terça-feira, 29 de setembro de 2015

Opinião do dia - Eduardo Giannetti

A situação já estava péssima durante a campanha, mas o governo, com muita habilidade e com a ajuda de um gênio diabólico como o João Santana, conseguiu criar uma sobrevida daquele sentimento de pleno emprego, renda crescendo e conquistas intocáveis. Foi uma campanha extremamente enganosa. E parte do problema do governo Dilma é o desmascaramento entre os próprios eleitores das mentiras que vendeu durante a campanha.
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Eduardo Giannetti é economista. Foi um dos conselheiros da candidata Marina Silva, terceira colocada nas disputas de 2010 e 2014. Entrevista. O Estado de S. Paulo, 27 de setembro de 2015.

Ao tentar manobra para beneficiar PL, Kassab irrita base do governo

• Partidos dizem que pressão de ministro põe em risco votação dos vetos

Júnia Gama, Washington Luiz e Carolina Brígido - O Globo

- BRASÍLIA- Um pedido do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, ao governo pelo veto a um item da reforma política sobre fidelidade partidária levou parlamentares de partidos aliados a pressionar o Palácio do Planalto contra o que consideraram uma manobra para beneficiar a criação do Partido Liberal ( PL), articulado por Kassab. A solicitação do ministro, presidente licenciado do PSD, foi confirmada em nota pela Casa Civil. Líderes de outros partidos da base disseram que, caso a manobra se concretizasse, o governo poderia sofrer uma derrota na votação dos vetos presidenciais marcada para amanhã. O movimento, que causou ruído político durante o dia, acabou enfraquecido por parecer encaminhado ontem pelo Ministério Público Eleitoral ao Tribunal Superior Eleitoral ( TSE), contrário à criação do PL por não ter conseguido reunir o número mínimo de assinaturas de apoio exigido por lei ( meio por cento dos votos dados na última eleição para a Câmara dos Deputados, não computados os brancos e nulos, o que corresponde a 484.169 assinaturas, que deverão estar distribuídas em pelo menos nove estados).

Na pauta do Congresso esta semana estão o aumento salarial dos servidores do Judiciário e a correção das aposentadorias pelas regras do salário- mínimo, dois itens vetados pela presidente Dilma Rousseff, que, derrubados, podem gerar um prejuízo de R$ 36,2 bilhões e R$ 11 bilhões, respectivamente, nos próximos quatro anos.

Pela legislação ainda em vigor, o parlamentar pode deixar seu partido para se filiar a uma nova legenda sem risco de perder o mandato. A lei que Dilma deverá sancionar acaba com essa possibilidade. Para garantir a criação do PL e a migração de parlamentares de outros partidos, Kassab pediu ao governo que vetasse a mudança na regra.

Raupp: “é um escândalo”
Para aliados do governo, a recriação do PL é uma forma de esvaziar as principais legendas da base, em especial o PMDB. Lideranças aliadas procuraram ministros do governo ontem para pedir que a sanção da presidente ao projeto de minirreforma eleitoral aprovado pelo Congresso seja publicada até hoje, antes de o TSE decidir sobre a criação do PL, o que também pode acontecer hoje.

O governo afirmou que a sanção será feita dentro do prazo legal, que termina amanhã. Ainda de acordo com a Casa Civil, o TSE pediu que houvesse veto com relação ao voto impresso por gerar despesas de R$ 1,8 bilhão aos cofres públicos. Na semana passada, os líderes aliados foram comunicados por auxiliares palacianos de que a presidente vetaria o financiamento empresarial de campanhas, mas sancionaria o resto.

Os parlamentares se surpreenderam com a não publicação ontem da sanção parcial da reforma e acionaram o Planalto para garantir que ela saia até hoje. Segundo esses deputados, o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, garantiu que a publicação ocorrerá. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), criticou:

— É mais um capítulo da crise política de forma desnecessária.

Já o vice- presidente do PMDB, senador Valdir Raupp ( RO), foi mais contundente.

— A presidente Dilma segurar essa sanção para dar tempo ao Kassab é um escândalo. Toda ação provoca uma reação — alertou, completando: — Nossa democracia não vai resistir a essa escalada de criação de partidos. Como uma pessoa só pode ter dois partidos? Já entramos com uma ação no TSE contra essa manobra para criação do PL lá atrás. O alvo não é só o PMDB, são todos os partidos.

O líder do PR, Maurício Quintella ( AL), telefonou para Ricardo Berzoini para dizer que o governo não poderia atrasar a sanção do projeto para garantir ao PL o benefício de manter a janela para atrair parlamentares de outros partidos.

— O governo não pode, por meio de uma manobra, garantir ao PL que possa tirar um monte de parlamentares de outros partidos da base. Atrasar o processo de sanção para desidratar os outros partidos da base é algo que não vamos aceitar. Se o governo não publicar até amanhã ( hoje) esse veto, corre o risco de ter problemas graves na votação dos vetos — afirmou Quintella.

Insatisfação geral
O presidente do PP, senador Ciro Nogueira ( PI), também conversou com Berzoini para dar o mesmo recado. Segundo o líder do partido na Câmara, Eduardo da Fonte ( PE), o PP deixou claro que o atraso pode prejudicar a votação dos vetos.

— Não dá para arrumar briga com todos os partidos por causa do PL — afirmou.

O líder do PTB, deputado Jovair Arantes ( GO), foi mais um a se queixar com Berzoini:

—É o Kassab contra os outros partidos todos. A presidente tem que botar na balança a quem ela vai atender. Esta semana tem votação dos vetos e isso pode ficar ameaçado.

Dúvidas sobre a reforma política agitam partidos

Por Raphael Di Cunto e Vandson Lima - Valor Econômico

BRASÍLIA - A reforma política aprovada pelo Congresso deixou partidos e políticos com várias incertezas na última semana de filiações para a eleição municipal de 2016, com consequências na composição das bancadas na Câmara, no troca-troca partidário e até na votação dos vetos presidenciais a projetos com impacto fiscal, como o reajuste do Judiciário.

A presidente Dilma tem até amanhã para sancionar o texto. Aos líderes partidários, o único veto sinalizado era ao financiamento privado de campanhas, que o STF considerou inconstitucional há uma semana. Há, porém, articulações para outros vetos, como o do artigo que muda as regras para parlamentares trocarem de partido sem perder o mandato e contra a obrigatoriedade do voto impresso.

Veto poderá mudar quadro partidário
A reforma política aprovada pelo Congresso Nacional deixou partidos e políticos com várias incertezas na semana derradeira de filiações para a eleição municipal de 2016, com consequências na composição das bancadas na Câmara, no troca-troca partidário e até na votação dos vetos presidenciais a projetos com impacto financeiro, como o reajuste dos servidores do Judiciário.

A presidente Dilma Rousseff tem até amanhã para sancionar o projeto da reforma eleitoral. Aos líderes partidários, o único veto sinalizado pelo governo era no financiamento privado de campanhas eleitorais, que o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou inconstitucional há uma semana.

O ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), também articula para Dilma vetar o artigo que restringe ainda mais as regras para parlamentares trocarem de partido sem perderem o mandato. Por resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de 2007, a mudança de partido por deputados federais, estaduais e vereadores só pode ocorrer por desvio reiterado do programa partidário, grave discriminação pessoal e fusão ou criação de novos partidos. Do contrário são cassados por infidelidade.

O projeto da reforma política, articulado por DEM e PMDB, retira a criação de partidos da justa causa para não perder o mandato e acrescenta a abertura de uma janela de 30 dias, nas vésperas do prazo de filiação para concorrer à reeleição - e apenas ao fim do mandato para o qual foi eleito. Mas não revoga a resolução do TSE.

Para o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), as trocas ficarão "numa zona de sombra". "É a lei ordinária colidindo com uma resolução do TSE, confirmada pelo Supremo com base na Constituição. Não há certeza do que vai ocorrer, mas quem tem mandato não quer correr o risco", diz o parlamentar.

Se Dilma sancionar a lei com as alterações e o entendimento for de que a janela agora só se abre ao fim do mandato, os parlamentares só teriam certeza de que não perderão o cargo se mudarem para novas legendas até hoje ou se aguardassem até 2018. Ficaria frustrada a tentativa da Rede Sustentabilidade, partido da ex-senadora Marina Silva, e do Partido Liberal (PL), de Kassab, atraírem deputados federais.

Kassab defendeu junto a Dilma vetar este artigo, informou ontem o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT), em nota divulgada para refutar as acusações de que o governo adiava a sanção para permitir que o TSE julgasse o registro do PL na noite de terça-feira. "A sanção será feita dentro do prazo legal, como sempre ocorre, após análise dos argumentos técnicos e jurídicos apresentados", disse o petista.

A criação do PL é uma estratégia de Kassab, com anuência de Mercadante, para diminuir a dependência que o governo tem do PMDB no Congresso. Kassab, que já comanda os 34 deputados do PSD, diz a aliados que levaria entre 11 e 25 deputados para o PL. O ministro articula a legenda desde o começo do ano, mas esbarrou em leis aprovadas pelo PMDB no Congresso, como a que proíbe a fusão de partidos com menos de cinco anos de fundação.

Kassab teve ontem novo revés, com parecer contrário do Ministério Público Federal à fundação do PL, que alega "morosidade dos cartórios eleitorais" e pede o registro diretamente ao TSE. "Apesar de ter atendido a exigência de registro de órgão partidário em ao menos nove Estados, ele [PL] obteve 440.347 apoiamentos, número inferior aos 486.678 necessários ao deferimento", diz o parecer.

O processo foi liberado para julgamento, mas ainda não consta da pauta. "Se o relator entender que faltam só 50 mil assinaturas, em 30 dias completamos", diz o presidente do PL, Cleovan Siqueira.

Dilma poderia vetar o artigo e dar mais tempo para o PL tentar a criação, mas isso desagradaria ao PMDB no dia em que está marcada sessão do Congresso para votar os vetos ao reajuste do Judiciário, com custo de R$ 36 bilhões para os cofres públicos até 2019. O governo registra várias traições na base e conta com apoio do PMDB, a quem foi oferecido o Ministério da Saúde, para não perder na Câmara.

Se a presidente sancionar o veto, o Rede teria até hoje para filiar os deputados - e não mais os 30 dias desde a fundação, autorizada na quarta-feira. Já o PL dependeria da aprovação do registro hoje.

A pedido do TSE, que aponta custo extra de R$ 1,8 bilhão com a medida, o governo também analisa vetar a regra que torna obrigatório a impressão de um comprovante do voto, para eventual recontagem em caso de suspeitas de fraude na eleição.

Já um artigo que o governo sinaliza manter é a redução no prazo de filiação para quem quer concorrer, de um ano para seis meses. Isso empurrará as trocas de partido em decorrência da eleição municipal de sexta-feira para abril de 2016.

Em meio à polêmica sobre novo partido, Kassab se encontra com Temer e Cunha

• Ministro das Cidades esteve com peemedebistas para comemorar aniversário do presidente da Câmara; Ministério Público Eleitoral deu parecer contra a criação do Partido Liberal

Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com a volta da polêmica envolvendo a recriação de um partido político com apoio do governo para tentar rivalizar com o PMDB, o ministro Gilberto Kassab (Cidades), responsável pela nova sigla, e os peemedebistas Michel Temer, vice-presidente da República e presidente nacional do partido, e Eduardo Cunha (RJ), presidente da Câmara, reuniram-se em jantar na noite de segunda-feira, 28.

O encontro foi promovido pelo líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), para comemorar o aniversário de Cunha, que nesta terça-feira, 29, completa 57 anos. O deputado André Moura (PSC-SE) e o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), também participaram do encontro.

Ao deixar o jantar, pouco antes da meia-noite, Kassab disse que não estava acompanhando de perto o desenrolar da criação de seu novo partido e afirmou que "parece" que ainda faltavam algumas assinaturas para que o Partido Liberal (PL) saísse do papel.

Nesta segunda-feira, o Ministério Público Eleitoral encaminhou parecer contra um recurso do Partido Liberal que pede para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rever a decisão que negou o registro da sigla. Segundo o Ministério Público, o partido obteve 440 mil assinaturas, menos do que as 486,6 mil exigidas.

Kassab conta com o apoio do governo para montar o novo partido que, inicialmente, apenas se coligaria com o PSD, primeiro partido criado pelo atual ministro das Cidades. No entanto, a ideia é fundir as duas legendas para rivalizar com o gigante PMDB, maior bancada da Câmara, com 66 deputados. Hoje, o PSD tem 34 representantes na Casa.

Janela. O ministro pediu que a presidente Dilma Rousseff adiasse a publicação da sanção à reforma política aprovada pelo Congresso, o que estava previsto para a última sexta-feira, 25. Pela legislação atual, parlamentares podem migrar para uma legenda nova nos 30 dias seguintes à criação do partido sem perder o mandato. Já no texto que saiu do Legislativo, a janela partidária só existe no sétimo mês antes da eleição, desde que seja o último ano do mandato daquele parlamentar que deseja fazer a troca. Ou seja, pela nova regra, deputados só poderão mudar de partido em 2018.

Kassab esperava poder criar seu partido antes da publicação das novas regras, mas, como o caso do PL só será apreciado pelo TSE nesta quarta-feira, 30, a esperança do ministro é um improvável veto presidencial.

Financiamento de empresas. O veto mais provável é o do financiamento de campanha por pessoas jurídicas, que já foi considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Este foi o único tema político a entrar na pauta do jantar de segunda-feira, segundo quem participou do encontro.
Defensor do financiamento privado, Cunha se afastou da mesa de jantar para falar ao telefone com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre a possibilidade de a Casa comandada pelo peemedebista alagoano votar em um único dia os dois turnos de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) já aprovada na Câmara que permite que empresas doem a campanhas políticas. Renan e Cunha se reúnem nesta manhã para tratar do assunto.

Quem participou do jantar disse que o clima foi o tempo todo tranquilo, mesmo diante da polêmica entre Kassab e o PMDB. Antes de cantar "Parabéns" para Cunha, houve discursos e conversas amenas. Comentou-se sobre o ritmo das votações na Câmara, cujas sessões às vezes se estendem até a madrugada, gerando indignação entre os parlamentares mais velhos.

Em suas últimas horas como presidente da República interino, Michel Temer expôs uma lembrança de sua juventude, quando foi ao cinema assistir a um filme sobre a heroína francesa Joana d'Arc, queimada viva em 1430 sob acusação de bruxaria. Temer disse que um gaiato que já havia assistido ao filme anteriormente gritou o nome de Joana no exato momento em que ela, subindo uma escadaria, olha para trás.

Ministério Público dá parecer contra criação do novo partido de Kassab

• A criação do partido foi articulada pelo ministro das Cidades, Gilberto Kassab; No início de agosto, a Corte Eleitoral barrou a formalização do partido por falta do mínimo de assinaturas de apoio exigidas.

Beatriz Bulla - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Ministério Público Eleitoral encaminhou um parecer contra um recurso do Partido Liberal que pede para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rever a decisão que negou o registro da sigla. A criação do partido foi articulada pelo ministro das Cidades, Gilberto Kassab. No início de agosto, a Corte Eleitoral barrou a formalização do partido por falta do mínimo de assinaturas de apoio exigidas. O processo de registro, segundo os ministros, não poderia correr sem o requisito.

O PL recorreu da decisão, com argumento de que o Tribunal já admitiu que fossem complementados os documentos de assinatura no curso do processo de registro. Além disso, a sigla aponta que os cartórios eleitoral glosaram 40% das assinaturas de apoio porque o TSE não se manifestou sobre a nova lei de fusão dos partidos, sancionada em março. A greve dos servidores da Justiça Eleitoral também é apontada como um fator de "morosidade" para certificação das assinaturas nos cartórios eleitorais.

O subprocurador-geral da República, Humberto Jacquer de Medeiros, assina o documento no qual a Procuradoria opina contra o recurso do PL. Segundo o Ministério Público, o partido obteve 440 mil assinaturas, menos do que os 486,6 mil exigidas. "Não deve ser acolhido o pedido de reconsideração, pois, conforme assentou esta Corte Superior, o pedido de registro de partido deve ser formalizado com os requisitos para conhecimento e regular processamento já preenchidos. Assim, a alegação de greve dos servidores da Justiça Eleitoral não o socorre, pois tal movimento iniciou-se mais de dois meses após a formalização do pedido de registro. Por outro lado, não há nos autos qualquer comprovação sobre a suposta morosidade dos cartórios eleitorais em certificarem os apoiamentos", aponta o documento do Ministério Público.

O pedido de registro do PL foi entregue ao TSE em março, um dia antes da sanção da lei sobre fusão de partidos. A criação da sigla é apoiada, nos bastidores, por integrantes do governo como uma tentativa de medir forças com o PMDB. O julgamento do recurso do PL ainda não está previsto na pauta de julgamentos do TSE, mas a expectativa é de que seja analisado na sessão de quarta-feira, 30.

A presidente Dilma Rousseff tem até quarta-feira para sancionar ou vetar o projeto de lei da minirreforma eleitoral, que prevê uma "janela" que permite a troca de partido sem perda do mandato. O PL espera o veto da presidente, para manter a regra atual que beneficiaria o partido, com a previsão de que a migração para novas legendas é permitida até 30 dias depois de a sigla ser criada.

Para acalmar base, Planalto barra projeto de Kassab

• Governo prometeu que sanção à reforma política sai nesta terça (29)

• Interessado em atrair deputados para o PL, partido em formação, ministro havia pedido para esperar até quarta

Ranier Bragon, Valdo Cruz, Márcio Falcão e Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Após ameaçarem derrubar vetos da presidente Dilma Rousseff a itens da chamada pauta-bomba (que aumentam os gastos públicos), o PMDB e outros partidos da aliança governista receberam a promessa de integrantes do Palácio do Planalto de que a sanção presidencial à reforma política será publicada nesta terça-feira (29).

O tema havia causado novo estremecimento na coalizão de Dilma, pois, reservadamente, ministros tinham fechado acordo com Gilberto Kassab (Cidades) em torno da recriação do PL (Partido Liberal), legenda cujo objetivo é esvaziar a oposição e criar uma nova força governista que rivalize com o PMDB.

Kassab havia conseguido adiar a publicação da sanção à reforma política para quarta. Isso era importante para ele porque ele calculava que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) aprovaria a criação do PL um dia antes, nesta terça.

Com isso, esperava levar até 28 deputados federais ao novo partido, vários vindos da oposição. O ministro queria fazer isso antes da publicação da sanção por uma questão jurídica.

Até agora vigora resolução do TSE que permite a migração de deputados para novas siglas no prazo de 30 dias após sua criação. Já a reforma a ser sancionada coloca na legislação eleitoral permissão para essa migração só no sétimo mês anterior às eleições –em março de 2016, no caso da próxima disputa.

Com a revelação do acordo entre o Planalto e Kassab nesta segunda (28), pelaFolha, o PMDB e vários partidos aliados que temem perder deputados para o PL passaram a ligar para ministros e exigir o rompimento do acerto.

O recado foi o de que, caso contrário, a base aliada poderia derrubar na sessão do Congresso desta quarta, entre outros, o veto presidencial ao reajuste do Judiciário, cujo impacto previsto é de R$ 36 bilhões até 2019.

A promessa, feita pelo Planalto, é que Dilma, que nesta segunda estava retornando de Nova York, deve assinar a sanção à lei nesta terça e publicá-la imediatamente numa edição extraordinária do "Diário Oficial da União".

O adiamento da sanção causou novo mal-estar entre o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que se irritou por não ter sido mais uma vez consultado sobre o acordo com Kassab.

A cúpula nacional do PMDB identifica o ministro da Casa Civil como principal articulador da iniciativa. Avalia que ela foi equivocada e que serviu apenas para piorar a relação do Planalto com a base aliada.

Em uma tentativa de contornar o mal-estar, Kassab ligou para o vice-presidente na manhã desta segunda (28). Na conversa, negou que tenha havido uma manobra política e disse que a recriação do Partido Liberal não tem como objetivo enfraquecer o PMDB.

Além do PMDB, PR e PP pressionaram o Palácio do Planalto a publicar nesta terça o decreto presidencial.

Parecer
Em outro revés nesta segunda, Kassab viu o Ministério Público Federal dar parecer contrário à criação do PL.

Assinado pelo subprocurador-Geral da República Humberto Jacques de Medeiros, o parecer afirma que a nova sigla não conseguiu reunir as assinaturas de apoio exigidas pela lei, cerca de 487 mil.

Faltariam, segundo o Ministério Público, cerca de 45 mil assinaturas de eleitores.

O parecer também afirma que o novo partido não comprovou a alegada morosidade dos cartórios eleitorais nos Estados para certificar essas assinaturas.

Dilma faz nova ofensiva com PMDB e PT para fechar reforma ministerial

• Dificuldade para contemplar alas do partido aliado tem atrasado distribuição de cargos

Presidente vai se reunir com Lula e Temer por reforma ministerial

Gustavo Uribe, Natuza Nery – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com dificuldades de definir o novo desenho da Esplanada dos Ministérios, a presidente Dilma Rousseff voltará a se reunir a partir desta terça (29) com PMDB e PT em busca de um formato de reforma administrativa que lhe garanta apoio no Congresso.

Para tentar contemplar as diferentes alas do PMDB, que iniciaram uma queda de braço pelo controle de pastas, Dilma voltará a discutir as mudanças nos ministérios com o vice-presidente, Michel Temer, e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –que disse a assessores e aliados que viajará a Brasília na quarta (30) para ajudá-la a chegar a uma solução.

Com o impasse no PMDB, a cúpula do Planalto avalia como improvável que a reforma administrativa seja anunciada na quarta e defende que, no atual momento de crise política, é preferível Dilma acomodar as distintas forças do PMDB do que cumprir promessa feita no início do mês de cortar dez ministérios.

Com a ausência da presidente, que discursou nesta segunda (28) em Nova York na abertura da Assembleia Geral da Nações Unidas, coube à sua equipe de articulação política tentar chegar a um acordo entre a bancada do PMDB na Câmara dos Deputados e o grupo do vice-presidente, Michel Temer.

Com a ameaça da bancada de deputados do PMDB de abrirem mão da participação na administração petista, o ministro Ricardo Berzoini (Comunicações) e o assessor Giles Azevedo entraram em contato com parlamentares do partido para assegurar que a presidente não recuará no compromisso de entregar duas pastas à bancada peemedebista da Câmara.

Ministério da Saúde
Precisando de votos para evitar a derrubada de vetos a propostas que aumentam os gastos do governo e para aprovar pontos do ajuste fiscal, Dilma prometeu ao líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), que a bancada poderá indicar um nome para a Saúde, ministério cobiçado por várias legendas.

Outra pasta seria na área de infraestrutura, mas para isso Dilma precisa definir os tamanhos que terão nos ministérios as bancadas da Câmara, do Senado e os nomes de confiança de Temer.

Berzoini também se reuniu nesta segunda com o ministro da Aviação Civil, Elliseu Padilha –o Palácio do Planalto estuda deslocá-lo da atual pasta para o comando da Infraero. Padilha é um nome de confiança de Temer.

Se isso ocorrer, o ministro Hélder Barbalho deixaria a Pesca e assumiria a Aviação Civil. Portos, hoje com Edinho Araújo, ficaria com o PMDB da Câmara.

Temer, no entanto, resiste a aceitar essa mudança. Os ministros Padilha, Hélder Barbalho e Henrique Eduardo Alves (Turismo), aliados do vice-presidente, ameaçam desistir de participar do primeiro escalão do governo federal caso algum deles fique sem pasta.

Temer passa o dia discutindo reforma com ministros do PMDB

• A expectativa inicial é que o anúncio da nova configuração da Esplanada fosse na quarta, mas auxiliares palacianos já trabalham com a possibilidade de ele acontecer somente na quinta

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Presidente em exercício, o vice Michel Temer passou o dia recebendo aliados do PMDB em seu gabinete para discutir a reforma ministerial. A presidente Dilma Rousseff vai retomar as negociações com o partido nesta terça-feira, 29, depois que voltar da viagem a Nova York. A expectativa inicial é que o anúncio da nova configuração da Esplanada fosse na quarta, mas auxiliares palacianos já trabalham com a possibilidade de ele acontecer somente na quinta.

Estiveram com Temer os ministros Eliseu Padilha (Aviação Civil), Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Kátia Abreu (Agricultura). O prefeito do Rio, Eduardo Paes, também se encontrou com o vice.

Na semana passada, a presidente adiou o anúncio da reforma diante de um impasse com o PMDB. Para contemplar a bancada do partido na Câmara, Dilma juntaria os ministérios da Aviação Civil e dos Portos para criar o Ministério da Infraestrutura, que ficaria sob o comando de um nome indicado pelos deputados peemedebistas.

O arranjo, porém, tiraria da Esplanada Padilha e o ministro Edinho Araújo, dois nomes ligados a Temer. O vice, que inicialmente afirmou que não indicaria nomes para o novo ministério, não gostou de perder espaço no governo e atuou para barrar a negociação.

Tucanos apostam em enfraquecimento de Dilma

Por Fernando Taquari e Renata Batista – Valor Econômico

SÃO PAULO e RIO - O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP) calcula que faltam 58 votos para a oposição ter maioria suficiente na casa para aprovar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Sampaio previu, em evento em São Paulo, no Instituto Fernand Braudel, que o processo contra a petista deve ser aberto na Câmara em outubro para seguir ao Senado em novembro. Segundo o tucano, as movimentações da presidente para garantir a base de sustentação, com a reforma ministerial, não surtiram efeito até o momento.

Os pedidos pelo impeachment devem ser indeferidos pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a partir da próxima semana e a oposição deve recorrer da decisão em plenário, onde podem conseguir reverter a decisão por maioria simples. Neste caso, será criada uma comissão que deverá elaborar um parecer contra ou a favor do afastamento. Se o parecer for favorável, terá que ser aprovado depois por 342 deputados Sampaio calcula que a oposição conta, atualmente, com 284 votos. Afirma ter 20 votos no PMDB e que PT, PR e PP devem ser as legendas mais fiéis ao governo e contra a tese de afastamento de Dilma.

No Rio de Janeiro, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), minimizou a possibilidade de Dilma recompor maioria no Congresso por meio de uma reforma ministerial. Aécio disse ontem que a presidente está "de cócoras" para o Congresso. Em discurso para novos e antigos correligionários, Aécio disse que o seu partido perdeu a eleição presidencial em 2014, mas saiu fortalecido, enquanto o PT e a presidente estão sem condições de governar e, em vez de fazerem a reforma administrativa "necessária", usam ministérios importantes para manter a presidente no cargo "por mais uma semana". "O governo dela é cada vez mais refém da semana seguinte", completou.

Aécio, que participou de cerimônia de filiação do PSDB do Rio, disse que a saída da crise se dará dentro do que prevê a Constituição. Ele espera que a investigação das contas de campanha da presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para apurar se foram usados recursos oriundos de propina da Petrobras, comece essa semana. "O impeachment é uma previsão constitucional, entre outras, como o afastamento pelo TSE e até a saída voluntária da presidente", disse. Segundo o tucano, que está fazendo uma rodada de visitas aos diretórios estaduais, o partido tem conseguido ampliar sua base, com novas filiações, enquanto o PT, que chamou de "principal adversário", perde quadros.

Na TV, tucanos acusam Dilma de enganar a população

• FH, Aécio, Serra e Alckmin participam de programa do PSDB

- O Globo

RIO — O PSDB levou ao ar nesta segunda-feira um programa de 10 minutos com críticas ao governo Dilma Rousseff. Em cadeia de rádio e TV, locutores da peça acusaram a presidente de enganar a população durante a campanha eleitoral e disseram que, “com tanta mentira, um dia a máscara cai”. Os tucanos mencionaram a possível instalação de um processo de impeachment na Câmara dos Deputados, mas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a defender, desta vez indiretamente, que a renúncia seria melhor solução para o país. Além do ex-presidente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) participaram do programa.

— A gestão da Dilma está derretendo. A economia vai muito mal. E a presidente é refém de uma base de sustentação no Congresso que a cada dia é mais do tipo toma lá dá cá. Ela na verdade está pagando pela herança maldita que o Lula deixou. A presidente pode até tentar sair dessa crise, mas como? Com o PT? E o PT tem condições de sustentar alguém? Um partido que propôs o céu ao povo e não teve competência para gerir a economia e hoje oferece o inferno da crise e do desemprego? Por outro lado: e se ela abandona o PT? Aí o risco de cair aumenta ainda mais. Está na hora de a presidente ter grandeza e pensar o que é melhor para o Brasil, e não para o PT — disse FH, deixando no ar a possibilidade de renúncia.

No início do programa, pessoas descontentes com o governo usam uma máscara com a reprodução do rosto da presidente. As falas de apresentadores e de políticos são intercaladas com brasileiros batendo panelas em ritmo musical.

— A realidade foi escondida dos brasileiros, e medidas importantes que deveriam ser tomadas lá atrás, para diminuir para você os efeitos da crise, foram ignoradas pela presidente da República. Prevaleceu sempre a mentira. Tudo apenas para vencer as eleições. E agora, sem qualquer cerimônia, sem assumir minimamente a sua responsabilidade, a presidente transfere o custo dos seus erros e das irresponsabilidades de seu governo para as famílias e os trabalhadores brasileiros — diz Aécio.

Alckmin reforça a crítica:

— O governo escolheu o pior caminho para seguir: aumentou juros e impostos.

Já o senador José Serra diz que “nunca” viu “uma situação política como essa”. Os tucanos rechaçam o aumento de impostos e medidas que “tirem direitos dos trabalhadores”. O programa também rebate as críticas da presidente de que há setores golpistas querendo se aproveitar da crise.


— Quem promete controlar a inflação, não mexer em direitos trabalhistas e muitas outras maravilhas, mas depois a inflação sobe sem parar, ela corta o seguro desemprego, 1,5 milhão de vagas do Pronatec, aumenta e muito a conta de luz. Pensa bem. Isso é ou não é um verdadeiro golpe? — indaga o locutor.

Antes, Aécio também toca no assunto:

— Dentro das regras democráticas que nós queremos e vamos lutar.

Tucano Carlos Sampaio diz que 284 votos são suficientes para iniciar impeachment

• Segundo deputado, embora número seja menor do que os 342 apoios necessários para aprovar a matéria na Casa, ele basta para processo começar a tramitar por meio de recurso no plenário

Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) afirmou nesta segunda-feira, 28, que, pelas suas contas, há 284 votos a favor do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Segundo ele, apesar de o número ser menor do que os 342 votos necessários para aprovar a matéria na Casa, ele é suficiente para o início da tramitação do processo por meio de recurso no plenário, caso o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), indefira os pedidos. Isso porque, pelo recurso, bastaria maioria simples (51%) para aprovar o início da tramitação do processo de afastamento.

Durante seminário promovido pelo Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, na capital paulista, Sampaio avaliou que Cunha deverá indeferir os pedidos de impeachment de Dilma. Nesse cenário, explicou, a possibilidade de recurso ao plenário é uma “vantagem” para a oposição, pois os 284 votos pró-impeachment já contabilizados ultrapassam os 257 votos necessários requeridos pela maioria simples. “Quando iniciar as manchetes no dia seguinte dizendo que iniciou o processo, temos clareza de que os que faltam para atingir os 342 votos (para conseguir aprovar a matéria na Câmara) vão aparecer”, disse.

Pelos cálculos de Sampaio, mesmo com os recentes movimentos de afago ao PMDB feitos pela presidente Dilma Rousseff ao oferecer novos ministérios à sigla, há 20 deputados do partido que devem votar a favor do impeachment. “Por mais que pareça que ela está ganhando fôlego, nossa visão é de que ela não ganha. A tendência é piorar”, afirmou. Na avaliação do tucano, cada vez que a presidente tira um partido de sua equipe para dar mais espaço ao PMDB, essa outra legenda descartada migra para o “outro lado”. “Ela faz pequenas arrumações e a coisa desanda”, disse o parlamentar.

Andamento. O deputado prevê que, a partir da próxima semana, alguns dos pedidos de impeachment devem começar a ser deferidos na Casa. Para ele, em outubro esse processo ficará concluído, fazendo com que, em novembro, o processo possa ser julgado pelos senadores, em sessão que deve ser presidida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal. Segundo o tucano, a maior resistência ao processo de afastamento de Dilma no Congresso vêm do PT, PR e do PP. “Do PSB também, mas acho que muita gente do partido acabaria votando a favor”, acrescentou. Para o parlamentar, Dilma “não tem vocação” para renunciar.

Carlos Sampaio afirmou que espera uma “receptividade absoluta” da sociedade em relação ao processo de impeachment. De acordo com ele, “não tem sentido falar em golpe”. “Não estamos cassando para o PSDB assumir. Se (o mandato de Dilma) for cassado, quem assume é o vice dela (Michel Temer, do PMDB)”, disse. O parlamentar avaliou que não se pode tratar como golpe um preceito institucional como o impeachment. Para ele, a união de juristas, como o advogado Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, em torno do tema, deu mais “robustez” ao pedido.

Em caso de impeachment de Dilma, o parlamentar disse acreditar que o PMDB “quer assumir o governo”. Já seu partido, o PSDB, “quer saber como ajudar” esse novo governo que tomaria posse. "Não tem como ajudar a Dilma", afirmou. "A premissa que me move é que nada é pior que Dilma." Na avaliação de Sampaio, com o vice Michel Temer assumindo o governo, “estaremos preparados para ver um governo de coalizão que Dilma não está preparada para fazer”. “Nossa torcida é que, o Michel assumindo, ele faça um governo de coalização com o que há de melhor, ou o País quebra."

PSDB afirma que petistas devem pagar por erros

• Propaganda da sigla foi ao ar nesta segunda

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO e RIO - A propaganda nacional do PSDB veiculada nesta segunda (28) afirma que o partido não é oposição ao Brasil, mas sim ao governo, e que é hora de o PT pagar por seus erros.

Os tucanos Geraldo Alckmin, José Serra, Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso criticam medidas como a possível volta da CPMF e os cortes no Pronatec.

Na introdução da peça, atores usam máscaras da presidente Dilma, enquanto uma narradora diz que as pessoas que votaram nela esperavam uma coisa e se depararam com outra. Ao fim, todos tiram os adereços, e a narradora anuncia que "com tanta mentira, um dia a máscara cai".

Durante toda a propaganda, pessoas marcham com panelas, em alusão aos recentes panelaços contra o governo.

Nesta segunda, Aécio afirmou que o governo Dilma vive seus "estertores" [agonia].

"Eu falo hoje no programa de forma muito clara: a saída da crise se dará dentro daquilo que prevê a Constituição", disse o senador, no Rio

Marina começa a apresentar ‘ colheita’

• Ao receber Randolfe, ex- senadora diz que PT e PSDB estão estagnados

Fernanda Krakovics - O Globo

Ao assinar a ficha de filiação do senador Randolfe Rodrigues ( AP), que trocou o PSOL pela Rede Sustentabilidade, a ex- senadora Marina Silva afirmou que PT e PSDB estão estagnados, e que seu partido quer contribuir para melhorar a qualidade da política brasileira. Apesar de atacar o governo Dilma Rousseff, principalmente pela crise econômica, ela classificou como “oportunismo político” defender impeachment neste momento.

— Na década de 80, final de 70, o PT deu sua contribuição. Hoje é um partido que está estagnado. O PSDB fez a mesma coisa quando saiu do PMDB, mas hoje também vive os dilemas do crescimento deles próprios e de suas estagnações — disse Marina.

Até então único representante do PSOL no Senado, Randolfe disse que se distanciou do partido durante a campanha presidencial do ano passado. Ele queria ter disputado o Palácio do Planalto, mas o PSOL lançou a ex- deputada Luciana Genro.

— Desde o ano passado, durante a campanha eleitoral, a relação com o partido se deteriorou — disse ele que, mesmo assim, fez elogios ao PSOL.

Além de Randolfe, já migraram para a Rede os deputados federais Alessandro Molon ( exPT- RJ), Miro Teixeira ( exPROS- RJ) e Aliel Machado ( ex-PCdoB- PR). Segundo integrantes do partido, ao menos outros dois outros deputados federais podem se filiar ainda esta semana. Fundadora do PSOL, a vereadora por Maceió Heloísa Helena também se filiou à Rede, assim como os deputados distritais — o equivalente a deputado estadual pelo Distrito Federal — Cláudio Abrantes ( ex- PT), Chico Leite ( ex- PT) e Luzia de Paula ( ex- PEN). No Rio, a Rede recebeu o vereador Jefferson Moura ( ex- PSOL).

— Nós não temos feito abordagem pensando em quantidade, estamos buscando compatibilizar a quantidade e a qualidade. O importante é que esse é um momento de reafirmarmos nosso objetivo de dar contribuição para melhorar a qualidade da politica — disse Marina, que disputou a Presidência ano passado, pelo PSB.

Reforma ministerial é 'autodefesa' de Dilma para se livrar do impeachment, diz Freire em entrevista

Por: Fábio Matos – Assessoria do Parlamentar

A chamada “reforma administrativa” prometida pelo governo de Dilma Rousseff, com a suposta redução no número de ministérios e as negociações envolvendo o PMDB, maior partido da base aliada, é uma “autodefesa” da presidente da República, que vê seu mandato ameaçado pela abertura do processo de impeachment no Congresso Nacional. A avaliação é do deputado federal Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, que participou nesta segunda-feira (28) do programa “Gente Que Fala”, da AllTV e da Rádio Trianon.

“A tal reforma administrativa foi transformada em um butim para tentar atrair um partido na tentativa de se livrar do impeachment. Não se trata de nenhum ajuste, mas de uma mera autodefesa”, afirmou o parlamentar em referência às conversas entre Dilma e o PMDB sobre o espaço do partido na nova configuração ministerial.

Além de Freire, compuseram a bancada do programa o advogado Alexandre Thiollier, o jornalista Antônio Carlos Cimino e o subprefeito de Vila Formosa, Aricanduva e Vila Carrão, Quintino Simões Pinto. A atração foi comandada pelo apresentador Zancopé Simões.

Segundo Freire, a proposta de ajuste fiscal encampada pelo atual governo não terá grande impacto para aliviar a grave crise econômica que atinge o país. “Das propostas feitas pelo governo, 90% são atribuição direta do Congresso. Dilma não fez praticamente nada de concreto”, criticou. “Esse ajuste não tem nada a ver com a retomada do crescimento da economia. Ao contrário, vai aprofundar a recessão.”

Impeachment
Para o deputado, apesar de buscar uma sobrevida política, a petista não deve ter condições de impedir a abertura de um processo de impedimento pela Câmara dos Deputados. “Há uma grave perda do senso de responsabilidade com a República. Isso não pode continuar. Mais dia, menos dia, vamos ter a instalação do processo de impeachment no Congresso Nacional. Já está encaminhado.”

O parlamentar estabeleceu uma comparação entre o momento atual e o período vivenciado pelo país às vésperas da destituição do ex-presidente Fernando Collor. “É importante lembrar que o impeachment não é algo inédito no país. São situações distintas, mas o processo tem similitudes com o que houve com Collor”, destacou.

Na entrevista, Roberto Freire classificou a situação atual do Brasil como “uma das maiores crises da história republicana” e “um desastre”. “O ministro da Saúde declarou hoje que não há recursos. O déficit não é só para o próximo ano. O Orçamento já não pode ser cumprido agora”, afirmou.

'Portugal Dentro de Nós'
Ainda nesta segunda-feira, o deputado Roberto Freire foi o convidado especial do programa “Portugal Dentro de Nós”, da Rádio Trianon, dedicado à comunidade portuguesa que vive em São Paulo. O parlamentar foi entrevistado pelos apresentadores Martins Araújo e Adriana Cambaúva.

“Quando começa a haver ingovernabilidade, o país não sabe para onde vai. Isso talvez traga mais prejuízo ao Brasil que retirar a presidente”, afirmou Freire sobre o impeachment. “Quem vai resolver a crise é a política, é o Parlamento. Será dele a última palavra sobre essa crise.”


Obra do Comperj para e mais 800 são demitidos

• Consórcio responsável pela construção da unidade de processamento de gás argumenta que crise econômica e câmbio inviabilizaram o contrato

Antonio Pita - O Estado de S. Paulo

Única obra do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) mantida no Plano de Negócios da Petrobrás para o período entre 2015 e 2019, a Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) teve as obras paralisadas, nesta segudna-feira, 28, pelo consórcio responsável pelo projeto. Cerca de 800 trabalhadores foram demitidos, segundo o consórcio formado por Tecna, Queiroz Galvão e Iesa Óleo e Gás - as duas últimas investigadas na Operação Lava Jato.

Ao custo de R$ 1,8 bilhão, a unidade estava planejada para escoar a produção de gás do pré-sal e tinha a entrada em operação prevista para 2017. O consórcio atribuiu a suspensão a "insustentáveis impactos sobre o contrato, decorrentes da crise econômica e seus efeitos no câmbio".

Na última semana, as empresas se reuniram com a Petrobrás para discutir os termos e os repasses do contrato, mas não houve acordo. O impasse teria acelerado a paralisação das obras. A justificativa sinaliza que a estatal já apertou o freio em seus projetos diante do agravamento da sua situação financeira, especialmente seu endividamento, após a disparada do dólar nas últimas semanas.

Demissões. Ao longo do dia, uma longa fila de trabalhadores se formou na área administrativa do consórcio para a formalização das demissões. Foram dispensados operários da área civil e também dos setores administrativos. Em nota, o consórcio QGIT informou também que as demissões respeitaram "integralmente a legislação trabalhista" e que ainda segue em negociações com a Petrobrás "visando a mais breve retomada das atividades".

"Acho que ela vai voltar em janeiro, mas não é nada certo", lamentou o funcionário Anderson Francisco, funcionário há um ano e cinco meses do consórcio. Segundo ele, os boatos entre os trabalhadores eram que a obra será hibernada por quatro meses.

Esta é a segunda vez que o operário, natural de Itaboraí, cidade na região metropolitana do Rio onde o Comperj é construído, é demitido das obras do empreendimento, onde trabalhou na área de construção civil nos últimos cinco anos.

Atualmente, cerca de seis mil operários atuam no Comperj, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói e Itaboraí (Stimenni), Edson Rocha. A previsão é que, até o final do ano, outros consórcios façam demissões, uma vez que os contratos relacionados às obras da refinaria serão paralisados à espera de um sócio para investir na conclusão do projeto.

"Mas a Petrobrás garantiu que novas licitações devem ser feitas para obras de asfaltamento, esgoto e iluminação, com previsão para início em janeiro", afirmou Rocha, que se reuniu há duas semanas com representantes da estatal.

Focus piora projeções pela 11 ª vez e já espera queda de 1% no PIB de 2016

Eliane Oliveira - O Globo

- BRASÍLIA- Mais recessão e inflação em 2015 e 2016 é o que esperam os analistas das principais instituições financeiras do país, ouvidos pelo Banco Central. A pesquisa semanal Focus divulgada ontem piorou, pela 11 ª vez seguida, a previsão de queda do Produto Interno Bruto ( PIB) este ano, de 2,7% para 2,8%. E o recuo esperado para 2016 passou de 0,8% para 1%. Já a estimativa para o IPCA em 2015 aumentou de 9,34% para 9,46% e, para o ano que vem, de 5,7% para 5,87%.

A taxa básica de juros ( Selic) prevista para 2015 ficou estável em 14,25% e subiu de 12,25% para 12,5% em 2016. Já a expectativa para o dólar neste ano passou de R$ 3,86 para R$ 3,95.

Para Silvio Campos Neto, da Consultoria Tendências, o pessimismo se deve a três fatores:

— O Brasil vive hoje uma crise fiscal, política e econômica. Difícil dar um peso maior para um ou para outro. Foram feitas escolhas econômicas que se mostraram equivocadas nos últimos anos. E o lado político impede que os ajustes fiscais sejam feitos da forma necessária.

Carlos Eduardo de Freitas, exdiretor do Banco Central, avalia que a situação só vai melhorar com medidas que contribuam para a geração de riqueza.

— São necessárias medidas que facilitem o investimento e a poupança. Não se fala mais na Agenda Brasil. O próprio pacote fiscal é composto, em 70%, por aumento de carga tributária. Se eu fosse empresário, pelo menos por enquanto, tiraria meu time de campo — afirmou Freitas.

Taxa trimestral de desemprego sobe para 8,6% em julho, a maior desde 2012

• Na pesquisa do IBGE, o resultado é maior do que os 8% vistos no trimestre anterior e do que os 6,9% registrados no mesmo período de 2014; renda do trabalhador ficou em R$ 1.881 nos três meses encerrados em julho, alta de 2% em relação ao ano passado

Idiana Tomazelli - O Estado de S. Paulo

RIO - A taxa de desocupação no Brasil ficou em 8,6% no trimestre até julho de 2015, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados nesta terça-feira, 29, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se do maior resultado desde 2012, quando a série teve início. A taxa apurada também é maior do que a observada em igual período do ano passado, que ficou em 6,9%. No trimestre móvel até abril deste ano, a taxa havia sido de 8,0%.

A renda média real do trabalhador foi de R$ 1.881,00 trimestre até julho de 2015. O resultado representa alta de 2,0% em relação ao período de maio a julho de 2014 e recuo de 0,9% ante os três meses até abril deste ano.

A comparação é feita com o trimestre até julho ante o trimestre até abril para que não haja repetição das informações coletadas, segundo o IBGE, já que a cada mês são visitados 33% dos domicílios da amostra.

A massa de renda real habitual paga aos ocupados somou R$ 164,1 bilhões no trimestre até julho de 2015, alta de 2,3% ante igual período do ano passado e recuo de 0,9% ante o trimestre até abril deste ano.

O número de desempregados em todo o País aumentou 26,6% no trimestre até julho ante igual período do ano passado, diz o IBGE. Isso significa que 1,810 milhão de pessoas passaram a buscar uma vaga nesse período. Com isso, o Brasil tinha, nos três meses até julho, 8,622 milhões de desempregados, o maior nível da série, iniciada em janeiro de 2012.

A maior procura por emprego é o principal combustível para o avanço da taxa de desocupação. A força de trabalho, que inclui as pessoas que estão empregadas e quem está atrás de uma vaga, cresceu 2,1% no trimestre até julho ante igual período de 2014. Ou seja, 2,064 milhões de pessoas ingressaram na população ativa.

Só que a geração de vagas foi insuficiente para acomodar esse contingente. No mesmo tipo de confronto, a população ocupada avançou 0,3%, isto é, foram abertos 255 mil novos postos de trabalho em todo o País. O restante ficou na fila de desemprego, contribuindo para a maior taxa de desocupação.

A população fora da força de trabalho (os inativos) também cresceu, mas menos do que em períodos anteriores. O avanço foi de 0,4% no trimestre até julho ante igual período de 2014, a menor alta da série. Ao todo, 242 mil pessoas saíram da força de trabalho.

Desde janeiro de 2014, o IBGE passou a divulgar a taxa de desocupação com periodicidade trimestral para todo o território nacional. A nova pesquisa tem por objetivo substituir a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que abrange apenas seis regiões metropolitanas, e também a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) anual, que produz informações referentes somente ao mês de setembro de cada ano

Dívida pública federal sobe 3,16% em agosto e chega a R$ 2,7 tri

• Com alta da moeda americana, débitos do país no exterior cresceram 4,35% no mês

Bárbara Nascimento - O Globo

- BRASÍLIA- A dívida pública federal — que inclui o endividamento interno e externo do país — aumentou 3,16% em agosto, para R$ 2,686 trilhões. Conforme relatório divulgado pela Secretaria do Tesouro Nacional, a desvalorização do real fez com que a dívida externa saltasse 4,35% no mês, atingindo o patamar de R$ 134,32 bilhões. Enquanto a dívida interna, que representa 95% do total, subiu 3,10%, a R$ 2,551 trilhões.

O resultado da dívida para o mês passado é fruto de uma emissão líquida ( já descontados os resgates) de R$ 49,95 bilhões, de uma apropriação positiva de juros no valor de R$ 36,89 bilhões e da desvalorização do real frente ao dólar.

O prazo médio de endividamento caiu de 4,63 anos em julho para 4,56 anos em agosto, o que pode indicar um início de deterioração da saúde da dívida, segundo analistas. O percentual de títulos que devem vencer nos próximos 12 meses subiu de 22,44% em julho para 25,20% em agosto.

— Na média, o encurtamento do prazo parece pequeno, mas como o número de títulos que vence em curto prazo aumentou, e o de longo prazo diminuiu, significa que a paciência do mercado está menor — avaliou o analista da Tendências Consultoria Fábio Klein.

Custo da dívida supera Selic
O custo médio da dívida acumulado nos últimos 12 meses aumentou 0,94 ponto percentual, indo de 14,99% para 15,93% ao ano. O professor Fernando Zilveti, especialista em contas públicas da Universidade de São Paulo ( USP), ressalta que o percentual está, inclusive, acima da Taxa Selic, hoje em 14,25%, o que pode ser preocupante, à medida que o estoque tem aumentado a um custo de financiamento alto.

O percentual de estrangeiros que possuem títulos da dívida interna brasileira caiu em agosto, pela quarta vez consecutiva, de 19,56% em julho para 19,14%. A maior parte dos títulos da dívida brasileira estava, em agosto, nas mãos de instituições financeiras ( 25,48%) e fundos de investimento ( 20,53%). A preocupação dos analistas de mercado é que, com o rebaixamento da nota do país pela Standard & Poor’s, o número de estrangeiros detentores da dívida caia com mais força. 

Lourdes Sola - Por uma sociologia da Lava Jato

- O Estado de S. Paulo

Há um século o filósofo Ortega y Gasset, o caçula de uma geração de intelectuais que se confrontava com o que reputavam “a Espanha caduca”, cunhou uma frase que nós, brasileiros, recolhemos de forma distorcida, por incompleta. No original, “yo soy yo y mi circunstancia: si no la salvo a ella, yo no me salvo”. A ênfase recai, portanto, no que se entende por salvar e por nossa circunstância. Por salvar entendia-se o esforço intelectual motivado pelo “afã de compreensão” num sentido preciso: a partir do resgate da reflexão sobre a especificidade da Espanha, então dividida entre aquela que se queria europeia e a que se pensava castiça.

A “Espanha caduca”, como se sabe, só foi desmantelada 60 anos depois, quando os traumas da guerra civil e de uma longa ditadura obscurantista foram elaborados. Mas o golpe fatal que levou à europeização e à democracia foi o desembarque de um dos setores mais poderosos e economicamente dinâmicos do bloco de poder dominante – o sistema financeiro – e sua adesão às forças da mudança. Graças à combinação de dois incentivos: o interesse em participar do amplo mercado da União Europeia e o sistema de condicionalidades políticas que lhe era associado, ou seja, a adoção da democracia.

Cito essa experiência para destacar a necessidade de recorrer também ao arsenal da sociologia para exercer o afã de compreensão da conjuntura crítica que vivemos. Pois o êxito da complexa e arriscada operação política que implantou a democracia espanhola – a utopia de Ortega y Gasset – resultou de uma transformação no sistema de interesses e de valores. Que, por sua vez, se expressou em mudança decisiva na composição das coalizões sociais, em disputa: a de apoio ao velho regime e a de suporte ao bloco de poder em construção. O novo “contrato social”, formalizado no Pacto de Moncloa, foi o coroamento, não o ponto de partida, de processos sociais transformadores.

Hoje, no contexto instável e movediço posterior à crise global de 2008, graças à sociologia, sabemos algo mais sobre a fluidez das coalizões sociais e sua relação com as coalizões políticas domésticas em tempos de crise internacional. Agora no contexto de uma grande democracia de massas como os EUA. A noção de “grupos pivot”, usada para compreender o papel das finanças no pós-crise nesse país, ajuda a entender também uma das características distintivas da nossa, desde que adequada ao nosso contexto. Em princípio, aplica-se ao grupo cujo peso numa coalizão política tende a ser maior do que os demais porque pode facilmente mudar de lado – e que, por isso, tende a determinar os resultados de uma disputa estratégica. Isso se deve aos recursos de poder que detém – no caso, financeiros – e, portanto, por sua posição na estrutura social. Os grupos pivot são ainda mais decisivos quando o financiamento das campanhas eleitorais adquire centralidade, como é o caso das democracias de massa.

Dentre as múltiplas implicações da Operação Lava Jato, há algumas que ajudam a situar melhor nossa conjuntura crítica. Antes disso, convém destacar que o poder do setor financeiro, entre nós, não é da mesma ordem que nos EUA: por não ser um “grupo pivot” em termos do sistema internacional e tampouco ser tão hegemônico em termos da política de coalizões doméstica. Por um lado, por ser comparativamente bem mais regulado. Por outro, pelo peso relativo (e pela capilaridade social) dos bancos públicos: os quais, acionados pelo Executivo, lhe garantem espaço de manobra para atenuar o poder de fogo do setor privado. Sobretudo, porque divide essa função com as empreiteiras.

A Operação Lava Jato detonou um processo de mudanças sem precedentes, de longo alcance: a exposição e penalização do grupo pivot mais entranhado no sistema de poder desde a ditadura, o das grandes empreiteiras. Ela ilumina bem mais do que os mecanismos da corrupção utilizados pelos governos sub judice e a vocação hegemônica do PT. Lança luz sobre as características distintivas da organização e da forma de operação do Estado brasileiro, desde a ditadura até hoje. Só que agora em nova encarnação, porque mais inclusivo, pois equipado institucionalmente para absorver a incorporação dos movimentos sociais e de outros interesses organizados. Daí as interações intangíveis desse grupo pivot com o poder público, com a estatal ícone do capitalismo de Estado brasileiro, entre outras, com o “presidencialismo de coalizão” – e cuja duradoura influência na formulação da nossa diplomacia econômica data da ditadura. (Aqui estou apenas atualizando a noção de “anéis burocráticos”, com a qual Fernando Henrique Cardoso caracterizou a especificidade do Estado brasileiro durante a ditadura.)

As Operações Lava Jato, Nessum Dorma e eventuais similares evidenciam o déficit de institucionalidade e de democracia que caracteriza o nosso Estado. Mas, por isso mesmo, também evidenciam os limites de uma caracterização desse déficit em termos de “captura do Estado pelos interesses privados”, a gosto de nossos melhores economistas – transplantada de outros contextos. Pois uma das características distintivas do nosso capitalismo de Estado consiste na existência de instituições quase seculares, que o autoriza a capturar os interesses organizados, mesmo aqueles que nascem autônomos. A durabilidade da estrutura sindical e patronal herdada dos anos 1930, o impulso de regular a sociedade e de integrar à sua esfera os movimentos sociais sob a égide do lulopetismo não seriam mais bem explicados em outros termos? Enquanto perdurar a subinstitucionalizacão do Estado, enquanto Estado democrático, seria mais adequado falar em captura recíproca, ou numa relação simbiótica entre uns e outro.

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Lourdes Sola é professora de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e consultora política

Merval Pereira- Disputa de espaço

O Globo

A disputa entre a Polícia Federal e o Ministério Público pelas investigações da Operação Lava- Jato voltou à tona com o episódio da inclusão do ex- presidente Lula na lista dos que devem ser ouvidos no inquérito instaurado no Supremo Tribunal Federal, iniciado naquela Corte em razão de sua competência originária.

Noticiado inicialmente como tendo partido do delegado Josélio Souza o pedido de autorização feito ao STF para que Lula e outros fossem ouvidos, o que estranhei em coluna do último domingo por nenhum dos citados ter fórum privilegiado, na verdade fontes da Polícia Federal esclarecem que o que houve foi um pedido de prorrogação do prazo da investigação por 80 dias.

Esse inquérito é presidido por um ministro do STF, o ministro Teori Zavascki, e segue as regras específicas do Regimento Interno do Supremo. Segundo a explicação oficial, a Polícia Federal atua nesses casos como “longa manus” do ministro- presidente do inquérito, realizando as diligências investigativas.

Mesmo que fosse o caso, e há discordâncias sobre essa função da Polícia Federal, não há nada que indique que o procurador- geral da República tenha autoridade para definir o status em que Lula será ouvido, segundo Rodrigo Janot como “testemunha” e não como “investigado”.

A competência do STF está firmada nos artigos 101 a 103 – A, da Constituição Federal, e entre esses dispositivos não há um sequer que o autorize a investigar crimes. Qual a razão? Resguardar a imparcialidade do julgador. Se ele investiga, não terá isenção para julgar.

O ministro que preside o inquérito deveria funcionar como juiz das garantias, cabendo a ele tão somente decidir sobre matérias como reserva da jurisdição, ou que toquem nos direitos fundamentais, tais como prisão preventiva e temporária, quebra de sigilo bancário e fiscal, sequestro de bens, etc.

Nessa interpretação do papel da Polícia Federal nos inquéritos sob a presidência do Supremo, diferentemente do que ocorre em um inquérito policial, no qual o delegado de polícia possui ampla discricionariedade para realizar as diligências que entende necessárias, sem rito ou ordem cronológica previamente estabelecidas, esta discricionariedade é muito mitigada, já que a priori a investigação não é sua, mas ele colabora com as diligências e quem preside o feito é um ministro da Corte.

Como se trata de um inquérito do STF, presidido por um ministro, o regimento interno estipula, no seu artigo 230- C: “Instaurado o inquérito, a autoridade policial deverá em sessenta dias reunir os elementos necessários à conclusão das investigações, efetuando as inquirições e realizando as demais diligências necessárias à elucidação dos fatos, apresentando, ao final, peça informativa. §1 º O relator poderá deferir a prorrogação do prazo sob requerimento fundamentado da autoridade policial ou do procuradorgeral da República, que deverão indicar as diligências que faltam ser concluídas”.

O delegado de Polícia Federal Josélio Souza apresentou justamente o seu requerimento de prorrogação de prazo e, por força dessa norma, ficou obrigado a indicar as diligências faltantes — dentre elas, as audiências a serem marcadas com Lula e outros.

Esta norma não fala nada com relação à obrigatoriedade de opinião do procurador- geral da República sobre essas diligências complementares necessárias, indicadas pela autoridade policial. Nesses casos decorrentes da Lava- Jato, porém, tem sido interpretado que o PGR deve se manifestar sobre as diligências indicadas pelo delegado de Polícia Federal, e já houve conflitos anteriores entre as duas áreas.

Mesmo que o procurador- geral Rodrigo Janot tenha extrapolado suas prerrogativas — segundo alguns especialistas por excesso de zelo ou outras razões —, o fato de definir o papel de Lula no inquérito como de testemunha, e não investigado, não facilitará a vida do ex- presidente.

Ele terá que assumir o compromisso de dizer a verdade. Não poderá, por exemplo, ficar em silêncio, um direito do investigado. A mentira, se constatada pela autoridade policial, ou pelo Ministério Público, ou pelo juiz, seja no momento do depoimento ou após, implicará infração prevista no Código Penal.

* Esta coluna, assim como a de domingo, contou com a assessoria jurídica de Cosmo Ferreira, advogado criminal, ex- promotor de Justiça do Rio e procurador regional da República.

Raymundo Costa - A crise tem nome e se chama Dilma

• Presidente opera reforma ministerial em zona de alto risco

- Valor Econômico

O ex-presidente Lula, o PT e a cúpula do PMDB ainda não desistiram de tirar o ministro Aloizio Mercadante do Palácio do Planalto. Para eles o nome da crise é Dilma Rousseff e seu coordenador o atual chefe da Casa Civil. Se dependesse de Lula, Dilma trocaria Mercadante por um nome como o de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, e José Eduardo Cardozo por Nelson Jobim no Ministério da Justiça. Não é de hoje que Lula desistiu de esperar por Dilma e tomou a dianteira do processo, seja na política, na costura que aproximou do governo o PMDB do Rio, seja no estreitamento das relações com Jobim, que cumpre em relação à Lava-Jato o papel de articulador que Cardozo nunca foi capaz de cumprir ou não quis compreender.

Numa recente reunião de oito líderes aliados, discutiu-se o futuro de Mercadante, Cardozo e Joaquim Levy (Fazenda). Ninguém defendeu Mercadante. Um emissário levaria o pedido do grupo para a demissão do ministro. Dilma ficou sabendo e matou a iniciativa no nascedouro. Lula e o PT desistiram de ficar pedindo a cabeça de Mercadante. Talvez assim Dilma, mais adiante, entenda que o ministro é o nó que não desata na relação política com o Congresso e os partidos aliados. No momento, estão mais preocupados com a operação de alto risco em que a presidente se meteu na reforma do ministério. Desde o início a ideia de Lula era empoderar o PMDB, oferecendo ministérios fortes ao partido e às bancadas, mas sem excluir do jogo o vice-presidente e presidente do PMDB, Michel Temer, como acabou acontecendo na primeira investida de Dilma.

Em termos congressuais, o impeachment de Dilma pode ser amanhã, quarta-feira, uma possibilidade mais remota que na primeira semana de agosto, quando uma articulação político-empresarial lançou a boia de salvação para a presidente da República. Bem ou mal as medidas do ajuste fiscal foram aprovadas no Congresso e o governo fechou uma proposta orçamentária para 2016. A presidente está novamente acuada na reforma ministerial. Se errar, pode jogar Michel Temer nos braços dos "carbonários" do PMDB, como Geddel Vieira Lima (BA) ou Jarbas Vasconcelos (PE), da tropa de choque do impeachment, no lugar de mais moderados como o ex-ministro Moreira Franco (RJ).

A presidente, pelo visto, se deixou levar pelas intrigas palacianas sobre supostas conspirações do vice para assumir o seu lugar. Por outro lado, o PMDB do Senado também informou Dilma que o vice não tinha nenhum voto na Casa. E a bancada do PMDB da Câmara reclamava por um representante, pois entendia que Temer levara para o ministério apenas os mais chegados, integrantes da turma mais assídua do Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente.

De saída, a oferta da presidente reduzia o número de ministérios em poder do PMDB de seis para cinco ou até quatro pastas, dependendo do desenho. Ela pediu para a Câmara nomes para os ministérios da Saúde e da Infraestrutura, pasta que seria criada com a fusão do ministérios da Aviação Civil e dos Portos - as duas em poder de aliados de Michel Temer. Demitidos em público, já nem se pode dizer que os ministros dessas duas pastas ainda são indicações de Temer, que desaconselhou a reforma e evitou falar em nomes.

Este é o impasse atual de uma reforma que teria chances de dar algum refresco para Dilma, mas que pode se transformar num problemão se a presidente não entender a geografia pemedebista. A tacada sobre o PMDB do Rio foi bem articulada e executada, num momento em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, se embaralha nos desvãos da Operação Lava-Jato. O soneto carioca contou também com a participação de Sérgio Cabral, mas no PT de Lula cresceu o prestígio do governador Luiz Fernando Pezão, considerado mais ousado e eficiente na política que o antecessor. Pezão já tenta se articular com outros governadores do PMDB, como Paulo Hartung (ES) e Confúcio Moura (RO). Pressionado pela Lava-Jato, Cunha deve perder espaço para Picciani - só não está claro se há um entendimento entre os dois. Quem conhece bem Cunha conta que ele se considera "traído".

Lula não procurou o prefeito Eduardo Paes para conversar sobre os jogos olímpicos. Dilma opera, portanto, numa zona de alto risco. Se conseguir atender às bancadas do Senado, da Câmara e o vice Michel Temer, terá sido uma jogada de mestre. Do contrário, a crise pode se agravar e talvez voltar para onde estava antes do freio de arrumação tentado em agosto. Se conseguir estabilizar a política, o governo pode cuidar com mais tranquilidade da economia. Os antecedentes não recomendam otimismo.

Inconformado com a perspectiva de deixar o Palácio do Planalto, Miguel Rossetto articula para si a criação do Ministério da Cidadania, fruto da fusão das pastas da Igualdade Racial, Direitos Humanos e Mulheres, que Dilma não gostaria de acabar, mais os movimentos sociais abrigados na Secretaria Geral da Presidência. Ocorre que Ricardo Berzoini, atual ministro das Comunicações, só aceita trocar de cargo para voltar à articulação política do governo pela Secretaria Geral, se mantiver os movimentos sob sua área de influência. Rossetto é do sul e amigo da presidente, que gostaria de mantê-lo no governo, mas o PT tem dificuldades para assimilar a extinção de três pastas simbólicas para o partido. Se este for o fim inevitável, uma corrente forte prefere que seja nomeada para o posto a ministra Eleonora Menicucci (Política para Mulheres), mas sem os movimentos sociais. Berzoini não quer ser apenas mais um garçom, aquele que anota os pedidos dos deputados, como eram conhecidos antigos ministros da Secretaria de Relações Institucionais.

A última investida da presidente Dilma sobre o baixo clero do PMDB, como ela faz agora na reforma ministerial, deu em Pedro Novaes (MA) no Turismo. O ex-deputado não tinha as credenciais de um petrolão, mas acabou enrolado nos lençóis de uma cama de motel.

Luiz Carlos Azedo - A ficha ainda não caiu

• Dilma admitiu que as medidas adotadas anteriormente para conter a crise se esgotaram, mas voltou a afirmar que o ajuste fiscal será suficiente para retomar o crescimento

- Correio Braziliense

A presidente Dilma Rousseff ainda não se convenceu de que o Brasil tem problemas estruturais na economia. Foi o que deixou claro ontem, ao discursar na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), perante os líderes mundiais, em que pesem a maior recessão dos últimos 25 anos, a marca de um milhão de trabalhadores demitidos, o dólar acima dos R$ 4 e uma dívida pública que cresce astronomicamente e já chegou a R$ 2,68 trilhões.

Em 20 minutos de discurso, disse que a economia brasileira é “mais forte e sólida” do que em anos anteriores: “A lenta recuperação da economia mundial e o fim do superciclo das commodities incidiram negativamente sobre nosso crescimento. A desvalorização cambial e as pressões recessivas produziram inflação e forte queda da arrecadação, levando a restrições nas contas públicas. O Brasil, no entanto, não tem problemas estruturais graves, nossos problemas são conjunturais e, diante desta situação, estamos reequilibrando o Orçamento e assumimos uma forte redução de nossas despesas, gastos de custeio e parte do investimento”.

Dilma admitiu que as medidas adotadas anteriormente para conter a crise se esgotaram, mas voltou a afirmar que o ajuste fiscal será suficiente para retomar o crescimento: “Propusemos cortes drásticos de despesas e redefinimos nossas receitas. Essas iniciativas visam a reorganizar o quadro fiscal, reduzir a inflação, consolidar a estabilidade macroeconômica e garantir a retomada do crescimento com distribuição de renda.” Em nenhum momento a presidente da República admitiu a necessidade de reformas para a economia voltar a crescer. Essa é uma palavra que não existe no seu dicionário.

Na verdade, a presidente da República lançou o país num impasse: quer que o Congresso aumente impostos para bancar os gastos do governo, cujo orçamento cresce mais do que o Produto Interno Bruto (PIB); ocorre que a sociedade não suporta mais a carga tributária, o que gera um ambiente contrário no parlamento. É um empate, que gera um circulo vicioso. O risco Brasil eleva o dólar, que aumenta a inflação, que eleva os juros, que aumenta a dívida pública, que inibe o crescimento, que reduz a inflação e joga a arrecadação pra baixo.

O Brasil não é a China, que tem mais de US$ 3,5 trilhões de reservas e pode queimar mais de US$ 400 bilhões no câmbio; está mais para Rússia, cujas reservas caíram de US$ 500 bilhões para US$ 300 bilhões e, mesmo assim, não conseguiu segurar o câmbio. Com US$ 370 bilhões em reservas, o Banco Central (BC) não tem cacife para bancar o jogo pesado com os especuladores, se nada for feito para efetivamente reduzir os gastos do governo. Dilma acredita que pode bancar esse jogo, como deu a entender seu discurso na ONU, mas o mercado pensa diferente. E os indicadores não mentem.

Oposição petista
Quem também pensa diferente, mas com sinal trocado, são os economistas do PT, ligados à Fundação Perseu Abramo, que ontem divulgou documento com duras críticas à política econômica. O documento “Por Um Brasil Justo e Democrático”, não poupa críticas ao ajuste fiscal proposto pelo governo e acusa Dilma de ser prisioneira dos banqueiros, numa alusão ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que o PT pretende derrubar na reforma ministerial.

A fundação é presidida por Marcio Pochmann, que comandou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) até 2012. Embora não seja endossado pelo PT publicamente, o texto reflete a opinião da maioria dos dirigentes do partido: “A lógica que preside a condução do ajuste é a defesa dos interesses dos grandes bancos e fundos de investimento. Eles querem capturar o Estado e submetê-lo a seu estrito controle, privatizar bens públicos, apropriar-se da receita pública, baratear o custo da força de trabalho e fazer regredir o sistema de proteção social.”

No Congresso, este é o discurso dos parlamentares petistas; nos movimentos sociais, mais ainda. “O ajuste fiscal em curso está jogando o país numa recessão, promove a deterioração das contas públicas e a redução da capacidade de atuação do Estado em prol do desenvolvimento. Mais grave é a regressão no emprego, nos salários, no poder aquisitivo e nas políticas sociais”, sintetiza o documento.

Amanhã haverá uma reunião em Brasília do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os parlamentares petistas para discutir a reforma ministerial. A prioridade da reestruturação do governo não é a aprovação do ajuste fiscal e a gestão da crise, é barrar a possibilidade de abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Ocorre que a permanência de Dilma no cargo depende muito mais da estabilização da economia. Aparentemente, porém, essa é uma falsa contradição. Lula quer antecipar a votação do pedido de impeachment pela Câmara e derrotar a oposição, antes que a crise se agrave ainda mais no plano social e o PMDB possa dar o bote.

José Casado - A nuvem do desemprego

• Dilma Rousseff e Aécio Neves agora só precisam combinar seus planos com as ruas. As calçadas estão cada dia mais cheias de desempregados

- O Globo

A segunda- feira estava nublada em Nova York. Letreiros eletrônicos na Times Square anunciavam a descoberta de água em Marte. Visto da cadeira presidencial, o futuro transparecia promissor. Se há dificuldades, ressalvou Dilma Rousseff na Assembleia Geral da ONU, são circunstanciais — derivadas do moinho de forças ocultas da crise mundial. O importante, lembrou, é que “no Brasil, o processo de inclusão social não foi interrompido”.

A manhã de ontem também estava nebulosa a 7.800 quilômetros de distância. O líder da oposição deixou seu confortável apartamento na Zona Sul do Rio para contemplar o horizonte. Não poderia estar melhor, concluiu o senador Aécio Neves, presidente do PSDB: “Em nenhum outro momento dos nossos 27 anos de história tivemos momento tão positivo, porque o PSDB é antítese disso que está aí, do mal que aconteceu com o Brasil.”

O país de Dilma e Aécio, porém, estava dominado por uma certeza: no fim do dia, um novo contingente de mais de três mil brasileiros estaria desempregado.

Foram 573 mil demitidos de janeiro a agosto. Na média, mais de 3.300 demissões a cada dia útil, ou 1.100 a cada turno de oito horas.

O ritmo de desemprego não deixa dúvida sobre o panorama deste início de primavera: em outubro o Brasil deve ultrapassar a marca do milhão de novos desempregados nos últimos 12 meses.

Na região metropolitana de São Paulo, onde a maioria do eleitorado proporcionou uma inflação de votos ao oposicionista Aécio na eleição passada, a taxa de desemprego passou de 5,1% para 8,1%, entre julho de 2014 e agosto último.

No Nordeste, cujos eleitores viabilizaram a reeleição de Dilma, o desemprego cresce a velocidade significativa. Em Salvador, por exemplo, o índice era de 9,3% em agosto de 2014. Subiu para 12,4% no mês passado. Governo e oposição, porém, fingem nada ver. Dilma se mantém prisioneira de si mesma, contornando o quadrado retórico que traçou mentalmente — assim, nas suas palavras: “Nós sabemos que muitas pessoas no Brasil, em algum momento do passado, repetiam algo que escutavam em certas áreas e repetiam por não ter uma contraposição, por não ter uma consciência diferenciada... 

Qual era essa história? Essa história era uma história simples: era dizer que os pobres eram pobres porque queriam ser pobres; que os pobres eram pobres porque tinham preguiça, e não que os pobres eram pobres por um processo de exclusão histórica e sistemática do nosso país, que começa com a escravidão.”

De volta a Brasília, Dilma começa dia de hoje resolvendo o problema do desemprego entre aliados. Vai entregar mais cargos a integrantes da sua base parlamentar, na tentativa de preservar o próprio emprego. Chama isso de reforma ministerial.

Aécio continua a repetir seu mantra predileto: “Nós não vamos virar as costas para as dificuldades que o Brasil e que você está atravessando.” Como? Não respondeu na campanha do ano passado, nem parece motivado a fazê- lo por enquanto, mas ontem inovou ao prometer na televisão que vai lutar “dentro das regras democráticas”.

A presidente e o líder da oposição agora só precisam combinar seus planos com as ruas. As calçadas estão cada dia mais cheias de desempregados.