sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

As denúncias tornadas públicas hoje do depoimento de um ex-dirigente da Petrobras são estarrecedoras. Mais de US$ 200 milhões, segundo ele, foram desviados ao longo dos últimos anos da nossa maior empresa para o Partido dos Trabalhadores. Durante a campanha eleitoral, eu várias vezes cobrava, inclusive da candidata Dilma Rousseff, uma posição sobre se ela confiava ou não no tesoureiro do seu partido, hoje, denunciado por este dirigente da Petrobras como o receptor de parte deste recurso desviado. Nada como o tempo para trazer luz à verdade.

É absolutamente fundamental que as investigações continuem ocorrendo e os responsáveis pelo maior escândalo de corrupção da nossa história sejam punidos exemplarmente. E nós da oposição estamos e estaremos atentos para que não haja qualquer manobra que desvie o centro desta questão. É preciso que saibamos, de forma muito clara, quem foram os responsáveis por estes desvios, quem foram aqueles responsáveis por suas indicações e, em especial, quem foram os beneficiários desse esquema. É triste para o Brasil. Estamos absolutamente atentos para que no Congresso Nacional, através da CPI na Câmara, possamos avançar nessas investigações.

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O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, comentou a deflagração da nona fase da operação Lava Jato da Polícia Federal, que levou à intimação do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.O Globo, 6 de fevereiro de 2015.

PT recebeu US$ 200 milhões, diz delator; Câmara cria CPI

Dez anos de propina ao PT

• Delator diz que, de 2003 a 2013, partido recebeu até us$ 200 milhões desviados de contratos

Cleide Carvalho*, Renato Onofre e Andressa Maltaca** - O Globo

CURITIBA e SÃO PAULO - Às vésperas de completar 35 anos, o PT foi acusado de ter recebido entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões (entre R$ 400 milhões e R$ 540 milhões) em propinas derivadas de 87 contratos da Petrobras e viu o tesoureiro da legenda, João Vaccari Neto, ser levado ontem por policiais para depor na sede da Polícia Federal, em São Paulo. A acusação contra o PT faz parte da delação premiada de Pedro Barusco Filho, ex-gerente executivo da Petrobras e principal auxiliar do ex-diretor de Serviços Renato Duque, apontado como um dos arrecadadores de propina junto às empreiteiras que fechavam negócios com a estatal.

Do dinheiro desviado para o PT, entre 2003 e 2013, segundo Barusco, pelo menos US$ 50 milhões (cerca de R$ 135 milhões) passaram pelas mãos de Vaccari. Pelo menos quatro diretorias da estatal (Abastecimento, Serviços, Internacional e Gás e Energia) faziam parte do esquema. Foi com base no depoimento do ex-gerente, que a Polícia Federa realizou ontem a nona etapa da Operação Lava-Jato, apelidada de My Way - como Barusco chamava Duque.

A delação detalhou a repartição da propina. Barusco disse que, nos contratos da Diretoria de Abastecimento, a propina era de 2%, sendo que o ex-diretor da área Paulo Roberto Costa ficava com 1% e o PT, com 1%. Na parcela que cabia ao partido, Vaccari controlava 0,5% e a "casa", representada por Duque, com o restante. Em um dos depoimentos, em 24 de novembro, Barusco disse que os ex-diretores da Petrobras Jorge Luiz Zelada e Roberto Gonçalves chegaram a receber propina.

Barusco devolverá US$ 67,5 milhões
O depoimento de Barusco envolveu a Diretoria de Gás e Energia, onde, segundo ele, também havia um esquema de pagamento de propina. A diretoria já foi ocupada por Ildo Sauer e Graça Foster, que hoje deixa a presidência da estatal. Barusco, no entanto, disse que Graça e Sauer não sabiam das fraudes.

- Não tinha espaço para conversar essas coisas com Ildo Sauer e com Graça Foster - afirmou: - Se sabiam, conservaram isso para si.

Pelo acordo de delação, Barusco terá de devolver US$ 67,5 milhões (R$ 490 milhões). Desse montante, US$ 6 milhões estão depositados em uma offshore em nome de sua mulher, Luciana Adriano Franco. Ele terá ainda de pagar uma multa de R$ 3,25 milhões. Barusco não cumprirá prisão em regime fechado. Segundo a Justiça, qualquer pena restritiva será revertida em dois anos de regime aberto diferenciado: ele não poderá ficar na rua de 20h às 6h, nem durante os fins de semana.

Na nova fase da Lava-Jato, a Justiça expediu 62 mandados, incluindo três prisões temporárias e uma preventiva, 40 de busca e apreensão e 18 conduções coercitivas. O foco da nova investigação é a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, onde o esquema criminoso também ocorria. Na BR, porém, 11 operadores teriam sido responsáveis pela negociação de propinas, enquanto na Petrobras o esquema tinha um protagonista: o doleiro Alberto Youssef.
Propina na construção de navios
O procurador federal Carlos Fernando Lima disse que os investigadores querem que Vaccari fale sobre as denúncias e pedidos de doação, legais e ilegais, feitos a fornecedores da Petrobras.

Segundo Barusco, Vaccari participava de acertos entre funcionários da estatal e de estaleiros nacionais e internacionais relativos a 21 contratos para construção de navios equipados com sondas. Essas contratações envolveram cerca de US$ 22 bilhões (R$ 59 bilhões).

"Essa combinação envolveu o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, João Vaccari Neto, o declarante (Barusco) e os agentes de cada um dos estaleiros, que deveria ser distribuído o percentual de 1%, posteriormente para 0,9%, conta Barusco na delação premiada".

Na negociação com os estaleiros, disse Barusco, o tesoureiro do PT já havia recebido US$ 4,52 milhões só de um deles. Segundo o delator, Vaccari era identificado numa tabela de pagamento de valores pela sigla "Moch", abreviatura de "mochila", porque "o declarante quase sempre presenciava João Vaccari Neto usando uma mochila".

Encontros em hotéis do Rio e de SP
Barusco disse que Vaccari era próximo de Duque e que os dois se reuniam em hotéis do Rio e de São Paulo para discutir o andamento dos contratos e cobrança de propinas. E contou que Vaccari ainda negociava com empresas.

Outro que também cobraria propina era Jorge Zelada, que foi gerente da área de Serviços e, depois, diretor da área Internacional. Barusco disse que, eventualmente, ele recebia parte do dinheiro pago a Duque e, em contratos de menor monta, cobrava a propina da empresa contratada. Barusco detalhou a divisão do dinheiro na área de Serviços: Duque ficava com 60% e Barusco, com 40%. Quando o negócio era intermediado por um operador o percentual mudava: 40% para Duque, 30% para Barusco e 30% para o operador. Cada empreiteira do cartel tinha um Operador . (*Enviada especial;*Especial para O GLOBO)

PT recebeu até US$ 200 milhões em propina afirma delator

• Valor teria sido pago por firmas que tinham os 89 maiores contratos da estatal

• Policiais pularam o muro da casa do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, para levá-lo a depor em SP

Aguirre Talento, Gabriel Mascarenhas, Rubens Valente, Mario Cesar Carvalho e Estelita Hass Carazzai – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, SÃO PAULO, CURITIBA - O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco disse em depoimento prestado após fazer acordo de delação premiada na Operação Lava Jato que o PT recebeu de propina entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões, no período de 2003 a 2013, paga por empresas que detinham os 89 maiores contratos da Petrobras. Os valores correspondem hoje a R$ 411 milhões e R$ 548 milhões.

Segundo ele, o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, teve "participação" direta no recebimento do suborno.

Nesta quinta (5), Vaccari foi levado à sede da Polícia Federal em SP para prestar depoimento sobre "doações legais e ilegais" ao PT, segundo o delegado Igor de Paula. Os agentes encarregados de conduzir Vaccari Neto à PF tiveram que pular o muro da casa do tesoureiro porque ele resistira a abrir a porta.

A ação da PF fez parte da nona fase da Lava Jato, batizada de My Way. A música cantada por Frank Sinatra, segundo Barusco, lembrava-lhe Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal, indicado ao cargo pelo PT.

O tesoureiro e a direção da legenda negam que tenham recebido doações ilegais.

De 2003 a 2010, Barusco foi gerente da diretoria de Duque. Segundo ele, Duque recebeu US$ 40 milhões em contas no exterior e de R$ 10 milhões a R$ 12 milhões no Brasil, o que o ex-diretor nega. Duque foi preso em novembro e solto pelo Supremo.

Barusco fechou um acordo de delação em novembro, no qual aceitou devolver US$ 97 milhões que recebera de suborno. Nos depoimentos, ele contou que, na diretoria de Serviços, a propina foi paga até fevereiro de 2014. O trecho do depoimento tornado público nesta quinta (5) foi prestado em 20 de novembro.

"O pagamento de propinas dentro da Petrobras era algo endêmico e institucionalizado", disse o ex-gerente.

Barusco detalhou a suposta participação de Vaccari em um acerto fechado entre funcionários da Petrobras e estaleiros nacionais e internacionais relativos a 21 contratos para construção de navios, no valor de US$ 22 bilhões.

"Essa combinação envolveu o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, João Vaccari Neto, o declarante [Barusco] e os agentes de cada um dos estaleiros", contou Barusco. A propina no caso dos navios foi de 1%, mas em outras diretorias chegava a 2%, segundo ele.

O ex-gerente também forneceu documentos que, diz ele, comprovam os pagamentos realizados pelos estaleiros em contas na Suíça.

Segundo o delator, o 1% sobre o valor dos contratos era dividido da seguinte forma: "2/3 [dois terços] para Vaccari; e 1/3 para 'Casa 1' e 'Casa 2'". A "Casa 1", para o ex-gerente, era o termo usado para o pagamento de propina para Duque e Roberto Gonçalves. Citado pela primeira vez, Gonçalves substituiu Barusco no cargo de gerente.

A "Casa 2" referia-se "ao pagamento de propinas no âmbito da Sete Brasil". Barusco citou João Carlos de Medeiros Ferraz, presidente da empresa, e Eduardo Musa, diretor de participações.

Barusco aposentou-se da Petrobras em 2010 e foi diretor da Sete Brasil de 2011 a 2013. A Sete Brasil foi criada para atuar no mercado de sondas do pré-sal e tem como sócios fundos de pensão como o Previ e os bancos BTG Pactual e Bradesco.

O ex-gerente entregou aos procuradores planilha em que detalha a divisão de propina num total de 89 contratos.

Delator afirma que tesoureiro do PT arrecadou US$ 200 milhões em propinas para partido

• Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobrás, disse que João Vaccari Neto recebeu valores sobre 90 contratos da estatal petrolífera no período de 2003 a 2013, em nome do partido

Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Julia Affonso e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

O ex-gerente de Serviços da Petrobrás, Pedro Barusco, afirmou à força tarefa da Operação Lava Jato, que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, arrecadou até US$ 200 milhões em propinas para o partido sobre 90 contratos da estatal petrolífera no período de 2003 a 2013. Barusco declarou que Vaccari recebeu o dinheiro “em nome do PT”.

As declarações provocaram a deflagração da explosiva My Way, nona fase da Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção envolvendo a Petrobrás. Contra Vaccari Neto, foi expedido um mandado de condução coercitiva e ele teve de prestar depoimento na sede da PF, em São Paulo. O tesoureiro falou à PF e foi liberado no início da tarde.

Ele afirmou à Polícia Federal que todas as contribuições obtidas por ele para o partido “foram absolutamente dentro da lei”. Vaccari desmentiu as declarações de Barusco, por meio de seu advogado.

“Essa informação não procede”, rechaçou com veemência o criminalista Luiz Flávio Borges D’Urso, que defende o tesoureiro do partido.

O PT também reagiu às denúncias do delator. O partido, em nota oficial, destacou que recebe “apenas doações legais”.

Barusco disse que “estima que foi pago o valor aproximado de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões ao Partidos dos Trabalhadores”. Um dos delatores da Lava Jato, Barusco foi braço direito de Renato Duque na Diretoria de Serviços da Petrobrás.

Para não ser preso, o ex-gerente decidiu fazer a delação premiada. Segundo Pedro Barusco, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, conduzido nesta quinta feira, 5, para depor na Polícia Federal em São Paulo, recebeu US$ 4,523 milhões “a título de propina do estaleiro Kepell Fels”.

Segundo integrantes da força-tarefa da Lava Jato, a operação de hoje teve como objetivo coletar provas de desvios ocorridos na diretoria de Serviços da Petrobrás. Onze operadores teriam participado do esquema, entre eles, o tesoureiro.

A Polícia Federal afirma que a nova etapa é resultado da análise de documentos e contratos já apreendidos por ela, além de informações repassadas por um dos investigados e de denúncias de uma ex-funcionária de uma das empresas alvo da Lava Jato.

Veja a nota completa de Vaccari:
“João Vaccari Neto, secretário de Finanças do Partido dos Trabalhadores – PT, por sua defesa, vem a público para dizer que há muito ansiava pela oportunidade de prestar os esclarecimentos que nesta data foram apresentados à Polícia Federal, para de forma cabal, demonstrar as inúmeras impropriedades publicadas pela imprensa nos últimos meses, envolvendo seu nome.

Reitera, mais uma vez, que o Partido dos Trabalhadores – PT, não tem caixa dois, nem conta no exterior, que não recebe doações em dinheiro e somente recebe contribuições legais ao partido, em absoluta conformidade com a Lei, sempre prestando as respectivas contas às autoridades competentes.

Sua defesa registra ainda, que o Sr. Vaccari permanece à disposição das autoridades, para prestar todos e quaisquer esclarecimentos, e que sua condução coercitiva, desta data, entendeu-se desnecessária, pois bastaria intimá-lo, que o Sr. Vaccari comparece e presta todas as informações solicitadas, colaborando com as investigações da operação “Lava Jato”, como sempre o fez.”

Leia a íntegra da nota oficial do PT:
“A assessoria de imprensa do PT reitera que o partido recebe apenas doações legais e que são declaradas à Justiça Eleitoral. As novas declarações de um ex-gerente da Petrobras, divulgadas hoje, seguem a mesma linha de outras feitas em processos de “delação premiada” e que têm como principal característica a tentativa de envolver o partido em acusações, mas não apresentam provas ou sequer indícios de irregularidades e, portanto, não merecem crédito. Os acusadores serão obrigados a responder na Justiça pelas mentiras proferidas contra o PT.”

Aécio: denúncias de pagamento de propina ao PT são ‘estarrecedoras’

• ‘Nada como o tempo para trazer luz à verdade’, diz tucano; líder do DEM diz que Barusco deve ser convocado a depor na nova CPI

Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA — O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), classificou as denúncias do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco como “estarrecedoras” e cobrou a continuidade das investigações, inclusive com os trabalhos da CPI na Câmara, criada nesta quinta-feira com o apoio dos partidos de oposição e alguns da base aliada. Segundo Barusco, o partido recebido até US$ 200 milhões em propina de contratos da Petrobras entre 2003 e 2013.

— As denúncias tornadas públicas hoje no depoimento de um ex-dirigente da Petrobras são estarrecedoras. Durante a campanha eleitoral, eu várias vezes cobrava, inclusive da candidata Dilma Rousseff, uma posição sobre se ela confiava ou não no tesoureiro do seu partido, hoje, denunciado por este dirigente da Petrobras como o receptor de parte deste recurso desviado. Nada como o tempo para trazer luz à verdade — disse Aécio, completando:

— É absolutamente fundamental que as investigações continuem ocorrendo e os responsáveis pelo maior escândalo de corrupção da nossa história sejam punidos exemplarmente. É preciso que saibamos, de forma muito clara, quem foram os responsáveis por estes desvios, quem foram aqueles responsáveis por suas indicações e, em especial, quem foram os beneficiários desse esquema. É triste para o Brasil. Estamos absolutamente atentos para que no Congresso Nacional, através da CPI na Câmara, possamos avançar nessas investigações — disse o senador.

Convoação de Barusco
O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), avaliou hoje que o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, deve ser um dos primeiros convocados a depor na nova CPI que investigará as denúncias de corrupção na estatal. Na visão do deputado, as revelações do funcionário da estatal de que o PT recebeu US$ 200 milhões em propinas demonstram que o objetivo central do esquema era o financiamento ilegal de partidos políticos.

“A máscara caiu. Esse depoimento do Barusco demonstra que toda a corrupção tinha o grande objetivo, além do enriquecimento ilícito de agentes públicos, de financiar partidos políticos. Os números são espantosos e prova que existe uma verdadeira máfia instalada na Petrobras. Pedro Barusco, que também se beneficiou do esquema, deve ser um dos primeiros convocados a depor na nova CPI da Petrobras”, afirmou o líder, por meio de nota.

O delator Pedro Barusco, ex-gerente da diretoria de Serviços da Petrobras, afirmou em delação premiada que, no período de 2003 a 2013, o PT recebeu entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propina de 90 contratos firmados pela estatal. Pelo menos US$ 50 milhões deste montante teriam passado pelas mãos do atual tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Os contratos incluem obras como a Refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, e a Repar, no Paraná.

Os depoimentos de Barusco, prestados em novembro do ano passado, foram divulgados nesta quinta-feira pela Justiça Federal do Paraná. Foi através de informações fornecidas por Barusco que a Polícia Federal deflagrou, entre outras, a nona fase da Operação Lava-Jato, que nesta quinta-feira cumpriu mandatos em São Paulo, Rio, Bahia e Santa Catarina, além de levar João Vaccari para depor.

Dilma ignora crise na Petrobras e defende pré-sal na educação

• Em posse de ministro, presidente não cita denúncias sobre estatal

Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff ignorou a crise na Petrobras e a mais nova operação da Polícia Federal ao discursar por cerca de dez minutos na posse de mais um ministro nesta quinta (5), no Planalto.

Em rápida cerimônia que começou às 10h40, Dilma deu posse ao novo ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Mangabeira Unger, que assume o posto no lugar de Marcelo Neri. Na saída, ela não deu entrevistas.

A presidente afirmou em seu discurso que o país deve usar os recursos provenientes da exploração do pré-sal como "passaporte" para se chegar à qualidade educacional. Apesar de citar um dos principais investimentos da Petrobras, a presidente não fez qualquer menção à crise política que a empresa enfrenta.

"Eu acredito que fazer do Brasil uma pátria educadora é transformar, como sempre dissemos, o nosso passaporte do pré-sal em qualidade educacional", disse.

Além das denúncias de corrupção na estatal, Dilma enfrenta outro problema mais urgente: precisa definir um nome para substituir Graça Foster no comando da empresa.

A SAE é responsável por assessorar diretamente o presidente da República no planejamento nacional e na formulação de políticas públicas de longo prazo voltadas ao desenvolvimento nacional. A secretaria é responsável pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

"Nós precisamos ligar todas as políticas de curto prazo a uma visão de longo prazo do nosso país", disse Dilma.

Mangabeira Unger foi o primeiro ministro da SAE. Ele assumiu a secretaria em 2007, quando ela ainda se chamava Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, e permaneceu no cargo até 2009.

Desde 1971, Unger é professor da Universidade Harvard, nos EUA. Ele interrompeu seu período na academia para assumir o cargo e retornou assim que saiu do governo. Unger é filiado ao PMDB.

Delator diz que PT recebeu até US$ 200 milhões em propina; US$ 50 milhões pelas mãos de Vaccari

• Pedro Barusco relatou que, na área de Abastecimento da Petrobras, a propina era de 2%; Paulo Roberto Costa controlava 1% e o outro 1% era para o PT

Cleide Carvalho, Renato Onofre – O Globo

CURITIBA e SÃO PAULO — O delator Pedro Barusco, ex-gerente da diretoria de Serviços da Petrobras, afirmou em delação premiada que, no período de 2003 a 2013, o PT recebeu entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propina de 90 contratos firmados pela estatal. Pelo menos US$ 50 milhões deste montante teriam passado pelas mãos do atual tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Os contratos incluem obras como a Refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, e a Repar, no Paraná.

Os depoimentos de Barusco, prestados em novembro do ano passado, foram divulgados nesta quinta-feira pela Justiça Federal do Paraná. Foi através de informações fornecidas por Barusco que a Polícia Federal deflagrou, entre outras, a nona fase da Operação Lava-Jato, que nesta quinta-feira cumpriu mandatos em São Paulo, Rio, Bahia e Santa Catarina, além de levar João Vaccari para depor.

Ainda de acordo com Barusco, também era cobrada propina dos contratos que envolviam a Diretoria de Gás e Energia, que teve como diretores Ildo Sauer e Graça Foster. É a primeira vez que uma denúncia não está relacionada às diretorias de Abastecimento, Serviços e Internacional, alvos da Operação Lava-Jato, até então.

De acordo com a delação, quando indagado pelo delegado da Polícia Federal sobre o quanto João Vaccari Neto recebeu em nome do Partido dos Trabalhadores pelos 90 contratos, Barusco afirmou que Vaccari recebeu, “a título de propina”, aproximadamente US$ 50 milhões. Barusco estimou no depoimento que foi pago o valor aproximado de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões de dólares ao Partido dos Trabalhadores, “com a participação de João Vaccari Neto”.

Barusco afirmou ainda nos depoimentos que, no período em que atuou como gerente Executivo de Engenharia da Petrobras entre 2003 e 2011, os pagamentos de propinas eram feitos diretamente a Renato Duque (ex-diretor de Serviços), Vaccari Neto e Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras.

Ele disse que, nos contratos da Diretoria de Abastecimento, a propina era de 2%. Destes, o ex-diretor Paulo Roberto Costa controlava 1% dos valores e o outro 1% era para o PT. Na parte que cabia ao partido, João Vaccari ficava com 0,5% e a “casa”, representada pelo ex-diretor de Serviços, com o outro restante. Em um dos depoimentos, prestado no dia 24 de novembro, Barusco disse que, esporadicamente, os ex-diretores da Petrobras Jorge Luiz Zelada e Roberto Gonçalves participavam da divisão.

Barusco relatou ainda um episódio em que Vaccari teria recebido diretamente do estaleiro Kepell Fels US$ 4,523 milhões.

“No caso da OAS o Vaccari Neto tratava diretamente o valor da propina para o PT com o Leo Pinheiro, presidente da empreiteira”, contou o delator.

Semanada de R$ 50 mil
Barusco relatou ainda que seu ex-chefe, o então diretor de Serviços Renato Duque,pedia semanalmente R$ 50 mil em dinheiro de propina cobrada em contratos com a Petrobras e que continuou a recebê-las em conta no exterior, mesmo depois de ter deixado o posto, em 2012. Barusco disse que Duque não precisava exigir dos empresários o pagamento de propina, pois ele era endêmico na Petrobras e “fazia parte da relação”.

Em nota, a assessoria de imprensa do PT reiterou que o partido recebe apenas doações legais e que são declaradas à Justiça Eleitoral.

“As novas declarações de um ex-gerente da Petrobras, divulgadas hoje, seguem a mesma linha de outras feitas em processos de “delação premiada” e que têm como principal característica a tentativa de envolver o partido em acusações, mas não apresentam provas ou sequer indícios de irregularidades e, portanto, não merecem crédito. Os acusadores serão obrigados a responder na Justiça pelas mentiras proferidas contra o PT”, diz a nota.

O advogado de Renato Duque, Alexandre Lopes, em nota classificou as afirmações de Barusco como mentirosas e fantasiosas. “O senhor Pedro Barusco mentiu, no que tange a Renato Duque, em suas declarações. Pedro Barusco trouxe Renato Duque para o processo, realizando delação falaciosa, com a intenção de ser agraciado pela Justiça com um prêmio, que é o de permanecer em liberdade, apesar de ter confessado inúmeros crimes. Malgrado todas as suas assertivas, não apresentou ao Ministério Público Federal nenhuma prova contra Renato Duque, o que demonstra a fantasia das acusações”, diz a nota.


Leia a íntegra do depoimento de Barusco - Parte 1



Leia a íntegra do depoimento de Barusco - Parte 2


Petrobras recorre à publicidade para tentar melhorar imagem

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Na tentativa de reverter os danos de imagem causados pelos escândalos de corrupção, a Petrobras lançou uma ofensiva publicitária em tom épico. Sob o mote da "superação", a campanha tenta colocar a onda de más notícias reveladas pela Lava Jato como mais um obstáculo na trajetória de 61 anos da empresa --que, afirma a propaganda, vencerá mais essa etapa.

"Hoje os desafios são outros e por isso estamos aprimorando a governança e a conformidade na gestão. Seja qual for o desafio, nossa resposta será aquela que nos acompanha desde sempre: superação", diz a empresa na propaganda.

A campanha foi criada pela NBS, uma das três agências de publicidade que detêm a conta da estatal, e começou a ser planejada em novembro, quando presidentes de empreiteiras e um ex-diretor da estatal, Renato Duque, foram presos pela Polícia Federal. A campanha entrou no ar em 25 de janeiro e deve ser veiculada até março.

Segundo a Petrobras, não houve aumento no volume de inserções publicitárias neste início de 2015, na comparação com outras campanhas institucionais da empresa. "A campanha que estava no ar em fevereiro de 2014 era a fase final da campanha de '60 anos', que se iniciou em maio de 2013".

A Petrobras tem uma verba anual de R$ 330 milhões para publicidade, dividida igualmente entre as agências NBS, FCB e Heads. A primeira cuida das campanhas institucionais.

PT festeja seus 35 anos e fala em golpe; oposição se diz estarrecida

• Para petistas, Vaccari foi levado à PF "para empanar brilho da comemoração"

Tatiana Farah, Thiago Ricci e Simone Iglesias – O Globo

BELO HORIZONTE e BRASÍLIA - Enquanto a Operação Lava-Jato avança na investigação do esquema de corrupção na Petrobras, os petistas estão reunidos em Belo Horizonte para comemorar os 35 anos do partido. Mas ontem o assunto da festa foi a operação da Polícia Federal. Os petistas chegaram a falar em golpe e reclamaram da forma como o tesoureiro João Vaccari Neto foi conduzido ontem à PF de São Paulo para prestar depoimento, na véspera da festa.

O presidente nacional do partido, Rui Falcão, queixou-se de uma "tentativa de criminalizar o PT". Ele também afirmou que Vaccari "nunca pôs dinheiro no bolso".

- É uma tentativa de criminalização do PT através da figura do Vaccari. Não há nenhuma prova, nenhuma circunstância. Essas coisas vão sendo repetidas. E agora, de maneira muito coincidente, na véspera do aniversário do PT. É uma coincidência gravíssima que uma pessoa que vem sendo enxovalhada sem provas seja levada sob condução coercitiva.

Falcão disse ainda que a operação de ontem foi "espetaculosa, induzida, forjada para tentar empanar o brilho do nosso 35º aniversário". Quando perguntado quem estava perseguindo o partido, respondeu:

- É um conjunto de circunstâncias com o apoio de uma certa mídia. Está tendo uma momento de criminalização, é um movimento difuso, de vários setores e com a participação de algumas pessoas do Judiciário.

O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) chegou a falar de um suposto golpe contra o PT.

- O que percebo agora é que parte do PSDB, lamentavelmente, como diz Rui Falcão, está flertando com golpismo. Não pode falar que é tese jurídica, é lamentável aquele texto do Ives Gandra sugerindo o impeachment por omissão, é uma vergonha, isso é golpe. E agora essa condução coercitiva! Se fosse prisão, com mandado de prisão, mas essa condução na véspera do aniversário. Tudo isso parece que querem fazer uma cortina de fumaça e criar uma condição, criar instabilidade na democracia.

Questionado se havia perguntado a Vaccari sobre os US$ 50 milhões que teriam sido pagos a ele como propina, Rui Falcão disse que "são denúncias vazias, quem acusa tem de provar".

- Não pergunto isso a ele porque seria ofender a honra de um companheiro em que tenho confiança de que nunca pôs dinheiro no bolso.

Em Brasília, a presidente Dilma Rousseff chamou o núcleo político do governo para uma reunião de emergência no Palácio da Alvorada no fim da tarde de ontem, na qual, além da definição da nova cúpula da Petrobras estavam as denúncias contra Vaccari. Um ministro da área política disse que Vaccari deveria ter se licenciado da função que ocupa no PT. Essa seria a opinião geral na cúpula do governo.

No Congresso, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), classificou as denúncias como "estarrecedoras" e cobrou a continuidade das investigações, inclusive com a CPI.

- As denúncias tornadas públicas hoje (ontem) no depoimento de um ex-dirigente da Petrobras são estarrecedoras. Durante a campanha eleitoral, eu várias vezes cobrava, inclusive da candidata Dilma Rousseff, uma posição sobre se ela confiava ou não no tesoureiro do seu partido, hoje, denunciado por este dirigente da Petrobras como o receptor de parte deste recurso desviado. Nada como o tempo para trazer luz à verdade - disse Aécio.

O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), avaliou que o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco deve ser um dos primeiros convocados a depor na nova CPI que investigará as denúncias de corrupção na estatal.

Já o ex-ministro da Justiça Tarso Genro defende que a presidente Dilma se pronuncie sobre as acusações. Para ele, o governo está muito calado diante do que ele considerou uma articulação política para tentar a "aventura do impeachment":

- Nosso governo tem de começar a falar do cerco político a que está sendo submetido. Isso tem ocorrido em outros governos e, no fundo, está a disputa pelos rumos da economia. É a estratégia dos perdedores que querem fazer com que o governo siga a agenda deles.

Genro disse ainda estranhar a data e a forma com que o depoimento de Vaccari foi tomado:

- É estranho que façam uma condução coercitiva no dia do aniversário do partido.

Pezão refuta citação de seu nome na Operação Lava Jato

- Agência Estado

Rio, 05 - O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) refutou a citação de seu nome nas investigações da Operação Lava Jato. Pezão e o governador do Acre, Tião Viana (PT), foram citados nas delações premiadas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Trechos dos depoimentos deles foram encaminhados nesta quinta-feira, 5, ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que tem competência para analisar casos envolvendo governadores.

"O governador afirma que está à disposição das autoridades em qualquer fórum para dar esclarecimentos sobre suas ações e patrimônio", informou, em nota, a assessoria de imprensa do Palácio Guanabara, sede administrativa do governo fluminense.

No início do mês, o governador já afirmara não temer as investigações da Lava Jato. Na ocasião, Pezão disse que todos os contatos que teve com Paulo Roberto Costa foram para tratar das obras de infraestrutura de apoio ao Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), que está sendo construído em Itaboraí, cidade no Grande Rio.

Lava-Jato: nome de Pezão chega ao STJ

• Petições do MPF mencionam nomes dos governadores de Rio e Acre

- O Globo

BRASÍLIA. - Documentos relacionados a petições do Ministério Público que tramitam no Superior Tribunal de Justiça apontam o governadores do Rio, Luiz Fernando Pezão, e do Acre, Tião Viana, como citados na operação Lava-Jato. Também está sob a mira da corte o ex-deputado Mario Negromonte (PP-BA), hoje conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia. Os três têm foro especial, pelos cargos que ocupam. Os documentos são mantidos em sigilo e podem atingir outras autoridades.

Em dezembro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal os depoimentos prestados em acordo de delação premiada pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O caso foi dividido em 42 procedimentos judiciais.

Em nota enviada por sua assessoria, Pezão refutou ligação com a Operação Lava-Jato, mas afirmou estar à disposição das autoridades para esclarecimentos. Já a assessoria de Tião Viana informou que ele nunca teve contato com Costa e que acionou na Justiça o ex-diretor e veículos de comunicação que fizeram "tal ilação mentirosa". Negromonte não foi encontrado.

É hora de organizar a política

• Dilma ainda não entendeu o funcionamento do Congresso Nacional

Paulo Celso Pereira – O Globo

BRASÍLIA - Pouco após ser eleita, a presidente Dilma Rousseff resolveu enfrentar as críticas vindouras e nomear o liberal Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, indo contra tudo o que pregou durante a campanha eleitoral. Ex-colaborador do programa tucano de Aécio Neves, Levy assumiu e passou a anunciar cortes de benefícios sociais e aumento de impostos. Dilma se encapsulou no Planalto, mas admitiu que não lhe restava alternativa a não ser aplicar o remédio amargo, confiando ser esta a única forma de recuperar a economia depois de um mandato com o mais baixo crescimento econômico desde o do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

Se a eleição ganha pela menor margem da História brasileira a convenceu a mudar a gestão econômica, o mesmo não ocorreu em relação à condução política. O maior símbolo da falência da gestão política do governo foi a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com quase o dobro de votos de Arlindo Chinaglia (PT-SP), que tinha todos os ministros próximos à presidente atuando abertamente em sua campanha. Esse percalço foi consequência direta do estilo adotado no primeiro mandato da presidente, quando evitou ao máximo receber parlamentares e manteve permanentemente uma visão utilitarista do Congresso.

Até hoje, Dilma parece não ter percebido que deputados e senadores têm a mesma legitimidade do presidente, justamente por terem chegado a Brasília pelos mesmos meios: o voto direto. Cabe ao Poder Executivo, portanto, dialogar com eles e tentar, sempre que possível, partilhar políticas públicas.

Se há muitos congressistas que estão na política em busca de vantagens financeiras, boa parte tenta ali realizar obras em suas bases eleitorais ou aprovar medidas que atendam seus eleitores. Isso denota poder e prestígio - e lhes rende votos. Fernando Henrique Cardoso e Lula conseguiram, com muitos gestos, um tanto de lábia e talvez menos cargos do que Dilma deu, ter uma vida parlamentar sustentável - incluindo algumas derrotas pontuais, como, aliás, deve ser em uma democracia.

Agora, em meio ao infindável rol de acusações envolvendo a Petrobras, que parece chegar inevitavelmente ao financiamento das campanhas do PT, incluindo a presidencial, resta à presidente abandonar seus preconceitos e se esforçar para entender, como fez na economia, o funcionamento do sistema político.

Serra quer que Levy explique nova capitalização do BNDES

• Montante autorizado é de r$ 50 bi; tucano cobrou transparência de dados

- O Globo

BRASÍLIA - O senador José Serra (PSDB-SP) vai propor que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vá ao Senado prestar esclarecimentos sobre a Medida Provisória 663, que prevê principalmente nova capitalização do BNDES. O montante autorizado pela MP é de R$ 50 bilhões. Além das explicações, José Serra apresentou emenda ao texto da MP exigindo transparência dos dados sobre as operações entre a União e o BNDES. A divulgação das informações sobre as chamadas capitalizações tem sido uma cobrança constante da oposição, em especial do PSDB.

Com o novo aporte, o total de subvenção chegará a R$ 452 bilhões, de acordo com as explicações do governo na justificativa da MP, que foi editada em 19 de dezembro. Serra disse que Levy precisa dar explicações sobre a atual política econômica e como essa nova capitalização se situa nos novos rumos da economia.

Serra apresentará requerimento nesse sentido na própria comissão especial que analisa a MP. Pelas regras de tramitação dessas medidas, os textos devem ser analisados por uma comissão especial, formada por deputados e senadores. Geralmente, o governo negocia depois a transformação da convocação em convite.

De acordo com a MP, em 2009 o limite definido para esse tipo de operação foi de R$ 44 bilhões para financiamentos contratados até o final daquele ano. Depois de sucessivas ampliações, uma lei do dia 18 de junho de 2014 ampliou o limite para R$ 402 bilhões. Agora, são mais R$ 50 bilhões.

- O ministro Joaquim Levy deve vir à própria comissão especial para dar as explicações. É uma MP do governo. É uma boa oportunidade para o ministro situar essa iniciativa na política econômica. Ele é ministro do governo da Dilma, não é o governo do Levy. Não tem dois governos - disse Serra ao GLOBO.

O tucano afirmou também que, em termos teóricos, é a favor do princípio da capitalização, mas que é necessário ver o contexto dessa medida real.

José Serra apresentou uma emenda ao texto da MP cobrando mais transparência aos dados da política econômica. Pela emenda, o Ministério da Fazenda publicará na internet, até o último mês subsequente a cada bimestre, demonstrativos sobre o impacto fiscal das operações do Tesouro com o BNDES, "juntamente com a metodologia de cálculo utilizada, considerando o custo de captação do governo e o valor devido à União".

Além disso, a Fazenda deverá publicar os valores inscritos em restos a pagar nas operações de equalização de taxa de juros.

PMDB vira maior partido da Câmara depois de licenciamento de deputados

Tiago Miranda - Agência Câmara Notícias

Depois do licenciamento de 18 deputados para assumir cargos no Executivo federal, em estados e em um município, o PMDB se tornou o maior partido da Câmara dos Deputados com 65 representantes, passando o PT, atualmente com 64 parlamentares. Os números foram apurados até a tarde desta quinta-feira (5).

Os dois partidos perderam integrantes na Câmara em relação aos deputados eleitos em outubro de 2014 (69 pelo PT e 66 pelo PMDB). O PT, com cinco parlamentares a menos, foi o partido que cedeu mais membros para o Executivo, incluídos dos ministros: o mineiro Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário) e o gaúcho Pepe Vargas (Relações Institucionais). Ao todo, 8 dos 28 partidos da Casa ficaram menores depois dos licenciamentos.

Já o PP e o PCdoB foram os que mais ganharam espaço na Casa com a dança das cadeiras entre Legislativo e Executivo. Três suplentes de cada um dos dois partidos tomaram posse nesta primeira semana de trabalhos da Câmara.

Executivo
Ao todo, quatro deputados foram para o Executivo federal. Além dos parlamentares petistas, os deputados George Hilton (PRB-MG) e Edinho Araújo (PMDB-SP) se licenciaram para assumir, respectivamente, o Ministério do Esporte e a Secretaria de Portos. Outros 13 parlamentares foram para secretarias estaduais. E um assumiu uma pasta municipal.

Blocos nas comissões
Ainda que a relação do tamanho dos partidos tenha se alterado, a escolha dos presidentes das comissões permanentes da Casa vai seguir o critério dos blocos formados para a eleição da Mesa Diretora. Neste ano, o bloco formado pelo PMDB e mais 13 partidos, com 218 parlamentares, terá direito de escolher nove comissões e é o primeiro a fazer a escolha.

O bloco formado por PT, PSD, PR, Pros e PCdoB (160 deputados) terá direito a sete comissões. Já o menor dos blocos formados nesta legislatura, com PSDB, PSB, PPS e PV e 106 membros, contará com cinco comissões.

Como o PT desfez o bloco na terça-feira (3), as regras de proporcionalidade no tempo de fala no Plenário, por exemplo, foram alteradas.


Inflação acelera para 1,24% em janeiro, a maior desde 2003

• Alta foi pressionada pelos preços da energia elétrica. Em 12 meses, o IPCA já acumula 7,14%, acima do teto da meta e o maior índice desde setembro de 2011

- Veja Online

O ano começou pressionado com a alta dos preços da energia elétrica e dos alimentos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial no Brasil, registrou alta de 1,24% em janeiro, bem acima do indicador de dezembro (0,78%), mostrou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A taxa é a mais elevada desde fevereiro de 2003 (1,57%), segundo o IBGE. A prévia da inflação (IPCA-15) indicava também um número bem menor, de 0,89%. Em janeiro de 2014, o indicador havia ficado em 0,55%.

Em doze meses até janeiro, a inflação acumulou 7,14% - a maior variação desde setembro de 2011 (7,31%). A prévia do IPCA sinalizava alta de 6,69% para o índice nessa comparação. A meta do governo tem como centro 4,5%, podendo oscilar entre um limite mínimo de 2,5% e máximo de 6,5%. A inflação já estourou diversas vezes o teto da meta no ano passado, mesmo com o governo controlando os preços administrados (energia e combustível, por exemplo). Neste ano, porém, os combustíveis já aumentaram de preço, assim como a energia elétrica.

O aumento de preços de Alimentação e Bebidas (1,48%), Habitação (2,42%) e Transportes (1,83%) foi responsável por 85% do índice do mês, ou 1,06 ponto porcentual, segundo o instituto.

Só a energia elétrica, item que pertence ao grupo Habitação, subiu 8,27% e representou 0,24 ponto porcentual do 1,24%. "Com exceção da região metropolitana de Salvador, que ficou em 0,76% em razão de redução de impostos, as demais tiveram aumentos significativos nas contas, a saber: Porto Alegre (11,66%), São Paulo (11,46%), Goiânia (9,37%), Belo Horizonte (8,25%), Belém (8,02%), Curitiba (7,95%), Brasília (7,94%), Campo Grande (7,84%), Vitória (7,63%), Rio de Janeiro(5,98%), Recife (4,67%), Fortaleza (2,03%), Salvador (0,76%)", mostrou o IBGE.

No grupo de Alimentos e Bebidas, a batata-inglesa chegou a subir 38,09%, enquanto os preços do feijão-carioca e do tomate aumentaram 17,95%, e 12,35%, respectivamente.

Já a alta de 1,83% do grupo de Transportes, foi puxada pelos preços do transporte público: a tarifa do ônibus urbano, por exemplo, subiu 8,02%, enquanto o ônibus intermunicipal e o interestadual ficaram 6,59% e 1,21% mais caros. O preço do metrô disparou 9,23%, acompanhado da tarifa do trem (8,95%). Por fim, o táxi ficou 2,63% mais caro.

Poupança tem maior perda mensal de recursos em 20 anos

• Especialista avalia que caderneta vai sofrer ao longo de 2015

- Zero Hora (RS)

Dados divulgados ontem pelo Banco Central revelam que a caderneta de poupança registrou o maior saldo negativo, de R$ 5,529 bilhões, desde o começo do levantamento, em janeiro de 1995. O número é a diferença entre depósitos no valor de R$ 147,5 bilhões e retiradas de R$ 153 bilhões.

O resultado é o primeiro sinal de como a caderneta "vai sofrer" neste ano, avalia o presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira:

– Daqui para a frente, a gente vai continuar a ver números negativos. A poupança vai sofrer em 2015. Este ano será muito difícil para as famílias.

Além disso, a caderneta está menos atrativa em relação a outros investimentos em razão do aumento da taxa básica de juro, a Selic, atualmente em 12,25% ao ano. A perspectiva é de que o Banco Central eleve a Selic novamente no próximo mês.

– Isso faz com que as pessoas prefiram aplicar seu dinheiro em fundos, já que, com os juros mais altos, acabam rendendo mais – disse Oliveira.

Merval Pereira - Fora de controle

- O Globo

A nota oficial em que o PT tenta rebater as denúncias de que recebeu dinheiro dos recursos desviados nos escândalos da Petrobras é uma demonstração de como o partido está desnorteado. Afirmar que o "partido recebe apenas doações legais e que são declaradas à Justiça Eleitoral" só pode ser brincadeira, depois que, para se defender no escândalo do mensalão, o PT tentou alegar oficialmente que se tratava "apenas de caixa 2", prática comum na política brasileira, segundo o então presidente Lula. O "dinheiro não contabilizado", na expressão do ex-tesoureiro Delúbio Soares, tornou-se uma pérola inesquecível da baixa política.

A cada dia surge uma nova revelação no escândalo da Petrobras que nos vai dando uma dimensão real do que acontecia na maior estatal brasileira. O que espanta não são os números superlativos, nem o fato de a roubalheira correr solta, pois, com relação à área do petróleo, os contratos são realmente astronômicos, e a corrupção, infelizmente, não é coisa nova entre nós.

Saber, por exemplo, que já em 1977 o ex-gerente Pedro Barusco recebia propina da SBM holandesa não é surpreendente. O que espanta no relato do ex-gerente é como o esquema de corrupção existente anteriormente, em que funcionários corruptos se aproveitavam de sua posição para fazer negócios, transformou-se, a partir de 2004, em política, digamos assim, oficial, com o objetivo de financiar partidos políticos da base aliada do governo, que passaram a ser os canais para a nomeação de diretores e gerentes nas áreas mais vitais da empresa.

E, num ambiente desses, mais que nunca o PT se sobressaiu, recebendo a cifra nada desprezível de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões durante esse período, segundo Barusco. O problema para o PT é que a delação premiada pressupõe provas, e Barusco deu várias delas, inclusive uma planilha detalhada com a divisão do butim. E os relatos que se cruzam tornam verossímeis as versões apresentadas por diversos personagens dessa trama macabra.

Augusto Ribeiro Mendonça Neto, proprietário do grupo Toyo Setal, por exemplo, confirmou em audiência na 13ª Vara Federal de Curitiba, na segunda-feira, que o então diretor da área de Engenharia e Serviços da Petrobras, Renato Duque, mandou pagar parte da propina negociada nos contratos fechados com a Petrobras em forma de doação oficial ao PT, e entregou à Polícia Federal depósitos realizados ao PT no valor de R$ 4,26 milhões.

Desde os percentuais que caberiam a cada um, que já haviam sido revelados pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, até detalhes pitorescos, como os apelidos, tudo vai sendo confirmado. O tesoureiro do PT, João Vaccari, levado ontem coercitivamente a depor na Polícia Federal, era o Moch, porque andava sempre com uma mochila. Não é preciso dizer o que levava dentro dela, não é mesmo? Ontem, ao ser encaminhado à Polícia Federal, Vaccari usava a sua indefectível mochila.

My Way, o nome da operação, foi colocado pela PF em homenagem ao apelido de Renato Duque, o diretor que representava os interesses do PT na partilha do butim, o que significa que Duque, mesmo ainda estando em liberdade, já é figura carimbada na investigação.

O ex-gerente que já entrou para o folclore da corrupção ao aceitar devolver US$ 100 milhões (na verdade, pela delação premiada a cifra real é US$ 67 milhões) revela que o seu diretor, Renato Duque, exigia semanadas de R$ 50 mil retiradas das propinas negociadas. Esse "argent de poche", dinheiro para os gastos mais imediatos, parece nada diante do montante do dinheiro desviado, mas dá a dimensão da grandeza do assalto e da farra com o dinheiro público.

Os 35 anos de criação do PT serão festejados em Belo Horizonte num momento em que o partido chega ao fundo do poço em termos de credibilidade. Claro que Vaccari e outros companheiros serão ovacionados, e provavelmente exortados pelo ex-presidente Lula a não baixarem a cabeça e não se envergonharem da atuação do partido.

Mas nada apagará o fato de que o PT perdeu o controle do Congresso, perdeu o controle da economia e está perdendo o controle da maior estatal brasileira, a Petrobras.

Dora Kramer- Infeliz aniversário

• PT chega aos 35 com a cabeça no Planalto e atolado em crises até o pescoço

- O Estado de S. Paulo

A condução coercitiva de alguém para depor no âmbito de uma investigação criminal significa que contra essa pessoa pesam evidências graves. Insuficientes para um pedido de prisão temporária, mas fortes o bastante para levar a polícia a solicitar à Justiça algo além de uma simples intimação.

Nessa condição é que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi conduzido ontem à Polícia Federal para prestar depoimento na nova e nona fase da Operação Lava Jato. Logo de manhã, representantes da PF e do Ministério Público esclareceram qual era a situação.

Vaccari foi chamado para contar o que sabia sobre doações (legais e ilegais) feitas por empresas que mantinham contratos com a Petrobras, pois os investigadores o identificaram como o principal dos 11 operadores que atuavam na Diretoria de Serviços da estatal, comandada por Renato Duque por indicação do PT.

O nome do tesoureiro apareceu na rede dos depoimentos feitos sob os acordos de delação premiada. Aqueles em que o depoente precisa provar o que diz para obter os benefícios pretendidos. Portanto, é de se supor que João Vaccari tenha alguma dificuldade em continuar sustentando as negativas sobre quaisquer relações de proximidade com o esquema de propinas, diante das provas já coletadas.

Pedro Barusco, ex-gerente da Diretoria de Serviços, informou em seu acordo que Vaccari recebia dinheiro fruto de desvios. É claro que a polícia e a Justiça não se fiam apenas na palavra dele. Exigem provas. Ou não lhe conferem benefício algum.

O tesoureiro do PT até então nada havia dito a não ser repetir negativas sobre quaisquer envolvimentos e assim, pelo que transpirou, se manteve em seu depoimento à PF, repetindo o comportamento de seu antecessor Delúbio Soares, hoje em cumprimento de pena de prisão domiciliar. Os tempos, contudo, são outros.

De onde se acreditar na declaração do ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, segundo a qual não há o “menor constrangimento” para o partido nem para o governo com a condução coercitiva do tesoureiro à PF, há uma distância amazônica.

Até porque partido e governo deveriam ser os primeiros a manifestar desconforto moral. Seria positivo para ambos uma vez na vida demonstrar alguma dignidade. Ainda que para constar. Não se constranger com acontecimentos dessa natureza realmente é comportamento de quem não se acanha diante de coisa alguma.

Verdade que o ministro é o mesmo que equiparou a derrota na disputa à Presidência da Câmara a episódio superável com uma rodada de “cervejinha”. Mas, para o PT não poderia haver momento pior que a ocasião dos 35 anos de fundação do partido a serem comemorados hoje em Belo Horizonte diante de um triste paradoxo: de um lado a conquista do quarto mandato presidencial consecutivo, de outro uma crise profunda.

A cabeça no Planalto e o restante do corpo atolado no pântano até o pescoço.

Realidade que não foge ao alcance do ministro, da presidente da República nem de nenhum integrante do partido, cujos problemas internos e externos são inúmeros, sucessivos e tão grandes que não há tapete capaz de cobrir a quantidade da poeira acumulada.

Cenografia. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, cumpriu o compromisso com os eleitores de não criar obstáculo à instalação de nova CPI da Petrobras. Daqui em diante, no entanto, não é com ele. Uma coisa é a formação, outra bem diferente é o funcionamento, a eficácia da comissão de inquérito.

Frente ao adiantado dos trabalhos da Polícia Federal e da Justiça, a CPI fará, como se dizia antigamente, “visagem”.

Bernardo Mello Franco - O PT e as freiras

- Folha de S. Paulo

O PT celebra seu aniversário nesta sexta (6) com uma festa em Belo Horizonte. O noticiário sobre o partido deveria envergonhar os militantes que participaram de sua fundação há 35 anos, no auditório de um colégio de freiras.

Não há outra reação aceitável diante das novas revelações que vinculam a legenda à roubalheira na Petrobras. Em depoimento à Polícia Federal, o ex-gerente Pedro Barusco afirmou que as propinas destinadas ao PT foram de até US$ 200 milhões. Ele disse que os desvios ocorreram de 2003 a 2011, do início do governo Lula ao início do governo Dilma.

As afirmações do delator são reforçadas por documentos apreendidos pela PF. Em uma planilha que registra a partilha do dinheiro, o PT aparece como destinatário de comissões em nada menos que 71 contratos. A lista inclui obras bilionárias como as construções da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.

O protagonista desse enredo é o tesoureiro do PT, João Vaccari. Com Barusco, já são três os integrantes da quadrilha que o apontam como o responsável por recolher propina para a sigla. O tesoureiro nega tudo, mas o que ele diz não condiz com o que faz.

Após prestar depoimento à PF, na manhã desta quinta (5), Vaccari afirmou em nota que "há muito ansiava pela oportunidade de prestar os esclarecimentos que nesta data foram apresentados à Polícia Federal".

Poucas horas antes, agentes da PF haviam tocado sua campainha na zona sul de São Paulo. Embora os visitantes tivessem em mãos um mandado judicial, o petista se recusou a abrir a porta. Os policiais tiveram que pular o muro da casa para conduzi-lo à força até a delegacia.

Na mesma nota, Vaccari declarou piamente que o PT "não tem caixa dois nem conta no exterior", "não recebe doações em dinheiro e somente recebe contribuições legais". Com o histórico recente do partido, não conseguirá convencer nem as freiras do Colégio Sion.

Como entender a reforma política de Cunha – Editorial / O Globo

• Um fator positivo da proposta desengavetada pelo presidente da Câmara é servir de barreira à ideia golpista do PT de fazer mudanças por uma ‘Constituinte exclusiva’

Acertou quem previu momentos amargos para PT e governo caso Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vencesse a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. Vitorioso de forma acachapante, sem necessidade de segundo turno na votação, Cunha tratou de desengavetar projetos nada simpáticos ao grupo no poder, e ontem leu no plenário o ato de constituição da nova CPI para investigar a Petrobras.

No primeiro mandato, a base parlamentar da presidente Dilma inviabilizou uma CPI criada no Senado com o mesmo objetivo e esvaziou uma outra, mista. Agora, com o agravamento do escândalo da roubalheira na estatal e numa nova legislatura em que a oposição está mais ativa e a dissidência, a julgar pela eleição de Cunha, maior, não será tão simples manipular a CPI.

Dos projetos desengavetados, um é sobre o Orçamento Impositivo — algo que preocupa do ponto de vista fiscal —, e o outro, de uma reforma política. Com este, a preocupação petista é maior. Tanto que o presidente da legenda, Rui Falcão, formalizou na quarta-feira a ameaça: será expulso o petista que apoiar a proposta colocada para tramitar pelo novo presidente da Câmara.

Na verdade, o pacote tirado por Cunha das gavetas é um saco de gatos: tem de quase tudo, embora haja itens importantes que devam ser discutidos a sério e aprovados.

Há tantos dispositivos na proposta que o conjunto deles parece servir mesmo para o deputado usá-los como uma volta olímpica humilhante de comemoração pela vitória sobre o PT e o Planalto. Uma provocação.

Entres os pontos ociosos do projeto está o fim do voto obrigatório. Ora, esse é um assunto fora da pauta política do país. Assim como fazer coincidir todas as eleições.

Dessa forma, prefeitos e vereadores eleitos em 2016 teriam apenas dois anos de mandato. Além da previsível impossibilidade de se aprovar a ideia, também não faz sentido misturar numa mesma eleição as agendas federal, estadual e municipal.

Mas são bem-vindos a instituição de uma cláusula de desempenho — só legendas de representatividade mínima terão acesso às Casas legislativas, ao fundo partidário e ao horário dito gratuito —, o fim das coligações em pleitos proporcionais e a reinstituição do financiamento de empresas a campanhas, virtualmente cassado pelo Supremo. Alijá-las significa sacramentar o caixa dois.

Outro fator positivo da proposta é servir de barreira de contenção ao sonho do PT de criar uma “Constituinte exclusiva” para a reforma política — um golpe, por ser uma manobra inconstitucional — e, com isso, aprovar o que bem entender por maioria simples, um descalabro. Daí a ameaça de expulsão.

Se houver, porém, seriedade e bons propósitos, pequenas mudanças na legislação, algumas previstas no projeto desengavetado, serão o bastante.

Vinicius Torres Freire - Crise política e pepinos caros

• Tensão política tende a esfriar mais a economia; sangria desatada da Petrobras azeda ambiente

- Folha de S. Paulo 

O PT ainda terá ânimo de fazer festa pelos seus 35 anos, a partir de hoje, quando então também aproveitará para dar uma força ("desagravo") a João Vaccari Neto, seu ex-tesoureiro, acusado ontem por um ex-gerente ladrão da Petrobras de levar para o partido o equivalente a no mínimo uns R$ 400 milhões em propinas e assemelhados.

A torrente de novas delações e o que começa a vazar da nova onda de investigações da PF, outra fase da Lava Jato, deve provocar paralisia ou até quebras de empresas relacionadas à Petrobras. Empresa grande.

Ainda ontem, foi aprovada a CPI da Câmara para investigar a Petrobras, o que tende a dar em quase nada, a não ser no incremento do salseiro político.

E a economia?

Se a leitora, que é perspicaz, já sabe que o clima não está bom, imagine com esse crescendo de tensão e os confrontos entre PT e o resto, e mesmo dentro do PT, pois a cada dia aparecem petistas que batem pesado em Dilma Rousseff.

A economia está basicamente no pântano. Sair do atoleiro depende ainda mais, se não quase totalmente, de decisões políticas. Melhor dizendo, depende de:

Um: que a presidente jogue a toalha e reconheça outros erros. Parece já tê-lo feito ou o faz por ora na política macroeconômica e em parte da política de energia, aceitando o tarifaço. Falta a Petrobras, para citar um exemplo maior.

Murilo Ferreira, presidente da Vale, até a noite de ontem o mais cotado para assumir a petroleira, vai ter liberdade para fazer a reforma profunda?

Dois: que a tensão política não produza pânico paralisante entre os "agentes econômicos". Isto é, o mero risco de terra em transe, de confronto terminal e de outras ameaças à continuidade do governo, vai congelar o restante dos planos de investimento, para não dizer coisa pior.

O governo precisa imediatamente de uma câmara de gerenciamento de crise ou algo assim. Está desnorteado.

Chuchu e pepino
Kátia Abreu, a ministra da Agricultura, estuda se será preciso substituir a produção paulista de legumes e verduras pela nordestina. Sério. Motivo: a seca prejudica a produção, o racionamento pode provocar escassez. Regiões de agricultura irrigada poderiam compensar o problema.

Aliás, o problema já está evidente em São Paulo. O índice Ceagesp de preços subiu 2,81% em janeiro; em 2014 inteiro, subiu 8,9%. O Ceagesp é o grande mercado atacadista de legumes, verduras, frutas e pescado de São Paulo.

O chuchu subiu 118%. O pepino japonês, 100%.

Nos próximos dias, a ministra vai levar a Dilma um mapa do risco de desabastecimento devido à seca e a seus impactos possíveis na inflação.

Chuchu? Alface? Pepino? Sim. A vida cotidiana não está fácil, com falta d"água, alta em torno de 50% na conta de luz, racionamentos etc. Comida mais cara vai ser a cereja ou o pepino desse bolo de crises.

As primeiras irritações mais generalizadas com o governo Dilma em 2013 foram detonadas pela inflação da comida, que chegou a bater em 14% ao ano. O símbolo da carestia foi o preço do tomate. Era metáfora, piada. Mas degringolou em mau humor maior.

Míriam Leitão - Gregos e alemães

- O Globo

Os gregos fizeram um enorme esforço. Eles chegaram a ter, antes do ajuste fiscal, 10% de déficit primário e agora estão com superávit de 1,5%. Tinham 10% de déficit nominal e agora estão com apenas 2%. O desequilíbrio externo foi de 10% para zero. Mas o desemprego permanece avassalador. O novo governo quer uma ajuda da Europa e não foi atendido. É hora de olhar além da economia.

Yanis Varoufakis e Wolfgang Schäuble, ministros das Finanças da Grécia e da Alemanha, encontraram-se pela primeira vez desde a vitória do partido de ultraesquerda Syriza. Os dois não se entenderam nem sobre o que conversaram. Na coletiva conjunta que deram, Schäuble disse que os dois tinham "concordado em discordar". E Yanis reagiu. "Nem isso. Não concordamos em discordar". E disse mais, o novo ministro grego. Lembrou que a crise econômica alemã criou as condições para o nazismo e "hoje na Grécia a terceira força política é nazista. Não é neonazista. É nazista". Referia-se à Aurora Dourada. O economista José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, ajuda a explicar o problema:

- Eles fizeram um enorme esforço fiscal, mas o desemprego continua muito alto na Grécia. Era de 27% e agora é de 25%. Chegou a ser 60% entre jovens e agora caiu para 50%. A dívida bruta continua em 175%.

O governo de Alexis Tsipras, do Syriza, quer um empréstimo-ponte e o refinanciamento da dívida. O Banco Central Europeu não concordou. A Europa teme ceder para a Grécia e abrir a porteira para outros pedidos.

A posição inflexível da Europa tem explicação. A extrema-esquerda ganhou na Grécia com o discurso de fim da austeridade, e não foi o fim do mundo. Isso deixou claro que a zona do euro criou mecanismos contra o contágio. Antes, a Grécia era resgatada pelo temor de que criasse um efeito dominó. Se não há risco de contágio, o país fica mais sozinho. Os juros dos títulos de 10 anos da Grécia subiram de 6% para 10%, com a mudança política. Mas, nos outros países, continuam caindo (veja o gráfico). Detalhe: o Brasil paga juros maiores que os gregos nos papéis de 10 anos.

A primeira medida do novo primeiro-ministro Alexis Tsipras é de dar inveja a um certo país da América do Sul: reduziu de 20 para 10 o número de ministérios. Depois, avisou que quer combater a sonegação e a corrupção. Do radicalismo do palanque ficaram algumas promessas de aumentos de salários.

Os gregos fizeram nestes seis anos um enorme, e doloroso, dever de casa. Eles viviam além de suas posses e se endividaram mais do que era razoável.

- Os gregos impuseram uma enorme correção para baixo nos salários e isso diminuiu o custo unitário do trabalho. A produtividade aumentou e isso ajudou a acabar com o déficit em transações correntes que estava em 10% do PIB. A Grécia é muito dependente de ajuda do BCE, principalmente os bancos gregos, que estão sofrendo saques de correntistas e correndo risco de terem crise de solvência - afirmou Senna.

Segundo Senna, há três cenários para o impasse:

- Um é ter o perdão da dívida. Outro é empurrar com a barriga até chegar numa solução limite. O terceiro é deixar os gregos à própria sorte. Neste caso, haveria calote técnico. Se o caso grego não é para se perdoar, então é impossível encontrar outro exemplo.

Mesmo sem risco de contágio, a Grécia é um dilema para a Europa. Depois de seis anos de austeridade, os indicadores econômicos melhoraram, mas os sociais, não. Melhor é negociar com Syriza do que ver crescer a força da extrema-direita.

Eliane Cantanhêde - 'My way'

• A diferença é que o governo está isolado, mas o PT está dividido

- O Estado de S. Paulo

Hoje é dia de festa, com Lula e Dilma Rousseff na reunião do diretório nacional do PT. Que festa?! Dificilmente haveria momento pior para encontros do gênero e para comemorar os 35 anos do partido. Aliás, para comemorar qualquer coisa.

O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, acaba de sofrer uma "condução coercitiva", algo ali entre depor espontaneamente e ser preso, pura e simplesmente. Em bom português, ele foi arrastado para depor.

Não bastasse, o ex-gerente executivo da Petrobrás Pedro Barusco revelou que o PT recebeu até US$ 200 milhões de propina. Espantoso.

Para completar, o novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acatou o pedido de abertura de uma nova CPI da Petrobrás. Se há algo que nenhum governo quer, é uma CPI na sua cola.

Alguns podem ponderar que Dilma já matou no peito duas CPIs da Petrobrás. Sim, mas o momento era outro e Dilma estava bem mais parruda politicamente. A crise econômica não estava tão escancarada, a crise política era apenas latente, a conta de luz não tinha disparado, a ameaça de falta de luz e de água não contaminava o ambiente. E... as investigações da PF estavam apenas começando.

Hoje, a situação do governo e do PT é de isolamento e perplexidade. A diferença é que o governo está só isolado, mas o PT está também dividido. A cada sorriso, cochicho e abraço entre Dilma e Lula na festa de hoje, os petistas lembrarão quanto os dois, acuados, empurram as culpas um para o outro. Dilma empurra a culpa pela Petrobrás. Lula, a culpa pela economia.

Só resta ao partido - que completou 12 anos no poder e acaba de conquistar o quarto mandato nas urnas - torcer para ninguém sair cantando My Way (Meu jeito). Eternizada por Frank Sinatra, a música chegou à política brasileira quando o delator do mensalão, Roberto Jefferson, recitou ao ser preso no Rio: "E agora o fim está próximo". Estava mesmo. "Arrependimentos, eu tive alguns". Teve mesmo. E hoje?

My Way é o nome da nova etapa da Operação Lava Jato, porque o delator Barusco, que está aumentando o buraco - e os valores - do PT, chamava assim o colega de Petrobrás e de traquinagens Renato Duque, ex-diretor de Serviços da companhia.

Enquanto o partido de Lula e Dilma se debate sem saber para onde ir, o governo tenta desesperadamente achar um incauto do mercado que tenha um super nome, um currículo robusto e uma coragem de ferro para assumir a presidência da Petrobrás.

Vai ser difícil. O mais provável é que Dilma tenha de recorrer à lista de sempre com os economistas alinhados. Quem de fora é tão temerário a ponto de assumir uma companhia que perdeu bilhões em ativos nos últimos anos, foi tomada de assalto por partidos políticos, virou rendez-vous de doleiros, diretores e executivos da iniciativa privada? E que não é capaz de apresentar um balanço auditado e, last but not least, responde a processo na Justiça dos Estados Unidos.

Depois de nomear Joaquim Levy como salvador da Pátria, Dilma bem poderia resgatar Henri Philippe Reichstul, que fez uma gestão moderna, pragmática e séria na Petrobrás. Mas Dilma não chegaria a tanto.

Aliás, ela já tinha destacado Levy para operar a substituição de Graça Foster, mas, bastou a informação sair na imprensa, empurrou Aloizio Mercadante para o meio das negociações. Seria dar excesso de poderes ao tucano, ops!, ao ministro Levy.

Na festa de hoje, o PT, de tão bela origem e de tão boas intenções, vai brindar com amargura o seu próprio destino e com constrangimento os seus Vaccari, André Vargas e tantos outros que foram caindo pelo caminho e pelo "Meu jeito" de Lula governar.

Muitos, intimamente, já cantam: "Teve horas/ Eu tenho certeza de que você sabe/ Quando eu mordi mais do que podia mastigar".

Sim, nós sabemos.

Duros golpes – Editorial / Folha de S. Paulo

• Dilma sofre forte desgaste ao longo da semana, e situação do PT se complica ainda mais com desdobramentos do escândalo da Petrobras

Os papeis da Petrobras se valorizaram mais de 20% na Bolsa desde a sexta-feira da semana passada, quando haviam atingido seu menor preço em 11 anos. Ainda assim, o governo federal, principal acionista da empresa, não teve nenhum motivo para comemorar.

Na terça-feira (3), a presidente Dilma Rousseff (PT) recebeu as cartas de renúncia de diretores da estatal. Precisando de tempo para encontrar substitutos, combinou com Graça Foster, chefe da Petrobras, que o grupo sairia no final deste mês, após a publicação do montante desviado por corrupção.

Menos de 24 horas depois do acerto, contudo, cinco dos sete diretores rejeitaram o cronograma, e a troca no comando da empresa será confirmada nesta sexta-feira (6).

Se se tratasse de uma estatal qualquer, já seria uma situação indigesta para Dilma; estando em jogo o futuro da maior companhia do país, a abdicação coletiva representou um duríssimo golpe contra a petista. E era só o primeiro.

Na própria quarta-feira (4), 182 deputados federais preencheram requerimento para a abertura de nova Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o escândalo da Petrobras. Prostrado, o Planalto viu o número mínimo de assinaturas (171) ser ultrapassado com a ajuda de 52 parlamentares governistas.

Por dever de ofício e provável satisfação pessoal, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), criou a CPI no dia seguinte. Sua instalação, porém, deve ficar para depois do Carnaval, quando serão indicados seus integrantes.

Com alguma razão, o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais) lembrou que as CPIs perderam o protagonismo que tiveram no passado --mas talvez tenha se esquecido de que a base de Dilma no Congresso mostra-se a cada dia mais alheia aos interesses do PT.

Seja como for, Vargas também observou que, atualmente, ganharam destaque os órgãos de investigação, como a Polícia Federal e o Ministério Público. De fato.

Soube-se nesta quinta-feira (5), por exemplo, que Pedro José Barusco Filho, ex-gerente da Petrobras, estima que o PT tenha recebido até US$ 200 milhões, de 2003 a 2013, a título de propina em contratos da estatal. O cálculo consta de depoimento prestado em novembro, fruto de acordo de delação premiada feito com procuradores.

Em seu testemunho, Barusco dá detalhes precisos sobre o esquema, incluindo a participação de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT já citado por outros delatores.

Não é pouco sendo esta somente a primeira semana de trabalho do Judiciário e do Legislativo em 2015. Prestes a completar 35 anos, o Partido dos Trabalhadores tem poucos motivos para comemorar.