quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

A presidente Dilma, por conta dos erros do PT, do Lula e de seus próprios erros, criou um clima de que muita gente deseja mudar e, no segundo turno, haverá chances reais de alternar o poder. Aécio não tem que antagonizar com a Marina. O importante é que os dois, no segundo turno, estejam reunidos.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República, terça-feira (19) na ABL, Rio de Janeiro.

Graça e Cerveró passaram imóveis para parentes

• TCU adia decisão sobre bloqueio de bens após O Globo revelar que Graça e Cerveró passaram imóveis a filhos

Vinicius Sassine, Eduardo Bresciani e Demétrio Weber - O Globo

BRASÍLIA - O Tribunal de Contas da União (TCU) suspendeu ontem à tarde a votação sobre o bloqueio dos bens da presidente da Petrobras, Graça Foster, logo após o site do GLOBO revelar que Graça e Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da estatal, doaram imóveis aos filhos depois que estourou o escândalo da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

No momento que a reportagem foi publicada, os ministros discutiam exatamente se decretariam o bloqueio dos bens de Graça Foster. Os bens dos demais diretores envolvidos no caso Pasadena, inclusive os de Cerveró, já estão bloqueados, mas o TCU tomou a decisão quando Cerveró já tinha passado aos bens à família.

Com a sessão em plenário em curso, o ministro José Jorge, relator do processo sobre a refinaria no Texas, leu o voto em que pede o bloqueio dos bens de Graça e ouviu voto em sentido contrário do ministro Walton Alencar. Em seguida, ao tomar conhecimento das informações veiculadas no site do GLOBO, José Jorge suspendeu o processo, com a promessa de recolocá-lo em pauta na sessão da próxima quarta-feira:

- Se isso for verdade, e, dependendo de sua extensão, configura uma burla ao processo de apuração da irregularidade. Então, é gravíssimo. É grave porque é como se fosse uma tentativa de burlar o caso - afirmou José Jorge, que determinou a realização de uma diligência para apurar a transferência de bens.

Bloqueio em 23 de julho
Como mostram registros em cartório obtidos pelo GLOBO, Graça e Cerveró doaram imóveis aos filhos após estourar o escândalo sobre a compra da refinaria, mas antes de o TCU determinar o bloqueio do patrimônio de dez gestores e ex-gestores da Petrobras apontados como responsáveis por um prejuízo de US$ 792,3 milhões na compra da refinaria.

O bloqueio de bens ocorreu em 23 de julho. Graça repassou imóveis aos filhos em março e abril. Cerveró fez o mesmo em junho. Foram doados apartamentos no Rio e em Búzios.

Entre os ex-diretores que tiveram os bens bloqueados, além de Cerveró, estão Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento preso no Paraná em razão da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal; e José Sergio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras. Graça Foster e Jorge Zelada, ex-diretor da área internacional, só ficaram de fora da medida por causa de um erro do TCU, que acabou responsabilizado outros gestores por um prejuízo específico de US$ 92,3 milhões no descumprimento da sentença arbitral referente à compra da segunda metade de Pasadena.

O julgamento de ontem se destinava a avaliar e corrigir esse erro. A sessão já havia sido adiada uma vez, por conta de pressão feita pelo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. A informação sobre a doação de bens provocou novo adiamento. A iniciativa do TCU visa justamente garantir que os bens não sejam movimentados pelos gestores, de forma que se permita o ressarcimento aos cofres da estatal, caso as tomadas de contas especiais abertas pelo tribunal confirmem o prejuízo aos cofres públicos.

Doação "com reserva de usufruto"
Os documentos oficiais obtidos pela GLOBO revelam que, em 20 de março, Graça doou "com reserva de usufruto" um apartamento no bairro do Rio Comprido a sua filha Flavia Silva Jacua de Araújo, tendo o filho Colin Silva Foster como interveniente. No mesmo dia, a presidente da Petrobras fez uma doação semelhante a Flavia e a Colin de um imóvel na Ilha do Governador.

No dia 19 de março, um dia antes dessas transações, veio a público um posicionamento da presidente Dilma Rousseff de que apoiou a compra de Pasadena por conta de um "parecer falho" elaborado por Cerveró. Era o início de uma crise que resultou na instalação de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) no Congresso Nacional.

Dilma, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras em 2006, votou a favor da aquisição da primeira metade da refinaria. No processo em tramitação no TCU, os ministros a eximiram de responsabilidade no negócio. Graça ainda fez uma "doação com reserva de usufruto" a Colin em 9 de abril deste ano. Trata-se de um imóvel na Praia de Manguinhos, em Búzios, com direito a uma vaga de garagem.

Cerveró, por sua vez, doou três apartamentos aos filhos em 10 de junho, 43 dias antes de o TCU determinar o bloqueio de seus bens e de mais nove gestores da Petrobras. Cerveró doou um apartamento na Rua Prudente de Morais, em Ipanema, à filha Raquel Cerveró; outro apartamento no mesmo prédio ao filho Bernardo Cerveró; e um apartamento na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, também a Bernardo.

As revelações alteraram a rotina do julgamento ontem no plenário do TCU. O ministro Walton Alencar ainda proferia seu voto quando José Jorge se levantou para conversar com outros ministros. Minutos depois, o ministro André Luís de Carvalho sugeriu que a sessão fosse suspensa. José Jorge leu, então, o título da reportagem veiculada pelo GLOBO na internet.

Sentado na primeira fila do plenário, Adams foi à tribuna e defendeu a continuidade do julgamento. O advogado da União argumentou que o tema já havia sido suficientemente debatido e lançou dúvidas sobre a informação, afirmando que há reportagens que são "jogadas de forma midiática, sem nenhuma consistência".

"Não há fuga patrimonial", diz Adams
O presidente do TCU, ministro Augusto Nardes, disse que a decisão sobre o adiamento cabia ao relator. A exemplo de Adams, Walton manifestou-se contrariamente à suspensão do julgamento. Em seguida, recebeu um tablet com a reportagem do GLOBO. Adams disse que a notícia não altera os argumentos apresentados por ele há duas semanas, e afirmou ter certeza de que Graça e demais diretores poderão esclarecer tudo "com tranquilidade":

- Não há nenhuma fuga patrimonial. Não há como você achar que, eventualmente, se houve uma transferência pontual, isso representa fuga patrimonial. Fuga patrimonial é desfazimento integral de patrimônio em favor de laranjas, em favor de pessoas não identificadas, de forma que você não possa recuperar esse patrimônio. Não é o caso.

No início da noite, a Petrobras divulgou nota para "refutar veementemente" a informação de que a doação dos imóveis objetivou burlar alguma decisão do TCU. "A presidente não estava incluída dentre as pessoas nominadas no acórdão como potenciais responsáveis por supostos danos ao patrimônio da companhia", diz a nota.

A estatal informa que Graça tem "documentos pessoais" que comprovam a iniciativa de transferir os bens desde junho de 2013. "Doações de bens são atos legítimos, previstos em lei e objetivam evitar futuros conflitos entre herdeiros. Esses procedimentos foram: avaliações de imóveis, obtenção de certidões, verificação do valor dos custos e tributos incidentes, elaboração das minutas das escrituras e sua posterior formalização, bem como os competentes registros imobiliários, culminando todos esses atos em 20 de março e 9 de abril de 2014."

O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, afirmou que as doações não tiveram o objetivo de dissimular a propriedade dos bens:

- Ele resolveu fazer em vida o que seu pai já havia feito, dividindo os bens com os filhos. Em junho, não havia qualquer decisão do TCU e, além disso, a diretoria não tem absolutamente nenhuma responsabilidade sobre isso (os prejuízos com Pasadena). A ideia não foi dilapidar o patrimônio, pois os imóveis ficaram com a família. Foi uma atitude normal.

Na CPI, notícia causa bate-boca; oposição cobra investigação

• Presidente da comissão diz que caso é gravíssimo; relator teme perder o foco

André de Souza – O Globo

BRASÍLIA - A oposição cobrou que a CPI mista da Petrobras investigue a doação de imóveis feita pela presidente da empresa, Graça Foster, e pelo ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró, como revelou o site do GLOBO ontem. Durante a sessão da CPI realizada, o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), apresentou requerimento - que deverá ser votado na próxima reunião da comissão - para ter acesso aos documentos que comprovam as doações. O fato provocou um bate-boca entre Bueno e a deputada Iriny Lopes (PT-ES).

A petista disse que esse assunto já estava sendo investigado pelo TCU. Bueno contestou, dizendo que a denúncia era nova, e acusou a colega de ignorância. Bueno ainda lembrou o escândalo do mensalão, perguntando para Iriny se ela defendia a quadrilha do mensalão. A deputada cobrou mais respeito do colega.

No requerimento que apresentou à CPI, Bueno sustentou que a doação dos bens, "se confirmada, configura fraude contra a decisão perpetrada pelo Tribunal de Contas da União de bloquear os bens desses dois empregados da Petrobras no contexto da apuração de responsabilidades pelo prejuízo decorrente da compra da refinaria de Pasadena, no Texas".

O presidente em exercício da CPI, senador Gim Argello (PTB-DF), afirmou que o requerimento do PPS será votado na próxima reunião e que a denúncia é gravíssima. Já o relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), disse que não é bom a CPI tentar investigar tudo. Segundo o TCU, a compra da refinaria gerou um prejuízo de US$ 792 milhões.

- Eu tenho uma preocupação adicional que é a preocupação de que quem quer investigar tudo não investiga nada. Então, se a cada fato, a cada nova denúncia paralela que vá surgindo, a CPI for desviar do seu foco de investigação, nós vamos acabar chegando ao final sem investigar aquilo que é o foco da CPI - afirmou Maia.

Segundo Gim Argello, na próxima semana será votado outro requerimento, chamando a contadora Meire Poza, que trabalhava com o doleiro Alberto Yousseff, para depor. Ela revelou um esquema de desvios de recursos de obras públicas e pagamento de propinas que seria encabeçado por Youssef. Segundo Meire, empreiteiras prestadoras de serviço à Petrobras também estavam envolvidas e teriam como intermediário Paulo Roberto da Costa, ex-diretor da estatal.

Gerente jurídico da Petrobras depõe
Na sessão de ontem, a CPI ouviu o depoimento do gerente jurídico internacional da Petrobras, Carlos Cesar Borromeu de Andrade, um dos gestores da empresa com os bens bloqueados. Ele defendeu a legalidade das cláusulas do contrato de compra de Pasadena. A CPI também ouviu o diretor de Segurança Empresarial da Petrobras, Pedro Aramis de Lima Arruda, sobre denúncias de pagamento de suborno a funcionários da estatal pela empresa holandesa SMB Offshore.

Arruda negou irregularidades, mas confirmou que dois documentos sigilosos da Petrobras repassados a executivos da SBM foram gerados a partir da senha pessoal do ex-diretor da área internacional Jorge Luiz Zelada. Por outro lado, Arruda informou que não foi possível avançar na investigação de como esses documentos saíram da Petrobras e chegaram até a empresa holandesa. Segundo ele, um dos documentos passou por Julio Faerman, empresário suspeito de pagar propina para que a SBM conseguisse contratos com a estatal.

Trechos
"Quem fala do que não sabe fala da própria ignorância"

Iriny Lopes:
"O senhor está exacerbando, deputado".

Rubens Bueno:
"Não estou exacerbando. Essa informação é de hoje".

Iriny:
"Está exacerbando, sim".

Bueno:
"A senhora é que está exacerbando em defesa de quê? Da quadrilha do mensalão? A senhora está na quadrilha do mensalão? Porque o procurador-geral da República diz que é uma quadrilha que tomou de assalto o poder no Brasil."

Iriny:
"O senhor me respeite, me respeite!"

Bueno:
"A senhora é que tem que me respeitar. Tem que me respeitar. A senhora fique no seu lugar!"

Iriny:
"Está exagerando nas palavras".

Bueno:
"A senhora está querendo falar do que não sabe. Quem fala do que não sabe fala da própria ignorância".

Relator no TCU adia análise de bloqueio do patrimônio de executiva

• José Jorge quer nova apuração do caso e vota pela inclusão de Graça no rol de responsáveis pelos prejuízos com Pasadena

Beatriz Bulla - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ministro-relator do caso Pasadena no Tribunal de Contas da União, José Jorge, suspendeu ontem a análise do processo sobre o bloqueio patrimonial da presidente da Petrobrás, Graça Foster. O adiamento ocorreu após ser veiculada a notícia de que Graça e o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró transferiram imóveis para parentes logo após a presidente Dilma Rousseff afirmar que a compra da refinaria foi feita com base em parecer "falho".

De acordo com Jorge, a doação "configura uma burla ao processo de apuração de irregularidade". Antes de ser informado da reportagem publicada no site do jornal O Globo sobre a doação de bens de Graça e Cerveró, o relator votou em plenário e manteve o posicionamento de duas semanas atrás.

Na ocasião, ele se manifestou pela inclusão da presidente da estatal e do ex-dirigente Jorge Zelada no novo processo que irá apurar a culpa dos diretores e ex-diretores da empresa pelo prejuízo de US$ 792,3 milhões causado com a compra da refinaria, com indisponibilidade de bens dos envolvidos.

Naquela sessão, o ministro-relator adiou a decisão em consideração à presença do advogado-geral da União, ministro Luís Inácio Adams, que intercedeu para que Graça não tivesse o patrimônio bloqueado.

Ontem, após o voto de Jorge, o ministro Walton Alencar Rodrigues abriu a divergência, pedindo que ficassem excluídos do bloqueio patrimonial os diretores que participaram apenas do adiamento do cumprimento da decisão arbitral nos EUA sobre a disputa contra a Astra Oil, antiga proprietária da refinaria. É neste item que a atual presidente da estatal, Graça Foster, é incluída no processo.

O plenário não teve tempo de analisar o caso. De acordo com o ministro-relator, a reportagem não altera sua posição, que é pelo bloqueio dos bens da presidente da estatal, mas, mesmo assim, Jorge decidiu postergar o julgamento em consideração aos ministros que pretendiam excluir Graça Foster da indisponibilidade dos bens.

Jorge vai pedir novas diligências para apurar o caso e prometeu incluir o processo na pauta do tribunal da próxima quarta-feira. Ainda não foram definidas, contudo, as medidas a serem tomadas. Inicialmente, a previsão é de uma checagem de bens em cartório.

Há duas semanas, Adams comemorou o adiamento da decisão. Já ontem, confiante "no direito e nos argumentos apresentados", o advogado-geral da União pediu que o caso fosse analisado naquela sessão, mesmo com as novas notícias, mas não foi atendido.

Adams realizou nas últimas semanas um périplo pelos gabinetes dos ministros para defender que o patrimônio de Graça não fosse bloqueado. De acordo com ele, a atuação é a mesma em outros processos.

Aécio convoca cúpula tucana para avaliar novo cenário

• Coordenadores da campanha e líderes do PSDB debatem entrada de Marina

• Reunião em São Paulo foi a primeira desde a morte de Campos; Aécio disse ter a certeza de que estará no 2º turno

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A consolidação da candidatura da ex-senadora Marina Silva à Presidência pelo PSB levou o candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, a convocar uma reunião com a cúpula de seu partido e as principais siglas aliadas.

Nomes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) discutiram com Aécio na noite desta quarta-feira (20) os rumos da corrida presidencial.

Na terça (19), o coordenador-geral da campanha, Agripino Maia (DEM-RN), passou o dia em reuniões com todos os apoiadores regionais de Aécio, analisando a situação em cada Estado. Ele entregou relatório da análise a Aécio durante a conversa da cúpula da campanha, ocorrida no Palácio dos Bandeirantes, na ala residencial da sede do governo paulista.

A reunião foi a primeira desde a morte, em um acidente aéreo, do ex-governador e presidenciável Eduardo Campos, na semana passada.

O encontro ocorreu após Aécio cumprir agenda na capital paulista e utilizar seu discurso para afastar informações de que a entrada de Marina no cenário tenha enfraquecido sua campanha.

"Em eleição tem muita especulação. Quero dizer que não sei contra quem vou, mas tenho certeza que estarei no segundo turno", afirmou, em ato com sindicalistas.

Desde o início da semana, estrategistas do PSDB têm monitorado diariamente os números dos presidenciáveis, com Marina na disputa.

Eles constataram que ela vem ganhando terreno em "Estados-chave" para o tucano, como São Paulo. Mas garantem que quem está perdendo mais votos para Marina não é Aécio e sim a presidente Dilma Rousseff (PT).

Apesar das afirmações de que não há alarde nem desânimo no ninho tucano, a campanha de Aécio resolveu ampliar o envio de materiais de publicidade para as regiões Norte e Nordeste. Outra medida diz respeito à estratégia de agendas públicas.

Na terça-feira, a equipe que planeja os compromissos do candidato, avaliou que Aécio precisa priorizar regiões como o Nordeste.

A expectativa era de que Campos, que foi governador de Pernambuco, pudesse dividir os votos da presidente Dilma nessa parte do país. Com a morte do pessebista, os tucanos temem que a petista garanta larga vantagem na região, a exemplo de 2010, quando o desempenho de Dilma entre os nordestinos foi essencial para a sua vitória.

A equipe do tucano decidiu reforçar agendas no Nordeste em todos os dias desta semana, até domingo.

Além de Aécio, Alckmin, Agripino e Fernando Henrique, participaram do encontro desta quarta o vice do tucano na chapa presidencial, senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), o ex-governador José Serra e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM).

SUS
Antes da reunião, Aécio fez campanha com Alckmin e listou promessas na saúde.

Ele defendeu nacionalizar o programa Mulheres de Peito, lançado no Estado, que prevê a adaptação de carretas com equipamentos para fazer diagnóstico de câncer de mama de modo itinerante. Disse ainda que, se eleito, vai reajustar a tabela do SUS --o que aumentará repasses de verbas da União para ajudar Estados e municípios a custear o atendimento médico.

Depois, em ato com sindicalistas, ouviu do presidente do Sindicato dos Aposentados que os filiados aceitam trocar a discussão sobre o fim do fator previdenciário pela revisão da fórmula, nos moldes de um projeto que está no Congresso desde 2008.

‘Nosso adversário é o governo que está aí’, diz Aécio em São Paulo

• Tucano voltou a afirmar que a entrada de Marina Silva não altera o cenário

Julianna Granjeia – O Globo

SÃO PAULO — O candidato do PSDB à Presidência da República Aécio Neves voltou a afirmar, nesta quarta-feira, que a entrada da ex-senadora Marina Silva na disputa eleitoral não muda o cenário eleitoral. A declaração ocorreu na visita do senador tucano no Largo da Concórdia, na região central de São Paulo, junto com o governador Geraldo Alckmin.

— Isso não muda absolutamente nada. Nosso adversário é o governo que está aí, que leva o Brasil a ter o pior crescimento na nossa região. Nós continuaremos a apresentar uma proposta alternativa a essa que está aí há 12 anos nos governando e tenho extrema confiança de que nós vamos para o segundo turno.

Aécio e Alckmin percorreram a região central da capital em visita ao caminhão do projeto “Mulheres de Peito”, do governo estadual, que atua na prevenção do câncer de mama. O presidenciável também afirmou que a saúde será prioridade de seu governo, e que irá atualizar a tabela do Sistema Único de Saúde (SUS).

— É necessário que ela (a tabela do SUS) seja corrigida, você não vai corrigir toda a defasagem de um dia para outro, mas a partir do momento que você tem como prioridade a saúde, é possível (corrigir) sim. Teremos previsibilidade, vamos corrigir progressivamente.

Em uma das lojas do centro, os dois pararam para comer esfirra, pastel e tomar suco de laranja oferecidos pelo proprietário. Cerca de 30 modelos contratadas pela campanha do governador acompanharam a passeata. Adesivos do tipo “família feliz” com os dizeres “Somos Aécio” foram distribuídos.

O senador tucano ainda se encontrará com sindicalistas na Casa de Portugal, na região central de São Paulo.

Disputarei 2º turno, mas não sei com quem, diz Aécio

Elizabeth Lopes e Pedro Venceslau – O Estado de S. Paulo

Em evento com sindicalistas, trabalhadores e aposentados ligados a Força Sindical, UGT e Nova Central, na tarde desta quarta-feira, dia 20, em São Paulo, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, disse que "há muita especulação" nestas eleições e previu que disputará o segundo turno.

"Não sei contra quem (numa referência a entrada de Marina Silva como cabeça de chapa do PSB), mas vou e vou ganhar para mudar o Brasil", disse o tucano. Em breve discurso para uma plateia que lotou o auditório da Casa de Portugal, no bairro da Liberdade, o tucano disse que seu eventual governo será de respeito à classe trabalhadora e citou que existe uma demanda prioritária, que é a retomada do crescimento do País. "Essa demanda puxa todas as outras conquistas", disse.

O candidato do PSDB voltou a criticar "a leniência do governo petista" que, segundo ele, é responsável por colocar em risco as conquistas do País. E prometeu: "Vamos garantir o reajuste digno do salário mínimo, vamos corrigir a tabela do Imposto de Renda e resgatar o salário dos aposentados brasileiros".

Aécio pediu apoio da classe trabalhadora em sua caminhada na disputa pela Presidência da República. "Estamos a 45 dias de mudar efetivamente o Brasil porque o País não pode mais ser governado por um grupo político que só tem um projeto de poder e não um projeto para o País. Ou é a nossa vitória ou serão mais quatro anos de atraso", disse.

O candidato recebeu uma pauta de reivindicações dos trabalhadores num documento que alerta para a necessidade de combate à inflação. "O atual governo de Dilma Rousseff tem desrespeitado os trabalhadores na medida em que nega o diálogo com as lideranças sindicais", diz um dos trechos do documento, assinado pelas três centrais.

Na pauta de reivindicações entregue ao candidato tucano constam, entre outras medidas, a correção da tabela do IR, a valorização do salário mínimo, o fim do fator previdenciário, a valorização das aposentadorias e a redução da jornada de trabalho sem redução salarial.

Vários líderes sindicais e correligionários discursaram. Uma das críticas mais fortes partiu do presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. Segundo ele, Aécio enfrentará a partir de agora duas adversárias, "uma candidata incompetente" e "outra que não fez nada pelo País e não sabe governar", em referência indireta à presidente Dilma Rousseff e à ex-senadora Marina Silva.

No final do evento, Aécio não deu entrevista à imprensa alegando que estava rouco. O governador e candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB), que acompanhou Aécio em uma agenda na manhã desta quarta, não participou do evento com sindicalistas como estava previsto em sua agenda. Alckmin enviou como representante um de seus coordenadores de campanha, o ex-secretário da Casa Civil Edson Aparecido.

Aécio tenta reduzir impacto de marina revelado em pesquisa

• Tucano afirma em encontro com sindicalistas que estará no segundo turno

Silvia Amorim e Julianna Granjeia – O Globo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, procurou ontem reduzir a força da adversária Marina Silva nas pesquisas e disse a uma plateia de sindicalistas que estará no segundo turno. O discurso afirmativo veio depois que o Instituto Datafolha divulgou um levantamento em que a ex-senadora aparece à frente do tucano - 21% contra 20% das intenções de voto, respectivamente.

- Eleição tem muito de especulação. Eu não sei com quem será que eu vou, mas eu garanto que estarei no segundo turno - discursou Aécio.

No evento, o presidenciável recebeu o apoio de lideranças de centrais sindicais e uma pauta de reivindicações. Entre as demandas do setor há temas que custam caro a Aécio, como o fim do fator previdenciário, criado no governo Fernando Henrique Cardoso.

Antes do ato sindical, o candidato fez uma carreata numa região de comércio popular com o governador Geraldo Alckmin. Ele prometeu revisão dos preços dos procedimentos pagos pelo SUS aos hospitais.

- É necessário que ela (a tabela do SUS) seja corrigida, você não vai corrigir toda a defasagem de um dia para outro, mas, a partir do momento em que você tem como prioridade a saúde, é possível (corrigir) sim. Teremos previsibilidade, vamos corrigir progressivamente.

Marina não nos ameaça', diz tucano

Fernando Taquari – Valor Econômico

SÃO PAULO - Escolhido por Aécio Neves para coordenar o programa de governo do PSDB, o ex-deputado Arnaldo Madeira aposta que a falta de experiência no Executivo será o principal obstáculo da candidatura presidencial da ex-senadora Marina Silva (PSB). O eleitor, segundo o tucano, tem senso de responsabilidade e na hora do voto optará por Aécio por conta de sua "exitosa" passagem pelo governo de Minas Gerais.

A despeito da última pesquisa Datafolha, que mostra Aécio e Marina tecnicamente empatados, Madeira afirma que a ex-senadora não representa uma ameaça ao tucano, pois apresenta ao eleitor um discurso sem "sustentabilidade". Além disso, ressalta que nesta eleição não há insatisfações internas no PSDB que poderiam dar margem para falta de empenho entre os tucanos, como ocorreu no passado. A seguir a entrevista:

Valor: O que muda na eleição presidencial com a entrada da ex-senadora Marina Silva (PSB) na disputa?

Arnaldo Madeira: Você passa a ter, além da presidente Dilma (Rousseff), uma segunda candidata (Marina) com um nível de conhecimento generalizado. Ela já foi candidata à Presidência. O Eduardo (Campos) estava num processo de se tornar conhecido nacionalmente. O desconhecimento dele era maior do que o do Aécio. Com essa tragédia, o Eduardo assume imediatamente uma dimensão nacional. Agora Marina parte com uma intenção de votos elevada nas pesquisas, embora eu ache que cada campanha é diferente da outra. Não tem essa coisa de voto fixo. Uma parte das pessoas que já votou nela, vota de novo, e outra não vota mais.

Valor: A Marina ameaça o segundo lugar de Aécio no segundo turno?

Madeira: Não. As pesquisas refletem o momento. A Marina tem um grande problema: sua experiência de gestão é muito frágil. Ela nunca teve um cargo de comando no Executivo. Terá que superar esse obstáculo para dizer que pode governar um país dessa complexidade com a experiência política que ela tem, que é limitada. A nosso favor está o fato de sermos um partido inserido no nível nacional, com uma imagem forte em segmentos da classe média e um candidato que é jovem e passou por uma experiência de governo excepcional em Minas Gerias. Isso nos dá um diferencial, num momento em que o Brasil dá sinais de problemas de gestão.

Valor: O eleitor pode se convencer de que esse é um diferencial da candidatura do Aécio?

Madeira: Tudo depende da forma. O eleitor, ao contrário do que as pessoas pensam, tem um senso de responsabilidade. Quando chegar lá na frente ele vai pensar quem é que pode governar melhor o país. Nosso ponto de partida é muito bom para ir para o segundo turno e ganhar a eleição. Estamos propondo ao país regras claras, que não sejam mudadas ao sabor da conveniência. O setor empresarial está assustado com isso. A segurança para o desenvolvimento exige transparência.

Valor: Aécio pretende polarizar com Marina?

Madeira: Não creio. Com o governo federal podemos fazer comparações de gestões. Com a Marina, não tem o que comparar. Não sei muito onde é que vamos enfrentar a Marina. As pessoas que estão em volta dela não são pessoas do novo. Esse negócio do novo é uma promessa que não tem muita sustentabilidade.

Valor: Divisões internas e acusações de falta de empenho prejudicaram o desempenho dos presidenciáveis do PSDB nas eleições de 2002, 2006 e 2010? Por que neste ano pode ser diferente?

Madeira: Aqui em São Paulo estou vendo o partido fortemente unido. Vejo o partido integrado nas campanhas de (José) Serra, Aécio e Geraldo (Alckmin). Eu não estou vendo neste ano insatisfações internas que levariam as pessoas a uma falta de empenho. Por outro lado, há uma clara percepção de que o modelo PT de gestão se esgotou. Os problemas estão espalhados. O setor elétrico passa por uma crise enorme, as obras de infraestrutura não saem. O governo da Dilma tem um dos piores desempenhos na economia na história republicana.

Valor: O PSDB ainda aparece muito mal nas pesquisas no Nordeste. Como avançar na conquista do eleitor da região nesses próximos 40 dias de campanha?

Madeira: Na semana do acidente com o Eduardo, o Aécio passou três dias no Nordeste. Ele está fazendo articulações e buscando apoios que deem maior sustentação à sua candidatura. Os acordos e as alianças vão ajudar nesse processo. No Ceará, por exemplo, o Tasso Jereissati (PSDB) voltou a se colocar como candidato ao Senado para ser senador, mas também ajudar nossa campanha nacional. Dilma também prometeu para o Nordeste muito mais do que entregou. As pessoas percebem isso. A transposição do rio São Francisco foi prometida e não saiu. Em cada lugar há coisas prometidas que não saíram.

Valor: O PT colou no PSDB a imagem de ser um partido elitista. Por que a dificuldade em exorcizar esse estigma?

Madeira: Como nós somos os principais adversários, eles focaram muito em cima do que é o PSDB. Nós não podemos ignorar que temos forte simpatia das classes médias nas grandes cidades, no Sul, no Sudeste. Mas esse estigma que o PT tenta passar é uma arma de comunicação política. A postura deles é de uma profunda desonestidade intelectual. A privatização da Petrobras, por exemplo, nunca esteve no horizonte da pauta do governo FHC. Não obstante, eles dizem que sim.

Marina terá que fazer política, afirma Roberto Freire

Nivaldo Souza, Ricardo Della Colleta e Daiene Cardoso – O Estado de S. Paulo

O presidente do PPS, Roberto Freire, disse nesta quarta-feira que a articulação política da aliança foi desenvolvida por Eduardo Campos e que agora a ex-senadora terá a tarefa de assumir esse papel. "Antes ela era coadjuvante, quem fazia política era Eduardo. Agora, é ela que vai fazer política", afirmou, ao chegar à sede do PSB em Brasília para a reunião que confirmará Marina Silva como candidata à Presidência.

O presidente do PPS também comentou o receio que o agronegócio tem em relação à candidata. Segundo ele, Campos fez uma campanha afirmando que Marina não tinha nenhum problema com o setor, mas reconheceu que alguns segmentos do agronegócio têm restrições com relação à nova candidata do PSB. "Há algum mal entendido que vamos tentar superar", disse. Freire também rebateu críticas em relação ao perfil de Marina como gestora, destacando que a candidata foi ministra do Meio Ambiente do ex-presidente Lula e senadora da República e tem "sensibilidade". "Ela tem demonstrado consciência e tem experiência."

Preconceito
O deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) afirmou hoje, ao chegar à sede do PSB em Brasília, onde Marina Silva será ratificada como candidata à Presidência da República pelo partido, que sua ascensão na chapa como vice da ex-senadora será para honrar a memória de Eduardo campos, morto em um acidente aéreo na semana passada. "Vamos honrar com muito trabalho um homem que morreu no front da batalha", disse.

O candidato foi questionado sobre como será a relação de Marina com o agronegócio e disse que as propostas do partido foram apresentadas por Campos na sabatina realizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Albuquerque afirmou que existem muitos preconceitos no setor em relação a Marina que não são verdadeiros. "Quem esteve na CNA ouviu nossas propostas, que devem ser mantidas. Muita gente tem preconceito com a Marina sem ouvi-la.

É gente que ouve os outros falarem dela. Quem ouvi-la vai ver que há preconceitos que não são verdadeiros", disse.

Albuquerque disse também que é preciso ter respeito com a agricultura, setor apontado por ele como importante para desenvolvimento do País. Segundo o deputado, os temas de desenvolvimento, economia e agricultura estão contemplados no programa do PSB.

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, afirmou, ao chegar ao evento, que a carta de compromisso entre Marina e o PSB é o programa de governo do partido. O governador afirmou ainda que não existe imposição do PSB para que Marina abandone o processo de criação da Rede Sustentabilidade. "A Marina é da Rede. Todo mundo sabe que ela vai construir o partido. Isso já estava combinado", disse. Casagrande ponderou que as discussões sobre o futuro da Rede são uma tarefa para depois da disputa eleitoral.

Marina toma rédeas da campanha

• Ex-senadora decide não subir em palanque de quem ela não apoia e coloca assessor de confiança nas finanças

Simone Iglesias, Cristiane Jungblut e Catarina Alencastro – O Globo

BRASÍLIA - Após uma série de reuniões que começou às 8h e se estendeu até a noite, o PSB oficializou ontem a chapa de Marina Silva à Presidência da República, tendo o deputado Beto Albuquerque (RS) como vice. Depois de muito debate entre Marina e a cúpula do PSB, ela conseguiu evitar a obrigação de subir em palanques e apoiar candidatos a governos estaduais com os quais não tem afinidade política, como em São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Além disso, emplacou na tesouraria da campanha seu assessor de maior confiança, Bazileu Margarido, e na coordenação, o deputado Walter Feldman.

- Quando conversamos pela primeira vez, acertamos que, onde não fosse possível o acordo, o PSB teria as suas escolhas, e a Rede, as suas. Nesse momento, permanece o mesmo enquadre (sic) que fizemos. Não há mudança. Eu continuo preservada de acordo com o que havíamos combinado - explicou Marina.

Encerradas as negociações, Marina disse que a palavra de ordem agora é tratar "com generosidade" as diferenças e ampliar os pontos de unidade da chapa. Para ela, o programa elaborado com Eduardo Campos é o eixo dessa união. A candidata, no entanto, deixou claro que seguirá lutando pelo registro do partido que tenta criar desde o ano passado, a Rede Sustentabilidade. Segundo Marina, independentemente do que ocorrer na eleição, a Rede e o PSB são "irmãos". Em clara sinalização de que está aberta ao diálogo com Dilma Rousseff e Aécio Neves, Marina disse que só foram ao velório de Eduardo pessoas de bem.

- No entorno do seu caixão, não estava a Velha República. Os que estavam lá, mesmo com divergências, deram contribuição de alguma forma, avançaram em conquistas econômicas, com o fim da inflação, conquista da inclusão social. Teremos a disposição de dialogar com o Brasil - ressaltou.

Partido redigiu carta
A candidata recebeu de Roberto Amaral, presidente do PSB, uma carta de seis páginas na qual a direção do partido diz que "superaremos eventuais divergências e repudiaremos interesses menores; nosso guia é o interesse maior da coletividade". O partido pediu ainda que os compromissos firmados por Campos sejam mantidos. Para o PSB, os "novos fatos impõem a reiteração dos compromissos já pactuados e a discussão de entendimentos e novos compromissos".

Ao fim do discurso, Marina foi aplaudida, com gritos de "Eduardo presente; Marina presidente!". Emocionada, a candidata elogiou a forma como Roberto Amaral conduziu o processo de definição da nova chapa. Ao discursar, o presidente da legenda disse que Marina Silva e Beto Albuquerque levarão a campanha do partido e de Eduardo Campos adiante.

- Marina e o nosso deputado Beto Albuquerque e seus militantes levarão a bom termo essa candidatura. Vão assumir a bandeira do PSB. Tenho certeza de que Arraes está batendo palma - disse Amaral, referindo-se a Miguel Arraes, avô de Eduardo Campos e maior expoente do partido, que morreu em 2005.

O vice Beto Albuquerque destacou o fato de a chapa ter sido aprovada por unanimidade.

- Serei vice-presidente junto com Marina para consumarmos esse desejo majoritário da população de mudar. Marina-Eduardo espelhava a esperança concreta da nova política. Vamos mudar a forma de fazer a política. Temos 46 dias para trabalhar. Não vamos olhar para o retrovisor. Queremos dizer, com alegria, vamos dar a volta por cima, honrar o legado de Eduardo.

O anúncio da chapa, previsto para as 15h, só ocorreu depois das 20h. Além das homenagens a Campos, o debate que consumiu boa parte do dia foi em torno das finanças da campanha. Marina recebeu um "inventário" com todas as despesas feitas até o momento, os gastos previstos e os financiadores. Segundo participantes do encontro, o desafio agora é manter a captação de receitas. Marina remanejou Bazileu Margarido, que era coordenador-geral da campanha, para a coordenação financeira. A ideia é manter o controle, já que a cabeça de chapa passa a ser de Marina, e ela responderá pela prestação de contas juridicamente. Além disso, a Rede tem restrições a vários tipos de doadores, como empresas de bebidas alcoólicas, tabaco, armas, fertilizantes, entre outros. No lugar de Bazileu, assume o deputado Walter Feldman (PSB-SP), que compartilhará com o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, a coordenação-geral da campanha.

A primeira mudança, já prevista para ocorrer na semana que vem, é a logística da campanha. Aliados da candidata disseram que ela fará boa parte das viagens em aviões de carreira, como em 2010, e que só usará jatos quando tiver que ir a lugares de difícil acesso por voos comerciais.

No rádio, PSB introduz Marina; rivais mantêm estratégias

Wladimir Dandrade e José Roberto Castro – O Estado de S. Paulo

Nesta quinta-feira, 21, segundo dia de programa eleitoral no rádio, depois de homenagear novamente Eduardo Campos, o PSB apresentou Marina Silva como a nova candidata à Presidência da República da legenda. "Agora é você Marina", disse o locutor ao apresentar a ex-senadora. O programa reafirmou a aliança que uniu os partidos em torno das candidaturas de Eduardo Campos, morto no último dia 13, e Marina e o projeto do ex-governador pernambucano para o País. Os rivais PSDB e PT se mantiveram dentro de suas estratégias, o primeiro tentando passar a imagem de Aécio Neves como gestor eficiente, enquanto o programa da candidata à reeleição Dilma Rousseff insistiu para o eleitor comparar a sua vida antes e depois do governo federal petista.

O programa de Marina Silva insistiu em reafirmar o sentimento de união entre os partidos da coligação, agora em apoio a Marina Silva. "Uma decisão que temos feito é trabalhar unidos para unir o Brasil em torno das coisas boas", disse a candidata. "Eu enxergo o Brasil do tamanho que ele deve ser", afirmou Marina. Na terça-feira, 19, no primeiro programa eleitoral, Marina não foi citada em meio à série de declarações de Eduardo Campos.

O tucano Aécio Neves utilizou seu tempo de propaganda para fixar uma imagem de gestor eficiente.

Respondendo perguntas dos locutores, Aécio afirmou que um presidente precisa conhecer os problemas, pensar no planejamento e definir metas. "Governar é definir prioridades, é pensar mais na população que no partido", disse o candidato. As principais críticas ao atual governo ficaram nas intervenções do locutor: "Governo é muito fraquinho e olha que tem gente pra caramba lá." Aécio falou sobre metas para educação e a respeito do enxugamento da máquina em Minas Gerais e redução do próprio salário de governador.

O programa da candidata à reeleição Dilma Rousseff voltou a comparar os anos de governo do PT na Presidência com os da gestão do PSDB. "O quanto sua vida mudou nos últimos anos?", perguntou um locutor. "Não há uma só pessoa no Brasil cuja vida não tenha mudado pelo menos um pouco nos últimos anos", disse Dilma.

O programa apresentou depoimentos de eleitores para mostrar mudanças para melhor na agricultura, saúde e distribuição de renda. "Antigamente quem tinha acesso a um carro zero? Hoje nós temos acesso ao crédito", disse uma personagem. "Entrou um governo que enxergou os pobres e disse: esses pobres aqui também são gente", afirmou outro.

A candidata também voltou a falar da crise econômica mundial e a perda de empregos em países desenvolvidos, enquanto no Brasil foram criados quase 12 milhões de vagas. E assim como o programa de estreia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu votos para Dilma ao afirmar que seu segundo mandato foi melhor que o primeiro e que assim será com a candidata à reeleição petista.

O programa do candidato do PSC, Pastor Everaldo, repetiu o programa de ontem a não ser pelo depoimento inicial, que ficou a cargo do pastor Manoel Ferreira.

Opositores mostram convergência em economia

Denise Neumann, César Felício e Raymundo Costa – Valor Econômico

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Em suas mais recentes apresentações públicas, Armínio Fraga, coordenador do programa econômico do PSDB, e Eduardo Giannetti da Fonseca, conselheiro econômico da candidata do PSB, Marina Silva, mostraram muita convergência em termos de política econômica. Além do consenso quanto à necessidade de restabelecer o tripé econômico, ambos defenderam que é preciso uma política de ajuste no início do próximo governo - que passa pelo realinhamento das tarifas públicas. Esse ajuste, concordam, terá um custo em termos de crescimento e talvez de emprego, mas eles estão convencidos de que a resposta do país às medidas de ajuste será rápida e o Brasil poderá voltar a crescer mais cedo do que se imagina.

Ontem, Marina e o deputado Beto Albuquerque (RS) foram oficializados candidatos, em uma reunião na sede do PSB, em Brasília, marcada por disputas internas em torno da coordenação e da estratégia de campanha. O grupo de Marina ficou com a coordenação financeira.

Conselheiros de Aécio e Marina convergem em política econômica

Nas duas mais recentes apresentações públicas, Armínio Fraga, coordenador do programa econômico do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, e Eduardo Giannetti da Fonseca, conselheiro econômico da candidata do PSB, Marina Silva, mostraram muita convergência em termos de política econômica. Como esperado, ambos foram enfáticos na defesa da volta do tripé como fio condutor da política econômica no caso da vitória da oposição nas eleições presidenciais de outubro.

Além da convergência quanto à necessidade de restabelecer o tripé, Armínio e Giannetti defenderam que é preciso uma política de ajuste no início do novo governo que passe pelo realinhamento das tarifas. Esse ajuste, disseram, terá um custo em termos de crescimento e talvez de emprego, mas ele será menor para a sociedade e para a economia do que o custo de não fazê-lo. E mais: os dois estão convencidos de que a resposta às medidas de ajuste será rápida e o país poderá voltar a crescer mais cedo do que se imagina. Giannetti foi ainda mais incisivo e deu data para a volta do crescimento. "A capacidade de reação do país é muito forte e podemos terminar 2015 com a economia em aceleração", disse, ontem, em palestra na Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Armínio falou na semana passada em Fórum da revista "Exame".

Armínio e Giannetti usaram o passado para justificar a avaliação de forte (e positiva) reação do Brasil às medidas de ajuste. Ambos lembraram a crise de 1998/99 - quando Armínio assumiu a presidência do Banco Central no início do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso e, junto com a adoção do sistema de metas de inflação, elevou os juros - e o posterior crescimento de 2000 como um exemplo desses momentos em que o ajuste traz um custo inicial forte e a benesse da recuperação vem rapidamente.

Giannetti acrescentou outro momento como exemplo dessa capacidade: a reação da economia às primeiras medidas do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2002 o câmbio chegou a R$ 4, uma aceleração provocada pela preocupação com um governo petista. "Nos dois momentos, em dois a três trimestres, voltamos a crescer", disse Giannetti. "Em 2000 crescemos a uma taxa de 4% ao ano por seis trimestres após os primeiros meses do ajuste", lembrou Armínio.

Além da necessidade de um ajuste forte no começo do novo governo, Armínio e Giannetti (que fez questão de deixar claro que, por enquanto, fala por ele e não pela candidatura do PSB, cujo programa econômico está sendo discutido) criticaram a política de contenção artificial da inflação, tanto pelo controle dos preços de combustíveis e da energia elétrica, como pelo controle do câmbio em função da política de intervenção do Banco Central, e o desajuste fiscal. Na questão fiscal ambos enfatizaram questões diferentes mas não divergentes.

Aproveitando que está próximo de uma candidatura que nunca foi governo, Giannetti situou a origem do desequilíbrio fiscal na Constituição de 1988 e foi enfático ao dizer que o gasto público cresceu em todos os governos desde então, o que inclui os dois mandatos de FHC como presidente e sua gestão como ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco. "A carga tributária aumentou de 24% para 36% do PIB", disse Giannetti, ponderando que os gastos (e os tributos) subiram em todas as esferas de governo, embora tenha havido uma "sanha" maior no governo, o que aparece na importância adquirida pelas contribuições no montante da arrecadação, pois elas não precisam ser repartidas com Estados e municípios. Ele acrescentou que houve piora fiscal especialmente na gestão Dilma Rousseff que foi acompanhada de medidas de "contabilidade criativa", que minaram a credibilidade das contas públicas.

Armínio concentrou suas críticas nesse último ponto e avançou na avaliação de que o "conserto" fiscal vai demorar um pouco mais (dois anos, ele imagina) e que o país está pronto para discutir e adotar uma reforma tributária que passa pela simplificação dos impostos. Giannetti não entrou nesse ponto, o que não quer dizer que não concorde com ele.


Armínio e Giannetti também parecem partilhar da avaliação de que a atual meta de inflação é muito alta. Armínio foi explícito sobre esse ponto. Ele defendeu que em um primeiro momento é preciso perseguir a convergência para a meta de 4,5% (deixando a atual administração da política monetária que flerta com o teto da meta) e deixou claro que ele, pessoalmente, acha que o país deveria, depois, buscar uma meta menor.

Giannetti não falou em percentuais, mas criticou a gestão do BC que "disse" para o mercado que ficava confortável com a inflação no teto "e com essa barbeiragem perdeu a batalha das expectativas". A percepção de que ele considera possível uma meta menor aparece quando ele classifica o regime de brasileiro de metas de inflação como um dos mais "condescendentes". "A nossa meta é a mais alta", e a banda uma das mais amplas, "e ainda assim ela volta e meia é ultrapassada", ponderou Giannetti.

Há ainda outros pontos de convergência entre os dois economistas, como a forte crítica à postura do governo de colocar a culpa pelo baixo crescimento na crise externa, a avaliação de que o país já está em quadro recessivo, a necessidade de revisar os programas de benefícios fiscais que seguiram o modelo de "escolher campeões", a crítica ao forte intervencionismo do governo e a necessidade de recuperar o princípio de câmbio flutuante, para recompor o tripé.

Giannetti foi mais detalhista ao criticar o que ele chamou de "microgerenciamento" em troca das políticas anteriores, tanto do governo FHC como no de Lula, de políticas horizontais, sem escolhas prévias dos "vencedores". Ele citou dados para mostrar o absurdo que foi a política do Tesouro emitir títulos indexados à taxa Selic para emprestar a juros subsidiados para o BNDES repassar para empresas "escolhidas", criando uma "bolsa BNDES" cujo custo do subsídio foi superior ao do Bolsa Família, disse Giannetti, dando o crédito da conta ao economista Mansueto Almeida, que participa das discussões do programa de governo da candidatura do PSDB.

Quando Giannetti chamou essa política de "bolsa-BNDES", os empresários presentes se manifestaram e preferiram preservar a instituição. "Bolsa-elite", gritaram dois deles. Fraga também criticou as medidas, mas deixou claro que um dos grandes problemas é a falta de transparência e de avaliação sobre seu real benefício.

Giannetti mesmo deixou claro, antes de terminar sua palestra, que vê muita convergência na política econômica das duas principais candidaturas de oposição. "Mas estou falando de convergência nessa área específica", disse ele.

Merval Pereira: Rede na cabeça

- O Globo

Marina Silva está acreditando que já é um fenômeno eleitoral e dispensa apoios de indesejáveis. Segue assim o caminho que Eduardo Campos decidira trilhar, só que ele escolheu a dedo os seus indesejáveis: Renan Calheiros, José Sarney, Fernando Collor. Marina adicionou à lista o PSDB e o PT, firmando assim uma imagem de terceira via pela confrontação, e não pela negociação.

Se abre mão antecipadamente do PMDB - que Campos queria colocar na oposição a seu governo -, mas também do PT e do PSDB, com quem Marina irá governar? A decisão de Marina de recusar o apoio do PSDB de São Paulo, mesmo com a aliança feita pelo PSB sob comando de Campos, mostra bem o rumo que sua candidatura tomará.

Se anteriormente não faria muita diferença que ela não aparecesse em comícios ou reuniões da coligação, pois Campos apareceria, agora sua ausência é uma afronta política a um governador que deve se eleger no primeiro turno no maior colégio eleitoral do país. E a recusa a apoiar Lindbergh Farias, do PT no Rio, fecha a porta também ao partido que está no governo, marcando uma posição firme de alternativa "a tudo o que está aí".

Só mesmo sendo um fenômeno eleitoral para afrontar tantos interesses políticos já arraigados e abrir mão antecipadamente de apoios no segundo turno, que, se alcançado, requererá um apoio político para vencer a presidente Dilma. Isso na teoria, no raciocínio da "velha política", que Marina e seus eleitores indignados rejeitam.

Mas serão eles maioria no eleitorado para dar essa independência toda? E, mesmo que se concretize sua vitória, com quem governará Marina? Temos exemplos recentes que ilustram bem essa necessidade de alianças para um governo de coalizão. Em 1989, fazendo uma campanha puramente midiática e apoiado por um clamor popular, o candidato Fernando Collor foi arrastando atrás de si apoios de tudo quanto é grupo político, mesmo daqueles que não gostavam dele mas queriam estar próximos do poder.

Collor, com a força de sua popularidade, levou de roldão os problemas de campanha, fez acordos por baixo dos panos até mesmo com os usineiros que fingia combater em público, e chegou ao Palácio do Planalto com rara independência de grupos políticos. Não conseguiu governar da mesma maneira que fizera a campanha, e acabou Impichado com a ajuda de um clamor popular mais forte do que o que o levara ao poder.

Sem apoio político e com acusações de corrupção em vários setores do governo, não teve condições de continuar no governo. Anos depois, Fernando Henrique Cardoso, o então ministro da Fazenda de Itamar Franco - que assumira a Presidência da República por ser vice de Collor -, surpreendeu a todos ao anunciar uma aliança política com o PFL, partido de centro-direita que tinha grande representação no Congresso.

Mesmo com a força do Plano Real, que o elegeria sem a necessidade de acordos, Fernando Henrique sabia que não poderia governar se não tivesse uma base política sólida. Ainda mais para fazer as reformas estruturais que pretendia. Marina está escolhendo o caminho mais áspero, que pode até mesmo levá-la a uma derrota ainda na eleição que ela começa a disputar a partir de hoje, referendada como a candidata do PSB.

Na verdade, é a candidata da Rede que está assumindo o posto e dando as cartas na coligação, e que passa a existir de fato mesmo sem o registro oficial do partido de Marina. Ao não abrir mão de continuar criando seu partido mesmo se for eleita como candidata do PSB, Marina já deixou claro que seu projeto não mudou, e que o PSB continua sendo só um pouso provisório.

Mudou toda a construção da candidatura, e todo esse tempo ao lado de Eduardo Campos não serviu para que PSB e Rede firmassem acordos mínimos de convivência. O vice Beto Albuquerque vai ter o papel de algodão entre cristais, e já será um vitorioso se conseguir evitar muitas perdas ao longo da campanha. Essas idiossincrasias de Marina serão toleradas enquanto sua expectativa de poder persistir.

Se o "fenômeno" Marina se confirmar, teremos no Palácio do Planalto uma presidente voluntarista acostumada a impor sua vontade. Se as dificuldades de crescimento de sua candidatura aparecerem pelo meio do caminho, dificilmente a parceria Rede-PSB resistirá às crises políticas que virão.

Dora Kramer: Mercado de ilusões

- O Estado de S. Paulo

Fala-se muito em modelos esgotados na política. Aos sistemas partidário e eleitoral, à maneira de o Poder Executivo construir maioria no Parlamento sem risco de exagero podemos acrescentar a propaganda eleitoral no rádio e na televisão.

Quem acredita naquilo? O nome já diz: é publicidade e, como tal, tem o objetivo de vender um produto, apresentando suas qualidades não necessariamente verdadeiras. Com a desvantagem em relação aos bens de consumo imediato, que não podem ser descartados com facilidade quando não aprovados.

Ali os especialistas no ramo enquadram candidatos às fórmulas da melhor comunicação dos respectivos recados. Submetem os eleitores a 45 dias de exposição e isso na maior parte das vezes acaba dando resultado, daí a luta por minutos, segundos a mais no horário eleitoral. Um efeito meramente publicitário.

Quem embrulha melhor a mercadoria chama mais a atenção do eleitor. Nem sempre isso acontece com quem dispõe de mais tempo. Exemplo clássico, a eleição de 1989. Ulysses Guimarães, do PMDB, contava com extenso espaço, mas terminou com ínfima votação.

Fernando Collor, do minúsculo PRN, soube manejar os instrumentos de marketing, vendeu meia dúzia de ilusões conduzidas pela ideia-força do "caçador de marajás" e a adesão da maioria àquela mistificação fez o resto no segundo turno contra Luiz Inácio da Silva.

Descontados os refrões de jingles bem bolados e imagens especialmente marcantes, dificilmente alguém sabe dizer de memória o que viu no horário eleitoral.

O ritmo de vídeoclipe, os recursos mais ou menos iguais dos candidatos que contam com mais recursos, a citação enfadonha de números que o cidadão não sabe se verdadeiros ou falsos, o palavrório de autoexaltação podem servir para firmar empatia com esse (a) ou aquele (a) concorrente, mas não se presta ao que seria importante para o dono do voto: o conhecimento real das razões da escolha no dia da eleição.

De conteúdo mesmo não sobra nada de um horário pago pelo contribuinte na forma de renúncia fiscal às emissoras e que necessariamente deveria ser utilizado como espaço de convencimento de fato.

Não necessariamente com exposição cansativa de propostas e programas, mas com diálogo maduro, questionamentos adultos e determinação de conquistar o voto pela discussão sólida de conteúdo, deixando em segundo plano a irrelevância da forma das belas violas.

Palanque livre. Mantendo-se a decisão de Marina Silva de não fazer campanha junto com os candidatos à reeleição aos governos dos Estados de São Paulo e Paraná, os tucanos Geraldo Alckmin e Beto Richa, o candidato do PSDB, Aécio Neves, é quem tem motivos para comemorar.
Eduardo Campos havia fechado acordo com os dois e em algum momento teria agenda com eles. Aécio precisaria, assim, dividir espaço com o PSB. Pela nova configuração, não terá a concorrência de outra candidatura presidencial.

Atropelo. Foi clara a tática empregada pela presidente Dilma Rousseff na entrevista do Jornal Nacional: falar o máximo possível a fim de proporcionar a abordagem do mínimo de temas na extensa e óbvia pauta de assuntos embaraçosos.

Não houve tempo, por exemplo, para os entrevistadores falarem sobre a crise na Petrobrás nem para perguntarem a origem dos R$ 156 mil que a presidente declarou guardar em casa.
Dilma recusou-se a comentar a posição do PT diante das condenações no processo do mensalão, alegando que como presidente não poderia emitir opiniões que pudessem colocá-la em "confronto" com o Supremo Tribunal Federal.

Primeiro, a pergunta era sobre o partido e, depois, o julgamento é página virada. Portanto, a presidente na realidade quis evitar conflito de um lado com o PT e, de outro, com o eleitorado.

Rogério Gentile: Lula da Amazônia

- Folha de S. Paulo

Marina Silva preocupa muito o PT, entre outras coisas, porque a ex-ministra do Meio Ambiente é, na política brasileira, a figura que mais se assemelha ao ex-presidente Lula.

Assim como o petista, Marina tem uma história de vida impressionante. Morou no seringal até os 16 anos, passou fome, só aprendeu a ler e a escrever na adolescência, sobreviveu a doenças tropicais e a uma contaminação por mercúrio, trabalhou como empregada doméstica e, apesar de tudo isso, chegou aonde chegou. Bem trabalhada numa campanha, Marina vira rapidinho o "Lula da Amazônia".

O fato de ela ser dissidente do PT, ex-ministra de Lula, também é um problema para a reeleição da Dilma, sobretudo num cenário em que a maioria do eleitorado demonstra desejar alterações na rota do governo, mas não espera uma guinada de 180º --tanto que o próprio Aécio fez questão de dizer em sua propaganda que o Brasil está pior do que "quatro anos atrás", o que é, no final das contas, uma admissão de que as coisas iam bem nos anos Lula.

É evidente que nada disso permite afirmar que Marina vencerá a eleição nem que estará no segundo turno.

A ex-ministra dispõe de pouco tempo de campanha na TV --quase um sexto de Dilma e a metade de Aécio--, alianças frágeis ou inúteis em muitos Estados e enfrenta não apenas a presidente da República, mas o próprio Lula, que está na linha de frente do horário eleitoral.

Além disso, enquanto Dilma fala em "Bolsa Família", "Minha casa, Minha vida" e "Mais Médicos", Marina faz um discurso embromado que pouca gente consegue reproduzir para além de palavras vagas como "sustentabilidade" e "nova política".

De qualquer modo, uma coisa ficou clara desde a morte de Eduardo Campos. Pela primeira vez, o PT entra em uma campanha realmente com medo de ser desalojado do Palácio do Planalto. Convém tirar as crianças da sala.

Jarbas de Holanda: Incerteza sobre finalistas do 2º turno. E as respostas à piora da economia

A emergência da candidatura de Marina Silva – beneficiada pela comoção popular com a morte de Eduardo Campos e pela rápida atração de grande parte dos votos nulos e de indecisos – mudou substancialmente as tendências da disputa presidencial neste início do horário “gratuito”. Tendências evidenciadas na manchete da Folha, de anteontem, sobre os dados de pesquisa extraordinária feita pelo seu braço especializado: “Marina empata com Aécio no 1º turno e com Dilma no 2º”. É que poderão manter-se em pesquisas seguintes, ou enfraquecer-se ao se reduzir o peso de tal comoção, bem como por causa das contradições e da fragilidade das alianças e dos palanques da nova candidata do PSB. Mas com um efeito que tornou inevitável a realização do 2º turno.

Essa mudança do cenário eleitoral se dá num contexto de persistência e agravamento dos problemas macro e microeconômicos e do pessimismo do conjunto dos atores do mercado. Sentimento resumido em declaração recente do empresário Benjamim Steinbruch, presidente da CSN e substituto de Paulo Skaf no comando do Fiesp: “Só louco investe hoje no Brasil”. E tal contexto poderá ganhar cores ainda mais sombrias no próximo dia 29, quando o IBGE divulgará balanço do comportamento da economia no segundo trimestre, com prováveis números indicativos de recessão (queda em dois trimestres consecutivos, pois a do segundo deverá implicar rebaixamento a menos de zero da minúscula expansão de 0,2% atribuída antes ao primeiro). O que constituirá um fator, adicional, para uma retomada da predominância da agenda político-econômica (em lugar da em emocional, gerada por aquela comoção), na fase decisiva das disputas eleitorais para os finalistas do embate pelo Palácio do Planalto, para os governos dos estados e para a composição, também relevante, do próximo Congresso Nacional.

Quanto à campanha de Marina – a ser oficializada hoje pelas direções do PSB e dos partidos aliados – os próximos dias vão esclarecer se ela caminhará pa-ra assumir o pragmatismo de Campos na montagem de alianças e na convergência com a de Aécio Neves na crítica e em propostas de alternativas à política econômica do governo Dilma, ou se tratará de distinguir-se dos dois concorrentes com um discurso ético-religioso contra a “classe política” e de conteúdo antimercado (com reiteração de suas antigas restrições às atividades do agronegócio e a empreendimentos como os da construção de usinas hidrelétricas). Outra postura de Marina, esta no plano político-institucional, que mudará ou não (e será positivo se mudar) e a do apoio que explicitou a criação dos “conselhos sociais”, bolivarianos, proposta do PT assumida pela presidente Dilma.

Quanto ao papel da presidente/candidata no debate dos problemas e das perspectivas da economia, as respostas que deu aos questionamentos a respeito, que lhe foram feitos na entrevista de anteontem ao Jornal Nacional da Globo, anteciparam seu discurso básico no horário “gratuito”. Ela empenhou-se em defender a política em vigor, a partir dos “ganhos sociais” dos governos Lula e do seu. Desqualificou os diversos indicadores de queda dos investimentos e de estagnação das várias atividades produtivas, atribuindo os problemas que teve de reconhecer à crise internacional e ao “pessimismo” de setores do mercado. E prometeu solucioná-los num segundo mandato. Ou seja, a economia está bem e vai melhorar com uma vitória dela.

Por seu turno, a campanha de Aécio – para a passagem ao 2º turno, com ou sem proximidade com a de Marina, nesse terreno, e para o provável embate final com a de Dilma Rousseff – dependerá da capa-cidade de oferecer respostas consistentes e realistas a esses problemas, ligando-os aos seus efeitos inflacionários, de estreitamento do mercado de trabalho e nas áreas de saúde, criminalidade, educação, mobilidade urbana. De afirmar-se – o que até agora não conseguiu – como a alternativa de um presidente com as condições de assegurar uma gestão eficiente, com o desmonte do custoso gigantismo e do corrupto aparelhamento partidário da máquina federal, de transparente e bem sucedida articulação com o Congresso. E, assim, capaz de trocar por uma pauta favorável ao desenvolvimento econômico, político e social a agenda populista, de menosprezo do pluralismo democrático e de paralisia do crescimento econômico. Agenda que vem sendo imposta ao Brasil nos últimos anos.

Jarbas de Holanda é jornalista

Luiz Carlos Azedo: A anticampanha

• Qualquer outro presidente da Petrobras já teria sido demitido do cargo para estancar a crise política na qual a empresa mergulhou, mas Dilma e Graça são parceiras de longa data, duronas e mandonas.

- Correio Braziliense

Um dos problemas de qualquer candidato que pleiteia a reeleição é administrar a agenda negativa do próprio governo. Esse é o calcanhar de Aquiles que pode apeá-lo do poder. No maioria dos casos, trata-se de blindar os pontos fracos e trombetear as ações bem avaliadas nas pesquisas de intenção de voto. No caso da presidente Dilma Rousseff, há dois “issues” dos quais ela não consegue se desvencilhar: os petistas enrolados com malfeitos e os escândalos da Petrobras. Ontem, foi mais um dia em que ambos roubaram a cena.

Por unanimidade, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados aprovou o pedido de cassação do mandato do ex-petista André Vargas (sem partido-PR). O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), relator do caso, recomendou a punição do parlamentar, que é investigado por manter relações com o doleiro Alberto Youssef. Ele suspeito de intermediar contratos com o Ministério da Saúde em favor do laboratório Labogen, de Youssef. O doleiro foi preso em março pela Polícia Federal, na Operação Lava-Jato, por participação em esquema de lavagem de dinheiro.

Vargas é um casca-grossa petista, ocupava a vice-presidência da Câmara quando o escândalo estourou. Muito influente na bancada do partido, era um dos líderes do movimento “Volta, Lula!”. Havia se notabilizado por afrontar o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro aposentado Joaquim Barbosa, durante solenidade na Câmara, na qual posou de punho cerrado ao lado do magistrado, em solidariedade aos petistas condenados no processo do mensalão.

Ao contrário de outros parlamentares alvejados por denúncias, que preferiram renunciar ao mandato, Vargas manobra nos bastidores da Câmara para evitar uma cassação. Não renuncia porque teme ter a prisão decretada. Considera-se abandonado pela cúpula do PT, que o obrigou a se desfiliar da legenda.

Cada vez que Vargas põe os pés na Câmara, joga mais lama na imagem do PT, cujo desgaste já foi grande no caso do julgamento do mensalão, o que acaba na conta da presidente Dilma. Com a decisão de ontem, o parlamentar pode recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com efeitos suspensivos. O ex-deputado alega que não quebrou o decoro e denuncia a Comissão de Ética. Segundo ele, o processo foi conduzido com açodamento e politização excessiva. Ou seja, Vargas continuará produzindo notícias negativas.

Petrobras
Apesar da maciça propaganda nos meios de comunicação, a Petrobras é outro problema para Dilma Rousseff, que pretende transformar a exploração do pré-sal numa das bandeira de seu novo mandato. A compra superfaturada da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), aprovada quando Dilma era presidente do Conselho de Administração da empresa, porém, continua sendo uma dor de cabeça para a campanha da presidente da República.

O Tribunal de Contas da União (TCU) adiou novamente a análise sobre o bloqueio dos bens da presidente da Petrobras, Graça Foster, amiga do peito de Dilma. O ministro José Jorge, entretanto, decidiu manter o voto que pede a indisponibilidade dos bens de Graça Foster. Retirou o processo da pauta porque, segundo o site do jornal O Globo, ela e o ex-diretor da Área Internacional da empresa Nestor Cerveró doaram imóveis a parentes após o escândalo sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), para evitar o bloqueio judicial desses bens. No mês passado, o TCU determinou a devolução de US$ 792,3 milhões aos cofres da Petrobras pelos prejuízos causados ao patrimônio da empresa.

Para José Jorge, o fato somente confirma a necessidade de aprovar a indisponibilidade dos bens. “Se isso for verdade, e dependendo da sua extensão, configura uma burla ao processo de apuração da irregularidade. É gravíssimo”, disse. Qualquer outro presidente da Petrobras já teria sido demitido do cargo para estancar a crise política na qual a empresa mergulhou. Ao contrário, em situação inédita, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, foi encarregado pela Presidência da República de defendê-la pessoalmente. Dilma e Graça são parceiras de longa data e têm personalidades semelhantes: são duronas e mandonas.

Raquel Ulhôa: Propostas interrompidas

• Uma das últimas encomendas era a mudança do DPVAT

- Valor Econômico

Entre as brigas que Eduardo Campos estava disposto a comprar, se eleito presidente da República, uma pouco conhecida tinha como alvo o grupo de seguradoras privadas responsáveis pelo pagamento da indenização em caso de morte e invalidez por acidente de trânsito, o DPVAT.

Com a determinação de reorganizar o sistema, Campos encomendou um estudo sobre o assunto a Alexandre Navarro, membro do Comitê de Especialistas em Administração Pública das Nações Unidas (CEPA), ex-secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional e coordenador da campanha presidencial do PSB da região Centro-Oeste.

O trabalho foi entregue por Navarro poucos dias antes da morte do ex-governador, assim como outros, recentemente pedidos: uma fórmula para reduzir o número de funções e cargos comissionados de livre nomeação na administração pública federal, uma alternativa para acabar como fator previdenciário (cálculo de aposentadoria por tempo de contribuição e por idade que reduz benefícios precoce) e normas para a escolha de dirigentes de autarquias, agências reguladoras e organizações sociais por meio de Comitê de Busca.

A proposta para a reorganização de ministérios - outra demanda do então presidenciável do PSB - não foi concluída a tempo de lhe entregar. A ideia era fazer uma recomposição de ministérios e secretarias agregando áreas com sobreposição de tarefas, eliminação de desvios de funções, extinção de pastas com baixo resultado, baixa execução orçamentária e alto custo de diárias, passagens, etc.

"Mudar o DPVAT é complicadíssimo, acabar com o fator previdenciário é polêmico e reduzir cargos comissionados é um problema político, mexe com guetos políticos. Mas Eduardo ia fazer. Durante a campanha, em pouco tempo, com menos estrutura, ele ia mostrar que era diferente dos outros candidatos. E a população ia entender", acredita Navarro, que trabalhava com Campos no Ministério da Ciência e Tecnologia na época das negociações pela aprovação da Lei de Biossegurança.

Com relação ao DPVAT, trata-se, segundo o especialista, de "desvantajoso para o segurado, moroso no ressarcimento e cheio de fragilidades". Para as seguradoras que participam do pool, ao contrário, "é um grande negócio", onde não há riscos e o lucro é pré-determinado. Nas palavras de Navarro, "um paraíso de ganhos financeiros fáceis".

Navarro faz um levantamento detalhado da gestão e dos recursos movimentados pelo sistema. Conclui que o seguro é totalmente desvantajoso para o segurado, por causa da demora e da burocracia para receber e, principalmente, pelos valores insuficientes. Aponta desperdícios e ineficiência na gestão administrativa do sistema.

Para mudar a relação do ente segurador com o segurado, Navarro sugeriu a Campos dois caminhos, um mais estatizante e outro mais liberal. No primeiro caso, a administração do sistema seria transferida da Seguradora Líder (consórcio de seguradoras) para o INSS. A outra opção seria privatizar o sistema. O seguro continuaria sendo obrigatório, mas cada proprietário escolheria uma seguradora, nacional ou estrangeira, de acordo com o preço de mercado. O presidenciável morreu sem fazer a escolha.

Entre as inovações propostas, está a incorporação, pelo DPVAT, do Seguro por Danos Pessoais causados por Embarcações (DPEM), cujo fundo é deficitário. Uma das preocupações de Campos era garantir as indenizações às vítimas de acidentes com barcos no Amazonas. Os dois sistemas seriam unificados no Seguro por Danos Pessoais causados por Veículos Automotores Terrestres e Embarcações (DPVATE).

O fim da parceria entre a Seguradora Líder e os Correios, que funcionam como pontos de atendimento, também foi sugerido por Navarro. A ideia é que os pontos de atendimento sejam instalados nos hospitais, para facilitar o acesso das vítimas e eliminar a figura do intermediário.

Seguro compulsório cobrado dos proprietários de veículos automotores terrestres, o DPVAT prevê ressarcimento em caso de morte (R$ 13,5 mil para herdeiros), invalidez permanente (até R$ 13,5 mil) e despesas de assistência médica e hospitalar (R$ 2,7 mil). Do total arrecadado, 45% são destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS), 5% ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e os 50% restantes para o consórcio de empresas comandado pela Seguradora Líder-DPVAT.

Do bolo que vai para as seguradoras, 2% são auferidos como margem de resultado. Cerca de 32% a 39% são gastos em indenizações e o restante, em gastos operacionais.

Navarro elaborou várias propostas a pedido de Campos, todas também encaminhadas a Maurício Rands, coordenador do programa de governo pelo PSB, ao lado de Neca Setúbal, indicada pelo grupo de Marina Silva (Rede Sustentabilidade). Cada proposta era acompanhada das respectivas providências legislativas que exigiriam.

Presidente do Conselho de Ética do PSB, no dia 4 de agosto ele enviou carta a todos os 1.318 candidatos do partido (presidente da República, senador, deputado federal e deputado estadual) cobrando o uso da marca de Eduardo e Marina em todo o material de campanha. Navarro avisava que, se a marca estivesse ausente da propaganda, ele encaminharia representação à Executiva Nacional contra a candidatura.

Com a reviravolta na campanha, a carta será atualizada com a marca Marina e Beto Albuquerque - novos candidatos a presidente e vice - e o alinhamento, novamente cobrado. Como há muito material distribuído aos candidatos com a foto e o nome de Eduardo, a orientação, segundo Navarro, é botar essa propaganda na rua até acabar.

"Há duas frases que Eduardo dizia muito: 'não vamos fazer isso, porque não tem perigo de dar certo' e 'vamos criar o problema, que depois a gente resolve'. Quando ele falava, já sabia como resolver. Isso é liderança. O cara dá o rumo e assume o processo", afirma Navarro.

Agora sob nova liderança, o PSB tem que se adaptar a novos rumos e aguardar que Marina dê andamento ou não às propostas que Campos pretendia adotar.

Míriam Leitão: Estímulo fora de hora

- O Globo

A liberação de compulsório pelo Banco Central é mais um estímulo ao endividamento das famílias. Acontece em um contexto de crescimento praticamente zero do PIB e de inflação no teto da meta, corroendo os salários. Um dos objetivos da medida é impulsionar o financiamento de veículos, mas tomar crédito agora é pagar mais juros, depois do forte aumento da taxa Selic.

O BC atua, assim, como um mau conselheiro para os consumidores. Num primeiro momento, elevou a taxa básica de juros de 7,25%, em abril do ano passado, para 11%, este ano, numa sucessão de nove elevações consecutivas. Depois, fez duas rodadas de diminuição de compulsório - dinheiro que os bancos são obrigados a deixar parado no BC - para estimular a liberação de empréstimos pelo setor financeiro. Ou seja, primeiro, encareceu o custo do dinheiro para os tomadores, depois, estimulou as dívidas.

Para entender melhor o encarecimento das linhas, é bom olhar para a Nota de Política Monetária. Os juros médios pagos para o financiamento de veículos subiram de 19,7% ao ano, em março de 2013, para 23% agora. Na aquisição de outros bens, saltaram de 68% para 77%. Quem já está enrolado com as dívidas, e precisa tomar crédito pessoal, também já está sentindo o gosto mais amargo dos juros. O consignado teve aumento médio de 24,6% para 25,6%, enquanto a taxa para quem está com a corda no pescoço disparou: o cheque especial saltou de 137% para 171% ao ano.

A medida é contraditória no combate à inflação, que permanece no teto da meta, em 6,5%, pelo último dado do IPCA, de julho. Também dificulta a formação de poupança bruta da economia, que caiu para o nível mais baixo dos últimos 15 anos, para apenas 12,7% do PIB no primeiro trimestre. Sem poupança, não há como financiar investimentos.

Nunca é demais lembrar que a inflação ainda não viu o centro da meta sob a gestão da atual diretoria do Banco Central - a última vez foi agosto de 2010 - e não há previsão da autoridade monetária sobre quando o índice voltará para 4,5%.