quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Opinião do dia Aécio Neves

"As investigações já chegaram muito perto do Palácio do Planalto, porque esse assalto aos cofres públicos serviu para alimentar esse projeto de poder. Se alguns se enriqueceram lateralmente, devem responder por isso. Mas a montagem dessa organização e dessa estrutura, segundo o Ministério Público continuada após o mensalão, teve um objetivo central: manter esse grupo político que está no poder.

O Brasil tem um desgoverno. As coisas já não caminham minimamente na direção correta, porque falta ao governo autoridade, credibilidade, e isso não se conquista com palavras vazias, com discursos de boas intenções.
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Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB. Valor Econômico, 5 de agosto de 2015

Cunha isola PT em CPIs e manobra pelo impeachment

Crise. Após o recesso parlamentar, presidente da Câmara dos Deputados se aproxima dos tucanos, coloca em prática medida para isolar aliados de Dilma Rousseff nas comissões de inquérito e monta estratégia que pode facilitar a votação das contas da presidente

Daniel Carvalho – O Estado de S. Paulo

Antes mesmo de abrir a primeira sessão da Câmara depois do recesso, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deixou claro que transformará em ação prática seu rompimento com o Palácio do Planalto. Cunha excluiu o PT do comando de todas as Comissões Parlamentares de Inquérito, iniciou diálogo com a oposição em torno de um pedido de impedimento da presidente Dilma Rousseff e fez manobra nessa mesma direção. Cunha trabalhou para aprovar no plenário da Casa uma espécie de regime de urgência para acelerar a votação das contas da petista que pode, no limite, levar a crime de responsabilidade fiscal e facilitar o questionamento de seu impedimento.

As articulações contra Dilma, começaram na noite de anteontem. Enquanto a presidente reunia líderes da base no Palácio da Alvorada para tentar reaglutinar seus apoios, Cunha conversava com a oposição em sua residência oficial. No fim da noite, aliados do Planalto também chegaram. O convescote contou com representantes de PMDB, PSDB, Solidariedade, DEM, PP, PR e PSD, os dois últimos governistas e integrantes do grupo do PT na Casa. Nenhum petista foi convidado.

Conforme a tradição do Legislativo, as maiores bancadas possuem lugar cativo no comando das CPIs. A do PT é a segunda maior da Câmara. Ainda assim, ficou acertado que a CPI do BNDES será presidida pelo PMDB e relatada pelo governista PR. A dos fundos de pensão ficará sob comando do DEM e será relatada pelo PMDB. PSDB comandará a CPI dos crimes cibernéticos e o PSD ficará com a de maus-tratos a animais.

O líder do governo, José Guimarães (PT-CE), condenou a articulação. "Era só o que faltava, a segunda maior bancada ficar fora da CPI. Baixa o tom. Isso não é aconselhável aqui dentro. Quem decide é a base. Nem presidente nem oposição decidem quem vai ser presidente ou relatora Esse discurso não é real. É um desejo vão da oposição", afirmou.

O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), disse que o assunto não está encerrado. Cunha tratou a exclusão do PT como algo natural. "O PT não está excluído de todas as CPIs. O PT está na (CPI da) Petrobrás. Os outros partidos querem participar também. É natural, faz parte do jogo. Por que o PT tem que ficar com tudo? É uma questão de negociação en-tre eles" disse.

Impeachment. Cunha e aliados discutiram manobra para pautar pedido de impeachment de Dilma de maneira que não o comprometa diretamente. Dois participantes do encontro disseram ao Estado que ficou acertada a possibilidade de, após o Tribunal de Contas da União (TCU) encaminhar seu parecera respeito das contas de governo, Cunha rejeitar o pedi do de abertura de processo de impeachment.

A oposição apresentaria um recurso, que seria votado e aprovado pelo plenário, garantindo a votação do impedimento de Dilma. Cunha negou "veementemente" que tenha discutido o assunto. "Não há discussão de impeachment", ressaltou Cunha. "Da minha parte, eu desminto veementemente as notícias que estão publicadas nos onlines que eu tive qualquer discussão acerca disso."

Logo depois, na primeira sessão do semestre, o plenário da Câmara aprovou urgência para análise das contas governamentais de 1992 (de 29 de setembro a 31 de dezembro, período pós-Fernando Collor de Mello), 2002 (último ano da gestão de Fernando Henrique Cardoso), 2006 e 2008 (contas do governo Luiz Inácio Lula da Silva).

O objetivo e garantir que as contas sejam votadas em um único turno e não em dois. Com isso, essas contas devem ser votadas até o fim da semana, abrindo espaço para apreciação das contas de Dilma tão logo saia o parecer do TCU.

Cunha e oposição discutem impeachment e isolam PT

Cunha discute fórmula para fazer avançar impeachment

• Rompido com o PT, ele quer dar caráter coletivo à eventual ação contra Dilma

• Peemedebista acertou a exclusão do PT de postos de comando das CPIs do BNDES e dos fundos de pensão

Ranier Bragon, Andréia Sadi, Aguirre Talento – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Rompido com o Planalto, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), discutiu nos últimos dias com a oposição e parte da base governista uma forma de fazer avançar um pedido de impeachment contra Dilma Rousseff na Casa.

A ideia é dar à ação um caráter coletivo, reduzindo o risco político que ele teria caso tomasse de forma solitária uma decisão desse porte.

Pela lei, cabe a Cunha definir se os pedidos de impeachment apresentados –foram 12, até agora, no segundo mandato– têm fundamento para prosseguir ou devem ser arquivados sumariamente. O peemedebista sinalizava a intenção de autorizar a tramitação dos mais bem elaborados.

Em jantar na noite de segunda (3), Cunha discutiu outra possibilidade com seus aliados. No novo cenário, ele rejeitaria dar sequência aos pedidos, mas algum deputado aliado recorreria de sua decisão ao plenário, o que é permitido pelo regimento interno da Câmara. Com isso, a decisão seria tomada pela maioria simples dos presentes.

São dois os objetivos manifestados nos bastidores: minimizar os riscos políticos de Cunha e constranger os aliados fiéis a Dilma a assumir perante a sociedade, no voto, uma eventual recusa a dar seguimento a um processo contra a petista.

Caso essa votação decida pelo seguimento do pedido, é criada uma comissão especial que emite parecer a ser apreciado pelo plenário. O processo contra Dilma só é aberto ""e ela afastada"" com o apoio mínimo de dois terços dos deputados (342 de 513).

Cunha negou ter discutido o assunto. "Alguém pode fazer um ou outro comentário, cada um tem o direito de opinar ou falar o que quiser, mas da minha parte eu desminto que tive qualquer discussão acerca disso. Isso é uma coisa muito séria para ser tratada de uma forma jocosa como está sendo colocada."

Sob a condição de anonimato, quatro deputados que participaram do jantar confirmaram a informação à Folha. O encontro promovido pelo presidente da Câmara ocorreu após jantar oferecido por Dilma a seus aliados. Foi uma reunião totalmente anti-Planalto, apesar de contar com a presença de líderes governistas.

CPI
No mesmo jantar, Cunha acertou a exclusão do PT dos postos de comando de duas CPIs que têm grande potencial de desgaste para o governo: a que vai investigar supostas irregularidades no BNDES (que será presidida pelo DEM) e a dos fundos de pensão (PMDB).

Isso só foi possível graças à adesão de PR e PSD, cujos deputados têm manifestado nos bastidores insatisfação com o Planalto. Eles estão aliados formalmente ao PT, mas fecharam com Cunha nessa questão.

Dos 27 integrantes titulares de cada CPI, 11 são indicados pelo bloco liderado pelo PMDB. O bloco do PT tem direito a escolher 8 nomes, mas desse grupo fazem parte o PR e o PSD, que ficaram ao lado de Cunha.

Os presidentes das CPIs são eleitos por seus integrantes. Estes são indicados pelos líderes partidários, em número proporcional à bancada.

Porém, as principais legendas acertam antecipadamente quem irão apoiar. Eleito, o presidente indica o relator. O PT promete resistir e tenta negociar um acordo com Cunha.

O presidente da Câmara declarou oposição ao governo, no mês passado, sob o argumento de que há uma dobradinha entre Planalto e Ministério Público para incriminá-lo na Lava Jato. Cunha é apontado por dois delatores como destinatário de propina do esquema de corrupção na Petrobras. Seu nome aparece também em requerimentos que, segundo os delatores, foram usados na Câmara para achacar fornecedores da estatal.

Contas
Em outra frente, a Câmara aprovou o regime de urgência para análise das contas de ex-presidentes, o que abrange Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT). Cunha disse que irá votá-las ainda nesta semana.

Com isso, os parlamentares buscam abrir caminho para votar as contas da presidente Dilma do ano passado, que serão apreciadas pelo Tribunal de Contas da União e correm o risco de rejeição por conta de manobras fiscais feitas pelo governo.

Cunha arma novas ‘bombas’ para o governo

Sem trégua, Cunha articula contra governo

• Na volta do recesso, presidente da Câmara exclui PT do comando de comissões e contempla PSDB e DEM

Júnia Gama e Isabel Braga – O Globo

BRASÍLIA - No primeiro dia de sessão após o recesso parlamentar, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu demonstrações claras de que não dará trégua ao governo. O peemedebista articulou a exclusão do PT do comando das CPIs do BNDES, dos Fundos de Pensão e dos Crimes Cibernéticos; conseguiu a aprovação de regime de urgência para a análise de contas da Presidência da República de anos anteriores, abrindo caminho para a votação das contas da presidente Dilma Rousseff; e desobstruiu a pauta para votar o quanto antes o projeto que corrige o FGTS pela poupança, um dos maiores temores do governo devido ao impacto nas contas.

Cunha também se recusou a retirar da pauta a PEC 443, que aumenta o teto salarial de advogados públicos e procuradores. Os governistas apresentaram um requerimento para adiar a votação da matéria. Porém, com a base aliada esfacelada, o requerimento foi derrotado. Antes que a PEC fosse votada, ontem à noite, coube ao próprio Cunha adiar para hoje a sua apreciação.

- Não é falta de articulação do governo, é falta de fidelidade da base - reagiu o líder do governo, José Guimarães (PT-CE). - Foi bom esse susto para dizer o tamanho mesmo da base. Daqui por diante, ou é base ou não é. Vamos exigir fidelidade. Você acha que é razoável um partido ter ministro e a base votar contra o governo?

As movimentações de Cunha durante o dia foram recebidas com frustração pelo Palácio do Planalto. Havia uma expectativa de que, após diversos apelos dos articuladores políticos do governo, o presidente da Câmara balanceasse suas decisões neste segundo semestre. Segundo interlocutores do vice-presidente Michel Temer, emissários enviados por Cunha no recesso haviam sinalizado com a possibilidade de diálogo, o que contribuiu para dar uma esperança - que acabou não se confirmando ontem.

- Ficou evidente que ele não vai dialogar com o governo. Agora, é avaliar o que fazer - disse um auxiliar do Planalto.

A preparação das ações contra o governo começou na noite de segunda-feira. Apesar de anunciar que cancelaria o encontro que havia marcado com líderes partidários em razão do jantar oferecido para eles pela presidente, Cunha recebeu na mesma noite líderes da oposição e da base aliada. Nesse encontro, ficou definido que o PT seria excluído dos cargos de comando das CPIs que funcionarão neste segundo semestre, e que seria a vez de a oposição controlá-las.

Segundo o acerto entre os líderes, a presidência da CPI do BNDES ficará com o PMDB e a relatoria com o PR, aliado dos petistas. Na CPI dos Fundos de Pensão, o DEM, mais radical opositor ao governo, terá a presidência e o PMDB, a relatoria. O também oposicionista PSDB comandará a CPI de crimes cibernéticos e o PP ficará com a relatoria da comissão. Já o PSD, aliado do PT, terá a presidência da CPI de maus-tratos aos animais e o PMDB indicará o relator.

José Guimarães demonstrou irritação por ter sido excluído da reunião na casa de Cunha e pela retirada do PT dos comandos das CPIs. Guimarães disse que, se houver exclusão, o governo irá "virar a mesa". Mas há pouco espaço para manobra do Planalto. A definição dos cargos de comando se dá por acordo entre os partidos, e o bloco do PMDB é o maior da Casa. Dele faz parte o DEM. Além disso, PR e PSD são do bloco do PT, o segundo maior; portanto o bloco ao qual pertencem os petistas está sendo atendido em duas comissões.

- Não é razoável fazer uma reunião para excluir outros. Vamos trabalhar para resolver essas coisas que não são boas para o jogo democrático. Se tiver exclusão, a gente vira a mesa. No sertão do Ceará, virar a mesa quer dizer não aceitar imposição de ninguém - afirmou o petista, que admitiu ter havido "desentendimento" com Cunha.

- São os partidos que se entendem. Eles (PT, PR, PSD) têm que se entender no bloco deles. Eu não articulo nada, eu apenas tomo pulso para poder indicar. Cada partido luta pelo seu espaço. O PT não está excluído, está na (relatoria) da Petrobras. Os outros partidos querem participar. Por que o PT tem que ficar com tudo? - disse Cunha.

Outra rasteira de Cunha na pretensão do governo de evitar a votação de projetos que possam comprometer as contas públicas foi a votação de dois projetos sobre terrorismo, que tramitavam com urgência e obstruíam a pauta. Os deputados aprovaram o primeiro e devem concluir a votação do segundo hoje, abrindo espaço para o projeto que corrige o FGTS pela poupança.

Contas: regime de urgência aprovado
A Câmara aprovou ontem o regime de urgência para os quatro projetos de decreto legislativo que recomendam a aprovação de contas da Presidência da República de anos anteriores. Há na lista uma conta do ex-presidente Itamar Franco, uma do ex-presidente Fernando Henrique e duas do ex-presidente Lula. A intenção do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é votar essas contas entre hoje e amanhã. Isso deixa livre o caminho para a apreciação das contas da presidente Dilma Rousseff, que podem ser rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Cunha anunciou que ainda não há decisão sobre o que fazer com contas que têm parecer pela rejeição, como é o caso de uma do ex-presidente Fernando Collor. Apesar do regime de urgência, ainda há dúvidas sobre o que fazer caso a Câmara ou o Senado rejeite uma das contas na votação. Outro percalço para a conclusão dessas votações é o fato de a presidente da Comissão Mista de Orçamento, senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), ter defendido ontem que, constitucionalmente, as contas teriam de passar primeiro pela comissão e anunciado que irá ao STF para que isso ocorra.

Câmara aprova urgência para análise de contas

Daniel Carvalho – O Estado de S. Paulo

• Deputados decidem votar em turno único balanços pendentes, o que aceleraria discussão sobre pedalada de Dilma

O plenário da Câmara aprovou ontem regime de urgência para análise das contas governamentais de 1992 (de 29 de setembro a 31 de dezembro, período pós-impeachment de Fernando Collor de Mello), 2002 (último ano da gestão Fernando Henrique Cardoso), 2006 e 2008 (ambas do governo Luiz Inácio Lula da Silva). Com isso, a aprovação ou rejeição de cada um dos balanços poderá ser feita em votação única, e não em dois turnos, o que deve ocorrer até o fim desta semana.

Dessa forma, a apreciação das contas da presidente Dilma Rousseff relativas a 2014, cujo parecer está prestes a ser julgado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), poderia ser apreciada pelos parlamentares tão logo a corte conclua sua análise.

Os ministros do TCU vão recomendar a aprovação ou rejeição do balanço levando em conta questões como as chamadas pedaladas fiscais, manobra contábil executada pelo governo na qual atrasou despesas obrigatórias e repasses a bancos públicos responsáveis por pagamentos de benefícios sociais, entre outras medidas. A inclusão da urgência na pauta do plenário e a consequente aprovação da medida causou um bate-boca na Câmara.

Em defesa de Dilma, o vice-líder do governo na Casa, Sílvio Costa (PSC-PE), disparou críticas ao TCU e ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que classificou de "ditador e burro". Cunha não respondeu à provocação. "Não me interessa se Vossa Excelência vai prestar atenção ou não, até porque estou me lixando para Vossa Excelência", disse o parlamentar. "Agora, sinceramente, o cara pegar o cargo da Casa para transformar numa questão pessoal... Essas contas estavam aqui há 11 anos."

Para Costa, a atitude de Cunha é "uma questão pessoal" com vistas a prejudicar Dilma, com quem o presidente da Câmara disse ter rompido após vir a público delação do lobista Júlio Camargo, na Operação Lava Jato, na qual disse que o peemedebista cobrou propina no esquema da Petrobrás - ele nega.

O vice-líder do governo também criticou o TCU. "É uma vergonha para a Câmara Federal ser pautada por um TCU bichado, que tem dois ministros na Operação Lava Jato. Querem pautar isso hoje para mais na frente votar as contas da presidente Dilma."

Presidente da Câmara mostra força e exclui PT de principais cargos em CPIs

Por Thiago Resende – Valor Econômico

BRASÍLIA - Em uma demonstração de que ainda exerce forte influência na Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), costurou um acordo com governistas e oposição que exclui o PT dos principais cargos de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) a serem instaladas e que podem comprometer o governo.

Quase que simultaneamente ao jantar oferecido pela presidente Dilma Rousseff aos líderes no Palácio da Alvorada, o pemedebista, que recentemente rompeu com o governo e responde a inquérito no Supremo Tribunal Federal dentro da Operação Lava-Jato, marcou um encontro "rival", na residência de presidente da Câmara.

Em outra manifestação da força de Cunha na Câmara, quase todos os líderes partidários defenderam abertamente a permanência dele no cargo mesmo após o lobista Julio Camargo, delator da operação Lava-Jato, dizer que o pemedebista cobrou o pagamento de propina em contrato da Petrobras.

Apesar de Cunha alegar que o jantar foi para discutir os comandos das CPIs e projetos que serão votados pela Câmara, deputados contaram que o pemedebista e a oposição falaram sobre uma possível tramitação de pedidos de impeachment. Um integrante do PSDB afirmou que, ao recusar um pedido, Cunha poderia dar o primeiro passo - já que os deputados poderiam levar o caso para o plenário. O assunto não avançou.

Os deputados entenderam que deve-se aguardar o Tribunal de Contas da União (TCU) analisar a contabilidade da presidente Dilma referente a 2014 - as chamadas "pedaladas fiscais".

Mal tinham deixado o jantar de Dilma, governistas foram até a residência do presidente da Câmara, onde estavam lideranças do DEM, PSDB e SD.

Além desse gesto, relataram ainda um episódio no Palácio da Alvorada em tom de chacota: o ministro da Defesa, Jaques Wagner, pediu para os garçons servirem champanhe aos convidados, se levantou, e propôs um brinde conjunto, mas, na sequência, Dilma reconheceu ser melhor aguardar o país superar algumas dificuldades para fazer a saudação. O brinde, no fim, foi à saúde de todos.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que "não é razoável você fazer uma reunião para excluir outra". Informado sobre a divisão de cargos das CPIs feitas entre integrantes da oposição e da base aliada, como PR, PP, PDT e PHS, petistas tentaram desarmar a estrutura desenhada.

Quatro CPIs serão criadas em agosto. Duas delas desagradam o Palácio do Planalto e foram autorizadas por Cunha no dia em que anunciou passar para o lado da oposição: a que vai apurar supostas irregularidades em contratos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a que vai tratar de ilícitos em fundos de pensão.

Ao longo desta semana, o PT ainda vai tentar ficar com a relatoria da Comissão do BNDES. Pelo acordo feito no jantar de Cunha, essa vaga seria ocupada pelo PR, que pertence ao bloco petista. O PR, no entanto, já tem até um nome cotado para o cargo: o deputado Márcio Alvino (PR-SP). O parlamentar argumenta que, na CPI da Petrobras, o relator é do PT. "Estamos caminhando para isso", afirmou o líder do PR na Câmara, Maurício Quintella Lessa (AL).

"É claro que o PT reivindica a relatoria. Estou trabalhando para isso. Pelo menos a do BNDES", declarou o líder do partido na Câmara, Sibá Machado (AC). "Esse assunto nós ainda não encerramos. Eu quero buscar o consenso. Temos um bloco e quero respeitar meu bloco e quero reivindicar esse direito", completou o petista.

Na divisão dos comandos das CPI articulada por Cunha, o PMDB indicaria o presidente da Comissão sobre o banco de desenvolvimento. Deve ser indicado o deputado Marcos Rota (AM). O partido também deve ocupar a relatoria da CPI dos fundos de pensão. O nome mais cotado é de Sérgio Souza (PR). O DEM, por sua vez, ficaria com a presidência dessa Comissão que pode ir para Efraim Filho (PB).

"O PT não esta excluído. Ele está na CPI da Petrobras. Você está instalando mais quatro [CPIs]. Os outros partidos querem participar também. É natural. Faz parte do jogo. Por que o PT tem que ficar com tudo?", afirmou Cunha, que negou ter articulado o acordo. O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), avaliou que o PT "não pode culpar os outros partidos pelo seu isolamento", pois não convenceu os outros partidos da sua participação nas CPIs.

Para a oposição, o PT não pode ocupar a presidência nem a relatoria das CPIs para que a investigação seja isenta. "A maioria entendeu que deve definir as posições nessa lógica até porque o próprio PT tem sido o partido colocado no calor dessas investigações", disse o líder do DEM, Mendonça Filho (PE).

PSDB mantém 'distância segura' de peemedebista

• Tucanos querem dosar grau de proximidade com Cunha, mas usarão as inserções de TV amanhã e sábado para apoiar os atos pró-impeachment

Erich Decat – O Estado de S. Paulo

A cúpula do PSDB quer dosar o grau de proximidade a ser estabelecido com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), neste semestre que deve ser decisivo para o futuro da presidente Dilma Rousseff. A avaliação foi feita ontem por tucanos após o peemedebista e representantes da oposição articularem uma manobra para tentar assegurar a votação de um processo de impeachment na Casa.

O Estado apurou que há um entendimento de parte da cúpula do PSDB de que, antes de fechar qualquer acordo com o presidente da Câmara, é preciso aguardar as manifestações do dia 16 e o eventual desgaste do Planalto com a crise econômica. Há o receio de que embarcar num projeto de impeachment sem ter um verdadeiro "termômetro social" pode abrir caminho para o governo sair das cordas. A discussão da manobra regi mental para votação do impedimento de Dilma foi colocada na reunião realizada ontem em Brasília entre lideranças do PSDB.

Segundo relatos, o presidente da legenda, senador Aécio Neves (MG), não se posicionou nem contra nem a favor da iniciativa. Em público, disse ser "provável" que vá ao protesto do dia 16. Dentro do ninho tucano também tem sido colocado em avaliação diária até onde o partido deve se "abraçar" com Cunha, que é alvo da Operação Lava Jato. O entendimento é que até onde for de interesse do partido haverá uma "parceria" como a que prevista no caso das CPIs do BNDES e dos Fundos de Pensões. Cunha tem articulado para assegurar espaço de destaque aos opositores nessas comissões.

Segundo integrantes da cúpula do PSDB que estão em negociação com o peemedebista, entre as cadeiras que o partido deverá ocupar nas CPIs estão as duas vice-presidências. Os deputados da legenda escalados para integrar a CPI do BNDES já foram definidos: Marcus Pestana (MG), Betinho Gomes (PE) e Miguel Haddad (SP). Ainda não foram escolhidos os membros para investigar os fundos. Já a comissão para tratar de crimes cibernéticos, a ser comandada pelo PSDB, deverá ser presidida por Mariana Carvalho (RO).

Acordo. Para não se expor diretamente coma condução do processo de impeachment, Cunha tem costurado alternativas. Entre os cenários traçados está ode ele rejeitar um pedido oriundo do julgamento das contas do governo, no Tribunal de Contas da União (TCU). Ern contrapartida, colocaria em votação recurso apresentado pela oposição para o plenário dar a palavra final. "Você pedir para que o presidente da Câmara que é do PMDB defira o pedido é um pouco demais. Não podemos exigir que ele defira o pedido de impeachment", afirmou ao Estado o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP). "Sempre trabalhamos com a hipótese de ele indeferir e nós apresentarmos um recurso para que o impeachment vá ao plenário."

Protestos. Ontem o PSDB também reafirmou apoio aos protestos contra Dilma marcados para o próximo dia 16. Amanhã e no sábado, o partido vai usar suas inserções de TV para convocar a população a tomar parte nas manifestações.

PSDB vai usar fala de Dilma em propaganda pró-manifestações

- Folha de S. Paulo

O PSDB vai usar falas da presidente Dilma Rousseff nas propagandas partidárias em que vai estimular a adesão aos protestos contra o governo, marcados em diversas cidades do país para o dia 16.

Segundo a Folha apurou, os tucanos vão exibir imagens de Dilma falando sobre temas como a redução na conta de luz e a inflação, para evidenciar que as promessas feitas durante a última eleição não foram cumpridas pela petista.

Nenhum político aparecerá no filme, apenas atores. Ao final da propaganda, será exibida uma mensagem dizendo que o PSDB "apoia" as manifestações de rua.

As inserções irão ao ar nesta quinta-feira (6) e sábado (8). A tese de que a presidente cometeu estelionato eleitoral já foi explorada pelo partido em seu último programa nacional. Na peça, um ator afirmava que Dilma havia mentido para todo o país. O discurso era emoldurado com imagens da presidente dizendo, por exemplo, que, eleita, não faria ajuste para demitir e arrochar salários.

A adesão oficial do PSDB às manifestações foi anunciada pelo presidente da sigla, senador Aécio Neves. Nesta terça-feira (4), o tucano disse que a prisão do ex-ministro José Dirceu é um novo ingrediente para os protestos.

"Reiteramos nosso apoio às manifestações, registrando sempre que são da sociedade, e nós, dentro dos limites da democracia, mostraremos também nossa indignação com a corrupção e com a mentira que tomou conta do país", disse Aécio.

Ele afirmou que "possivelmente" irá aos atos. Disse, no entanto, que a sigla continua tratando com cautela temas como o impeachment.

Para Aécio, investigações estão muito perto do Planalto

Raquel Ulhôa - Valor Econômico

BRASÍLIA -O senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, disse ontem que as investigações da Operação Lava-Jato, sobre o esquema de corrupção na Petrobras, já chegam "muito perto" do Palácio do Planalto e o governo "está à beira de um ataque de nervos", por não saber quem será o próximo envolvido. Com relação à prisão do ex-ministro José Dirceu, o tucano disse que chama atenção é a "continuidade da obra".

O PSDB não pretende ser algoz do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas também não está disposto a ir para o "abraço de afogado", dando apoio a ele enquanto estiver no comando da Casa. O assunto foi discutido na reunião. "Não vamos empurrar Eduardo Cunha para o buraco. Não vamos fazer nada para favorecer a presidente Dilma Rousseff. Mas também não vamos adotar nenhuma atitude para salvá-lo", disse um participante da reunião. A avaliação é que o PSDB deve ocupar os espaços que Cunha está oferecendo à legenda nas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) da Casa e aguardar o desfecho da situação do pemedebista sem assumir defesa ou campanha de desestabilização dele. Cunha foi acusado pelo lobista Júlio Camargo, em delação premiada na Operação Lava-Jato, de receber US$ 5 milhões de propina.

"As investigações já chegaram muito perto do Palácio do Planalto, porque esse assalto aos cofres públicos serviu para alimentar esse projeto de poder. Se alguns se enriqueceram lateralmente, devem responder por isso. Mas a montagem dessa organização e dessa estrutura, segundo o Ministério Público continuada após o mensalão, teve um objetivo central: manter esse grupo político que está no poder", afirmou.

Após a reunião, Aécio disse que está "pensando seriamente" em participar das manifestações do dia 16. Nas inserções comerciais da propaganda partidária amanhã e no sábado, em cadeia de rádio e televisão, o PSDB vai convidar a população "indignada com a corrupção e a mentira" a participar dos atos.

Os tucanos manifestaram preocupação com a "instabilidade política do país" e com a falta de solução de curto prazo para a crise econômica. "O Brasil tem um desgoverno. As coisas já não caminham minimamente na direção correta, porque falta ao governo autoridade, credibilidade, e isso não se conquista com palavras vazias, com discursos de boas intenções", afirmou Aécio.

Um dos assuntos tratados na reunião foi a notícia de que, na ação coletiva em curso na corte de Nova York contra a Petrobras, a defesa da empresa informou que os comunicados enviados ao mercado eram mera publicidade. Teria sido a resposta à cobrança feita pelo juiz Jed Rakoff, sobre as informações que a empresa dava a investidores sobre as "melhores práticas de governança corporativa", "os mais altos padrões de ética" e condução dos negócios com "transparência e integridade".

"Isso é grave. (...) Se for confirmado, é a constatação de que esse governo, não satisfeito em mentir reiteradamente para os brasileiros, passa a mentir também para os estrangeiros que investem no país. E um governo que age desta forma cada vez se distancia mais do resgate da sua própria credibilidade", disse Aécio. Para ele, trata-se de crime de responsabilidade. O deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA), vice-presidente da CPI da Petrobras, vai apresentar requerimento à comissão para que a empresa envie os documentos.

Charge de Chico Caruso - O Globo


Intelectuais ligados ao PT criticam prisão

- Folha de S. Paulo

Em um contraponto ao comando nacional petista, intelectuais e artistas de esquerda saíram em defesa nesta terça-feira (4) do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e criticaram sua prisão no rastro da Operação Lava Jato.

Para o cineasta Luiz Carlos Barreto, a detenção do petista foi "redundante", uma vez que ele já cumpria prisão domiciliar pelo mensalão. Para ele, sem poder fazer grandes deslocamentos, Dirceu não tinha como fugir do país ou pressionar ninguém.

"Estamos em um caminho perigoso", disse. "Há exagero e é preciso que as pessoas saibam que existe um Estado de Direito democrático", acrescentou.

O escritor Fernando Morais diz que o petista foi "vitimado" por uma tentativa de atingir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Não é nem o Dirceu nem a Dilma [Rousseff] que querem, mas o Lula. O problema é 2018", afirmou.

Para o ator José de Abreu, é uma "piada" prender alguém que já foi condenando alegando continuidade criminosa.

"O juiz Sérgio Moro é o único juiz do mundo que prende preventivamente preso condenado."

Segundo o escritor Luis Fernando Veríssimo, a prisão de Dirceu é política pelo que o petista representa.

Lula diz que PT precisa de 'reflexão profunda' após nova prisão de Dirceu

Andréia Sadi, Débora Álvares e Estelita Hass Carazzai – Folha de S. Paulo

Enquanto a Executiva Nacional do PT reunia-se em Brasília, nesta terça-feira (4), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizia a amigos que a prisão do ex-ministro José Dirceu só reforça a "necessidade" de uma reflexão profunda pelo PT.

A Folha obteve o relato de pessoas que conversaram com o ex-presidente após a prisão. Segundo elas, Lula disse não ter se surpreendido com a medida e que o próprio ex-ministro e homem forte de seu primeiro governo já esperava a nova detenção, tanto que foi à Justiça em busca de habeas corpus preventivos.

Dirceu cumpria prisão domiciliar desde novembro, em Brasília, pela condenação no mensalão e foi transferido para a sede da PF em Curitiba nesta terça. Ele é apontado pelo Ministério Público Federal como um dos responsáveis pela criação do esquema de corrupção na Petrobras.

Para Lula, segundo a Folha apurou, o mais urgente é evitar uma "guerra" com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o que pode complicar a vida do governo e do PT no Congresso.

Procurado, o Instituto Lula negou as informações. "A Folha, ou suas fontes anônimas, têm essa mania de inventar e atribuir declarações e avaliações ao ex-presidente Lula. Isso não é jornalismo político ou a serviço do leitor. São apenas fofocas."

No processo do mensalão, Dirceu contou com o apoio público do PT, que avaliou sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal como "julgamento político".

Agora, dirigentes do partido afirmam, nos bastidores, que Dirceu não contará com a mesma solidariedade. Motivo: a Lava Jato indica que ele tirou "proveito pessoal" do esquema na Petrobras.

A primeira tentativa do PT de se descolar do ex-ministro aconteceu depois da reunião da Executiva Nacional da legenda em Brasília.

Em nota, a sigla disse "reafirmar a orientação de combate implacável à corrupção", mas não fez nenhuma referência direta ao petista.

O presidente da legenda, Rui Falcão, acabou citando o companheiro de partido quando questionado se acreditava em sua inocência.

"Para mim, qualquer pessoa, não só o José Dirceu, é inocente até que provem o contrário", encerrou.

Questionado se a ausência de uma manifestação formal do PT sobre a prisão não significaria que o partido está abandonando o ex-ministro, Falcão negou.

"Não estamos abandonando nenhum companheiro nosso. Independente de abandonar ou não, não se deve presumir a culpa antes que a culpa seja provada", destacou o líder petista.

Chegada
Ao chegar em Curitiba, Dirceu era aguardado por cerca de 50 pessoas, que gritavam "ladrão" e "vagabundo".

Uma delas soltou fogos quando ele chegou ao local. Entre os manifestantes, havia integrantes de movimentos organizados, como o Acorda Brasil e o Movimento Brasil Livre.

Executiva do PT não fará defesa pública de Dirceu

Na defensiva, PT aprova texto sem citar José Dirceu

• Executiva Nacional do partido prefere isolar ex-ministro por temer que apoio represente "abraço de afogados" e adota tom protocolar

Vera Rosa – O Estado de S. Paulo

Na tentativa de se proteger demais um escândalo, a cúpula do PT decidiu não defender o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, preso pela Polícia Federal na 17.ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Pixuleco. Em reunião da Executiva Nacional do PT, realizada ontem, dirigentes mudaram o tom adotado em relação à prisão anterior do ex-ministro, em 2013, após sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal, no processo do mensalão, e preferiram isolar Dirceu. Ele vai dividir espaço em uma cela com dois contrabandistas, na Custódia da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. A presidente Dilma Rousseff também vai se distanciar do escândalo.

A avaliação reservada é de que defender Dirceu, neste momento, pode agravar ainda mais a crise que atinge o partido e o governo Dilma, porque ninguém sabe o que está por vir. Nos bastidores, o argumento de muitos integrantes do comando petista é o de que o ex-ministro da Casa Civil – que presidiu o PT com mão de ferro de 1995 a 2002 – pode ter montado um esquema na Petrobrás para enriquecimento pessoal. Dirigentes da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), grupo de Dirceu e do ex-presidente Lula, se dividiram sobre a defesa do ex-ministro. Ao final da reunião, porém, a maioria chegou à conclusão de que se associar agora a Dirceu poderia representar um abraço de "afogados".

Ficou decidido ali que o comando do partido, sem poder escancarar o seu temor em relação aos desdobramentos da investigação, adotaria tom protocolar sobre as acusações contra Dirceu, contrastando com o que ocorreu no mensalão. Na resolução política aprovada ontem, não há citação ao ex-ministro. Além disso, a portas fechadas, dirigentes do PT argumentaram que Dirceu não atuou na Petrobrás em nome do partido. No diagnóstico de muitos petistas, a situação do ex-ministro seria diferente da de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT preso pela Operação Lava Jato.

Para os investigadores, Dirceu criou um esquema de desvio de dinheiro na Petrobrás, com o mesmo DNA do mensalão. Por meio da JD Consultoria, ele teria recebido R$ 39 milhões. Desse total, R$ 21,3 milhões foram pagos por três grupos empresariais no período em que o petista era investigado, processado, julgado e cumpria pena por envolvimento no mensalão.

Defesa. "O ônus da prova é de quem acusa e é preciso que José Dirceu possa fazer o contraditório das acusações que estão sendo feitas a ele em caráter pessoal", afirmou o presidente do PT, Rui Falcão. "Não estamos abandonando José Dirceu", disse, diante da insistência dos jornalistas. "Ele e todos os que são acusados antes de apresentar sua defesa não são réus até que se prove." O ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, foi na mesma linha. "Cabe aos investigados tomar as providências que julgarem necessárias para se defender perante a Justiça", disse Berzoini, que foi presidente do PT.

"O Zé (Dirceu) tem todas as condições de se explicar. Trata-se de uma atividade profissional dele, não envolve o partido", comentou o secretário de Comunicação do PT, José Américo Dias. Com duas folhas, a resolução política do PT também condenou o ataque ao Instituto Lula, alvo de um explosivo na quinta-feira.

"Causa indignação a conivência silenciosa de certos meios de comunicação e partidos, que se dizem democráticos, com o atentado de caráter fascista ao Instituto Lula", diz o documento aprovado pelo PT. O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, foi convidado para fazer uma exposição sobre as perspectivas econômicas na reunião do PT. Barbosa disse, de acordo com relatos, que o País tem todas as condições para começar a retomar o crescimento no fim deste ano.

Partido muda de tom

Em reunião, PT vê 'caráter pessoal' em prisão de Dirceu

• Partido rebateu, em 2013, acusações contra condenados no mensalão

Fernanda Krakovics – O Globo

Operação "Pixuleco"

BRASÍLIA - Assim como o governo, o PT tenta se descolar da prisão do ex-ministro José Diceu. Apesar de dizer que não está abandonando nenhum companheiro, o presidente do partido, Rui Falcão, afirmou que as acusações contra ele são de "caráter pessoal". Reunida ontem, a Executiva Nacional do PT decidiu não defender Dirceu publicamente. Resolução divulgada após o encontro criticou apenas supostos abusos na Operação Lava-Jato, sem citar o ex-ministro, que é um dos fundadores do partido e um de seus principais quadros históricos.

Na reunião da Executiva, o secretário de Organização, Florisvaldo Souza, e a de Relações Internacionais, Mônica Valente, que é mulher do ex-tesoureiro Delúbio Soares, preso no mensalão, defenderam que o partido fosse solidário a Dirceu. Falcão foi firme ao se opor. Ele argumentou, de acordo com petistas, que se tratava de uma atividade particular do ex-ministro, e não partidária; que adversários e setores da imprensa estão explorando artificialmente a vinculação dele com o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para desgastá-los; e que qualquer menção ao assunto, na resolução a ser divulgada após o encontro reforçaria essa imagem.

Quando Dirceu foi preso em 2013, condenado pelo mensalão, o tom do PT foi outro. Nota divulgada por Falcão expressava solidariedade "aos companheiros injustiçados" e conclamava "nossa militância a mobilizar-se contra as tentativas de criminalização do PT". Além de querer evitar o desgaste, há desconforto com o fato de Dirceu ter se beneficiado do suposto esquema para enriquecimento pessoal. O partido também está cauteloso porque espera novas delações, como a do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, ligado ao PT.

Delatores fazem doações
Falcão fez, visivelmente desconfortável, uma defesa protocolar de Dirceu ao ser questionado pela imprensa:

- O ônus da prova é de quem acusa e é preciso que o companheiro José Dirceu possa fazer a contradita às acusações que estão sendo veiculadas contra ele em caráter pessoal por delatores da Lava-Jato. Há indícios que precisam ser transformados em provas. A pessoa acusada tem que ter direito à ampla defesa. Não estamos abandonando nenhum companheiro nosso. Não deve se presumir culpa antes de ser comprovada. No Brasil, atualmente, está se invertendo esse princípio.

Questionado se considera Dirceu inocente, o presidente do PT foi cauteloso:

- Para mim, qualquer pessoa, não só o José Dirceu, que seja acusada, é inocente até prova em contrário.

Na nota, o PT faz críticas à condução das investigações da Lava-Jato, mas não cita Dirceu. O documento afirma que há "manobras para criminalizar o PT" e que a orientação do partido é de combate "implacável" à corrupção.

O documento pede ainda a "reorientação" da política econômica. Na reunião, foi decidido que o PT vai ajudar a convocar os atos "em defesa da democracia" organizados por movimentos sociais para o próximo dia 20. Em outra frente, o PT fará ato político, cujo tema central será o Plano Nacional de Educação, no dia 14, em Brasília. O evento ocorrerá dois dias antes dos protestos contra o governo e contará com a presença do ex-presidente Lula.

Ontem, a Polícia Federal não descartou a possibilidade de investigar o filho do ex-ministro José Dirceu, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR). Ele recebeu doações na eleição de 2010 de três delatores da Lava-Jato. Todos doaram R$ 10 mil cada. Zeca recebeu doação do operador Milton Pascowitch, do irmão dele José Afonso Pascowitch, do consultor Júlio Camargo e do sócio da empresa Hope Recursos Humanos, Raul Ortuzar Ramires.

A desilusão com o mito Dirceu

O fim do mito

• A suspeita de enriquecimento pessoal contra Dirceu apaga símbolo de ex-guerrilheiro e põe em xeque futuro do PT

Alessandra Duarte, Cristina Tardáguila e Leticia Fernandes – O Globo

No dia 12 de dezembro de 2013, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiram ao palco do Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília, e ouviram da plateia do 5º Congresso Nacional do PT um grito contínuo: "Dirceu, guerreiro do povo brasileiro! Dirceu, guerreiro do povo brasileiro!". Vinte e oito dias antes, em 15 de novembro, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu havia levantado o punho cerrado - reproduzindo o símbolo do movimento operário internacional contra os exploradores capitalistas - ao subir a rampa da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo para começar a cumprir pena no caso do mensalão. Agora, com a nova prisão, na Operação Lava-Jato, e a acusação de que dinheiro desviado da Petrobras o beneficiou pessoalmente, a solidariedade deu lugar à decepção.

Na noite da última segunda-feira, horas depois de Dirceu ser preso de forma preventiva, o PT emitiu uma nota enxuta sobre o caso. Defendeu a legalidade das operações financeiras da legenda e não fez qualquer menção ao "guerreiro do povo brasileiro", que, em 2003, ao assumir a Casa Civil, havia sido apresentado por Lula como "o capitão do time". A nota de agora é um sinal de afastamento cauteloso da sigla em relação a um de seus ícones.

Dirceu, por sua vez, ao entrar no carro que a Polícia Federal usara para buscá-lo em sua casa, adotou postura discreta. De terno cinza e mais grisalho, não olhou para as câmeras e não levantou o braço. Muito menos cerrou o punho. Em vez do apoio que recebera, há menos de dois anos, no congresso do PT, na noite de anteontem, a prisão mobilizou uma tímida vigília com apenas 15 manifestantes, reunidos em seu apoio, em frente ao Supremo Tribunal Federal. O mito do guerrilheiro, do político alinhado com bandeiras sociais e do ministro superpoderoso ruiu e insuflou a discussão sobre o futuro de seu partido.

- Dirceu teve três momentos - analisa o deputado federal Miro Teixeira (PROS-RJ). - No primeiro, tinha muito poder. Era bajulado. No segundo, o da denúncia do mensalão, teve a solidariedade dos companheiros. A partir da condenação, veio o terceiro, que foi o de não bater em quem já está preso. Agora, a nota oficial do PT, sem falar dele, é um sintoma do quarto momento: o da decepção.

Geração desencantada
Pelos corredores de Brasília, Miro conta que são poucas as pessoas próximas a Dirceu que nos dois últimos dias teceram comentários públicos:

- Os que falam dizem apenas: "Que decepção".

Desde 2005, quando vieram à tona as primeiras denúncias do mensalão, parte da militância e de simpatizantes do partido começou a se desiludir. Anteontem, a sensação de perda se agravou, segundo relatos colhidos pelo GLOBO entre pessoas de diferentes segmentos da sociedade.

- Dirceu era meu ídolo nos anos 1960. A decepção é gigantesca - conta a escritora e pesquisadora Heloisa Buarque de Hollanda, com certo desconforto. - Ver um ídolo acusado de manipular a política, de comprar apoio& é uma dor que os anos 1960 não merecem.

Há também aqueles que lamentam o desfecho melancólico da carreira política de Dirceu.

- Politicamente, é o fim. Encerra o mito de maneira dolorosa e cruel. Tenho muita pena - afirma o ex-senador Pedro Simon (PMDB-RS), sobre seu ex-colega de Congresso. - Dirceu está em situação trágica. Foi algo que, aos poucos, foi se confirmando, mas a gente torcia para que não fosse verdade.

Um terceiro grupo, mais crítico, reúne aqueles dispostos a atacar a conduta do ex-ministro e acreditam que só agora as reais ambições de Dirceu se revelaram por completo.

- Todos os jovens querem quebrar tabus, mudar o mundo. Só conhecemos o ser humano de verdade depois da meia-idade. Agora, sabemos exatamente quem é José Dirceu. Eu nasci em Leningrado e me disseram que eu morreria em Lulagrado, numa espécie de karma. Mas acho que não vou mais, não - diz a atriz Elke Maravilha, prevendo que o PT, que "subestimou a inteligência" do povo, provavelmente não voltará ao poder.

A acusação de que Dirceu teria se beneficiado pessoalmente alimenta essa reação. Em vez de comprar apoio para seu partido, como no mensalão, teria recebido recursos de propina para, entre outras coisas, reformar a casa e viajar de avião.

- Comparando-se as duas investigações, agora chama a atenção o envolvimento no plano pessoal - destaca Ayres Britto, ex-presidente do STF. - Se for confirmada a investigação, ele passa a responder por corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Sua situação se agrava muito.

Um partido sem seu "capitão"
Para Ayres Britto, ainda que Dirceu tenha sido preso preventivamente, sua situação "já respinga" e "é prejudicial para o PT". A visão é compartilhada por parlamentares aliados e de oposição.

- O PT já está todo maculado. Isso é uma pá de terra, e não sei se a última - observa o deputado federal JarbasVasconcelos (PMDB-PE). - Está enterrada essa figura do "capitão do time". Se ele foi expulso de campo, foi preso e voltou à prisão, o que o partido tem mais a dizer?

- O PT está afetado no limite máximo, pelo que algumas pessoas da sigla realizaram, tanto no chamado mensalão, como no caso da Petrobras. Não há mais o que afetar - completa Tarso Genro (PT), ex-governador do Rio Grande do Sul, que, no entanto, aponta uma "divulgação direcionada das investigações" contra o partido. -Tanto de verdades como de mentiras. Essa divulgação já causou o dano máximo que tinha que causar.

Roberto Jefferson, ex-deputado do PTB-RJ e um dos maiores desafetos de Dirceu - que nele despertava "os instintos mais primitivos" - avalia que o PT "perde um de seus alicerces":

- O PT perde um ícone, um de seus mitos. Por outro lado, a prisão de Dirceu apazigua os ânimos. O povo vê que os homens mais poderosos não escapam das garras da lei.

Sobre os efeitos a longo prazo da nova prisão do ex-ministro no cenário político-eleitoral, não há consenso. Carlos Velloso, ex-ministro do Supremo, entende que "a credibilidade do PT é praticamente zero" e que o único caminho possível para a sobrevivência do partido nas próximas eleições é "um exame de consciência":

- O PT deve abominar esses fatos, em vez de tentar justificá-los. Há membros do partido que já defendem uma tomada de posição em favor da ética, que pode até significar uma expulsão.

Já Vladimir Palmeira, um dos fundadores do PT e, hoje, filiado ao PSB, não acredita em tamanho impacto para as próximas eleições:

- Não acho que a prisão de Dirceu tenha influência para o PT nas próximas eleições. Já tinham descoberto esse tremendo esquema de corrupção na Petrobras. O estrago já está feito.

Executiva do PT evita se solidarizar com Dirceu

Por Raphael Di Cunto e Andrea Jubé – Valor Econômico

BRASÍLIA - Em postura diferente da adotada durante o mensalão, a Executiva nacional do PT evitou ontem sair em apoio ao ex-ministro José Dirceu (PT), preso na segunda-feira por suspeita de envolvimento em desvios na Petrobras, e preferiu defender em nota apenas que o princípio da presunção da inocência seja respeitado, sem fazer referência ao ex-dirigente, presidente da sigla entre 1995 e 2002.

No documento, o PT diz que prossegue a escalada de ataques ao partido e lista como o "fato mais grave" na atual ofensiva o "covarde atentado" contra o Instituto Lula. A referência à necessidade de que os acusados tenham o direito de se defender - menção mais próxima à prisão do ex-ministro - aparece apenas no 10º parágrafo dos 12 que tem o texto, depois até de uma "saudação" à iniciativa do governo de convocar conferências sobre políticas públicas.

A estratégia do PT é afastar do partido as novas acusações contra um de seus principais líderes e atribuir as denúncias a uma questão profissional e pessoal do ex-ministro. "O caminho da defesa dele é argumentar que os serviços de consultoria foram realmente prestados, que o dinheiro é legal. É diferente [do mensalão], não tem relação com o partido nem com o governo", afirmou o secretário de Comunicação do PT, José Américo.

Essa postura gerou debates na reunião da Executiva. Integrantes da corrente Articulação de Esquerda queriam que a nota fosse mais forte e pela manhã divulgaram texto em que cobravam a direção do partido a tomar providências. "A Operação Lava-Jato não é mais uma investigação judicial. É uma operação política, cujo alvo principal é o PT", acusou documento publicado no blog de um dos coordenadores do grupo, Valter Pomar.

Dirceu, que cumpria pena de prisão domiciliar por envolvimento no mensalão, foi preso novamente na segunda-feira na Operação Lava-Jato, acusado pela Polícia Federal e Ministério Público de participar do esquema de desvio de dinheiro na Petrobras com base em delações premiadas que dizem que ele recebia propina em pagamentos mensais. Os advogados de Dirceu negaram as acusações e dizem que o dinheiro é fruto de consultorias prestadas.

Para a corrente petista, o juiz Sergio Moro, responsável pelas decisões de primeira instância da Lava-Jato, agiu por motivações políticas ao mandar prender Dirceu, que já estava "submetido a severas restrições", dias antes do programa do partido na TV - que vai ao ar na quinta-feira - e dos protestos de rua convocados para pedir o impeachment da presidente Dilma Roussef.

"A decisão do juiz Moro, de mandar prender José Dirceu, está relacionada a motivações políticas", afirma o documento, que acusa a mídia deixa de não dar atenção a denúncias contra políticos do PSDB. "O objetivo principal [da prisão] é outro: trata-se de um passo a mais no sentido de tentar criminalizar o ex-presidente Lula", diz o texto.

Não houve votação, contudo, e a versão final da nota, posteriormente divulgada à imprensa, foi consensual. Venceu a tese de afastar da imagem do PT as novas acusações contra o ex-homem forte do governo Lula e que é saudado nos eventos do partido como "guerreiro do povo brasileiro". Um dos dirigentes petistas ouvidos peloValor avalia que uma minoria dos 14 presentes na reunião, que defendia Dirceu, não quis formalizar um texto para ser incluído na nota final porque percebeu que acabaria derrotada na votação.

Pesou na decisão, segundo outro petista, a pressão de filiados sobre o teor das novas denúncias. O dinheiro desviado seria para enriquecimento ilícito, diferentemente do que ocorreu no mensalão, em que Dirceu era acusado de montar esquema para permitir apoio ao PT no Congresso. Causou desconforto nos petistas saber que o ex-ministro ganhava milhões enquanto eles faziam "vaquinha" para pagar as multas do mensalão.

Em entrevista após a reunião da Executiva, o presidente do PT, Rui Falcão, frisou que a nova acusação é de "caráter pessoal". "Continuo a dizer a vocês todos que, assim como em outras ocasiões, o ônus da prova é de quem acusa. E é preciso que o companheiro José Dirceu possa fazer o contraditório às acusações feitas contra ele em caráter pessoal", disse.

Questionado se considerava o correligionário inocente, Falcão evitou responder diretamente. "Ele é inocente até provem o contrário. Ele e todos que são acusados antes que provem o contrário", afirmou o petista - que, quando perguntado sobre o motivo da mudança de postura em relação à defesa do ex-ministro adotada no mensalão, respondeu que tudo que o partido tinha a dizer sobre o novo caso estava na nota da Executiva.

O texto divulgado pela direção do partido defende investigar casos de corrupção na esfera pública e privada, mas diz que não é admissível violações ao Estado de Direito. "Se o princípio de presunção de inocência é violado, se o espetáculo jurídico-político-midiático se sobrepõe à necessária produção de provas para inculpar previamente réus e indiciados sem direito de defesa [...] não é a corrupção que está sendo extirpada. É um estado de exceção sendo gestado", diz a nota.

Merval Pereira - O fio da meada

- O Globo

Este é o 13º ano em que o PT está no governo do país e, soube-se agora, desde o primeiro momento do primeiro mandato do ex-presidente Lula foi estabelecido este esquema de corrupção que perdurou até a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, descobrir, por acaso, numa investigação sobre lavagem de dinheiro, que o doleiro Alberto Youssef havia dado de presente para um diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, um carro importado.

A partir daí, o fio de uma trama inacreditável foi sendo puxado e chegamos onde estamos hoje, na confluência do mensalão com o petrolão, que revela um governo montado na base da dominação do Estado brasileiro, financiado por um esquema de corrupção tão grande que o dinheiro desviado no mensalão não dá um Barusco, na definição do ministro do STF Gilmar Mendes, referindo-se aos quase U$ 100 milhões que o ex-gerente da Petrobras se comprometeu a devolver aos cofres da União.

Bem que os petistas reclamavam de o mensalão ser chamado de "o maior escândalo de corrupção da História do país". Sabiam do que estavam falando. Diante de tamanhas evidências, os petistas já desistiram de afirmar que o mensalão não existiu, e nem se atrevem a dizer o mesmo do petrolão.

Também já não abraçam os companheiros presos, especialmente o ex-ministro José Dirceu, cuja prisão foi uma pá de cal na incipiente tentativa de acusar o Ministério Público e a Polícia Federal de estarem perseguindo o PT e seu tesoureiro João Vaccari Neto.

Os dois são membros do aparelho político do PT e ficarão calados, como se calaram Delúbio Soares e José Genoino. Mas o partido não tem mais onde se apoiar diante da avalanche de acusações que surgem a cada dia.

O programa de televisão, criado pelo marqueteiro João Santana, a ser exibido na quinta-feira, dia 6, provavelmente só acirrará os ânimos, pois não há espírito no país hoje para que se engulam as promessas vãs que esse tipo de programa sempre exibe.

Assim também não foi à toa que o partido decidiu não apoiar explicitamente seu antigo presidente e líder José Dirceu, no pressuposto de que ele será fiel até o fim à lei do silêncio mafioso, mas também sabendo que apoiá-lo só piorará a imagem do partido, já suficientemente arranhada pelas revelações dos últimos 10 anos.

Como estão programadas diversas manifestações contra o governo Dilma para o próximo 16 de agosto, um domingo, o PT decidiu convocar suas manifestações em datas próximas para neutralizar os danos. A resolução do partido, que renegou simbolicamente Dirceu, conclama os petistas para a Marcha das Margaridas, dias 11 e 12 de agosto, para o Ato Nacional pela Educação, no dia 14 de agosto, e para o Ato Nacional dos Movimentos Sociais, do dia 20 de agosto.

Prevejo que o programa de televisão e mais essas passeatas só farão acirrar os ânimos. Esperemos que o bom senso prevaleça entre os atordoados petistas.

Um desses "supostos jornalistas" donos de blogs chapas-brancas que a Operação Lava-Jato está rastreando fez ontem uma denúncia interessante: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, veio ao Rio para uma reunião secreta na sede da Rede Globo. Seria o início de uma conspiração contra o governo.

Pois bem, de fato Cunha esteve no Rio, mais exatamente na sede do jornal O GLOBO, onde almoçou com alguns editores. O encontro foi noticiado pelo jornal. Só mesmo um "suposto jornalista" desvendaria uma reunião tão secreta.

Dora Kramer - O domínio dos fatos

- O Estado de S. Paulo

Vamos ao ponto: José Dirceu só fez o que os investigadores da Operação Lava Jato dizem que ele fez na Petrobrás e cercanias da máquina pública porque a instância superior a ele deixou que fizesse. Trata-se de uma conclusão lógica baseada numa série de evidências que agora ganham consistência com a justificativa para decretação da prisão preventiva apresentada em conjunto pelo juiz Sérgio Moro, o Ministério Público e a Polícia Federal. Foram contundentes quanto ao marco inicial da corrupção sistêmica na Petrobrás e ao papel de José Dirceu no esquema. Segundo eles, na condição de ministro-chefe da Casa Civil, Dirceu instituiu a prática de maneira organizada, dela se beneficiou e a partir daquela sistemática foi "um dos líderes" de uma engrenagem de corrupção posta em funcionamento para beneficiar políticos, partidos, funcionários e empresas contratadas pelo governo.

Este é o fato relatado a partir da coleta de provas testemunhais e documentais. Resta saber – e comprovar – se a instância superior a José Dirceu, a Presidência da República à época ocupada por Luiz Inácio da Silva, detinha o domínio daqueles fatos. Os investigadores já deram várias demonstrações de que não lhes falta rumo. Sabem aonde querem chegar, mas percorrem o caminho passo a passo, a fim de evitar movimentos em falso que já puseram a perder outras operações em função de nulidades judiciais. Obviamente as investigações se direcionam na busca de evidências que permitam desvendar a cadeia de comando até o topo. Acima dele só havia o então presidente que lhe conferiu delegação para transitar no governo na posição de "capitão do time". Não será surpresa que venham a se interessar pelos sinais exteriores de riqueza de Lula.

Caso venha a se pronunciar, contrariando seu feitio silente ante a adversidade, o ex-presidente certamente continuará negando que tivesse conhecimento sobre as atividades extracurriculares de seu braço direito. É o que vem fazendo desde quando disse ao País que havia sido "traído" sem, contudo, apontar traidores nem tomar providências contra os malfeitores. Olhando em retrospectiva, suas atitudes de lá para cá não ajudam a aferição de credibilidade às negativas e às alegações de desconhecimento. Inclusive porque Lula pareceu muito seguro em diversas ocasiões em que assegurou ao Brasil a inocência de seu partido e subordinados. O mensalão era, em seu dizer, "uma farsa".

Tal assertividade faz supor que tenha procurado se inteirar dos acontecimentos. Portanto, não pode alegar desconhecê-los. Nesse caso, ou foi feito de tonto não só por José Dirceu, mas por toda gama de envolvidos, incluindo personagens que levava nas viagens oficiais e dirigentes de empresas que lhe patrocinaram viagens e palestras, ou se deliberadamente omitiu. Um dos problemas para quem constrói narrativas mutantes é o efeito cumulativo do tempo. Hoje, à luz das acusações que pesam sobre José Dirceu, uma frase que se perdeu no emaranhado do processo do mensalão ganha conotação especial.

"Nunca fiz nada que o Lula não soubesse", disse ele, em meio à eclosão daquele escândalo. Nessa certeza obviamente se basearam os interessados em participar das triangulações contratuais no âmbito do aparelho de Estado, dado que Dirceu só poderia ser reconhecido como interlocutor abalizado se os interessados o reconhecessem como tal. Sem o pressuposto de que os alicerces eram firmes o suficiente para não sofrerem abalos em decorrência de eventual decisão saneadora por parte do presidente da República, o esquema não poderia ter se mantido em pé.

Bernardo Mello Franco - Os homens-bomba

- Folha de S. Paulo

"Não tem pauta-bomba", disse Eduardo Cunha na segunda. "Não haverá pauta-bomba", afirmou Renan Calheiros na terça.

Os presidentes da Câmara e do Senado parecem ter voltado do recesso parlamentar com o discurso bem ensaiado. Na verdade, dizem uma coisa e fazem outra. Aproveitam a fragilidade do governo para sabotar o ajuste fiscal e impulsionar propostas que aumentam o gasto público.

Cunha prometeu votar "imediatamente" um projeto que equipara a remuneração do FGTS à da caderneta de poupança. A ideia tem méritos, porque a regra atual do fundo equivale a um confisco do dinheiro do trabalhador. Mas sua implementação agora, em plena crise, pode ter efeitos dramáticos sobre a construção civil e a habitação popular.

Renan sinalizou que vai engavetar o projeto que suspende a desoneração das folhas de pagamento. Fiel ao novo figurino de sindicalista, disse estar preocupado com o aumento do desemprego. Na prática, ajuda a torpedear uma medida que poderá significar economia de R$ 1 bilhão neste ano, segundo cálculos do ministro Joaquim Levy.

A agenda populista promete novas bombas nas próximas semanas. A pauta inclui os vetos da presidente Dilma à derrubada do fator previdenciário e ao reajuste de até 78% para os servidores do Judiciário.

Enquanto os trabalhadores da iniciativa privada rezam para manter o emprego, quem já conta com estabilidade pressiona por aumentos fora da realidade econômica do país.

Na noite desta terça, a Câmara ensaiava elevar salários de outra categoria do funcionalismo: os procuradores da Advocacia-Geral da União. Com incentivo de Cunha, deputados se revezavam na tribuna para defender o aumento e colher aplausos dos servidores que lotavam as galerias.

O coro do discurso fácil era liderado por parlamentares do PSDB. Em outros tempos, o partido se orgulhava por ter aprovado a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Luiz Carlos Azedo - Cronograma de crise

- Correio Braziliense

• O Planalto teme que a CPI do BNDES abra um novo flanco em relação ao PT, ao ex-presidente Lula e ao próprio governo, por causa dos empréstimos concedidos a empresas brasileiras com obras no exterior

Menos de 24 horas após o churrasco que promoveu no Palácio da Alvorada, com a presença dos presidentes e dos líderes de partidos, Dilma Rousseff não conseguiu barrar as iniciativas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no sentido de pressionar o governo. Na verdade, a “pauta-bomba” de Cunha era política e não econômica, como acreditam os estrategistas do Palácio do Planalto.

Requerimento de urgência para votar em turno único as quatro contas pendentes de governos anteriores — Itamar (1992), Fernando Henrique (2002) e Lula (2006 e 2008) — foi aprovado ontem pela Câmara. Cunha decidiu limpar a pauta com o objetivo de apreciar as contas da presidente Dilma Rousseff, que estão em vias de serem rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A oposição aprovou a iniciativa.

Com isso, a votação das contas de 2014 de Dilma poderá ocorrer no prazo de três a quatro semanas. O regimento da Câmara exige que os projetos sejam votados em dois turnos na Casa, com um intervalo de uma semana entre eles, antes de seguirem para análise do Senado. Caso o Congresso confirme a rejeição, Dilma pode ser enquadrada na Lei de Responsabilidade Fiscal por crime de responsabilidade, o que será a porta aberta para um pedido de impeachment. O vice-presidente Michel Temer assumiria a Presidência em caso de afastamento de Dilma.

Cunha articulou outras armadilhas: um acordo entre líderes da base e da oposição para excluir o PT do comando das quatro CPIs que serão instaladas nesta semana. A mais importante é a do BNDES, que será presidida pelo PMDB e terá relatoria do PR.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), tentou evitar a situação desfavorável, mas está enfraquecido porque o governo não cumpre os acordos que negocia com os parlamentares da própria base. O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), criticou a exclusão do PT do comando das novas CPIs e disse que o partido vai brigar pela relatoria da CPI do BNDES na reunião da comissão.

O Planalto teme que a CPI do BNDES abra um novo flanco em relação ao PT, ao ex-presidente Lula e ao próprio governo, por causa dos empréstimos concedidos a empresas brasileiras com obras no exterior, especialmente em países como Angola, Cuba, Equador e Venezuela. Além das empreiteiras, empresas beneficiadas por serem do rol das chamadas “campeãs nacionais” receberam empréstimos considerados polêmicos. É o caso da JBS.

Lava-Jato
Mas a preocupação maior do Planalto, no momento, é manter distância da Operação Lava-Jato. Ontem, a cúpula do PT, depois de longa reunião, emitiu nota, desta vez, defendendo a apuração das denúncias, mas sem fazer referência ao ex-ministro José Dirceu. A ordem de Dilma é manter distância do ex-ministro.

Rui Falcão, presidente do PT, em entrevista coletiva, porém, defendeu o correligionário: “Para mim, qualquer pessoa, e não apenas o José Dirceu, é inocente até prova em contrário”. A cúpula petista tenta se safar do envolvimento nas denúncias, mas não tem condições de punir os envolvidos com medidas disciplinares rigorosas sem estimular novas “delações premiadas”.

Essa atitude parece corroborar a tese defendida ontem pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para quem o escândalo da Petrobras está revelando um “sistema de governo, como forma de organizar a administração pública”. Segundo ele, “o petrolão, o eletrolão e outros ‘ãos’” revelariam “um modelo de governança”. A tese ganha força entre os ministros do STF em razão das investigações da Lava-Jato confirmarem a tese de “domínio do fato” adotada no julgamento do mensalão.

A propósito, a tensão no Congresso cresce por causa da Lava-Jato. Comentava-se, entre os políticos, que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, somente não ofereceu denúncia dos políticos porque é candidato à reeleição para o cargo na eleição interna da Procuradoria-Geral da República. Caberá ao chefe do Ministério Público Federal pedir ou não abertura de processo contra parlamentares envolvidos no escândalo de corrupção na Petrobras e sustentar a acusação no julgamento.

Os subprocuradores Carlos Frederico, Raquel Dodge e Mario Bonsaglia — que concorrem contra Janot — lutam pelo segundo lugar na preferência dos colegas. A recondução do atual procurador-geral pode ser barrada no Senado, onde enfrenta resistências. O mandato de Janot acaba em 17 de setembro.

Os mais votados integrarão uma lista tríplice a ser enviada a Dilma Rousseff. Caberá a ela indicar o nome a ser sabatinado e votado no Senado, onde políticos investigados por suposto envolvimento com irregularidades na Petrobras já avisaram que vão trabalhar contra Janot. Um deles é o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que vem se reaproximando do governo.

Ocorre que Janot pode perfeitamente apresentar suas denúncias a partir desta semana, até setembro. A rigor, está com o cronograma atrasado, se levarmos em conta o trabalho realizado pelo juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba.

Eliane Cantanhêde - Rei do pixuleco?

- O Estado de S. Paulo

Se o PT lava as mãos e entrega José Dirceu à própria sorte, o que fará quando, e se, o juiz Sérgio Moro e a Operação Lava Jato chegarem até o ex-presidente Lula? Ok, Lula é Lula, mas Dirceu também é Dirceu. Ou será que, de repente, deixou de ser e virou o rei do "pixuleco"? Lula é o grande líder e o maior símbolo da história do PT, mas José Dirceu foi o grande operador e o maior comandante das tropas petistas nesses 35 anos. Um foi o mito das lutas sindicais, o outro foi o ídolo das lutas estudantis. Um agia à luz do dia, em cima de palanques, o outro agiu boa parte do tempo na penumbra, no anonimato. Os dois são indissociáveis.

Dos tempos heróicos do ABC paulista, megafone em punho, Lula é um sedutor e parecia irremediavelmente sedutor até o petrolão o atingir em cheio e o governo Dilma Rousseff passar por cima. Primeiro, encantou as mulheres, depois os metalúrgicos, em seguida trabalhadores de todos os setores, mais adiante a intelectualidade e a igreja, e finalmente a opinião pública brasileira. Concorreu cinco vezes à Presidência da República, perdeu três, ganhou duas, ressurgiu das cinzas do mensalão, desceu a rampa do Planalto como um dos líderes mais populares de todos os tempos elevou para casa um troféu: a eleição da inacreditável Dilma, que só foi candidata – e só chegou aonde chegou – pela única e exclusiva razão de que Lula quis.

Logo, o PT abandonar Lula, ou lavar as mãos, parece o fim do mundo, certo? Mais ou menos, porque, ao renegar José Dirceu, o partido sinaliza que já não tem discurso nem energia para defender quem quer que seja – nem para se defender – da profusão de delações e descobertas escabrosas. Digamos, pois, que o PT está a caminho do fim do mundo, depois que sua Executiva Nacional decidiu que, sente muito, não tem como defender o indefensável e não vai mais se associar a Dirceu.

Ele virou coisa do passado, além de caso de polícia. É uma pena, porque Dirceu tem uma vida digna de filme, que começa nos congressos da UNE contra a ditadura, passa por treinamento em Cuba, inclui uma plástica facial, uma vida clandestina no Sul e uma personalidade tão complexa ao ponto de viver durante anos com uma mulher que amava sem revelar a ela sequer o seu nome verdadeiro. Politicamente, Dirceu é do PT desde a gestação, foi seu presidente de 1995 a 2002, ameaçou se tornar a eminência parda do primeiro mandato de Lula e foi responsável por dois movimentos decisivos tanto para a ascensão e glória quanto para a debacle e vergonha do partido.

Foi ele quem deu a guinada "pragmática" para arrecadar dinheiro e levar Lula à vitória. E foi ele o gênio do mal que articulou o mensalão, possivelmente idealizou o petrolão e usufruiu dele com bem mais do que um Fiat Elba. E não é mais primário. Segundo o então ministro Joaquim Barbosa, fazendo eco à Procuradoria-Geral da República, Dirceu foi o "chefe da quadrilha" do mensalão. Segundo o juiz Sérgio Moro, ele demonstra "profissionalismo na prática de crimes".

E segundo o procurador Carlos Fernando Lima, ele "instituiu o esquema do petrolão e se beneficiou dele". Conclusão: cartel de empreiteiras existe desde sempre, mas o petrolão inovou ao inverter o organograma. Em vez de os políticos só se aproveitarem do cartel, eles passaram a controlar o cartel a favor de esquemas de poder, de partidos e, como Dirceu, deles próprios.

Dirceu não está sozinho. Ele lidera uma fila de petistas em que o também ex-presidente José Genoino (caso à parte), dois ex-tesoureiros e figuras como André Vargas jogaram fora as glórias do passado para enfrentar o presente atrás das grades. A fila anda, mas não se sabe ainda onde vai parar. É isso que deixa o PT e Lula muito nervosos. Tombo. Na noite de segunda-feira, o ex-presidente José Sarney levou um tombo em casa. Octogenário, ele está de cama, com a cabeça enfaixada, bem neste momento que exige líderes maduros e serenos. Isso Sarney é.

Fernando Exman - Cresce cobrança por agenda 'pós-ajuste'

- Valor Econômico

• Governos petistas já começam a perder ativos eleitorais

Com o avanço da Operação Lava-Jato sobre o núcleo político de investigados, cresce o desafio da presidente Dilma Rousseff de evitar que potenciais infortúnios individuais de aliados ou adversários se tornem problemas coletivos. Em outras palavras: travem ainda mais as atividades do governo, criem novas armadilhas fiscais no Congresso ou dificultem o esforço de comunicação do Palácio do Planalto que visa recuperar a imagem da presidente da República.

Após a prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, a coordenação política do Executivo agora aguarda a apresentação da denúncia pela Procuradoria-Geral da República em relação aos investigados com foro privilegiado. O governo tenta mapear o alcance da ação, pois sabe que deve preparar-se contra eventuais retaliações e construir pontes alternativas com as cúpulas do Congresso e dos partidos aliados. O Ministério Público Federal listou o suposto envolvimento de 55 agentes políticos nas irregularidades investigadas na Petrobras. Desse total, 49 têm foro privilegiado e são principalmente ligados ao PT, PMDB e PP. A investigação avança sobre outros setores da economia e empresas estatais.

Esse assunto é debatido por integrantes do primeiro escalão, em meio à crescente pressão dentro do próprio governo e na base aliada para que a equipe econômica apresente à sociedade, o mais rápido possível, uma agenda "pós-ajuste". Cobra-se de Dilma uma mudança considerável na estratégia de comunicação. Segundo o roteiro demandado ao Planalto por aliados, Dilma deveria primeiro reconhecer que a situação é mais delicada do que o cenário até então pintado nas peças oficiais de propaganda. Na sequência, a presidente descreveria cada passo a ser dado pelo país para sair da crise, de forma didática, para então desenhar no horizonte uma situação que dê ao eleitorado melhores perspectivas de vida.

Se pretende acolher o pleito, a presidente ainda faz essa transição de forma errática. Em seus mais recentes discursos, Dilma insistiu em responsabilizar a seca e a conjuntura internacional pela desaceleração da economia doméstica. Para rebater as acusações de estelionato eleitoral, argumentou que a situação durante a campanha era "ainda bem mais favorável" do que a verificada atualmente ou a de quando tomou posse.

Na abertura da reunião que fez com governadores, reconheceu que o Executivo foi obrigado a promover um ajuste fiscal a fim de colocar a economia novamente numa rota de crescimento com geração de emprego e distribuição de renda. Ponderou que 2015 é um "período de transição" ou um "ano de travessia".

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tenta seguir o roteiro de maneira mais objetiva. O problema de Dilma, contudo, é que uma parte considerável da população simplesmente não quer ouvir ou não acredita no que a presidente diz. Os sucessivos panelaços realizados em suas aparições na TV ou em programas do PT demonstram essa indisposição. Para piorar a sua situação, estrategistas do governo captam sinais de que importantes ativos eleitorais das administrações encabeçadas pelo PT já começam a perder valor.

Um exemplo: chegou às mãos de interlocutores de Dilma uma pesquisa do instituto Data Popular que circula no meio político, segundo a qual a classe C relativiza o papel do governo nas suas conquistas. A sondagem captou que a Classe C atribui sua melhora de vida primeiro ao próprio trabalho, depois à família e em seguida a Deus. Só depois o governo é citado, à frente apenas das empresas.

A decisão do Planalto em dar destaque às cerimônias de entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida - com o máximo de participações possíveis da presidente da República, mas invariavelmente com a presença de pelo menos um ministro de Estado - deriva da conclusão de que o governo precisa mostrar o que está fazendo para melhorar a vida do brasileiro. Segundo o Ministério das Cidades, 71 mil casas foram construídas em 2015 no escopo do programa habitacional. Desse total, o governo já entregou 64,5 mil unidades. Mais beneficiários serão contemplados nas próximas semanas.

As pesquisas do Data Popular, segundo o presidente do instituto, Renato Meirelles, também demonstram que, se o eleitorado ainda não encontrou melhores perspectivas nos discursos ou ações do governo, tampouco a oposição conseguiu ocupar esse espaço até agora. Como resultado, grande parte da população acredita que a política resume-se à disputa pelo poder.

O Palácio do Planalto tenta reequilibrar esse jogo no âmbito nacional, pois sabe que precisa reduzir a fragilidade do Executivo no Congresso nas próximas votações ou até mesmo para enfrentar um eventual processo de impeachment contra a presidente. Dilma promoveu um encontro com governadores em busca de um pacto pela governabilidade, recebeu no Palácio da Alvorada líderes dos partidos aliados e começa a abrir os cofres para liberar os recursos das emendas parlamentares ao Orçamento. Em paralelo, promete concluir a curto prazo a nomeação de indicados políticos para os escalões inferiores da máquina pública federal.

Historicamente, presidentes recém-eleitos aproveitam o início de seus mandatos para estabelecer uma agenda positiva ou impulsionar a aprovação de projetos mais polêmicos no Congresso. Sabem que depois de um ano podem não ter mais tanta força política, num momento em que as eleições municipais começam a ocupar os espaços prioritários das agendas de deputados e senadores. Pelos movimentos dos parlamentares desde o recesso do Congresso, a percepção da população captada pelo Data Popular não deixa de ser justificada: o meio político já começa a se preparar para lidar com os efeitos da crise econômica, da baixa aprovação do governo federal e dos desdobramentos da Lava-Jato nas eleições municipais de 2016, as quais formarão as bases e garantirão a capilaridade das campanhas de 2018. A cada dia que passa, esse outro tipo de preocupação individual tende a tornar-se mais um obstáculo para o governo Dilma.