domingo, 10 de agosto de 2014

Opinião do dia: Miriam Leitão

O Planalto afirma que não tem como saber quem foi. É ingenuidade acreditar que uma pessoa isolada, enlouquecida, resolveu, do IP da sede do governo, achincalhar jornalistas. A tese do regime militar de que os excessos eram cometidos pelos “bolsões sinceros, porém radicais” nunca fez sentido. Alguém deu ordem para que isso fosse executado. É uma política. Não é um caso fortuito. E o alvo não sou eu ou o Sardenberg. Este governo desde o princípio não soube lidar com as críticas, não entende e não gosta da imprensa independente. Tentou-se no início do primeiro mandato Lula reprimir os jornalistas através de conselhos e controles. A ideia jamais foi abandonada. Agora querem o “controle social da mídia”, um eufemismo para suprimir a liberdade de imprensa.

Sim, eu faço críticas à política econômica do governo porque ela tem posto em risco avanços duramente conquistados, tem tirado transparência dos dados fiscais, tem um desempenho lamentável, tem criado passivos a serem pagos nos futuros governos e por toda a sociedade. Isso não me transforma em inimiga. E, ainda que eu fosse, constitucionalmente o governo não tem o direito de fazer o que fez. É ilegal e imoral.

Miriam Leitão, jornalista. À margem da lei. O Globo, 9 de agosto de 2014.

"Nunca tinha visto tanto dinheiro"

• A contadora do doleiro Alberto Youssef revela como funcionava o esquema de pagamento de propina a políticos do Congresso — e dá o nome de parlamentares, de empreiteiras e dos partidos envolvidos

Robson Bonin - Veja

CURITIBA - É um clássico. As organizações mafiosas caem com maior rapidez quando alguém de dentro decide contar tudo. O que se vai ler nesta reportagem é justamente a história de alguém que, tendo participado do núcleo duro da quadrilha que girava em torno do doleiro Alberto Youssef, pego na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, resolve contar tudo o que fez, viu e ouviu. Meire Bonfim Poza participou de algumas das maiores operações do grupo acusado de lavar 10 bilhões de reais de dinheiro sujo, parte desviada de obras públicas e destinada a enriquecer políticos corruptos e corromper outros com o pagamento de suborno. Meire Poza viu malas de dinheiro saindo da sede de grandes empreiteiras, sendo embarcadas em aviões e entregues às mãos de políticos. Durante três anos, Meire manuseou notas frias, assinou contratos de serviços inexistentes, montou empresas de fachada, organizou planilhas de pagamento. Ela deu ares de legalidade a um dos esquemas de corrupção mais grandiosos desde o mensalão. Meire sabe quem pagou, quem recebeu, quem é corrupto, quem é corruptor. Conheceu de perto as engrenagens que faziam girar a máquina que eterniza a mais perversa das más práticas da política brasileira. Meire Poza era a contadora do doleiro Alberto Youssef — e ela decidiu revelar tudo o que viu, ouviu e fez nos três anos em que trabalhou para o doleiro.

Nas últimas três semanas, a contadora prestou depoimentos à Polícia Federal. Ela está ajudando os agentes a entender o significado e a finalidade de documentos apreendidos com o doleiro e seus comparsas. Suas informações são consideradas importantíssimas para comprovar aquilo de que já se desconfiava: Youssef era um financista clandestino. Ele prospectava investimentos, emprestava dinheiro, cobrava taxas e promovia o encontro de interesses entre corruptos e corruptores. Em outras palavras, usava sua estrutura para recolher e distribuir dinheiro e apagar os rastros. Entre seus clientes, estão as maiores empreiteiras do país, parlamentares notórios e três dos principais partidos políticos. Os depoimentos da contadora foram decisivos para estabelecer o elo entre os dois lados do crime — principalmente no setor tido como o grande filão do grupo: a Petrobras. As empreiteiras que tinham negócios com a estatal forjavam a contratação de serviços para passar dinheiro ao doleiro. Nas últimas semanas, Meire Poza forneceu à polícia cópias de documentos e identificou um a um os contratos simulados e as notas frias, como no caso da empreiteira Mendes Júnior (veja o documento na página 54), que nega ter relacionamento com o doleiro. Os corruptores estão identificados. A identificação dos corruptos está apenas no início.

A polícia já sabe que, para garantirem contratos na Petrobras, as empresas contribuíam para o caixa eleitoral de partidos ou pagavam propina diretamente a políticos — os mesmos que controlam cargos na administração pública e indicam diretores de empresas estatais. Quem são eles? VEJA localizou a contadora Meire Poza. Em uma entrevista exclusiva, ela revela que tem gente do "PT, do PMDB e do PP" envolvida com os negócios clandestinos de Youssef. "Havia um fluxo constante de entrada e retirada de malas de dinheiro em pelo menos três grandes empreiteiras", disse a contadora. Segundo ela, além de buscar e entregar o dinheiro pessoalmente, Youssef se ocupava de fortunas vindas de paraísos fiscais e da sua distribuição aos integrantes da lista de "beneficiários". Meire relata que encabeçavam a lista cinco parlamentares. Eles recebiam pagamentos em dinheiro vivo, diretamente das mãos do doleiro ou por meio de depósitos bancários que a própria contadora fazia. "Fiz muitos pagamentos, não diretamente na conta dos políticos, mas para os familiares deles".

Dois dos integrantes da lista de Youssef respondem a processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados — o ex-petista André Vargas e Luiz Argôlo (ex-PP, hoje no Solidariedade). Ambos já tinham aparecido nas investigações como usuários dos serviços clandestinos do doleiro. A parceria, porém, é muito mais profunda. Em abril passado, VEJA revelou que Vargas havia formado uma sociedade com o doleiro para fraudar contratos no Ministério da Saúde. Um negócio que, segundo o próprio Youssef, representaria a "independência financeira" do deputado. O envolvimento de Vargas com Youssef ficou conhecido quando se soube que ele usou um jatinho pago pelo doleiro para fazer uma viagem de férias com a família — um inocente presente de amigo. O presente, descobre-se agora, não tinha nada de inocente. Meire conta que, em dezembro passado, André Vargas ajudou Youssef a lavar 2,4 milhões de reais por meio de uma empresa do Paraná. Como retribuição pelo serviço, o doleiro usou parte desse dinheiro, 115 000 reais, para fretar o jato que levou Vargas para as férias na Paraíba, em janeiro deste ano. O deputado destacou o irmão, Leon Vargas, para cuidar da operação. Lembra Meire: "Tenho várias mensagens trocadas com ele combinando o contrato. Depois que o dinheiro caiu na conta, o Beto (Youssef) mandou pagar o aluguel do jato e outras despesas do deputado".

Uma das figuras mais assíduas do escritório de Youssef era o deputado Argolo, que, segundo Meire, também era sócio do doleiro em negócios na área de construção. Antigo colega de partido de Argôlo, o ex-ministro Mário Negromonte era cliente do esquema: "O irmão dele, o Adarico, trabalhava com a gente transportando as malas, levando e buscando dinheiro nas construtoras". Meire confirma que Alberto Youssef depositou 50 000 reais na conta do senador Fernando Collor a pedido de Pedro Paulo Leoni Ramos, um ex-assessor do ex-presidente também envolvido com a quadrilha. "O Beto guardava esses recibos como troféu." Segundo ela, outro conviva era o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), que contou com a ajuda de Youssef para quitar dívidas de campanha: "Um assessor do Vaccarezza me procurou em 2011 para apresentar um negócio com fundos de pensão no Tocantins". Meire guarda uma relação de números de contas bancárias de parentes e assessores de políticos que receberam dinheiro do doleiro.

"O Beto era um banco de dinheiro ruim. As empreiteiras acertavam com os políticos e ele entrava para fazer o trabalho sujo, levando e trazendo dinheiro, sacando e depositando. Tinha a rede de empresas de fachada para conseguir notas e contratos forjados", diz. Um dos botes mais ousados de Youssef, segundo ela, tinha como alvo prefeituras comandadas pelo PT. O doleiro pagava propina de 10% a cada prefeito que topasse investir em um fundo de investimento criado por ele. "E era sempre nas prefeituras do PT. Ele falava que, onde tivesse PT, a gente conseguia colocar o fundo." André Vargas era considerado um parceiro fiel. O deputado estava empenhado em fazer com que dois fundos de pensão de estatais, o Postalis (dos Correios) e a Funcef (da Caixa Econômica Federal), injetassem 50 milhões de reais em um dos projetos do doleiro. Meire conta que Youssef chegou a viajar para Brasília para acertar o aval do PMDB ao negócio. Segundo ela, o doleiro teria tratado do assunto até com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Era do PP, porém, que Alberto Youssef tirava a maior parte de seus lucros, principalmente os oriundos das transações que envolviam a Petrobras. Velho conhecido dos parlamentares do PP, Youssef comandou no início deste ano uma operação milionária de interesse do partido. A contadora narra que, numa tarde de sexta-feira, foi chamada à sala do doleiro. " "Meire, entraram 5 milhões no partido. A gente precisa tirar 4,5 milhões lá de dentro. Eu preciso que você emita três notas de 1 milhão e meio". Eu falei: "Logo em ano de eleição você vem me pedir um troço desses?"" As empreiteiras prestadoras de serviço à Petrobras eram, segundo Meire, protagonistas dos negócios. "Uma parte dos recursos que chegavam da OAS era para caixa dois político. O dinheiro era todo entregue ao Beto, e só ele separava o que saía para os políticos e o que era negócio da empreiteira", diz Meire. A contadora lembra que, em janeiro deste ano, foi convidada pelo doleiro a fazer uma visita à sede da companhia. "Quando entrei no carro, ele me disse: "Vou ali na OAS para entregar isso aqui" — e apontou para o banco de trás do carro. Quando eu olhei para trás, tinha uma mala no banco. Eu tomei um susto, nunca tinha visto tanto dinheiro junto", relata Meire. Outra construtora que recorria aos serviços do doleiro era a Camargo Corrêa. A parceria tinha relação direta com a atividade do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. "A Camargo era um esquema exclusivo de dinheiro das comissões do Paulo Roberto Costa. O dinheiro que entrava nesse esquema de pedágio era uma coisa que não dava para controlar. Eram malas e malas de dinheiro", afirmou. Todos os envolvidos negaram a VEJA manter qualquer relação com o doleiro.

Por que razão Meire Poza decidiu contar tudo e se autoincriminar? Ela explica que demorou algum tempo para entender a natureza clandestina das operações de Youssef. A ficha só teria caído para ela quando recebeu ordens de Yous-sef para fazer um contrato pelo qual a empreiteira Mendes Júnior pagaria 2,6 milhões de reais à GFD Investimentos, de propriedade do doleiro, a título de consultoria sobre a viabilidade de plataformas de petróleo. "A GFD só tinha que fornecer os contratos." A contadora relata que tem sido procurada por pessoas que se dizem representantes das empreiteiras. Essas pessoas invariavelmente prometem ajuda financeira em troca de seu silêncio. De outros integrantes do esquema menos sutis ela recebeu o conselho de "sumir do mapa". Diz Meire: "Depois da operação, me ligou um advogado dizendo que iria cuidar de tudo. As empreiteiras queriam saber o que eu sei para ver até onde a água ia chegar nelas". Falharam todas as tentativas: "Tentei sair do esquema três vezes, e a reação deles não foi nada boa. Essa decisão foi muito pensada. Estou colaborando com a polícia para esclarecer tudo o que eu puder. Se tiver que responder pelo que fiz, eu vou responder". Com uma testemunha-chave tão vital e disposta a ajudar, será um mistério se a Operação Lava Jato não ajudar a limpar parte da corrupção no Brasil.

Com reportagem de Adriano Ceoun e Hugo Marques

Contadora de doleiro fala em 'malas de dinheiro' para políticos

• Meire Poza diz à ‘Veja’ que esquema operado por Youssef beneficiava integrantes de ao menos 3 partidos – PT, PMDB e PP

O Estado de S. Paulo

A ex-contadora de Alberto Youssef, Meire Bonfim da Silva Poza, afirmou que o esquema operado pelo doleiro preso pela Operação Lava Jato movimentava “malas de dinheiro”, beneficiou políticos e pelo menos três partidos - PT, PMDB e PP -, segundo reportagem da revista Veja deste fim de semana.

De acordo com relato de Meire à revista, as malas de dinheiro saíram da sede de pelo menos três “grandes empreiteiras”, sendo embarcadas em aviões e entregues para políticos.

Dois dos integrantes da relação de políticos ligados a Youssef, citada pela Veja, já respondem a processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados: André Vargas (ex-PT) e Luiz Argôlo (ex-PP).

Meire afirma ainda que o doleiro teria depositado R$ 50 mil na conta do senador Fernando Collor (PTB-AL) a pedido de Pedro Paulo Leoni Ramos, um ex-assessor do ex-presidente. Ela afirma também que o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP) contou com a ajuda de Youssef para quitar dívidas de campanha. Outro político citado é o ex-ministro e ex-deputado Mário Negromonte. Conforme a ex-contadora, um irmão de Negromonte trabalhava para o esquema “transportando as malas, levando e buscando dinheiro nas construtoras”.

O próprio doleiro, segundo ela, se encarregava da distribuição de recursos aos beneficiários, que receberiam pagamentos em dinheiro vivo ou por meios de depósitos bancários feitos por ela. As investigações indicam que o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro do doleiro teria movimentado volume estimado em R$ 10 bilhões.

De acordo com a revista, Meire afirma que fez muitos pagamentos, mas não diretamente na conta de políticos e sim para familiares deles. Vargas, disse a ex-contadora, ajudou Youssef a lavar R$ 2,4 milhões por meio de uma empresa no Paraná. Como retribuição pelo serviço, o doleiro pagou R$ 115 mil para pagar o frete do jato que levou o ex-petista para férias na Paraíba. A operação, conforme aVeja, teria sido feita por Leon Vargas, irmão do deputado.

Argôlo é descrito na reportagem como uma das figuras mais assíduas do escritório Youssef.

A ex-contadora afirma que, por três anos, montou empresas de fachada e organizou planilhas de pagamento, entre outras funções. Ainda de acordo com a entrevista, um dos “botes” mais ousados do doleiro teria como alvo caixas de prefeituras. O doleiro pagaria propina de 10% a cada prefeito que topasse investir em um fundo de investimento criado por ele.

Conforme revelou o Estado, no depoimento à PF ela citou Paranaguá (PR), Cuiabá (MT), Petrolina (PE), Hortolândia (SP), Holambra (PR) e Tocantins.

A contadora disse também que André Vargas estaria se empenhado em conseguir que dois fundos de pensão, o Postalis, dos Correios, e a Funcef, da Caixa Econômica Federal, colocassem R$ 50 milhões em um dos projetos de Youssef. Segundo ela, seu ex-chefe tirava a maior parte de seus lucros do PP, principalmente envolvendo transações da Petrobrás. As empreiteiras que prestavam serviços à estatal protagonizavam os negócios.

Respostas do citados. Os políticos citados pela ex-contadora de Youssef negaram as acusações e cobraram a apresentação de provas. “Dizem que eu tenho um contato com o Alberto Youssef e dizem que um assessor meu, sem dar o nome desse assessor, procurou essa senhora que eu não sei quem é. Então, é uma matéria furada”, afirmou o deputado petista Cândido Vaccarezza. “Primeiro, não conheço a pessoa. Segundo, nenhum assessor nunca procurou essa pessoa. Terceiro, eu não tive dívida de campanha.”

“Não conheço essa moça. Não procede o que ela está dizendo”, afirmou o ex-ministro Mário Negromonte. “Não tem denúncia nenhuma da PF, do MP, nada. Não tem telefonema meu, não tem mensagem, não tem depósito, nada. Repudio veementemente a declaração da contadora que eu nem sei quem é.”

Negromonte disse ainda que conversou com seu irmão, Adarico, também citado pela contadora, que negou a acusação.

O ex-presidente e senador Fernando Collor desligou o telefone sem responder às perguntas do Estado. “Muito prazer em falar com você. É uma alegria enorme! Obrigado”, disse, antes de desligar o aparelho.

Por meio de seu advogado, Michel Saliba, Vargas negou as acusações. “Ele nega veementemente ter recebido a viagem. Não foi em troca de nada. E muito menos ele lavou dinheiro. Essa é uma acusação absurda”, disse. Segundo Saliba, o mesmo vale para a acusação relacionada aos fundos de pensão.

Em nota, o Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, voltou a admitir que o diretor do fundo, Carlos Borges, recebeu o doleiro em março deste ano a pedido do deputado Vargas. Youssef apresentou uma proposta, mas o projeto foi “prontamente descartado” por não se adequar à sua política de investimentos.

O senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, disse que os fatos relatados são anteriores à sua gestão, mas que seu antecessor, senador Francisco Dornelles (PP-RJ), “nunca na vida sofreu nenhum questionamento”. “Tenho certeza de que, se falarem do PP, você não ver vai em minuto nenhum relação do Dornelles com essa figura (Alberto Youssef)”, disse.

Procurado, o advogado de Argôlo, Aluisío Corrêa Régis, disse que só representa o parlamentar no processo do Conselho de Ética. PMDB e PT não quiseram se manifestar.

Sem saída, doleiro preso cogita delação premiada

Sem saída

• Preso desde março e 16 kg mais magro, o doleiro Alberto Youssef agora quer colaborar com a Justiça, mas pode pegar mais de cem anos de prisão

Mario Cesar Carvalho - Folha de S. Paulo


CURITIBA - Dezesseis quilos mais magro, resultado dos quase cinco meses preso, réu em 12 processos, nos quais deve ser condenado a mais de cem anos de prisão, e com um pedido de divórcio da mulher, o doleiro Alberto Youssef enviou sinais ao Ministério Público e à Justiça de que quer fazer um acordo de delação premiada para se livrar da cadeia o quanto antes.

A lei brasileira prevê redução de pena para colaboradores. Se o que revelar à Justiça ajudar a esclarecer crimes mais graves, Youssef pode até ficar livre da prisão.

Foi o que aconteceu em 2007, quando o doleiro foi detido pela primeira vez e escapou entregando uma parte da sua clientela.

A conclusão do doleiro, e da maioria dos advogados que atua na Operação Lava Jato, é que não há defesa técnica possível contra as provas que a Polícia Federal e os procuradores juntaram contra ele, Paulo Roberto Costa (ex-diretor de abastecimento da Petrobras) e cerca de 15 empreiteiras.

Restam duas alternativas para a defesa, segundo cinco advogados que atuam no caso ouvidos pela Folha sob condição de anonimato: tentar tirar o juiz Sergio Moro do julgamento ou tirar os processos do Paraná, onde a Lava Jato foi deflagrada.

Moro é considerado um juiz duríssimo, mas com um preparo técnico praticamente imbatível em questões de crime financeiro e lavagem de dinheiro.

As duas hipóteses são remotas, pois o STF já decidiu que o caso deve ficar na Justiça do Paraná.
O doleiro foi preso em 17 de março pela PF na Operação Lava Jato, sob a acusação de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 10 bilhões em quatro anos e tinha ramificações na Petrobras, no Ministério da Saúde e em partidos como PT, PP e SDD.

É um luxo só
Youssef levava uma vida de milionário antes de ser preso. Morava num apartamento comprado por R$ 3,5 milhões na Vila Nova Conceição --um dos bairros mais caros de São Paulo--, tinha três hotéis, uma rede de agência de viagens e helicóptero, e convivia com altos executivos de empreiteiras. Com um deles costumava beber o vinho Vega Sicilia, que, em algumas safras, custa R$ 2.000.

Uma cifra apurada pelos procuradores que atuam na Operação Lava Jato traduz, em parte, o porte que Alberto Youssef atingira. Ele remeteu US$ 444,7 milhões (o equivalente a pouco mais de R$ 1 bilhão) para fora do país entre junho de 2011 e março deste ano --uma média de US$ 150 milhões ao ano. É um volume equivalente a um banco de médio porte.

É um salto e tanto para alguém que nasceu numa família de classe média baixa em Londrina, no norte do Paraná, e vendia pastel no aeroporto da cidade quando era criança.

Baixa credibilidade
A maior dificuldade para que a colaboração de Youssef seja aceita é que sua credibilidade tende a zero.

As razões da baixa credibilidade é que ele não contou tudo o que sabia na delação premiada que fez em 2007 e não cumpriu a promessa de que não voltaria a atuar no mercado de dólar. A avaliação da PF e dos procuradores é que Youssef usou a primeira delação premiada como alavanca para elevar sua participação no mercado.

A estratégia que usou foi entregar os clientes menos importantes, como políticos e servidores públicos do Paraná, e preservar os grandes, como o deputado José Janene (PP-PR) --que até morrer, em 2010, era o cicerone do doleiro em Brasília e em empresas como Petrobras.

O plano deu certo. Youssef deixou de ser um doleiro do Paraná e passou a ter atuação em São Paulo, Rio e Brasília, segundo a PF. Continuou atuando com o PP, mas conquistou aliados no PT, como o deputado federal André Vargas (sem partido-PR).

O advogado de Youssef, Antonio Augusto Figueiredo Basto, diz que a decisão de colaborar é do seu cliente, mas ele não recomenda o expediente: "O Alberto é mero bode expiatório num esquema muito maior, sobre o qual não há nenhum interesse em investigar. Você acha que ele teria feito tudo de que é acusado sem um parlamentar?".

Ele diz que sai do caso se seu cliente virar colaborador.

Rixa interna amplia mal-estar na Petrobras

• Presidente da estatal, Graça Foster vira alvo de grupos insatisfeitos com condução da empresa no governo Dilma

• Demissão de primo de ex-presidente, troca de diretores e revisão de contratos contrariaram petistas e empresas

Andréia Sadi, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A crise gerada pela revelação da interferência de assessores do Palácio do Planalto nos trabalhos da CPI da Petrobras do Senado expôs disputas internas que têm como alvo preferencial a presidente da estatal, Graça Foster.

Na avaliação de assessores presidenciais, congressistas e funcionários da empresa ouvidos pela Folha, o vídeo que mostra três assessores da Petrobras combinando o repasse de perguntas da CPI para seus executivos é um recado de grupos interessados em criar desgaste para Graça.

Os três funcionários que aparecem no vídeo, divulgado pela revista Veja na semana passada, são apontados na estatal como antipetistas e sem alinhamento com Graça, que assumiu o comando da Petrobras após a posse da presidente Dilma Rousseff.

Graça enfrenta críticas no PT desde sua nomeação para o cargo, em 2012, especialmente de assessores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que criticam a maneira como ela se afastou do antecessor, José Sérgio Gabrielli.

Graça também sofre reparos de petistas por causa do estilo às vezes ríspido no trato com subordinados, semelhante ao de Dilma Rousseff.

Interlocutores de Graça atribuem as críticas ao trabalho que ela teria feito para reduzir a influência política dentro da estatal, afastando não só diretores ligados a petistas como a outros partidos.

"Desde que a Graça assumiu, com carta branca da presidente Dilma para fazer uma limpa na estatal, muita gente no PT e na empresa passou a vê-la como inimiga", diz um amigo dela, reservadamente.

A situação se agravou no começo do ano, quando Dilma admitiu publicamente que o conselho de administração da Petrobras aprovou a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, em 2006, por causa de um parecer falho" do diretor da área internacional, Nestor Cerveró.

Ao mar
A iniciativa de culpar o executivo, membro da equipe de Gabrielli, foi criticada no PT como uma tentativa de atirar a antiga diretoria ao mar. No caso de Graça, petistas dizem em tom irônico que ela quis salvar sua gestão como se não tivesse feito parte da diretoria de Gabrielli por cinco anos.

A demissão de um primo de Gabrielli, José Orlando Melo de Azevedo, por Graça é citada na empresa como o principal sinal de ruptura simbólica com a gestão passada.

Azevedo era diretor comercial da Transportadora Associada, subsidiária da Petrobras, e era considerado na estatal um quadro técnico. Segundo a Folha apurou, Dilma só foi informada de seu afastamento pelos jornais.

Além de trocar diretores, Graça ordenou um pente fino em contratos da Petrobras logo depois de assumir a presidência da empresa, o que contrariou e causou perdas a muitos fornecedores da estatal.

Ela também diminuiu patrocínios, o que gerou irritação em petistas acomodados com o funcionamento da empresa sob o antigo comando.

Mais recentemente, ela causou irritação nos ex-diretores da Petrobras por ter evitado se comprometer com a defesa dos executivos condenados pelo Tribunal de Contas da União por causa das perdas sofridas pela aquisição da refinaria de Pasadena.

Questionada se a Petrobras iria bancar a defesa dos condenados e suas multas, Graça Foster só indicou que a empresa irá cuidar disso depois que ela mesma se viu ameaçada. O TCU também pode incluí-la na relação dos que tiveram seus bens bloqueados.

Após manifestações, cai a taxa de jovens que tiram título de eleitor

• Índice de brasileiros com idades entre 16 e 17 anos que se cadastraram na Justiça Eleitoral cai para 26% em 2014

Julia Affonso e Rodrigo Burgarelli - O Estado de S. Paulo

Se já era difícil convencer os jovens de 16 e 17 anos a votar, as manifestações de junho de 2013 tornaram essa tarefa mais árdua. A taxa de adolescentes dessa idade que tiraram título de eleitor um ano antes da data da votação diminuiu em um terço em 2014, se comparada à média dos três últimos pleitos presidenciais. Neste ano, apenas um em cada quatro jovens elegíveis para votar se alistaram, a proporção mais baixa do século até agora.

As manifestações interromperam uma curiosa regularidade do alistamento eleitoral dos jovens entre 16 e 18 anos. De acordo com a legislação brasileira, jovens nessa faixa etária podem votar se quiserem, mas não são obrigados. Desde o início do atual século, uma proporção constante desse contingente se registra para votação no ano anterior a cada eleição - uma taxa que fica um pouco maior nas eleições municipais que nas estaduais e federais.

Em 2008 e 2012, a taxa de adolescentes que tirou título de eleitor para votar para prefeito e vereador foi de cerca de 43% em relação ao total de jovens dessa idade, segundo cruzamento dos dados de alistamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com os da projeção da população do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nas disputas de 2002, 2006 e 2010, a proporção ficou entre 36% e 37% em cada uma. Em 2014, o índice caiu para 26%.

Como a data-limite do registro para votar é até maio do ano da eleição, é impossível não relacionar essa queda às repercussões dos protestos de junho de 2013. Entre aquele mês e maio deste ano, 760 mil jovens deixaram de pegar seus títulos, em comparação com a quantidade que se alistaria caso a proporção das últimas eleições tivesse sido mantida. Só esse número já é quase o dobro dos 440 mil adolescentes com título de eleitor que se absteve e não compareceu às urnas em 2010.

“Todas as distorções da política brasileira apareceram de maneira muito forte nas manifestações”, diz o professor de Ciência Política da USP José Álvaro Moisés. Segundo ele, a falta de confiança dos jovens nas instituições políticas existentes no Brasil é uma das explicações de por que adolescentes que se engajaram em protestos hoje preferem não participar do processo eleitoral.

Descrença. O crescimento de organizações que questionam as instituições tradicionais está ligado a esse fenômeno. O Movimento Passe Livre, por exemplo, foi símbolo das manifestações de 2013 em São Paulo e hoje promove discussões sobre o Brasil em escolas públicas.

“A política não se faz só em um dia, a cada dois ou quatro anos. Para nós, é mais importante convencer os jovens de que eles devem se mobilizar ativamente pelos seus direitos do que conceder uma procuração a um governante para fazer isso por eles”, afirma a representante do movimento Mariana Toledo, de 28 anos.

É difícil mensurar o quanto essa opinião cresce entre os jovens, mas a onda de manifestações e a queda do alistamento entre adolescentes são indícios que apontam nessa direção.

Outra pista é a quantidade de eleitores entre 18 e 24 anos que dizem que vão votar branco ou nulo neste ano. Em julho, 17% disseram isso ao Ibope, 7 pontos porcentuais acima que no mesmo mês de 2010.

Cientistas políticos dizem ver o interesse pela política aumentando nos jovens ao longo dos últimos anos, apesar da queda no alistamento. “É uma geração crítica. Não acredito que as redes sociais formem ativistas de sofá”, diz o professor do Insper Humberto Dantas. “Mas falta conteúdo para o jovem entender que o voto é importante.”

Na PB, Campos diz que Planalto virou comitê eleitoral

• ‘Espero que a Justiça aja também para que as instituições públicas do país não se transformem em porões da Justiça Eleitoral’, afirma

- O Globo

JOÃO PESSOA - Candidato à Presidência pelo PSB, o ex-governador Eduardo Campos esteve neste sábado em João Pessoa, na Paraíba, onde disse ser grave a edição do perfil de jornalistas no Wikipédia a partir da rede do Palácio do Planalto. Reportagem publicada pelo GLOBO revelou que o IP 200.181.15.10, da Presidência da República, foi usado na enciclopédia colaborativa virtual para fazer alterações, em maio do ano passado, nos perfis dos jornalistas Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg.

- Considero isso (edição dos perfis de jornalistas) uma coisa muito grave, muito errada. Que do Palácio do Planalto se faça ações desse tipo, agredindo a biografia de profissionais da imprensa, transformando o Palácio (do Planalto), que deve ser um local de trabalho para o povo brasileiro, em um verdadeiro comitê eleitoral - declarou Campos ao lado de sua candidata a vice, Marina Silva.

A Wikipédia é uma enciclopédia virtual alimentada por colaborações de usuários da internet, e o registro de edições é armazenado a partir do endereço de IP, uma espécie de identidade digital que permite saber de onde partiram as modificações.

Na visita ao Condomínio Cidade Madura, construído para pessoas com mais de 60 anos de idade, o ex-governador de Pernambuco pediu a punição aos responsáveis pela modificação nos perfis:

- Espero que a Justiça aja também para que as instituições públicas do país não se transformem em porões da Justiça Eleitoral.

Campos promete transposição do São Francisco
Campos prometeu manter programas sociais do governo federal, como o Minha Casa Minha Vida, o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Bolsa Família, caso seja eleito. Ele também garantiu quevai terminar a transposição do Rio São Francisco, que começou no governo Luiz Inácio Lula da Silva e ainda não foi concluída:

- Lutei muito por essa obra e tenho certeza que Deus vai me dar a oportunidade, e o povo brasileiro, de ser como nordestino aquele que vai inaugurar a transposição do Rio São Francisco. Não é possível que neste país, desde dom Pedro II, só fale em seca em tempo de seca. É preciso cuidar também quando chove.

O ex-governador criticou a suposta falta de atenção dada ao Nordeste pelo governo federal e disse que o país ficou estagnado nos últimos anos.

- Queremos mostrar ao Brasil que há uma alternativa de mudança. O Brasil parou e o Nordeste não está tendo a atenção que deveria ter, temos muitas obras paralisadas e municípios em situação de estiagem - afirmou. - Desde quando foi eleita, até hoje, (Dilma) está em um plano inclinado, porque o Brasil parou, a inflação voltou, o desemprego está, de novo batendo na porta dos brasileiros, obras estão paralisadas, há um subfinanciamento da Federação e municípios, que vivem em situação dificuldade, e a agricultura familiar está em crise depois da estiagem que arrasou renda campo, sobretudo no Nordeste.

Nordeste não tem atenção de Dilma, diz Campos

Janaína Araújo - O Estado de S. Paulo

O candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, afirmou em sua visita deste sábado à Paraíba que vai mostrar que o Nordeste não tem "atenção" da presidente Dilma Rousseff (PT). "Vou mostrar ao Brasil que a presidente Dilma Rousseff estagnou a economia brasileira com a volta da inflação. As obras do Nordeste estão paralisadas, o homem do campo está abandonado e não houve empenho para enfrentar a estiagem", disse Campos.

O ex-governador de Pernambuco visitou o Programa Cidade Madura, uma experiência de condomínio público destinado apenas a idosos, ao lado da ex-senadora Marina Silva, candidata a vice-presidente, e do governador Ricardo Coutinho (PSB), candidato à reeleição pela Coligação "A Força do Trabalho".

Segundo Campos, o Brasil precisa de reconstrução, mas com politicas públicas. "Vou manter as conquistas como o Programa Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e o Prouni, mas pretendo implantar escolas em tempo integral e o passe livre. A candidatura que está comprometida e tem propósitos é a minha e de Marina Silva", declarou.

Para uma população de mais de 15 milhões de idosos, Eduardo Campos disse que implementará a experiência da Paraíba como política pública. "Não existe respeito com os idosos, pois além do salário estagnado e da falta de moradia, todo o dinheiro do mês é gasto com remédio. Pretendo levar esta experiência para todo o Brasil", disse.

No condomínio Cidade Madura só é admitida a permanência de moradores idosos. Eles não podem modificar, emprestar, locar ou ceder os imóveis. Eles podem morar sozinhos ou com seus cônjuges e pagarão apenas as despesas referentes à utilização do imóvel, que é de propriedade do Estado. A concessão só será reincidida caso o idoso manifeste interesse ou quando há perda de autonomia ou falecimento, sendo o imóvel cedido para outro idoso. Campos não comentou a coligação feita pelo governador Ricardo Coutinho com o PT Estadual, que tem na chapa o nome do petista Lucélio Cartaxo ao Senado.

Reduto petista na eleição de 2010, Aécio faz campanha no AM

• O candidato do PSDB ao Planalto disse ser necessário criar plataforma tecnológica na região

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

Neste sábado, Aécio Neves participou de ato de campanha em Manaus (AM), ao lado do prefeito da cidade, Arthur Virgílio (PSDB), e representantes do partido no Estado. No encontro, o candidato do PSDB ao Planalto defendeu a integração das ações de governo. "Não é aceitável, digno que queiram continuar tentando dividir o Brasil entre nós e eles", afirmou em referência ao governo da presidente Dilma. Segundo ele, caso seja eleito, as portas não estarão abertas, mas "escancaradas" ao povo amazonense. Sem apresentar propostas concretas para o Estado, o tucano apenas pontuou a necessidade de se criar uma plataforma de ciência e tecnologia para explorar o potencial do Estado.

No evento, Aécio esteve acompanhado, pela primeira vez, da filha Gabriela e da sobrinha Maria Clara. Antes de o candidato discursar, o prefeito Arthur Virgílio anunciou o nome de todos os prefeitos que apoiam a candidatura de Aécio. "Temos aqui no Estado 61 municípios. Hoje 60% do Amazonas está apoiando Aécio. Vamos levá-lo à vitória de um povo que não aguenta mais injustiça e desmoralização das instituições", disse o prefeito.

Na eleição de 2010, a presidente Dilma teve uma ampla vitória no Amazonas no primeiro e no segundo turnos. No primeiro turno, ela alcançou 64,9% dos votos contra 25,7% de Marina Silva, então PV, e 8,4% de José Serra, candidato do PSDB na época. No segundo turno, a petista alcançou 80,5% dos votos contra 19,4% de Serra.

TCU e Graça Foster. Aécio considerou que qualquer decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) relacionada a um possível bloqueio das contas da presidente da Petrobras, Graça Foster, deve ser acatada. "Qualquer decisão do TCU deve ser respeitada", afirmou na saída do evento.

Ontem, durante visita a obras da ferrovia Norte Sul, no Triângulo Mineiro, a presidente Dilma Rousseff saiu em defesa de Graça Foster e considerou um absurdo a possibilidade de bloqueio de bens devido aos prejuízos causados à estatal em razão da compra da refinaria de Pasadena.

Aécio diz que mudança em perfis de jornalista na Wikipédia é ‘autoritarismo’ do Planalto

• Em visita a Manaus, candidato à Presidência pelo PSDB sugere novo slogan para o governo

- O Globo

MANAUS - O candidato à Presidência pelo PSDB, Aécio Neves, afirmou neste sábado que a alteração de biografias de jornalistas na Wikipédia é uma demonstração de “autoritarismo” do governo federal. Reportagem publicada pelo GLOBO revelou que o IP 200.181.15.10, da Presidência da República, foi usado na enciclopédia colaborativa virtual para fazer alterações nos perfis dos jornalistas Míriam Leitão, colunista do GLOBO, e Carlos Alberto Sardenberg, da CBN e Rede Globo em maio do ano passado.

- Eles acham que tudo pode e que são donos da história do país e, agora, da biografia de jornalistas e das pessoas. Eu sou grande vítima desta ação inescrupulosa de setores do governo que busca alterar a biografia de pessoas que têm posição independente. Isto é uma demonstração do descaso deste governo para com a própria democracia - afirmou Aécio.

Aécio disse que a Presidência deve dizer “com muita clareza” as providências que estão sendo tomadas quanto à denúncia de alteração de textos na Wikipédia.

- Senão está na hora dela (presidente) mudar slogan de seu governo de um Brasil “para todos” para Brasil de “eu não sabia de nada”. Cada denúncia que surge, seja em relação ao mensalão ou em relação à Petrobras e a tantas outras é sempre “eu não sabia de nada” - criticou o candidato.

'Municípios não podem continuar sendo patinho feio'
Em visita à capital do Amazonas, Aécio falou em “refundar o Brasil” para que os municípios deixem de depender de recursos e da vontade do governo federal. Ele disse que, se eleito, vai reconstruir a federação para impedir que o Executivo federal seja o único a definir as prioridades em cada uma das regiões.

- Os municípios não podem continuar sendo o patinho feio da Federação, dependendo em tudo da boa vontade e do bom humor de quem está no governo central - disse Aécio. - Se eu for eleito presidente pretendo proibir que o governo federal faça desonerações de tributos incidentes sobre a parcela que atende os municípios, porque isto significa menos educação e menos mobilidade. Temos que garantir a alforria dos municípios brasileiros.

O candidato do PSDB prometeu que, se eleito, vai garantir o resgate dos investimentos, com serenidade, tranquilidade para que o Brasil volte a crescer, respeitando os municípios:

- Hoje é atendido quem é amigo do rei ou da rainha, e o dinheiro é público. Não existe essa história de dinheiro federal, dinheiro estadual e dinheiro municipal. O dinheiro é público e é assim que tem que ser tratado: de forma republicana.

Aécio falou a prefeitos do Amazonas em uma casa de eventos na zona centro-sul de Manaus. Horas antes do encontro, a Comissão de Fiscalização da Propaganda Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) apreendeu duas placas que estavam adornando a parte externa do local com propaganda de Aécio.

O coordenador da Comissão, Fued Cavalcante afirmou que as placas estavam acima do tamanho permitido de quatro metros quadrados.

- Elas mediam 18 metros quadrados e, além disso, não tinham a identificação do CNJP do candidato nem da gráfica responsável pela confecção - disse.

Aécio rebate Dilma sobre salário mínimo e condena 'autoritarismo'

- Folha de S. Paulo

MANAUS - No sábado (9), o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, chamou a gestão Dilma Rousseff de "autoritária" e acusou a presidente de mentir sobre proposta de salário mínimo da oposição.

Indagado sobre as mudanças feitas por computadores do Planalto em perfis na Wikipédia, Aécio relatou "mais uma demonstração do autoritarismo deste governo, que acha que é dono da história das pessoas". Ele disse que "está na hora de mudar o slogan para Brasil, eu não sabia de nada"".

Aécio também subiu o tom sobre o salário mínimo. Na quinta (7), Dilma disse a sindicalistas que, para combater a inflação, a oposição quer acabar com os reajustes. "Mentiu, pois fomos nós, com o Solidariedade, que apresentamos projeto que garante reajuste até 2019".

O encontro reforçou a conciliação entre Arthur Virgílio, prefeito de Manaus, e o governador paulista Geraldo Alckmin. Na quarta, os tucanos assinaram acordo que pode reduzir o ICMS sobre produtos da Zona Franca. Na terça, o Congresso Nacional promulgou prorrogação dos benefícios na região até 2073. Em 2012, Virgílio rompeu com Alckmin após este questionar no Supremo Tribunal Federal desoneração no Amazonas.

Datafolha faz levantamentos em São Paulo, Rio e mais seis Estados

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O Datafolha registrou pesquisas para avaliar a opinião dos eleitores sobre as disputas para presidente, governador e senador em oito Estados. As entrevistas ocorrem de segunda a quarta (13) no Ceará e de terça a quinta (14) nos demais.

Em São Paulo, 2.052 eleitores serão ouvidos na pesquisa SP-00016/2014 no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), sobre governo estadual e Senado, mesmo total da presidencial BR-00363/2014.

No Rio de Janeiro, serão 1.316 entrevistados (RJ-00019). Em Minas Gerais, serão 1.248 pessoas (MG-00063), como no Rio Grande do Sul (RS-00009) e no Paraná (PR-00014). Em Pernambuco, a pesquisa ouvirá 1.200 pessoas (PE-00017). No Ceará, 1.120 (CE-00013) e, no Distrito Federal, 736 (DF-00029).

Os resultados poderão ser divulgados a partir de sexta (15). No Ceará, a partir de quinta.

Aécio lidera pesquisa no DF

- Correio Braziliense

Pesquisas de intenção de voto para presidente da República realizadas pelo Instituto MDA/EM Data, encomendadas pelo Correio Braziliense e pelo Estado de Minas — jornais que integram o grupo Diários Associados — mostram que o senador Aécio Neves (PSDB) sai na frente em Minas Gerais e no Distrito Federal. No estado que governou entre 2003 e 2010, o tucano aparece na ponta, com 41,8% das intenções de voto no primeiro turno, contra 32,5% da presidente Dilma Rousseff (PT). No Distrito Federal, Aécio tem 30,3%, contra 26,1% da petista. Se as eleições fossem hoje, o adversário do PSDB venceria a atual presidente no segundo turno nas duas unidades da Federação.

No DF, Aécio está na frente, mas a situação é de empate técnico com Dilma, já que a diferença entre os dois é de apenas 4,2 pontos percentuais. Como a margem de erro da pesquisa é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos, Aécio poderia ter entre 27,8% e 32,8%. Já Dilma estaria entre 23,6% e 28,6%. Em terceiro lugar, aparece Eduardo Campos (PSB), com 14,3%. No levantamento, Pastor Everaldo (PSC) tem 3,3% das intenções de voto, e os outros candidatos somam o mesmo percentual que ele. Não votariam em nenhum nome, em branco ou nulo 16,2% dos eleitores, e 6,6% não souberam ou não responderam.

Dilma perde nos dois cenários de segundo turno pesquisados no Distrito Federal. No embate contra Aécio, o tucano foi o escolhido por 50,8% dos eleitores consultados, contra 31,9% da petista. Indecisos, brancos e nulos somam 17,3%. Quando a briga é contra Eduardo Campos, o pernambucano foi o preferido de 48% dos entrevistados, e Dilma foi a opção de 32,9%. Outros 19,1% não decidiram ou pretendem votar em branco ou anular a indicação. A pesquisa mostra que a avaliação negativa do governo Dilma Rousseff no Distrito Federal chega a 41,7%, enquanto 21,2% dos eleitores consideram a gestão dela positiva.

Para o diretor do MDA e responsável pelo levantamento, Marcelo Souza, esse resultado pode explicar a vitória dos adversários da presidente, que tenta a reeleição. "Tem um pouco do impacto da má avaliação da Dilma, que apresenta desempenho pior em Brasília do que em Minas. No Distrito Federal, ela está pior do que a média nacional, o que acaba trazendo uma rejeição maior e, portanto, a escolha dos adversários dela", afirmou o pesquisador.

Preferência
A situação de Aécio é mais confortável entre os mineiros. Conforme o levantamento, Aécio vence Dilma por uma diferença de 9,3 pontos percentuais. Em seguida, aparecem o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, com 5,4% das intenções de voto, e Pastor Everaldo, com 1,2%. Os outros candidatos, somados, atingiram 1,4%. Afirmaram que não votariam em nenhum deles, branco ou nulo 6,3% dos entrevistados, e 11,3% não souberam ou não responderam. A margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Na pesquisa espontânea, quando não são colocados os nomes dos candidatos, Aécio tem 27,4% das intenções de voto, contra 26,3% de Dilma e 2,2% de Eduardo. Os indecisos e os que pretendem anular o voto ou deixá-lo em branco somam 42,1%.

Em uma simulação de segundo turno, o resultado em Minas Gerais dá a vitória a Aécio Neves quando ele é o adversário de Dilma. Nessa hipótese, o tucano venceria com 46,6%, contra 36,1% da petista. Votos brancos ou nulos representam 8,2% das opções, e 9,1% não souberam ou não responderam. Em um segundo cenário, contra Eduardo Campos, Dilma venceria o socialista por 44,9% a 28,8%. Nesse caso, 12,9% dos eleitores votariam branco, nulo ou em nenhum dos candidatos e 13,4% não souberam ou não responderam.

O MDA/EM Data também procurou saber o que os eleitores acham do governo Dilma. Em Minas Gerais, as avaliações positivas somaram 34,5%, e as negativas ficaram em 23,9%. Para o diretor do MDA e responsável pela pesquisa, Marcelo Souza, o resultado de Aécio em Minas se deve ao rescaldo das duas gestões à frente do governo do estado. "Aécio tem uma boa vantagem em relação a Dilma que é, basicamente, um reflexo da boa avaliação da administração dele entre os mineiros. Imagino que, para ele, será bom ampliar essa diferença e talvez isso possa ocorrer na hora que o eleitor prestar mais atenção e der mais importância à campanha", avalia.

As pesquisas foram realizadas entre 3 e 7 de agosto, sob registros BR 00324/2014 e BR 00322/2014. Em Minas, foram consultadas 2.002 pessoas divididas em 10 regiões por densidade populacional. No Distrito Federal, foram 1.501 entrevistados em 30 regiões administrativas.

Gestão
41,7%
Percentual de leitores do DF que avaliam negativamente governo Dilma
21,2%
Percentual de leitores do DF que avaliam positivamente governo Dilma
34,5%
Percentual de leitores mineiros que avaliam o governo Dilma positivamente
23,9%
Percentual de leitores mineiros que avaliam o governo Dilma negativamente

Merval Pereira: Aloprados fazem o diabo

- O Globo

O hábito de enviar mensagens por meio de robôs com ataques a jornalistas independentes, e invadir sites ou usar os que são abertos, como a Wikipédia, para denegrir a imagem dos que consideram seus inimigos políticos, é um expediente comum dos militantes petistas aloprados.

Em 29 de outubro de 2011 esses marginais entraram na minha página na Wikipédia para incluir uma suposta notícia de que eu havia sido identificado pelo Wikileaks como “informante” do governo dos Estados Unidos, juntamente com outros jornalistas.

Na verdade, o Wikileaks havia divulgado uma série de telegramas do embaixador dos Estados Unidos, entre os quais relatos de encontros que mantivera comigo e com outros jornalistas, onde conversamos sobre diversos assuntos, inclusive as eleições presidenciais de 2010.

Nada do que disse naquele encontro diferia do que escrevi nas minhas colunas naquela ocasião, nenhum segredo havia para ser informado.

O encontro de jornalistas com diplomatas estrangeiros é o que há de mais normal no mundo todo, e essa troca de opiniões faz parte de um relacionamento profissional que apenas mentes pervertidas, ou a soldo, podem transformar em uma atividade de “espionagem”.

Alertado, eu mesmo entrei no Wikileaks e retirei a peça infamante. Esta semana, vendo o que aconteceu com Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardemberg, lembrei-me do episódio e mandei fazer um levantamento na Wikipédia para verificar se era possível, a partir do IP dos computadores, saber de onde haviam sido acionados.

Para minha surpresa, descobri que haviam feito, de junho de 2011 até 8 de agosto deste ano, diversas entradas em minha página na Wikipédia para acrescentar comentários desairosos ou informações falsas.

Algumas dessas aleivosias foram retiradas pela própria direção da Wikipédia; outras por pessoas que discordavam do que lá estava escrito, como, por exemplo, de que eu, nas colunas, destilo meu ódio contra o ex-presidente Lula.

Ontem, retiraram qualquer juízo de valor sobre minhas atividades jornalísticas. O levantamento feito pelo jornal não indicou nenhum servidor de órgãos do governo, inclusive o Palácio do Planalto, nas agressões inseridas na Wikipédia contra mim.

Os servidores utilizados são de Toronto, no Canadá, da Austrália e apenas um tem origem em São Paulo, mas não foi possível definir com precisão sua localização.

O que espanta no caso atual, em que Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardemberg foram os alvos, é que as agressões partiram de computadores alocados no Palácio do Planalto, o que indica que essa ação de alterar perfis de jornalistas e pessoas consideradas “inimigas” já se tornou tão habitual para a militância petista que ela deixou de lado a cautela, utilizando até mesmo o Planalto para suas investidas ilegais.

É sintomático que jornalistas independentes tenham sido vítimas dessas ações de guerrilha na internet, pois desde que chegaram ao poder, em 2003, há um núcleo petista que tenta de diversas maneiras controlar a imprensa, a última delas com o tal “controle social da mídia”.

Os conselhos populares fazem parte desse mecanismo de controle estatal que os petistas tentam impor à sociedade brasileira.

O fato de que os atos delinquenciais partiram de dentro do Palácio do Planalto os coloca muito próximos, pelo menos fisicamente, do centro do poder. O episódio revela, no mínimo, uma falta de controle do pessoal que trabalha no Palácio do Governo.

Quando não a conivência de algum alto assessor com o crime contra a liberdade de imprensa numa campanha em que "fazer o diabo" estava previsto pela própria presidente Dilma Rousseff.

João Bosco Rabello: Os aloprados no Planalto

- O Estado de S. Paulo

A reprodução, na forma e conteúdo, da atual campanha do PT em relação às anteriores reflete o esgotamento de uma fórmula vitoriosa enquanto a maquiagem da realidade resistiu aos efeitos do tempo.

A crise da economia é o desfecho de um ciclo populista que se mostra insustentável desde que o contribuinte despertou da anestesia de consumo a que foi submetido em favor de um projeto cujo objetivo único é o da permanência no poder.

O recurso aos mesmos métodos de sempre já não se mostra, por isso, eficiente. A substituição do debate pela desqualificação dos adversários, a comparação com o governo do PSDB (já lá se vão 12 anos), o discurso antiprivatização, a terceirização dos erros - ora à imprensa, ora a causas externas - se mantêm sedutores para uma parcela cada vez menor do eleitorado.

Nesse contexto, ressurgem os chamados aloprados, termo cunhado pelo ex-presidente Lula para desvincular o governo de ações sujas que vão da quebra de sigilos à difamação de adversários, agora operadas de dentro do Palácio do Planalto.

O que há de novo nessa ação é o fato de os aloprados de ontem, militantes de campanha, agora atuarem dentro do governo, como mostra a alteração de perfis de jornalistas na internet a partir de computador do Palácio do Planalto.

O ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, responsabilizado por Lula, em 2006, pela seleção dos aloprados que produziram dossiês falsos contra o candidato da oposição, José Serra, participa da campanha em cargo oficial.

De sua secretaria, o governo coordenou a ação de desmoralização da CPI da Petrobrás, dando conhecimento prévio a diretores da empresa das perguntas que lhes seriam feitas na comissão, o que está muito longe da normalidade da preparação de depoentes.

Já havia o PT, antes, produzido uma lista negra de jornalistas, divulgada pelo seu vice-presidente, Alberto Cantalice (RJ), em um ato de cunho fascista, que remete à dedução legítima de que lista bem mais ampla circula em órgãos do governo com meios de prejudicar profissionais a partir do acesso a dados pessoais cuja proteção é garantida constitucionalmente.

A volta dos aloprados à cena eleitoral revela que a expressão jocosa com a qual o ex-presidente os classificou funciona para eles como uma espécie de licença para delinquir, protegidos pela versão de que agem à revelia do partido e do governo.

Mas, uma vez dentro do Planalto e de outros órgãos públicos, muitos com representação regional, não cabe mais o silêncio da presidente Dilma Rousseff em relação a esses delitos.

Eliane Cantanhêde: Gotejando

- Folha de S. Paulo

Depois de o Planalto enviar um funcionário a um seminário de internet em Cuba, tudo é possível. Cuba é o último lugar do mundo para fazer curso de internet... a não ser de guerrilha digital.

Por essas e outras, é irritante, mas não surpreendente, a informação da Folha e do "Globo" de que a rede do Planalto é usada para adocicar perfis de aliados, azedar dos adversários e plantar calúnias contra jornalistas críticos. A operação, além de indecente e possivelmente criminosa, é também de uma burrice gritante.

Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg, afora serem queridos amigos, são dois dos mais premiados jornalistas do país. Logo, o ataque não foi só aos dois, mas a uma categoria inteira e a uma cidadania que exige liberdade de expressão e de crítica.

Do ponto de vista político, é péssimo para Dilma Rousseff, mas é sobretudo um desastre para o PT, que já enfrenta alta rejeição, candidatos assustados e atritos de toda sorte.

Segundo o marqueteiro João Santana, eleições trabalham o imaginário popular. Pois o uso da sede da Presidência para golpes rasteiros só "vai gotejando" uma imagem ruim do PT, como diz Gilberto Carvalho.

A hora é de falar de Mais Médicos, Minha Casa, Pronatec, não de o Planalto fazer jogo sujo que remete a mensalão, aloprados e manipulação da CPI. E também à estrela vermelha de dona Marisa no Alvorada, ao passeio da cadelinha em carro oficial, ao emprego da nora para não fazer nada no Sesi e ao contrato milionário do filho --"o Ronaldinho"-- por baixo dos panos.

A confusão entre público e privado corresponde às boquinhas e ao aparelhamento de Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil. Em nome de "uma causa" --a dos poderosos e da elite de plantão. Os outros? Os outros são "contra os pobres".

Se cabeças rolaram no Santander por avaliações de mercado, o que ocorrerá no Planalto por ações que nada têm a ver com o interesse público, o Estado e a nação?

Dora Kramer: Mau negócio

- O Estado de S. Paulo

Os empresários da indústria e da agricultura que se reuniram nas duas últimas semanas com os candidatos à Presidência da República manifestaram claramente seu desagrado com o loteamento dos cargos políticos na administração federal.

Na sabatina da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) o momento em que o candidato do PSB, Eduardo Campos, recebeu da plateia aplausos mais entusiasmados foi quando repetiu a frase que já virou uma bandeira: "Ninguém aguenta mais governar com Renan, Collor e Sarney".

Respondia à indagação sobre sua disposição de acabar com o modelo de entrega dos ministérios aos partidos. Na semana seguinte, o assunto voltou a ser abordado com mais ênfase na sabatina da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Das cinco questões a que tinham direito de apresentar aos candidatos, os empresários do agronegócio escolheram o tema na conversa com Campos e com Aécio Neves. Quiseram saber especificamente se eles entregariam os Ministérios do Trabalho e da Agricultura aos feudos partidários de sempre.

O tucano saiu pela tangente. Fez o compromisso, mas preferiu não se alongar na história do fisiologismo e anunciou a criação do "superministério da Agricultura".

Campos desenvolveu sua tese de que é possível quebrar o modelo atual engajando a sociedade na agenda política, tal como ocorrer por ocasião da luta pela redemocratização do País e pela estabilidade econômica.

O importante aqui é notar que o empresariado inclui na pauta o tema do chamado presidencialismo de coalizão como um entrave ao desenvolvimento, uma espécie de custo Brasil adicional. O setor produtivo está farto disso e começa a cobrar dos candidatos.

Um debate que, se ganhar corpo, os deixará durante a campanha numa saia-justa para conciliar esses questionamentos à necessidade de apoio dos políticos para se eleger. Apoios esses diretamente relacionados com a expectativa de ocupação de cargos nos governos, caso venham a ser eleitos.

Regra clara. É verdade que as campanhas ficam mais caras porque as doações de pessoas jurídicas garantem a circulação de volumes maiores de dinheiro.

Mas é verdade também que as novas normas para prestação de contas mês a mês, com a divulgação da quantia e da origem do recurso significa uma evolução no quesito transparência em relação a eleições anteriores.

Inibe o uso do caixa dois, pois com os dados publicados fica mais fácil confrontá-los com possíveis exorbitâncias de gastos.

Com mais de 90% do financiamento sendo garantido pelas empresas, vai ser difícil os partidos chegarem a uma solução que contemple a legalidade e ao mesmo tempo proteja o contribuinte, depois que o Supremo Tribunal Federal confirmar a proibição das doações de pessoas jurídicas para as próximas eleições.

Ganharão força e argumentos os que defendem o financiamento público exclusivo.

Inadmissível. Na visão do governo brasileiro um analista de finanças está proibido de relacionar com clareza os movimentos do mercado à tendência dos resultados eleitorais.

Mas, na concepção do governo brasileiro não é assim tão grave o exercício da difamação a partir dos computadores do Palácio do Planalto.

No caso do Banco Santander a presidente protestou com veemência. No episódio da alteração dos perfis dos jornalistas Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg na Wikipédia, deixou a reação para a assessoria, que inicialmente resistiu e só depois de muita crítica se dispôs a apontar o responsável.

As manifestações de jornalistas ou de consultorias são feitas às claras, seus autores perfeitamente identificados. Ao contrário de sujeitos que disseminam mentiras na clandestinidade. Se a prometida investigação não for para valer o governo terá parte nesse infamante ato.

Luiz Carlos Azedo: Razão para votar

- Correio Braziliense

As ideias da filósofa judia alemã Hannah Arendt, autora de Raízes do Totalitarismo e A Condição Humana, falecida em dezembro de 1975, permanecem atuais, embora pouco conhecidas do grande público. Hannah era uma democrata radical, com muitos adversários à direita e à esquerda, que provocou grande celeuma nos círculos intelectuais de Nova York, onde havia se radicado após fugir do nazismo, devido a um ensaio político — meio jornalístico, meio filosófico —, no qual narra o julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann.

Série de cinco artigos publicados na revista The New Yorker, Eichmann em Jerusalém, como se intitula a obra, é a base do roteiro do filme Hannah Arendt, que muitos tiveram a oportunidade de assistir no Brasil. Dirigido por Margarethe Von Trotta, com Barbara Sukowa no papel principal, a produção alemã de 2012 narra o julgamento midiático do criminoso nazista, que fora sequestrado por um comando israelense em Buenos Aires e levado para Israel.

Em vez de um monstro sanguinário, como todos esperavam, Eichmann era um funcionário como outro qualquer, um burocrata cumpridor do seu dever. Por meio desse personagem, a filosofa descreve a "banalidade do mal", ou seja, o poder do Estado de igualar o exercício da violência homicida ao mero cumprimento da atividade burocrática. Além de mostrar como a burocratização do serviço público pode se traduzir na capacidade destrutiva do Estado, Hannah causou polêmica porque pôs o dedo na ferida da colaboração de líderes judeus com o nazismo, o que revoltou a comunidade judaica, principalmente nos Estados Unidos.

Pensar e agir
Parece uma digressão sobre o que se passa na Faixa de Gaza e em Jerusalém, mas não é esse o caso. A memória de Hannah Arendt vem a calhar por causa da política no Brasil. Uma grande apatia tomou conta do povo em relação às eleições, em razão da ojeriza à política e aos políticos. Talvez essa dicotomia entre o pensar a política e o agir politicamente seja um dos assuntos preferidos da filósofa, que se diferenciou de outros colegas por considerar a atividade política uma ação inerente à condição humana e não vê-la com hostilidade.

Essa tensão entre a filosofia — pensar é o diálogo do eu consigo mesmo — e a política existe desde a parábola da caverna da República de Platão: o homem se liberta dos grilhões que o prendiam à escuridão e decide sair à luz do dia, que ainda o cega. Já não enxerga na escuridão. Esse é um ato isolado, solitário; nesse momento, ninguém o acompanha.

Para Hannah, a condição humana não vem da existência biológica ("labor") ou do trabalho ("homo faber"), mas do pensar e agir politicamente. Essa é a única atividade humana que se exerce diretamente, sem a mediação das coisas. É a oportunidade de começar algo novo e afirmar a própria identidade, sem a qual a maioria, em qualquer sociedade, cede terreno à tirania.

Apatia e voto
A menos de dois meses das eleições, a campanha eleitoral está gelada nas ruas, ao contrário do que acontece nas redes sociais, onde o ativismo militante não tem limites, apesar de minoritário. É um vale tudo que assusta qualquer cidadão não-alinhado aos partidos políticos que protagonizam a disputa e que parecem estimular a abulia coletiva.

O senso comum é de que o pleito será decidido em razão do tempo de televisão e do volume de recursos financeiros de cada candidato, não em consequência do debate sobre os reais problemas da sociedade, como recomenda a prática democrática. Parece que a política voltou a ser um monopólio de quem exerce o poder e dos partidos políticos.

Pelo raciocínio, a presidente Dilma Rousseff seria reeleita já no primeiro turno, pois teria a oportunidade de mostrar as realizações de sua administração — como se isso não tivesse sido feito por meio da maciça propaganda governamental, antes e durante a Copa do Mundo. Assim, a alienação e o desconhecimento seriam as razões da desaprovação de seu governo e da grande rejeição à própria presidente da República, que concorre à reeleição.

Esse ponto de vista se baseia na guerra midiática de versões, não no que de fato acontece na vida social. As pesquisas apontam um gradativo avanço da oposição, que deverá levar a eleição presidencial para o segundo turno, provavelmente entre Dilma e Aécio Neves (PSDB) ou, eventualmente, Eduardo Campos (PSB).

Tudo indica que teremos uma disputa dramática. Há 25 anos, a cada dois anos, o brasileiro escolheu seus governantes segundo suas reais prioridades. O voto secreto e direto é uma nobre forma de agir politicamente; geralmente, é antecedido de muita discussão e reflexões sobre a vida real, principalmente em âmbito familiar. Na eleição, os cidadãos podem pensar e agir para enfrentar seus problemas e, dessa forma, exercer plenamente a sua condição humana, como diria a filósofa Hannah Arendt.

José Antonio Segatto: Publicização da universidade

- O Estado de S. Paulo

Ao contrário do que tem sido afirmado por entidades sindicais, reunidas no Fórum das Seis, a crise das universidades estaduais paulistas é real, e não fictícia. E mais: é grave. Além de orçamentário-financeira, é uma crise diretiva, fruto de gestões problemáticas ou de vicissitudes administrativas.

Também não é nova e se tem manifestado de forma cíclica - para não recuar muito no tempo basta lembrar que tomou vulto em 1988-1989, quando foi estabelecida a quota-parte de 8,5% do ICMS; voltou em 1995-1996, quando a quota-parte foi aumentada para 9,57%; ressurgiu em 2004 e reapareceu com mais gravidade agora, em 2014.

Entendemos, portanto, que os problemas que a universidade enfrenta hoje não são novos. Em grande medida, são problemas acumulados ao longo dos anos e, muitos deles, não enfrentados adequadamente em seu devido tempo - envolvem não só questões econômico-financeiras e o sistema administrativo, mas resultam, sobretudo, da estrutura de poder e da forma de gestão da universidade, envoltas pelo patrimonialismo, pelo clientelismo e pelo corporativismo.

Dentre eles, alguns são crônicos ou arraigados, como, por exemplo, 1) a privatização velada da universidade por seu corpo burocrático (grupos, corporações e confrarias de interesses), por meio da apropriação dos bens públicos, os quais se autoatribuem benefícios e privilégios, legislando em causa própria e tornando indiferenciado o público e o privado; 2) a sindicalização - os órgãos decisórios (sobretudo centrais) funcionam de acordo com a lógica corporativa (no sentido oposto de suas atribuições acadêmicas e/ou administrativas) de um sindicalismo de resultados voraz e agressivo que barganha proventos e vantagens com os que detêm o poder de mando nas reitorias; 3) a inversão de sentido das atividades-fim da universidade - as atividades técnico-burocráticas tornaram-se a prioridade básica, enquanto as de ensino, pesquisa e extensão foram convertidas em acessórias; a universidade voltou-se para si própria, para sua autorreprodução, deu as costas aos fins para que foi instituída - não por acaso a quantidade de funcionários técnico-administrativos supera em muito o número de docentes-pesquisadores, o que evidencia a extraordinária distorção de objetivos.

Outros problemas também podem ser arrolados, como a falta de transparência e responsabilização na execução orçamentária e financeira e no controle de aplicações e gastos.

A situação, que já era crônica, foi agravada no último decênio por iniciativas várias:

Política de expansão sem planejamento e sob pressão do governo estadual, com a criação de novos cursos, câmpus e/ou unidades - a Unesp, por exemplo, quase que duplicou o número de alunos;
programas de reestruturação de carreiras e salários de servidores técnico-administrativos e docentes, induzidos por interesses corporativos e pela pressão de um sindicalismo de resultados;
amplificação de ações de auxílio e/ou políticas de benefícios, como vales-alimentação/refeição e transporte, creches, subsídio a restaurantes e planos de saúde, permanência estudantil, bolsas, diárias, etc.; outras como, por exemplo, políticas de investimento e incentivo à competitividade, à produtividade, ao empreendedorismo, à internacionalização, etc., suscitadas por grupos de interesse sob alegação da necessidade de alçar a universidade a níveis de excelência, inseri-la no mercado das ciências e promover sua ascensão em rankings internacionais (Top 200, Padrão Xangai).

Essas iniciativas implicaram um aumento significativo da folha de pagamentos e das demais despesas (obras, contratações, salários, custeio, diárias, transporte, mídias, bolsas, equipamentos, etc.), porém sem o aumento do porcentual orçamentário - o que garantiu certo equilíbrio das contas foi um considerável aumento da arrecadação de ICMS nos anos 2007-2010.

Não obstante a situação de crise apresentar-se com maior gravidade na USP, a condição da Unesp e da Unicamp não é menos preocupante. De maneira que, nas circunstâncias atuais, são necessárias medidas imediatas com poder de restaurar a normalidade das atividades, impedir o aprofundamento dos problemas e estancar a crise em curso e seu possível agravamento próximo - até mesmo uma eventual inadimplência que implique a paralisação das atividades e a impossibilidade de pagamento da folha de salários.

Nesse sentido, entendemos que as iniciativas grevistas que interrompem todas as atividades para exigir reposição salarial e outros benefícios são, da forma como estão conduzidas, inadequadas - até porque as entidades sindicais têm, juntamente com os dirigentes ou o establishment universitários, muitíssima responsabilidade pela crise, que pode levar ao declínio sem retorno da universidade.

Pelo exposto, urgem ações e medidas capazes de reverter o atual quadro de crise. Mas para romper com a situação criada não bastam a indignação, a resistência, a denúncia ou o apego a interesses corporativos. Faz-se necessário criar condições para sua superação, convertendo as inquietações em iniciativas renovadoras e transformadoras, desencadeando um processo de democratização e publicização dos métodos e práticas diretivas e de gestão, além do estabelecimento de normas e procedimentos de responsabilização dos dirigentes e/ou agentes decisórios - o que implica, por um lado, elaborar e exercitar uma política diretiva transparente, coletiva, e, por outro, dar combate às concepções e práticas clientelistas e patrimonialistas, corporativas e assistencialistas, ou àquelas excessivamente burocráticas e tecnocráticas. Enfim, fazem-se necessárias e prementes a democratização e a publicização da universidade.

José Antonio Segatto é professor titular do departamento de sociologia da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP - Câmpus de Araraquara (FCL/UNESP-CAR)

Diário do Poder – Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Supremo ignora ‘calote’ na soltura de Genoino
O mensaleiro José Genoino pode ter sido beneficiado por eventual “cochilo” do Supremo Tribunal Federal, ao conceder-lhe a chamada “progressão de pena” e a soltura: o artigo 33 do Decreto-Lei 2.848/40 condiciona a concessão da progressão de regime, no caso de crimes contra a administração pública, à “devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais”. Genoino nada devolveu.

• Montanha de dinheiro
Laudos da Polícia Federal apontam que mais de R$ 100 milhões foram surrupiados no mensalão, e até agora nenhum centavo foi cobrado.

• Fogo amigo
O parágrafo da Lei não existia até novembro de 2003, quando foi sancionado pelo então presidente Lula.

• Dinheiro não falta
Além da condenação por corrupção ativa, Genoino foi multado em R$ 667,5 mil. Fez uma vaquinha e, sem dificuldade, pagou à vista.

• Pobre cardiopata
Genoino passou ao menos por cinco juntas médicas. Todas concluíram que a cardiopatia não o impedia de cumprir pena na Papuda.

• Planalto manobra para aprovar MPs sem quórum
O governo Dilma encontrou uma nova forma de burlar o regimento interno do Congresso e aprovar Medidas Provisórias sem ter quórum mínimo. Em vez de encerrar a sessão, os presidentes das comissões mistas especiais foram orientados a “suspender os trabalhos”. A manobra permite que o presidente use o quórum registrado antes para reabrir a sessão e aprovar MPs com a presença de só um parlamentar.

• Tudo dominado
Para manter o controle, Romero Jucá (PMDB) e José Pimentel (PT) escolhem, com a Casa Civil, o relator e o presidente das comissões.

• Busca por holofote
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), também articula a indicação de deputados para os cargos de visibilidade nas comissões.

• Uma gula só
À frente das indicações, o PT e o PMDB dominam praticamente todas as relatorias e o comando das comissões. Pouco sobra para os aliados.

• Ministro enquadrado
O vice-presidente Michel Temer deu uma dura no ministro da Agricultura, Neri Geller, que se reuniu há dias com o grupo do senador Pedro Taques (PDT), candidato ao governo de Mato Grosso e opositor ferrenho da reeleição de Dilma. A reunião gerou revolta no PMDB local.

• Me erra!
O Itamaraty culpou o Ministério do Planejamento pelo calote de R$ 380 milhões do Brasil junto à ONU. Informou que o pagamento a organismos internacionais é responsabilidade direta daquele ministério.

• Telhado de vidro
Quebradas num protesto estilo black-bloc no final da Copa, em julho, vidraças da embaixada em Berlim continuam sem conserto. Mais despesa na lista de “penduras” internacionais do Itamaraty.

• Vestiram a camisa
Candidatos ao governo potiguar, Henrique Eduardo Alves (PMDB) e Robinson Faria (PSD) apelaram à ajuda das mulheres. Laurita Arruda e Juliane Faria estrearam na campanha com direito até a discurso.

• Estado policial
O projeto oportunista, pós-Copa, que autoriza o governo a “fiscalizar” a CBF, uma entidade privada, provoca inquietação até por sua inspiração fascista. É só o começo. Depois será a vez de entidades como OAB, contas pessoais dos cidadãos, empresas de todo tamanho etc.

• Bahia é aqui
O deputado Silvio Costa (PSC-PE) compara o presidenciável Eduardo Campos com o “coronel” ACM: “Ele quer eleger Paulo Câmara, que está mais para um governado do que para um governador”.

• Cadê os santinhos?
Em São Paulo, deputados desconfiam que Gilberto Kassab (PSD) pode desistir da candidatura ao Senado contra o ex-governador tucano José Serra. Até agora, o ex-prefeito não começou sua campanha de rua.

• Vai rolar
Segundo o deputado Ricardo Izar, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD-SP) é candidatíssimo ao Senado e o material gráfico deve ficar pronto em breve: “A campanha encurtou por causa da Copa”, justifica.

• Tiro no pé
Marqueteiro nacional do PMDB, Elsinho Mouco não poupa Paulo Skaf, que negou palanque à Dilma em São Paulo: “Skaf é o maior adversário dele mesmo”.