terça-feira, 4 de novembro de 2014

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Numa democracia não cabe às oposições, como ao povo em geral, senão aceitar o resultado das urnas. Mas nem por isso devemos calar sobre o como se conseguiu vencer, nem sobre o por que se perdeu. Os resultados eleitorais mostram que a aprovação ao atual governo apenas roçou um pouco acima da metade dos votos. Ainda que a vitória se desse por 80% ou 90% deles, embora o respeito à decisão devesse ser idêntico ao que se tem hoje com a escassa maioria obtida pelo lulopetismo, nem por isso os críticos deveriam calar-se.

É bom retomar logo a ofensiva na agenda e nos debates políticos. Para começar, não se pode aceitar passivamente que a "desconstrução" do adversário, a propaganda negativa à custa de calúnias e deturpações de fatos, seja instrumento da luta democrática. Foi o que aconteceu, primeiro, com Marina Silva e, em seguida, com Aécio Neves.

O vale-tudo na política não é compatível com a legitimidade democrática do voto. Marina, de lutadora popular e mulher de visão e princípios, foi transformada em porta-bandeira do capital financeiro, o que não é somente falso, mas inescrupuloso. Aécio, que milita há 30 anos na política, governou Minas Gerais duas vezes com excelente aprovação popular, presidiu a Câmara dos Deputados e é senador, foi reduzido a playboy, farrista contumaz e "candidato dos ricos".

Até eu, que nem candidato era, fui sistematicamente atacado pelo PT, como se tivesse "quebrado" o Brasil três vezes (quando, como ministro da Fazenda, ajudei o País a sair da moratória), como se tivesse deixado a Presidência da República com a economia corroída pela inflação (como se não fôssemos eu e minha equipe os autores do Plano Real, que a reduziu de 900% ao ano para um dígito), como se os 12% de inflação em 2002 fossem responsabilidade de meu governo (quando se deveram ao temor de eventuais desmandos de Lula e do PT).

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República. No artigo ‘Diálogo ou novas imposturas’. O Estado de S. Paulo / O Globo, 2 de novembro de 2014.

Acusado de pagar propina, chefe da Transpetro sai

• Presidente da Transpetro, ligado ao PMDB, é forçado a se licenciar após delação de ex-diretor da Petrobras

Bruno Rosa, Glauce Cavalcanti e Simone Iglesias – O Globo

Licença forçada

RIO e BRASÍLIA - As delações de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, no âmbito da Operação Lava-Jato fizeram a primeira vítima na estatal. Sergio Machado, há 11 anos à frente da Transpetro, subsidiária da Petrobras, pediu afastamento do cargo ontem pelo prazo de 31 dias. Em nota divulgada no fim da tarde, Machado se diz vítima de calúnias, mas afirma que tomou a decisão para que a Transpetro seja investigada livremente. O Conselho de Administração da Transpetro designou, para substituir Machado, o diretor de Gás Natural Claudio Ribeiro Teixeira Campos, formado em Engenharia Mecânica e na Petrobras desde 1985.

O afastamento temporário de Machado foi sacramentado na sexta-feira, durante reunião do Conselho de Administração da Petrobras. De acordo com uma fonte ligada à estatal, a PricewaterhouseCoopers (PwC), que audita o resultado financeiro da empresa, recusou-se a validar o balanço do terceiro trimestre, alegando que Machado não poderia assinar o documento, já que seu nome foi citado por Paulo Roberto Costa ao Ministério Público em delação premiada na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.

Demissão chegou a ser cogitada
Na reunião de sexta-feira, a demissão de Machado chegou a ser sugerida, mas um dos conselheiros colocou na mesa a ideia da licença. Por cinco votos a quatro, foi aprovada a licença de 31 dias, consumada ontem.

Segundo a fonte ligada à estatal, os auditores não quiseram validar o balanço como forma de se proteger da legislação americana, que proíbe casos de corrupção envolvendo empresas com ações listadas na Bolsa de Nova York.

- A lei americana é expressa. É draconiana. Sergio Machado não poderia assinar o balanço da Transpetro (uma subsidiária da Petrobras) por ter seu nome ligado a um possível caso de corrupção. Por isso, os membros do Conselho de Administração decidiram interromper a reunião para dar a Machado a possibilidade de ele pedir um afastamento temporário, até que os inquéritos (de investigação) sejam concluídos - afirmou essa fonte.

Foi a pedido da PwC que a Petrobras contratou duas empresas independentes - a brasileira Trench, Rossi e Watanabe Advogados e a americana Gibson, Dunn & Crutcher LLP - para investigar as denúncias feitas por Costa.

Apesar da decisão tomada na reunião do conselho da Transpetro, Machado trata do pedido de afastamento como "espontâneo".

- Ele está deixando o cargo temporariamente, para que se comprove que ele não fez nada de errado, para se defender - disse uma pessoa das relações de Machado.

Antes da reunião do conselho, a PwC alertou a Petrobras de que não aprovaria as contas da Transpetro e exigiu que alguma medida fosse tomada. Foi então que os conselheiros pensaram na demissão de Machado. Mas, como ele é indicado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), optou-se por dar a Machado o benefício da dúvida, sacramentando a licença não remunerada.

Machado foi citado na Operação Lava-Jato por supostamente participar de irregularidades na compra de navios para a Transpetro. O ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa afirmou, em depoimento à Justiça Federal, que Machado teria pago a ele R$ 500 mil para direcionar uma licitação de navios. Na nota, Machado diz que decidiu se licenciar para que sejam feitos todos os esclarecimentos sobre sua gestão à frente da empresa.

"Apesar de toda uma vida honrada, tenho sido vítima nas últimas semanas de imputações caluniosas feitas pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, cujo teor ainda não foi objeto sequer de apuração pelos órgãos públicos competentes. A acusação é francamente leviana e absurda, mas mesmo assim serviu para que a auditoria externa PwC apresentasse questionamento perante o Comitê de Auditoria do Conselho de Administração da Petrobras", afirmou na nota.

Ele completa, em seguida: "Tomo a iniciativa de afastar-me temporariamente para que sejam feitos, de forma indiscutível, todos os esclarecimentos necessários. Trata-se de um gesto de quem não teme investigações. (...) Estou certo do pleno rigor e lisura de minha gestão na Transpetro, e tranquilo quanto ao curso das investigações. Tenho todo o interesse de que tudo seja averiguado rapidamente".

No texto, Machado diz ainda que, desde que assumiu a presidência da Transpetro, em 2003, teve suas contas aprovadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e que não responde a nenhum processo.

"Nesse período, a empresa obteve resultados notáveis e passou sem problemas pelo crivo de inúmeras fiscalizações internas e externas. As contas da Transpetro e a execução de seus principais programas são periodicamente auditadas pelo TCU, que jamais encontrou irregularidades nos contratos e no último dia 30 de outubro expediu certidão negativa atestando não haver nenhuma pendência em meu nome relativamente a contas julgadas até o presente momento. Além de não responder a nenhum processo no TCU, não sou réu em nenhuma ação penal e não tenho contra mim nenhuma ação de improbidade admitida pela Justiça. Ao longo de mais de 30 anos de vida pública, jamais fui processado em decorrência de meus atos", salientou Sergio Machado.

Nas anotações de Paulo Roberto Costa, quando este já havia deixado a Petrobras e operava negócios na iniciativa privada, o nome do presidente da Transpetro constava quatro vezes em anotações nos anos de 2012 e 2013. Na agenda de Costa, há registros de celulares de Machado e de uma menção a "curso c/ Sérgio Machado, 5%", ao lado do valor de R$ 5 mil e da inscrição "dois meses".

A PF tenta decifrar a anotação. Em julho de 2012, Costa, já ex-servidor da estatal, chamou a atenção ao comparecer a uma cerimônia de entrega do navio petroleiro Sergio Buarque de Holanda para a Transpetro.

Aécio fará crítica a Dilma sem falar em impeachment

• Tucano retorna ao Senado e planeja discurso duro e sem aceno ao ‘diálogo’ proposto por Dilma, mas não vai endossar tese do impeachment

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Depois de uma breve temporada recluso na fazenda de sua família em Cláudio, no interior de Minas Gerais, o senador Aécio Neves, candidato derrotado do PSDB ao Palácio do Planalto e presidente nacional da sigla, desembarca nesta terça-feira, 4, em Brasília com uma agenda preparada sob medida para apresentá-lo como líder e porta-voz da oposição à presidente reeleita Dilma Rousseff (PT).

O tucano planeja fazer entre esta terça e a quarta-feira um pronunciamento incisivo no Senado no qual, segundo seus aliados, vai criticar o governo, sem mencionar uma conciliação nacional. Aécio rejeitará, porém, a defesa de um impeachment da presidente reeleita. Este foi o mote de manifestações em capitais brasileiras realizadas no fim de semana passado.

Na quarta pela manhã, Aécio vai tentar transformar a primeira reunião da direção executiva do PSDB depois da eleição presidencial em uma demonstração de força e unidade partidária em torno de seu nome.

“Será mais que uma reunião, mas um ato político para marcar a volta de um senador que recebeu 51 milhões de votos. Será também a primeira demonstração de que ele encarna a partir de agora o papel de maior líder da oposição nacional”, diz o deputado federal Bruno Araújo, presidente do PSDB pernambucano e membro da direção executiva nacional da legenda.

Além da cúpula partidária, foram convidados para o ato, que acontecerá em um auditório para 300 pessoas no Senado, deputados eleitos e derrotados, governadores e senadores.

Governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin não estará presente. Ele pediu a Aécio que realizasse outro evento no fim de semana, apenas com governadores aliados.

‘Expressão individual’. Apesar da tentativa de demonstrar unidade e de encher seu retorno de simbolismos, o papel do senador mineiro no cenário nacional é relativizado por setores expressivos do partido.

“Esperamos que ele dê resposta ao que se colheu das ruas, mas não dependemos do discurso de apenas um. Precisamos de mais gente na linha de frente da oposição”, diz o senador reeleito Álvaro Dias, do Paraná.

Para o ex-governador paulista Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, Aécio é o nome “mais expressivo” do partido nacionalmente, mas seu discurso representará uma “expressão individual”. “A fala dele ainda não será resultado de uma avaliação coletiva.”

Em seu retorno, o senador terá de administrar a primeira crise interna da legenda. Setores do PSDB e integrantes da executiva reclamam que não foram ouvidos sobre a decisão da sigla de pedir ao Tribunal Superior Eleitoral uma auditoria do processo eleitoral. Reservadamente, tucanos classificam a iniciativa como um “tiro no pé” que serviu apenas para dar munição aos petistas, que acusam o PSDB de pedir um “3.º turno”. Diante do fato consumado, Aécio deve defender a ideia, mas com a ressalva de que reconhece a derrota.

Esses mesmos tucanos também rechaçam a proposta de se pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff e criticam as manifestações em defesa da volta da ditadura militar. / Colaborou Ricardo Chapola

No senado, Aécio fará 'oposição sem trégua'

• Liderados por FH, tucanos dizem que cobrarão investigação de escândalos

Maria Lima e Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - Após receber 51 milhões de votos na eleição presidencial, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) desembarca hoje em Brasília com a missão de assumir o posto de principal porta-voz da oposição no Congresso. Tucanos e líderes de outros partidos de oposição defendem que seja adotada a linha pregada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em artigo publicado no GLOBO no último domingo: a de uma oposição sem tréguas ao governo até que a presidente Dilma Rousseff (PT) prove que não será leniente com a corrupção e que levará às últimas consequências a apuração do escândalo que envolve aliados na Petrobras. Para tucanos, os 48,4% dos eleitores que apoiaram a oposição este ano querem mudança, cobram oposição ferrenha e rejeitam diálogo com o governo do PT.

Nas entrevistas e pronunciamentos de hoje e amanhã, Aécio fará um balanço da campanha e apontará os rumos de sua atuação. O artigo de Fernando Henrique também foi entendido como um recado para o PSDB de que Aécio sai da disputa com credenciais para disputar novamente as eleições presidenciais em 2018. O ex-presidente ressaltou que Aécio foi firme na defesa de seus pontos de vista, sem perder a compostura, que retrucou seus adversários à altura e se firmou como um "verdadeiro líder".

- O artigo de Fernando Henrique vai na direção correta. Depois do que a presidente Dilma fez na campanha, mentiras, terrorismo, acusações pessoais, diálogo, só se ela mostrar, de fato, que vai rever sua conduta. Nosso papel será de oposição ao governo, a favor do país - disse o ex-coordenador da campanha em São Paulo Alberto Goldman.

O candidato chega no meio da tarde a Brasília e deverá ser recepcionado por manifestantes no aeroporto e no Congresso. Amanhã, fará um pronunciamento no Auditório Nereu Ramos, com governadores da oposição, parlamentares e lideranças de todos os partidos que o apoiaram no segundo turno.

Alguns tucanos acreditam que, pelo fato de Fernando Henrique ser um dos principais formuladores do partido, a tendência é de que a declaração a favor da Aécio afaste temporariamente disputas com vistas a 2018. A aposta é que Aécio construirá o projeto presidencial com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, principal alternativa ao mineiro dentro do ninho tucano.

- Aécio tem o "recall" da frustração nacional. Fez campanha corajosa no sobe e desce. A liderança que conquistou é intransferível pela singularidade da campanha que enfrentou e quase ganhou. O artigo de Fernando Henrique automaticamente remete a ele - afirmou o presidente do DEM, José Agripino.

Sem ser "arroz de festa"
Os tucanos dizem que Aécio terá que se equilibrar agora em uma linha tênue que assegure uma atuação vigorosa no Senado, mas sem se expor a embates cotidianos com senadores petistas. A ideia é que o embate diário caiba a outros integrantes da tropa oposicionista, como José Agripino (DEM-RN), José Serra (PSDB-SP), Álvaro Dias (PSDB-PR), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Ronaldo Caiado (DEM-GO).

- Aécio não pode virar arroz de festa e ficar batendo boca com Gleisi (Hoffmann) ou Lindbergh (Farias). Não pode banalizar o sentimento de mudança da sociedade - explica o presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana.

Oposição marca ato para consolidar Aécio como líder

• Evento vai representar a primeira aparição pública de Aécio desde que ele concedeu a entrevista coletiva na noite de 26 de outubro, após ser confirmada a reeleição de Dilma

Paulo de Tarso Lyra - Correio Braziliense

Para demonstrar força e se contrapor às negociações conduzidas pela presidente Dilma Rousseff para a formação do novo ministério, a oposição marcou um grande evento para amanhã, no Auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados. Por decisão do ex-candidato do PSDB à Presidência Aécio Neves, a reunião da Executiva Nacional tucana para celebrar a eleição dos novos deputados e senadores do partido foi transformada em um ato político, com a presença das demais legendas que se alinharam ao PSDB no segundo turno das eleições presidenciais e garantiram 51 milhões de votos ao presidenciável tucano.

Será a primeira aparição pública de Aécio desde que ele concedeu a entrevista coletiva na noite de 26 de outubro, após ser confirmada a reeleição de Dilma para mais quatro anos de mandato. Desde então, Aécio tem se mantido recolhido, com a família, enquanto os opositores começam a ensaiar a postura para os próximos quatro anos. “Estamos fazendo oposição desde as 20h15 da noite de domingo (26 de outubro). A ideia é intensificarmos cada vez mais esse trabalho”, disse o presidente do PSDB paulista, deputado federal Duarte Nogueira.

Desde então, alguns movimentos foram lançados para tentar manter acesa a chama de oposição ao governo. Na semana passada, o PSDB apresentou um requerimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo uma auditoria especial para apurar supostas falhas no resultado final das eleições presidenciais – ontem, a Procuradoria-Geral da República emitiu parecer contrário ao pedido tucano. Paralelamente, importantes integrantes do partido, como o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), candidato a vice na chapa de Aécio, foram à tribuna do Senado colocar em dúvida a disposição da presidente Dilma Rousseff e do PT de estabelecer um diálogo com a oposição.

No domingo, em coluna publicada nos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso questionou o discurso ameno dos petistas. “epois de uma campanha de infâmias, é difícil crer que o diálogo proposto não seja manipulação”, criticou.

Os cinco governadores eleitos pelo PSDB – Geraldo Alckmin (SP), Beto Richa (PR), Marconi Perillo (GO) e Simão Jatene (PA) e Reinaldo Azambuja (MS) –deverão organizar um ato específico no fim de semana.

Outras siglas O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), vai reunir hoje a Executiva Nacional do partido para posicionar a legenda em torno das novas ações daqui para a frente. Mas ele adiantou que não vê qualquer restrição à participação dos socialistas no evento de amanhã.

O PSB, que apoiou Aécio no segundo turno das eleições, deve reunir hoje à tarde os deputados e os senadores eleitos para medir o tom oposicionista que adotará ao longo dos próximos quatro anos. O novo presidente do partido, Carlos Siqueira, tem dito que a postura dos socialistas não é de alinhamento incondicional aos tucanos, mas de crítica ao PT, sobretudo em matérias que eles considerarem prejudiciais ao país.

O presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), coordenador-geral da campanha presidencial de Aécio Neves, não vai ao evento de amanhã, porque pretende tratar de questões pessoais, mas conversou com o senador mineiro e deixou alinhavado outros atos políticos com a presença das lideranças oposicionistas. “Precisamos fazer uma oposição enérgica, contundente, que fiscalize as ações do PT e da presidente Dilma Rousseff”, disse Agripino.

Reforma política
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) lançou, durante evento em Brasília, mais uma ação para mobilizar a sociedade civil a fim de acelerar a coleta de assinaturas favoráveis ao projeto de lei de iniciativa popular para a reforma política. A primeira proposta é o fim do financiamento empresarial das campanhas eleitorais.

Negociações tomam a agenda em Brasília

• Novo ministério, "pautas bombas" no Congresso e a disputa pela presidência da Câmara mobilizam políticos de todos os partidos. PT quer mais diálogo com Dilma em 2015

Edla Lula – Brasil Econômico

A semana política começou com reuniões tanto no Executivo quanto no Legislativo para alinhavar o ganha-ganha do período pós-eleitoral. Ontem, o ministro chefe das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, recebeu lideranças do Senado para costurar votações e esteve na reunião da Executiva Nacional do PT. Hoje, a presidenta Dilma Rousseff, que neste momento prepara seu novo ministério, terá um encontro com lideranças do PSD, partido de Gilberto Kassab, cotado para uma pasta na Esplanada. Na Câmara de Deputados, outro encontro importante reunirá hoje parlamentares do PMDB com o chamado blocão – PTB, PSC, PR e SD — para costurar a candidatura do Líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), à Presidência da Casa.

O mesmo tema motivará a reunião dos parlamentares do PT, partido que se julga no direito à Presidência, por ser a maior bancada e ter a vez no acordo de revezamento feito desde 2006 como PMDB, a segunda maior bancada. "O que nós queremos é manter a tradição e o acordo que existe entre os dois maiores partidos. Como esta seria a vez do PT, entendemos que devemos indicar. Mas isso será decidido na reunião da bancada", diz o líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP), que ontem participou de reunião da Executiva Nacional do partido. O presidente da legenda, Rui Falcão, evitou comentar a decisão de Cunha de lançar o seu nome, mas também defendeu a vez do PT. "Queremos que aconteça como manda a rotina do parlamento, que a maior bancada tenha o direito de indicar o presidente.

Pessoalmente acho que o PT deve indicar o candidato a presidente", afirmou Falcão, após a reunião da Executiva. Sem opinar sobre a possibilidade de Cunha se candidatar, Falcão disse apenas que o peemedebista "precisa fazer maioria para ser presidente". Outro tema que preocupa o governo é a votação de matérias que elevam os gastos públicos. No caso do Senado, estão marcada para esta semana duas dessas pautas: o Projeto de Lei que altera o indexador da dívida dos estados e municípios (PLC 99/13) e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que aumenta os salários dos juízes (PEC 63), conhecida como PEC dos Magistrados. O líder do PT no Senado, Humberto Costa, lembrou que as chamadas "pautas bombas", que elevam gastos, "mexem com governos tanto da oposição quanto da situação".

Por isso, chamou atenção para a responsabilidade da oposição em evitar uma crise fiscal maior. "Essas repercussões repercutem também sobre os governos estaduais. Eu acredito que o Senado terá o equilíbrio suficiente para evitar que nós entremos em uma crise fiscal desnecessariamente", disse. Sobre a PEC dos Magistrados, o líder do PT no Senado afirmou que será necessária uma negociação entre os três poderes para que a elevação dos salários não acabe por aumentar o rombo nos cofres da União. "Isso (a PEC) exige que o governo tome a dianteira e faça uma negociação com o Legislativo e o Judiciário para termos uma proposta que seja boa para o Judiciário, mas que também seja boa para o país".

Na Câmara dos Deputados, uma das pautas em discussão é a PEC do Orçamento Impositivo, que obriga a União a executar recursos previstos nas emendas dos parlamentares. A proposta, já aprovada no Senado, determina que governo pague as emendas em um limite de até 1,2% da Receita Corrente Líquida. Também na Câmara está a PEC que eleva em um ponto percentual o repasse de recursos da União para o Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Este aumento já havia sido acordado com o governo, mas parlamentares de oposição querem ampliar para dois pontos percentuais. A elevação de apenas um ponto já significa impacto de R$ 3,8 bilhões. Rui Falcão afirmou que uma das definições da Executiva petista é de que o PT pretende ter uma interlocução maior com Dilma Rousseff no próximo mandato e, para preparar o terreno, convidou a presidenta reeleita para a reunião do Diretório Nacional do partido, marcada para os dias 28 e 29 de novembro.

Executiva do PT defende 'controle' do Banco Central

Vera Rosa e Ricardo Della Coletta – O Estado de S. Paulo

Na primeira reunião após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, a Executiva Nacional do PT cobrou maior influência do partido no segundo mandato, até mesmo nos rumos da política econômica, pregou o "controle" do Banco Central, a regulamentação da mídia e um discurso mais à esquerda. Em resolução aprovada nesta segunda-feira, a cúpula petista também defendeu temas que não contam com a aprovação de Dilma, como o fim do fator previdenciário e a jornada de 40 horas, sem redução dos salários.

"O PT deve buscar participar ativamente das decisões acerca das primeiras medidas do segundo mandato, em particular sugerir medidas claras no debate sobre a política econômica, sobre a reforma política e em defesa da democracia nos meios de comunicação", diz um trecho da resolução, antecipada pelo Portal do Estadão. "É preciso incidir na disputa principal em curso neste início do segundo mandato: as definições sobre os rumos da política econômica."

A portas fechadas, dirigentes do PT disseram que será preciso pressionar Dilma para ouvir o partido, dialogar com movimentos sociais, aprovar a "democratização" dos meios de comunicação e fazer mudanças na economia. Embora a presidente esteja disposta a montar um governo "mais Dilma", sem ceder a pressões, o PT fará de tudo para ter voz ativa no segundo mandato. "Nós vamos pressionar o governo. Queremos também discutir fator previdenciário e nova correção da tabela do Imposto de Renda e achamos que polêmica e atrito são normais", disse Jorge Coelho, um dos vice-presidentes do PT. "O PT precisa estar mais perto do governo e a presidente Dilma, mais perto do PT", emendou o secretário-geral do partido, Geraldo Magela.

Para o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, que participou do encontro de hoje, o partido terá agora o desafio de "unir a base aliada" no Congresso, se não quiser sofrer novas derrotas. A escolha do ministro que substituirá Guido Mantega na Fazenda também é vista como primordial pelo comando da legenda. Apesar do economista Nelson Barbosa ser o preferido por nove entre dez petistas para o cargo, deputados do PT chegaram hoje a elogiar o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, o primeiro indicado por Luiz Inácio Lula da Silva para a cadeira de Mantega.

A resolução aprovada pela Executiva, no entanto, deixou claro que, no governo Dilma, o Banco Central não terá autonomia. No item 6 da resolução os petistas pregam o "controle democrático e republicano sobre as instituições que administram a economia brasileira, entre as quais o Banco Central, a quem compete, entre outras missões, combater a especulação financeira".

PSDB
O presidente do PT, Rui Falcão, disse que o PSDB do candidato derrotado, Aécio Neves, tentou criar um "factóide" quando pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma auditoria sobre os resultados das eleições. Foi um tom mais ameno do que o contido no documento que passou pelo crivo da Executiva, para quem a oposição caiu no "ridículo" com esse pedido. Falcão também evitou atacar com mais ênfase as manifestações que pediram o impeachment de Dilma e até a intervenção militar no País. "Numa democracia, os movimentos e a participação de setores da população, ainda que minoritários, são legítimos", afirmou ele. "Mas nós também estamos conclamando nossa militância em atos de defesa da democracia e da reforma política."

O PT criou hoje uma comissão para preparar a festa de posse de Dilma, em 1º de janeiro de 2015. Depois da vitória em uma disputa definida pelo PT como "duríssima", o partido quer fazer uma festa popular, resgatando o sentimento de "esquerda". Na reunião de hoje, dirigentes do PT disseram que todos precisam se debruçar agora sobre o motivo da rejeição à sigla, escancarado nessas eleições. Numa autocrítica, a resolução da Executiva diz que o partido necessita "retomar sua capacidade de fazer política cotidiana, sua independência frente ao Estado" e também "ser muito mais proativo no enfrentamento das acusações de corrupção, em especial no ambiente dos próximos meses em que setores da direita vão continuar premiando delatores".

Na campanha, o PT e o governo sofreram desgaste após a série de denúncias do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Yousseff, que apontaram um esquema de desvio de recursos na estatal para favorecer aliados do governo. O nome do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi citado pela dupla como operador do esquema.

Agenda adequada para a reforma política – O Globo / Editorial

• Não serão extintos partidos, apenas ficarão com representantes no Congresso e com acesso ao fundo partidário e à propaganda gratuita as legendas que têm votos

Mesmo que seja por caminhos tortuosos, o tema da reforma política ganha espaço na agenda do país neste momento em que a presidente reeleita se prepara para assumir o segundo mandato, em 1º de janeiro, a um mês de um novo Congresso abrir a legislatura de 2015 a 2018.

Do ponto de vista político, é a ocasião adequada para Executivo e Legislativo enfrentarem questões espinhosas, a fim de equacionar problemas que tornem os próximos quatro anos proveitosos para a sociedade. No campo econômico, há sérias e óbvias reformas a fazer — queira ou não o governo — e, na política, se impõe a necessidade de algumas mudanças na legislação que rege a vida político-partidária.

Tem ajudado a impulsionar esta agenda a campanha que frações do PT começaram a fazer, a partir das manifestações de rua do ano passado, para impor um projeto de reforma política — financiamento público de campanha e todo poder aos caciques dos partidos, a serem fortalecidos pelo sistema de votação em listas fechadas, redigidas pelas lideranças das legendas.

O sonho dessas facções petistas é viabilizar uma "constituinte exclusiva" sob pretexto de realizar esta reforma com votações por maioria simples.

Por ser reconhecidamente inconstitucional, a proposta, de inspiração chavista, não conta com o apoio entusiasmado da própria presidente Dilma, que continua a defender a realização de um inadequado plebiscito, mas já admite a alternativa realista: o Congresso decide, e o eleitor, em referendo, sanciona ou não o aprovado por deputados e senadores. À medida que o bom senso impere na forma de se fazer as alterações nesta legislação, espera-se que o mesmo ocorra em relação ao que mudar. E fica cada vez mais evidente que a "reforma política" não requer muitas alterações, tampouco heroicas., como um novo sistema de votação e outras de grande alcance.

Duas medidas tópicas — a cláusula de barreira e o fim das coligações em pleitos proporcionais — teriam enorme impacto no saneamento do quadro político-partidário, com o escanteamento de legendas de aluguel e sem representatividade eleitoral, golpe forte no toma lá dá cá do fisiologismo.

Demonstrou O GLOBO no domingo que as duas medidas, conjugadas, reduzirão os 28 partidos hoje com representação no Congresso para sete, os de maior peso junto ao eleitorado. Facilitam-se as negociações para a montagem de base parlamentar com vistas à governabilidade. Além de os acertos entre legendas ficarem mais transparentes. Nenhum partido desaparecerá, apenas os que não têm votos — por exemplo, no mínimo 5% dos eleitores em um determinado número de estados — continuariam a existir, mas sem atuar no Congresso, sem fundo partidário e horário no programa eleitoral. O simples fim das coligações — pelas quais são eleitos candidatos de outros partidos sem que o eleitor saiba, um claro estelionato — já enxugaria o quadro partidário, mas não o necessário.

Radicais atacam de novo - O Estado de S. Paulo / Editorial

A presidente Dilma Rousseff, coerente com seu passado de militância nos movimentos de esquerda radical que combateram a ditadura militar e posteriormente nas fileiras brizolistas, tem uma visão claramente intervencionista do Estado. Nessa questão, alinha-se com a esquerda do PT. Justiça lhe seja feita, no entanto: tem resistido bravamente, desde seus primeiros dias como presidente, aos radicais de seu partido que pregam a censura dos meios de comunicação por meio do que eufemisticamente chamam de "controle social" da mídia. Periodicamente, porém, os inimigos da liberdade de imprensa voltam à carga.

O dirigente nacional do PT Valter Pomar, um dos líderes da corrente minoritária Articulação de Esquerda, divulgou documento propondo que, na reunião que o Diretório Nacional do partido realizará na capital federal nos dias 28 e 29 de dezembro para dar início à discussão das prioridades do segundo mandato de Dilma Rousseff, seja relançada "a campanha pela reforma política e pela mídia democrática", temas das "batalhas" que esse grupo promete travar no Congresso Nacional no próximo ano.

O documento da Articulação de Esquerda insiste no habitual repertório de temas políticos caros aos esquerdistas radicais e propõe que o PT lance um "jornal diário de massas e uma agência de notícias" destinados a dar apoio à atuação do "campo democrático". É uma ideia típica do voluntarismo inconsequente e do sectarismo de esquerda, do discurso daqueles para quem a população é deliberadamente mal informada por uma mídia "burguesa" comprometida apenas com interesses da "elite". Mas esse é um problema que se resolve facilmente, como demonstra acreditar a facção petista, com o lançamento de um jornal para as "massas", capaz de colocar a elite perversa no devido lugar.

Esse raciocínio implica, é claro, a suposição de que as "massas" estejam ávidas pela maravilhosa perspectiva de que se lhes ofereça um jornal preocupado em divulgar apenas boas notícias: as façanhas, promessas e diretrizes dos salvadores da pátria. Uma perspectiva que, mesmo capaz de superar, mediante o investimento de enorme volume de recursos financeiros, as dificuldades de produção industrial e distribuição de um diário de tiragem compatível com a demanda da "massa", certamente terá dificuldades para transformar a leitura diária de um jornal em objeto de desejo dessa "massa".

Parecem se esquecer de que o Brasil ainda é um dos países com pior desempenho na área da Educação, o que resulta na existência do enorme flagelo do analfabetismo funcional. Valter Pomar e companheiros estariam mais bem sintonizados com a vida real se ficassem satisfeitos em produzir um jornal para a militância da Articulação de Esquerda. Felizmente, seus arreganhos totalitários não obtiveram, até agora, acolhida por parte da presidente reeleita.

De qualquer modo, não deixa de ser preocupante o fato de que, mais recentemente, talvez devido à tendência à radicalização da campanha eleitoral, Dilma Rousseff tenha passado a admitir a regulação econômica das atividades midiáticas, de modo a coibir os abusos provocados pela concentração da posse de um grande número de veículos de comunicação nas mãos de grupos econômicos. É óbvio que o monopólio e o oligopólio são indesejáveis em sociedades democráticas, especialmente numa área particularmente estratégica como a da comunicação.

Não é por outra razão que em países com instituições democráticas sólidas, como os Estados Unidos, não existe, por exemplo, a propriedade cruzada de meios de comunicação.

Essa, no entanto, é uma questão a ser amplamente debatida em todos os foros adequados, de modo a sintonizar a legislação brasileira com os avanços tecnológicos das últimas décadas e sua inevitável repercussão no negócio da comunicação.

O que não se pode admitir é a tentativa de manipulação desse debate, como foi tentado por setores radicais do PT que, ao apagar das luzes do governo Lula, promoveram um encontro nacional para definir um projeto de "controle social da mídia" que, apresentado a Dilma Rousseff nos primeiros dias de seu governo, foi prudentemente engavetado. Em benefício da liberdade de imprensa, é bom que esse projeto permaneça onde a presidente o colocou.

Reajuste da Light pode levar inflação do Rio a fechar em 7,3%

• Economistas veem impacto entre 0,35 e 0,80 ponto. Índice sai hoje

Bruno Rosa, Lucianne Carneiro – O Globo

O aumento na conta de luz para os cerca de quatro milhões de clientes da Light, que entrará em vigor na sexta-feira, dará impulso extra à inflação no Rio de Janeiro. De acordo com projeção da MB Associados, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza as metas de inflação do país, vai fechar o ano em 7,3% na Região Metropolitana do Rio, bem acima do teto da meta, de 6,5%, e da média esperada pelo mercado para o país, de 6,43%, segundo o boletim Focus, do Banco Central. No ano passado, o IPCA no Rio foi de 6,16%.

Economistas estimam que apenas o impacto de um reajuste de 25% no preço da energia residencial pela Light represente algo entre 0,35 e 0,80 ponto percentual na inflação do Rio. No país, esse efeito deve variar entre 0,04 e 0,10 ponto percentual.

Em 2013, o preço da energia elétrica no país recuou 15,6%. Até setembro deste ano, a alta acumulada é de 13,2%. A MB Associados calcula que o aumento de energia em 2014 chegue a 18,1%. Na taxa de 6,75% da inflação nos 12 meses encerrados em setembro, a energia elétrica respondeu por 0,38 ponto percentual.

Segundo a Light, o reajuste pedido à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) foi na faixa de 20%. No entanto, a Aneel informa em seu site que o pedido foi de 25,04%. O índice será anunciado hoje e entra em vigor no próximo dia 7.

O forte aumento da tarifa é um reflexo da atual crise do setor. Com a falta de chuvas, o baixo nível dos reservatórios obrigou o governo a ligar as térmicas, que têm um custo maior, para gerar energia. Segundo dados da Aneel, só neste semestre, a média dos aumentos é de 25,6% entre as distribuidoras com mais de 500 mil clientes. Na semana passada, Roraima teve reajuste superior a 50%.

Peso de térmicas e dólar
Segundo Sergio Valle, economista-chefe da MB Associados, que estima o IPCA do Rio em 7,3%. Se houver reajuste nos combustíveis, chegaria a 7,5%.

- Projetamos um avanço de 18,1% nos preços de energia elétrica no país este ano, justamente com um peso mais importante do Rio em novembro. Tudo o que o governo fez no ano passado foi desfeito e não deve ser diferente no ano que vem, com as estimativas iniciais de elevação de energia indo para casa dos 20% - diz Valle.

Segundo Fabio Romão, da LCA, o grupo energia deve fechar o ano em 17,3%, sendo o principal vilão da inflação. Ele projeta o IPCA fechado no país em 6,43%.

Já a economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Maria Andreia Parente estima um impacto de até, no máximo, 0,80 ponto percentual na inflação da Região Metropolitana do Rio caso a Light obtenha um reajuste de 25%.No IPCA nacional, esse impacto seria de 0,10 ponto. Com um reajuste de 20%, esse impacto seria de 0,64 ponto no Rio e de 0,08 ponto no país.

A projeção do economista-chefe do ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, é um pouco mais cautelosa. Seu cálculo considera que apenas parte do reajuste da Light será refletido no IPCA, já que alguns municípios são atendidos pela Ampla. Caso o aumento seja de 25%, o impacto seria de 0,35 ponto no IPCA do Rio e de 0,04 ponto no do país. Ele estima que o IPCA encerre 2014 em 6,4%, sem considerar um reajuste de combustível.

- Esse aumento reflete apenas as condições de mercado, com maior uso das térmicas e alta do dólar, que influencia o preço da energia de Itaipu. Para 2015, além desse impacto, teremos os custos com os empréstimos às distribuidoras. Trabalho com reajustes pelo menos iguais aos de 2014 - diz Leal.

Petrobras pedirá alta de 5% na gasolina

• Presidente da estatal participa hoje de reunião do Conselho em Brasília

Bruno Rosa – O Globo

Na reunião do Conselho de Administração da Petrobras - que foi suspensa na última sexta-feira e será retomada hoje -, a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, vai pleitear um aumento de 5% no preço da gasolina. Ela estará em Brasília, onde vai apresentar sua proposta na reunião. O encontro, diz uma fonte que não quis se identificar, será feito via teleconferência, com parte dos conselheiros em São Paulo e Rio de Janeiro.

Na sexta-feira, os conselheiros decidiram interromper a reunião, após os auditores da PwC se recusarem a aprovar o balanço do terceiro trimestre da Petrobras com a permanência de Sergio Machado no comando da Transpetro, subsidiária da estatal, já que seu nome foi citado no depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa ao Ministério Público, no âmbito da Operação Lava-Jato.

Em 2013, reajuste foi de 4%
O preço da gasolina não sobe há um ano.

- É grande a chance de o governo aceitar a proposta de reajuste que será apresentada pela Graça. O número seria maior, mas houve queda na cotação do petróleo no mercado internacional. Apesar disso, a empresa ainda acumula muitas perdas ao longo deste ano (com a defasagem dos combustíveis). No fim do ano passado,o aumento na gasolina foi de 4%. Acredito que haverá, sim, o aumento do combustível hoje - disse essa fonte.

Segundo essa mesma fonte, os conselheiros terão uma pauta extensa de assuntos para analisar ao longo do dia. Além de relatórios de análise envolvendo as refinarias Abreu e Lima, ou Refinaria do Nordeste (Rnest), em Pernambuco, e o Comperj, os conselheiros terão de dar o aval para a venda de ativos propostos pela diretoria.

- É muita coisa na pauta, com questões administrativas e financeiras. Além do item "preço do combustível", ainda há o ponto "aquisição de compra e venda de ativos" - completou a fonte.

Ontem, com as incertezas em torno da reunião, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da estatal caíram 2,81%, e as ordinárias (ON, com direito a voto) recuaram 2,73%, na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

A reunião começa hoje às 9h. Em Brasília, além de Graça, estarão o ministro da Fazenda, Guido Mantega, presidente do Conselho de Administração; Márcio Zimmerman, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia; Míriam Belchior, ministra do Planejamento; e Sílvio Sinedino Pinheiro, presidente da associação dos engenheiros da Petrobras, a Aepet. De São Paulo, participam o general Francisco Roberto de Albuquerque, indicado pelo governo; além de Mauro Cunha e José Guimarães Monforte, indicados pelos acionistas minoritários e pelos acionistas preferenciais, respectivamente. No Rio, estarão Sérgio Quintella, indicado pelo governo, e Luciano Coutinho, presidente do BNDES.

Déficit comercial de outubro é o maior para o mês desde 1998

• Resultado negativo de US$ 1,177 bilhão supera a baixa de US$ 939 milhões obtida em setembro; no ano, déficit é de US$ 1,871 bilhão

Renata Veríssimo - Agência Estado

A balança comercial fechou outubro com déficit de US$ 1,177 bilhão - divulgou nesta segunda-feira, 3, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Trata-se do pior resultado para o mês desde 1998, tal qual aconteceu em setembro, quando foi obtido déficit de US$ 939 milhões. O saldo negativo acumulado no ano é de US$ 1,871 bilhão.

O resultado, no entanto, veio melhor do que a mediana do mercado, segundo pesquisa do AE Projeções, serviço da Agência Estado. O levantamento que ouviu 14 instituições previa déficit de US$ 900 milhões a US$ 1,7 bilhão, com mediana negativa em US$ 1,35 bilhão.

O secretário de comércio exterior, Daniel Godinho, avaliou que dois fatores tiveram um desempenho divergente do esperado pelo ministério e pelos analistas de comércio exterior.

Segundo ele, um dos fatores foi a queda de preços internacionais mais acentuada que o previsto neste ano. "A expectativa era de que o preço se acomodasse em patamar mais baixo que em 2013, mas a queda foi maior que o previsto pelo MDIC e pelos especialistas", comentou.
Godinho disse que o minério de ferro teve queda no preço na ordem de 20% esse ano em relação a 2013. Somente em outubro, o recuo foi de 40%. Segundo o secretário, se os preços estivessem no mesmo patamar do ano passado, as exportações de minério de ferro teriam sido US$ 5,4 bilhões a mais.

Outro fator que afetou negativamente a balança, afirmou Godinho, foi a queda forte na demanda da Argentina, terceiro parceiro comercial e principal comprador de manufaturados brasileiros. Segundo ele, a demanda da Argentina por produtos brasileiros caiu 27% no ano. A procura por manufaturados diminuiu 29% e de automóveis, 44% no acumulado do ano.

Expectativa. Apesar do novo recorde negativo em outubro, Godinho mantém a previsão de um superávit comercial em 2014. Ele destacou, no entanto, que é preciso esperar o resultado da balança em novembro que será decisivo para confirmação dessa expectativa.

Segundo Godinho, dezembro é um mês tradicionalmente superavitário. Isso porque há um esforço do lado das exportações para fechamento de contratos e diminuições de estoques. Também há menor importação de insumos por causa da produção industrial menor no começo do ano.

O secretário também acredita que deve haver uma melhora na chamada conta-petróleo, principalmente por conta do aumento da produção e das exportações. "Há uma concentração de aumento da produção de petróleo nos últimos meses do ano", afirmou.

Godinho também espera uma melhora nas vendas de minério de ferro, com possível aumento da quantidade embarcada em novembro e dezembro, além de uma continuidade do aumento da exportação do complexo carne que cresceu 5% de janeiro a outubro e 11% somente em outubro.

Ritmo de queda. No geral, as exportações brasileiras tiveram queda de 19,7% em outubro, quando comparadas com a média diária de outubro de 2013. As vendas externas de manufaturados caíram 30,3% no período, principalmente porque no ano passado houve uma plataforma de petróleo que não se repetiu em outubro de 2014.

Também houve recuo de óleos combustíveis, automóveis de passageiros e aviões. O grupo de básicos teve uma retração de 15,4%, queda puxada por soja em grão, minério de ferro, milho em grão e minério de cobre. Nos semimanufaturados, houve um recuo de 1%, principalmente, por conta de óleo de soja em bruto, ouro em forma semimanufaturada e açúcar em bruto.

As vendas brasileiras em outubro para União Europeia caíram 40,4%, explicado principalmente pela plataforma de petróleo embarcada no ano passado. As exportações para a Ásia tiveram queda de 25%, sendo que para a China decresceu 43,8%. Para o Mercosul, o recuo foi de 22,2% e, para Argentina, de 35,9%. Os embarques no mês passado para os Estados Unidos caíram 0,3%.

Em alta, café e celulose. A exportação brasileira de café em grão no mês de outubro (23 dias úteis) alcançou 3,094 milhões de sacas de 60 kg, o que corresponde a uma elevação de 6,07% em relação a igual mês do ano passado (2,917 milhões de sacas). Em termos de receita cambial, houve crescimento de 51,6% no período.

Já as exportações de celulose alcançaram 1,095 milhão de toneladas em outubro, crescimento de 19,41% na comparação com o mesmo mês do ano passado.Em receita, a celulose exportada chegou a US$ 511,9 milhões no mês passado, uma alta de 6,2% na comparação anual.

Produção industrial cai 0,2% em setembro ante agosto, aponta IBGE

Diogo Martins e Ana Conceição – Valor Econômico

RIO - (Atualizada às 9h32) A produção industrial caiu 0,2% em setembro na comparação com o mês anterior, na série com ajustes sazonais. Em agosto, a produção subiu 0,6% sobre julho, dado revisado de alta de 0,7%. Os dados constam da Pesquisa Industrial Mensal divulgada nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado da produção geral ficou abaixo da média prevista por 17 instituições financeiras e consultorias consultadas pelo Valor Data, que apontava aumento de 0,2%. O intervalo das estimativas ficou entre queda de 0,5% e alta de 1,5%.

A principal influência de queda foram os bens intermediários, responsáveis por cerca de 55% da produção da indústria brasileira. A fabricação desses produtos recuou 1,6% em setembro sobre agosto. Nesse período, o IBGE observou recuo nos setores de produtos de metal (-2,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (-1,3%) e celulose, papel e produtos de papel (-0,5%) e indústrias extrativas (-0,2%).

Na comparação com setembro de 2013, a produção industrial brasileira caiu 2,1%. No acumulado do ano até setembro, o setor teve baixa de 2,9% e, em 12 meses, caiu 2,2%.

A comparação entre setembro e agosto mostrou, além da queda de 1,6% em intermediários, alta de 1,9% na produção de bens de capital, já com ajustes sazonais. Na mesma base de comparação, a produção de bens de consumo duráveis avançou 8% e a de bens de consumo semi e não duráveis avançou 0,8%.

Em relação a setembro de 2013, a produção de bens de capital recuou 7,9%, a de bens intermediários caiu 1,7%, ao passo que a produção de bens de consumo duráveis recuou 7,3% e a de bens de consumo semi e não duráveis avançou 1,6%.

No acumulado do ano até setembro, a produção de bens de capital caiu 8,2%, a de bens intermediários recuou 2,5%, enquanto a de bens de consumo duráveis caiu 9,6%, e a dos bens de consumo semi e não duráveis avançou 0,2%.

Nos 12 meses encerrados em setembro, a produção de bens de capital caiu 4,3%, a de bens intermediários recuou 2,2%, enquanto a de bens de consumo duráveis caiu 7,6%, e a dos bens de consumo semi e não duráveis avançou 0,2%.

Produção de veículos
Por outro lado, a produção de veículos automotores, reboques e carrocerias cresceu 10,1% em setembro, sobre agosto, na série que desconta os efeitos sazonais. Esse é o melhor resultado desde desde fevereiro de 2012, quando subiu 12,1%.

"Essa melhora recente não suplanta as quedas de março a julho. É um crescimento que se dá por uma base de comparação mais baixa", afirmou o gerente da coordenação da indústria do IBGE, André Macedo.

Em relação a setembro de 2013, a produção de veículos automotores teve queda de 14,3%. De acordo com o IBGE, no acumulado do ano até setembro, a produção do setor teve queda de 18,1%, ao passo que, em 12 meses, a atividade caiu 14,9%.

Terceiro trimestre
A produção da indústria brasileira caiu 3,7% no terceiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período em 2013. O recuo se segue à queda de 5,3% no segundo trimestre e ao aumento de apenas 0,6% no primeiro trimestre, ambos sobre os mesmos períodos do ano passado.

Todas as categorias registraram produção negativa no terceiro trimestre, embora o recuo tenha sido menor que no segundo. A produção de bens de capital caiu 9,9% entre julho e setembro após retração de 14,4% entre abril e junho. Nessa categoria, se destaca a queda de bens de capital para indústria, único segmento em que a queda do terceiro trimestre foi maior que a do segundo: 5,2% contra 3,3%. A fabricação de bens de capital para transporte caiu 16,1%, de recuo de 18,7% no trimestre anterior.

A produção de bens intermediários, que representa cerca de 55% da indústria nacional, saiu de queda de 3,6% para recuo de 2,9% no período. A fabricação de bens duráveis, que inclui automóveis e eletrodomésticos, por exemplo, saiu de retração de 18,4% para queda de 12,6%, e a de bens de consumo semi e não duráveis, que agrega produtos como vestuário e alimentos, foi de queda de 1,7% para recuo de 0,4%.

Marco Antonio Villa - Projeto a caminho da derrota

• Para o PT a negociação só interessa quando os opositores já entram derrotados e têm de aceitar as imposições petistas

- O Globo

A presidente Dilma começou seu governo, em 2011, aparentando relativa independência frente ao seu criador, o ex-presidente Lula. Disse que daria à sua gestão um perfil administrativo e que não transigiria com a corrupção. Representava à época o figurino de gerentona e faxineira. Era tudo uma farsa, mera encenação para consumo dos ingênuos — e não faltaram os que acreditaram que a criatura era não só diferente do criador, como até, se fosse preciso, romperia politicamente com ele. Em quatro anos deixou um país com crescimento zero, um governo paralisado e marcado por escândalos de corrupção.

Agora o figurino que está tentando vestir é o da presidente que deseja dialogar com os partidos e a sociedade. Mais uma farsa. Todo mundo sabe que Dilma não gosta de política. Nunca gostou. Na juventude transformou oposição à ditadura em confronto militar — com trágico resultado. Quando chefiou a Casa Civil do presidente Lula foi elogiada pelo estilo de durona. Era a mãe do PAC, uma tocadora de obras. A coordenação política governamental era tarefa do próprio Lula. Quando assumiu a Presidência, Dilma fez questão de demonstrar diversas vezes o absoluto desinteresse — até mais, enfado — pelas tarefas políticas. Ela não gosta de ouvir. Decide por vontade própria.

No discurso de comemoração da vitória, a presidente já deu sinais de como pretende governar nos próximos quatro anos. E insistiu na proposta de reforma política petista que, entre outras coisas, despreza o papel constitucional do Congresso. O governo elabora as mudanças e busca, via plebiscito, o apoio popular. Para o PT a negociação só interessa quando os opositores já entram derrotados e tem de aceitar as imposições petistas.

Dilma liderou a campanha eleitoral mais suja da história. No primeiro turno usou da mentira para triturar a candidatura de Marina Silva. Guardou para a fase final da campanha os ataques à honra de Aécio Neves. E tudo sem qualquer problema de consciência. Assim como Lula, Dilma passou a ter como princípio não ter princípio. O importante era ganhar. Quem fez o que ela fez na campanha tem condições morais de dialogar com a oposição?

Dificilmente a reforma política — ou qualquer outra reforma proposta pelo governo — vai ocupar espaço na agenda política. O escândalo do petrolão é de tal monta que poderá ter um (inicialmente) efeito destrutivo e saneador (caso as apurações forem até as últimas consequências). O encaminhamento das investigações comandadas pelo juiz Sérgio Moro já desnudou que o assalto dos marginais do poder à Petrobras é o maior caso de corrupção da história do Brasil. E vai atingir os três poderes da República chegando até, segundo depoimento do doleiro Alberto Youssef, o Palácio do Planalto.

A oposição acabou sendo arrastada a exercer o seu papel pelo eleitorado. A crise de identidade foi resolvida ainda durante a campanha eleitoral. Diferentemente das duas últimas eleições presidenciais, desta vez tivemos uma campanha mais politizada e com participação popular. Fracassou a interpretação de que as manifestações de junho de 2013 tinham sepultado a "velha política." Pelo contrário, basta recordar as discussões nas redes sociais, o acompanhamento de toda a campanha, a excelente audiência dos debates televisivos, principalmente no segundo turno, e a permanência do interesse pela política após o 26 de outubro.

O cenário econômico é péssimo. Nem o doutor Pangloss diria que as coisas vão bem. O quadriênio Dilma conseguiu desorganizar as contas públicas, estourar a meta de inflação, colocar em risco a saúde das empresas e dos bancos estatais e paralisar a economia do país. E qualquer processo de negociação política é muito mais difícil nessa situação, pois o governo teria de ceder. E ceder faz parte da política, e Dilma odeia a política.

Na atual conjuntura aceitar o aceno do governo é jogar na lata de lixo 50 milhões de votos. De votos oposicionistas. De eleitores que estão indignados com o — usando a expressão do ministro Celso de Mello citada no julgamento do mensalão — projeto criminoso de poder petista. Não há desejo sincero de diálogo. As palavras de Dilma não correspondem aos fatos. O que dizer de uma presidente que demonizava a adversária imputando a pecha de defensora dos banqueiros e — dias após à eleição — aumenta a taxa de juros e convida um banqueiro para o Ministério da Fazenda? É esperteza ou falta de caráter?

O PT venceu a eleição presidencial mas está longe de caminhar para ter o controle dos três poderes — sonho acalentado pelo partido. Perdeu 20% das cadeiras da Câmara dos Deputados e no Senado manteve o mesmo número de assentos. Tudo indica que não terá a presidência de nenhuma das duas Casas no próximo biênio. E a melhoria qualitativa da bancada oposicionista deve criar situações embaraçosas para o governo — e não faltam temas para explorar. Por outro lado, a composição do Executivo federal terá de ser ainda mais partilhada com os partidos que dão sustentação ao governo, enfraquecendo o projeto petista. E se for aprovada a PEC da bengala ainda este ano, a presidente Dilma perderá a oportunidade de nomear, devido à expulsória, cinco novos ministros para o STF, acabando com o sonho petista — e verdadeiro pesadelo nacional — de transformar aquela Corte em um puxadinho do Palácio do Planalto.

Já estamos em 2015, um ano de 14 meses. Ano agitado, o que é bom para a democracia. E tudo que é bom para a democracia é ruim para o PT. Vamos ter muitas surpresas. O projeto autoritário petista caminha para a derrota política: são os paradoxos da História.

Marco Antonio Villa é historiador

Dora Kramer - Tiros para todo lado

- O Estado de S. Paulo

Mal refeito do susto de um quase revés eleitoral que a certa altura chegou a dar como certo, o governo já enfrenta turbulências na área política às quais o PT não estava acostumado nas três vezes em que ganhou as eleições presidenciais.

No geral as previsões eram no sentido de que depois do vendaval da campanha acirrada viria a calmaria do dia a dia. A oposição algo fortalecida, mas ainda minoritária, a população cuidando da vida e a base parlamentar dita aliada voltaria para seus afazeres em busca do melhor lugar na troca das cadeiras na Esplanada dos Ministérios e adjacências.

As coisas, no entanto, não saíram como previsto. A oposição não falou fino, a situação - com destaque para o PMDB - não assinou o cheque em branco e o PT depois de reclamações iniciais começou a defender publicamente a necessidade de mudar para poder continuar.

O discurso dos críticos contra o qual reagiam passou a ser vocalizado pelos petistas: o partido rendeu-se ao fisiologismo, trocou a interlocução com a sociedade pela atuação via máquina do governo e concentrou todo o seu foco em disputas eleitorais.

Resultado, a população percebeu, reduziu significativamente seu apoio ao partido, respaldou a oposição como nunca havia feito antes e esses fatores tiveram reflexo imediato no Congresso. A reação foi instantânea. Sem direito a carência nem o aguardo da posse dos deputados e um terço dos novos senadores eleitos.

A insatisfação vai de A a Z, incluindo uma bancada do PT que se percebe isolada. É com esse cenário que a presidente Dilma Rousseff se depara nesta semana de movimentação partidária intensa em Brasília, na desconfortável situação de se ver obrigada a trocar os pneus com o carro em movimento.

Da reunião da Executiva Nacional do PT marcada para ontem a fim de fazer um balanço das eleições, discutir o que fazer no segundo mandato e examinar o rumo a tomar na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado, se o tom não fosse de autoengano não se poderia esperar um quadro otimista. Embora sejam muitas, as dificuldades não são intransponíveis. O problema é que dependem de duas premissas: autocrítica e correção de rumos.

Hoje e amanhã é a vez de o PMDB se reunir. Primeiro para discutir qual a proposta do partido para a reforma política. Difícil acreditar que no clima conflagrado em que o partido se encontra e tendo em vista a amplitude dessa pauta, os pemedebistas se mantenham presos ao assunto durante o jantar no Palácio do Jaburu.

O tema que interessa mesmo ao partido é o da agenda do dia seguinte na reunião do Conselho Político: a conduta da bancada no Congresso nos próximos quatro anos. Em particular, nos dois primeiros em que os deputados apoiam a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara contra (e por isso mesmo) a vontade do Planalto.

O que está em jogo - e esta é uma mudança que faz diferença - não é mais a quantidade de cargos que o governo possa oferecer. No mandato que agora termina o partido percebeu que seu poder real está no Congresso. No Executivo, o nomeado não tem autonomia. Segundo Eduardo Cunha há uma chance de o partido chegar a um acordo com o PT: "Se eles apoiarem o PMDB para a presidência está fechado". Logo...

O argumento para convencer os deputados a não cederem é o mesmo que será utilizado para conquistar os votos do PSDB e demais partidos de oposição: "Não entregar o comando do Congresso ao PT para preservar o equilíbrio dos Poderes."

Pode ser que seja um dos assuntos do encontro marcado pelos tucanos para a mesma quarta-feira, a fim de marcar a reentrada em cena do senador Aécio Neves. Na ocasião, o PSDB dará o tom - de certo modo já antecipado - da contundência com que pretende fazer oposição.
Atento ao quadro, o governo dá sinais de que o contraditório entrou no seu rol de preocupações.

Merval Pereira - O STF e a conjuntura

- O Globo

Diante da possibilidade de a presidente Dilma vir a indicar cinco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no seu 2º mandato, além da vaga aberta pela saída prematura do ministro Joaquim Barbosa, fica explicitada a importância do Senado na sabatina dos indicados , e ganha peso político re levante a decisão de aposentadoria antecipada quando o ministro está em dissintonia com o governo do momento
.
O professor da Faculdade de Direito da Fundação Getulio Vargas do Rio Diego Werneck, especialista em STF e na Suprema Corte dos EUA, ressalta que em lugar nenhum do mundo existe concurso público para a Corte Suprema, pois esse "é um exercício de soberania política, e por isso mesmo tem que ser controlado pela cidadania". Ele destaca que, graças à mobilização de organizações da sociedade civil nos últimos anos, há um procedimento novo adotado pelo Senado em 2013 que exige um período mínimo entre a indicação e a sabatina, podendo o relator receber sugestões de perguntas da sociedade civil.

A 1ª vez que esse procedimento vai ser aplicado ser á na sabatina do substituto de Barbosa. "Esse risco tem que ser gerenciado pelo Senado. A pior maneira de aprovar é sem debate, como geralmente acontece. Ou vetar sem debate". O professor da FGV considera que o tipo de crítica levantada pelo ministro do STF Gilmar Mendes de que não podemos corre r o risco de termos uma Corte bolivariana "pressupõe visão muito simplista do que é a decisão judicial, quando muitas coisas estão em jogo. Você não pode confundir o que é a visão da pessoa, muitas vezes expressa anteriormente, com alinhamento automático".

Para ele, o perigo é confundir a questão estrutural com a conjuntural e, com a PEC da Bengala — que amplia para 75 anos a idade limite para a aposentadoria compulsória, que hoje é de 70 anos —, criar novos problemas estruturais. "É possível que ministros fiquem no STF por muito mais de 30 anos, subindo para 75 anos a aposentadoria. O que agravaria um problema estrutural do sistema brasileiro, que deveria preocupar". O sistema em vigor permite que presidentes indiquem pessoas muito jovens, privando futuros presidentes da oportunidade de indicar. "Isso tem que ser controlado pelo Senado, que precisa pensar na idade do indicado como uma variável importante".

Além, é evidente, da capacitação jurídica do indicado. Nos tribunais europeus , de modo geral, essa questão é resolvida com mandatos, lembra Werneck, que podem ser de 8 a 14 anos . E os mandatos são dispostos de tal forma que as vagas abrem em períodos regulares. Nos EU A, onde o mandato é vitalício, é um debate que há na academia, sobre se não deveria se criar aposentadoria compulsória, ou algum tipo de mandato mais restrito, lembra Werneck. Do ponto de vista da conjuntura atual, é preciso considerar, diz o professor da FGV, que parte dessas vagas que vão se abrir a Dilma já são vagas que foram preenchidas pelo PT.

"Não é uma reviravolta completa na tendência, o que muda são duas vagas a mais indicadas pelo PT". Mas não é uma aberração que ela tenha essas vagas, diz ele, lembrando que em 2 anos Fernando Collor pôde fazer 4 indicações , e, em 5 anos de mandato, José Sarney fez 5 indicações . Nos EUA, o que ocorre é que os ministros , quando vão chegando a idade muito avançada, esperam a entrada no governo de um presidente do seu grupo político para poderem se aposentar . Em 12 anos no poder (mesmo número que Dilma + Lula), Roosevelt indicou 8 dos 9 ministros da Suprema Corte .

O risco de haver uma proximidade excessiva de visões de mundo entre quem ganhou na política e a maioria no Tribunal é inerente ao sistema de escolha política dos ministros, destaca Diego Werneck, para concluir: "Já convivemos com o STF que em sua maioria foi indicada pelo PT, e não vejo o risco de termos um tribunal bolivariano". Esse receio, no entanto, tem sua razão de ser justamente pela conjuntura política da América Latina, onde diversos governos utilizaram-se dos mesmos métodos para controlar os poderes, que, numa democracia, devem ser independentes.

O hiperpresidencialismo que vigora em países latino-americanos tem em comum uma Corte Suprema submissa ao governo central e o controle dos meios de comunicação. Quando se vê a saudação do presidente venezuelano Maduro pela vitória de Dilma, prevendo o aprofundamento da revolução no continente, há motivos reais para preocupação.

Eliane Cantanhêde - "Minoritários e extravagantes"

- Folha de S. Paulo

Não é razoável e responsável pedir o impeachment de uma presidente recém-reeleita, muito menos brincar com fogo defendendo a volta da ditadura militar. Protestar e cobrar, sim. Flertar com golpismos, definitivamente, não.

Como bem disse uma nota da Rede Sustentabilidade, da Marina Silva, isso só pode ser coisa de "setores minoritários e extravagantes". Quem eles pensam que estão ajudando? Nem o país, nem a democracia, certamente não os partidos de oposição e muitíssimo menos Aécio Neves ou qualquer outro tucano.

Do outro lado, também não é saudável mentir, xingar jornalistas, querer controlar a mídia, desqualificar quem pensa diferente, vota diferente e exige eficiência na economia e lisura na gestão. Será que isso ajuda Dilma, o governo, o futuro do PT? Pode até ajudar numa eleição, numa vitória,mas deixa marcas às vezes indeléveis. O PT, tão machucado, já deveria estar cansado de saber disso.

Esses dois extremos não contribuem para o debate político e podem se tornar perigosos. Tanto quem vai para a rua chamando os militares quanto quem usa as redes sociais para terrorismo contra quem critica ou contra a oposição --que é legítima, democrática e necessária.

A diferença é que, tal como os "black blocs" asfixiaram as manifestações genuínas de junho de 2013, os "black blocs" pós-eleições podem acabar assustando a maior parte do eleitorado do PSDB, da Rede, do PSB e do PPS, por exemplo.

Já o terrorismo petista não assusta; arregimenta. É alimentado pelo grande líder Lula e alimenta uma militância que combateu valentemente a ditadura e a roubalheira e hoje defende o indefensável e guerreia pela perpetuação no poder.

Entre um extremo e outro, há a grande maioria da população que, tenha votado em Dilma ou em Aécio, certamente não compactua nem com golpismos nem com terrorismo. Quer paz, amor, crescimento, combate à corrupção e justiça social.

Luiz Carlos Azedo - Quanto pior, pior

• Dilma tem dificuldades para dialogar com o Congresso, mais ainda com a oposição, que poderia funcionar como uma espécie de contrapeso em certas ocasiões pautadas pelo fisiologismo governista

Correio Braziliense

A derrota do governo na Câmara dos Deputados na questão dos conselhos populares era mais do que esperada e, assim mesmo, o Palácio do Planalto nada fez para evitá-la. Parece mais empenhado em jogar para a arquibancada dos movimentos sociais e, assim, embalar a proposta de plebiscito para a reforma política. Nesta semana, o Senado também deve recusar a proposta, e não parece que o governo esteja empenhado em impedi-lo.

A estratégia de jogar o desgaste dos partidos e dos políticos perante a opinião pública exclusivamente nas costas do Congresso pode ser conveniente para a presidente Dilma Rousseff ganhar tempo. Existe a possibilidade de um strike no mundo político em decorrência das denúncias da Operação Lava-Jato, que apura os escândalos da Petrobras, no qual estariam envolvidos 80 parlamentares, ligados principalmente ao PT, ao PMDB e ao PP. Mais isso é uma espécie de quanto pior, melhor que não condiz com a condição de liderança principal do país.

Por falar nisso, quanto pior, pior mesmo. Na pauta da Câmara, estão propostas que comprometem ainda mais o equilíbrio fiscal do país: o fim da contribuição de inativos; a equiparação de salários de presidente da República, vice, ministros de Estado, senadores, deputados federais, ministros do Supremo Tribunal Federal; Orçamento Impositivo; aumento do Fundo de Participação dos Municípios, entre outros. No Senado, consta o projeto que muda o indexador da dívida de estados e municípios com a União.

Acontece que a presidente Dilma, durante a campanha, escondeu o maior rombo das contas públicas desde o Plano Real, revelado alguns dias após a eleição. Não pode brincar com isso, sob pena de provocar um colapso na economia.

À compulsória
Tem ainda na pauta do Congresso demandas quentes do Judiciário, como a que pleiteia aumentos de 22%, muito acima dos 5% propostos no Orçamento. Mas a proposta mais cabeluda é outra: a chamada PEC da Bengala, que amplia de 70 para 75 anos a data-limite de aposentadoria de ministros do STF. É como tirar um doce da mão de uma criança, pois a presidente Dilma deixaria de indicar mais cinco ministros, totalizando assim 10 ministros indicados pelos governos petistas.

O último dos moicanos será o ministro Gilmar Mendes, indicado no governo Fernando Henrique Cardoso, que ontem deu entrevista à Folha de S.Paulo. Ele adverte que o PT poderia subjugar a Corte com essas nomeações, transformando-a numa espécie de tribunal bolivariano. A tese parece até antipática aos seus pares, mas serve para legitimar a mudança de prazo para a compulsória dos ministros por um Congresso insatisfeito com o governo.

A oposição
Dilma tem dificuldades para dialogar com o Congresso, mais ainda com a oposição, que poderia funcionar como uma espécie de contrapeso em certas ocasiões pautadas pelo fisiologismo governista. Essa dificuldade é ampliada pelo fato de que é comum ouvir entre as lideranças do Congresso que a presidente da República não costuma cumprir os acordos feitos sob pressão. Nem da base, quem dirá da oposição.

Os acenos feitos pela presidente da República à oposição caíram num vazio, quando nada porque ela não fez nenhuma referência aos adversários, principalmente Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB). O senador Aloysio Nunes Ferreira, líder do PSDB e vice na chapa de Aécio, chegou a dizer que Dilma “não tem autoridade moral” para pedir diálogo, numa alusão aos duros ataques que fez durante a campanha contra Marina, no primeiro turno, e Aécio, no segundo.

O comportamento da oposição é ainda uma incógnita. O PSB não sabe ainda o que fará. Uma manifestação convocada pelo PSDB no sábado serviu de palco para grupos de extrema direita, que pediram o impeachment de Dilma. Quem está chocando esse ovo da serpente? A corrupção no governo, o discurso esquerdista e bolivariano do PT ou a retórica udenista da oposição? O quanto pior, melhor, seja lá de quem for, levará mais água para esse moinho.

Raymundo Costa - Entre o lulismo e o dilmismo

• Presidente ganhou duas eleições em uma em 2014

- Valor Econômico

O PT marcou reunião do Diretório Nacional para o fim de novembro, em Fortaleza (CE), a fim de fazer o balanço da jornada eleitoral de 2014. Há duas leituras da vitória apertada da presidente Dilma Rousseff, cada qual com um ponto de vista sobre o que deve ser o governo do PT, nos próximos quatro anos. Os dois lados partem de uma constatação básica: o PT vem perdendo base social e nunca correu tanto risco de perder desde que chegou ao Palácio do Planalto, em 2002, quanto nesta eleição.

Há os que acham que a vitória foi apertada por causa dos erros da presidente Dilma Rousseff no governo, de um lado, e os que consideram que o PT somente chegou à vitória pelas virtudes dela. No primeiro grupo estão todos aqueles que orbitam em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contam com ele para a manutenção do PT no governo para além da segunda década do século 21. O outro defende que este é o segundo mandato de Dilma à luz do que ela se converteu na campanha, e não apenas um governo transitório para a volta de Lula.

O "dilmismo" afirma que a presidente ganhou duas eleições disputando a política. Na primeira abateu Marina Silva (PSB); na segunda, Aécio Neves (PSDB). Os dois com o mesmo discurso que, levado à prática no segundo mandato, implica dobrar as apostas que Dilma fez no primeiro mandato. O reverso da moeda diz que Dilma esticou a corda nos fundamentos e agora precisa arrumar o governo com vistas a conter a inflação e ajustar as contas públicas.

De imediato seria preciso uma trégua com os mercados, com a indicação de um nome para conduzir a economia como o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles ou o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco - o executivo, aliás, recebeu uma sondagem da presidente, mas se mostrou pouco receptivo a trocar a iniciativa privada pelo governo, conforme revelou Ângela Bittencourt, do Valor PRO, o serviço de informações em tempo real do jornal Valor.

Essa é a "fórmula Lula", uma volta a 2003, quando o presidente eleito nomeou Antônio Palloci para o Ministério da Fazenda, Meirelles para a presidência do Banco Central e ilustrou o ministério com nomes representativos da sociedade, entre os quais Roberto Rodrigues (Agricultura), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça). A versão 2015 dessa fórmula teria um banqueiro na Fazenda, um representante do agronegócio (a senadora Kátia Abreu) na Agricultura e um empresário (Josué Gomes da Silva, do grupo Coteminas), na Indústria e Comércio. Por esse caminho, Dilma compõe com os aliados a fim conseguir maioria estável e tranquilidade no Congresso. Em perspectiva, o novo mandato da presidente Dilma nada mais seria que um governo de transição para a volta do líder máximo em quatro anos, o que exigiria um ajuste forte agora para se chegar a 2018 com um cenário econômico favorável eleitoralmente ao PT.

Existe no PT gente e disposição para sustentar as teses da presidente na disputa eleitoral. Especialmente entre os mais jovens se diz que o "dilmismo" deixou de ser uma marca gerencial da presidente e ganhou corpo como movimento político. Entre voltar a 2003 e avançar para 2015 a escolha parece óbvia. Escolher um banqueiro para a Fazenda não seria apenas um estelionato eleitoral, mas uma traição com aqueles que foram seduzidos pelo discurso eleitoral da presidente e tomaram as ruas das grandes cidades nos últimos dias de campanha, o que há muito tempo não via o PT.

Na Câmara e o no Senado Dilma será capaz de encontrar, num estalar de dedos, gente disposta a enfrentar o PMDB e o modelo de governabilidade ditado pelo partido aos presidentes, desde a redemocratização. Mais ainda se decidir enfrentar a candidatura do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a presidente da Câmara, na próxima legislatura. A regulação da mídia e o plebiscito também fazem parte do cardápio do "dilmismo", mas são propostas em baixa no PT tradicional, onde se entende que o partido ficou sem condições políticas de comandar a agenda devido à vitória apertada na eleição presidencial. Dilma agrada quando fala em criminalizar a homofobia.

A disputa no PT é visível nas especulações sobre a composição do novo ministério de Dilma. A presidente, por exemplo, quer por perto o governador da Bahia, Jaques Wagner, na Casa Civil ou outro ministério vinculado ao Palácio do Planalto. O PT de São Paulo, sobretudo, fala na indicação de Wagner para a Petrobras, onde o governo, de fato, pretende estabelecer um político capaz de pacificar e regularizar as atividades empresa. Mas para "dilmistas" a sugestão teria o único objetivo de afastar Wagner do núcleo decisório do futuro governo, a ser integrado também por Miguel Rosseto, Giles Azevedo, Aloizio Mercadante e Ricardo Berzoini. Dos cinco, Berzoini é o maior representante da antiga ordem.

O déficit nas contas dos governos começou em maio e atingiu o apogeu em setembro. Não é mera coincidência. Esse é o preço da reeleição. Nas duas esferas de poder. No governo federal, considerando a União e as estatais, o déficit chegou a R$ 25 bilhões em setembro, ante 14,4 em agosto. Em relação aos Estados o número dobrou, no mesmo período, para R$ 4 bilhões. Quando não havia reeleição, os governadores também esbanjavam para eleger o sucessor. Tanto um caso como o outro devem ser examinados detidamente quando e se for discutida o fim da reeleição.

Pode ser preguiça eleitoral ou a habitual falta de jeito dos tucanos para a oposição, mas a primeira palavra do PSDB contrária às manifestações golpistas e favoráveis à volta dos militares foi do governador Geraldo Alckmin, que tem fama de direita católica. O presidente do partido e candidato derrotado na eleição, Aécio Neves, até ontem não havia se pronunciado, assim como José Serra e Tasso Jeireissati, outros dois expoentes do PSDB.

Míriam Leitão - O ano duplo

- O Globo

O ano de 2014 não acabou e o de 2015 já começou para a presidente Dilma. Em menos de dois meses ela terá que consertar estragos econômicos e políticos dos últimos meses, enquanto monta o seu ministério gigante. Terá que aprovar a nova meta fiscal, porque a deste ano não será cumprida, enquanto negocia a aprovação do Orçamento do ano que vem.

Tudo isso em fim de legislatura, com alguns políticos da base rebelados porque perderam mandatos, e outros fingindo desagrado para ganhar recompensas. Os parlamentares têm todos os motivos para dificultar a vida do governo. A pauta lotada do ano irregular — em que o Congresso mal compareceu e no qual a presidente também não foi assídua no seu local de trabalho — se juntará às novas urgências do governo. Há uma ansiedade, que se reflete no sobe e desce dos ativos financeiros, pela escolha do novo ministro da Fazenda, como se a vida fosse assim e um nome virasse varinha de condão.

A conjuntura econômica apresenta uma sequência grande de problemas acumulados que ter á que ser resolvida ao longo do tempo. Uma escolha acertada aumentar á as chances de vencer as adversidades, até porque uma parte delas é resultado da profunda crise de confiança na atual equipe. Mas o governo vai optar por mudar algo para ficar tudo na mesma. A maior urgência é aprovar no Congresso a nova meta fiscal, já que o déficit primário de setembro, anunciado sexta-feira, foi a pá de cal na meta registrada no Orçamento de economizar 1,9% do PIB. Mesmo com descontos e receitas extraordinárias, ela não ser á atingida e por isso o governo precisa corrigir seu objetivo. O novo número final das contas públicas deverá ser bem calibrado porque ter á que ser cumprido.

Do contrário, sobre os gestores recairá o peso da Lei de Responsabilidade Fiscal. O Orçamento de 2015 pode perder o prazo e ser aprovado só no ano que vem, mas sobre essa nova meta é o contrário: tem que ser aprovada este ano. Dilma vai, ao mesmo tempo, administrar todas as pressões da sua base, acomodar os múltiplos in ter esses no ministério, negociar aprovação de medidas importantes, barrar iniciativas que elevem gastos, tomar decisões que foram adiadas por causa das eleições, torcer para que a chuva eleve o nível dos reservatórios e tentar recuperar a credibilidade no comando da economia.

Bom, e isso não é tudo. Parte das aflições do ano que vem já chegou e parte do que foi jogado para debaixo do tapete reapareceu neste fim de ano. A primeira semana pós-eleição foi bombardeada pelo aumento da taxa de juros e o anúncio do mega déficit público. As expectativas de crescimento continuam encolhendo e ontem o Focus apontou para alta de apenas 0,24% do PIB em 2014, enquanto a inflação continua muito alta. O Judiciário quer aumento dos salários de ministros dos tribunais superiores, o que produz um efeito cascata de aumento de gastos, e o governo está precisando cortá-los.

Como em todo o final de ano, o governo está sob pressão para atender às emendas dos parlamentares. Só que agora o pedido pela liberação e a tradicional ameaça de aprovação do orçamento impositivo acontecem quando o governo precisa muito que o Congresso aprove medidas como a nova meta fiscal de 2014. No ano que já começou, o de 2015, a presidente terá que enfrentar o desafio de aumentar o ritmo de crescimento econômico, reduzir a inflação, e melhorar as contas públicas.

Tudo isso com um Congresso mais fragmentado. O que reduz a margem de manobra da presidente no enfrentamento dessas questões são as afirmações que fez durante a campanha: a inflação estava controlada, a crise de energia não existia, o país só não crescia por problemas externos e, por último e não menos importante, não seria necessário fazer ajuste fiscal. Como a presidente sempre foi a verdadeira condutora da política econômica dificilmente haverá uma mudança de orientação.
Ela deve manter o modelo atual seja quem for o ministro. Dilma acredita que igual re médio administrado novamente no mesmo organismo terá efeito diferente. O que é altamente improvável. 

Ainda assim, um nome de for a com alguma credibilidade vai reduzir, ao menos temporariamente, a pressão sobre os ativos financeiros. Já será uma ajuda.