados pela oposição. A máquina do governo está em pleno funcionamento. Nos últimos dias Maduro anunciou aumento de 30% do salário mínimo, do soldo das Forças Armadas e prometeu estabelecer teto máximo de 30% para a margem de lucro das empresas. [...]

O governo brasileiro deveria interceder firmemente para fazer valer a "observação objetiva, imparcial e abrangente" apontada como necessária pelo TSE e sugerir a seu autoritário parceiro do Mercosul que o bloco possui uma "cláusula democrática" para ser usada em caso de pleitos de cartas marcadas como o que está se armando à luz do dia.

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“Maduro desconfia até do Brasil como observador eleitoral”, Valor Econômico, editorial do dia22 de outubro de 2015.

'Acho graça pedir minha renúncia e não de Dilma', diz Cunha

• Para peemedebista, aqueles que o querem afastado da presidência da Câmara teriam 'iguais motivações' quanto à saída da petista

Adriano Ceolin - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou ontem que aqueles que defendem sua renúncia também deveriam, pelo mesmo "parâmetro", pedir a saída da presidente Dilma Rousseff. "Eu acho graça de alguns que vêm aqui falar da minha renúncia, mas não pedem da presidente Dilma. Se for pelo mesmo parâmetro, você teria muitas e iguais motivações", disse ao Estado.

Em seu gabinete, Cunha conversou com a reportagem na manhã de ontem, antes da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki de sequestrar e bloquear os recursos de contas na Suíça onde ele figura como controlador, segundo a Procuradoria-Geral da República. Questionado no fim da tarde sobre o assunto, Cunha afirmou: "Sequestro de recursos que estão me atribuindo. Não vou comentar. Isso é com o meu advogado".

O senhor nega que tem contas no exterior. Como pretende provar que não é proprietário delas?

Eu reitero todos os pontos das notas públicas que divulguei. Sobre esse assunto, só vou falar por meio de nota ou por intermédio dos meus advogados na medida em que conheça aquilo que a gente está sendo acusado. Até o momento, eu não tenho todos os dados das acusações.

O senhor se arrepende de dado depoimento à CPI da Petrobrás?

Não. Fiz o correto. Aliás, fui o único político que foi a CPI e fui de forma espontânea. Ninguém foi à CPI. Pelo fato de eu ter tido respeito e ter prestado os esclarecimentos que eu entendi corretos, não significa que isso tem de virar contra mim. Cadê os outros 60 (parlamentares investigados)? Alguém foi lá na CPI?

Como o senhor vê os pedidos por sua renúncia?

Já haviam pedido o meu afastamento desde o início das denúncias. Eu tenho os mesmos adversários de sempre. Um deles perdeu a eleição para mim, assina a representação contra mim e, ao mesmo tempo, é investigado na Lava Jato (deputado Julio Delgado, do PSB-MG). São coisas incoerentes.

O senhor ainda mantém apoios importantes?

Não podemos analisar por esse lado. Se for fazer isso, a presidente da República teria de renunciar. Pois ela perdeu apoio popular.

A presidente e o senhor têm situações equivalentes?

Não quero fazer comparações ou críticas. Ter ou não apoio não é razão para renunciar. Ela tem o direito de exercer seu mandato mesmo sem apoio popular. Não existe recall. Eu acho graça de alguns que vêm aqui falar da minha renúncia, mas não pedem da presidente Dilma. Se for pelo mesmo parâmetro, você teria muitas e iguais motivações.

Quando sentiu haver agressividade do governo contra o senhor?

Não vou dizer agressiva. Antes da minha eleição como presidente da Câmara, foram muitos movimentos contra mim.

Poderia citar um exemplo?

A tentativa de me colocar como chefe do petrolão e dizer que o governo não tem nada a ver com a história já mostra efetivamente isso. É óbvio que todo esse processo do petróleo ocorreu quando eu era oposição ao governo (em 2006). E é óbvio que vários integrantes do governo estão envolvidos até o pescoço nesse processo.

Foi também quando o senhor passou a ter divergências com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Eu não tenho divergências com ele. Ele fez opções e passou a ter um comportamento isolado, como se a Câmara não existisse. Como o Senado não faz nada sem a Câmara e vice-versa, ele quis sinalizar, na prática, que estava com uma agenda separada. Só nesse momento eu o critiquei. Dentro do PMDB, ele é governista e eu sou oposição ao governo. Mas, em outros pontos, podemos ser aliados.

Na quarta-feira, o senhor recebeu novo pedido de impeachment contra a presidente. Pretende tomar uma decisão em que prazo?

Esse novo pedido tem uma grife melhor, pois foi apresentado por cidadãos que têm uma representatividade política, social e de respeitabilidade dentro do País. Então, consequentemente é preciso se ater com mais profundidade para que não cometa o erro da decisão. Eu pretendo proferir minha decisão no tempo mais célere possível.

Como foi a conversa do senhor com o ex-presidente Lula?

Não houve acordo entre as partes para divulgar. Falo com muita gente e em 90% das conversas quase nada se vaza. Se a gente for impedido de conversar reservadamente, fica difícil fazer política.

A entrada de Jaques Wagner na Casa Civil ajudou a melhorar sua relação com o Planalto?

É claro que foi bom para governo. Jaques Wagner é mais afeito ao debate e à política. Como presidente, não me furtei em nenhum momento a receber ou conversar com ninguém do Planalto. Mas, sem dúvida, a presença do Jaques Wagner melhorou a articulação política.

Qual a sua avaliação sobre a passagem de Michel Temer pela articulação política do governo?

Acho que ele foi sabotado. E se insurgiu contra isso. A partir daí, o governo se articulou com o Senado e, de certa forma, achou que estava resolvido o problema.

Cunha diz que deve esperar decisão do STF sobre impeachment por duas ou três semanas

• 'Se não houver, aí eu provavelmente revogue a questão de ordem', disse o peemedebista

Ana Fernandes e Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que deve esperar de duas a três semanas pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto aos recursos contra as liminares que barraram o rito do impeachment definido por ele em questão de ordem.

"Se não houver, aí eu provavelmente revogue a questão de ordem", disse o peemedebista, que defendeu que não estava dando um ultimato à Corte. "É uma matéria urgente, deverá ser decidida urgente, não quero aqui dar um ultimato nem prazo de decisão, mas apenas pela necessidade de decidir, a gente terá que tomar um posicionamento."

Liminares do Supremo barraram um acordo que havia sido feito entre Cunha e a oposição. Cunha iria indeferir um pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e a oposição recorreria no plenário. A oposição contava que teria a maioria dos votos para levar a apreciação da abertura de impeachment a votação na Casa. Com as liminares, o governo ganhou uma sobrevida em relação à ameaça de afastamento da presidente da República.

Cunha voltou a defender que o rito definido por ele apenas seguiu o que já está definido na Constituição e na Lei 1.079/1950, que rege o afastamento de um presidente. O peemedebista informou ainda que há ainda com ele 9 pedidos de processo de impeachment a serem analisados - entre eles o protocolado nesta semana por Hélio Bicudo e Miguel Reale Junior com apoio da oposição. Segundo Cunha, ele já indeferiu entre 10 e 15 processos enviados pedindo o afastamento de Dilma.

TV Alesp. Cunha foi entrevistado pelo presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Fernando Capez (PSDB). A entrevista, transmitida pela TV Assembleia, durou pouco mais de meia hora e foi em tom amigável. O tucano perguntou sobre temas de interesse de Cunha, que usou a entrevista para expor seus "feitos" à frente da Presidência da Câmara.

Cunha falou sobre projetos que foram levados a votação em sua gestão, como a PEC da Bengala, que estendeu a idade de aposentadoria de servidores públicos, o projeto de lei que regulou a terceirização e a polêmica redução da maioridade penal, defendida por Cunha. Ele afirmou que, em seu Estado, o Rio de Janeiro, há um problema grave com o uso de menores pelo crime organizado.
"Os menores provocam mortes e não são efetivamente punidos", afirmou. Ele também defendeu a lei da terceirização, que é repudiada pelas principais centrais sindicais do Pais. Cunha disse que a medida dinamiza a economia e é positiva.

O peemedebista repetiu críticas à paralisia do governo federal, chamado de "acéfalo" pelo entrevistador Capez. "Não existe pauta bomba", disse Cunha sobre a Casa que comanda. "O governo que não tem consolidação de base pra ter suas teses aprovadas", disse repetindo uma argumentação frequente que vem sustentando nos últimos meses.

O presidente da Assembleia paulista também aproveitou para falar sobre uma pauta que lhe é cara e pela qual vem militando: a PEC que pede transferência de algumas competências do Legislativo federal para as assembleias estaduais, permitindo que as Casas possam legislar nos Estados sobre temas como questões de segurança pública e ambientais. A PEC ainda não foi avaliada no Congresso Nacional, segundo Cunha, por causa de matérias que travam a pauta de votações, como medidas provisórias enviadas pelo Executivo.

STF manda trazer para o Brasil dinheiro de Cunha na Suíça

• Com a decisão, os recursos serão depositados numa conta judicial e ficarão indisponíveis até o fim do processo contra o presidente da Câmara

Lorenna Rodrigues e Gustavo Aguiar - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA- O ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki determinou onesta quinta-feira, 22, o bloqueio e o sequestro de cerca de 2,4 milhões de francos suíços (cerca de R$ 9,6 milhões), que, segundo a Procuradoria-Geral da República, eram mantidos pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), em contas na Suíça.

A decisão atendeu a um pedido do procurador-geral da República em exercício, Eugênio Aragão, apresentado na sexta-feira passada. Os procuradores temiam que, com a transferência da investigação da Suíça para o Brasil, o dinheiro fosse desbloqueado e pudesse ser movimentado. Com o sequestro, os recursos serão depositados numa conta judicial e ficarão indisponíveis até o fim do processo.

Na decisão, Teori afirma que o bloqueio e sequestro do dinheiro é justificado porque foram demonstrados “indícios suficientes de que os valores eram provenientes de atividade criminosas”. Segundo o ministro, foi apresentada farta documentação nesse sentido pelo Ministério Público e havia “evidente risco de desbloqueio dos valores com a consequente dissipação dos valores”.
O ministro afirma ainda que a transferência da investigação e dos valores encontrados no banco suíço para o Brasil segue tratado internacional firmado entre o País e a Suíça.

Navios-sonda. Em sua decisão, Teori diz que, de acordo com as provas juntadas pelo Ministério Público, pelas diligências realizadas pelos procuradores e os depoimentos prestados por Alberto Youssef e Júlio Camargo, o lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, teria intermediado o pagamento de cerca de R$ 35 milhões ao então diretor de Internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, e a Eduardo Cunha, para facilitar a contratação da empresa Samsung sem licitação para a construção de dois navios-sonda.

Os recursos teriam sido entregues a Cunha em contas no exterior. As autoridades suíças identificaram quatro contas que seriam controladas pelo deputado, mas não foram declaradas às autoridades brasileiras.

Foram bloqueados recursos na conta Netherton, cujo beneficiário seria Cunha, e na conta Köpek, supostamente aberta em nome da mulher de Cunha, Cláudia Cordeiro Cruz. Outras duas contas – Orion e Triumph – foram encerradas pouco depois do início da Operação Lava Jato, em março de 2014.

As autoridades suíças chegaram às contas atribuídas a Cunha investigando o caminho de recursos transferidos pelo esquema de corrupção na Petrobrás. O processo foi transferido para o Brasil, já que o presidente da Câmara é brasileiro, está no País e não poderia ser extraditado para a Suíça.

No pedido de bloqueio e sequestro dos recursos, o procurador-geral da República em exercício disse que não há dúvidas em relação à titularidade das contas. “Há cópias de passaportes – inclusive diplomáticos – do casal, endereço residencial, números de telefones do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto”, sustenta Eugênio Aragão.

Patrimônio. De acordo com a Procuradoria-geral da República, à época da abertura das contas da Suíça, o patrimônio de Cunha era de aproximadamente US$ 16 milhões – mais de R$ 62 milhões ao câmbio de ontem. Mesmo a evolução dos bens declarados pelo deputado à Justiça Eleitoral chamaram a atenção dos procuradores da Lava Jato – um aumento de 214% em 12 anos.

Para a Procuradoria, não há dúvidas de que as contas no exterior são “produto de crime”. Na semana passada, o Supremo autorizou a abertura de um novo inquérito contra Cunha, que também vai investigar a esposa e uma das filhas do parlamentar. O peemedebista responde pelas acusações de corrupção e lavagem de dinheiro.

‘Artilharia’. Em São Paulo, ao conceder uma entrevista ao deputado estadual Fernando Capez (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa, Cunha disse ter convicção de que ele é “alvo seletivo” das investigações por “razões políticas”. Na entrevista à TV Assembleia, ele disse que não há mais Operação Lava Jato, mas uma operação “Lava Cunha”. O presidente da Câmara disse ser vítima de um “bombardeio” há pelo menos 15 semanas e alegou que as informações vazadas são “verdadeiros absurdos”. “Estou debaixo de uma artilharia direcionada. Eu fui eleito pelo Ministério Público como se eu fosse o chefe do ‘petrolão.’”

Cunha já foi denunciado em agosto pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de receber US$ 5 milhões de propinas referentes a contratos de construção de dois navios-sonda da Petrobrás com as multinacionais Mitsui e Samsung. O Supremo ainda não decidiu se acolhe ou não a acusação formal.

STF manda repatriar da Suíça dinheiro de Cunha

• ‘ Há indícios de que valores são provenientes de atividades criminosas’

Relator da Lava- Jato no Supremo determina que, depois de devolvidos, os cerca de R$ 10 milhões fiquem bloqueados no Brasil

Relator da Lava- Jato no Supremo, o ministro Teori Zavascki determinou o envio à Suíça de pedido para que os cerca de R$ 10 milhões depositados em nome do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, sejam repatriados e bloqueados numa conta judicial no Brasil. O ministro afirma haver “indícios suficientes de que os valores eram provenientes de atividades criminosas”. Teori negou pedido de Cunha para o processo tramitar em sigilo. Documentos do MP suíço mostram que o deputado seria dono de imóvel não declarado em São Paulo.

O retorno da propina

• Supremo determina que dinheiro das contas suíças de Cunha seja transferido para o Brasil

Carolina Brígido - O Globo

- BRASÍLIA e SÃO PAULO- O ministro Teori Zavascki, relator da Lava- Jato no Supremo Tribunal Federal ( STF), determinou que seja enviado à Suíça um pedido formal para que o dinheiro depositado em nome do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), seja transferido para o Brasil. Segundo o Ministério Público Federal, são aproximadamente 2,5 milhões de francos suíços, equivalentes a cerca de R$ 10 milhões. O dinheiro está bloqueado em duas contas na Suíça e, por decisão do ministro, será mantido bloqueado no Brasil, em uma conta judicial.

Pela decisão, a transferência dos valores será feita com base no Tratado de Cooperação Jurídica firmado com a Confederação Suíça. A legislação trata da adoção de medidas de auxílio na prevenção e na investigação penal. O tratado prevê de troca de informações, compartilhada mento de provas, além da execução de medidas preventivas e investigatórias.

Em seu despacho, Teori escreveu que a medida é justificada porque foi “efetivamente demonstrada a existência de indícios suficientes de que os valores eram provenientes de atividades criminosas, diante da farta documentação apresentada pelo Ministério Público”.

De acordo com o ministro, “há o evidente risco de desbloqueio dos valores, com a consequente dissipação dos valores, uma vez que houve a formal transferência das investigações pelas autoridade suíças”.

Ainda segundo Teori Zavascki, caberá ao procuradorgeral da República, Rodrigo Janot, acionar o governo brasileiro para que adote as medidas necessárias junto ao governo e à Justiça da Suíça para a repatriação dos recursos.

O pedido de sequestro e bloqueio dos valores foi feito pelo procurador- geral ao STF na semana passada, junto com o pedido de abertura do novo inquérito para apurar a origem do dinheiro de Cunha na Suíça. O objetivo da medida é assegurar o ressarcimento dos cofres públicos, se ficar comprovado ao fim do processo que o dinheiro é fruto de crime.

Segundo as investigações realizadas pelas autoridades suíças, Cunha era titular de três contas na Suíça e a mulher dele, Cláudia Cruz, era titular de outra. Duas das contas de Cunha foram encerradas antes que as autoridades suíças conseguissem bloquear os valores. As outras duas contas tinham saldo de 2,39 milhões de francos suíços e de 176 mil francos suíços ( R$ 10 milhões, ao todo). O dinheiro teria sido proveniente de pagamento de propina referente a contratos da Petrobras.

No inquérito aberto no STF, também são investigadas a mulher de Cunha e uma das filhas dele, Danielle Dytz da Cunha Dotorovitch. A suspeita é de que os três tenham cometidos crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. O deputado também é suspeito de corrupção.

O ministro Teori Zavascki também negou pedido defesa de Cunha para que o novo inquérito aberto contra ele tramite em segredo de justiça. As investigações tratam das contas mantidas na Suíça. O ministro esclareceu que os documentos que acompanharam o pedido de abertura de inquérito foram colhidos e encaminhados pela Suíça sem a recomendação de sigilo.

Para Teori, o pedido da defesa “não se enquadra em qualquer das situações em que se imponha reserva à cláusula de publicidade”. O ministro autorizou que a defesa, que reclamara da “indevida exposição dos investigados”, tenha acesso a todo o conteúdo do inquérito, como pediram os advogados de Cunha. Em São Paulo, ao ser perguntado sobre o bloqueio, o deputado foi sucinto:

— Não vi.

(Colaborou Sérgio Roxo)

Deputado muda tom sobre impeachment

Um dia após dizer que as “pedaladas” do governo Dilma viraram “motocicletas”, Cunha ontem afirmou que elas podem não ser motivo para impeachment.

‘Pedalada não significa ato da presidente’

• Um dia após receber novo pedido de impeachment, Cunha diz que fato, por si só, não é razão de afastamento

Júnia Gama, Evandro Éboli - O Globo

- BRASÍLIA- Um dia após posar para fotos com líderes da oposição e representantes de movimentos que pedem a derrubada da presidente Dilma Rousseff ao receber novo pedido de impeachment, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), fez ontem gestos de aproximação com o governo e deixou a oposição ainda mais descrente de que ele dará prosseguimento ao pedido. Em entrevistas durante o dia, Cunha disse que as “pedaladas fiscais”, mesmo que ocorridas no atual mandato, podem ter existido sem necessariamente existir responsabilidade da presidente Dilma — um balde de água fria na principal tese do pedido de impedimento. Anteontem, Cunha dissera que as pedaladas estão se transformando em “motocicletas”.

O presidente da Câmara, que vem dando sinais trocados sobre sua posição em relação ao governo, especialmente depois de descoberto seu envolvimento na Lava- Jato, também adiou mais uma vez o prazo para dar uma resposta sobre o pedido formulado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal. No dia em que recebeu o documento, disse à oposição que pretendia decidir sobre ele até o dia 15 de novembro. Ontem, afirmou que não quer “assumir compromisso” com uma data específica.

— Estão dizendo que há indícios disso ( das pedaladas em 2015), tanto que o governo procura forma de consertar até o final do ano e pagar o que está pendente. Outra coisa é o efeito do pedido de impedimento. Ali, tem que ter a tipificação do ato que possa ter gerado o descumprimento da lei. O fato de ter existido a pedalada não significa que pode ter havido ato da presidente. Pode ser feito por vários motivos, por outras circunstâncias — defendeu, complementando em seguida:

— O fato por si só não significa que isso seja razão de pedido de impeachment. Tem que configurar a atuação da presidente no processo, de que descumpriu a lei. Pode existir a pedalada e não a motivação do impeachment.

Unido ao PT em CPI
Outra mostra da aproximação de Cunha com o governo ontem foi a ação conjunta do PT e do presidente da Câmara na CPI dos Fundos de Pensão, que evitou a votação de requerimentos de convocação do lobista Fernando Baiano, operador de propinas do PMDB na Petrobras, e do pecuarista José Carlos Bumlai, acusado por Baiano de pedir propina de R$ 2 milhões para uma nora do ex- presidente Lula.

Os requerimentos de convocação de Baiano e Bumlai foram apresentados pelo deputado Marcus Pestana ( PSDBMG) e incluídos na pauta pelo presidente da CPI, Efraim Filho ( DEM- PB). Cunha foi alertado por peemedebistas, ficou “irritadíssimo” com a manobra, e passou a agir junto a aliados para barrar a convocação de Baiano. Efraim Filho é o presidente da comissão graças a Cunha, que, à época da escolha, mantinha estreita relação com a oposição.

À noite, porém, Cunha voltou a cutucar Dilma. Disse que, antes de cobrarem sua renúncia do cargo, por causa da LavaJato, deveriam cobrar da presidente:

— A presidente da República foi eleita pela maioria absoluta dos votos e, hoje, não tem apoio de um dígito da população. Nem por isso estão cobrando que ela renuncie. Não é o meu caso, do ponto de vista de apoiamento. Antes de falar de mim, cobrem também da presidente, que está sem apoio popular nenhum, digam que ela deveria renunciar.

Aliados de Cunha acreditam que, para se manter no cargo, ele fará movimentos pendulares, hora em direção ao governo, hora a favor da oposição. No momento, o peemedebista teria optado por acenos ao governo por encontrar no Planalto um terreno menos instável.

— A ordem no governo é tentar estabelecer o máximo de normalidade na Câmara para avançar nas pautas econômicas. A tendência é que o governo fique neutro em relação a Cunha no Conselho de Ética. Começa a existir um sentimento de que Cunha não vai resistir, mas o timing ainda não está claro. Enquanto isso, o melhor é manter a cautela — disse um interlocutor do o Planalto.

A pessoas próximas, Cunha tem demonstrado insatisfação com a oposição, que começa a planejar uma agenda para se desvincular do peemedebista. A tentativa de convocar Baiano foi vista por Cunha como uma prova de que não poderá contar com os antigos aliados. Ontem, deputados da oposição decidiram fazer uma “reflexão” sobre a necessidade de abandonar a agenda do impeachment e se descolar de Cunha.

— A moeda dele é outra, é a vida dele. E o governo tem mais condições de prolongar a vida dele do que a oposição — afirmou um líder oposicionista.

Cunha, por sua vez, deixou em aberto a data para decisão sobre o mais novo pedido de impeachment contra Dilma.

— Não quero assumir compromisso com dia e hora.

Governistas atuaram para encerrar CPI

• Líderes da base acompanharam votação de relatório final que poupou políticos em escândalo na Petrobras

Eduardo Bresciani - O Globo

- BRASÍLIA- A aprovação do relatório da CPI da Petrobras sem o indiciamento de nenhum parlamentar ou integrante do Executivo e com ataques à Operação Lava- Jato contou com a atuação do líder do governo, José Guimarães ( PT- CE), do vicelíder Ricardo Barros ( PPPR) e do líder do PSD, Rogério Rosso ( DF). Eles acompanharam a votação que entrou pela madrugada de ontem e comemoraram a vitória.

Foram 17 votos a favor, 9 contrários e uma abstenção. O texto aprovado, do deputado Luiz Sérgio ( PT- RJ), relator da CPI, afirma que o escândalo se resumiu a um cartel de empreiteiras que teve a complacência de funcionários da Petrobras. O único político indiciado é o ex- tesoureiro do PT João Vaccari Neto, cuja acusação foi incluída de última hora.

A maioria que aprovou o relatório foi “silenciosa”. Dos 11 deputados da comissão que fizeram a discussão pública do trabalho de Luiz Sérgio, apenas Valmir Prascidelli ( PT- SP) fez elogios ao texto. Os três líderes que ajudaram na construção do acordo pela aprovação não acompanharam os trabalhos da comissão ao longo dos oito meses de duração da comissão. Até Barros, que era membro, raramente apareceu nos depoimentos e sessões de votação de requerimento.

A presença deles na sessão final irritou o deputado Delegado Waldir ( PSDB- GO), que acusou Guimarães de estar fazendo “troca- troca” na CPI e afirmou que o relatório estava recebendo a “bênção do Palácio do Planalto”. O líder governista não respondeu, mas deixou clara a atuação do governo, destacando a importância da vitória por larga margem de votos.

Pressão do presidente da CPI
O presidente da CPI, Hugo Motta ( PMDB- PB), também foi determinante para o resultado. Ao responder questionamento do vice- presidente da comissão, Antonio Imbassahy ( PSDB- BA), ele deixou claro que só havia dois caminhos: aprovar o texto de Luiz Sérgio ou ficar sem relatório. Usando argumentos da área técnica da Câmara, Motta frisou que, em CPIs, os votos em separado são “declarações de voto que acompanham o relatório” e não podem substituir o trabalho do petista como texto final. A resposta foi determinante e até parlamentares que tinham criticado o texto preferiram aprová- lo a deixar a CPI sem conclusão.

A atuação do governo foi ainda mais visível na votação dos destaques. Os parlamentares da base rejeitaram propostas da oposição para retirar ataques de Luiz Sérgio às delações premiadas da Lava- Jato, bem como a tentativa de pedir investigações ao Ministério Público sobre a atuação da presidente Dilma Rousseff e dos ex- presidentes da Petrobras José Sérgio Gabrielli e Graça Foster. Ficou mantida no relatório também a recomendação de que os delegados da Lava- Jato sejam investigados por vazamento de informações e escutas ilegais.

A deputada Eliziane Gama ( Rede- MA) lembrou que a comissão gastou R$ 1,1 milhão para contratar a empresa Kroll e recebeu dela só “recortes de jornais”. Destacou que esse trabalho mereceu apenas menção de duas páginas no trabalho final; que houve blindagem a políticos na CPI e que o relatório não reflete o tamanho do escândalo.

— É um relatório pífio, que subestima a capacidade de raciocínio do povo brasileiro — afirmou Eliziane.

'Antes de falar de mim, falem da presidente', diz Cunha

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Numa entrevista concedida a um deputado estadual do PSDB de São Paulo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse na noite desta quinta-feira (22) que vai "cumprir até o último dia" de seu mandato e que aqueles que pedem sua renúncia deveriam avaliar primeiro a situação da presidente Dilma Rousseff (PT).

"A presidente da República foi eleita pela maioria dos votos em segundo turno. Hoje, ela não tem o apoio de um dígito da população e, nem por isso, eu estou cobrando que ela renuncie", disse Cunha.

Na verdade, segundo a última pesquisa Datafolha, 8% da população avaliam o governo da petista como ótimo e bom. Isso dá a Dilma, portanto, um dígito de aprovação.

Cunha fez a comparação de sua situação com Dilma ao ser questionado pelo presidente da Alesp, Fernando Capez (PSDB-SP), se pensava em renunciar. O deputado do PMDB concedeu entrevista à TV Legislativa, aproveitando sua passagem pela capital paulista para participar de uma sessão solene na Assembleia.

"A renúncia é um ato unilateral e eu vou cumprir até o último dia do meu mandato", afirmou Cunha. "Fui eleito com a maioria absoluta dos deputados no primeiro turno, contra o governo e contra a oposição. Então, não são gestos ou movimentos de governo e oposição que vão me constranger", concluiu.

A oposição voltou a pedir nesta semana o afastamento de Cunha do cargo para que ele possa se defender das acusações de que manteve patrimônio não declarado fora do país e usou dinheiro hospedado em conta na Suíça parapagar despesas pessoais de sua família. Ele também é acusado de receber propina desviada de contratos da Petrobras.

Apesar disso, deputados adversários do governo têm poupado Cunha de críticas públicas. Já integrantes da base aliada têm cobrado a renúncia de Cunha em atos na Câmara.

"Aqueles que acham que eu não deveria continuar, que não devem me apoiar mais mais, não tem problema, é o direito de cada um. Mas fui eleito pela maioria absoluta dos votos em primeiro turno", rebateu Cunha.

O deputado voltou a dizer que é alvo da divulgação "seletiva" de denúncias, numa ação coordenada para desgastá-lo. Ele chegou a dizer que, nos bastidores, brincam que não existe a Lava Jato. "Existe a Lava Cunha."

Renúncia
Cunha repetiu que não pretende renunciar à presidência da Câmara por conta das denúncias contra ele na Operação Lava Jato.

"Fui eleito legitimamente pelos deputados e vou cumprir meu mandato", afirmou. Questionado se acreditava ainda ter o mesmo apoio entre os colegas de quando foi eleito, argumentou que "baixa popularidade não é motivo para renunciar".

Como de costume, ele preferiu não comentar os desdobramentos das denúncias de que teria recebido propina no escândalo da Petrobras. Nesta quinta (22), o STF determinou o bloqueio de R$ 9,4 milhões em contas no exterior atribuídas a Cunha e familiares.

"Não sou comentarista de delação. Meus advogados vão falar por mim quando tiverem acesso às denúncias", disse.

Pedalada não basta para ação de impeachment, diz Cunha

Débora Álvares, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia após abrir seu gabinete para a imprensa registrar a entrega pela oposição do novo pedido de impeachment contra Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta quinta (22) que as chamadas "pedaladas" não são, por si só, motivo para o afastamento da petista.

"O fato por si só não significa que seja razão do pedido de impeachment. Tem que configurar que há atuação da presidente em processo que descumpriu a lei. Pode existir a pedalada e não existir a motivação do impeachment."

Na quarta, Cunha havia dito que as manobras fiscais atribuídas a Dilma haviam evoluído para "motocicleta".

Nos bastidores, Cunha tenta forçar tanto o governo como a oposição a não engrossarem o movimento para lhe tirar o cargo e o mandato.

Denunciado pelo Ministério Público sob a acusação de integrar o petrolão, ele será alvo de processo de cassação possivelmente a partir do início de novembro.

Desde a revelação de papéis que o ligam a contas no exterior, Cunha vem deixando claro nos bastidores que usará a questão do impeachment como moeda de troca para evitar a própria derrocada.

A oposição quer que Cunha dê sequência ao impeachment –a decisão cabe a ele, exclusivamente– sob o argumento, entre outros, de que Dilma já teve suas contas de 2014 rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União e por irregularidades fiscais que teriam continuado em 2015.

Além das chamadas pedaladas fiscais, o pedido de impeachment, assinado pelos advogados Hélio Bicudo (ex-petista), Miguel Reale Júnior (ex-ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso) e Janaína Paschoal, contempla decretos assinados pelo governo em 2015 que aumentaram em R$ 800 milhões as despesas do Executivo sem autorização do Congresso.

Já o governo atua no sentido de não melindrar o peemedebista e de barrar as ações pró-impeachment.

Apesar disso, Cunha e Dilma trocaram críticas públicas nos últimos dias. No Planalto, auxiliares da presidente avaliaram que ela errou ao subir o tom contra o presidente da Câmara.

Convicção
Cunha repetiu nesta quinta não ter prazo para decidir se engaveta ou dá sequência ao novo pedido de impeachment. Disse que fará isso assim que firmar "convicção".

"Não quero assumir compromisso com dia e hora. Quero fazer tão célere quanto for possível", afirmou.

Nos bastidores, disse a oposicionistas que se até o dia 15 de novembro o Supremo Tribunal Federal não julgar recurso contra liminares que suspenderam o rito do impeachment proposto pela Câmara, ele desistirá desse rito.

Segundo aliados, o objetivo será "voltar à estaca zero" e buscar o estabelecimento de um novo rito.

Caso Cunha aceite dar sequência a um pedido de impeachment contra Dilma, é montada uma comissão especial que dará um parecer ao plenário. Dilma é afastada do cargo caso pelo menos 342 de 512 deputados (Cunha não vota nesse caso) decidam pela abertura do processo de impedimento.

Por apoio, Dilma nomeia vice-presidente do PR para Dnit

Gustavo Uribe, Paulo Gama – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Na tentativa de recuperar o apoio da base aliada no Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff nomeou nesta quinta-feira (22) o vice-presidente do PR em Alagoas, Fernando Fortes Melro Filho, para o cargo de diretor de administração e finanças do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

A nomeação foi publicada no "Diário Oficial da União" e corresponde a indicação feita pela bancada do PR na Câmara dos Deputados. Na semana passada, a petista cedeu também aos deputados federais do PTB e colocou à frente da Casa da Moema nome sugerido pela sigla.

Em esforço para evitar novas rebeliões na Casa Legislativa, o governo federal tem negociado com partidos da base aliada indicações para cargos de segundo e terceiro escalão e a liberação de emendas parlamentares.

Em esforço para evitar novas rebeliões na Casa Legislativa, o governo federal tem negociado com partidos da base aliada indicações para cargos de segundo e terceiro escalão e a liberação de emendas parlamentares.

No início do mês, as bancadas do PR e do PTB contribuíram para o esvaziamento de sessão do Congresso Nacional para votação dos vetos parlamentares, causando mais uma derrota do Palácio do Planalto.

Em julho, a presidente chegou a indicar ao Senado Federal Edme Tavares de Albuquerque Filho, que é funcionário de carreira do órgão federal, para a diretoria financeira do Dnit.

Sob a pressão do PR, no entanto, o Palácio do Planalto trocou a indicação pela de Fernando Filho, que foi aprovada no início deste mês pela Casa.

Pinçado por Lula, deputado lidera tropa anti-impeachment

Por Cristian Klein - Valor Econômico

RIO - "Elogio em boca própria é vitupério", recorre ao provérbio o deputado federal Wadih Damous (PT-RJ), de 59 anos, para evitar declaração autolaudatória. Ex-presidente da seção do Rio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), o parlamentar nega que sua chegada à Câmara tenha sido preponderante para fortalecer a tropa de choque governista que busca sufocar o movimento de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Foi dele um dos mandados de segurança que levaram o Supremo Tribunal Federal (STF) a barrar os planos da oposição e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Damous prefere dizer que é tudo "trabalho de equipe". Conta que um grupo de 12 pessoas se reúne pelo menos duas a três vezes por semana, no Rio e em Brasília, "que nem filme americano", para traçar a defesa do mandato presidencial.

Na equipe, além dele, estão os deputados Paulo Teixeira (PT-SP), Rubens Pereira Júnior (PCdoB-MA) e nove colaboradores, todos advogados, como os parlamentares. Damous é o primeiro suplente da bancada do Rio. Mas foi guindado para assumir o mandato numa operação capitaneada diretamente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Impressionado com o discurso e os argumentos jurídicos de Damous, num ato em defesa da Petrobras ocorrido no Rio, em fevereiro, Lula recorreu ao prefeito da capital, Eduardo Paes. Pediu-lhe que nomeasse um dos titulares da bancada do PT fluminense - o atual secretário de Desenvolvimento Econômico Solidário, Fabiano Horta - para que a vaga se abrisse para Damous.

O deputado diz que não foi para Brasília "com a missão específica de barrar o impeachment". Incomoda-se quando questionado sobre a articulação feita pelo ex-presidente, que o levou à Câmara. "Tenho trajetória própria, mestrado, fui presidente da OAB no Rio. Não me elegi por apenas 175 votos. Não sou criação do Lula. Não sou produto da vontade dele", diz.

Ao mesmo tempo, pondera que "existe obviamente uma carência" de parlamentares que façam o debate jurídico, principalmente na Câmara. E, por fim, reconhece que houve a operação de Lula: "Houve, e me sinto honrado".

Damous e companhia são responsáveis por atrapalhar as pretensões da oposição, indo aos detalhes jurídicos e esperando o momento certo para agir. A vitória no STF - que concedeu liminar que ainda será julgada pelo pleno do tribunal - é relatada como uma façanha que exigiu estratégia cumprida com sangue-frio e discrição.

A decisão de ir ao Supremo, conta Damous, já estava tomada desde que Eduardo Cunha recusou o recurso do PT contra o rito adotado para eventual pedido de impeachment da presidente. Por esse rito, o plenário poderia recorrer e acolher, por maioria simples, o pedido, caso ele, Cunha, não aceitasse.

Damous diz que precisava esperar até o exato momento em que o presidente da Câmara e a oposição estivessem prestes a pôr o plano em ação, para agir logo antes, de surpresa. Cunha prometia decidir sobre os pedidos de impeachment até a terça, 13. "Ingressamos com o mandado de segurança na sexta-feira, antes do fim de semana, para que a imprensa não soubesse. E ainda tivemos o feriado, na segunda, dia 12, o que nos favoreceu."

Na terça, pela manhã, o ministro Teori Zavascki concedeu liminar a Damous. No mesmo dia, a ministra Rosa Weber concedeu outras duas liminares no mesmo sentido, para um mandado de segurança de Rubens Pereira Júnior e para uma reclamação de Paulo Teixeira e o também deputado Paulo Pimenta (RS). Funcionava a artilharia da bancada jurídica do PT.

Entre os argumentos dos deputados/advogados está o de que o impeachment não pode ser regido pelo Regimento Interno da Câmara, e sim pela lei 1.079, de 1950, embora esta última tenha uma série de lacunas. "A lei prevê o início, mas não o meio do processo", afirma Damous. Neste caso, argumenta, a solução seria a criação de uma nova lei ou que o Supremo dê sua interpretação, para questões como prazos de defesa e quórum de votação.

Damous diz que as "regras precisam ser claras antes de o jogo começar" e que, apesar de o impeachment ter um componente político, não pode ser sumário ou arbitrário, como ocorreu com o ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo, em 2012. "Não tem cabimento se, toda vez que um governante estiver mal avaliado, ele for alvo de impeachment. Institutos de pesquisa, como o Ibope, não são fonte do direito", afirma o parlamentar.

O petista acusa a oposição de golpismo e de ter criado uma falsa expectativa na população, ao apostar na rejeição das contas do governo Dilma, pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "A decisão do TCU, do qual aliás defendo a extinção, não serve para nada. É um órgão inútil. Ele só leva o nome de tribunal, o que não é o caso. É um grupo de apaniguados, de indicados políticos, sem maiores méritos", ataca.

"Fui eleito pelo MP como chefe do petrolão" reage presidente da Câmara

Por Cristiane Agostine, Fabio Murakawa e Raphael Di Cunto – Valor Econômico

SÃO PAULO e BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reagiu em São Paulo à ofensiva do Judiciário, durante uma entrevista feita pelo presidente do legislativo paulista, Fernando Capez (PSDB-SP), e transmitida pela TV Assembleia.

Capez perguntou a Cunha se ele se sentia "traído" ou "abandonado" e o pemedebista negou. Em seguida, o presidente da Câmara falou das denúncias contra ele, investigadas na Operação Lava-Jato, e disse que está "debaixo de uma artilharia". "Fui eleito pelo Ministério Público como chefe do petrolão". Cunha afirmou que a Lava-Jato transformou-se em "Lava-Cunha", disse que é um "alvo seletivo" do MP, mas repetiu que "não há a menor possibilidade de renunciar ao cargo". "Não serão os gestos do governo e da oposição que vão me constranger", afirmou.

Horas depois do Supremo Tribunal Federal (STF) ter determinado o bloqueio e sequestro de recursos em contas de Cunha na Suíça, o deputado disse desconhecer a decisão. " Não sei do que se trata. Toda quinta-feira, nas últimas quinze semanas, se divulgam decisões ou dados referente a mim que eu não conheço", disse a jornalistas, ainda na Assembleia, durante homenagem ao cardiologista Roberto Kalil.

Em Brasília, no início do dia, Cunha adotou um tom ameno para o governo ao comentar sobre a possibilidade de um impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O pemedebista disse que as chamadas "pedaladas fiscais" por si só não configuram razão para um processo de afastamento. Cunha disse a jornalistas que, "em tese", é preciso que fique comprovada a vinculação direta da presidente às "pedaladas" para motivar o impeachment.

Parte da oposição viu nas declarações um abrandamento do discurso de Cunha contra o governo, no momento em que o STF o Ministério Público fecham o cerco contra o presidente da Câmara.

"O fato de existir a pedalada, necessariamente, não quer dizer que tenha havido o ato da presidente da República com relação ao descumprimento da lei. São duas coisas distintas", afirmou. "Não significa que isso seja razão para um impeachment. Tem que configurar que há a atuação da presidente num processo que descumpriu a lei. Pode existir a pedalada e não existir a motivação do impeachment".

A afirmação de Cunha ocorre um dia depois de a oposição ter entregado a ele um novo pedido de impeachment. Esse pedido vem atualizado com pedaladas fiscais supostamente cometidas pelo governo neste ano - o anterior contemplava pedaladas de 2014.

Com isso, a oposição tenta desmontar o argumento governista de que Dilma não pode ser cassada por atos cometidos em seu mandato anterior. Ela assumiu o segundo mandato em janeiro.

Eduardo Cunha disse não ter ainda analisado o pedido, um dos 28 já protocolados na Câmara. O presidente da Câmara já indeferiu 20 e tem oito em sua mesa. Ele afirmou não ter prazo para analisar esse novo pedido.

Cunha negou que sua fala sobre o impeachment represente compromisso com o governo. "Não estou me comprometendo com nada", disse em entrevista coletiva. A oposição avalia que Cunha fará um jogo "pendular", ora sinalizando com a abertura do impeachment, ora segurando, para manter seu poder. "Não podemos continuar reféns do Eduardo Cunha. Precisamos tocar uma agenda própria, até porque o impeachment não é algo formado dentro do Congresso. É conjuntura, a pressão das ruas, a economia", disse o deputado Raul Jungmann (PPS-PE).

O deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) diz que o partido já se manifestou pela saída de Cunha em nota e em discursos, mas afirma que não pode fazer nada até o julgamento no Conselho de Ética, em ação protocolada pelo PSOL. "Achamos inadequada a permanência dele no comando da Casa, mas a renúncia é uma decisão pessoal dele, não temos o que fazer. Agora, no Conselho de Ética seremos duros."

Os oposicionistas esperam a decisão do STF sobre o rito de tramitação do impeachment, paralisado por liminares pedidas por deputados do PT e PCdoB, para redefinir a estratégia. "A rigor, o poder de dar andamento ao impeachment sempre esteve nas mãos dele [Cunha]. O STF só reforçou isso, ao tirar a capacidade do plenário de votar um recurso contra o indeferimento", disse Jungmann.

Desiludida, população 'esquece' de política e economia nas redes sociais

Por Estevão Taiar - Valor Econômico

SÃO PAULO - Apesar do espaço que as notícias de política e economia têm conquistado na mídia, a população brasileira se sente cada vez mais distante de ambos os temas. É isso o que foi detectado pelo Índice de Impacto e Perspectivas Brasil (IP Brasil), indicador semanal divulgado com exclusividade pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, toda quinta-feira. Ele mede tanto o alcance que a discussão de um tema teve nas redes sociais e nas seções opinativas da imprensa quanto a avaliação de todos esses formadores de opinião sobre o assunto. Mais de 1,2 milhão de posts, colunas e editorias entram na análise.

Em relação à política, o sentimento é de distância entre o que acontece em Brasília e o que acontece no resto do país. "Há uma percepção de que não vale a pena discutir política, porque os políticos só debatem o que interessa a eles próprios", diz Marilia Stabile, sócia e diretora-geral da .MAP, empresa criadora do IP Brasil.

Os dados coletados pela empresa ilustram essa tese. Em uma escala de zero a 100%, o IP Política chegou a 36%, número que ilustra a má avaliação que o público tem do assunto. Quanto mais próximo de zero, pior a avaliação. Em termos de difusão, ele ocupou 40% das discussões, em comparação com 52% na semana passada.

Na economia, o sentimento de distância também está presente, mas é ainda mais forte a percepção de desistência, de que a situação não vai melhorar. O assunto ocupou apenas 17% das discussões de uma semana para cá. Geralmente, essa taxa fica em 40%.

"Para o público, pior do que está, não fica, então é melhor nem discutir", diz Marilia. "O discurso técnico usado pelos economistas também não ajuda. Nada disso vai pagar as contas do cidadão no final do mês."

Governo já calcula deficit nas contas de R$ 70 bi neste ano

Valdo Cruz, Marina Dias, Gustavo Uribe e Fábio Monteiro – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com a resistência do TCU (Tribunal de Contas da União) em aceitar que o governo parcele o pagamento de dívidas com bancos públicos –as chamadas pedaladas fiscais, a equipe da presidente Dilma Rousseff avalia que o cálculo do deficit primário deste ano pode chegar a cerca de R$ 70 bilhões, em torno de 1% do PIB (Produto Interno Bruto).

Segundo a Folha apurou, o Palácio do Planalto foi informado nesta quinta-feira (22) que o tribunal deve determinar que o governo pague todos os repasses atrasados, referentes a subsídios que o Tesouro deve a bancos públicos. No caso do BNDES, esse valor pode chegar a até R$ 30 bilhões.

O valor final do deficit primário (receitas inferiores aos gastos públicos, sem contar a despesa com juros) deste ano deve ser decidido nesta sexta-feira (23).

Antes de decidir rever sua meta, o governo vinha sustentando que faria um superavit primário (receitas menos despesas, fora os juros da dívida) de R$ 8,7 bilhões em 2015, ou 0,15% do PIB.

Impeachment
Segundo a Folha apurou, a equipe da Fazenda buscava uma fórmula para reduzir o impacto sobre as contas públicas do pagamento das pedaladas, mas teria esbarrado na resistência do TCU.

Neste caso, a orientação da presidente Dilma foi evitar futuros questionamentos jurídicos –a rejeição pelo TCU de suas contas no ano passado está sendo utilizada pela oposição para tentar abrir um processo de impeachment.
Para reduzir a reação negativa do mercado financeiro ao anúncio do deficit, o governo vai destacar que mantém a meta de superavit de 0,7% do PIB no próximo ano.

A prioridade é tentar evitar novas perdas de grau de investimento (selo de bom pagador) por parte das agências de classificação de risco.

A equipe de Dilma estuda, inclusive, prever que o superavit pode ser maior, com receitas que devem ser aprovadas em 2016, como a taxação da regularização de dinheiro de brasileiros no exterior e o refinanciamento de dívidas de empresas. A medida foi aprovada ontem em comissão da Câmara e ainda será apreciada pelo plenário.

O novo texto, porém, reduz a previsão de arrecadação.

Antes de ser informado da resistência do TCU, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, esperava um deficit de R$ 50 bilhões neste ano.

O cálculo de Wagner já incluía os R$ 11 bilhões que o governo espera arrecadar com os leilões de 29 hidrelétricas ainda neste ano.

Caso esta receita se confirme, o deficit ficará menor.

Rombo nas contas públicas vai a R$ 70 bi

O governo terá que regularizar as “pedaladas” fiscais integralmente este ano e, por isso, enviará ao Congresso proposta prevendo rombo fiscal de R$ 70 bilhões, ou 1,2% do PIB, no Orçamento de 2015. Segundo o ministro Jaques Wagner, o governo recebeu sinalização do TCU de que não aceitaria o pagamento parcelado das “pedaladas”. O Tesouro pretendia acertar os repasses atrasados aos bancos públicos ao longo de três anos para evitar um déficit fiscal tão grande.

Pedaladas pagas à vista

Sem aval do TCU para parcelar repasses atrasados, governo assumirá rombo de R$ 70 bi

Geralda Doca, Martha Beck - O Globo

- BRASÍLIA- O governo vai contabilizar no Orçamento de 2015 a regularização do estoque de pedaladas fiscais — atrasos nos repasses de recursos do Tesouro Nacional para bancos públicos — calculado em R$ 40 bilhões pelo Tribunal de contas da União ( TCU). Com isso, será encaminhada hoje ao Congresso uma proposta de alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias ( LDO) prevendo para este ano um déficit primário em torno de R$ 70 bilhões, ou 1,2% do Produto Interno Bruto ( PIB, soma de bens e serviços produzidos no país).

O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, informou ao GLOBO que as pedaladas entrarão no resultado de uma só vez, porque o governo recebeu uma sinalização do Tribunal de Contas da União ( TCU) de que não seria aceito um pagamento parcelado. O Tesouro Nacional defendia que o acerto do passivo fosse feito em um prazo de três anos.

— O governo recebeu uma sinalização agora à noite de que o TCU não vai permitir o parcelamento, e, então, prevaleceu a posição de incluir todas as pedaladas no Orçamento de 2015 — disse Wagner.

Terceira revisão da meta
Mais cedo, o ministro havia informado que o projeto seria enviado ao Legislativo prevendo um déficit de R$ 50 bilhões e que não traria o pagamento das pedaladas. Esse era o saldo estimado considerando apenas a frustração de receitas do ano.

O acerto das contas com os bancos públicos foi uma recomendação do TCU, que considerou essas manobras irregulares. O governo recorreu e ainda aguarda um posicionamento oficial da Corte. No entanto, os ministros indicaram ontem que a solução deveria ser dada de uma só vez. O valor que deverá ser contabilizado foi estimado pelo Tribunal em R$ 40 bilhões, mas cerca de R$ 5 bilhões já foram quitados.

A proposta que estava sendo fechada ontem altera a meta fiscal de 2015 de um superávit de R$ 8,7 bilhões ( ou 0,15% do PIB) para um déficit de R$ 50 bilhões. No entanto, ela também trará uma cláusula de abatimento pela qual o resultado negativo poderá ser maior em função do cumprimento de uma determinação do TCU e da frustração adicional de receitas.

O déficit de 2015 é resultado de uma grande frustração de receitas, inclusive extraordinárias. Segundo Wagner, o governo retirou de sua expectativa de arrecadação, por exemplo, R$ 11 bilhões que eram esperados com leilões de concessão de usinas hidrelétricas que não renovaram seus contratos em 2012.

— Não sabemos se vai se concretizar ou não. Se entrar alguma coisa ( do leilão), ótimo, o rombo será menor.

Esta será a terceira vez que o governo altera a meta fiscal de 2015. Originalmente, era de R$ 143,2 bilhões, ou 2,5% do PIB. No entanto, quando a equipe econômica do segundo mandato assumiu, ainda em dezembro, ela foi alterada para R$ 66,3 bilhões, ou 1,2% do PIB. Com a arrecadação em queda livre e despesas engessadas, o governo foi obrigado, em julho, a propor mais uma mudança da meta, que foi fixada em R$ 8,7 bilhões, ou 0,15%. Esse valor nem chegou a ser votado pelo Congresso, mas o governo já se vê obrigado a mudar o texto novamente, uma vez que as receitas continuaram a cair ao longo do ano.

A meta de 2016 deve ser mantida em 0,7% do PIB. A presidente Dilma Rousseff já pediu aos ministros da Junta Orçamentária ( Fazenda, Planejamento e Casa Civil) que estudem algum mecanismo de flexibilização — como uma cláusula de abatimento — de modo que não seja preciso ficar revendo os números do ano que vem.

Receitas extras fora do orçamento de 2016
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no entanto, tem um plano ousado. Ele defende que algumas receitas extraordinárias que estavam previstas para 2015 não sejam contabilizadas no Orçamento de 2016. Assim, caso elas ingressem nos cofres públicos, serviriam apenas para elevar o resultado fiscal do ano que vem.

Dilma tenta acionar lobby de prefeitos por CPMF

Por Bruno Peres, Andrea Jubé, Fábio Murakawa – Valor Econômico

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff promoveu ontem uma ofensiva com prefeitos em busca de apoio para a aprovação da recriação da CPMF no Congresso Nacional, item do ajuste conduzido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que o governo considera indispensável para o reequilíbrio fiscal. Dilma reuniu-se com representantes de três associações de gestores municipais, que acenaram com o aval ao tributo, desde que compartilhado com as prefeituras. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), contudo, reafirmou a dificuldade de aprovação da matéria no Legislativo, mesmo com o apoio de governadores e prefeitos.

Os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, e da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, encabeçam as articulações para recompor a base de apoio ao governo nas duas Casas legislativas e, nesse esforço, pedem apoio à recriação do imposto sobre as movimentações financeiras. Uma fonte do Palácio do Planalto explica que o objetivo não é votar imediatamente a matéria, mas avançar aos poucos. O primeiro passo é aprovar a admissibilidade do projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara até meados de novembro.

Dilma recebeu representantes da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e da Associação Brasileira de Municípios (ABM). Após reunião com a CNM, o ministro Ricardo Berzoini disse que o governo busca o entendimento sobre o novo imposto com governadores e prefeitos. "A CPMF interessa diretamente à União, Estados e municípios para financiar o conjunto dos programas sociais que os três entes federativos desenvolvem em benefício da população", defendeu. Questionado sobre como o governo pretende negociar o tema com Eduardo Cunha, Berzoini respondeu que a relação com o presidente da Câmara é "institucional, sem conexão com eventuais situações que os dirigentes políticos vivem em relação a qualquer outra situação", evitando mencionar as denúncias contra o pemedebista.

Em outra frente, Eduardo Cunha reafirmou a dificuldade de aprovação do novo imposto na Câmara.

 "Se ela já é difícil na proposta original [de 0,20%], quando você dobrar a meta vai ficar duplamente difícil", sobre a alíquota de 0,38%. "Eu sinceramente não acredito na aprovação da CPMF, mesmo que o governo tenha a base mais azeitada possível". Para Cunha, existe uma ampla rejeição na sociedade ao tema. "Eu sinceramente não acredito que a CPMF passe. Com prefeito, sem prefeito. Com governador, sem governador", ressaltou.

Apesar do empenho do Planalto, não há consenso entre as entidades quanto ao formato e à destinação da CPMF, e uma nova reunião com Ricardo Berzoini está agendada para a próxima terça-feira.

"Entendemos que precisamos de mais recursos para saúde, seja qual for o imposto, contribuição, CPMF ou outro. Não importa", disse Márcio Lacerda, da FNP, prefeito de Belo Horizonte pelo PSB. "O que importa, e poderíamos pressionar as bancadas pela aprovação, é que fossem para saúde. Nesse momento não há convergência", acrescentou.

A CNM defende 0,09% para municípios, sem fixar o destino dos recursos. Já a ABM defende 0,09% para a seguridade social, o que inclui previdência social e saúde. A FNP defende 0,12% para financiar exclusivamente a saúde, o que pode render R$ 19,2 bilhões em receita para os municípios. Somente para o programa Saúde da Família, seriam necessários R$ 4,8 bilhões para reequilibrar as despesas desse serviços, segundo a Frente Nacional.

O dirigente da CNM, Luiz Lázaro Sorvos, disse que entidade vai pressionar os parlamentares no Congresso para aprovarem o tributo. "Defender imposto é sempre constrangedor, principalmente nesse momento, mas não temos alternativa porque as prefeituras precisam dos recursos", justificou

Indicador estável 'esconde' maior corte de vagas do ano

Por Denise Neumann – Valor Econômico

SÃO PAULO - A estabilidade da taxa de desemprego em setembro é uma boa notícia, mas precisa ser relativizada, porque embute expressiva redução mensal de vagas. Pelos dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE foram fechados 41 mil vagas em setembro, maior corte mensal deste ano.

O desemprego ficou estável em setembro por diferença estatística (redução de 34 mil pessoas no total da população ativa) e porque mais 11 mil pessoas se declararam fora do mercado de trabalho (resolveram não procurar emprego embora estejam em idade ativa). É dessa combinação que surgiu a estabilidade na taxa de desemprego.

O comportamento regional do mercado de trabalho mostra dados muito divergentes (entre regiões e setorialmente), o que é mais um sinal que pede atenção para setembro e sugere que a estabilidade pode ser um ponto fora da curva. Em São Paulo o desemprego caiu, foram abertas 75 mil vagas com carteira assinada, mas outras 87 mil pessoas ficaram desempregadas. Nessa região, a queda da desocupação foi claramente provocada pela saída de 70 mil pessoas do mercado de trabalho.

No Nordeste, o desemprego continuou avançando. Pela primeira vez desde julho de 2010, a taxa superou 10% em Recife (10,4%), e continuou subindo forte em Salvador, onde alcançou expressivos 13%.

O resultado de setembro também traz sinais que merecem atenção pelo lado positivo. O emprego com carteira assinada subiu pelo segundo mês seguido, pós queda quase contínua nos primeiros sete meses do ano, o que gerou fechamento de 558 mil postos formais. Em setembro começam contratações de temporários para o fim do ano. Com certeza estão mais fracas que em outros momentos, mas o fato de terem sido capazes de impor algum freio ao movimento de piora do mercado de trabalho não deixa de ser um bom sinal.

Se na média do país a piora no nível de emprego deu uma pausa em setembro, o ajuste do mercado de trabalho pela renda continuou. Na comparação com 2014, o rendimento médio real dos ocupados foi 4,3% menor que em setembro do ano passado. Por um critério trimestral, a queda no trimestre encerrado em setembro está em 3,4%, semelhante ao dos trimestres anteriores, mostrando a correção consistente no valor dos salários. Na comparação com agosto houve queda real de 0,8%, após três meses seguidos de alta no rendimento médio (variação positiva de 1,61% no acumulado de junho a agosto).

Apesar da "parada" no movimento de queda do desemprego em setembro, é muito cedo para imaginar que a correção no mercado de trabalho tenha acabado. A renda tende a cair mais e a ocupação deve voltar a recuar. Fica a esperança que setembro seja um sinal de que a inflexão pode ser menos vigorosa do que se previa.

Desemprego sobe mais no Rio e vai a 6,3%

• Uma de cada quatro pessoas que ficaram sem trabalho no último ano está na região metropolitana fluminense

Daiane Costa – O Globo

- RIO e BRASÍLIA- A taxa de desemprego das seis maiores regiões metropolitanas do país ficou em 7,6% em setembro, a mais alta para um mês desde 2009. O número mostra um salto em relação aos 4,9% registrados no mesmo mês do ano passado, o que significa um aumento de 56,6% no contingente de desempregados, ou 670 mil pessoas a mais. Desse total, 25%, ou 170 mil, estão no Rio de Janeiro, região com maior crescimento do número de desempregados— alta de 86,5% em um ano. Com isso, mesmo se mantendo abaixo da média das regiões, a taxa de desemprego do Rio chegou a 6,3%, quase o dobro dos 3,4% registrados um ano antes, mostram dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE

Para o economista Fernando de Holanda Barbosa, professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getulio Vargas, o mercado de trabalho fluminense está sendo fortemente afetado pela crise da Petrobras. A estatal cortou investimentos causando prejuízos a toda cadeia de prestadores de serviços de óleo e gás:

— O impacto da Petrobras é colossal. Complexo de refinarias, a indústria naval, estaleiros. Todos foram impactados, destruindo vagas.

Efeito verão
O economista Claudio Dedecca, do Instituto de Economia da Unicamp, aponta ainda as razões sazonais que pressionam a procura de vagas no Rio.

— É uma época em que muita gente que não estava trabalhando se lança em busca de uma oportunidade por conta da chegada do verão, para trabalhos turísticos e ligados à praia — explica.

Na comparação com os meses de julho e agosto, a taxa de desemprego das regiões cobertas pela pesquisa — Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Recife — ficou praticamente estável, quebrando a tendência histórica de queda do desemprego no segundo semestre. A única exceção foi São Paulo, onde a taxa recuou de 8,1% em agosto para 7,3% em setembro.

— A queda na taxa de desemprego ocorrida em São Paulo deveria estar acontecendo em todas as outras regiões, pois, historicamente, os meses de julho, agosto e setembro têm mais pessoas trabalhando em razão da demanda extra para atender as vendas do varejo no fim do ano — diz José Marcio Camargo, professor de Economia da PUC- RJ.

Para Dedecca, a queda em São Paulo reflete um estancamento das demissões, já que a indústria, que é a segunda atividade que mais emprega na região, já havia feito muito cortes e tem segurado pessoal para a produção para o fim de ano.

Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Renda do IBGE, acrescenta que parte dessa pressão extra no mercado — que não contrata — pode ter sido motivada pela queda na renda, que vem perdendo a corrida para a inflação. Na passagem de agosto para setembro, o rendimento médio real ( descontado o impacto da inflação) caiu 0,8%, e, em relação ao mesmo mês de 2014, a perda foi de 4,3%.

— O aumento expressivo da população desocupada pode ser reflexo justamente da queda na renda, pois impacta no rendimento do domicílio e leva mais pessoas da família, que estavam inativas, a pressionarem o mercado — analisa Adriana.

Caged mostrará mais desemprego, diz ministro
A renda média do trabalhador do Rio caiu mais do que a média e, na passagem de agosto para setembro, a perda foi a maior dentre as regiões pesquisadas: 5,1%. Na comparação com setembro de 2014, o rendimento da região ficou 5,5% menor, em R$ 2.445,80. A queda no poder de compra atingiu todos os segmentos da economia fluminense, mas foi mais acentuada nos setores que mais empregam. É o caso do grupo de outros serviços, que engloba trabalhadores de hotéis, bares, restaurantes e motoristas de ônibus — cujo rendimento real caiu 11,9% na passagem de agosto para setembro. Para Dedecca, não fosse a queda na renda, o desemprego poderia ser ainda maior, pois as empresas teriam de demitir mais para equilibrar custos.

Em Brasília, o ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, adiantou ontem que Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ( Caged), que deverá ser anunciado hoje, vai reforçar que o aumento do desemprego no país continua. No mês passado, o Caged demonstrou que 86.543 pessoas perderam o emprego. Rossetto não adiantou os números que estarão no Caged, mas foi taxativo sobre o desemprego:

— Haverá redução do nível de emprego formal. Sexta- feira ( hoje) vamos ter isso.

Colaborou Chico de Gois

Debate: Qual é a saída para a crise



Convite

• Data: Quinta, 5 de novembro às 18:00 - 21:30

• Local: Associaçao Scholem Aleichem- ASA - Rua São Clemente, 155 fundos
Botafogo - Rio de Janeiro (perto da Estação do Metro Botafogo)

• Debatedores: os economistas Mansueto Almeida (IPEA), Felipe Salto (FGV-SP), José Luis Oreiro (UFRJ) e Sérgio Besserman (PUC-Rio)

• Promoção: Fundação Astrojildo Pereira (FAP)

Convide seus amigos

Roberto Freire - Há algo de podre no reino petista

- Diário do Poder

Enquanto exige que os brasileiros façam sacrifícios em meio a uma das maiores crises econômicas de nossa história, Dilma Rousseff não parece se importar com gastos elevados ou desperdício de dinheiro público em seu governo. O escandaloso aparelhamento do Estado pelo PT mereceu destaque em reportagem de “O Globo”, a partir da abertura de uma investigação do Ministério Público Federal que analisa suposto conflito de interesses e manipulação de informações privilegiadas na distribuição de cargos-chave na Esplanada dos Ministérios e em empresas estatais como Eletrobras, Petrobras e Banco do Brasil.

A farra petista, como já se poderia imaginar, teve início ainda sob Lula na Presidência da República. Nos oito anos em que comandou o país, segundo dados do Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos (Siape), mantido pelo Ministério do Planejamento, o chefão do PT criou nada menos que 18,3 mil cargos de confiança. Apesar de se apresentar como uma líder austera que está disposta a cortar até o próprio salário, Dilma instituiu mais de 16,3 mil nos quatro anos de seu primeiro mandato – na média, os governos petistas criaram oito novos postos por dia na já inchada máquina estatal. Em um novo capítulo do estelionato eleitoral que vem protagonizando diariamente, é bom lembrar que a presidente da República descumpriu mais uma de suas promessas ao desistir do corte de 3 mil cargos comissionados que chegou a anunciar publicamente na tal reforma administrativa.

Com 618 mil funcionários na ativa, Dilma conta com uma força de trabalho que supera em 26% a que Lula tinha à disposição - o chamado custo de pessoal deve ultrapassar R$ 100 bilhões neste ano, o que corresponde a um aumento de 58% desde janeiro de 2003. Há casos emblemáticos e acintosos, entre os quais o de um funcionário da endividada Eletronorte, do grupo Eletrobrás, que embolsou R$ 152 mil em apenas um mês – um terço desse valor somente como participação nos resultados da estatal.

A redução em 10% do salário da presidente, do vice e dos 31 ministros a partir de novembro, anunciada com toda a pompa como se representasse algo substancial, não esconde a escalada dos gastos do atual governo. No ano passado, a Presidência custou aos cofres nacionais R$ 9,3 bilhões, 210% a mais do que em 2005. Em 2014, as despesas administrativas diretamente vinculadas a Dilma alcançaram extraordinários R$ 747,6 milhões, recorde no primeiro mandato.

De acordo com dados fornecidos pela própria Secretaria de Administração da Presidência ao Portal da Transparência, pouco mais da metade desse montante (R$ 390,3 milhões) serviu para pagar assessoria e serviços prestados a Dilma nos palácios onde reside e trabalha e também durante as viagens. No mesmo ano, a rainha Elizabeth II, chefe da monarquia britânica, teve um gasto equivalente a R$ 196,3 milhões, segundo relatório da Casa Real. Ou seja, Dilma Rousseff custa mais para os brasileiros do que a família real para os britânicos – o que, evidentemente, é um absurdo completo, um verdadeiro deboche contra a nação, tão vilipendiada pela corrupção do lulopetismo.

Os abusos indesculpáveis no gasto do dinheiro público contrastam com a defesa intransigente do famigerado ajuste fiscal, que, na prática, não representa nada de significativo. O governo só quer aumentar a carga tributária, penalizando o cidadão com mais impostos, ao invés de cortar na própria carne. Diante de tamanho desmantelo, precisamos ter a consciência de que o país só conseguirá superar a crise com um novo governo – mais eficiente, mais transparente e que conte com a confiança da população. Há algo de podre no reino de Dilma Rousseff, que cairá de maduro mais cedo ou mais tarde. A farra do PT, para desalento daqueles que tomaram de assalto o Estado brasileiro e se locupletam das benesses do poder, está com os dias contados. Impeachment já!

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fernando Gabeira - Nessa canoa furada

- O Estado de S. Paulo

“Como vai você/ assim como eu/ uma pessoa comum/ um filho de Deus/ nessa canoa furada/ remando contra a maré.” Esses versos cantados por Marina Lima me vêm à cabeça neste momento da crise brasileira. Uma canoa furada remando contra a maré. Dois personagens centrais brigam pela imprensa. Dilma e Cunha estão numa gangorra. Se um deles parar de repente, o outro voa pelos ares.

Dilma pensa na queda de Cunha, ele pensa na queda dela. Nenhum dos dois parece capaz de realizar esse feito. Para derrubar Dilma é preciso um processo conduzido por alguém que não esteja envolvido no escândalo. Para derrubar Cunha é preciso um tipo de pressão que seus oponentes não fazem.

Na queda de Renan Calheiros, lembro-me bem de que ele não conseguia presidir sessões do Congresso porque os opositores não deixavam. Não sei se isso é possível na atual e sinistra correlação de forças na Câmara. No fundo, seria mais uma paralisia num quadro de desalento e grandes dificuldades econômicas. Esse impasse político faz da retomada do crescimento, ainda que em novas bases, uma outra canoa furada. Com todos os personagens centrais, Renan incluído, tentando se equilibrar, falta energia para pensar no País.

O projeto de Joaquim Levy passa pela CPMF. Mais uma furada. O imposto não será aprovado no Congresso, mesmo se usarem parte dele comprando deputados. Ninguém vende o próprio pescoço num momento em que os eleitores estão atentos. Levy sempre poderá buscar outros meios, como a Cide, de combustíveis, por exemplo. Mas, derrotado com a CPMF, teria força para esse novo movimento? Além disso, há as repercussões inflacionárias.

O ajuste possível e necessário para avançar não tem chance de ser feito. O clima político é de salve-se quem puder. Se fossem personagens de House of Cards, a série de TV americana, até que seria divertido ver o desenrolar de seu destino.

Não canso de lembrar: eles estão aqui, entre nós. Já vamos encolher este ano e em 2016. O número de desempregados cresce e isso é um tema ofuscado pela briga lá em cima da pirâmide.

Outro tema que passa batido são os impactos econômicos do El Niño. As chuvas provocam grandes estragos no Sul e a seca em muitas partes do Brasil é intensa. Pode faltar água nas metrópoles do Sudeste. Com a seca vêm as queimadas. Os incêndios em áreas de conservação em Minas cresceram 77%. São 421 focos. O governo do Estado lançou um plano de emergência de R$ 8 milhões, mas os prejuízos são muito maiores e talvez o dinheiro seja curto. Se computamos os estragos das cheias, da seca e das queimadas, vamos nos dar conta de que estamos num ano de forte El Niño.

No Brasil é um El Niño abandonado. Não houve planejamento. Em Minas o procurador de meio ambiente, Mauro Fonseca Ellovitch, culpa a imprevisão do governo. Mas é um problema nacional. Quem vai cuidar do El Niño com tantas batalhas políticas pela frente?

O fogo comendo aqui embaixo e os malabaristas divertindo a plateia com seus saltos. O PT é o mais sofisticado deles. Resolveu se opor a Joaquim Levy.

Dilma arruinou o País e precisou de Levy para sanear as contas. De modo geral, isso ocorre em eleições, quando o perdedor deixa para trás uma terra arrasada. Mas o PT ganhou as eleições. Se tivesse perdido, ficaria mais confortável na oposição ao ajuste. Na ausência de um governo adversário, o PT coloca um adversário no governo. Sabendo que Levy propõe medidas duras e tende a fracassar, o PT estará com seu discurso em dia.

O movimento é mais sutil porque tenta atribuir todas as dificuldades do momento à política de Levy, mascarando o imenso rombo deixado pelo próprio governo. Duvido que Dilma e o PT não tenham combinado o clássico movimento morde e assopra. Tanto ela como o PT precisam de Levy: ela para acalmar os mercados e o partido para bater nele.

Outra figura polivalente para o PT é o próprio Eduardo Cunha. Derrubá-lo ou não derrubá-lo? É preciso um bom número de deputados do partido para assinar o pedido no Conselho de Ética. E um bom número para ficar calado, uma tática de não agressão. É preciso ser contra Cunha e trabalhar nos bastidores para mantê-lo. Enquanto encarnar a oposição no Parlamento, Cunha será apenas um roto falando do esfarrapado.

Em Estocolmo, Dilma alvejou Cunha, referindo-se ao escândalo: pena que seja com um brasileiro. É um pequeno malabarismo para reduzir o maior escândalo da História a um samba de um homem só. Ainda assim, os aliados acharam que foi um movimento de guerra. Talvez tenha sido inábil no quadro de um acordo de paz, em que ninguém derruba o outro.

Dilma foi à Suécia ganhar o Prêmio Nobel de inabilidade. Foi inspecionar os objetos mais caros que o Brasil comprará: os caças de US$ 4,5 bilhões. Nada contra a Aeronáutica nem contra os caças suecos. Vivemos na penúria perdendo empregos, lojas fechando, cortes de gastos. Recém-condenada pelo TCU por esconder um rombo no Orçamento, ela escolheu como gesto político reafirmar a compra dos caças. E nos deixou como consolo o corte de 10% no salário dos ministros.

Os tempos mudaram tão rapidamente que já não consigo entender a lógica das agendas presidenciais. Alguém deve ter dito: vamos dar uma resposta ao TCU posando diante dos caças suecos, isso levanta o ânimo da galera. Depois de pedalar, Dilma entra num caça. Recentemente, testou um carro sem piloto. Ela parece gostar de veículos, movimento. Amante da poesia mineira, corre o risco de parafrasear Drummond: no meio do caminho, havia um trator.

Para muitos, o processo ainda parece dar-se num universo distante e autônomo, como se fosse mesmo um programa de TV ao qual se pode assistir, mas não alterar o seu curso. Aos que não acreditam nisso, resta a esperança da ação, a certeza de que presidentes caem e sistemas políticos perversos como o brasileiro podem ser reformados.

Ainda que palhaços e malabaristas nos divirtam, será preciso botar fogo no circo.
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Fernando Gabeira é jornalista