sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

Nós fizemos a opção por Marina, que era a vice de Eduardo Campos e que irá continuar o projeto oposicionista deste grande líder. Aliás, o projeto mais contundente na crítica à gestão econômica do governo Dilma. Mas não somos adversários de Aécio. É fundamental a candidatura de Marina para termos um 2º turno. Não entender isso é ajudar o adversário. Fazer campanha contra Marina ou Aécio é ajudar o PT e fazer campanha para Dilma.

Roberto Freire, deputado Federal e presidente nacional do PPS. Em entrevista, Brasília,19 de agosto de 2014.

Dilma defende Graça e direito de pressionar TCU

Escândalos na Petrobras

• Presidente diz que doação de bens já está explicada e acusa oposição de usar estatal como arma eleitoral

Eduardo Bresciani – O Globo

FLORESTA (PE) - A presidente Dilma Rousseff fez ontem uma veemente defesa da presidente da Petrobras, Graça Foster, um dia após o site do GLOBO revelar que Graça e Nestor Cerveró, ex-diretor da estatal, doaram imóveis aos filhos durante a investigação da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Dilma disse que o repasse de bens aos parentes já foi explicado, referindo-se à nota oficial da Petrobras em que Graça diz que tomou a iniciativa de transferir os apartamentos em junho de 2013, antes do escândalo.

Dilma disse ainda que considera uma defesa "do interesse da União" a pressão feita por ministros do governo junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) para evitar que Graça Foster tenha seus bens bloqueados. A petista afirmou também que os casos registrados durante a administração tucana na estatal não foram investigados "com o mesmo denodo".

O site do GLOBO revelou anteontem que Graça Foster e Cerveró repassaram a propriedade de imóveis a parentes quando o assunto já estava sob investigação no TCU. No caso de Graça, o repasse de dois imóveis aconteceu em 20 de março, um dia depois de Dilma ter afirmado que aprovou a compra de Pasadena por ter se baseado em "parecer falho" elaborado por Cerveró.

Na nota de anteontem, Graça nega que tenha tentado burlar o processo no TCU. Mas em junho de 2013, quando diz que começou o processo de doação, o caso já era investigado pelo tribunal.

- A presidente Graça Foster respondeu perfeitamente sobre a questão dos seus bens numa nota oficial. Eu repudio completamente a tentativa de fazer com que a Graça Foster se torne uma pessoa que não possa exercer a presidência da Petrobras. Sabe por quê? Porque, se fizerem isso, é pelos méritos dela - disse Dilma, após visitar as obras da transposição do Rio São Francisco, no semiárido de Pernambuco.

Comparação com governo Fernando Henrique
Dilma listou números para destacar o aumento da produção de petróleo na gestão de Graça. Ela ainda levantou dois casos envolvendo a Petrobras no governo Fernando Henrique Cardoso: o afundamento da plataforma P-36 e a troca de ativos com a Repsol. A presidente acusou a oposição de usar a Petrobras como arma eleitoral.

- Eu lamento profundamente a tentativa a cada eleição de se fazer, primeiro, uma CPI da Petrobras, segundo, de se criar esse tipo de problema. Eu me pergunto por que ninguém investigou com esse denodo o afundamento da maior plataforma de petróleo? Por que, apesar de estar em ação popular, ninguém investiga a troca de ativos feitos com a Repsol? - disse ela: - Acho extremamente equivocado colocar a maior empresa de petróleo da América Latina e a maior empresa do Brasil, sempre durante a eleição, como arma política - complementou.

Questionada sobre a atuação dos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Luís Inácio Adams (Advocacia Geral da União) ao pressionar o TCU para evitar o bloqueio de bens de Graça, Dilma defendeu a atitude dos auxiliares:

- A Petrobras é controlada pela União, a diretoria representa a União. É de todo o interesse da União defender a Petrobras, a diretoria. Nada tem de estranho esse fato. Pelo contrário, é dever do ministro da Justiça, de qualquer ministro do governo, defender a Petrobras.

Em Brasília, o vice-presidente, Michel Temer, disse que não há ilegalidade no fato de Graça Foster e Cerveró terem doado imóveis durante as investigações do TCU.

- Sob o foco jurídico é a coisa mais natural que acontece, doações com usufruto. Pelo que vi nos jornais, a doação foi feita bem antes da primeira decisão do Tribunal de Contas, lá pelos idos de março. Não vou entrar no mérito, evidentemente, mas não há ilegalidade nenhuma. A coisa mais comum na área jurídica é fazer doações. Agora, a razão que levou a doar é subjetiva - disse Temer

TCU vai investigar se houve 'dissimulação de patrimônio'

• Auditores pedirão certidões aos cartórios; oposição pede anulação de doações e demissão de Graça

Vinicius Sassine, André de Souza e Isabel Braga – O Globo

BRASÍLIA - O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, determinou ontem que os auditores responsáveis pelo processo sobre a refinaria de Pasadena solicitem aos cartórios do Rio os registros das doações de imóveis a parentes feitas pela presidente da Petrobras, Graça Foster, e pelo ex-diretor Nestor Cerveró. Nardes se reuniu ontem, no Rio, com o secretário de Controle Externo de Estatais do TCU, Osvaldo Perrout, e pediu que os dados oficiais sejam obtidos para que se verifique se houve "dissimulação" do patrimônio na iniciativa de Graça e Cerveró.

Anteontem, a votação do pedido de bloqueio de bens da presidente da Petrobras foi adiada em razão da revelação feita pelo GLOBO sobre a doação de imóveis. Os ministros decidiram, então, que uma diligência será realizada para comprovar a veracidade das informações.

O relator do processo, ministro José Jorge, prometeu colocar a questão do bloqueio de bens de Graça em votação já na próxima quarta-feira. A tendência é que ele não espere a conclusão da diligência, para que o processo não atrase ainda mais e por entender que as explicações já apresentadas por Graça e Cerveró confirmam a transferência do patrimônio. Nardes e Jorge devem se reunir amanhã para discutir se o melhor é pautar a questão já na próxima sessão.

- Como presidente, tomei providência sobre a diligência deliberada em plenário. Precisamos primeiro comprovar, para depois avaliar se foi dissimulação. O fato é grave, se comprovado. Isso criou um impacto negativo muito grande dentro do tribunal. O processo de tomada de contas especial é longo. Esse é apenas o início do aprofundamento dessa questão, e medidas ainda poderão ser tomadas mais à frente - disse Nardes.

O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno, protocolou um pedido para que seja anulada a doação de imóveis de Graça e Cerveró. O requerimento foi enviado ao procurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Paulo Bugarin. Para Bueno, as doações se configuram "fraude contra os credores em caso de uma futura responsabilização cível". Pelo requerimento, a anulação da transação se daria por meio de ajuizamento de ações judiciais, diante de atos "claramente lesivos ao patrimônio da União". O MP junto ao TCU pode pedir a anulação e o plenário pode determinar a medida, uma vez que já houve decisão do colegiado no sentido de bloquear os bens de dez gestores e ex-gestores da Petrobras.

PSDB vê crime de fraude processual
Em outra frente, o PSDB anunciou que pediu à Procuradoria Geral da República que seja aberta investigação de suposto crime de fraude processual. Outros parlamentares da oposição também defenderam que Graça Foster não tem mais condições de se manter no cargo.

- Toda essa movimentação se configura como uma obstrução ao trabalho da Justiça. Eles empreenderam a ação de ocultamento e repasse de patrimônio. É um ato gravíssimo que só suja ainda mais sua gestão à frente da empresa. Graça Foster perdeu a condição de continuar na presidência da Petrobras - afirmou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

- Se não tivessem a proteção política que têm, isso seria motivo para decretar a prisão preventiva - disse o líder do Solidariedade, Fernando Francischini (PR): - A presidente Dilma, tendo daqui a alguns dias o patrimônio (de Graça Foster) bloqueado, e tentando fraudar a decisão do TCU, não tem mais condição de mantê-la na presidência da Petrobras. Agora, na dialética petista, isso não é motivo para tirar ninguém.

AGU teria de recorrer à Justiça para anular doação

• Medida pode ser determinada se o TCU constatar fraude à execução do processo

Vinicius Sassine – O Globo

Uma eventual confirmação de que houve dissimulação de bens, no ato de transferi-los a terceiros, pode levar o Tribunal de Contas da União (TCU) a determinar que a Advocacia Geral da União (AGU) adote medidas judiciais para anular esse tipo de transação. A medida precisa fazer parte de um acórdão aprovado em plenário, por sugestão do ministro relator, de qualquer outro ministro ou do Ministério Público junto ao TCU. Aprovada a medida, a AGU teria de recorrer à Justiça para pedir a anulação.

A doação de imóveis a parentes por parte da presidente da Petrobras, Graça Foster, e do ex-diretor Nestor Cerveró pegou os ministros do TCU de surpresa, tanto que não há consenso sobre o que deve ser feito de imediato. Dois ministros consideram que pode ter havido "fraude contra credores" ou até mesmo "fraude à execução" do processo que já determinou o bloqueio de bens.

Uma discussão que deve ocorrer em plenário é se doar um apartamento a um filho se configura dissimulação de patrimônio, numa contexto de bloqueio de bens. Para um integrante do tribunal, "está claríssimo" que houve dissimulação no caso de Graça e Cerveró e que a revelação vai sensibilizar os ministros. O advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, já afirmou que só haveria ocultação de bens se os imóveis fossem transferidos a laranjas, e não a familiares.

O ministro Walton Alencar, que chegou a votar contra o bloqueio dos bens de Graça, disse a interlocutores que a notícia "não afeta em nada" sua decisão anterior. Dois ministros que acompanhariam Alencar - Raimundo Carreiro e Benjamin Zymler - chegaram a dizer que poderiam mudar o teor do voto, pois teriam ficado assustados com a iniciativa. Os votos só serão conhecidos em plenário.

Lula diz que imprensa é 'principal partido de oposição' a Dilma

• No segundo programa eleitoral na TV, ex-presidente repete ataques a 'certa imprensa'; Marina Silva é apresentada como candidata e lembra Campos, e Aécio fala em 'fé inabalável em Deus'

Lilian Venturini, José roberto Castro e Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Em mais uma participação no horário eleitoral gratuito da TV, exibido na tarde desta quinta-feira, 21, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu os ataques à imprensa, definida pelo petista como o "principal partido da oposição" à presidente Dilma Rousseff (PT). A exemplo dos programas do rádio, Marina Silva foi apresentada como a nova candidata do PSB, após a morte de Eduardo Campos. Aécio Neves (PSDB) voltou a criticar a gestão petista e falou em "fé inabalável em Deus" como um dos eixos para um novo caminho para o País.

Ao criticar a imprensa, Lula afirmou que a campanha eleitoral serviria para o eleitor conhecer as ações de Dilma em sua gestão. "Dilma continuou a mudar o Brasil enfrentando as piores dificuldades que um presidente teve nos últimos tempos e uma das piores campanhas negativas de certa imprensa, que se transformou no principal partido de oposição", disse. Momentos antes, Dilma enumerou obras de seu governo e disse: "Muita gente no Brasil não sabe que estamos realizando obras desse porte". As falas de Lula, que ocuparam 2 minutos dos 11min24s da propaganda, compõem um dos motes da campanha petista, "a verdade vai vencer a mentira", também repetida pelo o ex-presidente ao final das imagens.

Houve ainda críticas a governos anteriores. Dilma disse que o País sofre com "obstáculos herdados daquele tempo em que o Brasil não se organizava para planejar e executar". No programa, a presidente enumerou obras de sua gestão, com destaque para as que estão em execução no Nordeste, entre elas a transposição do rio São Francisco e a construção de usinas hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau. Mostrou ainda ampliação de rodovias e rodovias. "Por isso, quando dizem que o Brasil está parado, eu até acho graça", emendou.

Aécio. O programa de Aécio Neves (PSDB) repetiu trechos apresentados na estreia do horário eleitoral. O tucano voltou a dizer que o "Brasil está pior", que a economia parou de crescer e, por isso, o brasileiro "quer mudança". Na parte final, simulando uma entrevista "pinga fogo", Aécio disse que a saúde será "prioridade" em seu governo, que terá "tolerância zero" com a inflação e que a corrupção é "inaceitável". Quando perguntado sobre como seria construído um futuro governo, Aécio respondeu: "Ética, eficiência e uma inabalável fé em deus". Ele também voltou a prometer que cortará pela metade os atuais 39 ministérios.

Na propaganda dos deputados pelo partido, Aécio apareceu pela primeira vez pedindo votos aos correligionários.

Marina. O PSB trouxe Marina Silva pela primeira vez, com trechos do discurso lido por ela nesta quarta-feira, 20, quando foi oficializada candidata. O programa começou com imagens do velório e enterro do ex-governador Eduardo Campos. Enquanto as imagens eram exibidas, Marina lia um discurso em homenagem ao ex-companheiro de chapa.

Durante o depoimento, a ex-ministra falou sobre o projeto político elaborado com Campos. "Que saiamos do trauma da perda de Eduardo dispostos a nos entendermos para levarmos adiante nossa missão", disse. "O programa é, em si mesmo, o pacto selado, o acordo maior que nos une", complementou.

A oficialização da candidatura de Marina ocorreu após o PSB e Rede definirem compromissos e projetos de campanha. Nesta quinta, porém, o secretário-geral do partido e coordenador da campanha de Campos afirmou que deixará a função. Divergências sobre as mudanças no comando da campanha teriam motivado o rompimento. Marina atribuiu o episódio a um "mal entendido".

Coordenador-geral diz que Marina não representa Campos e deixa campanha

• Carlos Siqueira, primeiro-secretário do partido que abrigou ex-ministra, abandona posto de comando um dia após anúncio de chapa

João Domingos, Daiene Cardoso, Ricardo Della Coletta e Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

Descontentes com a candidatura de Marina Silva, coordenadores da campanha presidencial do PSB deixaram nesta quinta-feira seus cargos, no dia seguinte ao anúncio oficial da nova chapa. Ex-coordenador-geral da campanha de Eduardo Campos - que morreu na semana passada em um acidente aéreo -, o primeiro-secretário da sigla, Carlos Siqueira, se demitiu dirigindo duras críticas à ex-ministra e provocando a primeira grande crise na campanha.

"Ela está longe de representar o legado de Eduardo Campos", afirmou Siqueira, que deixou a coordenação-geral depois que Marina impôs dois nomes de sua confiança na cúpula da campanha: Bazileu Margarido no comitê financeiro e o deputado Walter Feldman (PSB-SP) na coordenação. O primeiro-secretário chegou a dizer que a candidata é apenas uma hóspede na legenda. Na noite de quinta-feira, a direção do PSB anunciou que a deputada Luiza Erundina (SP), próxima de Marina, vai assumir a coordenação-geral, tendo Feldman como adjunto na função.

Porém, além de Siqueira, outros dois nomes da coordenação indicados por Campos vão deixar a campanha: o coordenador de mobilização e articulação, Milton Coelho, e Henrique Costa, economista amigo do ex-governador pernambucano que estava à frente do comitê financeiro. "Meu compromisso era com o Eduardo", resumiu Coelho.

Arrecadação. As baixas da ala próxima a Campos explicitaram a difícil convivência entre integrantes do PSB e da Rede Sustentabilidade nesta nova fase. A aposta entre partidários do ex-governador é que a ascensão de Bazileu à chefia financeira deverá afetar a arrecadação de campanha por parte do PSB. A Rede não aceita doações de empresas de armas, fumo, agrotóxicos e bebidas.
Empresa do grupo Ambev doou R$ 1,5 milhão para o comitê de Campos, que arrecadou R$ 8,2 milhões nos primeiros 25 dias de campanha, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.

Para Siqueira, a nomeação do chefe do comitê financeiro é responsabilidade do partido. O ex-coordenador disse que a ex-ministra quer dominar o PSB e que não tem nenhum vínculo ideológico com Campos. "Não participo de nada que tenha a senhora Marina Silva. Ela não é do PSB", afirmou. "Ela não perguntou ao partido e não agiu de acordo com um partido que está oferecendo a ela as condições que nós oferecemos."

A ex-ministra ingressou no PSB em outubro do ano passado após a Justiça Eleitoral negar registro à Rede por falta do número mínimo de assinaturas validadas necessárias. Então candidata a vice, Marina assumiu a candidatura presidencial após a morte trágica de Campos.

"Quando se está em uma instituição que é a hospedeira, ela não pode mandar nessa instituição. Marina que vá mandar na Rede dela. No PSB manda o PSB", reagiu Siqueira.

Ele disse que Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, que avalizou a escolha de Marina à candidatura presidencial, “não deve estar sabendo o que está se passando no partido”.

Na reunião de anteontem na Fundação João Mangabeira - instituto político do PSB, presidido por Siqueira -, antes de Marina ser anunciada candidata a presidente, o primeiro-secretário reagiu com irritação quando a ex-ministra disse que Feldman estava indo para a coordenação da campanha. "Você está me afastando? Você não tem noção de que fui eu que segurei esse acordo entre o PSB e a Rede. As divergências são imensas e você pensa que elas não existem."

Segundo participantes da reunião, Marina pediu desculpas: "Siqueira, você me entendeu mal", disse ela. Mas o coordenador permaneceu irredutível. Disse que o PSB corria risco até de desaparecer e que ele não mais participaria da campanha.

'Injustiça'. Informada sobre a decisão de Siqueira, Marina disse ontem que estava “muito tranquila” com sua consciência e atribuiu a situação à “gravidade do momento e ao tensionamento” causado pela morte de Campos. “Há que ter compreensão com as sensibilidades das pessoas. E essa capacidade eu tenho. Eu prefiro sofrer uma injustiça do que praticar uma injustiça.”

Para o presidente do PSB, Roberto Amaral, trata-se de “problema corriqueiro” e “pessoal” de Siqueira.

Marina acena ao mercado com lei para BC autônomo

• Coordenadora do programa diz que candidata assumirá compromisso de Campos

• Aliada da ex-senadora afirma que operadores do mercado serão procurados para equipe da campanha

Fernando Rodrigues – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Maria Alice Setubal, a Neca, coordenadora do programa de governo de Marina Silva, afirma que a candidata a presidente pelo PSB reafirmará os compromissos feitos anteriormente por Eduardo Campos a respeito de conceder autonomia formal, por lei, ao Banco Central.

Em entrevista à Folha e ao UOL, Neca disse que, ao longo da campanha, mais economistas "estarão se aproximando" e terão mais o perfil de "operadores" do mercado, para compensar a característica mais acadêmica da maioria dos atuais conselheiros.

Essa é uma tentativa de Marina se qualificar mais como uma candidata confiável aos olhos do establishment financeiro e empresarial. O programa de governo da campanha presidencial do PSB deve ser lançado no próximo dia 29. A candidata também estuda fazer um discurso ou um documento mais sucinto a respeito de seus compromissos na área econômica.

Neca disse que a meta de inflação num eventual governo Marina permanecerá em 4,5%, mas será perseguida uma política que permita chegar a 3% a partir de 2019.

Neca tem 63 anos e é uma das acionistas do Banco Itaú. Tornou-se amiga de Marina desde a campanha de 2010. Com que frequência conversam? "Quase todo dia."

A partir da consolidação de Marina como candidata a presidente, revela Neca, cresceram as ofertas de doações. Quando fala da presidente Dilma, avalia que a petista "tem uma incapacidade de ouvir. Desagrega".

Leia trechos da entrevista:

Folha/UOL - O programa de governo do PSB tratará da legalização do aborto e descriminalização da maconha?
Neca Setubal - O programa não entra em nenhum desses dois temas. Política de drogas estará dentro da área de saúde, em termos de prevenção, de recuperação. Não entramos na questão da descriminalização da maconha, nem a favor nem contra. Em relação ao aborto, vamos tratar em termos de direitos humanos. Ninguém é a favor do aborto, mas a favor de dar suporte às mulheres.

Legalização do aborto não é mencionada?
Não é mencionada.

Qual é sua posição pessoal?
Em relação ao aborto, sou a favor. Acho que é um direito das mulheres. Acho que deveria ser liberado. Em relação às drogas, não tenho uma posição. Acho muito complexo.

Eduardo Campos falava numa meta de inflação de 4,5% nos próximos quatro anos para assumir 3% a partir de 2019. Isso vai estar no programa?

Vai. Dessa forma, exatamente. Isso está explícito.

Marina concorda com todos esses pontos e vai assumi-los?
Vai assumi-los. Ela tinha se posicionado em alguns pontos de uma forma diferente do Eduardo. Por exemplo, o caso do Banco Central. Ela não achava que precisaria de uma lei para dar mais autonomia. Mas acho que são os consensos. Existiam diferenças e o programa reflete o que é de consenso. Então ela, enfim, aceitou isso.

No caso do Banco Central, como Campos propunha, com mandatos para o presidente e os diretores?
Será assumido pela Marina. A declaração dela é que vai assumir todos os compromissos do Eduardo.

No caso do BC, uma lei seria proposta?
Muitas vezes, Marina falava: "Bom, isso não era a minha posição, mas foi a posição do Eduardo e a gente concordou com isso". Então, ela vai assumir essas posições.

Há no programa alguma explicação objetiva sobre como fazer para que a inflação recue para 4,5% ao ano?
Nesse detalhe, não. Mas o programa foca pontos muito claros. Destaca metas da inflação, o tripé [macroeconômico]. Destaca fortemente a reforma tributária, a responsabilidade fiscal muito grande da qual o Eduardo falava. Marina manterá isso.

Há em geral dúvida sobre a falta de experiência administrativa de Marina. Como ela responderá a essa crítica?
Hoje, temos uma presidente cujo perfil é de gestão, pragmático, racional. Talvez o oposto da Marina. E o resultado que nós temos é bastante insatisfatório. Toda essa fala da Dilma gestora se desfez ao longo de quatro anos. O mercado visualizando as pessoas que estão ao lado dela vai ter muito mais segurança. Ela já tem vários economistas. Terá outras, mais operadoras.

Onde errou o governo Dilma?
O principal problema do governo Dilma é a questão política. Ela tem uma incapacidade de ouvir. Tem um discurso absolutamente racional, de uma gerente, gestora. É bom ser gestora, mas tem que ter liderança. Acho que ela não tem essa capacidade política. Ela desagrega.

O século 21 é o século do novo. Acho que a Dilma reproduz uma liderança masculina. A Dilma é aquela pessoa dura, que bate na mesa, que briga, que fala que "eu vou fazer, eu vou acontecer, eu sei". Isso é, no estereótipo, do coronelismo brasileiro, do político tradicional que vai resolver tudo sozinho.

Coordenador do PSB deixa campanha e critica Marina

• Ex-prefeita de SP, a deputada Luiza Erundina assumirá comando da equipe

• Carlos Siqueira, que perdeu o cargo, disse que a candidata não representa Eduardo Campos "nem de longe"

Ranier Bragon Natuza Nery e Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia depois de ser anunciada como candidata à Presidência pelo PSB, Marina Silva recebeu nesta quinta (21) o apoio de quatro das outras cinco siglas da coligação, mas viu surgir a primeira crise pública de sua campanha.

Conforme a Folha antecipou, o coordenador-geral da campanha, Carlos Siqueira, abandonou a função dizendo que "nem de longe" Marina representa o projeto construído por Eduardo Campos.

"Ela não representa o legado dele, está muito longe de representar. (...) Ela que vá mandar na Rede dela, porque no PSB mandamos nós", afirmou Siqueira, antigo auxiliar do ex-governador Miguel Arraes que hoje controla grande parte da máquina partidária.

Ele nunca foi próximo de Marina, que se filiou ao PSB em outubro após não conseguir colocar de pé seu partido.

O rompimento entre ela e Siqueira se deu na quarta-feira (20), quando Marina, já consolidada como a substituta de Campos, indicou pessoas de sua confiança para postos-chave da campanha.

Siqueira considerou isso uma "grosseria" e se dirigiu a Marina aos gritos. "Eu disse que não aceitaria aquilo e afirmei: A senhora está cortada das minhas relações pessoais"", contou Siqueira.

A candidata afirmou apenas ter havido um "equívoco" e uma "incompreensão".

À noite, o PSB informou que a ex-prefeita de São Paulo e atual deputada Luiza Erundina assumirá a coordenação-geral da campanha.

Erundina sempre teve pouco poder dentro do PSB, partido para o qual migrou após abandonar o PT. Mas é muito ligada a Marina, tendo sido convidada por ela para participar de seu ato de filiação ao PSB em outubro de 2013.

A candidata também emplacou o ex-deputado Walter Feldman, um de seus principais aliados na criação da Rede, como coordenador-geral-adjunto da campanha.

Bazileu Margarido, que foi chefe de gabinete de Marina no Ministério do Meio Ambiente, será o novo tesoureiro. O deputado Márcio França --vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo-- também deverá integrar a equipe de arrecadação.

Outra baixa do PSB na campanha deverá ser a de Milton Coelho, que participava da área de mobilização. Ele disse a integrantes da sigla que seu compromisso era com Campos e que não vê razão para permanecer.

O presidente do PSB, Roberto Amaral, negou ruído com o grupo de Marina. Mas deu a entender que irá substituir todos os integrantes do partido que atuavam no comando da campanha.

Em reunião nesta quinta, PPS, PRP, PPL e PHS aprovaram a substituição de Campos por Marina, tendo o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) como vice. Das seis legendas que apoiavam Campos, só o PSL (Partido Social Liberal) não deve dar aval à nova chapa, apesar de continuar na coligação.

Apesar da crise, Marina disse na reunião desta quinta, segundo relatos, ter a convicção de que possui chances reais de vitória --em 2010, ela ficou em terceiro lugar, com quase 20% dos votos válidos.

A turma de Marina
WALTER FELDMAN
O ex-deputado tucano é um dos principais aliados de Marina na criação da Rede. Será seu homem de confiança na coordenação-geral da campanha à Presidência
BAZILEU MARGARIDO
Foi chefe de gabinete de Marina quando ela era ministra do Meio Ambiente, durante o governo Lula. Agora, será o tesoureiro-chefe da campanha do PSB
NECA SETUBAL
Herdeira do banco Itaú, foi co-responsável pelo programa de governo de Marina. É uma de suas interlocutoras com o mundo empresarial
LUIZA ERUNDINA
Está no PSB desde que deixou o PT, mas sempre teve poder limitado na sigla. Muito ligada a Marina, a deputada coordenará a campanha com Walter Feldman

Os dirigentes do PSB
BETO ALBUQUERQUE
Deputado federal pelo RS, é filiado histórico do PSB e tem a confiança do partido. Foi indicado pela legenda para a vaga de vice na chapa de Marina
ROBERTO AMARAL
Presidente do PSB, foi um dos que trabalharam para que o partido apoiasse a reeleição de Dilma Rousseff (PT). Agora, demonstra engajamento na candidatura de Marina
MÁRCIO FRANÇA
Tesoureiro do PSB e candidato a vice na chapa à reeleição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Sua aproximação com os tucanos foi criticada pela Rede
CARLOS SIQUEIRA
Primeiro-secretário do PSB, tinha a confiança de Eduardo Campos. Acusa Marina de mexer na coordenação de campanha sem discutir com o partido

Marina enfrenta resistências no PSB

• Candidata destacou dois emissários para dialogar com o agronegócio

Cristiane Jungblut, Mariana Sanches e Sérgio Roxo – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Como forma de neutralizar resistências de vários setores à sua candidatura à Presidência pelo PSB, Marina Silva adotou um discurso mais ameno em relação a temas sensíveis, como agronegócio e energia, a partir do momento em que seu nome foi oficializado como substituta de Eduardo Campos. Mesmo sem um documento, Marina transformou seus posicionamentos numa espécie de declaração de pontos de vista e do que deve nortear o programa de governo.

O documento formal do programa de governo será lançado na próxima sexta-feira e todos os pontos haviam sido discutidos previamente com Marina e Eduardo Campos. O documento terá 240 páginas, com uma versão light, de 20 páginas.

Apoio e financiamento
No tema mais controverso no que se refere às suas posições, o agronegócio, Marina usou tom mais brando, alegando que existem setores no Brasil preocupados em compatibilizar economia e ecologia. Ela defendeu a implementação, de fato, do Código Florestal, embora acenando para a possibilidade de mudanças.

A candidata foi além, e destacou dois de seus principais aliados - o ambientalista João Paulo Capobianco e o vereador e empresário Ricardo Young - para conversar com empresários e tentar angariar apoio e doações para a campanha. O objetivo deles é derrubar a imagem de que Marina é contra o agronegócio e se opõe a avanços tecnológicos como sementes transgênicas.

Capobianco e Young contarão com o reforço do empresário Guilherme Leal, sócio da Natura, que em 2010 foi candidato à vice-presidente ao lado de Marina. Leal já estava apoiando a chapa de Campos financeiramente - doara R$ 400 mil segundo a primeira prestação de contas -, mas agora, segundo interlocutores, está "muito entusiasmado" em assumir algum papel na campanha. Seu engajamento é visto como importante para atrair a confiança do empresariado.

Amanhã, Young e Capobianco terão uma reunião em São Paulo com o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Gustavo Junqueira. Junqueira afirmou ao Globo que vê a aproximação com entusiasmo.

Marina e ruralistas estiveram historicamente em lados opostos, tanto no combate ao desmatamento na Amazônia quanto em assuntos de biossegurança. Mais recentemente, o embate se deu por conta da aprovação do Novo Código Florestal. Mas, no entendimento da campanha, ganhar aliados entre o agronegócio é fundamental não apenas pelos votos e pelo apoio financeiro, mas para evitar propagandas negativas à candidata. Entre marineiros, há a percepção de que alguns ruralistas têm ajudado a disseminar o estereótipo de evangélica fundamentalista a respeito de Marina Silva. Integrantes da campanha não descartam, inclusive, escrever uma carta de intenções aos ruralistas para deixar claro que Marina não pretende ser um entrave na atividade econômica do setor.

Defesa do etanol
A conversa com ruralistas começou antes mesmo da oficialização da candidatura de Eduardo e Marina. O ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues participou de conversa com a cúpula de apoiadores de Marina no Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), criado pela ex-senadora. A campanha acredita que receberá o apoio do setor canavieiro, que tem Rodrigues como um de seus representantes, pela defesa da candidata ao etanol, considerado um combustível mais limpo do que a gasolina.

- Nos surpreendemos com a procura de apoiadores nesta semana. Vários setores do agronegócio, empresas de energia elétrica, setor financeiro já nos procuraram e demonstraram disposição de conversar. O empresariado não quer mais a Dilma (Rousseff, candidata à reeleição) e vai para quem tiver mais chance de vencê-la - afirmou Young, que até o fim do mês deverá se licenciar do cargo de vereador para se dedicar exclusivamente à campanha de Marina.

Aécio tenta conter 'efeito Marina' no Rio e em SP

• Contando com o Sudeste para chegar ao segundo turno, tucano reforçará presença nos dois estados

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO - RIO e São Paulo foram identificados pela campanha do presidenciável Aécio Neves (PSDB) como os estados em que a candidatura dele está mais suscetível a um eventual "efeito Marina Silva" (PSB). Diante disso, em caráter preventivo, a orientação é reforçar a campanha nos dois redutos, principalmente em suas regiões metropolitanas. O PSDB quer evitar que a entrada de Marina na eleição prejudique o crescimento de Aécio. O tucano conta com o desempenho no Sudeste para chegar ao segundo turno.

- Antes da Marina, você tinha o seguinte cenário no Rio: quem não era Dilma votava em Aécio. Agora, quem não é Dilma pode não ser um voto de Aécio - resumiu um dos integrantes da campanha tucana.

Aliados de Aécio avaliam que a figura da ex-senadora é muito forte e admitem que a entrada dela na eleição traz preocupação. Em 2010, Marina terminou o primeiro turno em segundo lugar, impondo mais de 700 mil votos de vantagem sobre o então candidato do PSDB, José Serra.

Os tucanos acreditam que Dilma Rousseff vencerá o primeiro turno no Rio, mas dizem estar confiantes que Aécio ficará em segundo lugar. Pesquisas feitas pela campanha estariam apontando uma perda maior de votos por parte de Dilma do que de Aécio no estado com a entrada de Marina.

A campanha está programando um reforço de pessoal nas ruas e de material casado de Aécio com os candidatos a deputado. Até agora, como o PSDB tem pouca força no Rio, esse trabalho estava sendo feito majoritariamente pelo PMDB. Também há apoiadores do senador que dizem ser necessária uma mudança de discurso no Rio.

- Até a semana passada, nosso discurso era desmontar a Dilma. Agora, precisamos de um discurso mais sofisticado, com foco na Marina - afirmou um auxiliar do presidenciável.

Aécio volta ao Rio hoje para agenda na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR). Na segunda-feira, o tucano estará novamente no estado. Ele vai andar pela Saara e pegar a barca rumo a Niterói, onde fará corpo a corpo no Centro e Icaraí. ( Colaborou Juliana Castro )

Aécio tenta aproximação com 'orfãos' de Campos

• Tucanos querem aproveitar resistência a Marina para fortalecer palanques estaduais

Pedro Venceslau e Elizabeth Lopes - O Estado de S. Paulo

O comando de campanha do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, elaborou um plano de ação para cooptar aliados do ex-governador Eduardo Campos insatisfeitos com a escolha de Marina Silva como candidata do PSB ao Palácio do Planalto. Parte dos aliados de Campos, morto em um acidente aéreo no dia 13, tem resistência à ex-ministra do Meio Ambiente, em especial os mais próximos do agronegócio.

Durante reunião na noite de anteontem na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, os tucanos decidiram, nas palavras de um participante, "atuar nas divergências" formadas no bloco de apoiadores articulado por Campos.

Um dos primeiros alvos da estratégia tucano é o candidato do PP ao governo de Alagoas, Benedito de Lira, que apoiava Campos na disputa presidencial. Presente ao encontro em São Paulo, o governador Teotônio Vilela (PSDB), que vai encerrar o segundo mandato em dezembro e não pode se reeleger, recebeu a missão de convencer Lira a abrir palanque para Aécio. O candidato do PP está em segundo lugar nas pesquisas, atrás de Renan Filho (PMDB), e a campanha do PSDB alagoano patina: o partido trocou de concorrente e Júlio Cézar obteve 2% no último levantamento.

Outro potencial aliado é o peemedebista Nelson Trad Filho, que estava fechado com Campos em Mato Grosso do Sul, mas já indicou descontentamento com a escolha feita pelo PSB, dada a resistência do agronegócio, setor importante da economia estadual. Trad Filho enfrenta o petista Delcídio Amaral, líder nas pesquisas locais.

Os tucanos também buscam aproximação com o governador Zé Filho (PMDB), candidato à reeleição no Piauí que dividia o palanque local entre Aécio e Campos, e o gaúcho José Ivo Sartori (PMDB).

Pizza. Na reunião no Palácio dos Bandeirantes estavam, entre outros, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o candidato a vice de Aécio, Aloysio Nunes Ferreira; o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM); o senador José Agripino (DEM-RN), coordenador da campanha tucana; o deputado Paulinho da Força (SDD-SP) e o ex-governador Alberto Goldman. O grupo comeu pizza e debateu quais seriam as estratégias no cenário pós-Campos. "Não nos assusta o eventual crescimento de Marina nas próximas pesquisas. De qualquer forma, nosso adversário continua sendo a (presidente) Dilma (Rousseff)", afirmou Agripino.

Outro presente ao encontro relatou que o grupo já dá como certo a vantagem de Marina acima da margem de erro nos próximos levantamentos. A aposta é que a ex-ministra fique 5 pontos à frente de Aécio. Na pesquisa Datafolha divulgada na segunda-feira, Marina tinha 21% e Aécio, 20%, cenário de empate técnico - Dilma ficou com 36%.

A avaliação no comando aecista é que a comoção com o velório e enterro de Campos deve ser captada nas próximas pesquisas. Marina seria vista como "a viúva" desse espólio político. Para amenizar esse efeito, os coordenadores regionais da campanha foram instruídos a fazer atos públicos para evitar a desmobilização da militância.

No fim do encontro, ficou acertado que Aécio não vai atacar diretamente Marina para "não criar um fantasma". Os correligionários vão assumir a tarefa de tentar colar a imagem de “inexperiente” em Marina. O Nordeste receberá atenção especial, para evitar que Dilma herde os votos de Campos.

Marina abranda discurso e acena para setores críticos a seu nome

• Candidata destacou dois emissários para dialogar com o agronegócio

Cristiane Jungblut, Mariana Sanches e Sérgio Roxo – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Como forma de neutralizar resistências de vários setores à sua candidatura à Presidência pelo PSB, Marina Silva adotou um discurso mais ameno em relação a temas sensíveis, como agronegócio e energia, a partir do momento em que seu nome foi oficializado como substituta de Eduardo Campos. Mesmo sem um documento, Marina transformou seus posicionamentos numa espécie de declaração de pontos de vista e do que deve nortear o programa de governo.

O documento formal do programa de governo será lançado na próxima sexta-feira e todos os pontos haviam sido discutidos previamente com Marina e Eduardo Campos. O documento terá 240 páginas, com uma versão light, de 20 páginas.

Apoio e financiamento
No tema mais controverso no que se refere às suas posições, o agronegócio, Marina usou tom mais brando, alegando que existem setores no Brasil preocupados em compatibilizar economia e ecologia. Ela defendeu a implementação, de fato, do Código Florestal, embora acenando para a possibilidade de mudanças.

A candidata foi além, e destacou dois de seus principais aliados - o ambientalista João Paulo Capobianco e o vereador e empresário Ricardo Young - para conversar com empresários e tentar angariar apoio e doações para a campanha. O objetivo deles é derrubar a imagem de que Marina é contra o agronegócio e se opõe a avanços tecnológicos como sementes transgênicas.

Capobianco e Young contarão com o reforço do empresário Guilherme Leal, sócio da Natura, que em 2010 foi candidato à vice-presidente ao lado de Marina. Leal já estava apoiando a chapa de Campos financeiramente - doara R$ 400 mil segundo a primeira prestação de contas -, mas agora, segundo interlocutores, está "muito entusiasmado" em assumir algum papel na campanha. Seu engajamento é visto como importante para atrair a confiança do empresariado.

Amanhã, Young e Capobianco terão uma reunião em São Paulo com o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Gustavo Junqueira. Junqueira afirmou ao Globo que vê a aproximação com entusiasmo.

Marina e ruralistas estiveram historicamente em lados opostos, tanto no combate ao desmatamento na Amazônia quanto em assuntos de biossegurança. Mais recentemente, o embate se deu por conta da aprovação do Novo Código Florestal. Mas, no entendimento da campanha, ganhar aliados entre o agronegócio é fundamental não apenas pelos votos e pelo apoio financeiro, mas para evitar propagandas negativas à candidata. Entre marineiros, há a percepção de que alguns ruralistas têm ajudado a disseminar o estereótipo de evangélica fundamentalista a respeito de Marina Silva. Integrantes da campanha não descartam, inclusive, escrever uma carta de intenções aos ruralistas para deixar claro que Marina não pretende ser um entrave na atividade econômica do setor.

Defesa do etanol
A conversa com ruralistas começou antes mesmo da oficialização da candidatura de Eduardo e Marina. O ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues participou de conversa com a cúpula de apoiadores de Marina no Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), criado pela ex-senadora. A campanha acredita que receberá o apoio do setor canavieiro, que tem Rodrigues como um de seus representantes, pela defesa da candidata ao etanol, considerado um combustível mais limpo do que a gasolina.

- Nos surpreendemos com a procura de apoiadores nesta semana. Vários setores do agronegócio, empresas de energia elétrica, setor financeiro já nos procuraram e demonstraram disposição de conversar. O empresariado não quer mais a Dilma (Rousseff, candidata à reeleição) e vai para quem tiver mais chance de vencê-la - afirmou Young, que até o fim do mês deverá se licenciar do cargo de vereador para se dedicar exclusivamente à campanha de Marina.

O pensamento da candidata

Agronegócio:
"Discordo da ideia de que o agronegócio, de forma homogênea, tem restrições (à minha candidatura). Existem vários agronegócios. Tem muita gente que já está na vanguarda de integrar economia e ecologia. Discordo que nossos agricultores produzam sem agenda social e ambiental".

Código florestal:
"Existe na lei um conjunto de medidas que precisam ser tomadas. O Código Florestal foi aprovado no Congresso, e em relação a qualquer lei que não é cláusula pétrea, propostas podem ser apresentadas para melhorá-la. Nosso compromisso é implementar o Código Florestal".

Energia:
"Temos o compromisso de resolver de forma estrutural esse problema que se arrasta. Essa política energética está custando caro ao povo brasileiro. Infelizmente, estamos sujando a matriz energética brasileira. O que está sendo feito com as térmicas (para os momentos de baixa nos reservatórios) tem que ser reduzido (porque o modelo não pode ficar estruturado em usinas térmicas)".

Inflação:
"Em relação à questão da inflação, espero, como dizia Eduardo Campos, que a gente possa não perder este patrimônio do povo brasileiro. Infelizmente, a presidente Dilma vai entregar o país pior (do que recebeu)".

Banco Central:
"Essa é uma questão em que não havia diferença entre os partidos que sustentam a nossa aliança. Defendemos a autonomia do Banco Central como fundamental para restabelecer a segurança da política macroeconômica. Esse foi um tema que foi tratado sem nenhuma divergência dentro da nossa equipe econômica e dentro da nossa relação com os demais partidos".

Relação política:
"Os que estavam lá (no enterro de Campos), mesmo com divergências, deram contribuição, avançaram com o fim da inflação, com a inclusão social. Teremos a disposição de dialogar com o Brasil. Não vamos usar as redes sociais para mentir, caluniar, difamar quem quer que seja. Campanha clara e transparente como eram os olhos de Eduardo".

José Maurício Domingues: O novo cenário eleitoral e mais além

Que a contingência comanda os destinos humanos é sabido, que ela teria tanta força para transformar o cenário de 2014, algo bem mais inesperado. A eleição parecia congelada e morna. A trágica morte de Eduardo Campos, a exemplo das manifestações de 2013, a alterou radicalmente, embora mudanças com o início do horário eleitoral não estivessem descartadas. Marina Silva já mostra seu potencial para canalizar insatisfações e votos antes sem desaguadouro. O segundo turno tornou-se inevitável e seu resultado, imprevisível. Se Dilma Rousseff entra na eleição com o maior cabedal de votos e uma base popular sólida e aparentemente imexível, Aécio Neves vê suas chances minguarem.

Faltou a Dilma agilidade para responder ao desafio das ruas, a suas demandas por serviços públicos robustos, bem como sinalizar uma agenda participativa (que pouco se altera com o formal decreto sobre o tema). Fato é que suas propostas estão incluindo a mobilidade urbana e o direito à Saúde, se na medida adequada é algo discutível, bem como a reforma política, o que se combina de maneira um tanto tensa com a defesa do legado de sua presidência e das de Lula. Como instrumento eleitoral e herança para o futuro, valeria votar, antes do fim de 2014, a Consolidação das Leis Sociais. Já a economia se complica e não poderá deixar de ser tema importante, embora por ora a ênfase pareça excessiva. Caso reeleita, Dilma terá de refazer as relações hoje muito difíceis com o empresariado, sem abrir mão de o Estado pautar o desenvolvimento econômico e sem abusar do voluntarismo. Fazer o meio ambiente comparecer não será porém fácil.

Marina é incógnita maior e assim deverá permanecer até o fim da eleição. Apresentar-se criticamente ante a política atual, ainda que sem dizer exatamente que significa transformá-la, é central para sua estratégia, que visará votos à direita, ao centro e à esquerda. A definição de um nome da esquerda do PSB para vice condiciona suas escolhas futuras, mas só parcialmente. Chave será em que medida o neoliberalismo ambiental dará as cartas em seu possível governo, forçando um ajuste duro da economia, mas talvez abertura maior ao empresariado (e inclusive ao capital financeiro), com já sugestões diretas de autonomização clara do Banco Central, embora dificilmente haja mudanças de monta nos principais programas sociais. A questão ambiental será destacada e a reforma política, encampada por seu governo, que, se eleita, será minoritário no Congresso (que trabalha, junto com aliados no STF, para sepultar o que pode ter esta de realmente positivo: a proibição de doações pelas empresas).

Aécio terá de se esforçar para mostrar ao empresariado e aos eleitores que pode ir para o segundo turno, vencer e que não significaria mera volta ao neoliberalismo. Isso, que já era difícil, tende a tornar-se impossível. Afinal, retomo aqui argumento de texto anterior, a conjuntura inclinou-se à esquerda, e ele não se situa bem nesse registro.

Interrogações permanecem: serão esses governos futuros - inclusive na confusão crescente do plano estadual - capazes de propor um debate e ações que façam avançar a democracia, os direitos sociais, a questão ambiental e o desenvolvimento econômico, no sentido que o Brasil necessita? É o que demanda sua população, dos "pobres" trabalhadores à classe média remediada (a real, não a alardeada pelo Ipea). Os próximos lances eleitorais em parte responderão a essas perguntas, mas somente 2015 o fará de forma mais precisa. De todo modo, a campanha esquentará, e o número de votos nulos e brancos diminuirá. Isso é bom para o Brasil.

*José Maurício Domingues é sociólogo e professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), da Uerj

Dirigente do PSB defende gesto pró-PSDB

• Considerado um nome da 'ala tucana' do partido de Campos, França afirma que Marina precisa pensar em apoios no 2º turno

Caio Junqueira - O Estado de S. Paulo

Candidato a vice-governador na chapa com Geraldo Alckmin (PSDB), o presidente do diretório paulista do PSB e tesoureiro da legenda, Márcio França, é um dos integrantes do partido mais ligados aos tucanos. Nessa entrevista ao Estado, ele defende a imediata aproximação de Marina Silva com os tucanos com vista à disputa do segundo turno que, segundo ele, será entre ela e a presidente Dilma Rousseff.

França, um dos nomes que resistia à indicação de da ex-ministra do Meio Ambiente como substituta de Eduardo Campos, declara também que Marina precisa emitir mensagens à sociedade, como a que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva fez em 2002, com a Carta ao Povo Brasileiro.

A relação entre Marina e PSB será de crises permanentes?
O problema é que é uma relação que estava prevista para ter um gênio como o Eduardo intermediando. Sem esse gênio, falta uma peça fundamental para que ela caminhe com tranquilidade. Mas é preciso reconhecer que temos crédito com ela. Quando você é vice nas condições em que Marina estava, ela estava com muito crédito porque emprestamos a legenda para o partido dela. Agora nós temos crédito. Pegamos nosso partido e demos a um candidato. Você acha se a Dilma não fosse candidata o (Michel) Temer seria no lugar dela? Ou se o Alckmin sair eu seria o candidato?

Qual sua avaliação desta primeira crise?
Vamos resolvê-la. Marina é coerente e é bom lidar com quem é coerente e sincero nas posições. Admiro isso em Marina, mesmo que divirja dela.

O que Marina precisa fazer para vencer a eleição?
Precisa fazer inflexões. Temos a expectativa de que ela possa incorporar um pouco do Eduardo. O forte do Eduardo era esse poder de convivência. E, nitidamente, o Eduardo incorporou a Marina ao falar da nova política. Agora, ela terá que incorporar Eduardo e mandar mensagens como o Lula fez em 2002 para vencer. (Lula fez a Carta ao Povo Brasileiro com sinais de que não mexeria nos fundamentos econômicos

Que tipo de mensagem?
Uma mensagem para a sociedade. Fazer sinais de governabilidade, segurança, mostrar que não é radical, que cede.

Como fazer isso?
Esses sinais devem ser feitos em cima de pessoas que tem algum lastro político. Não dá para fazer isso em cima de políticos questionáveis eticamente. O Alckmin é um bom canal para fazer isso. A imagem que ele tem é de um político pobro, honesto, simples. Então por que não se vincular a ele? É preciso um gesto na direção do PSDB e a esse eleitorado pois o eleitor que é, por exemplo, do DEM, detesta o PT e pode ser útil.

Isso já para o segundo turno?
Sim. Acho pouco provável ir Aécio e Marina para o segundo turno. O provável é que ela esteja no segundo turno contra a Dilma. Se Geraldo for, vai ser contra Padilha ou Skaf, que apoiam Dilma. E ela vai dizer o que? Pode ficar neutra. Aí o Geraldo pode ficar neutro também.

Também deve buscar o apoio do Aécio para o segundo turno?
Claro.

O sr. acha que Marina aceitaria esse apoio? O apoio do Aécio no segundo turno?
Fácil. Ela quer derrotar Dilma.

Esses gestos a beneficiam?
São gestos para a classe política que no fim das contas são para ela própria. Você pega uma cidade como Campinas, governada pelo PSB, com cerca de 800 mil de eleitores. O prefeito lá só pode ajudar a campanha dela. Nesses locais e principalmente nos pequenos municípios é onde ela precisa mais da política. Precisa fazer com que os políticos sintam que estão participando do processo. Se ela nega a política, eles vão falar: ‘ela que se vire’.

Acha que após as eleições, a Rede deixa o PSB?
Eles e nós falamos que haverá essa separação. Mas, se vencermos, acredito que ela vá recuar e a Rede fica dentro do PSB. A lei mudou e não há benefício algum em criar um partido. Não arrasta mais tempo de TV nem fundo partidário.

Campanha de Aécio mira insatisfeitos com Marina

Raquel Ulhôa e Marcos de Moura e Souza – Valor Econômico

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, buscará atrair os aliados de Eduardo Campos (PSB) nos Estados em que a ex-ministra Marina Silva, nova candidata a presidente pelo PSB, não apoia as alianças articuladas pelo ex-governador pernambucano, morto em um acidente aéreo no dia 13 de agosto.

Este é um dos "ajustes pontuais" a serem feitos na campanha de Aécio por causa da mudança no cenário eleitoral, provocada pela entrada de Marina na disputa presidencial. Aécio vai buscar o apoio formal ou informal do PSB e aliados nos Estados em que Marina não subirá nos seus palanques. É o caso do deputado Paulo Bornhausen (PSB), candidato ao Senado em Santa Catarina, em aliança com o senador Paulo Bauer (PSDB), que disputa o governo.

O assunto foi discutido na avaliação feita em reunião com Aécio, em São Paulo, na quarta-feira, da qual participaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição, o ex-governador José Serra (PSDB), que disputa o Senado por São Paulo, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), vice na chapa presidencial, o senador José Agripino (DEM-RN), presidente do seu partido e coordenador-geral da campanha, e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM).

Marina já comunicou ao PSB que não subirá no palanque de Alckmin, que está aliado ao PSB, de Bauer (SC) e do governador Beto Richa (PSDB), no Paraná, que disputa a reeleição com apoio do PSB. Mas há problemas do grupo da ex-ministra, o Rede Sustentabilidade, com alianças do PSB em outros Estados, como Rio de Janeiro, Alagoas e Mato Grosso do Sul. Há, ainda, setores do PMDB que estavam com Eduardo Campos e podem não manter o apoio a Marina. Todos estarão no radar de Aécio.

O comando da campanha do tucano acredita que Marina deve manter alta pontuação nas próximas pesquisas de intenção de voto, por seu recall e pelo bombardeio do noticiário sobre a morte de Campos, que deu muita visibilidade a ela como vítima. Mas a expectativa é que o crescimento não seja consistente, principalmente por causa da falta de experiência de gestão, que esperam, ficará explícita durante a campanha eleitoral.

Aliados de Aécio dizem que a candidata deverá ser prejudicada pela divergência com o ex-coordenador da campanha de Campos, Carlos Siqueira, primeiro-secretário do PSB, que abandonou a função com críticas a Marina. O raciocínio é que o eleitor vai questionar se uma pessoa que não consegue unir seu partido vai conseguir unir o país.

"Agora está sendo testada a consistência da aliança entre o grupo da Marina, a Rede, e o PSB. E ela tem essa rigidez meio fundamentalista e vai colher os ônus e os bônus do que é essa suposta nova política defendida por ela. Os problemas dela estão só começando", disse o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG). As disputas internas no campo da adversária eram previsíveis, segundo o deputado. Pestana lembrou que Marina já mostrou seu estilo ao "chutar o balde" contra o governador paulista quando se opôs à aliança do PSB com o PSDB no Estado. Apesar das críticas de Marina, Márcio França, do PSB, passou a ser candidato a vice de Alckmin.

Pestana reafirmou que, com o novo cenário eleitoral, a ideia da campanha tucana é reforçar a imagem de Aécio como candidato com experiência em gestão pública e com preocupação com a eficiência. Esse era um perfil semelhante ao do ex-governador de Pernambuco. "A faixa de Aécio agora se ampliou. Ele é o único nome da oposição com experiência em gestão, equilíbrio, sem fundamentalismos e capaz de processar mudanças no país sem riscos de radicalismos".

Apesar dos eventuais ajustes com a entrada da ex-senadora na corrida presidencial, Aécio e seus articuladores querem manter o foco na disputa com a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição. Para eles, a petista é a principal adversária, e não Marina. Por isso a campanha deve sofrer apenas "ajustes pontuais" em virtude do novo quadro.

Ontem, o candidato passou o dia em intensa agenda no Nordeste. Primeiro visitou a fábrica da Guararapes, em Natal, no Rio Grande do Norte. O tucano ainda fez uma caminhada pelo bairro de Alecrim antes de embarcar para Pombal, na Paraíba, onde participou de um comício.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou ontem o pedido de registro de candidatura de Aécio. A Corte também rejeitou o pedido da ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu (PEN) para anular a convenção do PEN que determinou o apoio ao tucano. O pedido de impugnação da convenção estava impedindo a confirmação da candidatura de Aécio pelo TSE.

PT se reúne e demonstra preocupação com candidata

• Encontro teve Lula e Dilma; Jorge Viana diz que Marina ‘vai impor um novo debate’

- O Globo

BRASÍLIA- O comando da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff se reuniu na noite de quarta-feira, com a presença de Lula, e já mostra preocupação com o crescimento de Marina Silva, cuja exposição aumentou nos últimos dias devido à escolha dela para substituir Eduardo Campos na cabeça da chapa. Segundo assessores da campanha, pesquisas internas indicam crescimento das intenções de voto da
candidata do PSB. A avaliação é que Marina ameaça a presença do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, num eventual segundo turno.

Amigo de Marina, o senador Jorge Viana, do PT do Acre, acusou o golpe no partido. Ele disse que Marina vai “impor um novo debate” na campanha eleitoral. A avaliação do petista é que Marina vai forçar o debate de alguns temas aos quais a presidente Dilma tem resistência, como a questão ambiental. As duas — Marina e Dilma — travaram guerras internas no governo Lula em relação ao assunto. Dilma reclamou
várias vezes da lentidão de obras por causa de problemas com licenças ambientais. Marina era ministra do Meio Ambiente e Dilma comandava Minas e Energia e, depois, a Casa Civil.

Jorge Viana disse achar que Marina vai aprofundar temas que Dilma e Aécio não enfrentaram, como questões ligadas ao desenvolvimento sustentável.

As análises foram feitas com a participação de Lula e da própria Dilma, segundo servidores do Planalto. O discurso é de que Aécio é quem deve estar mais preocupado neste momento.

Mas o tom a ser adotado em relação a Marina ainda está sendo analisado. Há o temor de que atacá-la possa fazê-la crescer como vítima. Também participaram da reunião, que ocorre todas as semanas, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o presidente do PT, Rui Falcão, entre outros

Réu liga tesoureiro do PT a grupo de doleiro

• Advogado afirma que Vaccari fazia contato entre fundos de pensão e empresa de Youssef

Andreza Matais e Fabio Fabrini – O Estado de S. Paulo

Num depoimento prestado à Polícia Federal, um dos integrantes do esquema investigado na Operação Lava Jato afirmou que o secretário nacional de finanças do PT, João Vaccari Neto, ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, era um dos contatos de fundos de pensão com a CSA Project Finance Consultoria e Intermediação de Negócios Empresariais, empresa que o doleiro Alberto Youssef usou para lavar R$ 1,16 milhão do Mensalão, segundo a PF.

“João Vaccari esteve várias vezes na sede da CSA, possivelmente a fim de tratar de operações com fundos de pensão com Cláudio Mente”, relatou o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, apontado como laranja de Youssef e do ex-deputado José Janene (moto em 2010).

Preso desde março pela Lava Jato, ex-sócio da CSA Project, situada em São Paulo, decidiu colaborar espontaneamente com as investigações em troca de eventual benefício judicial. Ele é réu em duas ações penais, uma sobre supostas remessas fraudulentas do laboratório Labogen para o exterior, outra de lavagem de dinheiro de Janene por investimentos em uma empresa paranaense.

Carlos Alberto foi ouvido no dia 15 na Superintendência Regional da PF no Paraná. A PF, em outro documento, diz haver indício de que Vaccari estaria intermediando negócios de fundos de pensão com a CSA e uma outra empresa ligada ao doleiro, a GFD Investimentos.

Vaccari é réu em ação criminal sobre suposto desvio de R$ 70 milhões da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop). O Ministério Público o denunciou por formação de quadrilha, estelionato e lavagem de dinheiro.
O colaborador disse que dirigentes da Petros, fundo de pensão da Petrobrás, receberam propina para que o fundo fizesse um investimento de interesse do grupo de Youssef, acusado de chefiar esquema bilionário de lavagem de dinheiro.

Segundo ele, o ex-gerente de Novos Negócios do Petros Humberto Pires Grault foi um dos beneficiários de R$ 500 mil, que teriam sido pagos como “comissão” para que o fundo de pensão adquirisse, entre 2005 e 2006, uma cédula de crédito bancário de R$ 13 milhões. Grault é ligado ao PT, partido que o teria indicado ao cargo.

A CSA Project, segundo disse, foi responsável pelo contrato com a Petros. A cédula adquirida pelo fundo de pensão referia-se a créditos que a Indústria Metais do Vale (IMV) teria a receber de outra empresa, a Siderúrgica de Barra Mansa (SBM), por um projeto de ferro-gusa.

Carlos Alberto disse que um saque de R$ 500 mil da IMV foi usado para fazer pagamentos em espécie aos que participaram do negócio. Além de Grault, teriam recebido parte desse dinheiro Cláudio Mente, da CSA, além de funcionários da Petros.

Ele contou ter sido informado por Mente que, no fundo de pensão, “seriam beneficiados Humberto Grault e o diretor que estaria acima dele na estrutura da empresa”. Disse que não se recorda do nome do outro suposto beneficiário.

Carlos Alberto relata várias operações supostamente ilícitas de empreiteiras com o doleiro Youssef, entre elas contratos sem prestação de serviços. “Em 2012 ou 2013 viajaram a Hong Kong Matheus de Oliveira, Leonardo Meirelles e João Procópio a fim de resolver problemas ligados a abertura de contas; recorda-se de terem sido feito contratos entre a GFD e as empresas Mendes Junior, Sanko e Engevix, também visando transferências financeiras, sem qualquer prestação de serviços.”

O advogado contou ainda ter sido informado de que Youssef se apropriou de recursos de Janene no exterior. Relatou que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, também preso pela Lava Jato, era recebido por Janene “em seu apartamento”.

Segundo ele, Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte, atuava como um dos agentes que faziam transporte de dinheiro para operações do doleiro no exterior. “Em determinada oportunidade os dois foram para o Peru levar dinheiro em espécie”, afirmou.

Defesa. Procurado pelo Estado, o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto informou, por meio da assessoria do partido, que Cláudio Mente, da CSA, é seu amigo pessoal e que o visitou “eventualmente” na empresa. Ele disse nunca ter feito negócios com Mente.

Vaccari disse que não conhece o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa e que, entre 2005 e 2006, época da operação com o Petros, não era tesoureiro do PT, mas sindicalista. Ele lamentou a acusação do depoente, segundo a qual, “possivelmente”, tratava de fundos de pensão na CSA.

O tesoureiro também afirmou que está à disposição da Justiça para eventuais esclarecimentos.
Já a empresa Mendes Junior, citada no depoimento de Carlos Alberto Costa à PF, afirmou por meio de nota que todos os seus contratos “são feitos estritamente de acordo com as normas legais.” O Grupo Sanko, ao qual pertence a empresa Sanko Sider, por sua vez, divulgou nota na qual afirma “estranhar” a insistência em tentarem associá-la a “atos e atividades com as quais não temos nenhuma relação”.

“O Grupo Sanko, conforme já reiterou, não tem e nunca teve contas bancárias no Exterior. Todos os pagamentos do Grupo Sanko foram feitos, sem qualquer exceção, por intermédio do Banco Central do Brasil, e devidamente auditados pela Receita Federal. Eventuais dúvidas a respeito das operações do Grupo já foram pronta e devidamente esclarecidas, com toda a documentação necessária, às autoridades competentes.

Continuamos estranhando a insistência em tentarem nos associar a atos e atividades com as quais não temos nenhuma relação”, afirma a nota.

O Estado não conseguiu ontem contato com o Petros, Adarico Negromonte e Cláudio Mente. Também não foi localizado Humberto Grault.

As doações de Graça: O Estado de S. Paulo – Editorial

Em 20 de março passado, um dia depois de o Estado divulgar a nota de próprio punho que lhe encaminhou a presidente Dilma Rousseff, sobre o seu papel na compra da primeira metade da Refinaria de Pasadena em 2006, a atual presidente da Petrobrás, Graça Foster, à época diretora de Gás e Energia, doou aos filhos Flávia e Colin, com cláusula de usufruto, uma casa na Ilha do Governador e um apartamento no centro do Rio de Janeiro. Dilma alegou que, na chefia do Conselho de Administração da empresa, aprovara o fechamento do negócio com base, apenas, em um resumo executivo "técnica e juridicamente falho".

Três semanas depois, em 9 de abril, Graça pôs no nome do filho um terceiro imóvel, em Búzios. Em 10 de junho, por sua vez, o ex-diretor da estatal Nestor Cerveró - o autor do parecer verberado por Dilma - cedeu aos herdeiros três propriedades no bairro de Ipanema. Ele tinha sido demitido de uma diretoria da BR Distribuidora dois dias depois da divulgação da nota da presidente da República. A revelação das transferências no site do jornal O Globo, na tarde de terça-feira, produziu um efeito imediato: travou mais uma vez a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que então estava para ser tomada sobre a eventual inclusão de ambos entre os 11 executivos e ex-diretores da Petrobrás cujos bens foram bloqueados em julho último por iniciativa do relator da matéria, ministro José Jorge.

A intenção foi assegurar à empresa a recuperação de pelo menos parte do rombo de US$ 792 milhões que sofreu em Pasadena, caso se comprove a responsabilidade dos envolvidos. Graça é citada por ter prejudicado a Petrobrás, ao retardar o cumprimento da decisão arbitral nos Estados Unidos favorável ao grupo belga a que se associara. O adiamento custou à petroleira US$ 92,3 milhões. Estranho participante das sessões do TCU - como se entre as suas atribuições estivesse a de defender funcionários de uma companhia controlada pelo governo -, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, parecia seguro de que a maioria do colegiado rejeitaria o pedido do relator no caso de Graça. Tanto que insistiu no prosseguimento dos trabalhos mesmo depois do impacto provocado pela notícia das doações, que levou o relator a suspender a votação de seu parecer até a averiguação dos fatos.

Segundo Jorge, confirmadas as transferências, terá ocorrido uma "burla gravíssima do processo de apuração de irregularidade". A rigor, o que há a averiguar, em relação a Graça, não são as doações - que ela reconhece -, mas quando e por que tomou a decisão de fazê-las. Ou imediatamente em seguida à confissão de Dilma, em março último, ou ainda em junho do ano passado, conforme nota da Petrobrás. Na primeira hipótese, pode-se supor que ela tenha pressentido que a manifestação da presidente aceleraria as investigações do TCU, iniciadas em março de 2013, com riscos até então não vislumbrados para si e, quem sabe, para o seu patrimônio.

Na segunda hipótese, a motivação de Graça poderia ser atribuída à abertura do processo no TCU - cerca de três meses antes que ela começasse a providenciar, de acordo com a empresa, "a documentação necessária", por sinal descrita na nota, para formalizar em cartório as doações. O texto nega "veementemente" que Graça "tenha feito qualquer movimentação patrimonial com intuito de burlar a decisão do TCU" do bloqueio de bens e assinala que "doações de bens são atos legítimos, previstos em lei e objetivam evitar futuros conflitos entre herdeiros". De todo modo, o fato é que a sua revelação devolve o escândalo de Pasadena ao centro das atenções - desta vez com a campanha eleitoral em andamento.

Ecoando o ministro José Jorge, o senador petebista Gim Argello, que preside a CPI mista da Petrobrás, considerou o caso "gravíssimo". A oposição quer verificar se as doações foram aquelas mesmas e se configuram fraude. Já para o advogado-geral Adams, não houve "fuga patrimonial" porque Graça não pôs os seus bens em nome de laranjas, para impedir que venham a ser recuperados. Mas não deixou de admitir que, se ficasse provado que a presidente da Petrobrás tentou se desfazer de bens por motivos escusos, as doações poderiam ser revertidas.

Merval Pereira: Polarizações

- O Globo

Esta, sem dúvida, será uma eleição diferente das demais. Estamos vendo se configurarem duas polarizações, uma, a tradicional, entre PT e PSDB. Outra, uma novidade, entre a autointitulada "nova política" e a política tradicional, que se esboçou em 2010 mas chega madura à eleição deste ano, com a mesma protagonista, Marina Silva, disputando espaço prioritariamente com o mesmo partido, o PSDB, para enfrentar o PT, de onde veio e que está no governo há 12 anos, sendo que praticamente oito deles tendo em Marina uma de suas estrelas.

É de se notar que as polarizações se colocam entre partidos, mas não no caso de Marina, uma liderança individualista que tanto faz estar no Partido Verde, como em 2010, ou no PSB agora, sempre terá de ocupar todo espaço de comando, como se já estivesse na sua própria Rede, criada à sua imagem e semelhança, até mesmo na incapacidade de organização demonstrada ao não obter o registro a tempo e hora de disputar a eleição presidencial, o que só conseguiu graças à "providência divina".

É claro que houve um excesso de zelo provocado por interesses políticos dos tribunais eleitorais, notadamente o da região do ABC, área de influência de Lula, para barrar Marina logo na largada. Mas se a Rede tivesse sido menos amadora no recolhimento de assinaturas e mais profissional nos cuidados jurídicos, não teria dado pretextos para a impugnação. A saída de cena de Carlos Siqueira, coordenador da campanha de Eduardo Campos, um quadro político de peso do PSB, mostra bem que a transição de candidaturas não se processou de maneira amena, e se falta a intermediação de Campos, não haverá sintonia entre Rede e PSB.

O fato é que Marina entrou no páreo do tamanho que saiu em 2010 e, ao contrário do que muitos supunham, inclusive eu, parece ter espaço para crescer numa campanha que, diferente da anterior, busca um nome que personifique o desejo de mudança registrado pelas pesquisas. Enquanto estava no páreo Campos, o candidato do PSDB, Aécio Neves, parecia o mais capacitado. Semelhantes em tudo, o tucano tinha a vantagem da estrutura partidária e das alianças, mesmo informais, com diversos partidos da base governista.

A chegada de Marina adicionou uma carga de emoção nessa polarização que, pelo menos no primeiro momento, a favorece. É interessante notar que mesmo com a melhora da avaliação de seu governo, a presidente Dilma não cresceu nas pesquisas, o que mostra que acrescentar novas adesões aos seus eleitores é uma tarefa mais difícil do que se supunha até pouco tempo atrás. Os sucessivos escândalos parecem não dar margens a um respiro, como aconteceu agora com sua melhor amiga e presidente da Petrobras, Graça Foster, que andou transferindo imóveis para parentes antes que o TCU lançasse mão do bloqueio de bens dos diretores acusados de culpa na compra da refinaria de Pasadena.

O fato de o responsável pelo relatório "falho tecnicamente", Nestor Cerveró, ter feito o mesmo e ter sido treinado na sala contígua à da presidência da Petrobras para sua performance na CPI da Petrobras, com direito a receber o gabarito correto das perguntas com antecedência, só reforça a percepção de que se trata de uma ação entre amigos, contra os contribuintes.

Marina encontra no ambiente político atual o terreno fértil para levar sua anticandidatura adiante, mas precisa mais que isso para chegar lá. O interessante é que ela parece jogar todas as fichas na ação política independente dos partidos, enquanto cada vez mais Aécio e Dilma jogam o jogo político tradicional, que já lhes deu mais tempo de propaganda eleitoral do que ao PSB, e amplia os palanques estaduais, especialmente os do PSDB, com dissidências das candidaturas de PT e PSB.

A síntese dessas duas políticas era encarnada por Campos, que começou a campanha muito próximo a Aécio e se inclinava para o radicalismo de Marina, mas com nuances que lhe permitiriam usar a máquina do governador Geraldo Alckmin, em São Paulo, por exemplo. Na política tradicional, é Aécio quem sai em vantagem nesse momento de polarizações diversas, agregando apoios em estados cruciais como os do Nordeste. Mas, a valerem os números de 2010, Marina tem por conta própria votações respeitáveis em capitais como Belo Horizonte, Rio, São Paulo, e no Distrito Federal, o que lhe dá capital político para rejeitar apoios indesejáveis. Nesses locais, também, atinge o eleitorado onde Aécio pretendia crescer, além do fato de que o perfil dos votantes dos dois é semelhante em quase tudo - idade, escolaridade, nível de renda. Menos no entendimento do que seja a política. E aí está a chave do desempate que levará um dos dois para o 2º turno.

Dora Kramer: Fio terra

- O Estado de S. Paulo

Renovar os meios e os modos da política é preciso, disso não há dúvida, desta premência ninguém discorda, exceto os acomodados nas más intenções de sempre.

A candidata do PSB, Marina Silva, pretende encarnar o desejo de mudança claramente posto pelo público em toda parte, levantando o estandarte de combatente da política tradicional. Tem chance de êxito como se viu na primeira pesquisa de intenções de voto em que aparece como candidata a presidente. Mas, como também estamos vendo nos primeiros movimentos decorrentes da reorganização da campanha após a morte de Eduardo Campos, o caminho não é suave.

O simples fato de a reunião entre a cúpula do PSB e o grupo de Marina Silva na quarta-feira ter durado o dia todo já diz algo sobre a dimensão dos obstáculos. Estivessem todos tão de acordo como querem fazer crer as declarações oficiais, bastariam poucas horas para alguns ajustes. Afinal, a decisão principal estava tomada, seria ela a candidata. Se os partícipes da aliança precisaram gastar tanto tempo, foi porque havia arestas.

Foram aparadas? A julgar pelos acordes iniciais, não. O secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, deixou a campanha se queixando dos modos autoritários de Marina; o substituto na coordenação-geral será alguém da confiança dela.

Mais: a ex-senadora tratou de assegurar o controle do comitê financeiro, como quem cria uma rede de proteção contra possíveis cortes de "oxigênio"; e já avisou que não estará em palanques aliados ao partido em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

O registro da candidatura no Tribunal Superior Eleitoral ainda não saiu (a burocracia leva alguns dias) e Marina Silva deixou de se comportar como hóspede para se movimentar com a desenvoltura de dona da casa.

Parece referida na campanha de 2010. Existem diferenças: primeira, agora não é dona da casa. Há condôminos, vale dizer, as seções regionais do PSB, que podem resolver simplesmente abandoná-la e aderir aos adversários devido ao descumprimento de acordos anteriormente firmados.

Marina não é, como em 2010, candidata de si mesma. Há certas tradições na política que não devem desprezadas nem confundidas com velhos vícios. A honra do compromisso é uma delas.

Outra diferença: desta vez é candidata competitiva. A fim de que não perca essa condição, conviria que não perdesse também o fio terra no discurso. Voltamos aqui ao início à questão da renovação. Inovar é possível, desde que as soluções para a realização do sonho sejam factíveis e compreensíveis ao entendimento da maioria.

Contra fatos. O ex-presidente Lula levou a guerra contra a imprensa independente - que chama de "certa imprensa" - para o horário eleitoral. Muita gente viu nisso um gesto de apoio à proposta de controle social da mídia.

Pois pareceu muito mais uma maneira de convencer o eleitorado menos informado - e, portanto, alheio àquela discussão - de que as notícias desfavoráveis ao governo são falsas e que a verdade está ali, nas obras em panorâmica e nos números na casa dos bilhões.

Não tendo como responder às questões que estão aí para todo mundo ver, o governo lança mão da credibilidade de Lula para simplificar as coisas dizendo aos mais simples que é tudo mentira.
Como diz o arquiteto da obra, João Santana, "política é teatro".

Aparência. Pode ser que a presidente da Petrobrás, Graça Foster, não tenha tido, como alega, a intenção de burlar o processo de apuração da compra da refinaria de Pasadena pelo Tribunal de Contas da União, ao transferir seus bens para os filhos.

Mas, a fim de que não pairassem dúvidas, não deveria ter tomado tal providência no curso de um processo em que uma das hipóteses, mesmo remota, poderia vir a ser o bloqueio de bens.