sábado, 28 de março de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

O resultado do PIB de 2014 coroa um dos mandatos mais medíocres da história econômica brasileira. Foram quatro anos praticamente perdidos em termos de crescimento da economia.

Para um país sedento por melhorias e com enormes desafios ainda a vencer, quatro anos são tempo demais para serem assim desperdiçados.

São anos em que as dificuldades da população se agravaram, os atrasos do país se agigantaram e o Estado brasileiro tornou-se ainda menos eficiente para dar conta do seu papel.

Trata-se do retrato do fracasso de um experimento em que o Brasil foi feito de laboratório e os brasileiros, transformados em cobaias. Um modelo econômico que, a despeito das críticas e dos alertas, o PT levou adiante sem atentar para o óbvio: a realidade já havia mudado. Deu errado.

O PIB de 2014 deixa o Brasil numa das piores posições no ranking mundial de crescimento. A presidente Dilma Rousseff não poderá usar, mais uma vez, sua desgastada desculpa. Não, a crise não está lá fora; a crise é o governo que o Brasil tem.

As perspectivas para este e os próximos três anos são ainda piores que o primeiro quadriênio de Dilma – até o Banco Central já admite recessão neste ano. Se as expectativas de analistas se confirmarem, teremos mais quatro anos de estagnação da renda per capita, ou seja, os brasileiros estão empobrecendo.

Ou o governo do PT corrige rapidamente a situação que ele mesmo criou ou teremos mais um ciclo de baixo crescimento, inflação alta, juros altos, desequilíbrio externo e ainda o risco de mais aumento de carga tributária. O pior é que agora o único bastião de notícias positivas, a baixa taxa de desemprego e a formalização, também vai piorar.

Os brasileiros merecem um governo que lhes dê esperança e um presente melhor, porque já estão cansados de esperar por um futuro que nunca chega.
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Aécio Neves
Presidente nacional do PSDB

Sob Dilma, PIB é o pior desde Collor

Economia para, e Dilma tem PIB mais fraco desde Collor

• Crescimento foi de 0,1% em 2014 e de 2,1% na média do primeiro mandato

• Investimento desaba, consumo esfria e renda encolhe, pondo fim à política econômica iniciada em 2009

Gustavo Patu, Pedro Soares – Folha de S. Paulo

RIO - Com derrocada dos investimentos e desânimo no consumo, os brasileiros ficaram mais pobres no ano passado, o que pôs fim à política econômica iniciada em 2009.

Dados divulgados nesta sexta-feira (27) mostram que o Produto Interno Bruto, a medida da produção e da renda do país, cresceu apenas 0,1% em 2014.

Insuficiente até para acompanhar o aumento da população, a taxa significa uma queda de 0,7% na renda nacional média por habitante, que ficou em R$ 27.229 --ou R$ 2.269 mensais.

Os dados mostram uma retração aguda dos investimentos, ou seja, dos gastos de empresas e governos em obras de infraestrutura e compras de equipamentos destinados a ampliar a capacidade de produção. A queda, de 4,4%, foi a maior em 15 anos.

O consumo das famílias, esteio da economia e evidência da ascensão social nos anos Lula, perdeu ritmo pelo quarto ano consecutivo e cresceu apenas 0,9%, ante taxas acima de 6% comuns na década passada.

A queda ajuda a entender por que a política de expansão de gastos públicos, desonerações tributárias e crédito subsidiado deu lugar a um ajuste fiscal ortodoxo no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Iniciada há seis anos para enfrentar a crise global, a estratégia desenvolvimentista teve sucesso inicial e foi decisiva na primeira eleição de Dilma. Os resultados, porém, foram declinantes.

Rombos crescentes nas contas do governo alimentaram a dívida pública e a inflação, contida artificialmente com o controle de tarifas, o que comprometeu o caixa das empresas estatais.

Mesmo com uma revisão para cima dos resultados do PIB promovida pelo IBGE, o crescimento médio anual no governo da petista não passou de 2,1%, o pior desde as recessões dos anos Collor.

No papel, o resultado de 2014, acima de zero, foi melhor que o de 2009, quando o PIB encolheu 0,2%. Aquele ano, porém, diferentemente do ano passado, foi encerrado com a economia em franca recuperação.

Os investimentos seguiram em baixa, agora acompanhados das despesas do governo após as eleições. No resto do mundo, os preços dos produtos primários, exportados pelo país, desabaram.

Em reflexo da demanda escassa, a produção conjunta de indústria, serviços e agropecuária teve expansão de apenas 0,3% no trimestre.

Analistas projetam recessão neste ano entre 1% e 1,5%

Dados de 2014 indicam piora em 2015

• Analistas projetam contração do PIB entre 1% e 1,5% neste ano; janeiro e fevereiro já mostram esfriamento

• Inflação maior, salários corroídos, desemprego em alta, Operação Lava Jato e ajuste fiscal aumentam pessimismo

Gustavo Patu e Pedro Soares – Folha de S. Paulo

RIO - A estagnação da economia deve ser se guida por uma recessão neste ano, que tem como pano de fundo uma inflação maior, salários corroídos, desemprego em alta, os desdobramentos da Operação Lava Jato e a necessidade do governo de cortar gastos e aumentar a arrecadação para equilibrar as contas públicas.

Esses fatores e os dados já conhecidos de janeiro e fevereiro apontam para uma contração do PIB entre 1% e 1,5% em 2015, segundo analistas.

É esperado um aprofundamento da queda dos investimentos, que pode chegar a 8%. Em 2014, recuaram 4,4%, mais fraco índice desde 1999.

Em períodos de grande turbulência e incerteza como o atual, investidores ficam menos confiantes e postergam suas decisões de comprar máquinas, construir prédios ou até mesmo as famílias em reformar suas casas.

Construção em baixa
A construção civil, principal integrante do investimento, teve no ano passado a maior queda desde 2003, com perda de 2,6%. "O maior impacto negativo veio das obras de infraestrutura, com o fim da Copa", afirmou Rebecca Palis, coordenadora do IBGE.

Também pesaram a menor produção de máquinas e equipamentos --um dos segmentos que levaram à queda de 1,2% da indústria.

O setor também foi prejudicado pela menor fabricação de veículos, com a retirada do IPI reduzido. O PIB industrial só não teve desempenho pior graças ao avanço da indústria extrativa (petróleo e minério de ferro).

Neste ano, o pessimismo tende a aumentar.

"O lastro [para o crescimento] em 2015 vai ser baixo. Tudo aponta para uma recessão neste ano, que será mais ou menos intensa de acordo com o cenário político e a reação popular diante do ajuste fiscal", afirma Thiago Biscuola, da RC Consultores.

Lava Jato
Um fator adicional é a crise da Petrobras, amplificada neste ano e que fez a companhia e sua ampla cadeia de fornecedores cortarem investimentos. Segundo Rebecca Palis, o efeito da Lava Jato sobre a construção civil deve aparecer mais nos resultados deste ano.

Já o consumo das famílias, motor do PIB durante o governo Lula e em franca desaceleração desde 2010, deve permanecer estável neste ano, sem contar com o estímulo da redução de tributos.

O cenário para este ano é bem diferente, com impostos e preços controlados pelo governo em alta, com a necessidade do governo de fazer caixa e retirar subsídios.

"O consumo [alta de 0,9% em 2014] deve desacelerar ainda mais com a deterioração do mercado de trabalho e uma inflação na faixa de 8%, que praticamente impede ganhos reais de salários", diz Vinícius Botelho, da FGV.

Com menos dinheiro para gastar com o aumento de itens básicos como energia e alimentos, o setor de serviços sentiu o baque do freio no orçamento das famílias.

Sustentáculo do PIB nos últimos anos quando se analisam os setores produtivos, o setor de serviços, o de maior peso na economia, cresceu apenas 0,7% em 2014.

Foi o mais baixo ritmo de toda a série histórica do IBGE, iniciada em 1996.

Para 2015, é esperado um crescimento ainda mais modesto --na faixa de 0,5%.

Oposição critica governo Dilma por resultado do PIB

• Para líder do DEM, metodologia usada para calcular crescimento é duvidosa e, por isso, resultado poderia ser ainda pior

- O Globo

BRASÍLIA - Por meio de nota, a oposição criticou o resultado de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014, divulgado nesta sexta -feira. O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado, afirmou que o crescimento é duvidoso devido as modificações feitas recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na metodologia do cálculo para o PIB.

— Sabemos do aparelhamento político do PT em órgãos públicos de estatística e controle, o que coloca uma interrogação sobre esse novo método. A crise de credibilidade do governo é muito grande para não colocar essa mudança sob suspeita — afirmou o senador.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) também criticou o resultado do PIB em sua página nas redes sociais. O parlamentar classificou como medíocre o crescimento da economia. Além de alegar que as perspectivas de inflação e recessão são ruins para os próximos três anos, Aécio afirmou ainda que a política econômica do governo está fracassada:

— Trata-se do retrato do fracasso de um experimento em que o Brasil foi feito de laboratório e os brasileiros, transformados em cobaias.

Para o Líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), o resultado é um atestado da incompetência do governo Dilma. O líder ressaltou que a crise poderá se agravar ainda mais, já que o próprio Banco Central estima para este ano uma retração de 0,5% na economia.

— Esse resultado medíocre da economia comprova a incompetência do governo Dilma em conduzir o país. Temos hoje um cenário extremamente preocupante, com a economia estagnada, caminhando para uma recessão, com inflação alta e persistente. O resultado dessa combinação é desastroso para os brasileiros, que já sofrem com perda de renda e de empregos, e compromete o futuro do país.

O líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno, afirmou que a crise econômica é resultado da “gastança” irresponsável e da má gestão do PT:

— O fracasso na economia e a corrupção desenfreada já são os maiores legados do governo Dilma. A recessão de 2014 é um claro indicativo do cenário de queda para 2015 e 2016 e fará com que a administração petista alcance a pior média de crescimento das últimas décadas — disse Bueno.

PIB cresce 0,1%, e país adia recessão para 2015

Recessão adiada

• Levy admite "forte desaceleração" na economia neste início do ano

• Investimentos têm pior resultado desde 1999. Consumo das famílias registra 11ª alta seguida, mas analistas preveem queda nos próximos trimestres

• A economia brasileira escapou por pouco de ficar no terreno negativo em 2014, quando o PIB subiu 0,1%, segundo o IBGE. Analistas, porém, estimam que já neste trimestre o país enfrentará uma recessão, com o PIB acumulado em 12 meses registrando queda de 0,7%. O ministro Joaquim Levy disse que o país está em "forte desaceleração".

Cássia Almeida, Rennan Setti, Clarice Spitz, Lucianne Carneiro e Marcello Corrêa – O Globo

• PIB fica parado em 0,1% em 2014. Para o início deste ano, até Levy vê "desacelerada forte"

O crescimento inesperado de 0,3% do último trimestre de 2014, frente aos três meses anteriores, salvou o país da recessão. A economia brasileira ficou estagnada ano passado, com alta de apenas 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços). O dado positivo continuou vindo das famílias brasileiras, que aumentaram seu consumo pelo 11º ano seguido, informou o IBGE ontem.

Já o investimento, que terminou 2014 com a maior queda em 15 anos, deve amargar novo recuo. Os números piores do início deste ano vão empurrar a economia mais para baixo, desta vez ao terreno negativo, com queda na economia acumulada nos 12 meses encerrados em março. Assim, a recessão que era esperada para ano passado foi adiada para o primeiro trimestre de 2015.

— Quando se olha o comportamento do PIB frente a igual período de 2013, são três trimestres negativos seguidos. Paramos de crescer no primeiro trimestre de 2014. Como o início deste ano deve ficar negativo também, só adiamos a recessão — afirmou o economista Estêvão Kopschitz, do Ipea.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, endossa as opiniões de que o primeiro trimestre será difícil. Ele diz que o país iniciou 2015 "sem impulso" e que a economia deve ver uma "desacelerada forte" nesses primeiros meses.

— A economia deu uma desacelerada forte no começo do ano porque havia uma série de questões. Essas questões estão sendo respondidas e, nesse sentido, a gente vai também construindo essa estratégia da retomada do crescimento, certamente a economia vai responder. Porque o principal fator era a incerteza que havia na virada do ano —afirmou Levy, depois de participar de reunião do Conselho de Administração do BNDES, no Rio.

O ministro tem razão. Se o ano começasse em abril de 2014 e terminasse em março deste ano, a economia teria registrado recessão de 0,7%, calcula o economista Igor Velecico, do Bradesco. E o pior momento ainda está por vir. O economista estima recuo de 1% no segundo trimestre. Segundo ele, a economia se estabiliza no segundo semestre, e a confiança dos empresários será retomada ano que vem.

— Estamos tendo uma deterioração mais importante no primeiro trimestre de 2015, com a destruição forte de empregos formais e a redução da atividade. No segundo semestre, com o ajuste fiscal, vão se tirar os problemas da sala para se investir em 2016 — disse Velecico.

Levy já vê recuperação nas exportações, ajudando no crescimento.

— O resultado do PIB mostrou que a gente está em uma transição. Primeiro, uma desaceleração, mas, principalmente, uma transição. Este ano, esperamos uma recuperação das exportações e que, portanto, o setor externo possa ajudar o crescimento da economia. Nos últimos anos não foi assim. Então, essa pode ser uma mudança positiva, o setor externo contribuindo para o crescimento do PIB — avaliou o ministro.

Em relação aos investimentos que caíram 4,4% no ano passado, ele espera uma recuperação no segundo semestre deste ano.

— O investimento foi realmente um pouco mais fraco no ano passado. Há um esforço para que a gente veja, mais para a segunda metade do ano, uma recuperação. Talvez o próprio caso da exportação possa criar uma demanda para o investimento. Firmas que talvez queiram se aparelhar, não só para exportar mas também para atender ao mercado local. Vamos procurar expandir essa tendência —disse Levy.

Na avaliação da economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, o prognóstico para os próximos trimestres é de taxas negativas no PIB. O Boletim Focus, pesquisa do Banco Central com cem instituições financeiras, prevê retração em todos os trimestres de 2015.

— Vivemos um quadro recessivo do setor privado, mas não dá para dizer que chegamos ao fundo do poço. Ainda teremos choques pela frente e devemos ter queda da economia nos 12 meses encerrados em março. A questão não é saber se vai ser negativo, mas o quão negativo será — afirmou Zeina.

Professor de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Victor Leonardo de Araújo destaca que o país conseguiu evitar um recuo do PIB por pouco:

— A economia brasileira escapou da recessão por um triz.

Sem fazer projeções, o professor da FEA/USP e economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, afirma que o ano de 2015 já começou em recessão, e os números vão mostrar isso:

— É muito claro que a economia este ano já vive uma recessão. Isso tem que entrar na conta do Banco Central. Está combinado que a Taxa Selic (os juros básicos) sobe mais 0,75 ponto percentual para 13,5% ao ano. Mas não dá para aumentar além disso se a economia já está se contraindo. Ganha em inflação, mas arrebenta o país.

PIB per capita caiu 0,7%
O IBGE revisou a maneira de calcular o PIB, com isso, constatou-se que o tamanho da economia brasileira é maior, chegando R$ 5,5 trilhões. O instituto agregou investimentos com pesquisa e desenvolvimento, exploração mineral e está medindo melhor a construção civil e gastos com saúde. Como os números anteriores foram revistos, consultorias e bancos ainda estão recalculando suas projeções para 2015. Por enquanto, a expectativa se mantém em recessão de cerca de 1% este ano.

Em 2014, o PIB per capita, que é o valor de R$ 5,5 trilhões dividido pela população, caiu 0,7%, alcançando R$ 27.229, a primeira queda desde 2009.

Temer: PMDB abriria mão de ministérios

- O Globo

O vice-presidente Michel Temer disse em São Paulo que se a presidente Dilma concordar com a proposta do PMDB de reduzir o número de ministérios o partido abriria mão das pastas extintas.

— O PMDB está disposto a entregar o que for necessário — disse Temer, em palestra no Sindicato da Indústria da Construção Imobiliária.

O ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, descartou a redução, que chamou de "solução mágica".

— Com todo respeito, é um debate artificial. O que garante é cortar despesas, preservando investimentos.

Redução de ministérios não é discutida pelo governo, diz ministro

• Em meio às escolhas dos novos titulares da Secom e do Ministério da Educação, ministro da Secretaria de Relações Institucionais Pepe Vargas minimizou debate sobre possível redução de pastas

Gabriela Lara - O Estado de S. Paulo

PORTO ALEGRE - O ministro da Secretaria das Relações Institucionais, Pepe Vargas, reafirmou nesta sexta-feira, 27, que a presidente Dilma Rousseff (PT) não tem intenção de fazer uma reforma ministerial. Em passagem pela capital gaúcha, onde teve encontro com o prefeito José Fortunati (PDT), Vargas conversou rapidamente com a imprensa momentos antes de o Palácio do Planalto confirmar o nome de Renato Janine Ribeiro, filósofo e professor da Universidade de São Paulo (USP), como ministro da Educação no lugar de Cid Gomes (PROS), que deixou o cargo este mês.

Ao longo da entrevista, Pepe foi atualizado da movimentação em Brasília por sua assessora, e chegou a dizer que Dilma anunciaria o novo ministro em breve. Ele descartou uma modificação ampla no primeiro escalão do governo. "A presidenta já manifestou que não vai fazer uma reforma ministerial, que fará mudanças pontuais", disse.

Nesta tarde, a Presidência também informou a indicação do ex-deputado Edinho Silva (PT), que foi tesoureiro da campanha pela reeleição de Dilma, para chefiar o Ministério da Secretaria de Comunicação Social (Secom), substituindo Thomas Traumann, que pediu demissão nesta quarta-feira.

Perguntado sobre uma possível redução no número de ministérios, Pepe Vargas afirmou que este tema não tem sido debatido nas reuniões de governo e argumentou que a medida seria ineficiente para reduzir gastos, já que a junção de uma pasta com outra não elimina a estrutura necessária para tocar políticas públicas inerentes a uma área.

"Você acaba com o cargo de ministro (da Cultura) e toda a estrutura da Cultura vai para dentro da Educação. Você economiza o quê?", exemplificou. Segundo ele, "soluções mágicas" fazem parte de um "mundo irreal", e o que pode garantir a melhora da situação fiscal do País é o contingenciamento, o corte de despesas de custeio e a manutenção de investimentos.

Nesta tarde, o vice-presidente Michel Temer disse que é possível que houvesse redução no número de ministérios no governo Dilma, já que ela está "muito sensibilizada com o pleito". Pepe Vargas avaliou que "o principal do ajuste fiscal são os cortes de gastos que o governo já está fazendo", acrescentando que, antes de a Lei Orçamentária ser aprovada pelo Congresso Nacional, o governo tinha a possibilidade de gastar um duodécimo (ou doze avos) do orçamento previsto para 2015, mas gastou dezoito avos. "Portanto fizemos uma economia de 33% já em janeiro, fevereiro e março", disse.

De acordo com o ministro, quando a Lei Orçamentária voltar para o Palácio do Planalto e for sancionada pela presidente, "em seguida" será publicado o decreto de programação orçamentária, "quando ficará claro o tamanho do contingenciamento de gastos, mostrando que o principal do corte é do próprio governo".

Ele também citou as medidas provisórias 664 e 665, que tratam da alteração de direitos trabalhistas. Pepe Vargas reconheceu que elas podem ajudar na redução de gastos no fiscal no curto prazo, mas argumentou que o "mais importante" dessas duas MPs é que elas "defendem a sustentabilidade dos fundos públicos que lastreiam os benefícios dos trabalhadores". "Você tem que aperfeiçoar a legislação e corrigir distorções que a legislação permite. Não é crível que no ano que se tem a menor taxa de desemprego se tenha a maior taxa de saque no seguro desemprego."

Sobre a resistência de movimentos sociais e de próprios parlamentares da base aliada às MPs, ele explicou que o processo de negociação "está em curso" e que seria prematuro afirmar que elas podem sofrer alguma alteração, já que as comissões mistas foram recém-instaladas. No entanto, ponderou que dificilmente uma medida provisória sai do Congresso do mesmo jeito que entrou. "É óbvio que é um tempo de debate no Congresso Nacional e o Congresso pode pedir alterações naquilo que o governo está propondo. Nós vamos avaliar e ver se há sustentabilidade", falou.

Renegociação. Pepe veio a Porto Alegre conversar com o prefeito José Fortunati, que é presidente da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) e recomendou, nos últimos dias, que os municípios buscassem a Justiça para garantir a renegociação das dívidas que têm com a União, seguindo o caminho do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, após o governo sinalizar que não pretende, no curto prazo, sancionar o projeto de lei que prevê a redução do estoque dos passivos. "Fortunati representa os municípios, não se poderia esperar comportamento diferente dele, mas ele compreende que tem um processo de negociação em curso."

Ex-tesoureiro de Dilma é escolhido para a Secom

• Parte do governo era contra indicação de Edinho Silva

O Globo

Com a nomeação do tesoureiro de sua campanha à reeleição, Edinho Silva, para ministro da Secretaria de Comunicação Social, a presidente Dilma Rousseff atende ao apelo da corrente majoritária do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB), liderada pelo expresidente Lula e pelo presidente do partido, Rui Falcão. A indicação vinha sendo negociada desde dezembro entre Dilma e integrantes da CNB que se sentiam à margem das decisões do núcleo político do governo.

Agora, o Palácio do Planalto tem dois ministros da corrente Democracia Socialista (DS) — Miguel Rossetto ( Secretaria Geral) e Pepe Vargas (Relações Institucionais) — e dois da CNB — Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho.

Edinho substitui Thomas Traumann, que pediu demissão depois do vazamento de um documento interno da Secom que classifica a comunicação do governo como "errática e errada" e diz que há um "caos político" instalado. A aproximação entre Dilma Rousseff e Edinho se deu na eleição do ano passado. Deputado estadual eleito em 2010, Edinho desistiu de concorrer à reeleição para cuidar das finanças da campanha da presidente. Arrecadou mais de R$ 318 milhões, inclusive de empresas ligadas ao escândalo da Petrobras.

Parte do governo era contrária à indicação de Edinho. O argumento é que a presidente leva para dentro do Planalto uma potencial nova crise, já que as contas da campanha de Dilma foram aprovadas com ressalvas pela Justiça Eleitoral, por problemas na comprovação de despesas e doações.

Aos 49 anos, já foi vereador, prefeito de Araraquara, deputado e presidente do PT em São Paulo. É muito próximo de Lula e frequentador habitual do instituto do ex-presidente.

Sociólogo de formação, Edinho gosta de escrever textos e, há duas semanas, em carta aos petistas, causou polêmica ao admitir que o PT e o governo cometem "erros no campo político", e que o governo nunca esteve tão paralisado. A carta, no entanto, conclamava a militância a reagir ao que ele chamou de "ofensiva conservadora".

Com status de ministério, a Secom tem verba anual de R$ 230 milhões. O governo pensou em remanejá-las no ano passado para o Ministério das Comunicações, mas a ideia perdeu força porque as verbas publicitárias são consideradas vitais para o funcionamento da pasta.

Com a reeleição de Dilma, Edinho trabalhou para ser indicado ministro do Esporte. Mas a presidente optou por George Hilton (PRB). No mês passado, Dilma ofereceu a Edinho o comando da Autoridade Pública Olímpica ( APO). Ele aceitou, mas voltou atrás por temer reuma cepção ruim na sabatina à qual teria de se submeter no Senado. (Colaborou Tatiana Farah)

Dilma faz aceno à militância e escolhe ministros que agradam a Lula e ao PT

• Esplanada sob ajuste. Presidente leva para a Educação filósofo simpático à esquerda que já criticou falta de diálogo no governo; ex-tesoureiro de campanha da petista assume Comunicação Social, pasta responsável pela verba publicitária, com aval do ex-presidente

Rafael Moraes Moura Ricardo Della Coletta Lisandra Paraguassu - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - No momento em que o governo enfrenta resistências da base aliada para emplacar o ajuste fiscal no Congresso, a presidente Dilma Rousseff decidiu ontem fazer um aceno ao PT. Nomeou para a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) o ex-deputado estadual petista Edinho Silva, tesoureiro da campanha presidencial em 2014; e para o Ministério da Educação (MEC) o professor de ética e filosofia política da USP Renato Janine Ribeiro, nome simpático à legenda. Em outro movimento, sinalizou ao PMDB, partido que tem imposto as principais derrotas ao governo no Legislativo, que vai nomear para o Ministério do Turismo o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (RN),conforme antecipou o Estado na quarta-feira.

O novo ministro da Educação já vinha cuidando da transição na pasta com auxiliares do MEC nos últimos dias. Ele foi um dos primeiros nomes especulados para assumir a Educação quando se revelou a intenção da presidente de optar pelo perfil de um educador para a pasta,em vez de um político. Janine vai substituir o ex-governador do Ceará Cid Gomes (PROS), que deixou o governo após dizer que a Câmara tinha “300, 400 achacadores”.

O PT– que não esconde a insatisfação com a escolha de parte do primeiro escalão de Dilma, como as nomeações de Kátia Abreu para a Agricultura e Joaquim Levy para a Fazenda – recebeu bem a escolha de Janine,intelectual com ideias alinhadas à esquerda. Em artigos recentes, o professor da USP apontou problemas do atual governo e da própria Dilma, como a propensão à falta de diálogo, mas fez ponderações sobre críticas baseadas “na raiva e nos insultos”, e não na mobilização política.

Na terça feira,em artigo no jornal Folha de S. Paulo, Janine analisou os protestos contra o governo.“Há uma reação tola:não quero saber do preço. Um dos modos dessa reação é carimbar um culpado bem afastado de nós. O PT cumpre hoje esse papel de demônio, que já foi de Getúlio Vargas. Assim se afasta de nós esse cale-se.Somos poupados.As manifestações do dia 15 de março, legítimas na medida em que‘tem razão quem se revolta’(mas alguma razão, não toda), caíram no engodo de construir um Outro demoníaco, aquele que acabou com o que era doce”, escreveu.

Uma semana antes, no jornal Valor Econômico, Janine questionou se é possível governar o País com competência e honestidade simultaneamente. “E se Dilma for representativa de nosso desejo difuso de uma política competente e sem corrupção? Ela se irrita, sim, com quem está a sua volta, o que é politicamente inábil, mas isso porque cobra eficiência”, afirmou. “Pode até governar mal,só que detestando a corrupção e a ineficiência.Mas basta detestá-las para superá-las?”

‘Batalha’. Na Secom, a escolha por Edinho Silva marca uma maior influência do PT sobre a “batalha da comunicação” pretendida pelo Planalto para recuperar a popularidade de Dilma. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva respaldou a indicação.

Edinho vai substituir o jornalista Thomas Traumann, que deixou o cargo após o portal estadão. com. br revelar documento interno que apontava uma “comunicação errática” do governo em meio a um “caos político”. O PT defendia um perfil político para o cargo e cobrará do ministro “democratização”da publicidade oficial. Setores da sigla questionam os gastos com anúncios na grande imprensa, por considerá-la “oposicionista”, e pregam mais repasses a veículos regionais, “progressistas” e “alternativos”.

“Nenhum governo pode menosprezar o peso das grandes empresas (de comunicação). Mas não podemos abandonar os pequenos veículos de comunicação”,disse o coordenador da corrente majoritária do PT, Construindo um Novo Brasil (CNB), Francisco Rocha, o Rochinha.

Edinho já presidiu o diretório paulista do PT e foi o tesoureiro da campanha de Dilma à reeleição. O plano original da presidente era escalar Edinho para a Autoridade Pública Olímpica (APO), consórcio formado pelos governos federal e fluminense e pela prefeitura do Rio, que coordena as ações da Olimpíada de 2016. O cargo está vago desde fevereiro, mas o Planalto desistiu da indicação por temer o risco de o Senado rejeitar o nome do petista como retaliação ao governo.

Edinho também fez análises recentes sobre a atual conjuntura. Em carta aberta de 10 de março, disse que PT e governo formam um binômio e “engana-se quem pensa que um superará esse momento sem o outro”,além de apontar problemas da legenda. “Há, sim, erros no nosso campo político.Nunca na nossa história assimilamos com tanta facilidade o discurso oportunista de uma direita golpista e nunca estivemos tão paralisados.”

Entrevista. Aécio Neves

PSDB apresentará propostas para reforma política após Semana Santa, diz tucano

• Presidente nacional da sigla falou ao 'Estado' sobre iniciativas que o partido vai defender, que incluem o fim da reeleição e limitação ao financiamento privado

Felipe Corazza – O Estado de S. Paulo

Em viagem a Lima, no Peru, o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves afirmou em entrevista ao Estado que seu partido vai anunciar, logo após a Semana Santa, um conjunto de propostas para a reforma política em debate no Congresso que inclui o fim da reeleição, mandato de cinco anos e até a adoção do voto distrital misto, como é adotado atualmente na Alemanha.
O tucano participa do Seminário Internacional América Latina: Desafios e Oportunidades, organizado pela Fundação Internacional para a Liberdade, presidida pelo nobel de literatura Mario Vargas Llosa. Ele foi convidado para falar sobre a crise no Brasil, e fez várias críticas ao governo Dilma Rousseff e ao que ele classifica como omissão do governo brasileiro nos episódios de perseguição política e prisão de opositores na Venezuela. "É um governo que flerta com o bolivarianismo", afirmou em relação à gestão petista. Confira abaixo a íntegra da entrevista.

Estado - Como essa extensão da agenda rumo à Venezuela se encaixa na estratégia do PSDB? É resposta a alguma demanda?

Sim, tanto interna quanto externa. Há uma cobrança muito grande pela omissão do Brasil em relação à escalada autoritária em alguns países, em especial na Venezuela. O Brasil deveria ter uma posição de liderança natural na região e é muito cobrado por essa absoluta omissão que, a meu ver, chega quase à cumplicidade com esses governos. E se há um vácuo deixado pelo governo, é importante que outras forças políticas ocupem esse espaço. O que nós estamos demonstrando de forma muito clara é nosso apreço pela democracia, nosso apreço pela liberdade e a nossa absoluta indignação com o fato de, em pleno século 21, termos ainda presos políticos na nossa região. Isso atende a uma expectativa dos setores que nos apoiam no Brasil e é o início de uma ação estratégica de nos vincularmos aos setores na região que têm esse mesmo sentimento. É o início de uma movimentação de aproximação. Isso só surge porque o governo federal deixa um vácuo muito grande nessa escalada.

Estado - O sr. classifica o governo da presidente Dilma como um governo bolivariano?

É um governo que flerta com o bolivarianismo, seja pela solidariedade política explícita que dá a esse governo (da Venezuela), o próprio presidente Lula participou da campanha da eleição do presidente Maduro. Felizmente, no Brasil nós temos instituições sólidas, democráticas e que funcionam muito bem. Mas, quando a gente vê, volta e meia, o discurso de controle social da mídia, que é um eufemismo para censura, permear as discussões do partido que está no governo, quando nós assistimos à radicalização do discurso de classes, o 'nós contra eles', 'elite contra povo', é algo que se aproxima do bolivarianismo. Os governos populistas buscam sempre ter uma massa de manobra, precisam dela para se manter no poder e, na verdade, o discurso de proteção a essas massas acaba tendo como efeito o contrário, o empobrecimento dessas massas. É o que nós estamos assistindo agora com a escassez de alimentos na Venezuela e com o retorno da inflação no Brasil. Os primeiros a serem punidos são aqueles que os governos populistas dizem querer defender. Então, nós vamos encontrando sempre paralelos e flertes desses governos com o governo do Brasil. E populismo é um parente muito próximo do autoritarismo. Nossa posição não é contra o governo do presidente Maduro, é a favor da democracia e da liberdade de manifestação contra aquele governo e contra qualquer outro.

Estado - O sr. menciona a inflação brasileira. Diante da crise política que se apresenta no Brasil, qual é o horizonte para as medidas de ajuste fiscal que dependem de aprovação do Congresso?

As medidas, para usar um termo muito caro à presidente da República, são rudimentares. Elas não entram na questão estrutural, não se discute a reforma tributária, a simplificação do sistema, a valorização das agências reguladoras, não se discute um novo pacto federativo. Elas têm dois pilares fundamentais: o aumento da carga tributária e a supressão de direitos trabalhistas. As medidas apontam, na verdade, para um cenário de ainda mais recessão. Tentando enxergar lá adiante, o que percebo? Que a crise de confiança se agrava porque o governo não demonstra sequer confiança no que está sendo feito. Na verdade, a presidente tem hoje um interventor na Economia, que, por mais que se esforce, não consegue sinalizar para os brasileiros o outro lado da ponte, expectativas positivas. O cenário que se apresenta é apenas um cenário de recessão e agora ataca o principal pilar, que foi a geração de empregos. País que não cresce ou cresce negativamente, obviamente, não gera empregos. Não vejo como essas medidas vão resgatar a confiança daqueles que devem investir no Brasil. O governo não dá qualquer exemplo, não corta na sua carne, não demonstra intenção de estabelecer novos paradigmas de gestão pública. Me parece que a presidente utiliza essas medidas como uma boia para alguém que está afundando, mas dá a sensação de que, quando conseguirem dar umas braçadas, vão largar a boia. O Brasil vive uma crise econômica gravíssima.

Estado - O PIB de 2014 foi divulgado agora...

Na campanha eleitoral, num dos últimos debates, eu disse à presidente que o Brasil cresceria 0,3% (em 2014). Ela reagiu, perguntou de quem eram esses dados, disse que o Brasil cresceria muito mais que isso. Eu estava errado. Não cresceu 0,3%, cresceu 0,1%. O que se tem hoje é um cenário de crise econômica, moral e, a emoldurar isso, uma crise de confiança. Eu creio que, infelizmente, os anos que estão por vir serão muito duros para o Brasil. Obra do governo do PT, que colocou 20 anos de conquistas pela janela.

Estado - O sr. afirmou há pouco que a reforma política deve sair em mais 2 ou 3 meses. Qual reforma pode ser entregue nesse prazo?

O PSDB apresentará, logo após a Semana Santa, um conjunto de medidas para a reforma política, as mais adequadas. Algumas são convergentes com outros grandes e médios partidos.

Estado - Quais medidas?

Primeira medida: fim da reeleição e mandato de 5 anos para todos os cargos, com a coincidência de todas as eleições a partir de 2022, para respeitar as regras pelas quais os atuais detentores de mandatos foram eleitos.

Segunda: fim das coligações proporcionais, que nós já aprovamos no Senado - isso é uma forma indireta de você diminuir o número de partidos políticos.

Terceira que nós defendemos: cláusula de barreira. Os partidos podem se constituir, mas só terão direito a tempo de TV e Fundo Partidário se alcançarem um percentual mínimo de votos. Isso era de 5% (na medida original antes de 2006), mas pode ser que a gente faça um entendimento em torno de 3%. Se aplicado hoje, os 28 partidos do Congresso Nacional se transformariam em 9 ou 10 partidos. Ainda é muito para mim, mas já é uma melhora extraordinária.

Quarta: O voto distrital misto, onde metade do Parlamento é eleito através de eleições majoritárias nos distritos e a outra metade por lista partidária. É um sistema mais evoluído, é o sistema alemão.
Quinta: Limitações ao financiamento privado. Defenderemos o financiamento misto, onde as empresas tenham limites mais rígidos para participar das campanhas eleitorais.

Esse conjunto de medidas será apresentado pelo PSDB logo após a Páscoa. O Brasil tem uma última grande oportunidade de fazer uma reforma política que enxugue o quadro partidário. Se não fizermos agora, na próxima eleição teremos 40 partidos no Congresso Nacional. Não há quem possa achar que isso é governável. Infelizmente, o governo federal vai contramão do bom senso e estimula a criação de novos partidos, achando que isso enfraquece a oposição e enfraquece alguns de seus principais aliados como o PMDB.

Estado - Como o partido está lidando com o surgimento do nome do ex-deputado Márcio Fortes (PSDB-RJ) entre os correntistas do HSBC na Suíça?

Eu vi isso pelo jornal. Certamente, o ex-deputado Márcio Fortes saberá explicar isso, não tem nenhuma conotação com o partido. Assim como outros detentores de contas trouxeram suas explicações, nós esperamos que ele possa pessoalmente esclarecer.

Estado - O sr. irá às ruas no dia 12?

Tem gente me empurrando pras ruas, né? (risos) O nosso cuidado é que quanto mais da sociedade forem esses movimentos, mais legítimos eles serão. Nós não podemos nos apropriar de algo que não é nosso, até porque não são a nosso favor (as manifestações). São contra o governo, contra a mentira, a crise econômica, mas são movimentos espontâneos da sociedade. O papel mais importante da classe política é transformar essa insatisfação em conquistas, seja em reforma política, ações efetivas de combate à corrupção, a garantia de liberdade para que as investigações continuem ocorrendo no Brasil. É o nosso papel principal hoje. Não tomei uma decisão sobre estar presente ou não, mas tenho estimulado os companheiros, como cidadãos, a se fazerem presentes. Quem estiver com nó na garganta, querendo gritar, tem o direito de ir. Eu vou definir minha presença mais tarde.

Pedro Simon: ‘A corrupção nunca foi pior’

• Com 60 anos de vida política, o ex-senador lamenta a situação do país. “Não tem explicação o que está acontecendo no Brasil.”

Valor Econômico / Eu Fim de Semana

Para acessá-la basta clicar no link abaixo:

"A corrupção nunca foi pior"

Economista Yoshiaki Nakano: ‘Não perdi a esperança porque existe a classe emergente’

• O pragmatismo dela pode mudar o Brasil, diz Yoshiaki Nakano

Valor Econômico / Eu Fim de Semana

Para acessá-la basta clicar no link abaixo:

Marco Aurélio Nogueira - Incandescência e desorientação

• Governo e apoiadores parecem não entender o que acontece nas ruas do País de 2013 para cá

- O Estado de S. Paulo

Não foram somente o 15 de março, a demissão do ministro Cid Gomes, a queda vertiginosa dos índices de popularidade da presidente e o documento-bomba da Secretaria da Comunicação Social (Secom), mas esses acontecimentos e o cruzamento diabólico entre eles deram o tom da chamada conjuntura política das últimas semanas. Chacoalharam o governo Dilma, aumentaram os desencontros em seu interior e lançaram uma perturbadora interrogação sobre o que serão seus próximos quatro anos.

O governo Dilma, porém, não acabou e seria um erro dar como favas contadas que não terá como se recuperar. Ficou mais difícil, mas não impossível.

Se o 15 de março e a queda de popularidade mostraram que a resistência social ao governo se está convertendo em fato político, os outros dois acontecimentos revelaram um governo com demasiados problemas internos, desorientado e carente de articulação.

Um governo sem rumo e sem unidade torna-se produtor de problemas, não de soluções. Ter um governo assim logo no início de um período governamental é algo que excita seus adversários e alimenta a crise. Mostra, por exemplo, que não há plano de voo e não se pode saber quem apoia a presidente e quem lhe faz oposição. Turvam-se as águas, aumenta a confusão. As próprias forças tidas como sustentáculo governamental - o PT e o PMDB - se dessolidarizam e ficam, cada uma a seu modo, fazendo só o próprio jogo, sem sincronia com o Palácio do Planalto. Fazem contas para saber como evitar os respingos da crise. Passam a olhar para as eleições municipais de 2016, ao passo que a Presidência precisa olhar para o dia a dia e para 2018.

PT e PMDB podem até fazer juras recíprocas de amor, falar bem de Dilma em público, mas por trás do pano agem de forma defensiva, terminando por produzir desgastes e contrapontos. Não é só Eduardo Cunha, esse presidente da Câmara que opera sem pudor em favor dos próprios interesses, age corporativamente e consegue se fortalecer mesmo cercado de suspeitas, mostrando ser um animal político difícil de enfrentar. É ele, com certeza, mas também é o PMDB como um todo e parte importante do Congresso.

O caso Cid Gomes chamou a atenção pela incandescência e pelo baixo nível. O ex-ministro fez seus cálculos. Não queimou munição à toa, num ímpeto de descontrole emocional. Quis sair de dedo em riste, como aquele que confrontou os que "achacam" a República. Jogou para uma parte da plateia, que não suporta os políticos atuais. O episódio foi péssimo tanto para o Planalto quanto para a imagem do Parlamento e deixou patente que falta graxa nas relações entre os Poderes da República, que não há qualidade no Ministério, que o Legislativo é hoje uma bomba que explode a intervalos regulares, sem que haja quem a desarme. Os pedaços do Congresso que desafiam a Presidência deitam e rolam na mesma proporção em que os demais pedaços não se movimentam.

O documento da Secom - divulgado pelo Estado dias atrás - foi sintomático. Podemos deixar de lado suas impropriedades (a confusão entre governo e partido, por exemplo) e ficar apenas com o que disse a respeito do "caos político" que estaria a ser fomentado pela inação governamental. Segundo o texto, "o governo e o PT passaram a só falar para si mesmos". Foi um diagnóstico duro, incômodo, chega a ser surpreendente que tenha chegado ao grande público. O ministro responsável pelo texto demitiu-se, mas o estrago se espalhou. O presidente do PT, Rui Falcão, fez crescer o vespeiro ao propor que o governo corte a verba de publicidade destinada a veículos de comunicação que "apoiaram e convocaram" as manifestações.

O 15 de março ajudou, de forma ruidosa e polifônica, a descortinar a desconexão entre o palácio e as ruas. Diante dele, o governo falhou duplamente. Errou ao responder por dois porta-vozes que não conseguiram expressar a gravidade do momento, como se ao governo fosse indiferente o protesto, e errou na análise do fato.

Nem ele nem seus apoiadores parecem entender o que está acontecendo com as ruas do País de 2013 para cá. Não decodificaram as vozes que se manifestaram ostensivamente contra a presidente agora em 2015. Optaram por tentar deslegitimar a manifestação, convertendo as pessoas em massa de manobra da "elite branca" e da "mídia golpista". Pior que isso, não conseguem explicar por que a "direita" mostra hoje tanto vigor, a ponto de fazer inveja à "esquerda". Aceitam com incrível facilidade a tese de que os "ricos" têm "ódio" de Dilma e do PT. Estão congelados na mesmice adjetivada, repetindo que a parte (as faixas pedindo intervenção militar) explica o todo, que o 15 de março fez lembrar a Marcha com Deus pela Liberdade de 1964. Querem banalizar a multidão, mas só fazem irritá-la.

As ruas não se movem por utopias substantivas, não têm um programa com que lutar. São contra Dilma, políticos e partidos. Não são a favor de nada. Exprimem uma gigantesca insatisfação social com a política, processo em que se misturam indignação, ressentimentos e frustração.
Mas pau que bate em Chico também bate em Francisco. Não é só o governo que está à deriva, mas o País todo, o sistema político tal como em funcionamento. Hoje o que prejudica o governo não beneficia a oposição a ele. Não há partidos, núcleos democráticos articuladores ou dirigentes políticos a lucrar com a crise, fato que faz o quadro ficar ainda pior. Quem fala pela oposição? O que faz ela, qual seu programa de ação? Se há bons nomes para liderar os que se opõem ao governo, por que não assumem o primeiro plano e se apresentam para "salvar" a República?

A resposta provável talvez nos ajude a relativizar a situação. Os líderes oposicionistas não se projetam pelas mesmas razões que fazem a Presidência sangrar a céu aberto: porque não dispõem de nexos com as correntes vivas da sociedade. É aí, nessa praga maior do capitalismo líquido e globalizado, que reside o maior desafio.

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*Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP

Merval Pereira - O PT com a verba e o verbo

- O Globo

Mais importante que a constatação de que a economia brasileira está estagnada desde o ano da eleição, o que foi escondido do povo brasileiro por uma ação publicitária que distorceu números e fatos numa clara agressão ao sistema democrático, é saber que a culpa pelos nossos males é coisa nossa, não de crises internacionais.

Um levantamento do professor Reinaldo Gonçalves mostra que o Brasil em 2014 ficou em 172ª posição num conjunto 188 países, o que quer dizer que nada menos que 91% dos países tiveram melhor desempenho que o nosso.

Em relação ao quadriênio de Dilma Rousseff (2011-14), nossa posição tem uma melhora relativa: ficamos na 126ª posição, sendo superados por 67% dos países.

No plano interno, a presidente Dilma continua na mesma posição constrangedora de ser a presidente com a terceira pior média de crescimento do PIB da República brasileira, ao lado de Venceslau Brás, com 2,1% de crescimento, superando apenas dois presidentes que tiveram média negativa de crescimento em seus mandatos: Fernando Collor -1,3; Floriano Peixoto -7,5.

Se as previsões se confirmarem para este ano, com uma retração do PIB que pode chegar a até 1% segundo alguns economistas, a média para cinco anos cairá abaixo de 2%. Como a situação política é fortemente influenciada pela economia, dificilmente a presidente Dilma encontrará este ano condições de recuperação de sua popularidade, que as pesquisas de opinião mostram estar num momento crucial, provavelmente na casa de um dígito de aprovação se tomarmos a média dos institutos de pesquisa.

Foi sob o impacto da informação de que o nível de aprovação da presidente Dilma estava em 7 pontos num tracking encomendado pelo Palácio do Planalto que o ex-ministro da Comunicação Social Thomas Trauman escreveu aquele já famoso relatório que afinal o derrubou.

Entre as ilegalidades que defendia, destacam-se o uso dos blogs sujos para atacar os adversários do governo. No que via como uma “guerrilha de comunicação”, o documento lamentava que os robôs que atuaram na campanha presidencial para espalhar boatos e elogios a favor de Dilma tivessem sido desativados, e recomendava que o Planalto desse “munição” para “os soldados de fora” dispararem.

Há também a defesa do uso da Voz do Brasil e da televisão oficial para mostrar os feitos do governo, numa confusão clara entre órgãos do governo e do Estrado brasileiro. A demissão de Trauman, ao contrário do que se podia supor, não foi devida ao conteúdo do documento, mas ao seu vazamento.

Infere-se isso pela escolha por Dilma de seu tesoureiro de campanha, o petista Edinho Silva, para o cargo, entregando ao PT a verba e o verbo da comunicação do governo. Como nos governos petistas as pessoas importam mais que os cargos que ocupam, Edinho quase foi nomeado para diretor da Autoridade Pública Olímpica, mas a presidente Dilma desistiu ao constatar que ele não seria aprovado pelo Senado.

Como a nomeação para o ministério é de inteira responsabilidade da presidente, lá se vai Edinho Silva tratar da imagem do governo federal. Logo ele, que foi tesoureiro da campanha de 2014 de Dilma e, segundo anotações atribuídas a Ricardo Pessoa, dono da UTC, “está preocupadíssimo”. E segue texto de Pessoa: “Todas as empreiteiras acusadas de esquema criminoso da Operação Lava-Jato doaram para a campanha de Dilma. Será que falarão sobre vinculação campanha x obras da Petrobras?”.

Esse e outros textos encontrados se parecem com chantagem, no momento em que delações premiadas estão sendo negociadas. Mas Edinho Silva pode trazer também mais problemas políticos para Dilma. Ele afirmou recentemente que as manifestações de rua são coisa da elite golpista, e que é preciso “combater a direita” em todo o continente.

Coroando seu pensamento, antes mesmo de assumir a missão palaciana ele já havia dito o que pensava especificamente sobre a área em que vai atuar: “Temos que criar efetivamente condições para que haja uma democratização da comunicação no país. E isso passa pela democratização da propriedade dos veículos”.

Mesmo que tenha salientado que esse debate “deve ser feito com muita tranquilidade, sem partidarismo e em parceria com a sociedade”, Edinho já disse a que veio.

José Roberto de Toledo - O atropelamento das ideias

- O Estado de S. Paulo

Partidarizar toda e qualquer ideia equivale a classificar, obrigatoriamente, cada proposta, programa ou pessoa como petista ou antipetista. É um jeito fácil de simplificar o mundo, mas transforma debate em bate-boca, sufoca a argumentação sob o coro das torcidas e desintegra a sociedade ao dividi-la em guetos. Além de tudo, é suicida, pois inviabiliza os próprios partidos.

Nunca, desde o fim da ditadura militar, tão poucos brasileiros se identificaram com uma agremiação partidária. O Datafolha mostrou que 3 a cada 4 não têm, hoje, simpatia ou preferência por qualquer partido. E não é por falta de opção: nunca houve tantas siglas partidárias no Brasil. Para 75% dos brasileiros, os 32 partidos cheiram igual - e, embora rime, não é a perfume.

Grande parte dessa aversão se deve ao PT, que, após a recessão e a Lava Jato, despencou da preferência de um terço dos eleitores para a vala comum das demais agremiações, todas com apenas um dígito de simpatizantes. Tucanos e peemedebistas podem comemorar a anemia petista, mas não têm nada para mostrar a seu favor. Não ganharam nenhum ponto de simpatia com a desgraça do concorrente.

Nem parecem preocupados com isso. A política, para caciques do PSDB, do PMDB e - sob Dilma Rousseff - também do PT, se resume a Brasília. Não por acaso, são sempre surpreendidos pelas ruas e têm extremo cuidado - para não dizer temor - ao pisá-las.

A perda de prestígio dos partidos é só um dos sintomas. Todas as instituições democráticas têm dificuldades para passar pelas narinas da população. O Executivo raramente foi tão mal avaliado. E a impopularidade não é apenas o governo federal. Governadores e prefeitos também sofrem tendência de baixa.

Os novos deputados e senadores mal tomaram posse, mas metade dos brasileiros já acha que eles são ruins ou péssimos em seus mandatos. Apenas 9% acham que fazem um trabalho bom ou ótimo, segundo a mesma pesquisa Datafolha que deu 62% de ruim/péssimo para o governo Dilma, contra só 13% de opiniões positivas.

Pesquisa de opinião feita em 2014 pelo Barômetro das Américas, da Universidade Vanderbilt (EUA), concluiu que apenas 38% dos brasileiros confiam no sistema judicial nacional, uma das cinco taxas de confiança mais baixas entre 25 países do continente. Menor do que as dos EUA, Canadá, México, Argentina e até Haiti.

Um gráfico da mesma pesquisa causou algum furor na semana passada nas redes sociais. Ele mostra que 48% dos brasileiros acham um golpe militar justificável diante de muita corrupção. É o dobro do que no Chile e dois terços mais do que na Argentina e no Uruguai. É preocupante, mas menos extraordinário se tomarmos os EUA como base. Lá, um terço concorda com a tese golpista.

Tudo isso se resume em uma ideia, cada vez mais frequente e popular entre os brasileiros: o sistema político não funciona. Isso ficou muito claro nas manifestações de 2013, mas sempre é bom colocar as coisas em perspectiva e comparar com outros países. O apoio ao sistema político no Brasil é o mais baixo do continente: 38%. Perde até para a dividida Venezuela (42%). Toma de goleada da Costa Rica (62%), Canadá (60%) e Argentina (55%).

Pode-se constatar isso tanto na pesquisa do Barômetro das Américas quanto, de forma mais prosaica, na discussão sobre as ciclovias paulistanas. Só a partidarização irracional das ideias é capaz de tratar uma tendência global, que vai de Paris a Nova York com escala em Londres, como "coisa de petista". Ainda mais quando duas das maiores ciclovias de São Paulo foram construídas pelo governo tucano, nas margens dos Rios Pinheiros e Tietê.

Antecipando a disputa de 2016, demoniza-se uma ideia porque ela pode - talvez - ajudar o prefeito do PT a se reeleger. Assim, todo ciclista é tratado como petista e, por oposição, todo motorista vira um antipetista. Vai acabar em atropelamento.

Igor Gielow - Desalento

- Folha de S. Paulo

A divulgação dos números do PIB mostram um quadro que seria desalentador por si só, mas que ganha aspecto de tragédia para um governo de continuidade que não conseguiu começar, passados cinco meses de sua reeleição.

O cenário é desesperador porque todas as fichas estão colocadas no ajuste fiscal de Joaquim Levy, última linha de defesa para tentar atravessar o desastre previsto para 2015 e, cada dia mais, também 2016.

Só que não estamos em 2003, quando uma grande dificuldade econômica, de resto menor em variáveis do que a atual, encontrava um governo forte e respaldado para tocar a correção de rumo.

Dilma está naquela situação do time que precisa de uma combinação de resultados, e não apenas de seus próprios gols, para evitar o rebaixamento no campeonato.

O Planalto precisa do PMDB parlamentar se quiser evitar a aprovação de mais dificuldades econômicas pelo Congresso. Depende do "aliado" (aspas compulsórias) para, na mão contrária, aprovar medidas impopulares --algo cada vez mais ilusório. Necessita também encontrar um discurso para ruas cada vez mais inquietas, outra improbabilidade.

O que o governo faz? Compra brigas. Ora incentiva o partido do Kassab, irritando o PMDB, ora vê o PT derrubar ministro para tentar impor sua agenda belicista contra a "mídia golpista" (mais aspas exigidas), como se isso tivesse de fato algo a ver com as multidões do 15 de março.

Falando nelas, o garrote na vida real se apresenta. Os indicadores de renda e emprego se unem à inflação rediviva no rol de ruínas da gestão Dilma-1, corroendo, como de resto todas as pesquisas mostram, sua popularidade não só entre os ricos e brancos demonizados pelo PT.

A resultante é que não há solução política à vista, e a esgarçadura do tecido econômico jogou no colo do ajuste de Levy toda a responsabilidade por uma saída. A coisa está feia.

Demétrio Magnoli - O impeachment silencioso

• A presidente Dilma Rousseff perdeu a legitimidade concedida pelos eleitores. Seu governo já terminou

- Folha de S. Paulo

Dilma Rousseff "está numa armadilha", diagnosticou FHC à Folha (26/3). "Ela não tem o que fazer. O que tinha, já fez: nomeou o Levy. E isso só aumenta a armadilha, porque agora ela não pode demitir. É refém dele." O diagnóstico está certo, mas ilumina só um terço do cenário. A presidente é refém, igualmente, do PMDB (de fato, do trio Renan Calheiros/Eduardo Cunha/Michel Temer) e do lulopetismo (de fato, de Lula e dos movimentos sociais que operam ao redor dele). Numa entrevista ao "Estadão", Eduardo Graeff explicou que o governo Dilma "chegou ao fim". É verdade: imobilizada na armadilha triangular, sem "credibilidade" nem "capacidade de ação política" (FHC), Dilma reduziu-se a "uma assombração política" (Graeff). Já aconteceu um impeachment tácito, informal.

Levy é proprietário da credibilidade econômica. O ministro funciona como uma delgada película que separa a economia de um catastrófico rebaixamento pelas agências de rating. Dilma não pode demiti-lo pois, sem a promessa do ajuste fiscal que ele personifica, o país seria tragado no vórtice da fuga de capitais. Mas, como registrou FHC, "a racionalidade econômica pura esmaga tudo" --ainda mais, acrescente-se, quando essa "racionalidade" está contaminada pelo dogma ideológico do equilíbrio fiscal a qualquer custo. O ajuste sem reformas estruturais de Levy, complemento simétrico da farra fiscal de Mantega, não serve ao país, mas conserva no Planalto a "assombração" de uma presidente sem poder.

O trio peemedebista é proprietário da maioria no Congresso, que hoje se forma pela oscilação do PMDB entre o governo e a oposição. Dilma não pode confrontá-los, pois eles empunham o sabre do impeachment formal e o fazem girar, sadicamente, em torno do pescoço da presidente. O jogo da chantagem, uma norma do nosso doentio "presidencialismo de coalizão", atinge níveis agônicos. Os chefões do PMDB utilizam esse poder extraordinário em nome dos seus próprios interesses, desenhando a reforma política que lhes convêm e articulando com o governo os acordos de leniência destinados a resgatar as empreiteiras do "petrolão".

Lula, com seu cortejo de movimentos sociais (CUT, a UNE, o MST), é proprietário da sustentação partidária de Dilma. O candidato declarado às eleições de 2018 pode cortar, num momento conveniente, o tubo do regulador que ainda fornece ar comprimido ao fantasma do Planalto. Os andrajos da autonomia da presidente, que atendem pelos nomes de Aloizio Mercadante, Miguel Rossetto e Pepe Vargas, já foram descartados no cesto de roupa suja. Nas ruas, dia 7, repetindo o dia 13, o "exército" de Lula, força mercenária em declínio, não oferecerá um contraponto impossível às manifestações anti-Dilma, mas cobrará novos gestos de submissão da "companheira". Eles exigem iniciativas simbólicas (e verbas publicitárias sonantes), destinadas a compensar a militância pela dores do apoio ao ajuste fiscal.

No presidencialismo, o chefe de Estado não pode tudo --mas tem o poder de determinar os rumos estratégicos do governo. A legitimidade emanada do voto popular é o ativo intangível que proporciona ao presidente o poder de contrariar interesses entranhados no sistema político. FHC confrontou o conjunto da elite política ao estabelecer a Lei de Responsabilidade Fiscal. No seu primeiro mandato, Lula confrontou o PT ao conservar o tripé da estabilidade macroeconômica herdado de seu antecessor. Capturada na teia da mentira, Dilma perdeu a legitimidade concedida pelos eleitores. Sem o rito da denúncia, processo e julgamento, a presidente sofreu um impeachment silencioso.

Assombrado pela figura errante da presidente destituída, o Planalto está entregue ao triângulo de beneficiários do impeachment silencioso, que agem em direções diferentes, sob motivações distintas. O desgoverno não pode perdurar por quatro anos.

Miriam Leitão - Mal parados

- O Globo

A economia parou em 2014, apesar da Copa do Mundo, das eleições que normalmente aumentam o gasto público e incentivam a atividade econômica, e a despeito da melhoria da economia mundial. Na divulgação dos dados, ontem, ficou provado que o número ruim foi resultado da política econômica errada: o país teve um resultado de 0,1% no PIB e uma inflação no teto da meta.

Não há esperanças de melhora a curto prazo. A queda de 4,4% do investimento, por si só, já indica que 2015 não será um ano fácil. Para quem tinha alguma dúvida, ela acabou com a declaração do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que o país está vivendo neste começo de ano uma “forte desacelerada”. Está preparando, talvez, a opinião pública para o número que virá do primeiro trimestre de 2015. O que Levy espera é que a alta do dólar acabe produzindo o efeito de empurrar as exportações, e isso ajude a economia neste ano que já se sabe que será de recessão.

O PIB não saiu do lugar, mas muita coisa mudou na forma de cálculo pelo IBGE. Os dados foram revisados de 1996 até agora, mudando ligeiramente alguns anos, mas com alterações mais fortes no governo Dilma. Em 2011, como já foi divulgado semanas atrás, o crescimento saiu de 2,7% para 3,9%. O de 2012 saiu de 1% para 1,8%. O de 2013 saiu de 2,5% para 2,7%. Com o 0,1% de 2014, o país teria, se os números não fossem alterados, uma média de crescimento anual de 1,5% no primeiro governo Dilma. As mudanças levaram o crescimento médio a ser de 2,1%. Mesmo assim, é a pior taxa desde o real.

O IBGE mudou a metodologia e, além disso, fez agora as revisões que normalmente são feitas de forma mais espaçadas.

— Todos os países divulgam os dados preliminares e depois fazem revisões. Aqui no Brasil, também. Só que, como estávamos mudando a metodologia do PIB, deixamos para fazer depois essas revisões, que são feitas a partir das novas pesquisas que são incorporadas — explicou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais.

A nova forma de calcular o PIB fez três alterações importantes, como explicou Roberto Olinto, coordenador de pesquisas do IBGE, e Rebeca Palis. Primeiro, pesquisa e desenvolvimento deixaram de ser classificados como gasto para virarem investimento. É bem verdade que isso não provoca um salto grande porque, no Brasil, infelizmente, há poucos centros de pesquisa. Segundo, houve uma reformulação da forma de calcular a construção civil, com a incorporação de salários, o que fez subir 2010 e 2011, principalmente. A terceira mudança afetou negativamente 2010 e positivamente 2011, que é o uso das térmicas.

— Quando se usa as térmicas há uma queda da renda do setor de eletricidade, e, portanto, ele contribui menos para a alta do PIB. Em 2010, houve grande uso das termelétricas. Em 2011, elas foram desligadas, e isso favoreceu mais o cálculo de 2011 — disse Roberto Olinto.

Essas alterações da forma de calcular são aperfeiçoamentos naturais do indicador e, em alguns casos, seguem orientações internacionais, mas mesmo com revisões e mudanças, o fundamental permanece igual. De 2011 para 2012, o Brasil desacelerou durante o governo Dilma. Melhorou um pouco em 2013, para parar completamente em 2014. Agora se prepara para um PIB negativo em 2015. Um período sem brilho algum, apesar dos fortes subsídios dados aos setores industriais, principalmente, e do incentivo ao endividamento.

O governo usou a desculpa durante todo o ano passado de que a crise internacional explicava o resultado ruim da economia, mas ontem os Estados Unidos divulgaram o crescimento do ano de 2014 em 2,2%. Os Estados Unidos vêm retomando o crescimento, a Europa cresceu mais que o Brasil, a Alemanha terminou o ano em 1,6%. A China desacelerou, mas ficou acima de 7%. A Índia acelerou para 7%. A Colômbia cresceu 4,6%. Em relação à América Latina, o Brasil só está melhor do que a Venezuela, que enfrenta forte recessão.

Com todos os números na mão, não há dúvida: não crescemos porque o Brasil errou na condução da política econômica. E ainda teremos que passar por mais turbulências para colocar a casa em ordem.

Com essa Lula não contava – Editorial / O Estado de S. Paulo

Em 2010, o presidente Lula surfava na popularidade e achava-se insuperável. Tanto que escolheu um poste para lhe suceder - a chefe da Casa Civil Dilma Rousseff. Com os principais nomes do PT envolvidos no escândalo do mensalão, a escolha de Dilma parecia um golpe de mestre. Ela, que nunca tinha concorrido a uma eleição, podia apresentar-se sem mácula ao eleitorado. E, principalmente, ao criar uma candidata sem sustentação política própria, Lula seria o seu esteio - e poderia continuar dando as ordens.

Diante das graves necessidades do País, a escolha de Dilma era um passo mais que arriscado. A Presidência da República exige não poucas habilidades administrativas e políticas nas quais a então candidata não tinha sido testada. Mas os interesses do País nunca pesaram muito nos cálculos de Lula. O importante era manter a continuidade do seu projeto de poder.

Como ficou evidente ao longo dos quatro anos do primeiro mandato de Dilma, a escolha de Lula significou um enorme prejuízo para o País. As piores expectativas concretizaram-se. Com o seu voluntarismo, sua inabilidade para a política, sua incompetência administrativa e, principalmente, sua incapacidade de enxergar objetivamente a realidade, Dilma simplesmente desgovernou o País, afetando negativamente todos os setores da economia.

A presidente Dilma Rousseff foi capaz de criar tamanho caos que, mesmo com todo o assistencialismo estatal - os repasses econômicos diretos do governo federal à população de baixa renda -, por pouco a oposição não ganhou as eleições de 2014. Mas o fato é que o PT venceu mais uma eleição presidencial e Lula ganhava, assim, mais um round da vida política brasileira.

No entanto, o ex-presidente esqueceu-se de uma coisa. Ao escolher um poste para suceder-lhe, não colocou em risco "apenas" o País. Lula não percebeu, na sua infinita esperteza, que aquela escolha significava mais do que pôr o interesse particular - a manutenção do PT no poder - acima do interesse coletivo. Ao escolher Dilma, ele estava colocando em risco o próprio PT. Lula não fez apenas um cálculo egoísta e irresponsável. Fez um cálculo errado.

Tanto é assim que o País assiste agora a um inusitado fenômeno. Ao invés de atrair apoios, o partido que controla o governo federal e deveria ter folgada maioria no Congresso provoca rejeição. É rejeitado por grande parte da população e, agora, por alguns de seus membros. Marta Suplicy foi a primeira a avisar que abandonaria o barco. Ao Estado, a senadora afirmou: "Ou o PT muda ou acaba". Esperta, deu-se conta dos rumos da opinião pública.

Mas Marta não é a única insatisfeita. O também senador Paulo Paim, petista histórico do Rio Grande do Sul, com quatro mandatos na Câmara e dois no Senado, também está preparando as malas. Em entrevista ao Estado, Paim afirmou que, caso as coisas se mantenham como estão, terá "muita dificuldade de ficar" no PT. E há outros tantos insatisfeitos nas bancadas petistas, incluindo outro senador, Walter Pinheiro (PT-BA).

Diante dessa movimentação, Lula - que é muito ativo quando o seu interesse está em jogo - tem arregaçado as mangas e ido à luta. Em primeiro lugar, foi falar mais uma vez com a sua criatura, a presidente Dilma Rousseff. E num tom de voz que não deixava dúvidas quanto ao seu estado de ânimo. Agora, Lula vem gastando todo tempo que pode para dissuadir os insatisfeitos de dissentir ou desertar.

Talvez tenha se dado conta de que não estão em jogo apenas as eleições de 2018 nem muito menos as de 2016. O que agora parece estar em jogo é a continuidade do PT como partido relevante na política brasileira. As recentes votações na CPI da Petrobrás - com a convocatória de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, e de Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - mostram um cenário impensável até bem pouco tempo atrás.
Sem nem desconfiar, Lula pode ter assinado a sentença de morte do próprio partido, ao ter escolhido Dilma Rousseff para suceder-lhe. Os fatos dirão.

PIB de 2014 reflete os equívocos da política econômica – Editorial / O Globo

• O primeiro governo Dilma teve a ilusão de que abrindo as torneiras das finanças públicas e aumentando o intervencionismo a economia estaria salva da recessão

A divulgação dos resultados preliminares do Produto Interno Bruto referentes ao último trimestre de 2014 (e do ano como um todo ) serviu mais para se avaliar o efeito da nova metodologia de cálculo do PIB adotada pelo IBGE, pois todas as demais estatísticas já vêm refletindo a difícil conjuntura econômica do país. Crescimentos abaixo de 0,5% ao ano não são considerados relevantes pelos próprios especialistas do IBGE (assim como uma retração de igual proporção), pois, em qualquer dessas hipóteses, trata-se de um quadro de estagnação. É claro que existe uma sensação psicológica de alívio por ter havido um crescimento de 0,1% e não um encolhimento de 0,1%.

O que importa agora é a análise das causas dessa estagnação. Ainda que desacelerando, o consumo das famílias registrou crescimento no ano passado (variação de 0,9%, a menor desde 2003). Preocupante foi a queda dos investimentos, da ordem de 4,4%,. Durou pouco a satisfação de sabermos que, pela nova metodologia, o país registrara taxas de investimentos de mais de 20% do PIB em 2011 e 2012 — 25% é considerado o índice ideal. Com a retração ocorrida no ano passado, a taxa de investimento voltou a ser inferior a 20%.

Também, nesse caso, estar um pouco acima ou um pouco abaixo só tem mesmo um efeito psicológico de curto prazo. A retração de investimentos é de fato muito séria devido às circunstâncias em que ocorreu. O primeiro governo Dilma tentou manter a economia ativa abrindo as torneiras das finanças públicas. Emitiu uma montanha de títulos públicos para repassar recursos ao BNDES, que, com empréstimos a taxas subsidiados, acabou se tornando a única fonte de financiamentos de longo prazo na economia brasileira.

Pura ilusão, calcada na visão equivocada de que o Estado deve ser sempre o ator principal e determinante nos rumos da economia, cabendo ao setor privado papel coadjuvante. Se no lugar do intervencionismo estatal, o governo tivesse se orientado mais a estimular forças de mercado, o país já poderia ter poupança privada suficiente para financiar os investimentos, pois os próprios negócios gerariam renda e capital capazes de sustentar um processo de crescimento.

Mas, mesmo quando governo se convenceu da necessidade de usar mais o regime de concessões nos empreendimentos de infraestrutura, perdeu-se um tempo precioso tentando-se definir taxas máximas de retorno calculadas com base em critérios fora da realidade, devido à ojeriza ao lucro.

Daí a grande expectativa que se criou em torno do ajuste fiscal em andamento. A desaceleração econômica do ano passado se aguçou nesses primeiros meses de 2015, o que é evidenciado pelo aumento do desemprego. No entanto, a política econômica segue agora um curso que se afasta do artificialismo, dando mais chance para o mercado funcionar. Os dados podem até espelhar uma deterioração de imediato, mas as perspectivas hoje são bem mais promissoras do que as do último trimestre de 2014.