domingo, 24 de agosto de 2014

Opinião do dia: Rubens Bueno

Se falar tudo o que sabe mesmo, ele prestará um grande serviço ao Brasil porque ajudará a desvendar os meandros da corrupção nas estatais durante o governo do PT.

Rubens Bueno deputado federal (PR), líder do PPS na Câmara e membro da CPI mista da Petrobras, em entrevista sobre a delação premiada de Paulo Roberto Costa , 24 de agosto de 2014

Delação premiada de Costa deixa base de Dilma aflita

• Avaliação inicial do governo é que ex-diretor da petrobras deve mirar congresso, mas pode afetar campanha

Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA - A decisão do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, de fazer delação premiada, divulgada sexta-feira, ocorreu quando a presidente Dilma Rousseff se preparava para um comício eleitoral em Porto Alegre. A 1ª reação de integrantes do governo e da campanha foi de apreensão.

- Vamos ver o que ele vai falar. Ninguém sabe a extensão disso tudo e onde chega - disse um auxiliar que estava com Dilma na capital gaúcha.

Apesar do susto, a ordem no governo é esperar o depoimento de Costa, preso na Operação Lava-Jato, para avaliar os eventuais danos. A avaliação inicial é que a delação de Costa deverá ser voltada ao Congresso. Porém, há a sensação de que o depoimento é imprevisível.

- Ele estava na Petrobras desde o governo Fernando Henrique Cardoso. Vai trazer à tona coisas daquela época? Muito se fala por aí que ele tinha relações com mais de cem deputados. Temos que esperar para ver para onde ele vai apontar, quem ele vai mirar - disse outro auxiliar.

Integrantes do governo alegam ser "improvável" que Costa traga informações que atinjam Dilma diretamente. Avaliam, no entanto, que qualquer ponto que o ex-diretor levante sobre maus negócios feitos pela Petrobras na sua gestão, ou que tenha relação com qualquer dirigente ou parlamentar da base, arrastam a presidente para o olho do furacão.

O discurso entre os assessores é que Dilma e a presidente da Petrobras, Graça Foster, não tinham simpatia por Costa. Apesar disso, ele continuou na diretoria nos dois primeiros anos do governo.

- Dilma nunca gostou dele e a Graça não o tirava porque sempre alguém advogava a favor dele - disse um petista da cúpula.

A preocupação central entre os petistas é com o "vazamento seletivo", de forma a prejudicar a campanha à reeleição de Dilma e o PT. Para petistas, Costa teria feito negócios com políticos de todos os partidos, mas o foco do vazamento seria político, na tentativa de atingir a gestão de Dilma e destabilizar o governo. O que causa apreensão, disse um integrante da campanha, é a dificuldade em prever o que ele tem para contar e, principalmente, se está baseado em provas.

- A questão é que, mesmo sem provas, o que ele falar vai cair como uma bomba, mesmo que seja uma informação pela metade, enviesada ou mentirosa apenas para prejudicar alguém, para criar um caos no meio da eleição - comentou um integrante do governo.

Segundo "O Estado de S. Paulo", o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, um dos integrantes do esquema investigado pela PF na Lava-Jato, prestou depoimento ligando o secretário nacional de Finanças do PT, João Vaccari Neto, ao doleiro Alberto Youssef. Vaccari seria um dos contatos de fundos de pensão com a CSA Project Finance Consultoria e Intermediação de Negócios Empresariais, empresa usada por Youssef para lavar R$ 1,16 milhão do mensalão.

PPS quer investigar elo entre Valério e empresário

• Líder do partido vai protocolar na CPI da Petrobras pedido para ouvir Ronan Pinto

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), disse que protocolará na CPI mista da Petrobras pedido de convocação do empresário Ronan Maria Pinto, para que ele esclareça suposta ligação com Marcos Valério, operador do Mensalão.

A Polícia Federal encontrou um contrato de empréstimo de 2004, no valor de R$ 6 milhões, entre Valério e uma empresa de Ronan.

O documento foi apreendido no escritório de Meire Bonfim da Silva Poza, contadora do doleiro Alberto Youssef, segundo reportagem publicada neste sábado (23) no jornal "O Estado de S. Paulo".

"Essa denúncia, que vem à tona com a descoberta desse documento no escritório da Meire Poza, pode mostrar que a cidade de Santo André é o berço de toda a história de corrupção e crimes do PT", afirmou o líder do PPS.

"É um documento importante para que a CPMI possa mostrar essa relação entre os crimes do PT. Isso mostra que o mensalão não foi totalmente investigado", disse Bueno.

O deputado afirmou que o requerimento de convocação do empresário será apresentado na segunda-feira (25). O partido já havia protocolado, no último dia 13, pedido para ouvir a contadora na CPMI.

Marina luta para reduzir desconfiança

Para diminuir resistências à sua candidatura, Marina Silva tenta acalmar os ânimos de setores como o mercado financeiro e os produtores rurais. Ontem, voltou a defender o controle da inflação e disse que o pais não precisa de uma gerente

De sonhática a pragmática

• Marina acena ao mercado e age para passar segurança a setores que desconfiam da candidatura

Catarina Alencastro – O Globo

BRASÍLIA - Para aplacar temores de que um eventual governo seu seja uma aventura repleta de incertezas, a nova candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, já age para tentar se apresentar como opção segura. De modo pragmático, seu grupo político começa a trabalhar em uma série de sinalizações para setores sensíveis como o mercado, o agronegócio e o de pesquisa científica. Em sua primeira aparição como candidata, Marina também já discusou para apaziguar os ânimos do mercado financeiro. Afirmou que manterá o tripé inflação dentro da meta, câmbio flutuante e controle fiscal. E disse que vai assegurar, em lei, autonomia para o Banco Central - proposta de Eduardo Campos, da qual ela discordava, mas que agora abraça.

Outro recado para o setor financeiro é a composição de sua equipe, que conta com Neca Setúbal, acionista do banco Itaú, como coordenadora do programa de campanha. A entrada do candidato a vice do tucano Geraldo Alckmin, Márcio França, no comitê financeiro também é vista como exemplo de que a candidata está mais aberta ao contraditório desde que assumiu a corrida presidencial. Marina e França trocavam fortes críticas desde que ela chegou ao PSB, em outubro passado.

Embora tenha opiniões consideradas radicais sobre temas como transgênicos e legalização de drogas, Marina vai deixar claro que não fará alterações legais no que já está regulamentado. A Lei de Biossegurança, aprovada em 2005, autoriza a produção e a comercialização de produtos transgênicos, questão contra a qual Marina se opôs fortemente quando foi ministra do Meio Ambiente de Lula. Mas seus aliados garantem que ela não revisará essa previsão. Mas, se eleita, fará com que os rótulos dos produtos transgênicos explicitem que se trata de um produto geneticamente modificado, algo que a lei exige.

A ex-ministra criticou parlamentares da bancada ruralista, que tentavam aprovar um projeto no Congresso para acabar com essa obrigatoriedade. Por outro lado, no caso da permissão de pesquisas com células-tronco embrionárias, prevista na Lei de Biossegurança, ela não fará revisões.

O Código Florestal é outro tema que gera anseios por parte do agronegócio. Durante a discussão da nova legislação, Marina se manifestou contra flexibilizações e anistia de multas por desmatamentos feitos até 2008, o que acabou aprovado. Quando Dilma sancionou a nova legislação, Marina declarou que o código "não é mais florestal, é um Código Agrário. Uma caixa de Pandora com todas as maldades".

Sua equipe afirma que agora o importante é fazer com que a lei seja cumprida por meio da implementação do Cadastro Ambiental Rural, um raio-X da propriedade rural que definirá áreas que eventualmente terão de ser recuperadas.

- Marina não vai colocar a agenda pessoal acima da agenda do país. Não vamos tentar reverter temas vencidos - afirma um assessor.

O setor financeiro é o menos problemático nesse sentido, já que quando foi candidata em 2010, Marina já defendia a reforma fiscal como forma de tornar o Estado mais eficiente na gestão dos recursos públicos. Para ela, esse é um dos fatores que limita o crescimento do país. Ela defendia também a melhoria e o aperfeiçoamento do ambiente de negócios, como forma de atrair investimentos. Semana passada, na 1ª entrevista como candidata, Marina reafirmou que tem um compromisso com a estabilidade da economia.

- Mantenho o que está no programa: meta de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal. A independência do Banco Central é um tema de consenso entre nós - afirmou ela.

Aliados pontuam que se for presidente ela tampouco tomará a iniciativa de modificar a legislação em relação ao aborto ou à liberalização do uso da maconha. Mas que caso haja um movimento da sociedade para que os temas sejam revistos, não fugirá do debate. Com relação ao casamento gay, Marina mantém que sejam respeitadas as religiões de cada um, mas que todos os direitos civis sejam estendidos integralmente à população homossexual, inclusive o da adoção de crianças.

Confronto entre sonhos e realidade
Quem a conhece de longa data antevê um dilema que Marina terá de encarar caso vire presidente: o de confrontar seus sonhos com a realidade.

- A Marina sempre teve posições muito claras sobre temas polêmicos. É parte do que ela acredita. Ela vai ter que enfrentar um choque de realidade entre os sonhos de sua vida e a prática de uma pessoa que quer assumir um país diverso como o nosso - avalia o senador Jorge Viana (PT-AC), cuja maior parte de vida política esteve ligada à da ex-seringueira.

Antes de morrer, Eduardo Campos vinha num esforço de apresentar sua candidata a vice como uma pessoa afeita ao diálogo, alguém que gosta de ouvir e se deixa convencer. Sua ideia era contrapor esse temperamento ao da presidente Dilma Rousseff, que tem fama de autoritária e intransigente. Quem já trabalhou com Marina diz que a ex-ministra do Meio Ambiente gerava muitos conflitos por não abrir mão de suas posições e se rodear de gente que pensa como ela. Um marineiro que foi subordinado a ela no MMA discorda:

- Ninguém respeita mais a diversidade do que Marina. Muito próximo a ela tinha um ateu, um budista, espíritas, gays e usuários de drogas.

Embora defenda maior diversidade da matriz renovável e mais investimentos em energia eólica, solar e de biomassa, aliados afirmam que ela dará continuidade inclusive às polêmicas hidrelétricas da Amazônia, como o complexo de Tapajós. Segundo integrantes da campanha, ela só não abrirá mão de cumprir todo o rito do licenciamento ambiental - algo a que qualquer governo é obrigado. Um ex-servidor que trabalhou com Marina diz que é falso afirmar que ela protelou o andamento de obras enquanto ministra.

- Quando ela assumiu o Ministério do Meio Ambiente havia 40 hidrelétricas paradas. Quando saiu eram apenas oito, e não estavam paradas, estavam em processo de licenciamento - relata.

Aos poucos, Marina dá sinais de que será menos "sonhática", termo que usou ao sair do Partido Verde em 2011, cedendo em parte ao pragmatismo para diminuir resistências ao seu projeto.

Empresários se dividem entre o temor e a esperança de mudança

• Posicionamentos da ex-ministra não são esquecidos, mas há aposta na evolução

Danilo Fariello – O Globo

BRASÍLIA - Executivos de setores econômicos considerados mais agressivos ao meio ambiente, como agronegócio, mineração e geração de energia, dividem-se neste momento entre o simples temor diante do crescimento de Marina Silva nas pesquisas de intenção de voto e a expectativa de que ela tenha mudado de posição em relação às suas áreas. Persistem na mente de muitos empresários algumas declarações tidas como ideológicas e preconceituosas da outrora ministra do Meio Ambiente, por exemplo de que a pecuária era uma das culpadas pelo aumento do desmatamento na Amazônia.

- A visão dela é de que somos vilões. Eu tenho medo dela, não só como produtor, mas pelo Brasil, que sobrevive com exportações do agronegócio. Tenho medo de pessoas radicais e preconceituosas. Não dá para imaginar que você vai sustentar o Brasil só com orgânicos - disse Glauber Silveira, ex-presidente e conselheiro da Associação Brasileira dos Produtores de Soja e presidente da Câmara Setorial da Soja, do Ministério da Agricultura.

A visão de Silveira não costuma ser explicitamente defendida pelos demais empresários desses setores produtivos, até porque são segmentos dependentes de subsídios ou de concessões públicas, que têm de manter um convívio pacífico com qualquer governo.

Os setores preferem, portanto, acreditar na possibilidade de uma transformação de posições tidas como ideológicas de Marina Silva, caso venha a assumir a Presidência. Tirso Meirelles, presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), crê na "evolução" do discurso de Marina e até reconhece que, no passado, houve quem derrubava árvores e usava o gado como uma espécie de álibi na Amazônia.

- Ela evoluiu no diálogo, assim como nós, do agronegócio, também evoluímos - disse Meirelles, a quem Campos havia proposto colaborar com o programa de governo.

Luiz Claudio Paranhos, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), lembra que Campos esteve na feira de gado Expozebu neste ano, onde foi muito bem recebido. Mas, para ele, o perfil de Marina é diferente.

- Enquanto Aécio Neves fala em um superministério da Agricultura, as posições historicamente radicais de Marina são preocupantes. Eu gostaria que ela se manifestasse de forma clara perante o nosso setor - disse Paranhos.

Tratamento sem ideologia
Na área mineral, que tem um novo marco regulatório em discussão no Congresso, a expectativa maior é de que o setor seja mais ouvido e reconhecido, independentemente de quem seja o futuro presidente. Elmer Prata Salomão, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM), reconhece que a mineração carrega um "karma" do passado, de ser uma atividade poluente.
- Se regulada competentemente, a mineração pode trazer benefícios para as comunidades. O que não pode ser feito é tratar a questão indígena de modo ideológico. Vai ser muito difícil que Marina entenda o ponto de vista mais pragmático.

Um texto do "Portal do Geólogo" que circulou semana passada entre grandes empresas da mineração indicava que um governo de Marina poderia "asfixiar e minimizar" o setor. O texto remete a declarações antigas da candidata e à nota do site Rede Sustentabilidade, que diz "ser fundamental que o contrato de concessão (mineral) reflita as condições socioambientais estabelecidas na licença ambiental, assim como o resultado da consulta às comunidades impactadas".

No setor elétrico, o medo é que licenças ambientais demorem mais a sair, disse Luis Fernando Viana, presidente da Associação dos Produtores Independentes de Energia (Apine).

- Marina teve um momento de uma certa diatribe com setor de infraestrutura, porque era ministra do Meio Ambiente e buscava a proteção do ambiente. Desde então, evoluiu bastante o pensamento dela. Por mais que defenda energia limpa, sabemos que eólica e solar têm potencial pequeno comparado com térmica e elétrica. A fonte térmica, de fato, é mais poluidora, mas não podemos viver sem ela - disse Alexei Vivan, diretor-presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica e presidente do Fórum do Meio Ambiente do Setor Elétrico (Fmase).

Dilma volta a reconhecer saúde ruim e evita falar sobre delação premiada de Costa

• Em ato de campanha pela reeleição com prefeitos no RS, presidente diz que não vai comentar sobre decisão de ex-diretor da Petrobras

Flávio Ilha – O Globo

PORTO ALEGRE – Em ato formal de apoio de 175 prefeitos e vice-prefeitos do Rio Grande do Sul à sua reeleição, a presidente Dilma Rousseff voltou a reconhecer que o governo ainda precisa solucionar “problemas graves” referentes ao acesso da população a serviços de saúde. No encontro, que ocorreu em Porto Alegre na manhã deste sábado, a presidente evitou comentar sobre a decisão do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, que, para reduzir pena, diz aceitar delação premiada.

- Não tenho o que comentar sobre esta questão. Não tenho a menor ideia do acordo entre aqueles interessados.

Dilma citou como principais problemas da saúde o atendimento por especialistas e a realização de exames laboratoriais. Segundo a presidente, será necessário “muitos passos ainda” para criar um sistema de saúde de qualidade.

- Demos um passo imenso quando criamos o Mais Médicos. Mas são necessários muitos passos ainda para criar um sistema de saúde de qualidade no país.
Temos problemas graves ainda, como o acesso às especialidades, médico do coração, do pulmão, endocrinologista. Temos de resolver também o problema grave de acesso a exames laboratoriais, além de enfrentar a gestão, a construção e o atendimento hospitalar em nosso país – disse.

O encontro com os políticos foi organizado pelo comitê suprapartidário de prefeitos que apoiam a reeleição de Dilma no Rio Grande do Sul. Segundo o coordenador do ato e presidente estadual do PT, Ary Vanazzi, 13 partidos integram o comitê de apoio a Dilma. A reunião teve a participação de 108 prefeitos e 67 vice-prefeitos.

Entre eles, dez prefeitos e um vice-prefeito do PP, partido que apoia o candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, e de 16 prefeitos e seis vices do PDT, que está fechado com Marina Silva (PSB). Também participaram do ato dez prefeitos do PMDB, que, no Rio Grande do Sul, definiu apoio a Aécio.

Dilma afagou os dirigentes municipais dizendo que, no passado, os prefeitos eram recebidos pelo governo federal “com a Polícia e com cachorro na rua”. Segundo a presidente, a maioria dos programas sociais do governo, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, não seria viável sem o apoio das prefeituras.

Para o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), que também é presidente da Frente Nacional dos Prefeitos, o encontro mostrou que a relação do governo federal com os gestores públicos foi qualificada durante a gestão de Dilma.

- Nunca se investiu tanto em mobilidade urbana como agora. Nunca se investiu tanto em saúde básica. O programa Mais Médicos, por exemplo, significou um grande avanço na relação com as comunidades necessitadas. Hoje não faltam médicos nas nossas periferias – comentou.

O prefeito de Rio dos Índios, Saulo Dias (PP), resumiu o sentimento da maior parte dos dirigentes que acompanharam Dilma, vindos de cidades pequenas:

- Me perguntam se me bandeei de lado por causa de algumas máquinas recebidas do governo. Queria dizer que os prefeitos dos pequenos municípios são muito agradecidos pelos equipamentos que receberam da Dilma. Estou do lado do governo que administrou de forma republicana, que nos recebeu sem perguntar de que partido era.

Foi o segundo encontro da candidata do PT com prefeitos durante a campanha eleitoral. Há três semanas, em Montes Claros (MG), Dilma reclamou dos dirigentes municipais que não valorizam as realizações do governo, especialmente as ações de combate à seca na região.

No final do seu discurso, a presidente provocou a adversária na disputa eleitoral, Marina Silva, ao dizer que sempre acreditou no país. - Marina incorporou à sua propaganda a frase de Eduardo Campos em que o ex-candidato do PSB afirma que não desistirá do Brasil.

- Nós sempre acreditamos no Brasil, acreditamos no Brasil até dentro da cadeia, sendo torturados. Na democracia, é uma obrigação do cidadão brasileiro acreditar em seu país.

Marina: Brasil não precisa de gerente

• Candidata do PSB fez caminhada em Recife com propaganda dela ainda como vice de Campos

Letícia Lins – O Globo

RECIFE — Marina Silva fez na manhã deste sábado seu primeiro ato de campanha como candidata à Presidência da República pelo PSB com caminhada pelo bairro popular de Casa Amarela, no Recife. Sem tempo para refazer o material de campanha, muitos dos cartazes dispostos pelas ruas ainda constavam a imagem e nome de Marina como vice, ao lado de Eduardo Campos, morto na semana passada em acidente de avião.

Após comício no final da caminhada, a candidata do PSB disse que o Brasil não precisa propriamente de um “gerente”, nome muito utilizado pelo PT na campanha passada, para qualificar a presidente Dilma Rousseff.

- O Brasil tem essa história. É preciso ter um gerente. Mas a gerente tem que ter argumento. O Brasil pode até precisar de um gerente, mas precisa mesmo é de quem tem visão estratégica. O gerente tem que ter argumento para conversar. O ex-presidente Itamar não era gerente, mas tinha visão estratégica. Fernando Henrique era um acadêmico e também tinha visão estratégica. Lula era um operário e também tinha. Quando se tem visão estratégica, se sabe escolher os melhores gerentes -ressaltou Marina.

Marina disse ainda que não critica política de alianças, mas “alianças inadequadas”, e prometeu que, se eleita, vai governar com os “homens e mulheres de bem” do Congresso Nacional, sejam do PT, do PMDB, do PDT e até do PSDB.

- A nossa política de aliança vai ser respaldada pela sociedade brasileira. Eu sempre disse, desde 2010, que nós haveremos de ter maioria para governar, com a ajuda de homens e mulheres de bem, que existem em todos os partidos. Se tivermos um movimento da sociedade brasileira que leve o PSB à vitória, pode ter certeza que o PMDB de Pedro Simon e de Jarbas Vasconcelos não vai nos faltar. Que o PT do Eduardo Suplicy não vai nos faltar. E o PDT de Cristóvam Buarque também não vai nos faltar. E eu digo mais, mesmo que estejamos em palanques diferentes, tenho certeza de que o José Serra não vai nos faltar. Porque não é possível que as pessoas não entendam que temos que libertar a velha República. E a nova República tem que assumir a sua responsabilidade - explicou.

Sem aparentar cansaço e mostrando muita disposição, Marina subiu as ladeiras do bairro Casa Amarela sob os gritos de “1, 2, 3, 4, 5, mil, Marina presidente do Brasil”, entoado por cabos eleitorais e demais que acompanharam a candidata no percurso.
- Já votei em Marina para presidente uma vez e vou votar de novo, mas acho que Dilma é muito forte. Acho difícil Marina ganhar. Mas, quem sabe, não acontece com ela o mesmo que aconteceu com Lula, que tentou tantas vezes até chegar lá (na presidência) - opinou uma eleitora.

Um boneco gigante de Marina conduzido pelo candidato a deputado estadual Rodolfo Leandro, do Partido Verde, acompanhou a caminhada.

O ex-secretário de Meio Ambiente de Pernambuco e um dos responsáveis pela campanha de Marina, Sérgio Xavier, afirmou que, apesar do abatimento da candidata pela morte de Eduardo Campos, ela “está com energia” para a disputa presidencial.

À noite, ela participa de uma grande reunião com os 21 partidos que integram a Frente Popular em Pernambuco, que é liderada por Paulo Câmara (PSB), candidato escolhido pelo ex-governador Eduardo Campos para a sucessão estadual. A viúva, Renata Campos, não participou da caminhada.

Aécio diz que ele representa a realidade e Marina, o sonho

• Na avaliação de tucanos e democratas, crescimento da candidata nas pesquisas foi alavancada pela comoção com a morte de Eduardo Campos

Maria Lima – O Globo

SALVADOR - Em reunião com lideranças do Nordeste em Salvador, o candidato do PSDB, Aécio Neves, avaliou a candidatura de Marina Silva (PSB) na corrida presidencial, tomando o cuidado de não atacar a adversária. Coordenadores de campanha, governadores, prefeitos e candidatos locais consideram poder se valer da desconfiança na capacidade da ex-ministra do Meio Ambiente na gestão do país em um momento de crise para angariar votos. Ainda assim, pisam em ovos na redefinição das estratégias. Na visão de tucanos e democratas, Marina seria “o PT clorofilado”, o que, com o tempo, ela própria deixaria claro na campanha.

Por isso, a estratégia adotada no encontro foi a de confrontar o discurso da candidata do PSB à “capacidade de trabalho” de Aécio Neves, que na ocasião lançou o “Plano Nordeste”, um conjunto de 45 ações para a região que ele pretende implementar se for eleito.

- Neste momento é necessário, fundamental e indispensável a conexão com a realidade. Vamos sonhar juntos, mas nós é que temos as condições de transformar o sonho em realidade, que temos os melhores projetos para o país - discursou Aécio.

Na avaliação das lideranças do Nordeste, o crescimento de Marina nas intenções de votos se deve à comoção pela morte de Eduardo Campos.

- Marina virou santa. Com a exposição que teve no enterro de Eduardo, e que continua tendo na mídia, nem o Papa Francisco. Quando ela voltar para o nível dos mortais, vamos ver como fica o quadro. Agora tem que ter muito cuidado e trabalhar muito, não tem como chegar - avaliou o candidato ao Senado pelo Ceará, o ex-senador Tasso Jereissatti.

Tucanos e democratas acreditam que as desavenças dentro do PSB e entre os partidos coligados é um dos pontos fracos da candidatura da ambientalista, que ainda deve explicações sobre jatinho que vitimou Eduardo sem registro no TSE.

- Todos os homens públicos tem que estar preparados para responder sobre tudo, a qualquer tipo de indagação. Esse é um problema que o PSB vai ter que responder - afirmou Aécio.

- Se o caso do avião pegar em Eduardo, pega em Marina também - acrescentou Tasso.

Em Recife, Marina discursa com referências a Campos

• Nova candidata do PSB caminhou por ruas de bairro pobre e fez críticas à presidente Dilma

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

A nova candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, começou a sua campanha de rua neste sábado, 23, num bairro pobre do Recife, capital do Estado governado por Eduardo Campos por quase oito anos.

Marina voltou a Pernambuco uma semana depois de participar das cerimônias fúnebres em homenagem a Campos, morto num trágico acidente aéreo no último dia 13.

Ao lado do deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) indicado para ser vice da chapa presidencial, Marina caminhou por cerca de 1h30 pelas ruas de um bairro cheio de calçadas esburacadas e esgoto a céu aberto da zona norte do Recife.

Na terra do ex-companheiro de chapa, fez um discurso cheio de referências a Campos. Além de citar bandeiras do ex-governador, como a educação em tempo integral e o Pacto Pela Vida, repetiu as palavras do então candidato à Presidência sobre a região nordestina: "O Nordeste não é um problema para o Brasil, é a solução".

Assim como costumava fazer Campos, Marina também não poupou críticas à sua principal adversária na corrida presidencial, a petista Dilma Rousseff.

"Não adianta fazer um filme para dizer que está tudo azul quando a inflação começa a corroer o salário dos brasileiros", disse Marina em uma referência à propaganda na TV de Dilma, que exalta as conquistas do governo.

Caminhada. Marina caminhou ao lado do candidato do PSB ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara. O grupo era apresentado por um carro de som que dizia que eles eram os candidatos escolhidos por Campos.

Sob os gritos de "Eduardo presente, Marina presidente", a nova candidata cumprimentou eleitores, bateu fotos e parou para conversar com moradores.

Do alto de um palco, fez a sua primeira promessa: a de voltar ao Recife caso seja eleita presidente em outubro.

Em Salvador, Aécio promete aumentar renda diária de nordestinos

• Candidato desembarcou na capital baiana para lançar o programa "Nordeste Forte"; projeto de Aécio quer renda per capita mínima de US$ 1,25 por dia para famílias nordestinas

Pedro Venceslau e Thiago Décimo – O Estado de S. Paulo

O candidato à Presidência pelo PSDB, Aécio Neves, desembarcou neste sábado (23) em Salvador para lançar o programa "Nordeste Forte", tratado pela campanha como a maior vitrine do partido na região. Entre os principais pontos do projeto está a promessa de que as famílias nordestinas terão um renda per capita mínima de US$ 1,25 por dia.

Aécio também prometeu "evoluir o Bolsa-Família", tornando o programa uma "política de Estado". Uma das principais preocupações do presidenciável tucano nesta campanha é se blindar do que os tucanos chamam de "tática do medo", que consiste nos rumores de que uma vitória da legenda levaria ao fim dos programas de transferência de renda implantados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O projeto de Aécio promete também levar o programa Saúde da Família para toda a população nordestina e tirar do papel as obras de infraestrutura da região. Aécio também disse que em seu governo terminará a transposição e a revitalização do Rio São Francisco. O plano "Nordeste Forte" ainda prevê implantar um programa de desenvolvimento decenal (de dez anos), articulado com todos os Estados do Nordeste e com orçamentos aprovados pelo Congresso Nacional para recuperar a foz do Rio São Francisco e viabilizar projetos como o Baixio de Irecê, na Bahia, e a ligação entre as bacias do Parnaíba e do São Francisco.

Aécio também anunciou que pretende implantar no Nordeste o programa Poupança "Jovem Brasil", que deposita R$ 1 mil a cada ano no ensino médio por estudante.

A Bahia, quarto maior colégio eleitoral brasileiro, foi um reduto eleitoral da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula nas últimas eleições. Para dar peso ao evento deste sábado (23), Aécio convocou os principais líderes políticos tucanos nordestinos. Estão em Salvador Teotônio Vilela, governador de Alagoas; Cássio Cunha Lima, candidato ao Senado pela Paraíba; e Silvio Mendes, candidato a vice governador do Piauí.

Depois do evento, Aécio participará de um almoço com todos os coordenadores políticos de sua campanha na região Nordeste. A avaliação entre os tucanos é que, depois da morte de Eduardo Campos (PSB), é preciso investir fortemente na região para evitar que os eleitores do ex-governador de Pernambuco migrem para a presidente Dilma, candidata à reeleição pelo PT.

Em 1º ato como candidata, Marina diz contar com Serra

Daniel Carvalho – Folha de S. Paulo

RECIFE - Em sua estreia nas ruas como candidata à Presidência da República, a ex-senadora Marina Silva (PSB) fez um afago ao ex-governador José Serra (PSDB), do partido um de seus adversários de campanha Aécio Neves.

Ao discursar neste sábado (23) no Recife, Marina disse que vai contar, caso seja eleita, com apoio de políticos cujas siglas não a apoiam. Citou Pedro Simon (PMDB-RS), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Cristóvão Buarque (PDT-DF), Eduardo Suplicy (PT-SP) e o próprio Serra.

"Mesmo que estejamos em palanques diferentes, se não for o Suplicy e for o Serra, eu tenho certeza que ele não vai nos faltar. Porque não é possível que as pessoas não aprendam que nós temos que nos libertar da velha República", disse a senadora ao criticar "alianças inadequadas".

São Paulo
Em São Paulo, apesar da contrariedade de Marina, o PSB está aliado com o PSDB, partido ao qual fez críticas diretas e Serra era o nome de parte dos tucanos para disputar a Presidência até pouco antes do fim dos prazos estabelecidos pelo TSE.

"O PT e o PSDB fazem a polarização. Não se escutam. E se eles não se escutam, como vão escutar a sociedade brasileira?", questionou a ex-ministra em cima de um pequeno tablado sob o sol de meio-dia no bairro pobre de Casa Amarela, zona norte do Recife, terra do candidato Eduardo Campos, morto no último dia 13 em acidente aéreo, em Santos, no litoral paulista.

Após a substituição de Campos por Marina, pessebistas enfrentam dificuldades em palanques em outros Estados como Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Alagoas.

O deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), apresentado nesta manhã ao grande público como vice da chapa, ficou o tempo todo ao lado da candidata.

"A nossa política de alianças vai ser essa que vai ser respaldada pela sociedade brasileira", disse Marina.

"Eu sempre disse, desde 2010, que nós haveremos de ter maioria para governar com a ajuda dos homens e mulheres de bem do Congresso Nacional que existem em todos os partidos", afirmou a ex-senadora.

'Filme bonitinho' da Dilma
A candidata também fez críticas ao governo de Dilma Rousseff, outra adversária de Marina nestas eleições, e rebateu a presidente, que disse na sexta-feira (22) que a redução da meta de inflação implicaria em cortes em programas sociais.

"Nós temos que ter a clareza que essa lógica [de não permitir a redução da meta de inflação] é daqueles que não querem cortar outras coisas, inclusive o inchaço da máquina pública, onde já temos quase 40 ministérios, inclusive os desvios do dinheiro público e o privilégio de alguns setores que de uma hora para outra são ungidos", afirmou Marina.

Para ela, combater a corrupção também ajuda. "Se acabar com o toma lá da cá em torno dos ministérios, combatendo a corrupção, com certeza vamos conseguir combater a inflação, mantendo as prioridades para as políticas sociais. Isso é uma questão de escolhas. O problema é que tem gente que não quer mudar as escolhas", disse.

"Não adianta fazer filme bonitinho dizendo que está tudo azul, que está tudo cor de rosa, quando a inflação ameaça corroer o salário dos trabalhadores, quando o baixo crescimento é, sim, uma ameaça ao emprego daqueles que precisam trabalhar para sustentar suas famílias."

'Banco de reservas'
Segundo Marina, tem gente boa que está de fora do governo Dilma ou "no banco de reservas". "A sociedade brasileira tem que virar o técnico desta seleção para chamar os melhores para governar o Brasil."

Sem citar nominalmente Dilma, Marina criticou o estilo "gerente" de governar.

"Quando se tem visão estratégica, [quando] sabe unir a equipe, a gente consegue os melhores gerentes", afirmou.

Na semana em que Dilma e Aécio visitaram cidades nordestinas, Marina se referiu à região como "solução" e não "problema" para o Brasil, "desde que não seja visitado e afagado apenas no tempo das eleições para diminuir a diferença dos votos".

Após o discurso, Marina Silva respondeu a perguntas de jornalistas. No entanto, a entrevista coletiva foi feita em meio a dezenas de militantes.

Os jornalistas tiveram de fazer suas perguntas num microfone que transmitia tudo em caixas de som.

Quando um repórter perguntou sobre a propriedade do jatinho em que estava Eduardo Campos e outras seis pessoas, ele foi vaiado e chamado de "petista".

Questionada sobre o formato da coletiva, a assessoria da senadora disse que o evento era público e que as entrevistas não poderiam ser tratadas como algo "privado".

Quanto ao avião, Marina não respondeu e coube a Beto Albuquerque dizer que as informações necessárias estão sendo apuradas. O candidato a vice também disse querer "justiça".

"Queremos saber, e ainda não foi explicado, como esse avião caiu e matou o nosso líder. Queremos justiça nesse caso", disse o deputado.

Dilma afaga partidos que não a apoiam no RS

Gabriel Galli – Folha de S. Paulo

PORTO ALEGRE - Durante encontro com prefeitos do Rio Grande do Sul em Porto Alegre, neste sábado (23), a presidente Dilma Rousseff fez afagos a políticos de partidos que integram seu governo em Brasília, mas que, no Estado, não apoiam sua candidatura à reeleição.

Os elogios foram feitos a representantes do PMDB e do PDT. As duas siglas disputam a eleição local contra o governador petista Tarso Genro e se aliaram a adversários da presidente no plano nacional.

Um dos que receberam deferências de Dilma foi o peemedebista e ex-ministro da Agricultura Mendes Ribeiro Filho, com quem ela disse ter forte relação pessoal.

"Minha filha tinha quatro ou cinco anos quando ele tirava os danoninhos da geladeira. Ela perguntava quem tinha comido e eu respondia: 'Mendes Ribeiro'", brincou a candidata, arrancando risos da plateia.

A presidente agradeceu o apoio de Ribeiro Filho e usou a relação com ele para lembrar da participação do PMDB no governo federal. Peemedebistas e petistas são rivais no Rio Grande do Sul.

O candidato do PMDB ao governo do Estado, José Ivo Sartori, fechou acordo com Eduardo Campos (PSB) para apoiá-lo à Presidência. Com a morte do pernambucano, uma ala do partido ligada ao agronegócio, do qual Ribeiro Filho faz parte, resiste a endossar a candidatura de Marina Silva (PSB), que o substituiu.

Prefeitura
Dilma também voltou ao passado para homenagear o ex-prefeito e ex-governador Alceu Collares (PDT), presente no palco do evento.

"Vou cumprimentar o meu prefeito de Porto Alegre. Ele nunca fugiu de uma boa luta", afirmou Dilma, ela mesma oriunda do PDT.

Ela se declarou muito orgulhosa de ter sido secretária da Fazenda de Collares na prefeitura (1986-1989), e lembrou que enfrentava diversas dificuldades para viabilizar investimentos.

"Tínhamos que contar apenas com a gente mesmo e mais ninguém."

O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, também pedetista, elogiou programas federais como o Pronatec e o Mais Médicos, que, segundo ele, sanou as as necessidades de profissionais de saúde em bairros pobres da capital. "Hoje não faltam médicos na Restinga e na Lomba do Pinheiro", afirmou.

O candidato do PDT ao governo local, Vieira da Cunha, tem em sua coligação partidos aliados de outros presidenciáveis, como o PSC, do Pastor Everaldo, e o DEM, que apoia Aécio Neves (PSDB).

Arrocho
Em seu discurso, Dilma voltou a defender a política econômica dos governos petistas e atacou os adversários.

"Nós temos dois projetos. Um diz que deve arrochar, cortar gastos. No meu, nós criamos novas vagas de emprego no Brasil. Nós estamos fazendo uma revolução na mão de obra deste país com o Pronatec. Eu acreditei no Brasil quando fui presa e torturada. É nosso dever acreditar quando estamos numa democracia", disse.

Após o evento, em entrevista aos jornalistas, Dilma não quis comentar o acordo de delação premiada que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa aceitou fazer para deixar a prisão.

"Não falo sobre esse assunto. Não sei quais são os interesses dessa pessoa", disse.

A reportagem tentou questionar a presidente sobre a prótese dentária que a dona Nalvinha, a agricultora Marinalva Gomes Filha, recebeu na véspera de gravar um programa eleitoral com Dilma, conforme revelou a Folha, mas a presidente não respondeu.

Dona Nalvinha recebeu o benefício após um pedido direto do governo federal à Prefeitura de Paulo Afonso (BA). Segundo a Secretaria Municipal da Saúde de Paulo Afonso (BA), a agricultora recebeu atendimento após solicitação do Ministério do Desenvolvimento Social.

Semelhanças e diferenças: O Estado de S. Paulo - Editorial

Dizia Montesquieu que na política é essencial atentar para as semelhanças entre as coisas diferentes e as diferenças entre as coisas semelhantes. É natural que, decepcionados com a política e os políticos, os brasileiros tendam a acreditar, especialmente quando entra em cena o discurso eleitoreiro, que "político é tudo igual". Não é bem assim, claro. Por isso, no momento em que a campanha eleitoral ingressa em sua fase decisiva com o início da propaganda dita gratuita, é mais do que oportuno lembrar a recomendação do filósofo francês, um dos principais arquitetos do Estado moderno, e atentar para as principais diferenças entre os discursos das duas - pelo menos, até agora - mais importantes forças concorrentes no próximo pleito presidencial: o lulopetismo no poder e a oposição tucana.

Como bem observou a colunista Dora Kramer no dia seguinte à inauguração da propaganda no rádio e na TV, foi notável a "diferença central" na conceituação dos dois primeiros discursos de PT e PSDB no que diz respeito ao papel do governo na relação com a sociedade.

De fato, os programas inaugurais dos antagonistas Dilma Rousseff e Aécio Neves transmitiram mensagens substancialmente distintas, radicalmente divergentes, que com toda certeza marcarão o tom de toda a campanha: para o lulopetismo, o governo é o grande provedor do bem comum, o todo-poderoso gerente-geral da felicidade dos cidadãos e fora dele não há garantia de conquistas sociais e progresso. Para os tucanos, no Brasil de hoje o maior problema é o próprio governo do PT, que desde que o País deixou de surfar na onda internacional de prosperidade tragada pela crise de 2009 meteu os pés pelas mãos e, especialmente durante o mandato da atual presidente, não tem sido capaz de conter o retrocesso econômico que ameaça comprometer até mesmo as conquistas sociais e econômicas da administração Lula.

Dizer que as divergências entre os dois grupos são de natureza ideológica implicaria admitir que o balaio de gatos que abriga os atuais detentores do poder - petistas e "base aliada" - seja fiel a alguma ideia que não a do mero apego ao poder. O PT nasceu como resultado da associação do voluntarismo obreirista com os influxos progressistas da militância católica e a arrogância autoindulgente de intelectuais e acadêmicos "de esquerda". O tempo se encarregou de fazer vazar pelo ralo do fisiologismo as veleidades "redentoras" do partido "dos trabalhadores" e acabou sobrando apenas o séquito dos deslumbrados com as benesses do poder.

No que diz respeito ao outro lado, há quem se anime ainda a identificar traços do pensamento social-democrata que inspirou a fundação do PSDB, estabilizou a economia e recolocou o País nos trilhos do desenvolvimento social e econômico a partir de 1995. Escamoteado na campanha eleitoral de 2002, que acabou resultando na entrega do poder ao populismo lulopetista, esse pensamento permanece no momento à espera de alguma explicitação capaz de empolgar quem não se satisfaz em saber apenas o que não deseja para o País.

De modo que, se é difícil de identificar alguma substância programática no discurso dos dois principais, até agora, concorrentes à Presidência, o tom da campanha pelo menos revela claramente, de um lado, que na hipótese da reeleição de Dilma o que se pode esperar é mais do mesmo estatismo populista que, a continuar evoluindo na contramão da História, estará abrindo para os brasileiros as portas do paraíso bolivariano. De outro lado, os tucanos limitam-se a apontar os erros do governo, tarefa fácil na atual conjuntura - é isso que também se espera da oposição. Mas é muito pouco, mesmo que qualquer alternativa ao pesadelo lulopetista possa ser considerada uma bênção. O eleitor consciente merece mais do que ter de optar pelo que é menos pior.

O que importa é que existe, sim, uma diferença essencial entre a visão de mundo inerente ao discurso e à prática lulopetistas de que a sociedade precisa ser tutelada por um Estado todo-poderoso e onipresente, e a convicção oposta, escorada nos fundamentos da sociedade democrática, de que o poder deve ser exercido em nome dos interesses da cidadania e não ser monopolizado por autointitulados benfeitores da Humanidade incapazes de enxergar além do próprio umbigo.

Campanha de Marina inclui conselho popular em plano

• Texto prévio do programa de governo do PSB inclui ampliação dos canais de consulta popular, com mais plebiscitos e referendos, e apresenta plano de monitoramento de governos e parlamentares por conselhos; documento será lançado na sexta-feira

Isadora peron e Roldão Arruda - O Estado de S. Paulo

Com lançamento oficial previsto para sexta-feira, o programa de governo acertado entre a candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, e Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo, defende a ampliação dos canais de democracia direta, como plebiscitos e consultas populares, e o controle das atividades dos políticos por conselhos sociais.

Segundo o texto prévio do programa, que ainda pode sofrer alterações pela campanha, essas mudanças pretendem ser a resposta da candidatura às manifestações populares de junho do ano passado. "Elas revelaram ao mesmo tempo o distanciamento entre governos e população e o desejo de mudança na forma de administrar", diz o documento.

As propostas sobre democracia direta estão explicitadas de forma mais detalhada no primeiro dos seis capítulos, os chamados eixos, em que o programa foi dividido. É o capítulo intitulado Estado e Democracia de Alta Intensidade. Em outras partes do texto, porém, podem ser encontradas referências à ideia.

No capítulo Cidadania e Identidades, aparece a proposta de "implantar uma Política Nacional de Participação Social e incluir movimentos em conselhos e instâncias de controle social do Estado". É o mesmo que propunha a presidente Dilma Rousseff no decreto sobre Política Nacional de Participação Social, que, há três meses, provocou polêmica e reações no Congresso.

Costura. O programa deverá ter cerca de 250 páginas e trará propostas já externadas tanto por Campos quanto por Marina, como a autonomia do Banco Central, a viabilização do passe livre e o fim do fator previdenciário. Foi costurado pelo ex-deputado Maurício Rands, escolhido por Campos para representar os pontos de vista do PSB, e Maria Alice Setubal, a Neca, herdeira do Banco Itaú e representante da Rede - o partido que Marina tentou criar. Rands veio do PT e Neca tem sido uma das assessoras mais próximas da ex-ministra do Meio Ambiente (que também saiu dos quadros petistas) desde a campanha de 2010.

As ações de fortalecimento da democracia direta não objetivam o fim da democracia representativa, segundo o texto. Trata-se, afirma, de "revigorar a democracia representativa, aumentando a sua legitimidade". Em outra passagem afirma que se trata de "melhorar a qualidade e a representatividade".

Democracia digital. Repetindo o que já havia ocorrido em 2010, quando Marina concorreu à Presidência pelo PV, o programa valoriza de maneira notável o uso de novas tecnologias de informação, nas chamadas redes sociais. Elas teriam grande importância no novo processo democrático que, bem ao gosto da candidata, é chamado de "democracia colaborativa" e "democracia digital". Segundo o programa, "é preciso fortalecer os movimentos sociais consolidados e incluir os novos movimentos que, por meio das mídias alternativas, potencializam formas inovadoras de mobilização".

Uma das funções das redes seria contribuir para dar maior transparência às atividades do setor público. "Podemos radicalizar a transparência", diz. Outra função seria o controle dos políticos. Marina propõe "mecanismos de controle social de políticos eleitos, em instâncias próprias, para o exercício de pressão, supervisão, intervenção, reclamo e responsabilização".

No trecho sobre ciência e tecnologia está escrito que a conexão das pessoas à internet deve ser um "serviço essencial". Como a eletricidade e a água.

Estratégia. Para o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, as propostas de democracia direta no programa são frágeis. "Vejo mais como estratégia de comunicação do que como proposta de reforma da estrutura política. As questões são pouco aprofundadas e tentam refletir sobretudo aquele sentimentoantipartido que apareceu nas manifestações de junho", diz. "A Marina vai tentar surfar um pouco nisso. A Rede já tentava se marcar como um partido que não era partido, defendendo candidaturas avulsas e mecanismos de participação direta, como referendos."

Milton Lahuerta, coordenador do Laboratório de Política e Governo da Unesp, concorda que as manifestações refletiram antigo descontentamento com instituições políticas. Mas não acredita que as propostas de Marina sejam a resposta: "É preciso qualificar a democracia de alta intensidade. Ela se resume a plebiscitos e consultas populares? Isso tem um apelo retórico forte, mas pode nos criar mais problemas em relação a instituições políticas democráticas".

Qualificação. O problema brasileiro, diz ele, não é só de participação. "O que falta é participação qualificada. Isso fica evidente na fragilidade dos programas dos partidos. Se houvesse mais qualificação, as siglas seriam obrigados a apresentar programas com mais clareza e direção programática. Eles acabam procurando o eleitor mais desqualificado."

'As ruas não estão pedindo um novo salvador'

- O Estado de S Paulo

O Movimento Passe Livre foi o desencadeador e a principal referência das manifestações de junho de 2013, que acabaram refletindo o descontentamento da sociedade com políticos e instituições públicas. Destacado integrante do movimento, o professor Lucas Oliveira comenta a forma como os protestos estão refletidos agora no debate eleitoral.

Marina Silva tem sido apontada como a principal depositária das esperanças de mudanças que vieram dos protestos. Como vê isso?

O Movimento Passe Livre é apartidário. Em relação às eleições, o que fazemos é a análise das propostas na área de transporte. De maneira geral, a candidatura à Presidência da República tem pouca influência na questão do transporte municipal. Mas ele poderia encaminhar ações que levariam à tarifa zero, que é a nossa proposta. Nenhum dos três principais candidatos apoia isso, nem faz proposta no sentido de redução de tarifas - que foi o motivo inicial dos protestos em todo o País.

Qual candidato estaria mais próximo de ser o porta-voz do que as ruas disseram?

Nenhum. Bastar ver que nenhum estava na rua. Foi a população que saiu e conseguiu uma vitória histórica, que foi a redução de tarifas em várias cidades. Naquele momento, todos os grupos partidários foram obrigados a recuar perante a força dos manifestantes. PSDB, PSB, PT, PMDB, todos faziam parte de governos que aumentaram as tarifas e tiveram que voltar atrás.

Marina não estava nessas siglas.

Mas ela participa dos velhos esquemas de alianças partidárias. Hoje está no PSB, que fazia e continua fazendo parte do governo de São Paulo - um dos governos obrigados a recuar após os protestos. Neste ano o aumento das tarifas de transporte foi barrado pela Justiça em Belo Horizonte, cidade governada por Marcio Lacerda, do PSB, o partido que ela integra.

Você não vê novidade nessas alianças partidárias de agora?

Não. Continuam sendo alianças para ver como gerir o Estado e controlar a população. Os governos inicialmente tentam reprimir, depois procuram englobar as estruturas participativas e organizam milhões de reuniões que dificilmente encaminham as demandas populares. Por fim, se nenhuma das duas coisas dá certo e as manifestações permanecem, eles cedem.

As propostas de Marina de uma democracia mais direta não podem ser uma resposta?

É preciso deixar claro que as ruas não estavam pedindo por um novo salvador.

E quanto à ideia de melhorar as formas de ouvir a população?

O MPL não quer mais formas de ouvir a população. O que ele reivindica é a população decidindo diretamente. Se alguém ouve para depois executar, continua mantendo a população no papel de expectadora. O MPL defende a permanente mobilização das pessoas. Não acredita na via institucional, de cima para baixo. Se acreditássemos, estaríamos ajudando a construir alguma candidatura. E não estamos fazendo isso. / R.A.

Marina perde metade dos apoios estaduais fechados por Campos

• Ex-governador de PE havia acertado alianças em todos os Estados, mas muitas não tinham o aval da candidata

• Campanha da ex-ministra corre o risco de ficar esquálida em colégios eleitorais relevantes, como Minas

Daniela Lima, Diógenes Campanha, Patrícia Britto e Felipe Bächtold – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, PORTO ALEGRE - A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, deve perder ou abrir mão de cerca de metade dos palanques estaduais que tinham sido articulados por seu antecessor no posto, Eduardo Campos.

O ex-governador de Pernambuco, que morreu em um acidente aéreo, havia negociado apoios em todos os Estados. Dos 27 acordos fechados por ele, ao menos 14 devem naufragar com a substituição da candidatura.

Nesses locais, ou as alianças foram fechadas contra a vontade de Marina --que defendia candidatura própria--ou são protagonizadas por políticos que atuam em campo completamente diverso ao da ex-senadora.

Há ainda o risco de a campanha ficar esquálida em colégios eleitorais importantes, com a defecção de puxadores de votos que desistiram de disputar cargos após a morte de Campos.

Foi o que ocorreu em Minas Gerais, onde o candidato a governador do PSB, Tarcísio Delgado, não alcança dois dígitos. Os pessebistas, então, apostavam na candidatura de Alexandre Kalil, presidente do Atlético Mineiro, para assegurar uma boa bancada de deputados federais, e, por consequência, divulgar a candidatura presidencial. Mas ele desistiu de concorrer.

"Nada neste partido [PSB] me interessa. O que me interessava caiu de avião", disse, ao explicar a decisão.

Herança
Adversários de Marina esperam herdar parte do capital político que está se afastando da ex-senadora.

O PSDB, por exemplo, acredita que "naturalmente" deve haver uma aproximação maior entre seu candidato, Aécio Neves (MG), e candidatos de Estados como Mato Grosso do Sul, Alagoas e Santa Catarina.

Neste último, Campos havia costurado um acordo para que Paulo Bauer (PSDB) mantivesse um palanque duplo, indicando o candidato a senador da coligação, Paulo Bornhausen (PSB).

O pessebista tem dito que a coligação continuará ajudando Marina. Ele foi a uma das reuniões que o partido fez em Brasília que decidiu o futuro da campanha presidencial --mas ficou do lado de fora da sala onde foram tomadas as resoluções.

Há ainda dificuldades ideológicas no alinhamento de Marina com candidatos defendidos por Campos no resto do país. No Mato Grosso do Sul, Nelson Trad Filho (PMDB) havia feito um acordo com Eduardo Campos, que indicou a candidata a vice na chapa do peemedebista.

Muito ligado ao agronegócio, Nelson Trad encontra resistência entre os marineiros, e, por sua vez, teme a resistência de seus aliados e financiadores a Marina.

A escolha do novo vice de Marina, Beto Albuquerque, deputado gaúcho com trânsito entre os ruralistas, foi vista como uma tentativa da ex-senadora de facilitar o contato com esse grupo ou ao menos reduzir a antipatia do setor à sua candidatura.

Merval Pereira: O papel dos partidos

- O Globo

Com o retorno da ex-senadora Marina Silva ao proscênio da vida política brasileira na disputa pela Presidência da República, está em debate a importância dos partidos na democracia representativa. Marina, em reunião com aliados no primeiro dia de candidata, insistiu no descrédito do que chama de “velha política” junto à opinião pública e ressaltou que a aliança que importa neste momento é com a sociedade, não com os partidos.

Em outra ocasião, disse que o presidente “não é propriedade de um partido. A sociedade está dizendo que quer se apropriar da política. E as lideranças políticas precisam entender que o Estado não é o partido, e o Estado não é o governo”. Sua velha amiga e agora coordenadora da campanha presidencial, Luiza Erundina, do PSB, fizera há algum tempo uma crítica a essa visão de Marina, que agora foi revivida na internet.

Erundina dizia, em síntese, que Marina, embora seja “uma pessoa maravilhosa”, “entra no senso comum da sociedade do ponto de vista de negar a política, de negar o partido. Tanto é que (criou) uma Rede, não partido. Acho que isso desorganiza, deseduca politicamente. Não há política e não há democracia sem partidos. Pode ser um partido dentro da concepção do que ela defende, mas não negando o partido, não negando a política”.

O tema foi também abordado esta semana pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em palestra no ciclo "Novos olhares" – Perspectivas políticas do século XXI: crise e reinvenção da democracia –, na Academia Brasileira de Letras, sob a coordenação do historiador José Murilo de Carvalho. Segundo Fernando Henrique, “se quisermos repensar a democracia não podemos cair na armadilha de achar que com menos liberdade e com autoritarismo se vá conseguir. É preciso reafirmar que não se trata de cancelar a democracia representativa, mas de ampliá-la, de encontrar mecanismos que possam comunicar a democracia representativa com as outras formas de manifestação da sociedade”.

Ele ressaltou que alguns passos já estão sendo dados, que não há lei importante que não seja apresentada na internet para consulta pública, ou mesmo decisões que são tomadas após audiências públicas. “Geralmente quem se apresenta para opinar são os grupos de interesse, daí a necessidade de ter mecanismos de representatividade, como é o Congresso”, comentou.

O risco, advertiu, é fazer isso de forma autoritária.

“O decreto criando os conselhos populares é o oposto disso. É o Estado tentando organizar a sociedade civil, um passo para aumentar o grau de controle do Estado sobre o indivíduo”.

As transformações havidas na sociedade foram de tal natureza, e o empoderamento do indivíduo é crescente de tal maneira, que os partidos ficaram limitados diante das expectativas gerais que existem”,
disse.

“Estamos em uma época em que é preciso fazer uma releitura da pessoa”, lembrou o expresidente.

“Não se trata da volta ao individualismo, quem está ligado a uma rede está opinando, é parte daquilo, mas tem sua individualidade. Nada a ver com ser do partido e seguir a orientação geral”.

O mundo contemporâneo implicaria preservar essa capacidade de escolha e ao mesmo tempo fazer parte, ter uma identidade, que é global. “Sonho, talvez, mas uma possibilidade que se divisa como nunca antes.

Acrescentar ao interesse de pessoa, ao de uma classe, de nação, o que diz respeito a uma comunidade mais
ampla, à Humanidade”. Mas Fernando Henrique disse não acreditar que sem as instituições esses mecanismos tenham condições de duravelmente afetarem o comportamento das pessoas. “Acho que é preciso prestar atenção à representação, a despeito de todas as dificuldades, é preciso tentar dar vida aos partidos. E fazer com que os partidos tomem partido. Como eles partem de uma posição de apenas querer votos, não tomam partido, e ao não tomar partido as pessoas não acreditam no que dizem”.

“Os partidos passaram a ser um agregado de pessoas que querem um pedacinho do orçamento. O sistema é corrompido. Isso é a deterioração da democracia representativa”, insistiu Fernando Henrique. Para ele, reinventar a democracia é um processo social em curso.

Mas fez uma ressalva: “a cultura política brasileira precisa ser alterada, sem essa mudança nada acontecerá. E essa mudança cultural se dá pela exemplaridade, pela repetição, pelo embate, e nós ainda não
temos uma cultura democrática”.

Dora Kramer:Desnorteados

- O Estado de S. Paulo

Enquanto o PSB corre para apaziguar divergências internas e vencer resistências externas ao nome de Marina Silva, o PT e o PSDB andam com cuidado, sabendo que pisam em terreno minado: a concorrência de uma candidatura que mexe com o emocional do eleitorado.

É sobre o sonho de muita gente de eleger um governante do "bem" que Dilma Rousseff e Aécio Neves terão de caminhar nos próximos 40 dias.

Período difícil e completamente imprevisível, dizem os números captados diariamente pelas campanhas por meio de consultas telefônicas que não têm o rigor científico das pesquisas, mas registram tendências de crescimento de Marina em relação ao último Datafolha, onde ela aparecia com 21%.

Na ocasião a ex-senadora ainda não havia sido confirmada como candidata do PSB nem chegado ao auge da exposição no noticiário, o que se deu ao longo da semana a partir do domingo, data do enterro de Eduardo Campos.

Embora em público simulem tranquilidade, os adversários temem Marina. Um perigo cuja dimensão exata eles ainda preferem esperar de uma semana a dez dias para medir. Desde já, no entanto, têm consciência de que uma coisa são os desacertos políticos das alianças partidárias e outra bem diferente as demandas do eleitorado.

Marina é uma figura vista como mítica. Transita numa espécie de altar acima do bem e do mal e fazê-la descer dele será uma tarefa espinhosa. Neste aspecto, PT e PSDB criaram uma rara zona de convergência de interesse: os tucanos querem estar no segundo turno e os petistas querem que eles estejam porque acham mais fácil derrotá-los.

A ordem na campanha de Aécio Neves é não atacá-la para não transformá-la em vítima e preservar o voto do eleitorado dela para eventual segundo turno. Os tucanos esperam que o PT faça esse serviço. Mas os petistas também têm dificuldade de travar esse combate candidata a candidata. O mais provável é que o façam por intermédio da tropa virtual que atua na internet.

O PSB acredita que o "chumbo" - não identifica a natureza - sairá do PT e que o PSDB atuará na linha da desqualificação administrativa.

Quando, como e se conseguirão transferi-la do imaginário para o lado racional do eleitor sem dar tiros nos próprios pés é o desafio a ser vencido.

Missão Renata. A retirada barulhenta de Carlos Siqueira da campanha de Marina Silva deflagrou no PSB uma operação de emergência para a redução de danos. Homem da estrita confiança de Eduardo Campos, de total influência no partido do qual é secretário-geral, Siqueira também desfruta da intimidade da família Campos.

Renata, a viúva de Eduardo, foi acionada para convencer Siqueira a não se afastar do partido para não desmobilizar a militância e se dedicar às campanhas dos governadores, senadores e deputados. Se possível, sem hostilizar Marina.

Labirinto. Muito difícil entender a lógica da presidente Dilma Rousseff. Ela considera natural que o governo exerça pressão sobre o Tribunal de Contas da União para evitar que os bens da presidente da Petrobrás, Graça Foster, sejam bloqueados. Semana passada, porém, recusou-se a comentar a posição do PT sobre o julgamento do mensalão alegando que como presidente não pode se imiscuir em decisão de outro Poder.

Dilma acha injusto que se investigue com rigor a compra da refinaria de Pasadena, mas não se faça o mesmo com dois casos ocorridos da empresa durante o governo Fernando Henrique: o afundamento da Plataforma P-36 e a troca de ativos com a Repsol. Não explica, contudo, por que os governos do PT não tomaram a iniciativa de pedir investigação.

A presidente lamenta o uso da Petrobrás como arma política, enquanto seu partido faz da empresa há três eleições uma de suas principais armas políticas.

Eliane Cantanhêde: Itamarina

- Folha de S. Paulo

Pensando bem, há semelhanças entre Marina Silva e Itamar Franco, que, contrariando expectativas, se tornou o homem certo na hora certa. Não só Deus, também a história e a política muitas vezes escrevem certo por linhas tortas.

Marina tem voto, Itamar não tinha, mas os dois eram vices e tiveram sua grande chance na vida por um golpe do destino. Marina foi alçada à cabeça de chapa por uma fatalidade, a morte de Eduardo Campos. Itamar chegou à Presidência pelo imponderável, o impeachment de Fernando Collor.

Sem um partido para chamar de seu, Marina pulou no barco do PSB, mas não no avião que matou Campos. "Foi a providência divina", justificou, reforçando o que seus companheiros acrianos mais criticam nela: a arrogância de se sentir "predestinada", enquanto constrói sua imagem em cima do oposto: a humildade.

Sem se impor no velho PMDB e no mundo político tradicional, Itamar pulou no PRN, mas caiu fora quando o Titanic afundou.

Antes de Collor ir a pique, as forças políticas jogaram uma boia para Itamar. Engoliram divergências e ambições imediatas, unificaram o discurso da governabilidade e fecharam um cerco para dar sustentação à transição com Itamar. Só um partido optou pelo seu próprio projeto, em detrimento do esforço geral: o PT. Que o diga Luiza Erundina, hoje no topo da campanha de Marina. Virou ministra de Itamar e foi banida do ambiente petista.

Ao abrir mão da reeleição, Marina faz um chamamento aos partidos. Caso derrote Aécio no primeiro turno e Dilma no segundo, ela será a única presidente, desde Itamar, em condições de convocar um pacto nacional com as principais forças políticas do país. Particularmente com o PSDB, já que o PT vive de apoios, mas não apoia o outro.

O PSDB precisaria de Marina no segundo turno, mas ela dependeria do PSDB também para governar. Quase tanto quanto Itamar dependeu.

João Bosco Rabello: Novo cenário desafia Aécio

- O Estado de S. Paulo

Se as consultas telefônicas (tracking) realizadas pelos partidos, nos últimos três dias, estiverem próximas da realidade, a pesquisa do Estadão/Ibope, prevista para o início da semana, confirmará um esperado crescimento de Marina Silva entre seis e sete pontos porcentuais, situando a intenção de voto na ex-senadora na casa dos 27%.

Mesmo com as melhoras recentes em seus porcentuais, é provável que a presidente Dilma Rousseff fixe como teto os 38% que a mantêm na liderança no presente estágio da campanha, o que concentra as atenções no desempenho do candidato do PSDB, próximo de ocupar o terceiro lugar na corrida sucessória.

O tempo passa a conspirar contra Aécio Neves, cuja visibilidade ainda precisa ser ampliada, em sincronia com o desafio de traduzir para o eleitor as razões pelas quais se considera a "mudança consistente" desejada por quase 80% dos pesquisados.

Sua dificuldade aumenta porque Marina dá maior visibilidade à convergência de propósitos entre PSB e PSDB, não só no plano econômico, mas também no político.

Por isso, Marina reafirma o compromisso com os fundamentos do Plano Real, que deu estabilidade econômica ao país, acrescentando a autonomia do Banco Central, acenando para o mercado que vê em Aécio a garantia desse resgate.

No campo político, levanta a bandeira do fim da reeleição, cuja iniciativa foi de Aécio, sem a mesma repercussão obtida agora na voz da ex-senadora. Da mesma forma, o princípio de que o Estado não é um partido e que o governo não é o Estado, é uma síntese liberal do ideário tucano, mas que ganha tom de novidade com Marina.

São razões que expõem a impropriedade para o PSDB de adiar o enfrentamento com Marina, por temor de produzir um efeito danoso à campanha, até porque, o real órfão de Campos é o PSB.

Essa dificuldade é real para o PT, que já teve a ex-senadora em seus quadros, não só o partidário, mas o de governo, dos quais saiu por discordar da prática contrária aos princípios que hoje ressalta.

Para o PSDB, a aposta deve ser a de investir na incógnita que Marina representa como gestora, nunca testada, e de seu perfil político, cuja inflexibilidade projeta um eventual governo sem alianças sólidas que o sustentem com um grau razoável de estabilidade.

Ferreira Gullar: Mais perguntas que respostas

• Marina Silva ir para o segundo turno, e não Aécio Neves, é, creio eu, o maior temor de Lula e sua turma

- Folha de S. Paulo -Ilustrada

Como têm observado os comentaristas políticos, a morte de Eduardo Campos e sua consequente substituição na candidatura à Presidência da República, por Marina Silva, mudou radicalmente o quadro político eleitoral.

Antes que ela manifestasse a decisão de substituir Eduardo como candidata ao governo do país, já os dois outros candidatos temiam pelo que viesse a acontecer. Sem dúvida, no mínimo, o projeto de campanha eleitoral que haviam elaborado não serviria mais.

Como a candidatura de Marina parecia inevitável, Lula teria telefonado para Roberto Amaral, presidente do PSB, sugerindo que desistissem de apresentar outro candidato e voltassem a aliar-se ao PT, como antes da ruptura provocada por Eduardo Campos.

Não resta dúvida que Roberto Amaral sempre teve simpatia por Lula e Dilma, razão por que este teria tentado convencê-lo a retirar seu partido da disputa presidencial.

Roberto Amaral não teria dito nem sim nem não, claro, mesmo porque não tinha ele autoridade para tomar tal decisão. A rigor, digo eu, nem se atreveria a prometê-la, já que isso soaria como traição ao companheiro que acabara de morrer tragicamente.

Se essa conversa aconteceu mesmo, não posso afirmar; o que sei é que, como dizia Brizola, "Lula é capaz de pisar no pescoço da mãe" para não perder o poder. Sem dúvida, se ele conseguisse impedir a candidatura de Marina, as eleições de outubro estariam vencidas por Dilma Rousseff.

Sucede que a exclusão do PSB da disputa eleitoral é inviável, não só pela identificação que nascera entre Marina e Eduardo, como porque a desistência seria como uma espécie de suicídio do partido.

Outra alternativa que, conforme se fala, poderia ajudar a candidatura de Dilma seria conseguir que Marina, no caso de ficar em terceiro lugar, tomasse a mesma atitude que tomara, em 2010, quando Dilma e Serra disputaram o segundo turno: ela simplesmente se omitiu, não disse a seus eleitores que votassem em Serra e, com isso, garantiu a vitória de Dilma.

Só que, desta vez, ao que tudo indica, caso Aécio vá para a disputa final com Dilma, Marina não adotaria a mesma atitude, uma vez que sua relação com o PT é hoje muito diferente.

Na verdade, ela o tem como seu inimigo, quando mais não seja, porque deve ter atribuído a ele, pelo menos em parte, não ter conseguido registrar seu partido na Justiça Eleitoral. Sim, porque não interessava ao PT que ela se candidatasse outra vez.

Porém, e se nas eleições deste ano ocorrer o contrário, se ela, e não Aécio, for para o segundo turno? Esse é, creio eu, o maior temor de Lula e sua turma. Numa tal hipótese, não resta dúvida de que Aécio apoiaria a candidatura de Marina Silva e, caso isso ocorra, dificilmente Dilma seria eleita.

Mas é evidente que tudo isso são hipóteses. Acredito que razoavelmente baseadas em possibilidades reais, em observações aceitáveis mas, de qualquer modo, discutíveis. Além disso, neste momento em que a morte de Eduardo Campos comove a nação, as considerações que fiz aqui levam em conta a influência que esse fator emocional terá na decisão dos eleitores.

Mas pode ser que, passado este momento, questões mais objetivas --como a inflação, as dificuldades econômicas que o país enfrenta, os problemas relacionados com a saúde, com a educação e a com segurança-- passem a determinar a escolha do eleitor em outubro.

Claro que isso é possível, mas tudo dependerá de como os candidatos de oposição --e particularmente Marina Silva-- consigam valer-se desse fator emocional para convencer o eleitor de que é possível livrar o país do populismo lulopetista.

Não se trata, evidentemente, de usar a morte de Eduardo Campos para chantagear o eleitor e, sim, de chamá-lo a participar de um momento decisivo para o futuro do país, fazê-lo crer que nem todo político é corrupto e demagogo.

Enfim, valer-se do fator emocional, para trazer o eleitor desencantado a confiar na mudança. Nesse sentido, pode ser que a candidatura de Marina consiga atuar de maneira decisiva, como já se viu na primeira pesquisa em que ela aparece. Isso é precisamente o que Lula e seu pessoal não querem. Para eles, quanto mais abstenção, melhor.

Elio Gaspari: O ‘faço porque posso’ de Graça Foster

- O Globo

Quem acompanha a desenvoltura do comissariado petista habituou-se a conviver com notícias chocantes. Assessor de deputado com dólares na cueca ou o vice-presidente da Câmara voando no jatinho de um doleiro. Ainda assim, pode (se quiser) atribuir esses malfeitos às deficiências do gênero humano. Aí, aparecem os repórteres Vinicius Sassine, Eduardo Bresciani e Demétrio Weber e informam:

Entre março e abril, a presidente da Petrobras, Graça Foster, doou a seus dois filhos um apartamento no Rio Comprido, outro em Búzios e uma casa na Ilha do Governador. (A mesma generosidade bafejou Nestor Cerveró, diretor da Petrobras, levando-o a doar aos filhos e a um neto dois apartamentos no Leblon e outro em Ipanema.)

Desde 2012 o Tribunal de Contas da União investigava a encrenca da Petrobras na compra da refinaria de Pasadena, que poderia resultar no bloqueio de bens do petrocomissariado. Ele efetivamente ocorreu, meses depois das doações. Na quarta-feira, quando o TCU decidia se deveria bloquear também o patrimônio de Graça Foster, veio a informação da transferência dos bens. “É grave, porque é como se fosse uma tentativa de burlar o caso”, disse o ministro José Jorge, relator do processo no Tribunal.

Faz sentido que Cerveró tenha decidido fazer as doações, afastando a mão da Viúva caso ela queira de volta o que perdeu em Pasadena. Ele participou da operação. Graça Foster, não. Ademais, carrega uma tiara de benignidade. Entrou na Petrobras como estagiária, foi a primeira mulher a sentar-se na sua diretoria, chamaram-na de “clone da Dilma” e “Dama de Ferro”. Admitindo-se que os imóveis transferidos sejam medida de seu patrimônio, depois de 36 anos de trabalho, a engenheira Foster chegou à presidência de uma das maiores empresas do mundo com a mixaria de dois apartamentos e uma casa de praia. Qualquer lasca de contrato de uma plataforma rende mais que isso.

Pela cronologia, a doação de Graça Foster comprometeu sua biografia. O fato de ter feito algo parecido com o que fez Cerveró, juntou-a a ele, quando as tramas de Pasadena dissociavam-na.

Foram ações temerárias, produto do “faço porque posso”, sentimento que se infiltra nos poderosos, levando-os a acreditar em coisas que não fazem sentido e a correr riscos que a razão aconselha evitar. Quando Graça Foster assumiu a presidência da Petrobras viu-se festejada pela competência e também pela origem. Teria crescido numa favela do Complexo do Alemão. Nos anos 50, sua família vivia na Penha, um bairro de classe média. Nas décadas seguintes, onde algumas franjas degradaram-se com a expansão do que se conhecia apenas como “favela do Alemão”. A “favelada” pagara seu material escolar catando papéis e latas de alumínio. Nessa época, era comum que crianças vendessem a quilo jornais velhos da família ou mesmo de vizinhos. Quanto às latas de alumínio, não existiam. Graça mudou-se para a Ilha do Governador em 1965, quando tinha 12 anos.

A petista favelada e catadora de papel na presidência da Petrobras era uma alegoria-companheira. Ninguém está livre da falácia das narrativas, mas elas podem ser contidas. Dilma Rousseff poderia ter contido a história segundo a qual era doutora pela Unicamp. O general americano Colin Powell, que chegou a secretário de Estado, era filho de imigrantes jamaicanos e crescera no Bronx. Construiu-se a falácia do menino negro saído de uma comunidade violenta e degradada. Powell fez questão de dizer que na medida em que ascendia a posições de relevo, sua origem tornava-se cada vez mais humilde e o Bronx, mais miserável. Ao seu tempo, era apenas um bairro de classe média baixa de Nova York.

Elio Gaspari é jornalista