segunda-feira, 27 de julho de 2015

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

O momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo. Qualquer conversa não pública com o governo pareceria conchavo na tentativa de salvar o que não deve ser salvo
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Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República, em mensagem no Facebook. O Globo, 26 de julho de 2015.

Planalto pedirá apoio de Estados em julgamento das ‘pedaladas’ no TCU

Vera Rosa João Villaverde – O Estado de S. Paulo

• Em busca de sustentação política para evitar um eventual processo de impeachment no Congresso, gestão Dilma Rousseff alega que haverá "efeito cascata" sobre os governadores se ela sofrer resultado desfavorável

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto deflagra a partir de hoje um movimento em busca de apoio para tentar dissipar a crise e garantir algum fôlego político à presidente Dilma Rousseff. Um dos principais pontos dessa estratégia é a aproximação com os governadores. Em conversas reservadas, ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) admitem que a possível rejeição do balanço de 2014 apresentado por Dilma preocupa não apenas a Presidência, mas também os Estados.

O motivo da apreensão dos governadores é que, se o TCU reprovar as contas do governo federal em agosto, haverá brechas para questionamentos semelhantes nos Estados. Com o ambiente político conturbado e manifestações de rua programadas para o próximo mês contra “tudo que está aí”, o temor é que haja um “efeito cascata” da rejeição de contas, primeiro passo para a abertura de impeachment.

Ciente das dificuldades dos Estados, o Planalto espera contar com o apoio dos governadores. Um levantamento produzido pelo Planalto mostra que ao menos 17 governadores praticaram, em maior ou menor grau, operações idênticas às manobras no Orçamento conhecidas como “pedaladas fiscais”, atrasando repasses de recursos a bancos públicos para conseguir cumprir programas sociais.

Diante desse quadro, se o TCU der parecer contrário à prestação de contas de Dilma – cenário que, embora inédito, é considerado hoje o mais provável –, criará precedentes que podem ser usados pelas Cortes estaduais. Integrantes dos tribunais de contas dos Estados têm conversado com ministros do TCU para manifestar essa preocupação. Segundo apurou o Estado, dois governadores de oposição, o de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), encontram dificuldades para atingir a meta fiscal das contas públicas e enxergam com simpatia o movimento do Planalto.

A pressão dos governadores sobre o TCU, uma corte de contas com forte vínculos com políticos, seria uma arma importante para o Planalto. O governo não revela quais Estados enfrentam problemas para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal para não se indispor com os governadores. As conversas, quando houver interesse de ambas as partes, serão reservadas. Na quinta-feira, a presidente se reunirá com governadores em busca de “sustentação”.

A articulação de Dilma tem o objetivo de criar um pacto de união capaz de enfrentar a crise. Com a iniciativa, ela espera se contrapor ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que rompeu com o governo e pode levar adiante pedidos de impeachment. No caso do governo federal, se a rejeição do balanço de Dilma for confirmada, o relatório segue para a Comissão Mista de Orçamento do Congresso e, depois, tem de ser votado pelos plenários da Câmara e do Senado, que podem abrir processo de impeachment contra a presidente por crime de responsabilidade. Nos Estados, a competência para o julgamento é das Assembleias Legislativas.

Embora o tema do encontro de quinta-feira entre Dilma e os 27 governadores convidados não seja a prestação de contas, o Planalto avalia que o cenário de incertezas batendo à porta dos Estados contribui para a sinalização de apoio à presidente, apesar das divergências partidárias.

Sem briga. Dilma não mencionou as manobras orçamentárias cometidas por Estados ao apresentar sua defesa no TCU, contestando a ponderação de que as “pedaladas” infringiram a Lei de Responsabilidade Fiscal. O plano era esse, mas, com a popularidade em baixa, ela desautorizou a estratégia, sob a alegação de que não é hora de criar atrito com os governadores.

Nessa temporada de crise, na esteira de denúncias de corrupção na Petrobrás e prisões da Operação Lava Jato, Dilma solicitará aos governadores que mobilizem suas bancadas no Congresso assim que terminar o recesso, em agosto, para aprovar a reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Também pedirá ajuda para aprovar o projeto que revê as desonerações da folha de pagamento das empresas, visto como “prioritário” para o ajuste fiscal.

Há muitas críticas no Congresso às propostas, mesmo na base aliada do governo, e tudo vem se agravando em meio à instabilidade política e dificuldades econômicas. Foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quem aconselhou Dilma a chamar os governadores para conversar, até os da oposição. Lula sugeriu ainda reunir os prefeitos, que, a seu ver, podem criar uma rede para divulgar suas ações. Dilma resistiu o quanto pôde, sob o argumento de que todos cobrarão pendências impagáveis nesse momento, como o aval do Tesouro para liberação de dinheiro. Apesar de não ter recursos nem paciência para ouvir queixas, ela resolveu driblar a fase do “pires na mão” para angariar apoio. Agora, falta marcar o café com os prefeitos./ Colaborou Alberto Bombig

Governadores da oposição temem que ato com Dilma os faça sócios da crise

Painel / Natuza Nery (interina) – Folha de S. Paulo

Cruz e espada Governadores da oposição relatam desconforto com o aceno do Palácio do Planalto para uma reunião com Dilma Rousseff, que busca usar o ato como demonstração de governabilidade. Dizem que, institucionalmente, não têm como recusar o chamado presidencial, mas se preocupam com a possibilidade de que pareçam sócios da crise. Lembram ainda que a pauta discutida em encontros recentes, como o que reuniu os governadores do Sudeste há duas semanas, não teve avanços.

Lá e cá Geraldo Alckmin (PSDB) receberá governadores de ao menos oito Estados para um almoço no Palácio dos Bandeirantes nesta terça-feira. Eles estarão em São Paulo para a abertura de uma feira do setor da pecuária.

Impeachment volta para a agenda do Congresso

Pedro Venceslau, Erich Decat - O Estado de S. Paulo

• Protestos anti-Dilma marcados para o dia 16 e rompimento de Cunha com o governo levam oposição a analisar de novo tese de impedimento

BRASÍLIA - Rejeitada em abril pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e depois abandonada pelo PSDB, a proposta de pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso deve voltar para agenda do Legislativo após o recesso.

Depois de romper oficialmente com o governo no dia 17, o peemedebista decidiu tirar os pedidos da gaveta e pediu que seus autores ajustassem os documentos dentro das exigências regimentais. O procedimento é incomum. Quando as petições não se enquadram no formato, elas normalmente são remetidas direto ao arquivo. A iniciativa foi a senha para que os grupos de oposição à presidente Dilma Rousseff selassem um pacto informal de não agressão com o presidente da Câmara.

Apesar de ter sido acusado por um dos delatores da Operação Lava Jato de ter recebido propina, Cunha será poupado nas manifestações contra a corrupção marcadas para o dia 16 de agosto. Em contrapartida, os ativistas esperam que os pedidos de impeachment, agora devidamente formatados e encorpados, sejam acolhidos.

Se antes negava de forma veemente que não encamparia a tese, agora Cunha faz mistério sobre a possibilidade de usar o expediente como mais um elemento de pressão sobre o Planalto. Segundo um aliado, o presidente da Câmara sinalizou que pode acolher os pedidos depois do recesso e antes das manifestações. Procurado pela reportagem, Cunha preferiu não comentar.

Até agora, 12 documentos foram protocolados na Casa, mas os mais consistentes serão entregues até quinta feira. “Tivemos na sexta-feira uma reunião com o (jurista) Ives Gandra e mudamos nossa argumentação. Acrescentamos pareceres dos juristas Adílson Abreu Dallari e Bernardo Cabral, além dos argumentos do TCU sobre as pedaladas (fiscais)”, diz Carla Zambelli, líder do Nas Ruas e porta-voz da Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos, coalizão que reúne dezenas de grupos anti-Dilma que estão organizando as manifestações do dia 16. “Não vamos para cima do Cunha no dia 16. Ele tem um papel importante. Nosso foco é o impeachment”, completa.

O Movimento Brasil Livre (MBL), que se reuniu com Eduardo Cunha depois da marcha ocorrida em maio entre São Paulo e Brasília, também encorpou seu material. “Nos baseamos na tese das pedaladas fiscais. Apresentamos o parecer completo do jurista Adilson Dallari mostrando que a lei do impeachment é de 1950, portanto anterior a reeleição”, afirma Renan Santos, um dos líderes do MBL.

Desde a gestão do ex-presidente Fernando Collor, um presidente da Câmara não acolhe um pedido de impeachment. Se Cunha romper a “tradição”, os requerimentos serão analisados por uma comissão composta por integrantes de todas os partidos com bancadas da Câmara.

Entusiasmo. O rompimento de Cunha com o governo e a manifestação do dia 16 reascendeu na bancada do PSDB o entusiasmo com a tese do impedimento. Os tucanos reconhecem que Dilma ainda tem força para vencer em plenário, mas avaliam que os pedidos já seria mais um fator de desgaste. “A crise se agravou e o evento do dia 16 tende a influenciar o que acontecerá no dia 17. Se os pedidos tramitarem, o PSDB da Câmara votará a favor”, afirma o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), líder da minoria. Os deputados tucanos retomaram a campanha pelo impedimento nas redes sociais.

“Amigos, no dia 16 de agosto vamos voltar às ruas não mais para protestar. Agora vamos pedir o impeachment de Dilma, responsável maior por um governo corrupto, mentiroso e incompetente”, postou no Facebook o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), líder do PSDB na Câmara. “Se ele (Cunha) quisesse arquivar, já teria arquivado. A briga será rua versus plenário”, completa o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), único parlamentar que pediu formalmente o impedimento. / Colaborou Daniel Carvalho

"Dilma queimou pontes com o PSDB"

Cristian Klein - Valor Econômico

RIO - O ajuste fiscal, apesar da redução da meta de superávit primário, não foi derrotado, mas vai exigir que o governo federal e os petistas cedam ainda mais poderes, como fizeram em abril ao transferir a articulação política para o vice-presidente da República e líder do PMDB, Michel Temer. Mas nada que envolva uma aproximação entre PT e PSDB. Essa é a avaliação do cientista político Octavio Amorim, da FGV-Rio, que prevê três cenários para a travessia das crises política e econômica, reforçadas pela terceira, policial, com os desdobramentos da Operação Lava-Jato.

Para Amorim, no primeiro cenário, mais otimista, Executivo, Congresso, oposição, empresariado e sindicatos podem convergir para um governo de união nacional, com um "programa mínimo para se ajustarem as contas nacionais no meio da tempestade provocada pela Lava-Jato".

O segundo cenário, mais pessimista, seria o de destituição da presidente Dilma Rousseff, seja a partir da rejeição das contas de governo pelo Tribunal de Contas da União (TCU), das contas de campanha pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou de uma tamanha desidratação de apoio no Congresso que motive um processo de impeachment.

No terceiro cenário - intermediário, e mais provável, de acordo com Amorim - a crise levará a um reforço da atual fórmula governativa, com concessão de mais poderes ao PMDB e a um ministro sem ligações com o PT, Joaquim Levy (Fazenda), além da inclusão dos governadores, para dar mais credibilidade ao ajuste fiscal.

Para Amorim, o primeiro cenário, que poderia incluir uma aproximação do PT com o PSDB, é pouco provável. Nesta semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria procurado o antecessor e adversário político Fernando Henrique Cardoso. "Não vejo como o PT se conciliar com o PSDB, com FHC, que se tornaram seus principais inimigos nos últimos anos. A eleição passada foi muito polarizada. Dilma queimou muitas pontes", diz o cientista político, referindo-se às críticas da campanha à reeleição ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) e ao ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga.

Para esse cenário otimista prevalecer, pondera Amorim, seria necessário que antes "as coisas piorassem" a tal ponto que a união nacional surgisse como melhor saída para a crise. "O cenário otimista implica um consenso com a Dilma e provavelmente sem o PT; o pessimista significa um consenso sem a Dilma e sem o PT", resume.

O cientista político considera que o impeachment é mais provável hoje do que foi nos últimos meses, em virtude da queda vertiginosa da popularidade de Dilma, dos atropelos do ajuste fiscal e da possibilidade de grandes manifestações, como as marcadas para 16 de agosto. "O cenário pessimista só se materializa com o ronco das ruas", pontua.

Octavio Amorim afirma ser contra o impeachment. Mas lembra que qualquer um dos três cenários representa perda de poder dos petistas. "PT e Dilma têm que ceder mais poder", diz.

O pesquisador considera que a crise pode devolver aos governadores um novo protagonismo. "Eles tiveram um grande papel na redemocratização mas foram relegados nos últimos 10, 15 anos. Foram para o segundo time, durante esse período do PT na Presidência", afirma Amorim, citando que o programa Bolsa Família, por exemplo, foi desenhado para passar pelos prefeitos e não pelos governadores.

No momento em que o Congresso Nacional não colabora com o ajuste fiscal e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rompe com o governo federal, Dilma precisa ainda mais dos governadores. "Ajuste fiscal é um grande problema em qualquer democracia. E não se faz por uma canetada tecnocrática. É fundamental apoio político", diz o professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape/FGV). Dilma convocou para quinta-feira, 30, a primeira e mais ampla reunião com governadores neste segundo mandato.

A despeito das dificuldades encontradas no Congresso, Octavio Amorim não considera que o pacote de medidas para equilibrar as contas públicas tenha sido um esforço em vão. "O ajuste fiscal não foi derrotado. O Congresso não deu tudo o que o Levy tinha pedido, mas o pacote avançou aos trancos e barrancos", afirma.

Para Amorim, a redução da meta de superávit primário - para pagamento da dívida pública - de 1,1% para 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) significa que o esforço maior de aperto fiscal, em vez de se concentrar neste e no próximo ano, vai se estender por 2017 e 2018, quando ocorrem as eleições presidenciais.

"Para o PT é ruim, mas não há outra saída. As contas públicas estão todas desordenadas e o país precisa se reequilibrar para não perder o grau de investimento", diz. O rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de classificação de risco é a grande ameaça que pode afugentar investidores e aprofundar a crise.

Evitar esse cenário é a principal missão do PT até 2018, afirma Amorim, mesmo que isso cause prejuízo eleitoral para o partido. Em sua opinião, o que está em jogo é se uma eventual derrota do PT à Presidência "vai ser acachapante, desmoralizante" ou "digna", a ponto de permitir que a legenda volte ao poder mais à frente. "O PT tem que se preparar para perder bem. O ciclo não favorece um quinto mandato do partido", vaticina o cientista político.

Os rumos do ajuste fiscal e seus efeitos eleitorais podem ser cruciais para os destinos do PT, analisa Amorim, que afirma haver o risco de o partido "ser um novo PMDB". Hegemônico em meados dos anos 1980, o PMDB saiu tão enfraquecido do governo federal - depois do mandato de José Sarney (1985-1990) - que perdeu as eleições de 1989 e 1994, sem chegar aos 5%, e nunca mais disputou a Presidência. "O PT tem que escapar dessa ameaça. É importante que chegue bem em 2018, mesmo que para perder. É fundamental ter um partido âncora da esquerda, forte, viável e competitivo", diz.

Sobre o futuro de Eduardo Cunha, Octavio Amorim afirma que o presidente da Câmara não terá muita alternativa que não seja a perda do posto, caso seja denunciado na Lava-Jato. "Há dezenas de precedentes, como o do Severino Cavalcanti (PP-PE). Cunha vai usar os poderes da presidência da Casa para peitar a Justiça?", questiona Amorim.

Em 2005, o então presidente da Câmara renunciou ao mandato para escapar da cassação, depois de ser acusado de receber propinas mensais de R$ 10 mil, pagas pelo dono do restaurante da Câmara dos Deputados - escândalo que ficou conhecido como "mensalinho".

Após FH recusar encontro, petista critica ministro de Dilma

- O Globo

• "O episódio trouxe mais desgaste do que solução", diz Chinaglia

BRASÍLIA- A recusa do ex- presidente Fernando Henrique Cardoso em conversar com o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a presidente Dilma Rousseff sobre a situação política do governo causou constrangimento entre petistas. Integrantes do partido consideraram um erro o ministro Edinho Silva ( Comunicação Social) ter declarado, a partir de notícias sobre suposto interesse de Lula no encontro, que Dilma estaria disposta a fazer o mesmo.

— O que me surpreendeu foram as declarações de Edinho dizendo que via isso ( o encontro) com bons olhos. Esse episódio trouxe mais desgaste do que solução — criticou o deputado Arlindo Chinaglia ( PT- SP).

Em mensagem postada anteontem no Facebook, Fernando Henrique descartou conversa que não seja pública com o governo. Segundo ele, qualquer encontro reservado neste momento “pareceria conchavo”: “O momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo. Qualquer conversa não pública com o governo pareceria conchavo na tentativa de salvar o que não deve ser salvo”, escreveu o ex- presidente.

O Instituto Lula já havia negado que o ex- presidente tivesse pedido a amigos em comum que marcassem um encontro com o tucano, conforme publicou o jornal “Folha de S. Paulo”.

O ex- ministro da Saúde Alexandre Padilha, hoje secretário de Relações Governamentais da prefeitura de São Paulo, ironizou a recusa de FH. “Hoje, com a fala de FHC, surgiu o cancelamento da reunião nunca tentada”, escreveu ele no Twitter.

O senador José Agripino ( DEM- RN) disse que a oposição somente é procurada quando o governo não consegue apoio em sua própria base aliada. Para ele, o governo quer que a oposição assuma papel que caberia à sua base no Congresso.

Agripino afirmou que a oposição não se negaria a participar de debates dentro de uma agenda de “interesse nacional”. Mas ele pôs em dúvida o tipo de diálogo que o governo quer ter:

— O objetivo deles é inverter as posições. O governo não conta com sua própria base e quer que sejamos governo, quando temos uma obrigação constitucional de fazer oposição.

Crise em casa faz Dilma investir na política externa

Eliane Oliveira – O Globo

• Para Planalto, viagens darão à presidente oportunidade de escapar do tiroteio interno e melhorar imagem do país

BRASÍLIA- Às voltas com uma grave crise político- institucional e sofrendo críticas diante do fraco desempenho da economia brasileira, a presidente Dilma Rousseff determinou prioridade total à área internacional, que ganhou reforço na reforma em andamento na área de comunicação do governo. Entre os desafios, o mais urgente é melhorar a imagem do país, deteriorada com o escândalo de corrupção na Petrobras.

A presidente quer se livrar da pecha de que odeia política externa, e sabe que é inevitável “vender” mais o Brasil lá fora em busca de tratados de livre comércio e investimentos. As viagens também são consideradas uma boa oportunidade para que saia do tiroteio ao qual é submetida e que a deixou em um dos mais baixos níveis de popularidade.

— A retomada de uma agenda externa reflete a necessidade de dar conta da imagem dela ( Dilma) na sociedade. Ela quer falar para os públicos interno e externo. A área internacional é importante para a formação da imagem de um país. Ou seja, em meio às turbulências, surgiu a percepção de que a agenda internacional faz parte da agenda do governo — explicou uma fonte.

O roteiro de viagens de Dilma está sendo fechado, mas já é bem intenso. No mês que vem, ela receberá em Brasília a chanceler alemã Angela Merkel. Nos dias 27 e 28 de setembro, viajará a Nova York, onde discursará na abertura da Assembleia Geral da ONU. Em outubro, visitará a Colômbia, país com o qual o Brasil pretende fortalecer as relações. Em novembro, deverá ir à Turquia, para uma reunião do G- 20, grupo formado pelas 20 maiores economias do planeta.

Dezembro será o mês mais movimentado. Dilma irá ao Vietnã, ao Japão, ao Paraguai — para a reunião do Mercosul — e, provavelmente, a Paris, para a COP 21 ( apenas se estiver previsto um segmento presidencial no evento).

— Não dá mais para se dedicar puramente ao Mercosul — comentou um experiente embaixador, acrescentando ter ouvido que Dilma tem sido aconselhada pelo ex- presidente Lula a se dedicar mais à política externa.

Este ano, Dilma esteve na Bolívia, na Venezuela, no Uruguai e na Bélgica, sede da União Europeia ( UE) — nesse caso, para convencer as autoridades europeias que o Mercosul está pronto para um acordo de livre comércio. Esteve, ainda, em Washington, onde foi recebida com pompa pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e à cúpula do Brics ( bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na Rússia.

Desviar o foco é um recurso clássico, dizem especialistas

Eliane Oliveira – O Globo

• Ministros recebem a determinação de buscar novos mercados

BRASÍLIA- Segundo o consultor internacional Nelson Franco Jobim, dedicar- se mais à política externa é uma saída clássica de presidentes com problemas na política interna. Ele citou como exemplos o ex- presidente Bill Clinton — que atuou fortemente em relação às guerras da Bósnia e da Croácia e quase bombardeou o Iraque durante o processo de impeachment no caso Monica Lewinsky — e Barack Obama, que, em minoria no Congresso, reatou com Cuba e negociou o acordo nuclear com o Irã.

— Com popularidade de 13% na França, o presidente François Hollande intervém na África, tenta ajudar a Grécia e posa como estadista — completou.

Para Leonardo Valente, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o reforço dado por Dilma à política externa é mais do que positivo, é necessário:

— A diplomacia presidencial é um componente relevante de nosso modelo de política externa. Nosso desenvolvimento depende em parte desse trabalho. Mas é fato que, diante de uma crise política interna violenta, o investimento em uma política de prestígio na área externa contribui para a blindagem.

A presidente Dilma Rousseff acaba de lançar o Plano Nacional de Exportações e determinou que seus ministros corram atrás de novos mercados. Na semana passada, enquanto Mauro Vieira, das Relações Exteriores, fazia um périplo por Cingapura, Timor Leste e Vietnã, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, buscava acordos na Colômbia e no Peru.

As Olimpíadas de 2016 estão no foco da nova política externa de Dilma. Haverá oportunidades de diálogo com vários chefes de Estado. Já no primeiro semestre, estão previstas viagens ao Timor, à China e à Índia.

Preocupação com contas públicas ajudará diálogo

- O Estado de S. Paulo

Os governadores estão dispostos a conversar com a presidente Dilma Rousseff porque estão preocupados com o reflexo da crise econômica nas contas públicas. Eles, no entanto, reivindicam o protagonismo no debate com o governo federal.

O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), é um dos que está disposto a dialogar e a defender o “pacto de governabilidade”, proposto pelo Palácio do Planalto.Anteontem, ele se reuniu com o ministro da Justiça Eduardo Cardozo,em Florianópolis, e ambos falaram que a hora de “unir forças”. “Neste momento, é claro que precisamos unir forças. Estamos nos afastando dos divergentes e nos aproximando dos convergentes. Pessoas que acreditam que para o Brasil crescer é preciso caminhar juntos”,afirmou o ministro da Justiça.

Oposição. Durante o 11.° Fórum da Amazônia Legal, realizado semana passada,em Manaus, essa demanda marcou o discurso da maioria dos gestores presentes,especialmente os da oposição. O mais veemente foi Simão Jatene (PSDB), do Pará.

“Não dá mais para os 27 governadores serem simples espectadores de um cenário dramático que está nos levando a um final nada feliz”, disse ele ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado

Outros tucanos, como o governador paulista, Geraldo Alckmin, seguem na mesma linha: se mostram dispostos a dialogar,mas também reivindicam mais espaço no diálogo com o governo. Já os governadores de partidos aliados da presidente defendem que haja um contraponto à disputa que ocorre no Congresso Nacional,onde o clima é de disputa política.

Segundo o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o debate no Congresso está “contaminado”. “A temperatura só vai diminuir quando tivermos um acordo das principais lideranças do País e isso passa pelos governadores”, diz ele.

Auxiliares avaliam que ‘caiu a ficha’ de Dilma sobre a crise

Vera Rosa – O Estado de S. Paulo

No Palácio do Planalto, é comum ouvir que agosto é o mês do desgosto. O ditado popular, porém, parece cada vez mais ganhar vida na temporada de crises que assustam o governo. A diferença, agora, é que “caiu a ficha” da presidente Dilma Rousseff, como garantem seus auxiliares mais próximos.

No mês que se aproxima, o Congresso retomará suas atividades com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disposto a transformar a Casa numa trincheira de oposição, o Tribunal de Contas da União (TCU) examinará as contas de Dilma com a ameaça de impeachment rondando o ambiente e uma CPI do BNDES atormentará o Planalto, além daquela da Petrobrás. Não é só: a Operação Lava Jato fará mais vítimas e haverá eleição para a escolha do procurador-geral da República.

Rodrigo Janot, o atual chefe do Ministé- rio Público, é favorito para ser reconduzido ao posto, mas, se vencer a disputa, terá de passar pelo crivo do Senado. Mais problemas à vista: furiosos com a atuação de Janot na Lava Jato, senadores querem vê-lo bem distante dali.

Nesse inferno astral, Dilma recorreu à distribuição de cargos e emendas parlamentares para soldar a base aliada. O ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, que ajuda o vice-presidente Michel Temer na articula- ção política, tem no gabinete da Secretaria de Relações Institucionais várias pastas com nomes de deputados e senadores. Ao lado de cada um, há faixas coloridas que indicam o índice de fidelidade nas votações. A cor vermelha sinaliza perigo, mas, hoje em dia, até a traição tem sido recompensada.

Diante de um cenário tão adverso, Dilma tentará, mais uma vez, investir na agenda positiva para recuperar a credibilidade. A pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela sairá do Planalto, fará excursões pelo Nordeste, onde houve debandada de antigos eleitores do PT, e inaugurará obras País afora.

Em almoço com Dilma no Palácio da Alvorada, no último dia 14, Lula bateu com as duas mãos na mesa quando o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, fazia considerações sobre os problemas provocados pela Lava Jato.

“Eu não vim de São Paulo aqui para discutir Lava Jato”, esbravejou Lula. “Se for para ficar falando disso, levanto e vou embora.”

Naquele dia, o ex-presidente traçou um roteiro de reação à crise. Pediu para Dilma mandar os ministros viajarem e divulgar as ações do governo. Desde então, no entanto, tudo piorou e o próprio Lula virou alvo da Procuradoria da República no Distrito Federal, que suspeita de tráfico de influência em benefício da empreiteira Odebrecht.

Em nova ofensiva para recuperar a credibilidade, o Planalto promoverá, em agosto, cerimônias para lançar programas já em andamento, como o Minha Casa Minha Vida 3, e comemorar a marca de 60 milhões de pacientes no Mais Médicos. A ideia é que Dilma também faça tour por programas de TV.

No Congresso, com Eduardo Cunha na oposição, a estratégia consiste em se aproximar do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que também pode segurar um eventual processo de impeachment.

“Não podem morrer os dois”, resumiu um auxiliar de Dilma, numa referência a Cunha e Renan. Em conversas reservadas, ministros preveem a derrocada de Cunha na Lava Jato e já avaliam nomes que possam sucedê- lo no comando da Câmara. Nenhum deles é do PT, mas também não se sabe quem poderá segurar o rojão do Planalto. Se agosto é o mês do desgosto, cada dia com sua agonia.

Na Câmara, Cunha monta pauta-bomba

Júnia Gama e Simone Iglesias – O Globo

• No segundo semestre, governo enfrentará CPIs e projetos que aumentam despesas

BRASÍLIA- Após meses de crise constante com o Congresso, o governo pode esperar um segundo semestre ainda mais repleto de obstáculos, ao menos na Câmara. Desde que foi acusado de cobrar propina de US$ 5 milhões para viabilizar contratos com a Petrobras, o presidente da Casa, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), reagiu atacando o Executivo e começou a montar uma pauta- bomba para atingir o Palácio do Planalto.

Cunha autorizou a criação das CPIs do BNDES e dos Fundos de Pensão e articula não somente deixar o PT fora do comando dessas comissões como também entregar a presidência ou a relatoria de uma delas à oposição. Outra medida de Cunha foi despachar 12 pedidos de impeachment da presidente Dilma para tê- los prontos para serem analisados pela Câmara.

Além disso, o peemedebista pautou para agosto a votação de todas as prestações de contas do governo, para limpar o caminho para as contas de 2014 de Dilma, em análise no Tribunal de Contas da União.

Haverá ainda, na próxima sessão do Congresso, a votação de vetos a projetos com potencial de grande impacto nas contas públicas, como o que altera o fator previdenciário. Semana passada, Cunha disse haver grande possibilidade deste veto ser derrubado. No Planalto, a maior preocupação é com o projeto que dobra o reajuste do FGTS.

Segundo um ministro, se Cunha pautar a matéria, e conseguir aprová- la, “será um desastre para o governo”. Causa preocupação a derrubada de outros vetos, como o do reajuste do Judiciário. Um deles ainda está sendo analisado por Dilma, que tem prazo até o dia 30 para decidir: o da equiparação do aumento do salário mínimo com as aposentadorias.

Cunha admite que será árida a jornada do governo no segundo semestre, mas nega que tenha contribuído para isso. Para ele, as dificuldades se devem mais à baixa popularidade de Dilma e à consequente falta de apoio da base aliada do que propriamente aos temas que a Câmara irá analisar.

— Não é pauta- bomba, é a pauta normal que já existe. O que muda é que a base do governo vai diminuindo à medida que a economia piora e a popularidade diminui. A dificuldade do governo aumenta na medida em que diminui o índice de aprovação. Isso faz a real diferença — disse o presidente da Câmara.

O ímpeto oposicionista de Cunha está sendo considerado excessivo até por deputados de partidos de oposição ao governo, como o DEM e o PSDB.

— Ele vai criar tensões com o governo e mais embaraços. Não vai ter cerimônias nem limites. A oposição pode até comemorar, mas também se preocupa com o lado institucional. É preciso buscar equilíbrio, porque algo de muito grave poderá acontecer nos próximos meses — disse uma parlamentar da oposição.

Na primeira semana de recesso, Cunha continuou a preparar o terreno contra o governo. Condenou a redução da meta do superávit anunciada pelo governo e previu “dias difíceis” até a aprovação do texto.

Mercado vê inflação de 9,23% em 2015 e economia mais contraída

Gabriel Caprioli - Valor Econômico

SÃO PAULO - As previsões para o desempenho da economia brasileira neste ano e no próximo continuam se deteriorando. As cerca de cem instituições que consultadas para o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC), projetam uma queda maior para Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, de 1,76%, em vez de 1,70% como o esperado anteriormente.

Para 2016, ainda que se mantenha no campo positivo, a mediana de projeções para o PIB saiu de 0,33% para 0,20% de crescimento — segunda revisão para baixo seguida de estimativa.

No caso da produção industrial, a projeção para o desempenho neste ano foi mantida em recuo de 5%, enquanto a estimativa para o ano que vem foi de 1,50% para 1,30% de expansão.

Quanto à inflação, os analistas consultados pelo BC aguardam uma alta de 9,23% para o IPCA neste calendário, acima da taxa estimada antes, de 9,15%. Foi o 15º aumento seguido na projeção. Para 2016, a previsão é de um aumento de 5,40% no índice de preços.

Para a taxa de câmbio, a expectativa é de dólar a R$ 3,25 no fechamento de 2015, no lugar de R$ 3,23, e de R$ 3,40 no encerramento de 2016, sem mudança.

As instituições sondadas também preveem uma taxa de juro de 14,25% no término deste ano, menor do que os 14,50% aguardados no levantamento antecedente, e de 12% no fechamento do próximo calendário, inalterada.

Aécio Neves - Educadora?

- Folha de S. Paulo

São muitos os problemas da educação brasileira. Falta de planejamento, inadequação da grade curricular, pouca valorização dos professores, investimento baixo em pesquisa e outros desafios se acumulam há anos, sem solução.

Essa precariedade generalizada é fruto da mesma fonte: a incapacidade do país de tratar a educação como política de Estado prioritária.

Nada mais falacioso do que o slogan "Pátria Educadora", anunciado com júbilo pela presidente Dilma como âncora de seu segundo mandato, e solenemente ignorado em sua gestão. Programas como Fies, Pronatec e Ciência sem Fronteiras sofreram uma degola radical. O Ministério da Educação foi dos mais atingidos no arrocho fiscal em curso.

É nesse contexto de fragilidade que o país assiste, com assombro, ao desmonte das universidades públicas brasileiras. Trata-se de uma das piores crises vividas pelo setor em toda a sua história.

Neste ano, a verba repassada para as universidades federais foi reduzida em 30%, provocando adiamento de obras, paralisação de cursos e atraso no pagamento de bolsas.

Grandes universidades como a UFMG, UFRJ ou a UNB, entre outras, enfrentam graves dificuldades. Milhares de alunos são prejudicados, mas não apenas eles. O colapso do sistema universitário atinge também o cidadão ao afetar o atendimento em hospitais universitários, os serviços de atenção jurídica e uma série de programas voltados para a sociedade.

É também muito grave a situação de órgãos capazes de impactar a modernização de nossa economia. Instituições de importância estratégica como o CNPq e a Capes nunca estiveram tão abandonadas.

Denúncias revelam que a Capes cortou 75% da verba de custeio para apoio à pós-graduação. É como desligar a tomada que nos dá acesso a setores de ponta do conhecimento. Menos pesquisa, menos inovação, menor competitividade.

A educação deficiente está na raiz de nossa baixa produtividade. Não há como competir no mercado global a bordo dos nossos indicadores.

O momento exige responsabilidade e compromisso. Não há milagre capaz de reverter a presente situação. Bons resultados na Educação não surgem da noite para o dia, dependem de políticas públicas consistentes e de longo prazo.

Mas é possível, em curto prazo, fazer mais do que promover cortes orçamentários destinados a encobrir rombos fiscais provenientes de má gestão.

Ao escolher um slogan que contraria na realidade, o governo dá mais uma demonstração da opção pelo marketing.

Ao golpear a universidade brasileira, a "Pátria Educadora" atinge o sonho de milhares de jovens que enxergam na formação superior uma fonte de qualificação e de ascensão social. Não é justo que façamos isso com aqueles que irão responder pelo futuro do país.
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Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Ricardo Noblat - Acabou o sonho

- O Globo

“Parou de piorar”
Joaquim Levy, ministro da Fazenda

Christiano Tavares, 15 anos, tinha um sonho: tornar- se famoso como nadador. Foi brincando em uma poça de água suja da Favela de Manguinhos, Zona Norte do Rio, que ele ganhou notoriedade e entrou para os anais do Programa de Aceleração do Crescimento ( PAC), uma das joias da coroa dos governos Lula e Dilma. Desde o último dia três, o corpo de Christiano jaz em uma cova rasa no Cemitério de Inhaúma.

A HISTÓRIA DE Christiano tem lugar garantido na memória da maioria dos 37 mil habitantes de Manguinhos, um lugar miserável controlado pelo Comando Vermelho, facção criminosa que explora o tráfico de drogas. Entre os oito anos de idade, quando foi catapultado para o estrelato, e os 15, quando morreu fumando crack, Christiano subiu ao céu e desceu ao inferno sem compreender direito o que lhe acontecia.

COM ELE ascendeu, e agora começa a cair, uma humanidade resgatada da miséria para o consumo de bens supérfluos que jamais haviam estado ao seu alcance. Bens que poderiam ter sido trocados por outros essenciais e duradouros, como Educação, Saúde, Segurança e transporte coletivo, por exemplo. Mas quiseram os donos do poder político do país que não fosse assim.

CHRISTIANO DEIXOU de ser um menino igual aos outros de Manguinhos quando Lula, às vésperas de viajar ao Rio para o lançamento de obras do PAC em favelas, viu uma foto dele na capa do jornal carioca “Extra”. Sorridente, Christiano fingia nadar num vazamento de água no meio de uma rua. Lula então teve uma ideia. E ordenou a assessores que localizassem o menino.

NO DIA 7 DE março de 2008, Christiano foi a principal estrela do comício que reuniu no Complexo do Alemão o presidente da República, ministros de Estado, governador, prefeito e demais autoridades. Na ocasião, Lula anunciou que Manguinhos ganharia uma piscina para que Christiano e meninos de sua idade pudessem nadar. O orador foi delirantemente aplaudido.

AO SE DESPEDIR de Lula naquele dia, Christiano descobriu que seu nome mudara. As pessoas passaram a chamá- lo de Lulinha. E ele gostou. Simpático, gentil, caiu no gosto da comunidade. Passou a ser paparicado por todos. Um clube de classe alta da Barra da Tijuca conferiu- lhe o direito de livre acesso às suas instalações para que aprendesse a nadar. Não deu certo.

FALTOU DINHEIRO para o transporte de Christiano. Abandonada pelo marido, dona Bianca Pereira, 35 anos, deu duro como faxineira para sustentar Christiano e as filhas Sthepannie, 14 anos, e Milhena, 12 anos. Sthepannie está grávida de seis meses. “Dei de tudo a Christiano para que não se metesse com drogas e traficantes”, conta dona Bianca. “Até roupa e tênis de marca eu dei”.

À FAMÍLIA, deu uma televisão de tela plana e um computador. Promovida à mãe de Lulinha, recebeu do governo um apartamento de dois quartos. E viu com orgulho o filho encontrar- se outra vez com Lula. Foi na entrega, em maio de 2009, de 20% das obras do PAC em Manguinhos. Quantas pessoas desfrutaram do mesmo privilégio?

DE CALÇÃO DE banho, touca e óculos providenciados pelo cerimonial da presidência da República, Christiano inaugurou a piscina prometida por Lula. Foi a última vez que nadou ali. A piscina fica dentro de uma escola que ele não pode frequentar. Dona Bianca sentiu que seu filho, aos poucos, foi murchando junto com o sonho de virar um nadador famoso. Ele morreu em um posto de saúde onde está afixado um gigantesco retrato dele como menino símbolo do PAC.

José Roberto de Toledo - O isolamento do PT

- O Estado de S. Paulo

Muito antes do Facebook, Lula fez campanha para Fernando Henrique (Senado, 1978), e Fernando Henrique pediu votos para Lula (2.º turno para presidente, 1989). O filho de general tornado intelectual perseguido pela ditadura militar teve mais do que inimigos em comum com o imigrante nordestino feito líder sindical e preso pelos mesmos militares. Compartilharam opiniões, objetivos políticos e alguns copos. Nem mais um gole.

Dois confrontos diretos pela Presidência abriram feridas. Duas décadas de oposição de um contra o outro fecharam portas. Pelo “Face”, FHC diz que não quer nem papo com Lula. A falta de conversa é a negação da política. Mas quando era o tucano no volume morto, o petista tampouco jogou boia de salvação.

A incomunicabilidade dos ex-colegas de palanque simboliza o apartamento de seus partidos. PT e PSDB repeliram-se tanto que, de faces opostas de uma mesma moeda social-democrata, viraram dois extremos que não se encontram nem no infinito.

A melhor síntese de quão afastados estão petistas e tucanos encontra-se na atual Câmara dos Deputados. Nas 130 vezes em que o governo orientou votações este ano, 95% dos votos do PT acataram essa orientação, enquanto 76% dos votos do PSDB foram do contra. Petistas e tucanos têm, respectivamente, as maiores taxas de governismo e de oposicionismo entre 28 partidos. Em 12 anos de governos do PT, nunca o PSDB fez tanta oposição.

As diferenças vão além dos votos. São estruturais. Petistas e tucanos têm quase mais nada em comum, nem os amigos. Cotejando-se as contas dos parlamentares de uns e outros no Twitter, descobre-se que não há duas bancadas mais distantes do que as do PT e do PSDB. Das centenas de combinações possíveis, nenhuma tem menos pontos em comum do que a de tucanos versus petistas. Nem PSOL versus DEM. Não apenas não conversam, tampouco convivem.

Em 2012, quando o afastamento crescia mas ainda havia diálogo, o PSDB apoiou 188 candidatos a prefeito do PT, e o PT apoiou 155 candidatos a prefeito do PSDB. Em 2014, as cúpulas dos dois partidos certificaram-se de que petistas e tucanos não se coligassem em nenhuma eleição estadual. Foi inédito. O PT se coligou uma vez até ao DEM, e o PSDB, três vezes ao PC do B. No bacanal eleitoral, só petistas e tucanos não se conectaram.

Provocado por ambos os lados, o afastamento provou-se pior para o PT. O partido de Lula tem base social diferente dos demais. Voltando seu discurso apenas para ela, dissociou-se das outras legendas e concorreu para seu próprio isolamento. De novo, o Twitter: dos 18 maiores partidos da Câmara, os deputados do PSDB têm mais amigos em comum com 15. O PT, só com PSOL e PC do B.

Quando a maré da popularidade estava a seu favor, o confronto com o PSDB ajudou o PT a fixar-se no poder. A disputa política afirmava sua identidade. A economia em expansão bancava o apoio suplementar de que o partido precisava no Congresso. Na ressaca da opinião pública, porém, a simpatia postiça cai e a aliança comprada se desfaz. Tome-se o PMDB. Eduardo Cunha faz agora em público o que José Sarney fez em 2014 na solidão da urna, ao ser flagrado votando em Aécio Neves e não em Dilma Rousseff.

PSDB e PMDB não apenas têm a mesma origem histórica, como mantêm inserções sociais mais similares. Em comparação aos tucanos, os deputados petistas estão 64% mais distantes dos aliados do PMDB, quando se cotejam suas redes de amigos no Twitter. O mesmo acontece com outros partidos da volúvel base de Dilma no Congresso. Em comparação ao PSDB, o PT está 169% mais longe do PSD, 113% mais distante do PR, 58% do PRB e 42% do PDT.

Com a economia em baixa e os esquemas de financiamento eleitoral em xeque, sobra pouco para os petistas contornarem tantas diferenças. É nesse cenário que Dilma luta por seu mandato, e os candidatos a prefeito do PT buscarão alianças em 2016.

Valdo Cruz - Ilusões

- Folha de S. Paulo

O PT comemorou a redução da meta fiscal para quase zero neste ano. Nada mais equivocado. Deveria, em vez de celebrar, sentar no primeiro meio-fio e chorar.

Afinal, ao reduzir drasticamente sua economia para pagar a dívida pública, o chamado superavit primário, o governo jogou por terra seu plano de voo original: dois anos de ajuste fiscal e dois de crescimento.

A ideia era dedicar a primeira metade do segundo mandato a arrumar a casa. Feito o trabalho de consertar os erros cometidos por Dilma 1, os dois últimos anos seriam de colher os frutos e voltar a crescer.

Agora, o período de ajuste das contas públicas não vai durar dois, mas pelo menos três e, talvez, até quatro anos. De outro lado, não se fala mais em recessão apenas neste ano, mas também no próximo. O crescimento, fraco, só voltaria na segunda metade de Dilma 2.

De imediato, a guinada na política fiscal gera um cenário preocupante para a petista. Se era esperado para agosto um agravamento da crise política, agora a da economia pode piorar até um pouco antes.

O dólar disparou, a Bolsa despencou, os juros podem subir mais e o país está à beira de perder o selo de bom pagador das agências de classificação de risco. Uma mistura que, se não for revertida, é explosiva.

Claro que o mundo não acabou. Dilma, porém, tem de conter a crise política para melhorar o cenário econômico. Uma coisa puxa a outra, para o bem e para o mal.

Tudo somado, talvez seja educativo recordar de 2013. Lá, a popularidade presidencial também despencou na sequência dos protestos de rua. Recuperou-se graças a um desemprego baixo, economia em crescimento e dinheiro em caixa para bancar programas populares.

Hoje, com a imagem mais desgastada, Dilma não dispõe de tal arsenal, liquidado pelos erros cometidos no seu primeiro mandato. Enquanto isso, o PT segue na ilusão de que o Estado tudo pode. Socorro.

Marcos Nobre - A política em rota suicida

- Valor Econômico

• Não se sabe quem está no jogo e quem está fora

Por que o sistema político não se mexe, seja para que lado for? Por que está limitado à reprise de novelas mais do que conhecidas? Por uma razão bastante simples: porque ninguém sabe ao certo quem está no jogo e quem está fora dele. A fonte da incerteza vem da Operação Lava-Jato, que não permite razoavelmente prever quem vai para o paredão.

Enfim uma fonte de incerteza positiva, para variar. Só que o ineditismo traz também um problema novo. Em uma democracia, o direito impõe que se espere cinco, dez, quinze anos até uma decisão. Quando essa temporalidade longa do Judiciário domina, quando se torna a temporalidade de todo o sistema político, o sistema trava. Com a Lava-Jato, o tempo do Judiciário se tornou o tempo da política. Esse o nó da situação atual.

Em 2005, no mensalão, conhecia-se com razoável precisão o raio de abrangência das investigações. A crise política não afetou a economia. O tempo do Judiciário não se impôs como a temporalidade dominante. Mesmo tendo sido necessários mais de dois anos até a instauração da ação penal, mesmo decorridos mais de sete anos até o início do julgamento da ação.

Em 2015, a política, a economia e as ruas passaram a medir sua hora pelo relógio da Lava-Jato. E, até o momento, a operação chegou apenas parcialmente a instâncias superiores. Os procedimentos de leniência de empresas junto ao CADE e à CGU não param de se multiplicar. Indiciamentos, denúncias e mesmo condenações convivem com investigações que estão ainda em seus estágios iniciais. O caminho completo do conjunto de ações penais resultantes da operação deve ser ainda mais longo que o do mensalão.

O distintivo do momento atual é que nada mais bloqueia a visão, nem mesmo o ajuste fiscal de Sísifo que o sistema político produziu. A Lava-Jato domina, soberana e inconteste, a cena. Mas isso é também indício de que foi alcançado o limite de tolerância para que a política, a economia e as ruas continuem a se submeter à temporalidade do Judiciário. A instabilidade permanente que se vê é o produto direto de um choque estéril entre o tempo longo do Judiciário e o prazo curto dos interesses políticos imediatos.

A necessidade inadiável de uma estabilização do sistema ficou escancarada quando o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, anunciou seu rompimento com o governo. O aspecto racional de suas atitudes é o de alguém que advoga a necessidade da contenção e da limitação da Lava-Jato para que o sistema político volte a funcionar nos termos em que operou nos últimos vinte anos. Mas, até o momento, Eduardo Cunha não encontrou aliados de peso nessa estratégia de autoproteção radical.

Não apenas porque as investigações estão avançadas demais, tecnicamente impecáveis demais. Porque houve o julgamento do mensalão, em 2012. Porque parte significativa da energia de Junho de 2013 como que se transferiu para a Justiça Federal de Curitiba. Por tudo isso, em vista da impossibilidade de conter politicamente a Lava-Jato, cresce a probabilidade de que o impeachment se apresente como o último recurso dessa estratégia de autodefesa do sistema político.

O que apenas põe às claras o fato de que a bandeira do impeachment não passa de nova cortina de fumaça a encobrir o que realmente importa, que é, ontem como hoje, a Lava-Jato. Poderá conferir alguma sobrevida a peças hoje ameaçadas de exclusão imediata do tabuleiro, a começar por Eduardo Cunha. Mas não fará com que o sistema político recupere condição operacional, não afastará o domínio que a temporalidade do Judiciário adquiriu.

Porque o problema não é Dilma e sua popularidade de terceiro volume morto, mas a desorganização judicial do sistema político. As peças se mexem muito, mas sem qualquer estratégia identificável para além da autodefesa descoordenada. Conseguem apenas passar a impressão de que ainda estão no jogo, de que ainda não foram excluídas definitivamente. Giram em falso. E a situação tende a se arrastar assim pelo menos até que se tenha ideia do quadro geral de denunciados.

Seria razão de alento poder identificar nessa crise permanente o horizonte de uma reorganização em patamar superior do sistema político. Mas não há nenhuma indicação nesse sentido até agora, infelizmente. O máximo que se pode razoavelmente esperar nas condições atuais é uma estabilização que recuse tanto o caminho antidemocrático da contenção da Lava-Jato quanto a via diversionista do impeachment. Esse passo significaria a celebração de um pacto, explicitamente provisório, que pudesse permitir ao sistema político voltar a operar, mesmo que em nível de energia baixo. Um acordo cuja validade expiraria com a aceitação de todas as denúncias contra políticos no âmbito da Lava-Jato.

Um pacto assim não tem nada que ver com "governabilidade". A situação é muito mais grave que isso. O que está em causa não é um governo, mas o estabelecimento e a aceitação por parte das forças políticas mais importantes de um programa mínimo. Seus dois primeiros itens seriam necessariamente a garantia de que todas as dimensões da operação Lava-Jato serão esquadrinhadas com liberdade de ação e o compromisso de abrir mão do recurso ao impeachment.

É claro que as cláusulas de um compromisso como esse podem incluir itens de política econômica ou de proteção social, por exemplo, desde que possível e desejável. Mas o fundamental é garantir o retorno do tempo da política sem que isso prejudique o tempo da Lava-Jato. Só assim seria possível recompor minimamente a capacidade de negociação dos atores.

O dramático do momento atual é que, tomadas pelo pânico da exclusão do jogo ou pela expectativa de um benefício imediato com o aprofundamento da crise, as principais forças políticas seguem em rota suicida. Políticos não implicados na Lava-Jato aceitam o abraço de afogados que lhes é oferecido pelos futuros indiciados na operação. Seguem paralisados, limitando-se a reencenar as mímicas surradas dos últimos vinte anos. Como se nada tivesse mudado. Como se fosse uma mera crise de governo e não a crise sistêmica que ameaça o país.
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Marcos Nobre é professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap.

Almir Pazzianotto Pinto - Recessão, crise, impeachment

- O Estado de S. Paulo

Não faltaram advertências. A crise em que estamos envolvidos foi antecipada por vozes previdentes ao longo de mais de dez anos.

Anestesiada pelo discurso lulopetista, a Nação rola ladeira abaixo, embalada por mentiras que a levaram a se convencer da força mágica das palavras.

Para se desenvolver, enriquecer, subir de condição de vida, avançar escala social, bastaria, segundo o Partido dos Trabalhadores (PT), adotar o endividamento como estilo de vida. A economia subdesenvolvida ganharia corpo e solidez sem necessidade de trabalho persistente, mas à força de esbanjamento de dinheiro público, criação de ministérios inúteis, multiplicação de partidos e sindicatos, eleições de picaretas, propinas e trambiques, culminando com a exaltação da ignorância e do ridículo.

Os resultados estão aí, e será impossível revertê-los dentro do atual cenário político.
Quando a vontade popular pôs fim ao regime autoritário, e foi promulgada a sétima Constituição republicana, imaginava-se que teria início longo período de tranquilidade, segurança jurídica, zelo na administração da coisa pública. Não foi o que aconteceu. O Brasil está tão mal ou pior do que se achava em 1985. A esperança foi substituída pelo medo, a solidez da moeda, pela inflação.

Da trágica experiência com a longeva administração petista, os brasileiros, desejosos de redimir, devem retirar lições. A primeira é de que não conseguiremos nos aproximar do mundo desenvolvido em quatro, oito ou dez anos. Serão necessárias várias décadas, se nos revestirmos de coragem e começarmos já. A segunda lição é de que o povo deve identificar e repelir políticos demagogos, homens e mulheres levianos, viciados em mentir e em fazer promessas rapidamente abandonadas.

Destruídos na 2.ª Guerra Mundial, Japão e Alemanha converteram-se, em menos de cinco décadas, em duas das maiores potências mundiais, graças ao planejamento a longo prazo, perseverança, disciplina, muito trabalho e confiável Poder Judiciário.

Para se reconstruírem rapidamente, contaram com governos eficientes, gestores austeros, rigoroso controle do orçamento, economia nos gastos públicos, esforço incansável e poupança. Trataram de impedir a inflação, recuperaram o parque industrial, incentivaram a fabricação de produtos de elevado valor agregado, desenvolveram esforços no terreno da pesquisa tecnológica, empregaram o binômio qualidade e preço como instrumento de conquista de mercados.
O Brasil, cujas perdas materiais se limitaram a navios mercantes afundados por submarinos alemães, encerrou a guerra como credor dos Estados Unidos. Em poucos meses, as reservas haviam sido dilapidadas em aquisições inúteis.

O governo do presidente Juscelino Kubitschek destaca-se na história do desenvolvimento. Com o programa 50 anos em 5, a industrialização avançou graças à ousada implantação da indústria automobilística trazendo a expansão do setor de autopeças.

Em 2006, ao celebrar 50 anos de atividades, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotivos (Anfavea) editou caderno que relata a vitoriosa história iniciada em 1956 com o pequeno Romi-Isetta, produzido em Santa Bárbara d’Oeste, e o DKW Vemag, fabricado em galpão da Vila Formosa. Em 2007 atingiu-se a produção de 50 milhões de veículos, dos quais 10% destinados à exportação, com a geração de 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos. O segmento se tornou responsável por 15% do PIB industrial e 6% do PIB total. Alertava a Anfavea, no mesmo documento, sobre a necessidade de o Brasil decidir “o que quer da sua indústria automotiva nos próximos 50 anos”.

Passados 13 anos sob o comando do PT – o partido que iria inundar o mercado com ótimos empregos –, assiste-se hoje ao colapso de empresas, ao acúmulo de prejuízos, ao retorno da inflação, à classe operária condenada à ociosidade.

Indústrias pioneiras, mantenedoras de centenas de milhares de postos de trabalho, perderam mercado externo e sofrem a drástica redução do interno, sendo obrigadas a demitir ou a colocar em inatividade parcela dos funcionários.

Com a credibilidade reduzida a menos de 10%, a presidente Dilma Rousseff está inabilitada para empreender a recuperação econômica. Os esforços do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, revelam-se inúteis e são contestados dentro do governo. Aumentos de despesas e vencimentos, por lei ou decisões judiciais, eliminam as esperanças de se conseguir equilíbrio fiscal e impedir o ressurgimento da corrida inflacionária.

Do Partido dos Trabalhadores nada se deve esperar ou exigir. O fracasso de quem pretendia ser exemplo de eficiência e ética nos obriga a buscar alternativas de poder.

Excluídos os nanicos, restam poucas legendas em condições de derrotar o PT. Uma delas é o PSDB, prejudicado, entretanto, pela vocação elitista e por inexplicáveis rivalidades internas.
Sou avesso, porém, a soluções traumáticas e radicais como o impeachment. Jamais trarão bons resultados. Não haverá como afastar a acusação de golpe, tramado no Congresso com a cumplicidade de deputados e senadores de conduta duvidosa. Já nos bastam a deposição de Washington Luís em 1930, a derrubada de Vargas em 1945, o suicídio em 1954, a renúncia de Jânio em 1961, o movimento militar de 1964, a cassação de Fernando Collor em 1992.

No próximo ano teremos eleições em 5.570 municípios, como véspera da disputa presidencial de 2018. Aos partidos de oposição incumbe a tarefa de levá-las de vencida, para que a transferência da faixa presidencial, em 1.º de janeiro de 2019, ocorra conforme as regras democráticas, com pompa e circunstância, como sucede nos países desenvolvidos.
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Almir Pazzianotto Pinto é advogado, foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho

Marcus Pestana - Em defesa da política e da vida pública

- O Tempo (MG)

Tempos sombrios os nossos. Se não bastassem as históricas desigualdades sociais e a crise econômica profunda, o mundo político se afunda cada vez mais num lodaçal de corrupção, num pântano, no qual a ética não tem vez e a ideia republicana do espaço e do interesse públicos é invadida por objetivos menores e mesquinhos. A arte da política está nublada pelo pragmatismo cego e oportunista. O patrimonialismo, o clientelismo, o corporativismo e a falta de princípios parecem dominar a cena. A cada operação da Polícia Federal e do Ministério Público, a mancha da corrupção engolfa lideranças políticas e partidos.

A credibilidade das instituições políticas cai meteoricamente. Os homens públicos deveriam despertar respeito e admiração. Mas, hoje, os cidadãos em geral têm desconfiança, desprezo ou repulsa pela política. Lembro-me de como líderes da estatura de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Mário Covas e Teotônio Vilela despertavam na minha geração esperança e confiança. Eram atores movidos pelo compromisso com a nação e o povo. Suas condutas morais nunca foram colocadas em xeque. Como disse, certa vez, Tancredo: “Sempre que você transige em princípios, ganha um episódio, mas apenas um episódio. Perde em substância, e permanentemente”; e ainda: “Sou pragmático e conciliador na ação, mas inflexível em matéria de princípios”. Princípios, princípios... Uma palavra que parece meio fora de moda na vida pública brasileira.

Nos tempos de movimento estudantil e de luta contra a ditadura, minha geração imaginava mudar o mundo e o país pela política. Hoje, vemos referências daquela época mergulhadas em escândalos e pegas em traição aos sonhos de juventude na busca de enriquecimento pela via fácil da corrupção.

Como pedir às pessoas que acreditem na política como ferramenta de transformação? É possível recuperar a ideia de participação política como campo de exercício de valores, princípios, sonhos, utopias? É verdade que essa crise cultural não é privilégio brasileiro, mas a cada Lava Jato ou mensalão fica mais difícil ganhar as pessoas para a vida pública.

Mas não há alternativa. O caminho para a construção do futuro é a liberdade e a democracia. Isso pressupõe a existência de instituições, partidos, líderes, eleições, programas, objetivos, escolhas, esperança e fé. Afinal, como já nos alertava Aristóteles, “o homem, por natureza, é um animal político”. Temos que arbitrar nossos conflitos e escolher nossos caminhos coletivos. Estamos “condenados” à política e à participação. Fora disso, nos alertava Brecht, “nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem”.

É urgente recuperar a política para o interesse público e para a ética. Libertar a política da corrupção e da mediocridade. Acreditar no caráter humano, pois, como desafiou Lincoln, “se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”. É urgente recuperar a decência e a esperança. O poder como instrumento de mudança.
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Marcus Pestana é deputado federal (PSDB-MG)

Paulo Guedes - Da evolução à revolução

- O Globo

• O Executivo e o Congresso ignoraram a roubalheira; coube agora ao Poder Judiciário a iniciativa de conduzir nosso aperfeiçoamento institucional

As investigações da Operação Lava- Jato, como diria Hannah Arendt, “são imagens de um movimento irresistível, uma necessidade histórica cujas ondas colossais ergueram, arrastaram e depois tragaram seus atores”. Ou, como testemunhou Georg Foster em 1793 sobre a Revolução Francesa, “são majestosa corrente de lava que não poupa nada nem ninguém”. E, à medida que as averiguações se aproximam do ex- presidente Lula, poderíamos parafrasear Vergniaud, o grande orador da Gironda: é a redemocratização devorando seus próprios filhos.

A crise econômica e a crise política têm as mesmas e profundas raízes. A inflação crônica, os impostos excessivos, os juros astronômicos, o baixo crescimento, a corrupção sistêmica e a desmoralização da política são sintomas do esgotamento da agenda social- democrata e de sua obsolescência ante as necessárias reformas. Os legítimos gastos sociais de uma democracia emergente exigem reformas no aparelho de Estado moldado pelo Antigo Regime. Mas políticos despreparados em matéria econômica e economistas embriagados pela política acabaram promovendo uma bem brasileira simbiose entre a social- democracia hegemônica e o conservadorismo oportunista. Mantiveram- se na Nova República as engrenagens e a falta de transparência em troca do apoio das criaturas do pântano. A governabilidade lubrificada pela corrupção sistêmica é o testemunho dessa perversa aliança. Políticos corruptos, partidos mercenários, quadrilhas de correligionários e empreiteiras indicam que não apenas se ampliou a inclusão social dos mais pobres mas também a criminosa inclusão de grupos de interesse nos orçamentos públicos.

O Executivo e o Congresso ignoraram os sucessivos escândalos de corrupção e a desenfreada roubalheira por tempo demasiado. Como os ímpios papas renascentistas, perderam a iniciativa das reformas. Estão agora encurralados pelos fatos. Na falta de um processo evolucionário de mudança em sua agenda, coube agora ao Poder Judiciário deflagrar um processo revolucionário em busca de nosso aperfeiçoamento institucional. Pois não basta a legitimidade conferida pelas urnas. Exige- se também a legalidade das práticas políticas. Assistimos esperançosos ao fim de uma era de impunidade pela subserviência e cumplicidade entre os Poderes constituídos.

Denis Lerrer Rosenfield - A política, a economia e as instituições

- O Estado de S. Paulo

Algumas constatações se impõem. Na crise, o Brasil cada vez se afunda mais. A recente redução do superávit primário de 1,1% do PIB para 0,15% é o reconhecimento de que a mudança pretendida é muito mais difícil e demorada do que se pretendia inicialmente. Na verdade, a equipe econômica foi simplesmente incapaz de reduzir os gastos públicos, por causa do inchaço da máquina pública brasileira.

Ocorre que, nos últimos 13 anos, houve um aumento generalizado de gastos sociais, de atendimento a funcionários públicos, de infrutíferos gastos em educação com universidades de baixa qualidade pululando pelo País, além de créditos a estudantes incapazes de fazer uma redação, e assim por diante. Tudo, evidentemente, em nome do social, como se os recursos públicos fossem simplesmente ilimitados, bastava a tal da “vontade política”, que nos levou a este grande impasse e descontrole da economia em geral.

Tão pesado é esse fardo, essa herança maldita, que a agenda do governo consiste, paradoxalmente, na discussão sobre aumentos salariais, tendo como mote o despropositado aumento de funcionários do Judiciário em torno de 70%. Contudo, não é só isso. Discute-se a eliminação do fator previdenciário, podendo levar a uma quebra de uma Previdência já quebrada. Discute-se, também, o reajuste dos aposentados nos mesmos índices do aumento do salário mínimo, além da inflação. A política petista colhe os seus frutos.

Há um fato incontornável que salta aos olhos. A crise atual está mostrando que o Estado não cabe dentro de sua economia. Gasta mais do que arrecada e, mesmo assim, não consegue oferecer atendimento adequado em áreas tão necessárias como educação básica e saúde. De nada adiantam as bandeiras salariais e os tais de “direitos adquiridos”, pois um dia a realidade se impõe. E ela está se impondo. Pode-se protelar a situação, como a Grécia fez, mas um dia a conta terá de ser paga. Discursos esquerdistas não servem nem mais para o teatro, pois são curtos e de uma dramaticidade lamentável.

Ocorre que esta crise econômica tem também um forte componente político, que só parece se aprofundar, em vez de se encaminhar para o seu equacionamento. E o componente político se torna ainda mais problemático, tendo em vista que os seus atores estão sendo comprometidos em processos de tipo criminal. Ou seja, a crise econômica depende de uma crise política que, por sua vez, está atrelada a processos investigativos e criminais. A política diante dos tribunais

A crise política imobiliza atores e acirra conflitos por estes estarem envolvidos em ações penais e criminais. A política está sendo lida nas páginas policiais. Numa situação deste tipo, o seu desenlace termina por depender de investigações policiais e do Ministério Público e de seu julgamento pelos tribunais. Eis por que a crise econômica não tende a arrefecer, pois o seu desfecho se situa para além dela. O País está pego num círculo vicioso.

Inegavelmente, as instituições brasileiras nas esferas judiciária, policial e do Ministério Público estão agindo republicanamente, não se curvando a injunções políticas e partidárias. O País vive uma Operação Mãos Limpas. Alguns acreditavam que tal processo não iria se perpetuar e, em algum momento, os tribunais superiores, sob pressão política, iriam anular a Operação Lava Jato por questões processuais ou aliviar a situação dos grandes empreiteiros envolvidos via concessão de habeas corpus. Também sustentavam que os políticos de alto escalão seriam preservados.

Ora, sinalizações contrárias já vinham sendo dadas via não concessão de habeas corpus e o próprio Supremo já autorizou operações de busca e apreensão em escritórios e residências de senadores importantes. As instituições republicanas estão sendo fortalecidas, com forte apoio da opinião pública. O cerco está se estreitando.

Contudo, mesmo aqui, já há um sinal amarelo se acendendo, consistente numa interferência de tribunais e instâncias superiores neste trabalho, como se juízes, promotores e policiais tivessem chegado a seu limite. O ministro Ricardo Lewandowski suspendeu a análise de um processo da Lava Jato até que o juiz Sérgio Moro esclareça a citação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, por um réu envolvido numa delação premiada. Do ponto de vista jurídico, ele tem razão.

O perigo, porém, consiste em que não se trate apenas de um “esclarecimento”, mas de uma primeira trava à qual se seguiriam outras, dentre as quais a anulação do processo ou a liberação de prisão dos envolvidos. Seria a desmoralização completa do Judiciário, de consequências imprevisíveis.

O mesmo vale para a Corregedoria Nacional do Ministério Público, que acatou pedido do ex-presidente Lula ao instaurar um procedimento disciplinar para apurar a conduta de Valtan Timbó Mendes Furtado, procurador responsável por sua investigação criminal. Teria ele cometido a imprudência de investigar as relações do ex-presidente com a empreiteira Odebrecht, o que seria provavelmente um crime de lesa-majestade! A política está aqui também adentrando o trabalho independente das instituições, acendendo outro sinal amarelo.

Um impasse deste tipo, de múltiplas facetas e condicionantes, exigiria uma autoridade política capaz de desatar esses nós que se enosam entre si. Ora, a presidente está, por sua vez, enosada em si mesma, com discursos incongruentes e práticas de governar que se contradizem entre si, sem nenhum reconhecimento de seus erros passados.

Sua aprovação de ótimo/ bom de 7% perde para a inflação de 9%! Está praticamente isolada, além de ilhada em seu círculo íntimo. O momento exigiria uma atitude de estadista, voltada para um grande governo de união nacional. Se não mostrar competência e apetite para isso, o País continuará num processo de crises sucessivas de maior ou menor intensidade ou deverá ela encarar os fatos e renunciar, em nome do Brasil.

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Denis Lerrer Rosenfield é professor de filosofia na UFRGS.

O trabalho do ajuste – Editorial / Folha de S. Paulo

• Com taxa de desocupação crescendo, governo propõe plano que deve ajudar a mitigar impacto da crise sobre os trabalhadores

O mercado de trabalho no Brasil experimenta a súbita inversão da dinâmica positiva que vigorou nos últimos anos. Enquanto vagas são fechadas em ritmo recorde e caem os salários, mais pessoas em dificuldade buscam empregos, o que eleva a taxa de desocupação.

O governo não pode fazer muito diante dessas tendências. Em seu atual estágio, elas refletem o malogro do modelo implantado no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aprofundado pela presidente Dilma Rousseff (PT).

A economia seguirá seu curso, e a penúria das contas públicas restringiu a possibilidade de expansão de gastos e concessão de renovadas benesses oficiais.

Mesmo assim, há espaço para ações pontuais que ajudem trabalhadores e empresas a mitigar ao menos um pedaço dos ajustes mais dramáticos. O Programa de Proteção ao Emprego proposto no início do mês vai nessa direção.

O PPE permite redução de até 30% na jornada de trabalho e nos salários por no máximo um ano. Para participar, as empresas precisam mostrar que enfrentam uma crise (calculando perda de empregos nos últimos 12 meses). É necessário ainda que tenha sido esgotado o uso de banco de horas e férias.

As companhias devem aderir à iniciativa até o final do ano, celebrando acordo coletivo com os empregados; enquanto estiverem no programa, não poderão demitir.

O Fundo de Amparo ao Trabalhador arcará com metade da diferença salarial, limitada a compensação a R$ 900,84, ou 65% do maior valor do seguro-desemprego.

O governo calcula uma despesa de R$ 112 milhões em 2015 para preservar até 50 mil empregos. Levando-se em conta que, enquanto não houver demissões, não haverá desembolsos com o seguro, conclui-se que o custo é baixo.

Não haverá milagre, contudo. O país assiste ao maior ajuste em décadas. A pesquisa mensal de emprego (que abrange vagas formais e informais) divulgada pelo IBGE mostrou redução de 1,3% na população ocupada em junho, na comparação com o mesmo mês de 2014. Trata-se da maior queda da série histórica, iniciada em 2002.

A massa salarial acompanha o quadro e mostra redução de 4% desde junho do ano passado.

A piora das condições de vida de famílias de renda mais baixa pode ter efeito perverso: obrigar o retorno ao mercado de trabalho de grande contingente de jovens, que de outro modo poderiam estudar e se qualificar. Como sempre, os mais penalizados serão os mais pobres.

O resultado será o aumento acelerado da taxa de desemprego, que passou de 4,8% para 6,9% em apenas um ano –tanto mais grave, que tamanhas dificuldades terão de ser superadas num quadro de aprofundada crise política.

As habilidades de Dilma - Editorial / O Estado de S. Paulo

É preciso acabar de uma vez por todas com a lenda segundo a qual a presidente Dilma Rousseff enfrenta imensas dificuldades políticas porque não é afeita ao varejo das negociações com o Congresso e porque ela tampouco se anima a se expor aos eleitores em busca de popularidade. O desastre de sua presidência não resulta dessas características, e sim de sua incontestável incapacidade de diagnosticar os problemas do País e de ministrar-lhes os remédios adequados.

A esta altura, a maioria absoluta dos brasileiros, de todas as classes sociais, já se deu conta de que o problema de Dilma não é sua reclusão ou sua ojeriza aos políticos, mas simplesmente sua incompetência. Prometeram-lhes uma “gerentona” e lhes entregaram uma estagiária.

Portanto, tende a ser inútil a mais nova ofensiva de comunicação planejada pela assessoria da presidente com o objetivo de reverter o mau humor do País em relação ao governo petista. Inútil porque, enquanto se tenta mostrar uma Dilma mais “humana”, que é o que pretendem os marqueteiros do Planalto, conforme revelado em recente reportagem do Estado, os problemas concretos que resultam de sua má gestão continuarão a assombrar os brasileiros na vida real, especialmente o desemprego, a queda da renda e a inflação.

A mudança na comunicação de Dilma é tratada como questão de urgência urgentíssima, pois a pressão sobre a presidente é intensa. Estão programadas para o dia 16 de agosto manifestações que, a julgar pela pronunciada queda de popularidade da presidente, devem ter grande afluência e visibilidade. Além disso, crescem as suspeitas de que as falcatruas constatadas pela Operação Lava Jato podem ter ajudado a irrigar as campanhas eleitorais petistas, inclusive a de Dilma. 

E há também a percepção de que a irresponsabilidade fiscal da presidente ao longo de seu primeiro mandato, maquiada por truques contábeis, pode resultar em um processo que comprometa de vez o seu mandato. Tudo isso se dá em meio à certeza de que sua base no Congresso é apenas nominal, não representando nenhuma garantia de sustentação, especialmente em meio ao azedume da opinião pública nacional com o espantoso escândalo de corrupção na Petrobrás e com o desastre na economia.

Anuncia-se que o novo arsenal de comunicação de Dilma incluirá a participação da presidente em programas populares de TV e também a criação de um site chamado Dialoga Brasil, em que ministros responderão a dúvidas, sugestões e críticas dos internautas sobre programas do governo. Além disso, Dilma pretende fazer um giro por cidades do Nordeste com a difícil missão de tentar demonstrar que ainda tem popularidade – ela teve expressiva votação na região na eleição de 2014, mas mesmo lá, segundo as últimas pesquisas, a desaprovação a seu governo disparou.

As recentes tentativas de Dilma para melhorar sua imagem foram feitas a partir de iniciativas pessoais, com resultados embaraçosos – ela chegou a saudar a mandioca e a elogiar a “mulher sapiens” em um discurso. Além disso, ao dizer que defenderia seu mandato “com unhas e dentes”, Dilma trouxe o tema do impeachment definitivamente para a pauta política. Até os áulicos da presidente consideraram essas manifestações desastrosas.

Agora, porém, a mobilização do Planalto parece se dar de acordo com as diretrizes de seu padrinho, o ex-presidente Lula, que várias vezes cobrou de Dilma que viajasse mais pelo País e encostasse “a cabeça no ombro do povo” para ouvir suas queixas. Lula também pretende viajar pelo Nordeste e convencer os movimentos sociais a se mobilizar na defesa de sua afilhada. A estratégia para “vender” um governo ativo, com uma “agenda positiva”, foi combinada por Lula com Dilma em um encontro no Alvorada na semana passada, segundo o jornal O Globo.

Dilma, Lula e os petistas agarram-se assim à crença de que basta melhorar a comunicação com os eleitores para que esse combalido governo comece a respirar e a dar a volta por cima. De fato, a atividade política é baseada em imagem, marketing e slogans, mas, como mostram as agruras de Dilma, só isso não é suficiente: se a embalagem do produto vendido estiver vazia, o consumidor se sentirá enganado e não tornará a comprá-lo.