sexta-feira, 10 de julho de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves: Dilma fora da realidade

É absolutamente inacreditável a desconexão da presidente Dilma da realidade. A que ponto chegou a presidente da República! Mesmo saindo do Brasil, ela se sente acuada, perseguida pelos fatos e pela incerteza em relação ao seu próprio futuro. Não somos nós da oposição que vamos decidir o que vai acontecer. Não é obra nossa, a oposição não é golpista. Depende mais dela e do povo brasileiro. O que não podemos permitir é que a Justiça, o Ministério Público, a Polícia Federal e outras instituições sejam constrangidos por ações do seu governo.
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Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB, sobre as declarações de Dilma na Rússia. O Globo, 10 de julho de 2015,

Cardozo vai a CPI para poupar o PT e o governo

• Crise. Titular da Justiça é escalado para falar à comissão da Câmara porque petistas temem que ex-ministro José Dirceu e ministros Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social) exponham o partido e a Presidência ao serem confrontados pela oposição

Daiene Cardoso, Daniel Carvalho – O Estado de S. Paulo

Para poupar ministros mais próximos da presidente Dilma Rousseff e livrar da exposição o ex-ministro José Dirceu, o PT e o governo decidiram sacrificar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Com a anuência do Palácio do Planalto, Cardozo foi convocado a depor na CPI da Petrobrás, onde deverá dar explicações sobre a atuação da Polícia Federal na apuração do esquema de corrupção na estatal. Numa lista com 436 requerimentos protocolados, PMDB e PSDB queriam focar nas convocações dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), além de Cardozo e Dirceu. Também havia requerimentos disponíveis para votação contrários aos interesses do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas a oposição descartou convocá-lo ou quebrar seus sigilos, pelo menos por enquanto.

O Planalto rechaçava a convocação de Mercadante e Edinho porque isso simbolizaria a exposição direta da presidente Dilma Rousseff. Na avaliação do governo, os ministros também não teriam o que explicar à comissão porque desconhecem o conteúdo da delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC. O Palácio avisou à CPI que, se os ministros fossem chamados, outros nomes citados por Pessoa também teriam de entrar na lista. Cardozo, por sua vez, é visto como uma figura bem articulada e capaz de se sair bem no interrogatório dos parlamentares.

Portanto, se alguém teria de ir para o "sacrifício", o ministro da Justiça seria "um custo menor", avaliou o governo. O relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), disse acreditar que Cardozo se sairá "muito bem". A justificativa oficial para a convocação foi a de que o ministro falará sobre supostas escutas instaladas na cela do doleiro Alberto Youssef sem autorização da Justiça.

Ainda não foi definida data para o depoimento. A convocação ocorre num momento em que Cardozo sofre pressões internas de seu partido, o PT, por causa das investigações da PF. Conforme revelou o Estado, o partido chegou a convidar formalmente o ministro para prestar informações sobre suposto "descontrole" da Polícia Federal, mas, depois, a legenda voltou atrás.

Insatisfeitos com a condução dos trabalhos da Polícia Federal e, em especial, com a impossibilidade de Cardozo frear as investigações, os petistas não devem fazer o menor esforço para blindá-lo no depoimento. A expectativa é de que Cardozo defenda seus policiais e os rumos da Lava Jato, o que tende a irritar seus colegas de partido. A previsão é de que a oitiva do ministro ocorra em agosto. Se houver recesso branco, o depoimento pode ser neste mês.

"Não estou aqui nem para proteger nem para perseguir. O ministro Cardozo é preparado e não tenho dúvida nenhuma de que ele vai se sair muito bem e esclarecer os pontos que hoje mais da metade dos membros da CPI estão questionando quanto à legalidade ou não da operação", disse o relator. O ministro da Justiça foi consultado durante as negociações e informado de que em algum momento teria de falar à CPI sobre a condução das investigações da Operação Lava Jato.

"Não vejo nenhum problema em comparecer à CPI. Se eu puder colaborar de alguma forma para a elucidação dos fatos, eu o farei. Comparecer ao Parlamento é sempre uma honra para mim", disse Cardozo.

Preocupação. Além da salvaguarda a Mercadante e Edinho, os petistas queriam evitar, a qualquer custo, a convocação de Dirceu. A cúpula da CPI foi informada de que Dirceu está deprimido, desesperado com os desdobramentos das investigações e com medo de ser preso novamente. Alguns acreditam que, se for encarcerado mais um vez, o ex-ministro da Casa Civil de Lula não será capaz de se segurar, como fez no mensalão, porque já não acredita mais no projeto de poder do PT.

"Ele está desgovernado", relatou um integrante da CPI. Em recurso - agravo regimental - ao Tribunal Regional Federal da 4.a Região (TRE4), os advogados de Dirceu recorreram em busca de habeas corpus para evitar a prisão do ex-ministro. A defesa cita até o ex-presidente Lula no recurso. 

"Tamanho o receio que as pessoas se encontram, haja vista os métodos investigatórios ultimamente empregados pela Operação Lava Jato, que até mesmo o sr. ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva disse estar temeroso de que será, também, provavelmente, o próximo alvo da referida operação, não obstante sequer seja um dos investigados nos procedimentos."

O PMDB abriu mão de Mercadante e Edinho, mas os tucanos queriam Dirceu. Tanto que a convocação do ex-ministro foi colocada como primeiro item da pauta de votações para evitar manobras. Segundo relatos, Luiz Sérgio apelou para que Dirceu fosse poupado.

Lista aprovada na comissão inclui Marcelo Odebrecht

- O Estado de S. Paulo

Em uma votação rápida, foram aprovados ontem na CPI da Petrobrás 79 requerimentos. A lista de convocações inclui o empreiteiro Marcelo Odebrecht, preso desde o último dia 19 em Curitiba. Também constam dela o executivo da Toyo Setal Júlio Camargo, o executivo da Andrade Guderrez Otávio Azevedo, o policial Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro Mário Negromonte, e Rafael Ângulo Lopez responsável pelo "cofre" do doleiro Alberto Youssef.

Outros executivos foram incluídos: J.W.Kirn, presidente da Samsung no Brasil, e Shinji Tsuchiya, da Mitsui. A lista apresentada pelo relator, Luiz Sérgio (PT-RJ) não poupou nem a advogada Beatriz Catta Preta, defensora de alguns dos investigados que fizeram delação premiada, entre eles o ex-gerente de Serviços da Petrobrás Pedro Barusco. Nesta semana, Beatriz conseguiu com que o Supremo Tribunal Federal suspendesse as acareações de Barusco.

"A advogada tem uma desenvoltura muito grande e, de uma forma ou de outra, o trabalho da CPI às vezes não evolui por conta de ações profissionais dela. É preciso que se façam alguns esclarecimentos", justificou o vice-presidente da CPI, Antonio Imbassahy (PSDB-BA). Ao negar retaliação à advogada, o presidente da comissão, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), disse que é preciso deixar claro de onde vem o dinheiro pago a Beatriz, já que seus clientes são pessoas que confessaram ter desviado verba pública.

"Ela vem justamente para explicar de onde está recebendo seus honorários e como está fazendo para receber dessas pessoas que, perante à lei e à Justiça, devolveram tudo o que foi desviado", disse Motta. Também foram convocados os delegados federais Maurício Daniele Rodrigues, Igor Romário de Paula e Márcio Anselmo. Os deputados querem saber detalhes da sindicância sobre escutas clandestinas encontradas na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Entre as acareações aprovadas estão as que confrontam executivo Augusto Mendonça, o ex-diretor da Petrobrás Renato Duque e o ex-tesoureiro d.o PT João Vaccari Neto. Em votação separada, foram. aprovadas mais uma vez as quebras dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático de parentes de Youssef - as filhas, Taminy e Kemelly, a mulher, Joana Darc, e a irmã, Olga.

E-mails mostram poder da Odebrecht na Petrobras

Jogo de cena

• E-mails revelam influência da Odebrecht na Petrobras e até um "teatro" para Lula em obra

Cleide Carvalho, Germano Oliveira e Renato Onofre - O Globo

SÃO PAULO e RIO - A íntegra de um relatório da Polícia Federal, anexado esta semana a um dos inquéritos da Operação Lava-Jato que investigam a Construtora Norberto Odebrecht, comprova declarações de delatores de que a maior empreiteira do país tinha acesso a informações privilegiadas da Petrobras e o poder de influenciar licitações da estatal. É o que mostra o objeto principal do relatório: uma série de e-mails trocados entre diretores da empreiteira com relatos sobre encontros com dirigentes da estatal para tratar de concorrências e contratos.

Em pelo menos duas mensagens de 2007, recuperadas pela Polícia Federal, Rogério Araújo, então diretor da Odebrecht Plantas Industriais e que hoje é um dos presos da Lava-Jato, traça uma estratégia para a participação da empreiteira na licitação para as obras de terraplanagem da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a partir de informações que teria obtido de "interlocutores" na estatal sobre o "orçamento interno" do projeto. O GLOBO cruzou o conteúdo das mensagens com a cronologia da contratação do serviço: naquele momento, o "orçamento interno" era uma informação confidencial da Petrobras. A obtenção desse dado permite às concorrentes fraudar a competição.

A concorrência para as obras de terraplanagem do terreno onde foi instalada a refinaria foi aprovada pela diretoria da Petrobras no dia 3 de maio de 2007, de acordo com documentos internos da estatal obtidos pelo GLOBO. No dia 10 de maio, a companhia convidou dez participantes. Pouco mais de um mês depois, no dia 18 de junho, Araújo enviou um e-mail para outros dois executivos da empreiteira relatando saber que o orçamento interno da Petrobras ficaria entre R$ 150 milhões e R$ 180 milhões. Segundo a reprodução das mensagens no relatório da PF, ele diz ter falado com "interlocutores" e avisa que "Engenharia" já trabalhava na revisão do orçamento, como queria a Odebrecht. "A revisão do orçamento vai indicar um novo número, acima dos indicados acima", antecipa. No texto, ele ainda registra que o valor só seria tornado público com a abertura das propostas dos concorrentes, que aconteceria quatro dias depois.

No dia 22 de junho, a Petrobras recebeu cinco propostas. A menor foi justamente a do consórcio liderado pela Odebrecht (com Camargo Corrêa, Galvão Engenharia e Queiroz Galvão, todas investigadas na Lava-Jato), de R$ 433,5 milhões. O preço ficou bem próximo ao intervalo de preços estimado pela Petrobras, observa a PF. Segundo documento da diretoria da Petrobras, que aprovou a contratação do consórcio em 12 de julho de 2007, o valor ficou apenas 5,32% abaixo do que o diretor da Odebrecht chamava de "orçamento interno" da estatal. Depois de uma nova negociação, o desconto aumentou para 6,27%. Araújo, ao que parece, logrou êxito. De fato, o valor estimado pela estatal para o projeto, revelado quatro dias depois da troca de mensagens na Odebrecht, foi maior do que o dobro dos R$ 180 milhões citados pelo diretor da empreiteira como uma cifra "que obviamente não dá".

"Teatro" para Lula
O fácil acesso a informações da Petrobras fica claro em um outro e-mail de Araújo, sobre uma cerimônia simbólica do início do contrato no terreno onde seria construída a refinaria, em Pernambuco, com a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Araújo explica que a assinatura do contrato se daria no Rio, mas que seria preciso criar um cenário de obra em andamento para Lula, em meio a tratores e máquinas. "Vai haver uma solenidade no Recife, no dia 16 de agosto, para dar início aos serviços de terraplenagem, com a presença do presidente Lula. Neste dia, teremos que ter alguns equipamentos já mobilizados, para fazer parte do "teatro"!"

A cena montada pela Odebrecht ainda atrasou 19 dias. Só no dia 4 de setembro, o então presidente Lula discursou sob intensa chuva no palanque montado pela construtora ao lado do então presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Animado pelo gigantismo da refinaria, Lula comparou o empreendimento à construção da Muralha da China. "Temos uma verdadeira muralha da China para construir e vamos construir", prometeu. A Refinaria Abreu e Lima só iniciou operação em 2014 e custou pelo menos sete vezes o valor orçado inicialmente pela estatal. Laudo da PF sobre o contrato de terraplanagem detectou um sobrepreço de R$ 106,1 milhões no contrato de compactação de aterro. Só o custo do metro cúbico compactado de solo pulou de R$ 2,70 para R$ 6,37 sem justificativa plausível.

O relatório da PF tem outras trocas de mensagens com indícios de que a influência da Odebrecht alcançava até negócios da Petrobras no exterior. Em um e-mail de 2008, Araújo cita a intervenção do então diretor Internacional da Petrobras Jorge Zelada (preso na semana passada) e de Ricardo Abi-Ramia, que foi gerente executivo de Desenvolvimento de Negócios da área Internacional para falar com Hércules Ferreira da Silva, ex-gerente da Petrobras Angola. No fim daquele ano, a empreiteira foi contratada para fazer o acesso à refinaria Sonaref, na cidade de Lobito, em Angola. (Colaboraram Alexandre Rodrigues e Danielle Nogueira)

'Não há barco, estamos na mesma canoa', diz Temer sobre governo

Leonêncio Nossa, enviado especial - O Estado de S. Paulo

• Presidente da República em exercício durante a viagem de Dilma ao exterior minimizou a crise e reiterou seu apoio à presidente

DOURADOS - O vice-presidente Michel Temer, no exercício da Presidência da República, disse nesta quinta-feira, 9, ao ser questionado se o PMDB poderia abandonar o barco que "não há barco, estamos na mesma canoa".

Além de minimizar o momento de crise vivido pelo governo, Temer reiterou que ele e o PMDB vão estar sempre ao lado de Dilma. "A presidente vai continuar até o final com toda tranquilidade. O PDMB é um aliado, eu sou do partido, que naturalmente está colaborando com a presidente Dilma e o País", afirmou.

Em visita a Dourados, Mato Grosso do Sul, o presidente em exercício conheceu as instalações do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) numa brigada do Exército na cidade. Políticos do Estado, especialmente do PMDB e do PSDB, também correram para participar da visita.

Temer disse que até esta manhã não estava certo se os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Comunicação Social, Edinho Silva, seriam convocados para depor na CPI da Petrobrás, conduzida na Câmara dos Deputados. "Eu não sei se serão convocados", disse. Ele ressaltou, no entanto, que o "governo adotará transparência absoluta" em torno dos desdobramentos da citação dos nomes de Mercadante e Edinho pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, em processo de delação premiada.

Oficiais militares que participaram do evento e mostraram as instalações do Sisfron para Temer reclamavam, em conversas reservadas com jornalistas, do contingenciamento orçamentário determinado pela equipe econômica, que atingiu as Forças Armadas e especialmente o programa de monitoramento das fronteiras. Dos R$ 12 bilhões previstos para orçamento do sistema, foram executados até agora R$ 1,4 bilhão em quatro anos de programa.

O comandante militar do Oeste, general de Exército Paulo Humberto, minimizou o problema.

Ele disse que as metas do programa continuam em vigor. "O corte impacta, mas foi apenas neste ano. Cortamos apenas gorduras que podemos perder". Teoricamente o contingenciamento deste ano aumentaria a previsão da conclusão dos investimentos para mais cinco anos. O general, porém, ressalta que o programa passou por revisões e ajustes que garantem a manutenção do prazo de conclusão, que é 2021.

'Quem é golpista mostra na prática as tentativas', diz Dilma sobre Aécio

Leandro Colon, enviado especial – Folha de S. Paulo

UFÁ (RÚSSIA - A presidente Dilma Rousseff rebateu nesta quinta-feira (9) a acusação da oposição de que, em entrevista à Folha, tentou inibir os tribunais que investigam contas do seu governo e da campanha à reeleição.

"Em momento algum da minha entrevista eu passei por cima de nenhuma instituição. Nem o TCU [Tribunal de Contas da União] ainda deu um parecer definitivo sobre minhas contas. Eles abriram a oportunidade de nos explicar e vamos nos explicar bem explicado, e a mesma coisa o TSE [Tribunal Superior Eleitoral]", afirmou aos jornalistas brasileiros após participar da cúpula dos Brics, na cidade russa de Ufá.

Na terça (7), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que o PT tinha o discurso por, segundo ele, não "reconhecer os instrumentos se fiscalização", no caso, os tribunais.

Foi uma resposta à declaração de Dilma, na entrevista, de que alguns de seus opositores têm comportamento "golpista", sem identificá-los.

Nesta quinta, na Rússia, a presidente mencionou o senador tucano, chamando-o ironicamente de "senhor", afirmando que os adversários adotaram discurso de que os tribunais já teriam tomado uma decisão.

"Quem coloca como já tendo tido uma decisão está cometendo um desserviço para a instituição, para o TCU e o TSE, porque não há nenhum garantia que qualquer senador da República, muito menos o senhor Aécio Neves, possa prejulgar quem quer que seja ou definir o que uma instituição vai fazer ou não", disse Dilma.

"A gente não fica discutindo quem é quem e não é golpista. Quem é golpista mostra na prática as tentativas, que começa, por isso: prejulgar uma instituição", ressaltou a presidente.

"Respeitar a institucionalidade começa por respeitar as instituições, respeitar as suas decisões e seu caráter autônomo, soberano e independente", ressaltou. "O futuro é algo que ninguém controla, nem eu nem ninguém."

Nesta quinta (9), o ex-presidente Lula também usou o termo 'golpista' em seu Facebook. "Hoje, vivemos o período de maior solidez da nossa democracia desde a proclamação da República. [...] Por isso, não há espaço para retrocesso: o tempo do golpismo passou para nunca mais", escreveu.

Cenário de crise
Dilma responde a processos no TCU e no TSE que colocam seu mandato em xeque.

O Tribunal de Contas apontou irregularidades nas contas do governo em 2014. Entre elas estão as chamadas "pedaladas" fiscais, que permitiram ao governo segurar despesas com ajuda dos bancos públicos que pagam, por meio de transferências, programas sociais como o Bolsa Família.

O julgamento das contas está previsto para agosto e a perspectiva no Planalto é que a corte as rejeite.

Nesse caso, o TCU pode determinar correções para as irregularidades e punições para funcionários envolvidos nas operações, mas não para a presidente da República, cuja avaliação ficaria com o Congresso, que pode aprovar ou não o parecer do TCU sobre o caso.

Além do TCU, o governo enfrenta outra batalha jurídica. A expectativa é que o TSE também julgue em agosto ações movidas pela oposição.

O PSDB acusa a campanha petista de abuso de poder político e econômico por ter sido financiada com dinheiro de corrupção, o que tornaria a eleição da petista "ilegítima".

Um depoimento considerado decisivo para o caso é do dono da UTC, Ricardo Pessoa, que fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público. Ele será ouvido na próxima semana.

No acordo de colaboração, o empreiteiro disse que doou legalmente R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma por temer prejuízos em seus negócios com a estatal. O PT nega.

Dilma rebate Aécio e diz que não ‘passou por cima’ de nenhuma instituição

• Na Rússia, presidente ressalta que TCU ainda não deu parecer definitivo sobre as contas do governo

Fernando Eichenberg, enviado especial – O Globo

UFÁ (RÚSSIA) - A presidente Dilma Rousseff rebateu nesta quinta-feira o senador Aécio Neves (PSDB-MG). No Congresso, o tucano havia dito na última terça-feira que o‘discurso do golpe’ de Dilma contra o governo faz parte de uma estratégia para inibir instituições, como o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Da Rússia, onde participa do VII Cúpula dos Brics, a presidente respondeu o adversário:

- Não há nenhuma garantia para que qualquer senador da República, muito menos o senhor Aécio Neves, possa prejulgar quem quer que seja, possa definir o que uma instituição vai fazer ou não. Respeitar a institucionalidade começa por respeitar as instituições, por respeitar suas decisões e o seu caráter autônomo, soberano e independente. A gente não fica discutindo quem é e quem não é golpista. Quem é golpista mostra na prática as suas tentativas, que começam por isso: prejulgar uma instituição. Não há dentro nem do TCU, nem do TSE, a possibilidade de dizer qual será a decisão. Até porque o futuro é algo que ninguém controla. Nem eu, nem ninguém - disse ela, em entrevista coletiva à imprensa brasileira no encerramento da cúpula.

Segundo Dilma, o TCU ainda não deu um parecer definitivo sobre as contas do governo. Por isso, segundo a presidente, “é estranho” que a prejulguem.

- A verdade é a seguinte: em momento algum da minha entrevista (para o jornal “Folha de S.Paulo) eu passei por cima de nenhuma instituição. O TCU ainda nem deu um parecer definitivo sobre as minhas contas. Eles abriram a possibilidade de nós nos explicarmos, e nós vamos nos explicar bem explicado. A mesma coisa o TSE. Eu não passei por cima de nenhuma instituição. Nenhuma instituição se pronunciou. Nesse sentido é estranho que prejulguem. Estranho que se trate como se tivesse havido uma decisão, quando não houve decisão alguma. Acho também que é importante que a imprensa esclareça isso: que instituição que você passa por cima quando não há decisão? Não tem como discutir uma decisão que não houve e não tem como prejulgar, posto que não se sabe qual será a decisão dessa instituição. Ao contrário, quem coloca como já tendo tido uma decisão está cometendo, eu acho, um desserviço para a instituição, para o TCU e para o TSE - declarou.

Em entrevista, Dilma afirmou que não vai renunciar ao mandato porque não tem nenhuma culpa sobre os desvios de dinheiro na Petrobras e que enxerga uma "oposição um tanto quanto golpista" quando se diz que ela não concluirá seu mandato.

Sobre os rumores de que estaria “chateada” com o ministro da Economia, Joaquim Levy, foi irônica;

- Eu, não. Por quê? Quem disse isso? - indagou.

Diante da resposta de que “foram os jornais”, disparou:

- Mas vocês ainda acreditam em jornal? Vocês são interessantes, criam um problema que não existe, e aí querem que eu fale sobre ele. Isso é mentira. Não é verdade. Pergunte para ele se é verdade. Ele inclusive foi comigo para os EUA doente.

Aécio diz que Dilma está fora da realidade e a desafia a provar acusações

• Na Rússia, a presidente disse que não há nenhuma garantia para que o senador tucano prejulgue ações do TCU e TSE

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA - Em resposta às declarações de Dilma Rousseff nesta quinta-feira na Rússia, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), acusou-a de faltar com a verdade na frente de outros chefes de Estado e a desafiou a provar que ele, como presidente do PSDB, tenha dado qualquer declaração que não fosse de respeito à Constituição e soberania das instituições. Aécio repetiu várias vezes que Dilma está fora de si e que é preciso ter serenidade e concentrar forças para se defender das inúmeras acusações que ela e o PT enfrentam no Ministério Público, Justiça Eleitoral e Tribunal de Contas da União (TCU).

— É absolutamente inacreditável a desconexão da presidente Dilma da realidade. A que ponto chegou a presidente da República! Mesmo saindo do Brasil, ela se sente acuada, perseguida pelos fatos e pela incerteza em relação ao seu próprio futuro. Não somos nós da oposição que vamos decidir o que vai acontecer. Não é obra nossa, a oposição não é golpista. Depende mais dela e do povo brasileiro. O que não podemos permitir é que a Justiça, o Ministério Público, a Polícia Federal e outras instituições sejam constrangidos por ações do seu governo — rebateu Aécio.

O tucano disse que talvez a saída menos traumática fosse que Dilma cumprisse seu mandato até o fim, mas os fatos que se sucedem é que geram uma enorme incerteza. Aécio começou o discurso da tribuna do Senado dizendo que a presidente tinha usado a reunião dos BRICs, na Rússia, para brindá-lo com considerações “mais uma vez fora da realidade”. Disse que num momento de crise, quando o Brasil precisa de uma integração maior com aqueles países, o que se viu “mais uma vez” foi a presidente do Brasil num comportamento distante dos interesses do país.

— Vou tentar traduzir, porque nem sempre á fácil entender — começou Aécio, ao ler as declarações de Dilma, em que ela diz que ele nem nenhum senador pode prejulgar o que vai decidir o TCU ou TSE em relação as suas contas e acusações de que sua campanha foi beneficiada por recursos do petrolão.

— Não fizemos aqui prejulgamentos. O que disse é que ninguém nesse país, inclusive a presidente da República, está acima das instituições. Por isso cumpriremos nosso papel constitucional de garantir que, apesar do desastre do seu governo, o Brasil possa se reencontrar com o seu futuro — disse Aécio.

Acusando Dilma de tentar buscar “factóides” sobre o que não é verdadeiro, Aécio repetiu o teor de seus discursos dos últimos dias - chamados de tentativa de golpe pelos governistas - em que destaca a necessidade de que todos sejam guardiões da Constituição e das instituições.

— Eu tenho dito em todos os momentos: vamos permitir que o TCU e o TSE cumpram a sua função constitucional, que pode aprovar ou reprovar, não há julgamento feito ainda. Por outro lado, que o TSE e o TCU, cumprindo seu papel de guardiães da Constituição — disse Aécio, lembrando que deputados da bancada do PT disseram que a Polícia Federal tem de se submeter ao governo, que tem os votos.

Aécio enumerou casos em que instituições como o IBGE e Ipea foram obrigados a esconder dados negativos sobre aumento da miséria extrema durante a campanha de 2014, para não contrariar ordens do governo, sob alegação de que contrariam a legislação eleitoral.

— O depoimento de dirigentes do Ipea e IBGE provam aquela máxima de que na eleição fariam o diabo, inclusive escamotear dados oficiais mostrando o aumento da pobreza extrema. Naquele momento a população foi impedida de saber disso — disse Aécio.

O presidente do PSDB disse que Dilma perdeu a oportunidade, hoje, de comentar lá na Rússia o bloqueio dos bens de 20 dirigentes do fundo de pensão Postalis nomeados por ela; da taxa de desemprego de 8,1% a maior da Pnud continua divulgada hoje ; e que 50% das empresas brasileiras estão demitindo.

— È disso que a presidente Dilma deveria falar. Olhar para os brasileiros e dizer que falhou. É triste ver a presidente, diante de outros chefes de estado, faltando com a verdade — completou.


Falando na tribuna logo após o discurso de Aécio, o líder do PT, senador Humberto Costa (PE) avisou que não trataria do tema do discurso e sim do sucesso do programa Mais Médicos.

— Não vou falar desse tema porque já tratei aqui do golpismo. Mas demonstram que o golpe foi sentido e precisam agora ficar justificando que não pregam golpismo — disse Humberto Costa.

— Fale senador Humberto! Não fuja do debate — desafiou o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PE), mas Costa encerrou o assunto.

Aécio desafia Dilma a provar que teve atitude golpista

Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

• Senador tucano volta a rebater a presidente e diz que não deseja mal para ela

BRASÍLIA - O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), respondeu a presidente Dilma Rousseff e a desafiou a demonstrar quando ele teve alguma atitude golpista ao defender as investigações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Tribunal de Contas da União (TCU) que podem, em caso de condenação, levá-la a deixar do cargo. Nesta quinta-feira, 9, em Ufá, na Rússia, Dilma disse que golpista "é quem prejulga" e não respeita as instituições, em referência ao tucano.

"Desafio a presidente da República demonstrar em que instante, eu, como presidente do PSDB, dei qualquer declaração de desrespeito à Constituição e à soberania das instituições", cobrou Aécio, da tribuna do Senado. Para ele, a petista busca criar um factoide de algo que não é real.

O tucano citou discurso feito por ele nessa quarta, 8, para afirmar que ainda não há um julgamento do TCU sobre as contas do governo de 2014. Esse julgamento poderá levar à reprovação das contas, abrindo caminho para a abertura de um eventual processo de impeachment contra a presidente no Congresso.

"É absolutamente inacreditável a desconexão da presidente Dilma com a realidade", afirmou ele, dizendo estar preocupado com a "instabilidade" da presidente. "Não permitiremos é que instituições de Estado sejam constrangidas por ação do governo", completou.

Aécio disse que não deseja mal a presidente, de forma alguma. Mas, destacou, os fatos que se sucedem geram grande incerteza. Segundo ele, Dilma deveria falar que "errou, fracassou e falhou" na condução de uma série de questões, como o controle da inflação e do desemprego.

"Isso não é obra da oposição, a oposição não é golpista", rebateu. Em convenção do PSDB no domingo em que foi reconduzido à presidência da sigla, o partido defendeu abertamente o afastamento da presidente e a realização de novas eleições.

O tucano disse que Dilma terá a oportunidade de se defender no TSE e no TCU e destacou que ninguém, nem a presidente da República, está acima das instituições. Ele afirmou que não há qualquer tentativa da oposição de fazer um prejulgamento.

"Quero repelir, de forma mais veemente, as insinuações da presidente da República", disse. "Economize as suas energias com a oposição. Concentre suas forças e energias para se defender sobre as inúmeras denúncias que recaem sobre Vossa Excelência e seu partido", afirmou.

Contas de Dilma: politização preocupa TCU

• Ministros temem que julgamento seja contaminado pelo debate sobre o golpismo, que continuou ontem

Fernanda Krakovics e Fernando Eichenberg – O Globo

BRASÍLIA e UFÁ (RÚSSIA) - Prestes a julgar as contas de 2014 do governo Dilma Rousseff, os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) estão preocupados com a politização do julgamento, diante da possibilidade de verem a decisão ser usada para embasar um pedido de impeachment da presidente. Esse incômodo foi tema de reunião entre seis dos nove ministros do tribunal anteontem.

Há desconforto entre os ministros com declarações do relator, Augusto Nardes. Na última terça, Nardes disse que "não existe golpe nenhum" e que "as instituições têm de funcionar e ser fortes", reação à entrevista de Dilma ao jornal "Folha de S. Paulo".

Participaram da conversa anteontem os ministros Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro, Benjamin Zymler, José Múcio, Bruno Dantas e Vital do Rêgo.

O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, percorreu gabinetes do TCU esta semana para adiantar a defesa do governo, que será oficialmente entregue dia 22. Na última segunda, o Planalto iniciou ofensiva política para tentar mudar o clima desfavorável no TCU. Adams e Nelson Barbosa (Planejamento) apresentaram a defesa de Dilma aos líderes e presidentes de partidos aliados, em reunião no Alvorada com a presença de Dilma. Desde então, têm ido ao Congresso conversar com outros deputados e senadores.

Ministros do TCU afirmam que é importante para o tribunal que a decisão sobre as contas de 2014 seja unânime. Essas conversas para tentar chegar a um consenso vão ocorrer depois que o governo entregar sua defesa. Ministros da Corte têm dito que não vão aceitar "distribuição de responsabilidades" pelas "pedaladas fiscais", ou seja, atribuição da culpa a assessores como o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin. Segundo eles, quem responde por irregularidades é Dilma.

Para tentar evitar que o TCU rejeite suas contas de 2014, a Dilma vai sustentar que manobras como as "pedaladas fiscais" e a decisão de não cortar despesas foram motivadas por piora da situação econômica do país. O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse que a decisão de represar repasses de verbas a bancos oficiais foi uma "anomalia das flutuações econômicas.

Golpismo ainda em debate
Ontem, continuou intenso o debate entre governo e oposição sobre de quem está partindo o golpismo. Em Ufá, na Rússia, Dilma respondeu a declarações do senador Aécio Neves (PSDB-MG) de que afirmações anteriores dela tinham o objetivo de inibir investigações do TCU e do TSE.

- A gente não fica discutindo quem é e quem não é golpista. Quem é golpista mostra na prática suas tentativas, que começam por isso: prejulgar uma instituição. Não há dentro nem do TCU, nem do TSE a possibilidade de dizer qual será a decisão. Até porque o futuro é algo que ninguém controla. Nem eu, nem ninguém - disse Dilma.

Ela explicou que o TCU ainda não deu decisão definitiva sobre as contas de seu governo:

- Eles abriram a possibilidade de nós nos explicarmos, e vamos nos explicar bem explicado. A mesma coisa com o TSE. Não passei por cima de nenhuma instituição. Nenhuma instituição se pronunciou. Neste sentido, é estranho que prejulguem. Estranho que tratem como se já tivesse havido decisão, quando não houve.

Aécio, então, acusou Dilma de faltar com a verdade na frente de outros chefes de Estado e a desafiou a provar que ele deu qualquer declaração que não fosse de respeito à Constituição e à soberania das instituições.

- Mesmo saindo do Brasil, ela se sente acuada, perseguida pelos fatos e pela incerteza em relação ao seu próprio futuro. O que não podemos permitir é que a Justiça, o Ministério Público, a Polícia Federal e outras instituições sejam constrangidas por ações do seu governo. Não fizemos prejulgamentos.

Em Dourados (MS), o vice Michel Temer disse que Dilma concluirá o mandato:

- Não precisa segurar a presidente Dilma, ela não cai. Tem capacidade de trabalho, e somos aliados - afirmou Temer.

O ex-presidente Lula saiu em defesa do governo ao dizer no Facebook que "não há espaço para retrocesso: o tempo do golpismo passou para nunca mais". "Hoje, vivemos o período de maior solidez da nossa democracia desde a proclamação da República. O acúmulo das lutas do povo brasileiro forjou as bases de um país mais rico, menos desigual e consciente de seu potencial. Por isso, não há espaço para retrocesso: o tempo do golpismo passou para nunca mais" afirma Lula, em sua nota. (Colaborou Maria Lima)

Câmara aprova restrições a doações privadas e nanicos

Daniel Carvalho, Ricardo Della Colecta – O Estado de S. Paulo

A Câmara aprovou ontem novas regras eleitorais que restringem doações de empreiteiras e enxugam as campanhas e seus gastos. Os partidos pequenos reclamam que as medidas dificultam a renovação política. O texto-base do projeto de lei foi avalizado em votação simbólica e ainda está sujeito a mudanças. As novas regras só passam a valer depois de aprovadas pelo Senado e sancionadas pela presidente Dilma Rousseff. O texto aprovado ontem pelos deputados mantém a regra atual de que cada empresa pode doar no máximo o equivalente a 24% do faturamento bruto no ano anterior ao do pleito. No entanto, as novas regras fixam teto de R$ 20 milhões.

Somadas todas as suas doações, uma empresa não pode doar mais de 0,5% do faturamento bruto para um mesmo partido. Na versão inicial do texto apresentado pelo relator do projeto, Rodrigo Maia (DEM-RJ), empresas fornecedoras e prestadoras de serviços ao poder público não poderiam fazer doações a campanhas na circunscrição em que vigoram seus contratos. Pressionado por outros deputados, Maia restringiu a limitação a empresas que realizam obras. Ou seja, se uma empreiteira realizasse uma obra para a Prefeitura de São Paulo, por exemplo, ela não poderia contribuir com campanhas na capital paulista.

Mas a restrição não se estenderia a uma fornecedora de alimentos. Nosso objetivo efetivo é dar uma resposta a tudo o que vem ocorrendo no Brasil em relação à Lava Jato", disse Maia. A empresa que descumprir a regra estará sujeita a uma multa equivalente a cinco vezes o valor excedente. A empresa também fica impedida de participar de licitações e celebrar contratos com o poder público por cinco anos, por determinação da Justiça Eleitoral.

Maia estabeleceu ainda que um candidato a deputado federal não poderá ultrapassar o limite de gastos de 65% das despesas realizadas pela campanha mais cara da eleição anterior, levando em consideração o mesmo cargo. Para as demais funções, o índice será de 70%. Partidos, coligações e candidatos devem publicar na internet o total de recursos recebidos em dinheiro em até 72 horas após a entrada das doações.

Após alterações que ocorreram até mesmo dentro do plenário, Maia estabeleceu no texto que o tempo de campanha ficará reduzido de 90 para 45 dias, com início a partir de 15 de agosto. O tempo de campanha no rádio e na televisão caiu de 45 para 35 dias, o que gerou críticas de alguns deputados. "Para quem não tem recurso, o instrumento principal para chegar ao eleitor é a televisão", afirmou a líder do PC do B, Jandira Feghali (RJ).

O texto anterior do relator reduzia o prazo para 30 dias, mas Maia acrescentou cinco dias após pressão do PSDB.

Barreira. Os pequenos partidos serão alvo também de uma cláusula de barreira midiática. Pelas novas regras, 90% do tempo de propaganda para cada cargo será distribuído entre as legendas proporcionalmente ao número de representantes na Câmara dos Deputados. O restante será dividido igualitariamente. Hoje, a proporção é, respectivamente, de 70% e 30%.

As emissoras que realizarem debates serão obrigadas a convidar candidatos de partidos que tenham mais de nove representantes na Câmara. Hoje, basta um deputado na Casa. O voto em trânsito, hoje válido apenas para a eleição para presidente e vice, será possível também no pleito para governador, senador, deputado federal e estadual. Para isso, o eleitor tem de estar no Estado de seu domicílio eleitoral.

É preciso informar à Justiça Eleitoral, no período até 45 dias da eleição, em que capital ou município com mais de 100 mil eleitores o eleitor estará. Outra novidade prevista no texto é que não poderá ser usada como prova em processo eleitoral a gravação de conversa privada, ambiental ou telefônica, sem a anuência de um dos participantes ou sem prévia autorização judicial.

A nova redação do projeto de lei manteve uma janela para infidelidade partidária. Não perderá o mandato quem deixar o partido para se filiar a nova legenda ou em razão da fusão ou incorporação de seu partido de origem a outro, nos 30 dias seguintes ao registro da sigla no TSE. Também não perde o mandato quem trocar de legenda por discordar das ideias do partido ou por sofrer grave discriminação pessoal.

Campanha eleitoral deve durar menos

• Em sessão marcada por mudanças de última hora, tempo de disputa cai de 90 para 45 dias; texto ainda pode mudar

Júnia Gama e Isabel Braga – O Globo

BRASÍLIA - Em votação considerada açodada por deputados de diversos partidos, a Câmara aprovou ontem o texto-base do projeto que regulamentará pontos da reforma política. Há mais de cem emendas protocoladas e que deverão ser votadas semana que vem, antes do início do recesso parlamentar. Pressionado, o relator Rodrigo Maia (DEM-RJ) voltou atrás em questões como duração das campanhas, proibição de doação de empresas que tenham contratos com órgãos públicos e teto de gasto para campanhas de deputados.

Um dos objetivos, segundo o relator, é diminuir os gastos com as campanhas. Para isso, foi instituído um teto de R$ 20 milhões para doações de empresa, com limite de 2% do faturamento bruto no ano anterior. O projeto também prevê a redução do tempo das campanhas, dos 90 dias atuais para 45. O tempo de propaganda eleitoral em rádio e televisão cai de 45 para 35 dias.

Restrição a empresa com obra pública
Maia proibiu que empresas que tenham contratos de obras com órgãos públicos de uma determinada circunscrição eleitoral (um município ou estado, por exemplo) doem a candidatos que concorram naquela circunscrição. Por pressão dos deputados, ele excluiu dessa proibição empresas com contratos de prestação de serviços ou fornecimento de bens.

- Ficou muita dúvida sobre o que é um fornecedor. Então resolvemos restringir somente às obras, porque nosso objetivo é dar uma resposta ao que está acontecendo no Brasil em relação à Lava-Jato - justificou Maia.

Outra alteração aprovada prevê que só partidos com ao menos dez deputados participem de debates eleitorais. Se a regra vigorasse na última eleição, candidatos como Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro (PSOL) não participariam.

Questionado se Marina Silva ficará de fora dos debates presidenciais em 2018, já que a ex-senadora está formando um partido com número ainda incerto de deputados (a Rede), Maia reagiu:

- Se ela formar um partido com dez deputados, participa do debate. Todo mundo reclama da minha cláusula de barreira de um deputado. Fiquei três meses apanhando. Agora que coloco uma cláusula de desempenho, estou sendo cobrado.

Modificações feitas à mão
O texto aprovado foi finalizado de forma tão improvisada que o documento distribuído aos deputados e à imprensa é repleto de rasuras. O projeto sofreu mudanças até o último instante, após intensa pressão de deputados de grandes partidos e dos chamados "nanicos".

O artigo décimo da lei, que rege as eleições, foi escrito à mão. Há modificações de números feitas manualmente, como o percentual do tempo de propaganda eleitoral gratuita em rádio e TV distribuído aos partidos. No texto impresso, Maia destinava 5% do tempo a uma distribuição igualitária. Nos rabiscos posteriores, aumentou para 10%.

- A essência desse projeto é facilitar a vida de quem já está constituído na política. Mesmo a redução drástica do tempo de campanha favorece os mais conhecidos. Impressionante o grau de improviso no afã de produzir algo a ser votado - criticou o líder do PSOL, Chico Alencar (RJ).

Diante da falta de acordo, a votação das emendas e dos destaques, que podem modificar ainda mais o texto, ficou para a próxima semana, quando também deverá começar a votação das mudanças à Emenda Constitucional da reforma política. O resultado final das novas regras, assim, poderá ser diferente do aprovado ontem.

PMDB busca aproximação com Eduardo Paes

Cristian Klein - Valor Econômico

RIO - Se o PMDB romperá com o governo Dilma Rousseff ou se terá candidato à Presidência em 2018, isso ainda é uma incógnita. Mas políticos do partido voltam suas atenções para o Rio de Janeiro, onde se reúnem hoje e amanhã, num grande encontro promovido pelo prefeito Eduardo Paes - cotado como presidenciável da legenda. Será a confluência da agenda positiva, representada pela Olimpíada, com boa parte dos protagonistas da crise que atinge o Planalto.

Uma comitiva com mais de 40 deputados federais - de uma bancada total em exercício de 67 - visita a cidade para conhecer obras da Olimpíada de 2016, como o Parque Olímpico e o Porto Maravilha. Esse é o motivo oficial. Mas é em jantar hoje, na Gávea Pequena, residência oficial do prefeito, que os pemedebistas pretendem estreitar laços com Paes e discutir os rumos do partido em meio à turbulência política que abala o governo federal. O encontro deve reunir quase cem pessoas: deputados (entre os quais o presidente da Câmara, Eduardo Cunha) e acompanhantes, ministros do PMDB - à exceção de Kátia Abreu (Agricultura), em viagem com Dilma à Itália - e o vice-presidente da República, Michel Temer.

A palavra "aproximação" e assemelhadas se destacam na fala dos deputados, quando questionados sobre o significado político da comitiva. "É uma oportunidade de estreitar as relações, do Paes com os parlamentares e vice-versa. E a chance de os deputados conhecerem algo no qual o PMDB está tendo sucesso", afirma o líder da bancada na Câmara, Leonardo Picciani.

Paes é o anfitrião, mas no delicado equilíbrio entre os caciques do PMDB fluminense, assina o convite em conjunto com o deputado. Leonardo é filho do presidente do diretório estadual, Jorge Picciani, também presidente da Assembleia Legislativa. Para o pai, o encontro é uma espécie de "prestação de contas" do prefeito, já que Câmara e Senado "contribuíram muito" com a aprovação de projetos ligados à Olimpíada.

O deputado Danilo Forte, do Ceará, conta que esteve com Eduardo Paes, em fevereiro, quando sugeriu a visita dos parlamentares e o prefeito ficou de "matutar". "A Olimpíada não é só do Rio, é do Brasil", defende. No mês passado, Forte conversou com Leonardo Picciani, que reforçou a ideia com o prefeito. "Foi uma sugestão que eu fiz a ele. A Olimpíada deve ser entendida como uma marca do PMDB, e lógico que o prefeito é o capitão", afirma Leonardo.

Com a vinda dos parlamentares, Paes tem a oportunidade de mostrar a força de sua gestão e capitalizar seu nome como presidenciável. Mas também é levado a compartilhar os frutos de uma agenda positiva com correligionários enredados na luta política no cenário nacional. Uma segunda comitiva, com a bancada de senadores do PMDB, deve ser organizada em breve. Nesta ocasião, o convite será feito em nome do prefeito, do governador Luiz Fernando Pezão e de seu antecessor no Palácio Guanabara, Sérgio Cabral, que tem evitado exposição pública depois de concluir o mandato com baixa popularidade. Os três - além de Jorge Picciani e Eduardo Cunha - formam o quinteto de caciques do PMDB fluminense, a seção estadual mais forte do partido.

Oficialmente, a Prefeitura do Rio considera as viagens de parlamentares no contexto de outras já realizadas para conhecer obras da Olimpíada, como a dos integrantes da Comissão do Esporte da Câmara, em abril. A postura faz parte do esforço de evitar um envolvimento maior com o debate de questões nacionais. O rompimento com o governo Dilma, assunto que está na ordem do dia do PMDB, não convém a Paes, já que o apoio da administração federal é peça-chave na organização da Olimpíada.

Danilo Forte, no entanto, inclui o tema entre os "eixos" das conversas no Rio, ao lado do pacto federativo. O deputado usa a expressão "possibilidade de alternância do poder" ao se referir à chance de Dilma Rousseff ser afastada do cargo. "Tá na boca de todo mundo, de todos os segmentos, de AAA a EEE", diz.

Mas antes de debater impeachment ou candidatura do partido à Presidência, o parlamentar afirma que é preciso "primeiro, discutir a transição deste governo" - ou seja, o desembarque do PMDB.

A viagem ao Rio é vista como oportunidade de contato mais aprofundado com Paes e de entender como o prefeito consegue viabilizar a equação das obras num momento de crise econômica e de empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção da Operação Lava-Jato. "No PMDB, não temos muita interação entre nós mesmos, exceto em Brasília e em eventos da bancada. Vai ser bom até para ele [Paes] conhecer o desafio [da candidatura], que é o tamanho do Brasil, já que receberá deputados do Acre ao Rio Grande do Sul. O país é muito diferenciado. E o Eduardo ainda é muito ligado ao Rio", afirma o deputado, que faz questão de lembrar que cada parlamentar pagará sua passagem e o diretório do Rio arcará com a hospedagem.

O deputado Baleia Rossi, presidente do diretório paulista, afirma que a viagem servirá para a "aproximação" de Paes com a bancada. "Ele tem pouco contato com os parlamentares. Nós temos uma certa noção do que está acontecendo, mas eu, por exemplo, tem tempo que não vou ao Rio. Ainda não vi as transformações na cidade", diz Rossi, para quem a presença de Michel Temer é importante no encontro pois mostra a unidade do partido.

Um deputado do Nordeste, que preferiu não se identificar, vê na ida da comitiva de parlamentares ao Rio a criação de um fato político para bater bumbo pela candidatura de Paes à Presidência. "Não precisa ser especialista para ver que a intenção é essa, criar um fato político. Ele vai fazer uma média com a bancada, vai ser agradável, generoso, mostrar que é um cara legal, para que isso chegue em outros cantos do Brasil", diz o parlamentar, embora não acredite na viabilidade da candidatura do prefeito ao Planalto.

Desemprego atinge 8,1% e cresce número de autônomos

• Desemprego atinge 8,1% e crise faz crescer trabalho por conta própria

Idiana Tomazelli – O Estado de S. Paulo

O mercado de trabalho brasileiro voltou a dar mostras de fraqueza, com o índice de desemprego subindo para 8,1% no trimestre encerrado em maio, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. Esse número é o maior da série da pesquisa, iniciada em 2012. No mesmo período do ano passado, o índice era de 7%. No total, 8,157 milhões de pessoas estão atrás de emprego no Brasil, um número também recorde.

Mas o número de desempregados podería ser ainda maior caso alguns brasileiros não tivessem recorrido a um "plano B". Muitos têm passado a trabalhar por conta própria (categoria que engloba desde profissionais autônomos até vendedores ambulantes) ou até se convertem em empregadores.

Na comparação com o trimestre até maio de 2014, o emprego por conta própria aumentou 44%. isso significa 934 mil pessoas a mais nessa condição. Os empregadores, por sua vez, cresceram 8,1% no período, um acréscimo de 299 mil pessoas. Por outro lado, em 12 meses até o trimestre encerrado em maio de 2015,708 mil pessoas deixaram de ser trabalhadores formais no setor privado.

Mesmo /assim, a leitura é de que a qualidade do emprego se perde no meio desse processo, já que o trabalhador perde o que se chama de rede de proteção, como o fundo de garantia e o seguro-desemprego, entre outros benefícios. "A pesquisa mostra perda da carteira de trabalho, com queda no emprego. E sabemos que perder carteira de trabalho é perder estabilidade", disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. "Mais pessoas buscam trabalho diante da estabilidade que está se desfazendo."

Na comparação com o trimestre até maio do ano passado, há ao todo 1,269 milhão de pessoas a mais na fila do desemprego, uma alta de 18,4% no período, outro recorde. Isso porque a geração de vagas foi insuficiente para absorver tanta gente que agora sentiu necessidade de buscar uma fonte de renda. "O cenário econômico não está permitindo geração de vagas a ponto de suprir a demanda por emprego. Então, o desemprego está subindo", explicou Azeredo.

De dezembro para cá, na verdade, houve retração nas contratações. A população ocupada encolheu entre os três meses até fevereiro deste ano e o trimestre até maio, sinal de que o mercado de trabalho está perdendo força num ritmo mais veloz. "O aumento da taxa de desocupação teve um processo de aceleração forte", reconheceu o coordenador do IBGE.

Demissões. As dispensas são a principal razão para o aumento do desemprego, embora a maior procura signifique uma pressão adicional. "O que explica a alta, no momento, são as demissões", avaliou o economista André Gamerman, da Opus Gestora de Recursos. Segundo ele, o regresso ao mercado de pessoas que antes optavam por não trabalhar é um "processo natural" diante da desaceleração da economia.

Dos setores econômicos, o que mais demitiu, em números absolutos, é a construção, que já fechou 636 mil postos no último ano - dois terços disso apenas no trimestre encerrado em maio. A crise é tão grande que a atividade desceu alguns degraus em termos de relevância na força de trabalho brasileira. Na administração pública, o quadro também é de enxugamento. Já foram 622 mil vagas extintas na comparação com o trimestre até maio de 2014.

A queda na renda também aprofunda a situação de dificuldade financeira das famílias. No trimestre até maio, o rendimento médio dos trabalhadores recuou 0,4% em relação a igual período de 2014, já descontados os efeitos da inflação. Ou seja, os brasileiros conseguem consumir menos do que há um ano com seus ganhos.

Para os próximos meses, a previsão é de que a deterioração nesse cenário vai continuar. "A tendência é piorar", disse Luciano Nakabashi, professor da Universidade de São Paulo e pesquisador da Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Funda-ce/USP). "O emprego responde depois do PIB, da geração de renda. E esse ano o PIB está em queda."

Segundo o economista Pedro Ramos, do Banco Cooperativo Sicredi, pela curta série histórica dos dados e pela dificuldade de dessa zonalizaçâo das informações, a avaliação da Pnad Continua ainda é uma tarefa difícil. Mas os números apresentados ontem dão uma ideia geral do que está ocorrendo em nível nacional. Pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que é calculada tendo por base seis regiões metropolitanas de capitais, também do IBGE, Ramos projeta para este ano uma taxa de desemprego de 7,4%.

Corte de postos de trabalho no país já atinge micro e pequenas empresas

• Microempresa desliga 'motor do emprego' e perde postos de trabalho

Bruno Villas Bôas – Folha de S. Paulo

RIO - Vincenzo Barrella desceu do céu ao inferno em um ano. Sua fábrica Speciallità vendeu até 4 milhões de vidros de esmaltes mensais em 2014 impulsionada por um mercado aquecido e campanha com a atriz global Giovanna Antonelli. Mas aí veio a crise.

No início deste ano, o preço da água e da energia subiram, as vendas caíram para menos de 500 mil vidrinhos mensais, a produção encolheu. No fim, a metade dos 60 funcionários da fábrica de São Paulo foi demitida.

"A crise chegou a produtos considerados supérfluos", disse Barrella, 50, que se esforça para não demitir mais.

Motor da geração de empregos formais no país desde 2012, as micro e pequenas empresas brasileiras tiveram em maio mais vagas formais fechadas do que abertas, pela primeira vez desde 2009.


Segundo dados do Sebrae, com base no Caged (cadastro do Ministério do Trabalho), o estoque de carteiras assinadas nas micro e pequenas encolheu em 456 vagas.

O número pode parecer modesto, mas em maio do ano passado o saldo positivo havia sido de 104 mil vagas. No pico, em 2010, foi de 1,6 milhão de empregos.

Os 9 milhões de micro e pequenas empresas são 99% das empresas do país, concentram 52% dos empregos formais e 25% do PIB.

Luciano Nakabashi, professor da USP Ribeirão Preto, diz que a tendência é de piora do emprego pela frente.

Ele lembra que a maior parte das micro e pequenas empresas (49% do total) atua no comércio, que começou a sentir mais fortemente a crise no início deste ano.

Considerando apenas esse segmento, foram fechados 6.007 postos de emprego formais em maio, segundo o Sebrae. A construção civil cortou 7.692 vagas no mês.

Informalidade
Para Marcel Caparoz, economista da RC Consultores, uma parcela das pequenas empresas também pode estar retornando para a informalidade por causa da crise.

A formalização do emprego no Brasil, diz ele, se deu nas micro e pequenas empresas. Hoje, esse processo parece paralisado.

O setor mais afetado, contudo, é o da pequena indústria de transformação, com o fechamento de 19 mil vagas em maio. Na pequena fabricante de parafusos Tec Stam, de São Paulo, um dos termômetros para avaliar a demanda do mercado é o número de ligações com pedidos de cotação. Mas há dias o telefone do escritório não toca.

Com a menor demanda da construção civil e de montadoras, a produção encolheu 35% desde setembro. Humberto Gonçalves, proprietário da empresa, teve que cortar de 38 para 36 o número de funcionários em maio.

"Após 22 anos de mercado, pela primeira vez, não somos capazes de enxergar quando as coisas vão melhorar", diz Gonçalves.

De acordo com o levantamento do Sebrae, apenas dois segmentos tiveram saldo positivo: agropecuária, com a geração de 16.910 postos, e serviços, com geração líquida de 14.963 vagas.


Papa critica capitalismo em sua fala mais política

Papa pede mudança na estrutura mundial

• Em discurso de forte tom político na Bolívia, Francisco exorta o povo a promover transformações e critica sistema

• Pontífice pede perdão pelos crimes cometidos pela Igreja Católica contra os indígenas na colonização da América

Fabiano Maisonnave (Enviado especial) – Folha de S. Paulo

SANTA CRUZ DE LA SIERRA (BOLÍVIA) - No discurso mais político de seus mais de dois anos de pontificado, o papa Francisco defendeu nesta quinta (9), durante visita à Bolívia, uma "mudança de estruturas" mundial e chamou o capitalismo de "ditadura sutil".

Falando em encontro com movimentos sociais em Santa Cruz de la Sierra após o presidente Evo Morales, o papa os chamou a realizar "três grandes tarefas" na economia, na união entre os povos e na preservação ambiental.

"Reconhecemos que este sistema impôs a lógica dos lucros a qualquer custo, sem pensar na exclusão social ou na destruição da natureza?", perguntou o papa a centenas de ativistas, entre os quais o MST, sem-teto, indígenas e quilombolas brasileiros.

"Digamos sem medo: queremos uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema já não se aguenta, os camponeses, trabalhadores, as comunidades e os povos tampouco o aguentam. Tampouco o aguenta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia são Francisco", completou.

Para o papa, a "globalização da esperança" nasce e cresce entre os pobres, mas até a elite quer mudanças: "Dentro dessa minoria cada vez menor que acredita que se beneficia deste sistema reinam a insatisfação e especialmente a tristeza. Muitos esperam uma mudança que os libere dessa tristeza individualista que os escraviza."

Em outra crítica à "ditadura sutil" do capitalismo, disse que "atrás de tanta dor, morte e destruição está o fedor disso que [são] Basílio de Cesareia (330-379) chamava "o esterco do Diabo" [dinheiro]".

Tarefas
O líder católico atacou também "a concentração monopólica dos meios de comunicação social que pretende impor pautas alienantes de consumo e certa uniformidade cultural". Para ele, trata-se de "colonialismo ideológico".

Apesar da análise dura, Francisco advertiu contra o excesso de pessimismo e exortou os movimentos sociais a protagonizarem mudanças: "O futuro da humanidade está em suas mãos."

Em seguida, o papa propôs três tarefas aos movimentos.

A primeira é "pôr a economia a serviço dos povos" para assegurar os "três Ts: trabalho, teto e terra". "A economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a administração correta da casa comum", disse.

"A distribuição justa dos frutos da terra e do trabalho humano é dever moral. Para os cristãos, um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres o que lhes pertence."

Para a segunda tarefa, "unir nossos povos no caminho da paz e da justiça", ele defendeu o conceito de "pátria grande" usado por movimentos de esquerda para pregar a união latino-americana.

Francisco afirmou que problemas como a violência não podem ser resolvidos sem cooperação. Mas advertiu: "Colocar a periferia em função do centro lhe nega o direito ao desenvolvimento integral. Isso é iniquidade e gera tal violência que não haverá recursos capazes de deter."

Por último, pediu a preservação da "Mãe Terra", ecoando sua encíclica mais recente: "Não se pode permitir que certos interesses --globais, mas não universais--submetam Estados e organismos internacionais e continuem destruindo a criação".

Desculpas
Visitando um país de maioria indígena, o papa pediu desculpas pelo ação da Igreja Católica na colonização.

"Foram cometidos muitos e graves pecados contra os povos originários da América em nome de Deus", disse, sob intensos aplausos. "Quero ser muito claro, como foi são João Paulo 2°: peço humildemente perdão."

Ao final, conclamou todos a não deixarem "nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum povo sem soberania". "Sigam a sua luta e, por favor, cuidem muito da Mãe Terra."

Merval Pereira - Sem trégua da crise

- O Globo

Bem que o vice-presidente Michel Temer avisou que "não devemos discutir esse tema", referindo-se aos ataques mútuos de golpismo entre a presidente Dilma e o presidente do PSDB, senador Aécio Neves. Temer justificou a cautela com uma explicação, digamos assim, patriótica: "Nós temos que pensar no Brasil, fazer uma grande unidade nacional".

Mas Dilma, mesmo de longe, lá da Rússia, não resistiu a bater boca com o líder da oposição e seu mais direto adversário no momento atual, a quem derrotou na eleição presidencial de 2014. Dizia-se de Sarney, quando ia para o exterior, que "a crise viajou". Ou que, com Fernando Henrique, a crise chegava grande e saía pequena do Palácio do Planalto. Já Dilma não dá trégua à crise, faz questão de alimentá-la mesmo no exterior.

O fato de Aécio ter considerado "arrogante" sua reação à hipótese de ter seu impeachment decretado, em decorrência de decisões do TCU ou do TSE, significa para ela que o líder tucano está "prejulgando" a decisão dos tribunais, considerando como certo que eles a condenarão. "É estranho que prejulguem. Estranho que se trate como se tivesse havido uma decisão, quando não houve decisão alguma", disse Dilma.

Embora tivesse afirmado que não ficaria "discutindo quem é e quem não é golpista", não resistiu e mordeu a isca: "Quem é golpista mostra na prática as suas tentativas, que começam por prejulgar uma instituição".

A presidente Dilma, mais uma vez, trouxe para si a questão do impeachment, o que muito deve ter alegrado os oposicionistas, que tiveram, assim, palco para suas críticas. No plenário do Senado, onde tem sido muito atacado por aliados do governo depois que em um ato falho disse ter sido reeleito "presidente da República", e não do PSDB, Aécio repetiu várias vezes que Dilma "está fora de si" e desafiou a presidente a demonstrar que ele havia incentivado qualquer tipo de golpe.

O fato político do dia passou a ser o bate-boca internacional entre uma presidente que deveria estar cuidando dos Brics, para mostrar que está em plena capacidade de governar, e o senador que preside o principal partido de oposição, candidato a sucedê-la.

A tarimba de Michel Temer neste momento deveria servir de para-raios para a presidente, e só não serve porque ela se recusa a seguir seus conselhos. Ao mesmo tempo, a velha raposa peemedebista incluiu em sua frase, como presidente em exercício, um chamamento à unidade de todos os partidos, o que só se conseguirá com um governo de conciliação nacional. Que, em teoria, ele teria condições de comandar caso o TCU enviasse para o Congresso um sinal de que as contas do último ano do primeiro governo de Dilma são impossíveis de aprovar.

No momento, há uma tentativa de levar a questão das "pedaladas" e outras irregularidades cometidas para o Congresso, sem que o TCU se pronuncie drasticamente contra, ou pelo menos sem rejeitar as contas formalmente.

Políticos ainda ligados ao governo negociam para que o governo faça um mea-culpa, comprometendo-se a não se utilizar mais de tais recursos, que o TCU considera ilegais. Se o clima político em agosto, porém, estiver em ebulição, com a economia se deteriorando, o desemprego aumentando, e os efeitos sendo sentidos pela população cada vez mais, as manifestações contra o governo Dilma podem ganhar uma dimensão política que pressione tanto o TCU quanto o Congresso.

A questão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é mais complexa, pois existem já irregularidades constatadas, como gráficas fantasmas e outras firmas que teriam ajudado na campanha eleitoral sem condições de provar os gastos que tiveram.

Além disso, o relatório que a Polícia Federal elaborou sobre doações de campanhas de alguns senadores da base governista mostra que "existem elementos iniciais suficientes que indicam a tipicidade da doação eleitoral como forma de corrupção".

O Supremo Tribunal Federal (STF) já foi avisado dessas "suspeitas contundentes" com base em comprovantes de movimentação bancária, e-mails e registros de entrada na sede da Petrobras.

Também o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, foi autorizado pelo STF a depor no processo do TSE sobre doações com dinheiro desviado da Petrobras para a campanha de Dilma em 2014, como se fossem legais.

Não estou prejulgando ninguém, não me entendam mal. Mas a situação da presidente Dilma está complicada no TSE. Como ela diz que "é moleza" sair dessa, vamos aguardar, sabendo que cassar o mandato de um presidente da República não é uma banalidade, exige provas robustas e clima político propício.

Eliane Cantanhêde - Profusão de vetos

- O Estado de S. Paulo

Não bastassem todas as crises e todas as frentes de batalha que enfrenta com a oposição, como PMDB e como lulismo, a presidente Dilma Rousseff está sendo cruelmente empurrada pelo Congresso para o alvo da ira de dois adversários consideráveis: os funcionários do Judiciário e do Ministério Público e o disperso, mas cada vez mais treinado – e irado – exército dos aposentados. Já seria ruim em condições normais de tempo e temperatura, mas ocorre em plena tempestade econômica que açoita os trabalhadores em geral e gera 8,1% de desemprego, ou 8,2 milhões de desempregados. Assim como o nordestino é antes de tudo um forte, o brasileiro é bem criativo quando vai para o olho da rua. Mas criatividade tem limite e pode ser pouco para enfrentar ventos fortes que, com o sopro da China, podem virar tufões.

É nesse clima, quando a crise evolui de complexos e abstratos dados macroeconômicos para o dia a dia dos cidadãos e das famílias, que o Congresso aumenta a pressão sobre Dilma. Ela precisa se recuperar para enfrentar os processos no TSE e no TCU e as delações à PF, mas tem de gastar energia para decidir entre (1) vetar projetos de cunho altamente popular ou meramente populistas e (2) jogar de vez para o alto a já tão esgarçada responsabilidade fiscal. Dilma acaba de sofrer o desgaste do veto ao fim do fator previdenciário (que, na prática, era uma troca de regras e cálculos) e agora vai ter de tomar uma medida ainda mais drástica do ponto de vista político: vetar o projeto aprovado pelo Senado que amplia o reajuste do salário mínimo para todos os aposentados e pensionistas. Algo que pode até ser justo, mas implica uma erosão fiscal de R$ 9,2 bilhões num momento em que o governo tenta amealhar tostões cortando até de viúvas e desempregados.

Se já bate de frente com os aposentados e pensionistas, Dilma também se verá cara a cara com os mais de 115 mil funcionários do Judiciário, e sabe-se lá quantos do Ministério Público Federal, quando anunciar o veto também ao aumento, ou reajuste, das duas categorias. O Congresso já aprovou uma e pode aprovar a outra a qualquer momento. Ele aprova, Dilma veta. Em tempos políticos normais, funcionaria assim: a oposição votaria a favor de apetitosos aumentos para aposentados, pensionistas e funcionários, mas a imensa maioria governista (a maior base aliada do planeta, lembram?) faria discursos pragmáticos e convincentes explicando o efeito bumerangue e que a implosão das contas públicas não interessa a ninguém, muito menos aos aparentes beneficiários. Ou seja: depois de tensas reuniões e intensos embates em plenário, os projetos seriam derrubados.

Prevaleceria a lógica política, econômica e social, ou, pura e simplesmente, o bom senso. Em épocas de crises e de governos fracos,o Congresso cria o saco de bondades, a presidente é obrigada a estourá-lo; o Congresso se delicia com a irresponsabilidade, a presidente amarga a responsabilidade. Nesse desequilíbrio entre bônus e ônus político, é evidente que Câmara e Senado só aprovam tudo isso porque têm a certeza de que não é para valer. Logo, é só para espicaçar Dilma ainda mais. E quem são os "golpistas" ? São a base aliada em geral e o PMDB em particular, com visível infiltração de petistas. São eles todos que empurram Dilma para a frágil posição de confrontar um trio poderosíssimo: trabalhadores, funcionários e aposentados.

Dúvida atroz. Antecipado pelo repórter Murilo Rodrigues Alves no Estado, o Programa de Proteção ao Emprego (PPE) até faz sentido para mitigar o efeito da crise na chamada base da pirâmide, mas alguém tem de explicar duas coisas: 1) se o FAT adiou até o pagamento do abono salarial, como vai bancar os 15% de salários cortados? 2) é só por acaso que o setor automobilístico é o mais beneficiado, ou tem gato político rondando a decisão?

Bernardo Mello Franco - Quando o azar é pouco...

É dura a vida dos deputados que ousam desafiar a onipotência de Eduardo Cunha. Além de terem o microfone cortado quando contestam seus desmandos em plenário, eles sabem que as vitórias são raras e duram pouco. Se perde uma votação à tarde, o peemedebista passa a noite em negociações para virar a mesa no dia seguinte.

Nesta quinta-feira, os independentes da Câmara mostraram que também andam sem sorte. Eles recorreram ao Supremo Tribunal Federal para anular a manobra que aprovou a redução da maioridade penal. Entre os 11 integrantes da corte, o sorteado para relatar o caso foi o ministro Gilmar Mendes.

"Vou comprar um pacote de sal grosso para espalhar no gabinete", murmurou um deputado petista. O mandado de segurança contra a manobra de Cunha foi assinado por 102 parlamentares de 14 partidos, incluindo dissidentes do PMDB.

Ex-assessor de Collor e FHC, Mendes tem exibido sintonia fina com o presidente da Câmara. Em fevereiro, foi o único ministro do Supremo a participar do jantar que selou a aprovação da PEC da Bengala, na residência oficial de Cunha. Há um ano e três meses, impede o julgamento que poderia proibir o financiamento empresarial das campanhas.

Mendes travou o processo com um pedido de vista, quando a maioria dos colegas já havia votado a favor da proibição das doações privadas. Ele antecipou que é contrário à ação, mas se recusa a devolvê-la, em desrespeito às normas do STF. Enquanto segura a causa, Cunha ganha tempo para incluir as contribuições empresariais na Constituição.

Pressionado, o ministro disse que entregaria seu voto até o fim de junho. O mês terminou, e a corte entrou em férias sem que ele cumprisse a palavra. Em entrevista recente, Mendes afirmou que "não houve combinação" com Cunha para retardar o julgamento. A declaração parece tão verdadeira quanto a sua promessa de devolver o processo.

Cristian Klein - Recessão política e bolha especulativa

- Valor Econômico

• Necessidade de controlar PMDB é desafio a Cunha e Paes

No mundo da economia, crises que levam à contração da atividade quase sempre são precedidas por bolhas especulativas. Na política, movimentos de especulação ocorrem a qualquer momento. Antes, durante ou depois do período mais crítico. Fala-se muito. Muitas vezes é difícil separar o que é "barulho", "sujeira", do que é lógico, racional. Até porque nunca se pode descartar o acaso ou o elemento emocional. Não há indicadores tão precisos, como na economia, em relação ao auge de conflitos ou à quebra de confiança. Para a população, existem as pesquisas de opinião pública - nas quais, aliás, a presidente Dilma Rousseff vai muito mal. Para o tensionamento no interior das elites políticas, taxas de disciplina partidária e derrotas do governo no Congresso são possíveis medidas - e, aqui, a desorganização da base aliada também é outra face da crise. Ainda assim, há pouco o que dizer sobre o que realmente acontece no interior dos partidos e do governo, exceto pelos relatos à ou da imprensa. Fatos e versões se misturam e abrem espaço para toda sorte de retratos da realidade e de construção de cenários.

Um dos mais comentados no momento é o lançamento de candidatura própria à Presidência pelo PMDB em 2018. Trata-se de uma especulação que se segue à outra, mais urgente, a da possibilidade de afastamento de Dilma do cargo. Tudo que se passa no plano político poderia ser comparado e decorre da crise que atinge a economia. Ambas andam juntas. São siamesas. O país vive o que poderia ser chamado de recessão política - de dimensão possivelmente equivalente aos quase 2% de retração do PIB previstos para este ano. Não é uma grande depressão americana ou grega, não é um tombo que leve a revolução, mas já conseguiu introduzir no debate palavras como impeachment, golpismo e candidatura do PMDB à Presidência.

A bolha especulativa flutua solta. Em entrevista à "Folha de S.Paulo", Dilma pretendeu esvaziar os ânimos de quem espera vê-la caída, apeada do poder. Estava acuada e reagiu de modo quase irascível, ao acusar setores da oposição de um "tanto golpistas". Foi arriscado. Mas não parece ter cutucado, ao menos no primeiro momento, seu desafeto e presidente da Câmara, Eduardo Cunha - um dos mais bem-sucedidos especuladores e/ou empreendedores políticos dos últimos anos, ao lado de Gilberto Kassab (PSD). Ao falar sobre a relação com o governo e se o momento é o fundo do poço, Cunha disse que já houve momentos piores.

O ativismo parlamentar de Cunha credencia sua presidência na Câmara ao título de uma das mais marcantes desde a redemocratização - não exatamente pelo bem que fará ao país ou às contas públicas ou pelos métodos, tidos como autoritários.

Mas é com esse desempenho que conseguiu protagonismo a ponto de ser cotado como um possível candidato do PMDB à Presidência, ao lado do vice-presidente da República, Michel Temer, e do prefeito do Rio Eduardo Paes.

O lançamento de um nome pemedebista ao Planalto, no entanto, enfrenta diversas dificuldades, a despeito da forte movimentação que insufla uma bolha de declarações enfáticas.
Há uma série de constrangimentos externos, internos e individuais. Começando pelos últimos, tanto Paes quanto Cunha - os mais prováveis pelo clima de mudança que deve novamente se impor em 2018 - têm uma visibilidade de curto prazo. Seus mandatos - presidência da Câmara e prefeitura - terminam dois anos antes das eleições. Os dois carecem de uma vitrine pós-2016 que mantenha seus nomes em evidência.

Uma saída seria ter a bênção e o patrocínio do PMDB para que possam percorrer o país nos moldes do que fez Lula com as Caravanas da Cidadania. Entre 1993 e 1996, o então líder da oposição visitou 359 cidades, acompanhado de líderes políticos locais e regionais, sindicalistas e técnicos.

Para Paes, antes de mobilização semelhante, há uma tarefa adicional e obrigatória: eleger seu sucessor. De nada adiantará realizar uma bela Olimpíada no próximo ano se fracassar na missão de emplacar seu pré-candidato, o secretário Pedro Paulo, numa eleição que se desenha fragmentada e acirrada. Sem vitória à prefeitura, projetos mais altos - ao Planalto ou mesmo ao governo do Estado - podem morrer no nascedouro.

Cumprido o dever de casa, surge outra dificuldade, extensiva a Cunha e passo prévio a qualquer andança pelo país: a necessidade de controlar ou influenciar fortemente a direção de um partido tão descentralizado quanto o PMDB. Ainda que hoje pareça haver um consenso de que a legenda romperá com o governo Dilma, um descolamento não aconteceria antes de março, quando haverá nova eleição para a cúpula pemedebista. É esta direção que conduzirá a estratégia para a sucessão presidencial de 2018. Antes do ajuste fiscal e de sua indicação para a articulação política, Michel Temer chegou a ser ameaçado de perder a presidência da sigla. Hoje está fortalecido. Se permanecer assim, pode se reeleger e atrapalhar movimentos de candidatura.

O desafio de Paes e Cunha seria ter esse controle ou influência partidária para que o PMDB forneça os meios de exposição, de visibilidade, nos dois anos que ficarão sem a vitrine dos cargos que ocupam atualmente. Qualquer concorrente pemedebista precisa deslocar recursos do fundo partidário e concentrar tempo do programa partidário para a empreitada ao Planalto. O problema maior é arrebatar - em março, na eleição para a cúpula da legenda, momento tão distante de 2018 - a legião de caciques regionais, pouco interessados em ver uma concentração de poderes ainda maior pelo Rio de Janeiro, Estado de Paes e Cunha.

Os fatores internos se juntam às dificuldades externas. Em primeiro lugar, a falta de espaço na polarização entre PT e PSDB. Quanto mais tempo fica no governo, menos credibilidade terá o PMDB para encarnar o papel de oposição exercido desde 2003 pelos tucanos. Em segundo lugar, há os desdobramentos da Lava-Jato, que atinge diretamente Eduardo Cunha e atrapalha Paes. Com o governador Luiz Fernando Pezão e o antecessor Sérgio Cabral investigados pela operação, além de Cunha, a probabilidade de o Rio ampliar sua força na direção nacional é reduzida. Mas, enquanto isso, todos continuarão a especular.