domingo, 28 de setembro de 2014

Opinião do dia: Barack Obama

Devemos rejeitar o cinismo e a indiferença quando se trata de questões humanas. A única linguagem compreendida por assassinos como esses é a da força.

Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, em discurso na Assembleia Geral da ONU, logo após o discurso de Dilma propondo o diálogo com o grupo terrorista.

Indecisos e infiéis são alvos na reta final

Eleitorado a conquistar

• Na última semana antes do primeiro turno, 28 milhões ainda não escolheram ou podem mudar de opinião

Cleide Carvalho e Marco Grillo – O Globo

SÃO PAULO e RIO — Estrategistas de campanhas e especialistas em análises de cenários eleitorais trabalham com um número decisivo nesta reta final de campanha: 28 milhões de votos. Segundo analistas ouvidos pelo GLOBO, este número representa o índice histórico de eleitores que iniciam a última semana de campanha antes da eleição sem ter definido em quem votar para presidente. Eles constituem cerca de 20% dos 142.822.046 brasileiros aptos a ir às urnas no próximo domingo, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A última rodada de pesquisas, na semana passada, estimou que entre 7 milhões (Ibope) e 8,5 milhões (Datafolha) de eleitores não respondem ou dizem não saber em quem vão votar para presidente. Só em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, são 3 milhões de indecisos, segundo o Ibope, ou 10% do eleitorado no estado.

Além do perfil clássico de indecisos, há ainda um grupo de eleitores chamados pelos analistas de infiéis — são aqueles que apontam um candidato de preferência, mas não declaram ter certeza absoluta da escolha e dizem que ainda podem mudar de ideia. A análise da pesquisa Ibope divulgada semana passada mostra que só essa fatia alcançava 51 milhões de eleitores. Ou seja, a dez dias da eleição, nada menos do que 58,2 milhões de pessoas, 40% do eleitorado que podem ser classificados como infiéis ou indecisos, não tinham uma decisão firme de voto. Se os padrões dos analistas políticos se repetirem, esse contingente cairá para cerca de 28 milhões esta semana. Mesmo assim, uma estatística considerável para mexer com o resultado final.

Os votos voláteis se espalham por todas as candidaturas. De acordo com o Ibope, 43% dos que declaravam voto em Marina Silva (PSB) admitiam que ainda poderiam trocar de candidato. Entre os eleitores de Aécio Neves (PSDB), 39% disseram ainda não estarem totalmente certos da opção. Já entre os que escolheram a presidente Dilma Rousseff (PT), o índice de incerteza é de 31%. Segundo analistas, a vantagem da candidata à reeleição tem explicação. Como é presidente e portanto, tem um alto grau de exposição, as críticas feitas pelos rivais durante a campanha são igualmente mais conhecidas e, assim, têm impacto menor do que as que recaem sobre os adversários.

Com a diminuição da distância entre Marina e Aécio na disputa pela vaga no segundo turno mostrada nas pesquisas recentes, aumenta a relevância dessa parcela do eleitorado na última semana antes do primeiro turno. A vantagem de Marina sobre o tucano, que girava em torno de 25 milhões no início do mês, é, hoje, de 14 milhões de votos, segundo o Ibope, e de 12,8 milhões, de acordo com o Datafolha.

A análise mais detalhada dos dados do Ibope só sobre o grupo de indecisos mostra que são mais numerosos entre os eleitores com escolaridade mais baixa (7% na parcela que completou a 4ª série do Ensino Fundamental) e com renda familiar mensal de até um salário mínimo (8%).

Nordestinos mais indecisos
Por região, o índice é mais elevado no Nordeste, onde 7% do eleitorado ainda não decidiram em quem votar. Entre os estados, São Paulo, onde 10% estão indecisos, tem um número elevado de votos que ainda podem ser conquistados: 3 milhões. Entre os que avaliaram o governo Dilma como “regular”, 8% estão indecisos, acima da média geral de 5%. A margem de erro da pesquisa Ibope é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

A sondagem divulgada pelo Datafolha na sexta-feira indica Dilma com 45% dos votos válidos (excluindo brancos e nulos), o que torna indecisos e infiéis também decisivos para a campanha petista, mesmo na liderança, em busca de uma definição no primeiro turno.

— Cerca de 20% do eleitorado devem decidir na última semana. Quando temos uma situação como a desta eleição, que pode ter fim mais apertado, uma pequena margem de votos faz muita diferença na reta final — analisa o professor Valeriano Ferreira Costa, do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, que vê como ponto mais sensível a disputa pela segunda vaga no segundo turno.

O filósofo e cientista político José Augusto Guilhon Albuquerque, do Centro de Estudos Avançados da Unicamp, acredita que os 20% de eleitores que vão decidir o voto nesta semana podem provocar mudanças surpreendentes no resultado das eleições.

— Desde o início desta campanha, nunca esteve muito claro o resultado. A incerteza tem sido bem maior. O voto por oposição tem um peso muito grande. É um voto útil e, numa situação de incerteza, é difícil definir quem tem chance de ir ao segundo turno. As curvas de Aécio e Marina podem acelerar nesta reta final.

A diretora-executiva do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, diz que, ao contrário do senso comum, que atribui o voto do indeciso ao líder nas pesquisas, a observação mostra que o comportamento do eleitor é outro.

— Esse contingente de eleitores indecisos não se distribui igualmente entre todos os candidatos. Geralmente, quem está indeciso vota no segundo ou no terceiro colocado, ajudando a levar a decisão para o segundo turno — destaca.

Já o cientista político Paulo Baía, professor da UFRJ, afirma que os indecisos constituem um eleitorado “absolutamente descrente dos políticos”. Segundo ele, é um eleitor que não se sente representado e que vai às urnas movido pela rejeição.

— É um eleitorado refratário à política. Quando vota, é contra alguém, não a favor. Acho difícil que as campanhas se beneficiem de uma corrida em direção a esse eleitor, a não ser que estimulem um voto útil contra determinado rival. Mas acredito que as campanhas, nesta última semana, vão trabalhar para tentar diminuir os índices de rejeição dos candidatos — opina.

Aécio Neves corre para ter eleitor de oposição

• Campanha do senador foca em São Paulo e Minas Gerais para tentar reverter a tendência do voto útil em Marina

Débora Bergamasco, Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Na última semana do primeiro turno, o candidato à Presidência do PSDB, senador Aécio Neves, vai priorizar viagens para São Paulo e Minas Gerais, o primeiro e o segundo maiores colégios eleitorais do Brasil, respectivamente. Os dois Estados têm tradição de votar no PSDB e exibem altas taxas de rejeição à presidente, mas o desempenho do tucano está aquém do esperado.

A avaliação da campanha é de que ainda é possível mudar a situação dele ao menos nesses Estados. Nas propagandas na TV e nas redes sociais, os tucanos tentarão reverter a tendência dos eleitores antipetistas de optar pelo voto útil em Marina para vencer Dilma. A ideia é bater na tecla de que o PSDB tem mais estrutura política e palanques mais sólidos do que a rival.

Para criar o clima de “onda da virada”, a campanha apresentará o crescimento nas pesquisas de opinião como um “viés de alta”. Segundo aliados de Aécio, foi baixada uma “ordem unida” para que ninguém especule como seria um 2.º turno sem a presença do tucano.

No campo do discurso, a palavra de ordem será “o chamamento para a razão”, de acordo com Paulo Vasconcelos, marqueteiro da candidatura do tucano. “Todas as campanhas têm de reconhecer que o clima não é festivo para ninguém. Nesse cenário particular, a estratégia de Aécio será de chamamento para a reflexão, para a razão.”

A lógica do marqueteiro se baseia no desempenho dos três principais presidenciáveis nas pesquisas de intenção de voto. No início da corrida eleitoral, Dilma Rousseff (PT) partiu da faixa dos 40 pontos, depois caiu para cerca de 32 e voltou para os 40, mesmo patamar da pré-campanha. Aécio fez mais ou menos a mesma curva, ao orbitar nos 19 pontos, depois 15, e recuperar a posição inicial. Marina Silva (PSB) disparou ao entrar na disputa e agora segue recuando.

“Hoje a nossa estratégia é de 1.º turno. Onde podemos buscar votos? No contingente oposicionista”, afirma o coordenador da campanha em São Paulo, Alberto Goldman. “Vamos mostrar que, se a Marina for para o 2.º turno, ela é a candidata mais fraca para enfrentar a Dilma.”

Outra iniciativa será reforçar o contato com os deputados tucanos nos Estados, sobretudo em São Paulo, para evitar que eles se desmobilizem. Numa avaliação otimista, a campanha acredita que um bom desempenho do mineiro nos debates da TV Record, hoje, e da TV Globo, na quinta-feira, pode ajudá-lo a chegar no dia da votação dentro da margem de empate técnico com Marina.

Marina Silva quer mostrar que mobiliza

• Candidata quer mostrar que tem apoio em todas as camadas da população; artistas, empresários e intelectuais devem comparecer ao ato na terça-feira

João Domingos, Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ato mais importante da reta final da campanha de Marina Silva (PSB) vai ser realizado na terça-feira. A candidata à Presidência vai reunir diferentes representantes da sociedade em São Paulo para gravar as cenas que serão exibidas no último programa da propaganda eleitoral na TV. A ideia é mostrar ao Brasil que ela tem apoio em todas as camadas da população. Além de políticos, deverão comparecer artistas, empresários e intelectuais.

A viúva de Eduardo Campos e os cinco filhos do casal também devem vir a São Paulo participar da cerimônia de apoio a Marina, que assumiu a cabeça de chapa após a morte do ex-governador em um acidente aéreo.

“Queremos, na última peça de campanha, mostrar todas as pessoas que não apareceram no programa, por uma série de motivos, principalmente a falta de tempo na TV”, disse Walter Feldman, coordenador da campanha. Na avaliação dos dirigentes do PSB, é essencial demonstrar que há uma forte mobilização popular em torno da candidatura de Marina para que ela não caia mais nas pesquisas e garanta um lugar no 2.º turno.

Nesta última semana, a candidata vai concentrar as agendas no Sudeste, passando pelos grandes centros urbanos de São Paulo, Rio e Minas. Também está previsto um ato em Pernambuco, terra natal de Campos, onde ela tem apresentado um bom desempenho eleitoral.

A candidata também vai dedicar o seu tempo para se preparar para o debate da TV Globo, programado para quinta-feira – três dias antes do 1.º turno.

Na avaliação dos coordenadores da campanha, Marina costuma ter um bom desempenho nesses encontros. A estratégia vai ser tentar um confronto direto com a petista Dilma Rousseff, ignorando o tucano Aécio Neves, que, por ora, está em terceiro lugar nas pesquisas.

Nos cálculos da campanha, como é provável que a audiência da Globo seja maior do que a do horário eleitoral, Marina terá a chance de conquistar mais eleitores nesse último embate televisionado.

No horário eleitoral, a campanha também pretende nessa reta final reforçar o número 40 do PSB. A avaliação é que o eleitorado ainda associa Marina ao PT e PV, seus antigos partidos.

A candidata também deverá sair da defensiva. Segundo Feldman, ela só responderá aos ataques que considerar “indignos, injustos e mentirosos”. Por outro lado, aumentará as críticas à presidente Dilma e à polarização entre PT e PSDB.

Marina tentará formar amplo arco de alianças no segundo turno

• PSB já começa a ensaiar aproximação com Alckmin, Ana Amélia e outros interessados em derrotar o PT

Júnia Gama e Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA — Mesmo com a queda nas últimas pesquisas de intenção de voto, a campanha de Marina Silva (PSB) continua de olho no segundo turno da disputa presidencial e aposta na conquista dos opositores da presidente Dilma Rousseff, em especial em São Paulo, para chegar ao Palácio do Planalto. Pessoas próximas à candidata já começam a fazer gestões para atrair políticos que podem ajudar a derrotar o PT, principalmente tucanos como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que deverá se reeleger no primeiro turno no maior estado do país.

Desde a semana passada, a própria Marina amenizou as críticas a Alckmin e o distanciamento que vinha mantendo do tucano. Retirou o veto que impunha ao uso de imagens dos dois juntos. Enquanto alguns acreditam que Alckmin cruzará os braços e não ajudará Marina, integrantes do PSB apostam no contrário. O certo é que haverá pressão de socialistas para que Marina saia atrás do voto tucano no segundo turno.

— Ele (Alckmin) poderia fazer isso (cruzar os braços). Mas é um político pragmático. Sem Aécio no segundo turno, ele é, naturalmente, o nome mais forte do PSDB para 2018. Terá um vice-governador do PSB e tentará influenciar dentro do partido por um apoio, já que, se Marina for eleita, tem o compromisso de não disputar outro mandato — disse um dirigente do PSB.

Na avaliação do PSB, conta a favor de Alckmin o fato de que Marina não concorrerá à reeleição, se chegar à Presidência. Assim, deixará o caminho livre para um sucessor em 2018.

— Alckmin vai apoiar Marina porque o PSDB sabe que sua eleição será uma oportunidade de romper com a perpetuação de um partido no poder. Ele está fazendo as contas para 2018 — disse o deputado Júlio Delgado, que integra a direção nacional do PSB.

O candidato a vice-presidente de Marina, Beto Albuquerque, terá um papel importante na formação dessas alianças. Em São Paulo, deve se aproximar de Alckmin para garantir apoio do governador de São Paulo em um eventual segundo turno. Deverá fazer o mesmo no Rio Grande do Sul, onde a senadora Ana Amélia (PP), rejeitada por Marina no início da montagem dos palanques estaduais, pode sair vencedora, como apontam as pesquisas de intenção de voto.

— O segundo turno é o período da disputa eleitoral propriamente dita. Nosso limite de entendimento para alianças no segundo turno é nosso programa de governo. Mas claro que não tem porta fechada para Geraldo Alckmin — disse Beto Albuquerque.

Objetivo comum
A avaliação do comando do PSB é que a polarização que ocorrerá no segundo turno, em que o objetivo comum dos opositores será o de derrotar Dilma, poderá ajudar na superação das desavenças externadas por Marina. Nesse raciocínio, integrantes da campanha de Marina sonham em também conseguir o apoio de Aécio Neves para o segundo turno. Avaliam que o tucano, como presidente nacional do PSDB, deverá conversar em busca de ideias convergentes.

— O PSDB, fora do segundo turno, fará uma campanha de rejeição à continuidade de Dilma e do PT. Além disso, há pontos programáticos que nos aproximam, como o controle da inflação e a política econômica. Se chegarmos a acordo sobre alguns pontos, não haverá dificuldade de entendimento — disse um integrante da cúpula do PSB.

‘Mágoa a gente supera’
Integrantes da campanha de Marina dizem que, em um segundo turno contra Dilma, a candidata do PSB deverá subir ainda mais o tom dos ataques contra a presidente, estratégia que pode servir de motivo para a aproximação dos demais partidos. O coordenador da campanha de Marina, Walter Feldman, também aposta em aliança com Aécio Neves.

— O político não pode nunca fechar portas, tem que ter sempre em vista um mandato com unidade para fazer essa transição. A mágoa é um sentimento que a gente supera. A Marina sempre diz que prefere sofrer injustiça do que praticar. As coisas com o Aécio vão se reparar — disse Feldman.

Enquanto Marina irá concentrar sua agenda no segundo turno em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, caberá a Beto Albuquerque mergulhar no Rio Grande do Sul, estado em que Dilma é forte, para conquistar o voto de seus conterrâneos. O discurso de Beto irá focar no bairrismo gaúcho, insistindo que Dilma é mais mineira que gaúcha, e destacando todas as promessas não cumpridas que a presidente teria feito para a região.

— Só tem uma chapa com um gaúcho de verdade, que é a de Marina. Como a chapa de Juscelino Kubitschek com João Goulart de vice, que formou um governo de um líder com visão estratégica com um gaúcho, e fez o Brasil avançar. Mas isso é só mais um item do contexto. Dilma deixou muitas promessas não cumpridas no Sul, como a renegociação da dívida, que leva R$ 2,7 bilhões por ano só de serviço dos cofres gaúchos; não implementou os free shops, continua impedindo investimentos na faixa de fronteira, e nem tem ainda o projeto da Ponte do Guaíba — disse Beto.

A campanha pretende também usar o apoio de aliados em Pernambuco para reforçar a votação. Está previsto para amanhã um comício de Marina Silva em Recife ao lado da família de Eduardo Campos e do candidato ao governo, Paulo Câmara. A ideia é usar as imagens no programa de TV para aproveitar a popularidade dos familiares do ex-governador depois de sua morte em acidente aéreo.

No segundo turno, Marina deverá repetir a visita ao estado de seu antecessor.

— Pernambuco é o estado do Nordeste onde podemos ampliar a diferença para compensar a desvantagem em outros estados da região. Se Paulo Câmara ganhar no primeiro turno, a campanha se mobiliza ainda mais no estado, porque teremos feito barba, cabelo e bigode — disse Beto.

Na corrida para o 2º turno, aposta de Aécio são os palanques estaduais

• Tucano também diz acreditar na conquista de eleitores antipetistas

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA — Na condição de azarão na atípica disputa de primeiro turno que se encerra daqui a sete dias, o presidenciável do PSDB, Aécio Neves, trava uma luta contra o tempo na tentativa de bater a candidata do PSB, Marina Silva, que vem perdendo votos, e chegar ao 2º turno. Vencendo essa etapa, acredita, teria mais condições de derrotar a presidente Dilma Rousseff, por não ter a rejeição de Marina e contar com palanques fortes em estados onde tucanos devem vencer já no 1º turno. A recuperação é lenta, mas Aécio não desanima:

— Vou com gás. Temos time. Se eu subir 4 pontos, incendeia o país, e eu viro presidente.

Sobre o segundo turno, Aécio disse ser lenda que Dilma e o PT preferem tê-lo como adversário no segundo turno:

— Tenho dúvidas se o PT quer mesmo me enfrentar no 2º turno. O melhor termômetro são as ligações dos aliados. O Marconi (Perillo), o Beto Richa e a Ana Amélia falando da nossa reação em seus estados.

Aécio e seus aliados dizem que, se chegarem lá, vão procurar ampliar o diálogo com todas as forças de oposição, e preveem que, majoritariamente, os 70% de eleitores que querem mudança se agregariam a Aécio.

— Não cogito a hipótese de não irmos para o segundo turno. E, em segundo turno, ninguém é de ninguém — diz o candidato a vice na chapa de Aécio, senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), explicando que nesta etapa da disputa o voto não segue orientação de lideranças.

Na avaliação dos tucanos, num eventual 2º turno, Aécio não contaria com o voto da esquerda do PSB de Marina, que deve ir para Dilma, mas, sim, com o apoio da maior fatia de seu eleitorado, que não segue nenhuma liderança, que é o voto do protesto antipetista. Os aecistas também acham que deverão ter apoio de fatia grande de partidos da base descontentes com Dilma.

Mesmo com a antipatia manifestada por Marina pelo PSDB, que ela rotula de “velha política”, os articuladores da campanha de Aécio acham que, como candidata de oposição ao PT, ela não teria como ficar neutra, caso fique fora do segundo turno. O coordenador geral da campanha, senador José Agripino (DEM-RN), diz que, passada a apuração, esperam o apoio de Marina, do seu vice Beto Albuquerque (PSB-RS) e de todos que tiveram candidatura de oposição.

— Independentemente de Marina manifestar apoio ou não, seu eleitorado é majoritariamente de oposição ao PT. Quem for ao 2º turno será o símbolo do antipetismo. Nosso grande cabo eleitoral será o sentimento antimensalão, anticorrupção na Petrobras, anti aparelhamento das instituições, antieconomia em debacle — avalia Agripino.

Um dos trunfos do tucano são os palanques fortes nos estados. O governador de Goiás, Marconi Perillo, já adiantou, que se eleito no 1º turno, vai se licenciar para viajar o país e ajudar Aécio sobretudo no Centro-Oeste. O maior cabo eleitoral, entretanto, será o governador de SP, Geraldo Alckmin, que caminha para uma reeleição tranquila no 1º turno no maior colégio eleitoral do país.

Os pensadores que fazem a cabeça de Marina Silva

• Candidata lança mão de filósofos, psicanalistas, escritores e dramaturgos para justificar escolhas políticas e pessoais

Mariana Sanches – O Globo

SÃO PAULO — Hannah Arendt, Freud, Lacan, Edgar Morin, Zygmund Bauman, Shakespeare. Todos eles sobem ao palanque junto com Marina Silva. Cotidianamente, a candidata do PSB lança mão de conceitos de grandes pensadores para justificar suas escolhas políticas e trajetória pessoal.

Para explicar como Eduardo Campos passou de ilustre desconhecido das massas a uma morte chorada nacionalmente em poucas horas, por exemplo, Marina aplica o conceito de “sentido” do psicanalista francês Jacques Lacan. Para Lacan, o significante surge muito antes do sentido. E o sentido surge antes da compreensão:

— As pessoas só foram conhecer as ideias de Eduardo depois que ele estava morto — diz Marina, concluindo a analogia entre a realidade e a psicanálise.

Ela define sua candidatura à Presidência a partir de uma citação do escritor francês Victor Hugo: “Nada mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou”. E explica os termos de sua oposição a Dilma e Aécio apoiando-se em Shakespeare:

— Shakespeare disse que o contrário de injustiça não é justiça, é amor. Porque toda justiça que não se faz por amor é vingança. Ser oposição, ter uma candidatura concorrente, não é combate, é debate.

De Hannah Arendt, a autora do conceito de “banalização do mal” em análise do comportamento dos alemães no regime nazista, Marina toma de empréstimo a noção da vida feita em ciclos para justificar suas decisões de sair do PT e de tomar um remédio experimental, que poderia matá-la, para tratar sua contaminação por metais pesados. Em um artigo sobre a filósofa alemã de origem judia, Marina escreveu ano passado:

“Hannah nos sussurra a coragem de seguir a nossa consciência sem nos deixar ensurdecer pelos que profetizam a ausência de futuro e nos querem fazer acreditar que a história termina neles. ‘A Condição Humana’, expressa sua esperança, nosso legado: ‘Os homens, ainda que devam morrer, não nasceram para morrer, mas para recomeçar.’

— A Marina adquire palavras, ela gosta de construções sintáticas, das frases — explica Jane Vilas-Boas, assessora da candidata há 16 anos.

Marina é descrita por aliados como workaholic. Não desgruda dos livros nos voos (até porque a distraem do medo de voar). Para ler na cama sem prejudicar a coluna, mandou fazer uma almofada especial. É comum que passe a noite acordada.

— Aconteceu várias vezes de eu chegar para buscá-la às 7 da manhã e ela perguntar: ‘Já amanheceu?’ — diz Jane.

Depois que aprendeu a ler, aos 16 anos, Marina não parou mais. Chegou a burlar as ordens da madre superiora do convento onde passou pouco mais de um ano da juventude para ficar acordada até tarde com seus livros.

O teatro lhe trouxe o primeiro substrato teórico de esquerda, com o Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, Morte e Vida Severina, do João Cabral de Melo Neto, além de várias obras do dramaturgo alemão marxista Bertold Brecht.

Aos 22 anos, quando entrou no curso de História, na Universidade Federal do Acre, teve que se esforçar para superar a defasagem de sua Educação, feita no Mobral e no supletivo. Em conversa recente com empreendedores, Marina contou que ficava até altas horas da noite tentando entender o conflito epistemológico entre Marx e Hegel, com um filho no colo, e na companhia do amigo Binho Marques. Segundo Binho, ex-governador do Acre, Marx ganhou o conflito na cabeça dos dois e serviu para justificar o engajamento político de ambos.

Sua militância marxista, no entanto, seria continuamente suavizada até que ela rejeitasse a bipolarização social entre proletários e proprietários, excluídos e incluídos, no fim da década de 1990. Para tanto, ideias do francês Edgar Morin, com quem ela cultiva relação pessoal, foram fundamentais.

Morin cunhou as noções de “Pensamento Complexo” e de “Diálogo dos Saberes” para explicar que é preciso reagrupar os conhecimentos e as pessoas para entender o universo. O pensador procura se distanciar da divisão do mundo em classes ou em noções maniqueístas, recusa oposições clássicas.

São essas ideias que permitem a Marina dizer que Chico Mendes, sindicalista e seringueiro de origem humilde, também é elite e congregar, em um mesmo programa de governo, ideias de economistas de polos ideológicos opostos, como Eduardo Gianetti e José Eli da Veiga.

Depois de sua conversão, além da Bíblia, Marina passou a ler o best-seller americano Philip Yancey. Com 14 milhões de cópias vendidas e obras traduzidas para 25 idiomas, Yancey é um hit entre os evangélicos com seus livros “Decepcionado com Deus” e “Maravilhosa Graça”, já incluídos entre os cerca de cinco mil livros que compõem a biblioteca de Marina, em Brasília.

Quando não lê, Marina escreve. Em 2007, em uma visita a um museu na Noruega, se impressionou com o clássico de Edvard Munch, “O Grito”. Gastou aquela madrugada escrevendo um poema sobre ele.

Costa diz ter recebido pedido de R$ 2 milhões do PT em 2010, informa revista

• Ex-diretor da Petrobras teria revelado suposta conversa com Palocci; em Brasília, Dilma define reportagem como ‘factoide’

- O Globo

BRASÍLIA - A campanha da então candidata Dilma Rousseff (PT) à Presidência teria pedido, em 2010, dinheiro ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, informou a revista "Veja" neste sábado. O pedido - de pelo menos R$ 2 milhões - teria sido feito pelo então coordenador da campanha de Dilma, Antonio Palocci, e viria do esquema de corrupção liderado por Paulo Roberto na estatal. Segundo a publicação, a informação está em um dos depoimentos do processo de delação premiada ao qual aderiu o ex-diretor, que se encontra preso em Curitiba. Costa não soube informar, no entanto, se o dinheiro acabou efetivamente financiando a campanha de Dilma na forma de caixa dois.

Ainda de acordo com a revista, a conversa entre Costa e Palocci ocorreu antes do primeiro turno da eleição. O dinheiro, segundo o ex-diretor da petroleira, viria da "cota do PP" na Petrobras. A cota a que ele se refere eram as propinas pagas aos políticos pelas empreiteiras com negócios com a estatal, que chegavam até 3% do valor dos contratos que elas obtinham. O PP, que apoiou informalmente Dilma em 2010, foi o partido que indicou Costa para o cargo e, por isso, receberia também sua parte no esquema. Palocci, por sua vez, informa a revista, tinha bom trânsito na Petrobras por já ter integrado o Conselho de Administração da empresa.

As propinas do PP na Petrobras seriam administradas pelo doleiro Alberto Youssef, também preso em Curitiba. Costa e o doleiro foram detidos em março durante a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Segundo a "Veja", o ex-diretor da Petrobras contou no depoimento que acionou Youssef para viabilizar a contribuição à campanha de Dilma, mas não deu certeza de que isso ocorreu. Disse apenas que "aparentemente" a doação foi feita, uma vez que Palocci não voltou a procurá-lo. Youssef aderiu recentemente ao mesmo processo de delação premiada. Ele deve iniciar seus depoimentos nos próximos dias e há a expectativa de que ele revele mais informações sobre esse e outros casos da investigação.

A revista informa também que o depoimento de Costa foi enviado ao gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A assessoria de Dilma disse à “Veja” que o tesoureiro da campanha em 2010 era o deputado federal licenciado José de Filippi (PT-SP). Afirmou ainda que todas as doações recebidas estão na prestação de contas entregue e aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Para Dilma, informação é ‘factoide’
Na manhã deste sábado, a presidente Dilma Rousseff classificou como "factoide" a reportagem.

— Isso é um factoide da revista “Veja”, factoide que costuma colocar em suas páginas na véspera da eleição. Minha campanha tinha um tesoureiro, José de Fillippi. Foi ele quem apresentou minhas contas para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O resto é factoide pré-eleitoral da revista “Veja” — afirmou a presidente.

À "Veja", Palocci admitiu conhecer Paulo Roberto Costa, mas negou ter feito qualquer pedido a ele. Disse também que não tinha responsabilidade sobre a área financeira da campanha e que sequer se encontrou com Paulo Roberto em 2010.

Nestes sábado, Dilma visitou trecho do BRT (veículo leve sobre pneus) em Brasília, onde gravou imagens para o horário eleitoral gratuito de TV. A presidente concedeu entrevista aos jornalistas no local.

Aécio: informações de corrupção na campanha de Dilma em 2010 são 'assustadoras'

• O candidato, que corre contra o tempo para angariar votos e chegar ao segundo turno, ainda classificou como "indecoroso" o modo de o PT administrar a corrupção

Bruna Fasano – Veja

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, classificou de "assustadora" a informação de que a campanha que elegeu Dilma Rousseff em 2010 pediu dinheiro ao esquema do 'petrolão'. "É assustador o que vem acontecendo no Brasil. A cada semana, a cada dia, uma nova denúncia de corrupção. É extremamente grave", afirmou o candidato na manhã deste sábado. Reportagem publicada na edição desta semana de VEJA informa que Paulo Roberto Costa, no processo de delação premiada, disse às autoridades que, no fim do governo Lula, o ex-ministro Antonio Palocci o procurou para pedir 2 milhões de reais para a disputa de então à Presidência da República.

"É urgente que essas investigações sejam aprofundadas", disse Aécio, que prometeu, caso eleito, "tirar a Petrobras das garras desse grupo político que se apoderou da nossa maior empresa pública para fazer negócios".

O candidato, que corre contra o tempo para angariar votos e chegar ao segundo turno, ainda classificou como "indecoroso" o modo de o PT 'administrar a corrupção'. "Vamos estabelecer um combate sem tréguas à corrupção. No meu governo, independente de partidos políticos, se alguém for pego tendo cometido qualquer irregularidade não será tratado como herói nacional, como gosta de fazer o PT, será tratado com o rigor da lei", afirmou Aécio.

Durante entrevista na associação de jornais do interior de São Paulo, em Osasco, região metropolitana da capital paulista, o tucano afirmou que pretende "reestatizar e profissionalizar" a administração da Petrobras e tirá-la das "mãos de aliados políticos que usam os recursos do povo brasileiro para sustentar a base de apoio do governo".

Questionado sobre a importância da família para a sua formação, Aécio lembrou a influência do avô, o ex-presidente Tancredo Neves. E afirmou que na noite deste sábado irá "dormir em seu berço", a cidade mineira de São João Del Rei, para "buscar energias" e enfrentar a reta final da campanha. "Tudo que nós aprendemos nas nossas casas, com nossos pais e avós, como não roubar e não mentir, ter decência, respeitar os mais velhos e os próximos, tudo isso o PT está jogando pela janela pela sua sanha e obsessão pelo poder e pelo dinheiro", afirmou.

Acompanhado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que tenta a reeleição, e pelo ex-jogador de futebol Ronaldo Fenômeno, Aécio reforçou que está confiante de que chegará ao segundo turno da disputa presidencial. Ronaldo fez coro com o presidenciável: "Vamos chegar lá e mostrar que de virada é mais gostoso. E a gente vai virar esse jogo".

Na última pesquisa de intenção de voto, divulgada pelo instituto Datafolha nesta sexta-feira, o tucano aparece com 18% das intenções, em terceiro lugar. A presidente Dilma abriu treze pontos de vantagem sobre a adversária do PSB, Marina Silva. Dilma tem 40% dos votos válidos e Marina, 27%.

Dilma sai pela tangente ao comentar informação sobre campanha de 2010
• Reportagem de VEJA informa que o ex-diretor da Petrobras disse em seu depoimento às autoridades ter sido procurado por Antonio Palocci em 2010 para abastecer caixa da campanha

A presidente Dilma Rousseff deu uma resposta evasiva neste sábado ao comentar a revelação de que o esquema de desvios na Petrobras pode ter abastecido o caixa de sua campanha em 2010. Como VEJA mostrou, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa revelou à Polícia Federal que Antonio Palocci, o todo-poderoso da campanha presidencial de quatro anos atrás, pediu uma "doação" de pelo menos 2 milhões de reais à campanha da petista. Os recursos viriam do petrolão, o esquema de corrupção da estatal, operado por Costa e integrado também pelo doleiro Alberto Yousseff.

Dilma disse que a reportagem é um “factoide”, mas não apresentou qualquer explicação convincente. Ela afirmou que o tesoureiro de sua campanha, José de Filippi, apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) todos os detalhes sobre as doações e os gastos eleitorais de 2010. “A minha campanha tinha um tesoureiro que se chama José de Filippi. Foi ele quem apresentou as minhas contas para a Justiça Eleitoral. Assinou, arrecadou, prestou contas e teve as contas aprovadas”, disse ela.

A resposta de Dilma nada explica, já que recursos desviados da Petrobras dificilmente seriam doados pelas vias oficiais – e não constariam, portanto, da contabilidade entregue ao TSE. Além disso, Dilma quis dar a entender que Antonio Palocci não tinha ascendência sobre a parte financeira da campanha. E a verdade é que o petista era muito mais poderoso e influente do que o tesoureiro, inclusive na hora de buscar verbas para o comitê.

A afirmação de Dilma foi dada antes de uma visita ao Expresso DF, um corredor de ônibus construído no Distrito Federal com recursos federais. A presidente falou à imprensa também sobre mobilidade urbana e defendeu a expansão do sistema de transporte público para que a classe média deixe se usar o carro diariamente. “A classe média no Brasil usa carro. Nós temos que fazer a classe média usar transporte público, dar qualidade para o transporte.”

'Acusações de Paulo Roberto Costa fazem estremer essa República', diz Marina

Felipe Frazão - Veja

A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, cobrou neste sábado o aprofundamento das investigações do escândalo da Petrobras, que ganhou contornos eleitorais após VEJA revelar na edição desta semana que a campanha de Dilma Rousseff procurou o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa para pedir "ajuda" de 2 milhões de reais na campanha de 2010, conforme disse o ex-diretor da estatal em seu depoimento às autoridades. Marina exigiu medidas "urgentes e severas contra os que causaram dolo aos cofres públicos".

"Eu quero ter as informações. Queremos que os autos atestem o que ele está dizendo. Ele está fazendo acusações muito graves que fazem estremecer essa República", disse Marina. "Que a Justiça faça a investigação, que seja concluído o trabalho da Polícia Federal, do Ministério Público e de todas as instituições que estejam envolvidas [na apuração] desse lamentável episódio, para que se tenha o veredito de culpar os culpados e puni-los ou inocentar quem for inocente. Não costumo fazer política utilizando a corrupção, qualquer que seja ela e contra quem quer que seja, como forma de me promover", disse.

Marina voltou a dizer que Dilma tem "responsabilidade política" pela indicação dos diretores da Petrobras e afirmou que a empresa deixou as páginas econômicas e científicas dos jornais e revistas para aparecer nas páginas policiais. "Quero que as investigações sejam feitas, porque não costumamos nos promover enlameando a honra das pessoas. Poucos políticos têm coragem de dizer isso, porque usam da corrupção para se promover. Eu quero combater a corrupção. Isso é um discurso de toda uma vida em relação ao PT e ao PSDB, a todos os mensalões que apareceram". afirmou.

Pesquisas - Em queda constante nas pesquisas de intenção de voto, Marina tentou passar confiança durante a entrevista e chegou a dizer que sua candidatura é "ascendente" e "quebrou a polarização" partidária no Brasil e acabou com "plebiscito" entre PT e PSDB. "Nunca imaginei que eles fossem se juntar. Elas gostam tanto da polarização que pela primeira vez na história desse país o PT e o PSDB estão juntos fazendo na mesma artilharia nos combatendo."

A presidenciável minimizou a perde de mais três pontos no Datafolha divulgado nesta sexta-feira: Marina caiu de 30% para 27%, enquanto Dilma Rousseff subiu de 37% para 40% e abriu treze pontos de vantagem. Aécio Neves (PSDB), subiu de 17% para 18%.

"O mais importante nas pesquisas é aquilo que nelas é constante, que o povo quer mudança", disse, ignorando que desde 3 de setembro o instituto também verifica a tendência de queda de sua intenção de voto. Marina aproveitou para alfinetar Aécio, cujos ataques, somados à artilharia petista, influenciaram em sua queda.

"Nós somos a candidatura ascendente, tanto a Dilma quanto o Aécio sabem disso. E nós já sabemos quem é a candidatura descendente, que não disputa o primeiro lugar e está disputando o segundo lugar há 12 anos", disse. "Talvez fosse melhor o Aécio se preocupar com o PSDB envelhecido".

Marina comparou a contrapropaganda do PT a "um batalhão de Golias com artilharia pesada que a ataca dia e noite, sem parar". Marina disse que não fará "embate" no próximo debate na TV Record, mas criticou o endividamento de três em cada cinco famílias brasileiras e empregos "desaparecendo na indústria".

"Quem está preocupado com as pesquisas é aquele que gostaria de estar no segundo lugar e ir para o segundo turno e até agora continua no terceiro lugar [Aécio], e quem está no primeiro lugar [Dilma] gostaria de não ter segundo turno e sabe que vai ter. Um sabe que já está concorrendo ao segundo lugar e outro sabe que com esse o primeiro lugar será seu".

Candidato a vice-presidente na chapa de Mariana, o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), classificou como "leviana" a citação ao ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em agosto, que aparece na lista de Costa como um dos beneficiários do "petrolão". "Contra a Dilma há uma acusação e contra o Eduardo há uma citação sem qualquer contexto", disse Albuquerque. O deputado disse que o PSB apoia a CPI sobre a refinaria Abreu e Lima, construída em Pernambuco.

PF - Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, subordinado ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), foi até a sede da Polícia Federal buscar informações sobre um inquérito aberto para apurar indícios de corrupção e prevaricação no Ministério do Meio Ambiente, no período em que Marina comandou a pasta no governo Lula, entre 2003 e 2008. Ao jornal, o ministério informou que Abrão apenas checou o andamento e o estágio atual do processo. O inquérito foi arquivado em 2012 pelo Ministério Público por falta de provas contra funcionários da pasta. Ao comentar o caso, Marina defendeu sua gestão e disse que integrantes de sua campanha já tinham recebido denúncias similares - as informações seriam que a documentação do inquérito foi acessada de forma clandestina. Ela "repudiou a manipulação dos documentos".

"Repudiamos que estejam sendo usados os órgãos do Estado brasileiro para promover qualquer tipo de crime para acusar uma pessoa que está participando do processo político. Não achamos que o Estado brasileiro deva ser utilizado lançando mão de meios ilegais para prejudicar qualquer que seja o candidato", afirmou. "Para ser sincera, algumas pessoas da minha campanha receberam algumas denúncias anônimas de que estava sendo feito esse tipo de prática e que inclusive documentação estava sendo movimentada sem passar pelo sistema."

O núcleo atômico da delação

• Paulo Roberto Costa, no processo de delação premiada, disse às autoridades que a campanha de Dilma em 2010 pediu dinheiro ao esquema de corrupção que ele liderava na Petrobras

Robson Bonin e Hugo Marques - Veja

Desde o fim de agosto, quando começou a revelar os detalhes do megaesquema de corrupção montado no coração da Petrobras, a maior estatal brasileira, o engenheiro Paulo Roberto Costa já deu aos policiais federais e procuradores informações suficientes para abrir dezenas de inquéritos contra políticos e empresários com culpa no cartório. Paulo Roberto passou oito anos à frente da diretoria de Abastecimento. Chegou ao posto em 2004, no governo Lula, e lá permaneceu após a posse de Dilma Rousseff. Ficou até 2012. Paulinho, como era carinhosamente chamado por Lula, foi indicado para a diretoria pelo PP, um dos partidos da base governista. Ele se mostrou tão eficiente aos olhos dos políticos que logo passou a ser apoiado também pelo PT e pelo PMDB.

Há três semanas, VEJA revelou que o ex-diretor da Petrobras havia dado às autoridades o nome de mais de trinta políticos beneficiários do esquema de corrupção. A lista, àquela altura, já incluía algumas das mais altas autoridades do país e integrantes dos partidos que dão sustentação ao governo do PT. Ficou delineada a existência de um propinoduto cujo objetivo, ao fim e ao cabo, era manter firme a base aliada.

O esquema foi logo apelidado de "petrolão", o irmão mais robusto mas menos conhecido do mensalão, dessa vez financiado por propinas cobradas de empresas com negócios com a Petrobras. À medida que avançava nos depoimentos,

Paulo Roberto ia dando mais detalhes sobre o funcionamento do esquema c as utilidades diversas do dinheiro que dele jorrava. Era tudo tão bizarro, audacioso, inescrupuloso e surpreendente, mesmo para os padrões da corrupção no mundo oficial brasileiro, que alguém comparou o esquema a um "elefante voador" — algo pesadamente inacreditável, mas cuja silhueta estava lá bem visível nos céus de Brasília.

A reportagem de VEJA estampada na capa da edição de 10 de setembro passado revelou a mais nítida imagem do bicho. Ninguém contestou as informações. Agora, surge mais um "elefante voador" originário do mesmo ninho do anterior. Paulo Roberto Costa contou às autoridades que, em 2010, foi procurado por Antonio Palocci, então coordenador da campanha da presidente Dilma Rousseff. O ex-diretor relatou ter recebido do ex-ministro um pedido de pelo menos 2 milhões de reais para a campanha presidencial do PT. A conversa, segundo ele, se deu antes do primeiro turno das eleições. Antonio Palocci conhecia bem os meandros da estatal. Como ministro da Fazenda, havia integrado seu conselho de administração. Era de casa, portanto, e como tal tinha acesso aos principais dirigentes da companhia. Aos investigadores, Paulo Roberto Costa contou que a contribuição que o ex-ministro pediu para a campanha de Dilma sairia da "cota do PP" na Petrobras.

Para fecharem negócios com a estatal, as empreiteiras repassavam aos políticos um porcentual que chegava a até 3% do valor do contrato. As comissões eram divididas entre os partidos que apadrinhavam os diretores das áreas com as quais os contratos eram fechados. Cada sigla recebia a sua parte. No caso da diretoria de Abastecimento, o caixa era controlado pelo PP e administrado pelo doleiro Alberto Youssef. Como VEJA já revelou, as propinas arrancadas por Paulo Roberto Costa das empresas eram entregues a Youssef disfarçadas de pagamentos por serviços prestados pelo doleiro, que atuava também como pagador, fazendo o dinheiro chegar aos políticos brindados pelo esquema. A polícia já tem provas contundentes sobre o envolvimento de algumas das maiores empreiteiras do país.

Quando as autoridades quiseram saber se o dinheiro chegou ao caixa de campanha de Dilma em 2010, Paulo Roberto limitou-se a dizer que acionou o doleiro Youssef para providenciar a "ajuda". O ex-diretor disse aos investigadores que não poderia dar certeza de que Youssef repassou o dinheiro pedido pela campanha de Dilma, mas que "aparentemente" isso ocorreu, pois Antonio Palocci não voltou a procurá-lo.

Como diretor, Paulo Roberto era responsável por administrar contratos vultosos da Petrobras. Sob sua alçada estavam, por exemplo, obras de construção de refinarias, aluguel de navios e plataformas e manutenção de oleodutos. Eram negócios que, muitas vezes, passavam em muito a casa do bilhão. Aos policiais e procuradores, o delator contou que não punha a mão na massa. Embora tenha se beneficiado pessoalmente com dinheiro do esquema — que agora, com o acordo de delação premiada, terá de devolver —, ele garante que apenas negociava as comissões e administrava as "demandas" — como a do ex-ministro Antonio Palocci. A operacionalização da propina, em si, era feita por pessoas destacadas por cada um dos partidos envolvidos. Só para se ter uma ideia do volume de dinheiro movimentado pela quadrilha, em apenas uma conta que o ex-diretor da Petrobras mantinha no exterior havia um saldo de 23 milhões de dólares, fruto das chamadas "comissões".

Mesmo que em seu depoimento o ex-diretor não chegue a confirmar se os 2 milhões de reais pedidos foram de fato repassados à campanha presidencial de Dilma Rousseff, a revelação que ele fez às autoridades é de alta gravidade. Independentemente de o dinheiro ter sido repassado ou não. Fica evidente que o PT e o coordenador da campanha presidencial sabiam do esquema de corrupção na Petrobras e tentaram se valer dele.

Os depoimentos foram enviados ao gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A revelação de Paulo Roberto que liga o esquema de corrupção na Petrobras ao caixa da campanha presidencial agora depende do depoimento de outro envolvido. O doleiro Alberto Youssef, o operador da "cota do PP", poderá dizer o que se passou a partir do momento em que o ex-diretor o incumbiu de repassar o dinheiro. O caminho para isso está pavimentado. Na quarta-feira, seguindo os passos de Paulo Roberto, Youssef acertou com o Ministério Público os termos de um acordo de delação premiada, em que pretende contar o que sabe em troca da redução de pena. A decisão do doleiro aumentou ainda mais o nível de apreensão entre os políticos envolvidos no esquema. No papel de responsável pelo caixa clandestino do PP, também cabia a Youssef entregar a propina.

Em junho passado, VEJA mostrou que o escritório do doleiro em São Paulo era um ponto de peregrinação de políticos do PP. Youssef também pode ajudar a polícia a estabelecer outras conexões do esquema. Segundo Paulo Roberto Costa, a diretoria de Serviços, ocupada durante quase dez anos por Renato Duque, ligado ao PT, recolhia comissões que abasteciam exclusivamente o caixa dois do partido e eram administradas por João Vaccari Neto, o tesoureiro oficial. Por meio de sua assessoria, Antonio Palocci disse que conhece Paulo Roberto Costa, mas "em momento algum fez a ele pedido de qualquer natureza". Garante que, em 2010, nem sequer se encontrou com o então diretor da Petrobras e que também "não tinha responsabilidade sobre a área financeira" da campanha. A presidente Dilma, informada sobre as revelações do delator, disse, por meio de sua assessoria, que o tesoureiro da campanha presidencial de 2010 era o deputado federal licenciado José de Filippi: "Todas as doações eleitorais recebidas pela campanha foram relacionadas na prestação de contas dirigida ao TSE. Essa prestação de contas foi aprovada e está à disposição de quaisquer interessados na Justiça Eleitoral". Enquanto isso, os elefantes voadores riscam o céu azul da capital em elegantes manobras aéreas.

Acima de qualquer suspeita
Caso a Justiça homologue o acordo de delação premiada com o doleiro Alberto Youssef, novas e curiosas histórias envolvendo poder e dinheiro deverão eclodir. Em 2011, no primeiro ano de mandato da presidente Dilma, Mário Negromonte chefiava o poderoso Ministério das Cidades, que tinha um orçamento de 22 bilhões de reais. Ninguém nunca prestou muita atenção no que o ministro fazia depois do expediente. Como servidor público, ele implementava programas de construção de casas populares, viabilizava projetos de saneamento e propunha normas para facilitar a vida dos brasileiros. Exemplo: no fim de 2011, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), órgão subordinado ao ministério, editou uma portaria que obrigava as montadoras a instalar sistemas de localização em todos os carros. Bom para os consumidores, bom para as seguradoras, melhor ainda para as empresas credenciadas a realizar o trabalho de monitoramento de veículos. E excelente para Mário Negromonte, que fazia um bico como consultor de investimentos.

Nessa segunda atividade, pouco antes de a portaria do Denatran ser editada, ele procurou o doleiro Alberto Youssef, seu amigo, e lhe deu uma dica valiosa: o governo estava prestes a editar uma norma que valorizaria muito as empresas de rastreamento de carros. Por acaso, o ministro também conhecia o dono de uma delas - a Controle, sediada em Goiânia - e sabia que ele, embora credenciado a prestar o serviço, enfrentava dificuldades financeiras. Estava à procura de um sócio com dinheiro para investir. Com um conselho tão qualificado, Youssef não pensou duas vezes. Meire Poza, a contadora do doleiro, foi encarregada de viabilizar o negócio. Ela confirma que o ministro deu todas as orientações: "O Negromonte chamou o Beto (Youssef) e disse que tinha uma empresa que tinha a licença do Denatran, só que estava quase quebrada: "Vai lá e compra que nós estamos com o negócio na mão"".

O doleiro investiu 3 milhões de reais na Controle e comprometeu-se a colocar outros 17 milhões. Com dinheiro em caixa, a empresa chegou a abrir uma filial em São Paulo para atuar no maior mercado do país. O investimento, porém, até agora não deu lucro. Atendendo a pedidos das montadoras, o governo ainda não fixou a data para que os carros novos saiam da fábrica com o equipamento, o que deve ocorrer apenas no ano que vem. Procurado, o empresário Luciano Mendes, um dos sócios da Controle, confirmou que esteve com Alberto Youssef e Mário Negromonte durante a negociação da sociedade: "Estive com o ministro no escritório do Youssef duas vezes em 2011". Seu sócio, Celso Secundino, lamenta o desfecho do negócio: "Fomos vítimas de um bandido". Mário Negromonte admite que conhece o doleiro, mas garante que nunca ouviu falar da Controle nem de seus sócios. Ele diz que contrariou muitos interesses quando era ministro e que por isso estaria sendo alvo de ataques.

Dilma Rousseff e a corrupção: O Estado de S. Paulo - Editorial

Nunca antes na história deste país se viu tanta corrupção no governo. O mensalão e o mais recente escândalo do desvio de dinheiro da Petrobrás para o bolso de políticos governistas, exemplos mais luzidios do mar de lama em que o Brasil oficial chafurda, dão a medida de até que ponto os 12 anos de governos do PT degradaram a moral pública. Enquanto isso, Dilma Rousseff proclama na ONU e na propaganda eleitoral os "valores" que transformaram o Brasil num mundo encantado, enfatizando "o combate sem tréguas à corrupção", mediante "o fim da impunidade com o fortalecimento das instituições que fiscalizam, investigam e punem atos de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros".

Punir a corrupção? Recorde-se a tentativa do PT de desclassificar como "manipulação política" a condenação, pelo STF, dos dirigentes do partido que urdiram e executaram o até então maior escândalo de corrupção no governo - a compra de apoio de parlamentares para a formação da "base aliada". Os maiorais petistas condenados por uma corte integrada em sua esmagadora maioria por ministros nomeados nos governos de Lula e de Dilma foram transformados pelo lulopetismo em injustiçados "guerreiros do povo brasileiro".

Já quanto ao "fortalecimento das instituições que fiscalizam, investigam e punem", trata-se de mentira ainda mais escandalosa, até por ser uma das mais insistentemente repetidas no ininterrupto discurso eleitoral do PT no poder.

Fiscalizar e investigar? Dilma declarou recentemente o que pensa: não é função da Imprensa investigar o governo, mas apenas divulgar notícias. Em outras palavras, só deve ser divulgada a notícia que chega pronta na mão do jornalista, não importa a credibilidade da fonte, pois, se tentar verificar se a fonte tem credibilidade, o jornalista já estará fazendo o que não pode: investigando. 

Depois Dilma tentou se explicar, dizendo que não era bem o que todo mundo havia entendido, mas já havia deixado clara uma de suas afinidades com a ditadura cubana e o bolivarianismo chavista.

No âmbito do poder público, investigação é o trabalho, por exemplo, da Controladoria-Geral da União, da Advocacia-Geral da União e do Ministério Público (MP). As duas primeiras estão vinculadas ao Poder Executivo.

Mas o MP é constitucionalmente autônomo, ou seja, uma potencial fonte de aborrecimentos para o Poder Executivo, em particular quando resolve meter o bedelho em malfeitos dos poderosos de turno. Não é por outra razão que têm sido recorrentes no Congresso as tentativas de impor limitações constitucionais à atuação investigativa do Ministério Público.

Dilma tem repetido que em seu governo a Polícia Federal (PF) tem ampla autonomia para trabalhar. Mais do que isso, que se hoje é aparentemente muito grande o número de casos de corrupção que chegam ao conhecimento público é porque os governos petistas ampliaram os quadros, forneceram equipamentos e garantiram autonomia à PF para cumprir sua missão. Mais uma vez, há confusão.

De acordo com dados oficiais do Ministério do Planejamento, conforme informou o Estado dias atrás, está havendo uma redução do número de delegados, peritos, escrivães e agentes da Polícia Federal. Segundo a Federação Nacional dos Policiais Federais, há hoje cerca de 4 mil cargos vagos, quando o ideal seria triplicar o número de servidores da PF. O mesmo Ministério do Planejamento informou, depois, que, no mês passado, foram admitidos nos quadros da Polícia Federal 541 servidores - ou seja, pouco mais de 10% dos cargos que estariam vagos.

Investigação e fiscalização são frequentemente sinônimos. No âmbito do poder público - sem falar do Poder Legislativo, hoje de joelhos diante do Executivo -, o Tribunal de Contas da União (TCU), órgão auxiliar do Congresso Nacional, tem a responsabilidade constitucional de exercer a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União. Mas durante seus governos Lula deixou bem claro o que pensa do TCU: só serve para criar obstáculos à execução dos projetos e programas oficiais.

Em resumo: o PT não gosta de ser fiscalizado e, muito menos, investigado. Qual a credibilidade de Dilma Rousseff, portanto, para falar em "combate sem tréguas à corrupção"?

Ferreira Gullar: A mentira como método

• Eles sabem que estão mentindo e, sem qualquer respeito próprio, repetem a mentira por décadas

- Folha de S. Paulo / Ilustrada

Tenho com frequência criticado o governo do PT, particularmente o que Lula fez, faz e o que afirma, bem como o desempenho da presidente Dilma, seja como governante, seja agora como candidata à reeleição.

Esclareço que não o faço movido por impulso emocional e, sim, na medida do possível, a partir de uma avaliação objetiva.

Por isso mesmo, não posso evitar de comentar a maneira como conduzem a campanha eleitoral à Presidência da República. Se é verdade que os candidatos petistas nunca se caracterizaram por um comportamento aceitável nas campanhas eleitorais, tenho de admitir que, na campanha atual, a falta de escrúpulos ultrapassou os limites.

Lembro-me, como tanta gente lembrará também, da falta de compromisso com a verdade que tem caracterizado as campanhas eleitorais do PT, particularmente para a Presidência da República.

Nesse particular, a Petrobras tem sido o trunfo de que o PT lança mão para apresentar-se como defensor dos interesses nacionais e seus adversários como traidores desses interesses. Como conseguir que esse truque dê resultado?

Mentindo, claro, inventando que o candidato adversário tem por objetivo privatizar a Petrobras. Por exemplo, Fernando Henrique, candidato em 1994, foi objeto dessa calúnia, sem que nunca tenha dito nada que justificasse tal acusação.

Em 2006, quem disputou com Lula foi Geraldo Alckmin e a mesma mentira foi usada contra ele. Na eleição seguinte, quando a candidata era Dilma Rousseff, essa farsa se repetiu: ela, se eleita, defenderia a Petrobras, enquanto José Serra, se ganhasse a eleição, acabaria com a empresa.

É realmente inacreditável. Eles sabem que estão mentindo e, sem qualquer respeito próprio, repetem a mesma mentira. Mas não só os dirigentes e o candidato sabem que estão caluniando o adversário, muitos eleitores também o sabem, mas se deixam enganar. Por isso, tendo a crer que a mentira é uma qualidade inerente ao lulopetismo.

Quando foi introduzido, pelo governo do PSDB, o remédio genérico --vendido por menos da metade do preço do mercado-- o PT espalhou a mentira de que aquilo não era remédio de verdade. E os eleitores petistas acreditaram: preferiram pagar o triplo pelo mesmo remédio para seguir fielmente a mentira petista.

Pois é, na atual campanha, não apenas a mesma falta de escrúpulo orienta a propaganda de Dilma, como, por incrível que pareça, conseguem superar a desfaçatez das campanhas anteriores.

Mas essa exacerbação da mentira tem uma explicação: é que, desta vez, a derrota do lulopetismo é uma possibilidade tangível.

Faltando pouco para o dia da votação, Marina tem menos rejeição que Dilma e está empatada com ela no segundo turno --e o segundo turno, ao que tudo indica, é inevitável.

Assim foi que, quando Aécio parecia ameaçar a vitória da Dilma, era ele quem ia privatizar a Petrobras e acabar com o Bolsa Família.

Agora, como quem a ameaça é Marina, esta passou a ser acusada da mesma coisa: quer privatizar a Petrobras, abandonar a exploração do pré-sal e acabar com os programas assistenciais. Logo Marina, que passou fome na infância.

E não é que o Lula veio para o Rio e aqui montou uma manifestação em defesa da Petrobras e do pré-sal? Não dá para acreditar: o cara inventa a mentira e promove uma manifestação contra a mentira que ele mesmo inventou! Mas desta vez ele exagerou na farsa e a tal manifestação pifou.

Confesso que não sei qual a farsa maior, se essa, do Lula, ou a de Dilma quando afirmou que, se ela perder a eleição, a corrupção voltará ao governo. Parece piada, não parece? De mensalão em mensalão os governos petistas tornaram-se exemplo de corrupção, a tal ponto que altos dirigentes do partido foram parar na cadeia, condenados por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Agora são os escândalos da Petrobras, saqueada por eles e por seus sócios na falcatrua: a compra da refinaria de Pasadena por valor absurdo, a fortuna despendida na refinaria de Pernambuco, as propinas divididas entre o PT e os partidos aliados, conforme a denúncia feita por Paulo Roberto Costa, à Justiça do Paraná.

Foi o Lula que declarou que não se deve dizer o que pensa, mas o que o eleitor quer ouvir. Ou seja, o certo é mentir.

Merval Pereira: De cabeça para baixo

- O Globo

O candidato tucano Aécio Neves entra na última semana da campanha eleitoral enfrentando um dilema que coloca suas necessidades imediatas à frente de um projeto político maior, o de tirar o PT do poder.

Ele foi talvez a maior vítima colateral do trágico acidente que matou o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, colocando de cabeça para baixo a corrida pela presidência da República e desconstruindo os parâmetros de sua disputa.

Guiado por Aécio, seu presidente nacional, o PSDB armou-se para disputar a presidência baseado na sua organização partidária, em diversos acordos políticos formais e informais e na possibilidade de sair com grandes votações de Minas e São Paulo, dois dos maiores colégios eleitorais do país que domina há muito tempo.

Isso tudo deixou de ter importância quando a ex-senadora Marina Silva entrou em cena e conseguiu, com quase nenhuma estrutura partidária e pouco mais de dois minutos de propaganda eleitoral no rádio e televisão, sair na frente em todas as regiões do país, jogando Aécio para o terceiro lugar.

Diante do fato novo, a campanha do PSDB, mas, sobretudo, a da presidente Dilma, partiram para a desconstrução do programa e da própria figura de Marina, que se mostrou frágil, tanto pessoal quanto partidariamente, para reagir à altura da necessidade. Ela no momento enfrenta três fortes adversários: a falta de escrúpulos da propaganda do PT, a tentativa dramática do PSDB de retomar o lugar na disputa no segundo turno, e a crise aberta no PSB por seu presidente interino Roberto Amaral, velho aliado do PT que, em meio a uma campanha acirrada como essa, resolveu cuidar de seu pirão primeiro, convocando uma extemporânea eleição para formalizá-lo na presidência do partido.

Querendo ou não, os dois, Aécio Neves e Roberto Amaral, estão ajudando o PT a fortalecer a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Mais compreensível do que a atitude de Amaral é a de Aécio, que vê ainda uma possibilidade de superar Marina pelas últimas pesquisas, embora tenha sido aconselhado já há algum tempo pelo ex-presidente Fernando Henrique a centrar seu ataque em Dilma, e não em Marina, a fim de preservar a possibilidade de montar um acordo partidário entre PSB e PSDB no segundo turno.

O auge das “afinidades” entre as campanhas de Aécio e Dilma foi a acusação irônica de que o programa de Marina havia sido escrito a lápis, tais foram as alterações feitas. O marqueteiro João Santana gostou tanto da frase de Aécio que a transformou em um filmete da campanha de Dilma.

Outra boa sacada de Aécio acabou saindo pela culatra, pois Aécio disse de suas adversárias que “uma mente e a outra desmente”. Acabou tendo que se desmentir ele próprio, que prometeu e depois voltou atrás no fim do fator previdenciário.

O maior problema de Aécio Neves, a esta altura da eleição, é a disputa em Minas, que surpreendentemente está perdendo. Os 3 milhões de votos que pretendia tirar na frente de Dilma no estado dos dois agora se tornaram poucos milhares numa disputa em que tem que se desdobrar para chegar à frente, quando já esteve em terceiro lugar.

Para o governo do Estado enfrenta uma eleição dificílima, que até o momento está perdida já no primeiro turno. Como o número de indecisos continua alto, em torno de 20%, Aécio e seu grupo ainda têm esperanças de virar o jogo, mesmo que seja apenas no segundo turno. Mas se esse esforço excessivo, em Minas e no plano nacional, levá-lo ao segundo turno, ele pode até ganhar o governo de Minas para seu partido, mas dificilmente terá condições de derrotar a presidente Dilma.

No norte e no nordeste, regiões em que Dilma abriu na eleição de 2010 cerca de 12 milhões de votos de frente para Serra, o PSDB hoje com Aécio tem uma votação minúscula: 15% no norte e 8% no nordeste segundo o mais recente levantamento do Datafolha.

Quem está impedindo, a duras penas, que Dilma abra vantagem nessas regiões onde predominam os eleitores mais ajudados pelos programas sociais do governo, especialmente o Bolsa Família, é Marina, que tem, 27% de votos no norte e 23% no nordeste, e mesmo assim está em queda.

Entre os eleitores de renda familiar de 2 a 5 salários mínimos, Dilma e Marina estavam empatadas em 34% há uma semana. Agora, a presidente supera a candidata do PSB por 37% a 30%. No Nordeste, Dilma já chegou a 55% e vai a 59% na disputa com Marina, que teria 33% num eventual segundo turno.

Contra Aécio Neves, tudo indica que a presidente poderá repetir os 70% que obteve em 2010 nessas regiões, e o candidato do PSDB não tem condições práticas de reduzir essa diferença com votações expressivas em Minas e São Paulo, como era o plano inicial.

Dora Kramer: Caso de política

- O Estado de S. Paulo

Logo agora que Dilma Rousseff engrenou no discurso incisivo sobre o combate à corrupção, levando ao centro da campanha um assunto evitado até que o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa inaugurou o que já se configura o início de uma fila para firmar acordos de delação premiada com a Justiça, a própria presidente e seus aliados começam a pôr em dúvida suas palavras.

Ao menos no que tange à atuação da Polícia Federal, celebrada como independente e apontada por ela como uma das razões pelas quais há tantos escândalos. Sempre que se toca no assunto, Dilma explica: não há mais corrupção, o que há é mais controle. Como se descobre mais, os crimes aparecem mais. Portanto, os instrumentos de fiscalização estão funcionando direito. PF inclusive. Acima de interesses dessa ou daquela natureza.

Pois na última semana a instituição já foi alvo de suspeita de agir mediante motivação eleitoral por políticos que, embora atuem no campo da presidente, não compartilham da opinião dela sobre a conduta republicana da PF nem ela parece acreditar nas próprias palavras.

Por ordem de importância dos porta-vozes, comecemos pelo ex-presidente Luiz Inácio da Silva. Na opinião dele, a divulgação do fato de a polícia tentar há sete meses ouvi-lo (como testemunha) sobre a acusação feita pelo operador do mensalão de que teria intermediado um repasse ilegal de R$ 7 milhões da Portugal Telecom para o PT tem objetivo "eleitoral". A informação é da PF que, por deferência, atua com diplomacia tentando por intermédio do advogado Márcio Thomaz Bastos que Lula atenda ao convite.

Uma "pessoa comum" - para usar expressão do ex-presidente - já teria sido intimada. O uso eleitoral aí não teria razão para entrar no seu radar caso tivesse atendido à solicitação em fevereiro. Lula alega não ter recebido convite. De fato, pois a PF o está tratando com reverência, mas fazendo o seu trabalho. Não recebe, no entanto, a mesma colaboração.

No segundo caso temos a inusitada reação do vice-presidente da República, Michel Temer e do presidente do Senado, Renan Calheiros, protestando em nota oficial e mobilizando a presidente da República e o ministro da Justiça para que tomem providências contra a equipe da PF em Imperatriz (MA), que ousou averiguar uma denúncia anônima de que haveria transporte de dinheiro irregular no avião do senador e candidato ao governo do Estado, Edison Lobão Filho.

A alegação foi a de que a operação visava a prejudicar a candidatura. Ocorre que os policiais não encontraram nada de errado e, assim, deram por encerrado o episódio. Não foram negligentes e não prejudicaram ninguém. Ao contrário. Pode-se dizer até que o senador recebeu um bom atestado e a PF fez o seu trabalho. Mas a cúpula do PMDB interveio em prol de tratamento privilegiado.

O terceiro personagem é o petista Alexandre Padilha, candidato ao governo de São Paulo. A Polícia Federal iniciou uma operação para investigar fraudes em licitação na secretaria especial de saúde indígena, ligada ao Ministério da Saúde. O caso ocorreu quando Padilha era ministro e, embora não esteja entre os investigados, já foi logo tratando de dizer que a investigação só pode ter "motivo eleitoral".

Em xeque. Se as pessoas que estão no governo e conhecem como as coisas funcionam lançam com tanta facilidade suspeitas de que a regra não é a adoção de boas práticas, estão pondo em xeque as garantias que têm dado a presidente ao público e, ao mesmo tempo, levantando desconfiança sobre o trabalho realizado pela Polícia Federal.

A corporação sabe em que fogueira a jogaram quando o governo diz, para atender aos parceiros, que vai "investigar a fundo" a origem da denúncia anônima, e a PF responde em sóbria nota que é um órgão de Estado que não "persegue, não intimida, nem se deixa intimidar".

Agora, para agradar ao PMDB, a presidente se contradiz e deixa a Polícia Federal à exposição mais insidiosa do sol e da chuva.

Eliane Cantanhêde: Cambalhotas

- Folha de S. Paulo

Resumo do Datafolha: Dilma acelera para a vitória, Marina vai desmilinguindo e Aécio caminha com dificuldade, mas não está morto.

O dado mais contundente do Datafolha, além dos 13 pontos de vantagem de Dilma sobre Marina no primeiro turno, é a cambalhota no segundo. Em 10 de setembro, Marina tinha 47% e agora caiu para 43%. Dilma tinha 43% e, invertendo posições, está com 47%.

Assim, Dilma supera a principal rival pesquisa a pesquisa. Na última, ultrapassou Marina no primeiro turno. Nesta, passou à dianteira no segundo. Ela tem a força (dinheiro, máquina, estrutura e "o" marqueteiro), e Marina pode ter sido um sonho de verão.

A campanha sonhática teria de ter trunfos, garra, um pulo do gato. Por que não? Toda hora, um novo gato pula na de Dilma e, à noite e durante eleições, todos os gatos são pardos. De nada adianta o alerta de que a campanha de Dilma faz o diabo, mente, inventa, manipula. O importante é que os fins justificam os meios, lembra?, e o medo vai vencendo a esperança.

Para piorar, o eleitor de Dilma é mais fiel, decorou o número 13 e sabe manejar a urna eletrônica, ao contrário do de Marina. Ou seja, às dificuldades nas pesquisas de intenções de voto, Marina tende a somar uma "quebra" de votos na eleição real.

Onde Aécio entra nisso? A diferença dele para Marina é de nove pontos a uma semana. Para uma reviravolta, ele teria de atingir seu potencial máximo e ela cair ao seu mínimo. É muito difícil, mas o tucano demonstra alguma recuperação em eleitorados chaves, como São Paulo. Além disso, nas últimas eleições, o PSDB teve alguns pontos a mais nas urnas do que tinha nas pesquisas.

A melhor aposta é de Dilma e Marina no segundo turno e mais um mandato para o PT. Porém... Dilma vencer no primeiro turno, Marina encorpar no segundo e Aécio surpreender no final são todas hipóteses improváveis, mas nenhuma delas é impossível.

Luiz Carlos Azedo: Casa grande e senzala (ou a Sinhá e a negrinha)

• Existe um fator mais antropológico do que político nesta eleição, que é uma das razões de Marina Silva (PSB) resistir como uma das protagonistas da disputa

- Correio Braziliense

Um aspecto relevante da disputa eleitoral é o posicionamento do velho patriarcado do Norte e Nordeste, formado a partir do período colonial. Essas oligarquias mantêm incrível capacidade de sobrevivência, graças ao controle das vilas e das pequenas cidades do interior e à grande influência nos negócios regionais que dependem da União. A formação desse patriarcado e seus métodos de controle social foram descritos por Gilberto Freyre em Casa grande e senzala. Sobrevivem até hoje, como está demonstrado nestas eleições.

O velho patriarcado preserva sua secular influência política no Senado e serve de reserva estratégica para as forças do Sudeste e do Sul que estão no poder. Além disso, contamina toda a política com seus métodos fisiológicos e práticas patrimonialistas, a ponto de fazer com que forças mais modernas e até progressistas sejam subjugadas pelo “transformismo” partidário e acabem sucumbindo ao toma lá da cá que domina o nosso parlamento.

A propósito da obra de Gilberto Freyre sobre o patriarcado brasileiro, um parêntese sobre a relação entre a Sinhá e a negrinha: a primeira vive na casa grande e, vez ou outra, visita a senzala; a segunda frequenta a casa grande e volta para dormir na senzala todos os dias. (É piada pronta, mas qualquer semelhança com as candidatas a presidente da República será mera coincidência)

“Desconstrução” e identidade
Agora, falando sério, existe um fator mais antropológico do que político nesta eleição, que é uma das razões de Marina Silva (PSB) resistir como uma das protagonistas da disputa, apesar da enorme desvantagem de sua campanha em termos de tempo de televisão, estruturas de poder, apoios partidários e recursos financeiros. E do processo de “desconstrução” de sua candidatura, que está em pleno curso e é facilitado pela ausência de um estado-maior de campanha experiente em pleitos presidenciais.

Por que, a uma semana do pleito, a candidata do PSB não sucumbiu à polarização Dilma Rousseff (PT) versus Aécio Neves (PSDB), o que ainda pode acontecer no decorrer desta semana? Por causa dos segmentos negros, pardos e mulatos dos grandes centros urbanos sem representação política que com ela se identificam. Uma espécie de voto étnico que se soma a parcelas dos votos ético, evangélico e de protesto que compõem as outras três vertentes eleitorais à margem das estruturas de poder e dos partidos de sua candidatura. Trata-se de um universo político mais virtual do que orgânico.

Vivemos a crise de identidade do chamado “sujeito moderno”, cujo mundo de origem era a sociedade industrial e suas ideologias. A busca de nova identidade na sociedade pós-moderna — cujo sujeito é “desconstruído” — passa por questões novas, que estão muito ao largo do espectro político-partidário e do conceito de nação: a emancipação feminina e as mudanças de gênero, por exemplo.

Essa crise tem também aspectos de caráter regressivo, como o ressurgimento do fundamentalismo religioso e do radicalismo ideológico. Além disso, ocorre outro fenômeno global: a reconstrução da identidade a partir da origem étnica, seja por via do “chauvinismo”, como em algumas regiões em conflito no mundo, inclusive na Europa; ou de forma “traduzida”, que é aquela que predomina no Brasil, principalmente no caso das populações meridionais de origem europeia ou asiática.

Pardos e mulatos, durante muito tempo, porém, buscaram a simples “assimilação”, assim como os descendentes dos povos indígenas nos centros urbanos, em consequência das políticas de “branqueamento” da população (a partir da segunda metade do século 19) e da carga de preconceito e discriminação raciais que herdamos do regime escravocrata, embora mitigados pela miscigenação.

Entretanto, essa identidade étnica nunca deixou de existir e sempre se manifestou de forma vigorosa — mesmo antes dos movimentos de inclusão dos afrodescendentes e de reconhecimento dos direitos indígenas —, por meio da cultura, principalmente da gastronomia, da dança e da música. Na política, porém, nunca teve grande expressão.

É possível que uma parcela da população mestiça, como diria Darcy Ribeiro, esteja se expressando “epidermicamente” pela via eleitoral — à margem das questões partidárias ou programáticas. Seria esse, como hipótese, o motivo da sobrevivência de Marina Silva, uma ex-seringueira negra, aos duros ataques dos adversários. A cada dia, porém, ela perde terreno para Dilma e Aécio.