sábado, 3 de maio de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

"Não consigo ver o Eduardo como adversário, somos companheiros de trincheira do mesmo sonho"

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB. Em palestra no Fórum Empresarial de Comandatuba (BA), 2 de maio de 2014.

PT 'relança' Dilma como candidata para tentar conter o 'volta, Lula'

• Partido aprova por unanimidade projeto de reeleição em encontro nacional em São Paulo; ex-presidente cobra mais discursos da sucessora e de seus auxiliares e afirma que os petistas precisam 'reconstruir' sua imagem

Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

O PT usou a abertura de seu 14.º Encontro Nacional nesta sexta-feira, 2, para ratificar o nome de Dilma Rousseff como pré-candidata do partido nas eleições de outubro. O presidente do partido, Rui Falcão, perguntou aos 800 delegados e aos cerca de 2 mil convidados que compareceram ao Anhembi, na zona norte de São Paulo, se concordavam com o projeto reeleitoral. O apoio foi unânime. O ato foi uma forma de tentar dissipar o coro do "volta, Lula".

"Recebo essa missão honrosa que é ser pré-candidata do PT à Presidência", discursou Dilma, que atacou a oposição. "Tem gente achando que é melhor voltar ao passado. São poucos, mas eles tem amigos e falam muito. Nós somos muitos e temos que falar muito mais", afirmou a presidente, referindo-se à fala de minutos antes de seu padrinho político e antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula, ao falar no encontro, havia cobrado mais ação de Dilma. "Acho que os trabalhadores estavam precisando ouvir um discurso daquele e que o PT precisava daquele discurso. Portanto, querida, faça mais", disse o ex-presidente, dirigindo-se à sucessora.

Ele se referia ao pronunciamento de Dilma feito na quarta-feira em razão do Dia do Trabalho. A presidente anunciou um pacote que incluiu aumento do Bolsa Família e desoneração de imposto para a classe média. Também criticou a oposição, que segundo ela aposta no "quanto pior, melhor".

"Se você reunir seu ministério, vai ver que 80% não sabe 30% que o governo fez. Se eles não sabem, o povo também não sabe. A gente não está dando uma ferramenta de trabalho para este povo defender a gestão", disse Lula à afilhada política diante da plateia petista.

O ex-presidente também falou em reconstruir o PT, fazendo referência indireta a escândalos envolvendo integrantes do partido. "A gente não pode compactuar com uma pessoa que, em nome do partido, com mandato do partido, saque coisas em nome pessoal. Precisamos fazer uma reconstrução da imagem do PT. É um desafio tão importante e grande quanto eleger a Dilma porque. Criamos o partido para ser diferente de tudo que existia. A gente não tinha panfleto para fazer campanha e hoje parece que o dinheiro resolve tudo."
Aliados. O PT levou aliados para tentar reforçar que o "volta, Lula" é residual. O PR, partido governista, chegou a fazer coro nos últimos dias para que o ex-presidente substituísse a atual mandatária. A legenda não teve representantes na mesa do encontro da noite desta sexta-feira. Outras siglas aliadas, como o PSD e o PTB, por exemplo, estavam no encontro e confirmaram seu apoio à presidente, que entrou no auditório do Anhembi ao lado de Lula, sob gritos dos delegados e convidados: "1,2,3, é Dilma outra vez".

Além de dizer que a presidente vai para a reeleição, Lula fez mistério quanto a uma possível volta à disputa pelo Planalto daqui a quatro anos. "Eles (os opositores) pensam: a Dilma ganha agora e depois o Lula vai querer voltar em 2018. Quantos anos o PT vai ficar no governo?", discursou.

Mais cedo, enquanto os petistas discutiam acréscimos e mudanças nos textos "Tática Eleitoral e Política de Alianças" e "Diretrizes do Programa de Governo", que serão aprovados neste sábado, Dilma estava reunida com Lula para definir o formato da equipe e o modelo da campanha presidencial.

O primeiro evento no qual Lula falou claramente que Dilma seria candidata à reeleição ocorreu em fevereiro de 2013. Em discurso durante a festa de aniversário do PT, o ex-presidente afirmou que a reeleição de Dilma seria "uma resposta" às críticas da oposição – a época, o senador Aécio Neves, pré-candidato tucano ao Planalto, havia realizado um discurso no Senado apontando os 13 "fracassos" da administração de Dilma. Naquela época, o "volta, Lula" já permeava as conversas petistas.

Críticas. Apesar da aparente unidade em torno do nome de Dilma, o encontro petista foi palco para críticas ao modo como a presidente faz política no comando do País. Nas várias reuniões paralelas ao evento principal, dirigentes estaduais reclamaram da indisponibilidade de datas na agenda de Dilma para atos políticos em suas regiões.

Romênio Pereira, do Movimento PT, corrente com forte presença em Minas Gerais, reclamou também da hegemonia paulista na coordenação da campanha à reeleição. "É uma coordenação muito paulistanizada", disse.

Ministros vão para a linha de frente da pré-campanha

• Tereza Campello, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, rebateu críticas do pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves

Ricardo Della Coletta - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Planalto pôs seus ministros para responder às críticas da oposição e defender as realizações do governo Dilma Rousseff neste período pré-eleitoral. Nesta sexta-feira, 2, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, rebateu críticas do pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, ao pacote de bondades anunciado por Dilma em rede nacional de rádio e TV, entre elas o reajuste de 10% ao Bolsa Família. Nesta semana, foi a sexta ministra a ir para a linha de frente pré-eleitoral.

Na festa do 1.º de Maio da Força Sindical, o tucano disse que Dilma "mente" ao dizer que o aumento de 10% do Bolsa Família permite que o Brasil chegue a um "patamar mínimo estabelecido pela ONU". Aécio afirmou que a linha de extrema pobreza colocada pela entidade é de US$ 1,25 per capita dia, o que equivaleria a R$ 83 mensais (e não aos R$ 77 agora válidos com os novos valores do programa). "As pessoas têm que saber fazer a conta", disse a ministra ontem, no Planalto, sem citar o nome de Aécio. "O critério que usamos agora é o mesmo que sempre usamos. É leviano acharem que as políticas públicas brasileiras possam variar segundo o dólar."

Nos últimos dias, os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Guido Mantega (Fazenda), José Eduardo Cardozo (Justiça), Miriam Belchior (Planejamento) e Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) também saíram em defesa do governo. Carvalho disse que Dilma não ia a São Paulo a cada quatro anos apenas "para fazer promessas", também reagindo a Aécio, que criticou a ausência de Dilma no evento.

Na quarta-feira, Berzoini declarou que no governo FHC "ocorreram grandes malefícios aos trabalhadores". No mesmo dia, Cardozo defendeu o pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, citado pela Polícia Federal na Operação Lava Jato. Na terça-feira, Mantega enalteceu a política de geração de empregos e distribuição de renda da era petista. Belchior disse que a população "saberá reconhecer quem garantiu crescimento e tirou a população mais pobre da miséria no Brasil".

Aécio diz que defenderá fim da reeleição, mesmo sem consenso do PSDB

• Campos lembra que já havia falado em mandato único de 5 anos para presidente. Em fórum na Bahia, os dois opositores de Dilma propõem reformas tributárias

• Único petista presente ao Fórum de Comandatuba, o governador da Bahia Jaques Wagner disse que discutir reforma é importante, mas não é tão simples de se fazer

• Aécio diz que não consegue ver Campos como adversário: ‘Nós dois queremos a mesma coisa’

Tiago Dantas – O Globo

ILHA DE COMANDATUBA (BA) - O pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, afirmou nesta sexta-feira que - mesmo sem ter consenso dentro de seu partido - vai defender o fim da reeleição.

- As pessoas vão falar: ‘Mas a reeleição foi proposta pelo FHC’. Foi, e foi um bom teste. Mas acho que hoje o fim da reeleição pode ser saudável. Ainda mais agora que se discute o fim do financiamento privado nas campanhas, que pode gerar vantagem para quem está no poder - declarou Aécio.

Ao lado de Eduardo Campos, pré-candidato pelo PSB, o tucano participa do Fórum de Comandatuba, encontro de representantes de grandes empresas e políticos organizado pelo Lide - Grupo de Líderes Empresariais. A presidente Dilma Rousseff foi convidada, mas não compareceu.
Aécio tentou evitar mostrar diferenças entre suas propostas e de Campos:

- Não consigo ver Eduardo como adversário. Nós queremos a mesma coisa. Não vejo como, a partir de 2015, não estarmos eu, Campos e Marina (Silva) no mesmo projeto de país - declarou.

O senador do PSDB foi quem levantou a questão da reforma política de forma mais direta, apesar de já ter feito a defesa do fim da reeleição logo após as manifestações de junho do ano passado.

Afirmou que, mesmo sem ter consenso dentro do partido, vai defender o fim da reeleição, o aumento do tempo de mandatos executivos para cinco anos e a instituição do voto distrital misto (metade do congresso seria formada pelas eleições em distritos, enquanto a outra metade seria eleita por meio de uma lista formulada pelos partidos).

Ao falar com jornalistas, ao final da sua participação no Fórum de Comandatuba, Campos disse que já defendia a proposta de fim da reeleição e do aumento do mandato para cinco anos, além da coincidência das datas de eleição.

- O fim da reeleição vai deseleitoralizar o Brasil e gerar um debate em profundidade (nas eleições), criar partidos que tenham raízes na sociedade, que discutem ideias e se posicionem no campo de valores - afirmou Campos. - Há hoje uma crise de representação. E ela não será vencida se a gente não tiver coragem.

Ele e Aécio criticaram a economia do governo Dilma Rousseff e defenderam a realização de reformas tributárias.

Aécio prometeu a criação de uma secretaria extraordinária para encaminhar ao Congresso um projeto de simplificação do sistema tributário para encaminhar a reforma nos impostos.

- Estou propondo a criação de uma secretaria extraordinária no primeiro dia de governo para apresentar, em seis meses, a simplificação do sistema tributário brasileiro - disse Aécio. - Também temos que discutir a distribuição dos tributos. O governo federal concentra um volume gigantesco de impostos e se exime de algumas responsabilidades, como a segurança pública. Esse desequilíbrio federativo tem que ser enfrentado.

Campos reconheceu que a economia do Brasil avançou nos últimos anos, mas disse que o país deixou de fazer muitas coisas:

- Estamos vivendo uma conjuntura dura: baixo crescimento, inflação batendo no orçamento das famílias, juros em alta, crise de confiança. Não adianta continuar fazendo diagnósticos de forma repetida e deixar de fazer as reformas. É possível fazer reforma tributária em momento de crescimento baixo.

Campos assumiu que a carga tributária não vai aumentar e voltou a defender a autonomia do Conselho Monetário Nacional, que atuaria de forma independente, como o Banco Central, para fazer o acompanhamento das metas inflacionárias.

Além da independência dos órgãos, Campos sugeriu que seja montado um Conselho de Política Fiscal, medida prevista na Lei de Responsabilidade Fiscal que prevê que a própria sociedade possa avaliar gastos do governo.

- É preciso que haja transparência nos gastos públicos. A lei de responsabilidade fiscal prevê a criação de um conselho, e o controle da sociedade. Isso evita que uma medida, tomada por pressão de um setor, vai onerar a sociedade como toda.

O ex-governador de Pernambuco disse, ainda, que grandes reformas, como a tributária e a política podem ser feitas em fatias, aos poucos.

- Temos cinco impostos sobre consumo. Se não fizer reforma, sistema tributário vai matando competitividade. Vamos fazer processo de simplificação e, em oito anos, legar um sistema tributário de classe mundial.

Políticos da oposição que acompanham o Fórum de Comandatuba avaliam que os dois pré-candidatos tentam se aproximar do empresariado que, de forma geral, na opinião deles, sente distanciamento de Dilma.

Os dois políticos comentaram as vaias recebidas por políticos do PT durante a festa de 1o. de maio das centrais sindicais em São Paulo:

- Fui muito bem recebido e pude falar tranquilamente - disse Campos. Mas é uma amostra de descontentamento. Tem pedaço da política brasileira que precisa ir pra oposição porque está acostumado a governar com todo mundo. Conosco não vai ser todo mundo governo. Tem uma turma que está aí há 30 anos e vai passar quatro anos na oposição.

- É uma resposta a ausência de respostas do poder público às demandas das ruas. As pessoas estão cansadas de ilusão e de tantas denúncias. O povo quer a verdade. O que pode fazer e o que não pode.
Único petista presente ao Fórum de Comandatuba, o governador da Bahia Jaques Wagner disse que discutir reforma tributária é importante, mas não é tão simples de se fazer:

- Independente de quem proponha a reforma, ela tem que passar pelo Congresso. E a grande questão é a divisão do bolo orçamentário. A União concentra parte desse bolo, sim. Mas os estados mais ricos também concentra.

O governador disse que não faria uma defesa das gestões de Lula e Dilma, mas lembrou que sua experiência no governo federal mostra que o "grande problema do Brasil é a desigualdade social".

- Se não cuidarmos da distribuição de renda e das desigualdades regionais, não temos saída.

* O repórter viajou a convite do Lide

Aécio diz que estará com Campos no mesmo projeto a partir de 2015

• A empresários, o tucano também defendeu o fim da reeleição e justificou: 'Sou uma metamorfose ambulante', citando frase de Raul Seixas já usada por Lula

Elizabeth Lopes* e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

COMANDATUBA (BA) - O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), iniciou sua palestra no Fórum Empresarial de Comandatuba, nesta sexta-feira, 2, tecendo elogios ao ex-governador de Pernambuco e presidenciável do PSB nesta campanha, Eduardo Campos. Apesar de estar em campo distinto na corrida presidencial, o tucano disse: "Não consigo ver o Eduardo como adversário, somos companheiros de trincheira do mesmo sonho", arrancando aplausos da plateia. Depois de criticar a atual gestão petista, ele disse que falaria algo que iria surpreender a todos: "Não vejo como, a partir de 2015, não estarmos eu, (Eduardo) Campos e Marina (Silva) no mesmo projeto de País."

No campo da reforma política, Aécio defendeu o voto distrital e o fim da reeleição com mandato de cinco anos. O tucano lembrou que a instituição da reeleição foi feita no governo de seu correligionário, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e brincou: "Vou parodiar o presidente Lula e dizer que prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo." Em 2007, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou frase do músico Raul Seixas para justificar diferenças de posição do PT como oposição e como governo.

Economia. No discurso aos empresários, Aécio voltou a dizer que o Brasil não foi descoberto a partir de 2003, numa crítica indireta a Lula. Mas enalteceu o petista por conta dos programas de transferência de renda bem sucedidos que ele implantou em sua gestão. O tucano repetiu a frase que havia usado em outras ocasiões nesta pré-campanha: "Somos todos brasileiros, não podemos dividir o Brasil ente nós e eles".
Após o breve elogio ao petista, o presidente do PSDB criticou a mudança nos pilares macroeconômicos iniciada no segundo mandato de Lula. "Estamos voltando à agenda de dez anos atrás". E alfinetou: "Tenho divergências profundas com os que estão no poder (governo do PT)."

O senador mineiro criticou também a falta de segurança jurídica que, no seu entender, impera hoje no País. "Não se respeitam regras, somos vítimas desse intervencionismo", frisou. E disse que o próximo presidente herdará uma "herança perversa" de inflação em alta, crescimento baixo e perda crescente de credibilidade. Aécio citou ainda os "péssimos resultados" da balança comercial brasileira.

Outro alvo de crítica foi a "escorchante carga tributária". Aécio prometeu que, se for eleito, vai apresentar em seis meses uma proposta de simplificação tributária, arrancando aplausos dos empresários. "Quem melhora a vida de cada um é a própria pessoa, Estado tem de ser apenas parceiro, restabelecendo a confiança e a esperança."

Obras. No fim da palestra, Aécio disse que não é possível classificar como natural os "gastos milionários" do governo federal com as obras públicas em todo o País. Ele disse que o setor público não é inimigo do setor privado e que não é possível o País estar na lanterna do desenvolvimento da região.

Além das críticas à economia, o senador tucano falou que o País enfrenta problemas nas áreas da educação, saúde e segurança. "Temos de ter coragem de enfrentar a questão da criminalidade, sem a omissão atual do governo federal", disse.

Aécio começou sua explanação, que durou 35 minutos, brincando com o presidente do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), João Dória Júnior, dizendo que ele poderia ser o arrecadador de sua campanha, após ele ter coordenado arrecadação para o Instituto Ayrton Senna na manhã desta sexta-feira, reunindo em poucos minutos uma cifra superior a R$ 1 milhão.

* A repórter viajou a convite do Lide.

Aécio diz não ver em Campos um “adversário”

Bruno Peres - Valor Econômico

COMANDATUBA (BA) - O senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato tucano à Presidência da República, disse nesta sexta-feira durante fórum com empresários em Comandatuba (BA), que não vê o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) como um “adversário”. Aécio sugeriu que existe uma afinidade na agenda de ambos para o desenvolvimento do país.

O tucano afirmou ter “esperança enorme” de que o Brasil esteja “às vésperas de iniciar uma nova história”. “Não podemos permitir que continuem tentando dividir o Brasil entre nós e eles”, disse. “Quero viver em um país em que todos possamos ser nós”.

O senador fez críticas à situação econômica do país e falou em uma “fragilização de conquistas” obtidas nos últimos anos “a começar pela estabilidade”. Em sua avaliação, o próximo governo terá como “legado” inflação alta e baixo crescimento.

Para a campanha eleitoral, Aécio pediu um debate sobre diferentes reformas para o país e afirmou que apresentará propostas que “não são consensuais”, mas demandam debate. Em determinado momento, o senador divergiu de Campos ao propor a redução da maioridade penal “em casos extremamente graves”.

O senador foi aplaudido pelos empresários e políticos presentes ao defender o fim da reeleição, reconhecendo que o instrumento foi criado durante gestão do PSDB. Ele afirmou que vai propor, entre outros pontos, a instituição do voto distrital e o mandato de cinco anos para cargos eletivos do Executivo.

“Vivemos uma crescente carga tributária, inibidora da competitividade“, disse, afirmando ainda que o governo “se curva à necessidade” de fazer parcerias com o setor privado, em referência a um processo que teve início na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O senador também afirmou que o país é “vítima” de “excesso de intervencionismo” e cobrou mais segurança jurídica para a retomada dos investimentos no país.

Reforma tributária e regulação
O tucano criticou o que chamou de ineficiência do setor público. “Não precisa ser ineficiente por ser público”, disse, reafirmando a meta de reduzir a quantidade de ministérios “para que a máquina possa funcionar”. Aécio Neves prometeu, caso eleito, criar uma “secretaria extraordinária” para propor ao Congresso Nacional uma reforma tributária e “metas” para o setor público.

Em seu discurso, o senador também fez menção a um “resgate” das agências reguladoras, visando beneficiar o cidadão, fazendo críticas ao aparelhamento da máquina.

Ao comparar as gestões petistas, Aécio afirmou que o aumento da produtividade da economia foi maior no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que na gestão atual de Dilma Rousseff. Ao defender o fortalecimento do municipalismo, o tucano criticou a “concentração absurda e perversa” de recursos “nas mãos da União”.

Ao falar da política externa do Brasil, defendeu mudanças, criticando o que chamou de “alinhamento ideológico” a que o país foi submetido nos últimos anos. “É hora de rompermos algumas amarras”, disse. “O Brasil não merece estar na lanterna do crescimento na nossa região nos últimos dez anos”.

Aécio também foi aplaudido pelos empresários ao criticar o “Estado paternalista”. “Nada mais falso. Quem melhora a vida de cada um é ele próprio, Estado tem que ser parceiro [do cidadão]”, disse. Outro momento em que foi aplaudido foi ao fazer uma “propaganda” de sua gestão como governador de Minas Gerais na área educacional.

Se oposição vencer, PSDB e PSB farão aliança dentro do Congresso para sustentar novo governo

Marcelo de Moraes – O Estado de S. Paulo

O PSDB do senador Aécio Neves (MG) e o PSB do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos já têm um projeto para organizar uma base de sustentação política reunindo os dois partidos dentro do Congresso caso um dos dois candidatos consiga impedir a reeleição da presidente Dilma Rousseff. A ideia é juntar a bancada eleita por PSDB e PSB, agregar os parlamentares das legendas aliadas, como a Rede, de Marina Silva, DEM, Solidariedade e PPS, e formar com eles a espinha dorsal da base desse novo governo no Senado e na Câmara. A esse grupo também se juntaria o PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, cada vez mais parceiro de Aécio e Campos nas alianças políticas regionais.

Sem juntar suas forças, tanto Aécio como Eduardo teria muita dificuldade para formar maioria parlamentar dentro do Congresso, na hipótese de vencer a eleição. Sem essa aliança, precisariam apelar para a cooptação de antigos adversários através do toma lá dá cá de cargos e emendas orçamentárias.

Se Dilma for derrotada, o PT assumirá naturalmente a condição de principal partido de oposição do País. A novidade no movimento de Aécio e Campos é que a aliança entre esses grupos permitiria excluir o PMDB da base do novo governo e acabar com uma das máximas mais tradicionais da política de Brasília: a de que não sabe quem será eleito presidente, mas se sabe que o PMDB estará na base aliada seja qual for o escolhido nas urnas.

Embora mantenham boas relações com alguns setores do PMDB, a proposta é que o partido fique fora da base institucionalmente. Grupos pemedebistas que estão se alinhando já na campanha terão outro tratamento, como é o caso da Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco, por exemplo.

Na campanha, Aécio e Eduardo não poderão se aliar no primeiro turno, até pela previsão que apenas um deles tem chance de estar no segundo turno contra Dilma. Ambos negam a existência de um acordo para o apoio mútuo no caso de realização de segundo turno, mas esse acordo já está selado.

A parceria entre Aécio e Eduardo já se desenhou em eleições passadas, garantindo vitórias em Minas Gerais na prefeitura de Belo Horizonte, com Márcio Lacerda. Também levou ao poder o tucano Beto Richa, quando este vencer a corrida pela prefeitura de Curitiba, antes de se eleger governador do Paraná. Agora, PSDB e PSB estarão juntos na disputa pelos governos de Minas e Pernambuco, Estados de Aécio e Eduardo.

Oposição recorre unida contra pronunciamento de Dilma na TV

• Partidos acusam presidente de campanha antecipada no pronunciamento de 1º de Maio

O Globo

BRASÍLIA - A oposição decidiu se unir para ingressar, na próxima semana, com representação junto ao Ministério Público Eleitoral e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a presidente Dilma Rousseff, sob a acusação de fazer campanha antecipada por meio do pronunciamento em cadeia de rádio e TV na última quarta-feira. Os partidos — DEM, PSDB e PPS — também pedirão uma audiência ao presidente do TSE, que já deverá ser o ministro José Antônio Dias Toffoli, para reclamar da atuação da Presidência da República e pedir uma atuação rigorosa do tribunal na campanha eleitoral, que começa oficialmente no início de julho.

A estratégia foi acertada entre os líderes do DEM e do PSDB durante o feriado. Na quarta-feira à noite, o DEM já discutia recorrer à Justiça contra Dilma. Em cadeia nacional, a presidente fez um pronunciamento recheado de medidas de impacto, como o reajuste de 10% do programa Bolsa Família e a correção da tabela do Imposto de Renda. As medidas terão reflexos financeiros em 2015, justamente o primeiro ano do próximo governo. Para a oposição, Dilma se comportou como candidata à reeleição e não como presidente da República.

O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), disse que conversou com o líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN), sobre a ação e ainda com os colegas do PSDB. Para Mendonça Filho, a postura da presidente Dilma mostra “desespero” diante de sua queda nas pesquisas de intenções de voto e de avaliação do seu governo.

— Vamos entrar na próxima semana com a ação na Justiça Eleitoral. Os demais partidos estavam com a mesma ideia e vamos juntos. O pronunciamento foi o último fio do desespero. Eles estão fazendo tudo para estancar o sangramento nas pesquisas. Quem está usando recursos públicos em horário oficial é a candidata Dilma e não a presidente Dilma — disse o deputado.

Os partidos devem utilizar um dos artigos da minirreforma eleitoral — aprovada ano passado pelo Congresso — para contestar a postura de Dilma. O trecho da lei diz que “será considerada propaganda eleitoral antecipada a convocação, por parte do Presidente da República, dos Presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal, de redes de radiodifusão para divulgação de atos que denotem propaganda política ou ataques a partidos políticos e seus filiados ou instituições”.

— Vamos pedir uma audiência ao presidente do TSE para expor a questão do uso ilegal deste tipo de instrumento. A presidente fez propaganda política, atacou os partidos. E anunciou medidas para um governo futuro. Foi algo altamente eleitoral — disse o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA).

O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), também criticou o tom do pronunciamento de Dilma. Para ele, desta forma, a disputa entre os candidatos à Presidência ocorre de forma desigual.

— Todos estamos indignados. É triste quando não se prima pela ética, pela igualdade na disputa eleitoral — disse Rubens Bueno.

Pesquisa Sensus aponta Dilma com 35% e Aécio 23,7%; decisão iria para 2º turno

• Divulgado neste sábado, levantamento

Agência Estado

Pesquisa Sensus divulgada nesta sábado (3) indica que se as eleições fossem realizadas hoje, haveria votação em segundo turno. A presidente Dilma Rousseff (PT) teria 35% das intenções de votos, o senador tucano Aécio Neves (MG) teria 23,7% e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) teria 11%, votos brancos e nulos e não sabe ou não respondeu, 30,4%. Juntos, Aécio e Campos têm 34,7% dos votos, praticamente a mesma porcentagem de Dilma (diferença de 0,3%). A margem de erro é de 2,2%.

No cenário com outros presidenciáveis, Dilma registra 34%, Aécio 19,9%, Campos 8,3%, Pastor Everaldo (PSC) 2,3%, Randolfe Rodrigues (PSOL) 1,0%, Eymael (PDC) com 0,4%, Mauro Iasi (PCB) 0,3%, Levy Fidelix (PRTB) 0,1%, brancos e nulos e não sabem ou não responderam, 33,9%.

Nas projeções de segundo turno numa eventual disputa entre Dilma e Aécio, a petista aparece com 38,6% e o tucano com 31,9%. Se a disputa for contra Eduardo Campos, a presidente da República registra 39,1% e o ex-governador de Pernambuco, 24,8%.

A pesquisa traz ainda os índices de rejeição dos principais presidenciáveis. Do total de entrevistados, 42% afirmaram que não votariam em Dilma de jeito nenhum. Já a taxa de rejeição de Eduardo Campos ficou em 35,1%; e a de Aécio Neves, em 31,1%.

A pesquisa do Instituto Sensus, de Belo Horizonte, presidido por Ricardo Guedes, está registrada no TSE sob protocolo nº BR-00094/2014. A mostra foi realizada com dois mil entrevistados, no período de 22 a 25 de abril, em todo o Brasil.

Merval Pereira: Sinal dos tempos

- O Globo

O que ocorreu na comemoração organizada pela CUT no Dia do Trabalho em São Paulo é um sinal dos tempos. Não apenas o braço sindical do PT atraiu menos gente do que a outra comemoração, organizada pela Força Sindical, a central adversária, como os representantes petistas simplesmente foram impedidos de discursar em seu próprio território político.

Mas a rejeição aos petistas não foi fato isolado nos últimos dias. O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, responsável pelo relacionamento com a sociedade civil, tem sofrido na pele essa rejeição nos encontros que vem mantendo para tentar desmobilizar as manifestações previstas contra a realização da Copa do Mundo.

Em todo lugar a que vai, invariavelmente surge uma faixa com os dizeres “Não vai ter Copa” para ser pendurada como pano de fundo dos debates. Na sede do Sindicato dos Bancários do Rio, etapa carioca dos “Diálogos Governo - Sociedade Civil Copa 2014”, dias atrás, mais uma vez Carvalho sofreu para poder levar aos participantes a palavra do governo.

Foi vaiado, xingado, tentou convencer os jovens revolucionários da plateia de que seu passado também revolucionário faz dele um aliado, e não um adversário, mas não houve jeito. Uma militante fez um gesto com as mãos significando dinheiro que atingiu Carvalho mais do que os berros e apupos.

Voz embargada, disse para a militante que tinha patrimônio de R$ 400 mil, e que já havia morado em favelas para ajudar o próximo. Não houve jeito.

Tudo parece dar seguimento às manifestações de junho passado, quando estourou nas ruas, surpreendentemente, um protesto espontâneo contra todos os políticos e governantes, fossem de que origem fossem. Como descrevi na época, os movimentos sociais que se consideravam controladores das manifestações populares, como sindicatos e partidos, surpreenderam-se com o caráter espontâneo daqueles protestos e tentaram retomar o controle das ruas.

Foram tentativas malsucedidas, na medida em que rechaçadas por quem não se considerava representado por eles, e suas passeatas ficaram muito aquém das manifestações espontâneas. Mas a violência dos grupos paramilitares infiltrados e dos black blocs acabou dominando as ruas, expulsando delas a classe média que havia explicitado o descontentamento com os serviços públicos mal prestados, o desperdício do dinheiro público em obras suntuosas e desnecessárias como os estádios “padrão Fifa”, o combate à corrupção e o descaso governamental com Saúde e Educação, prioridades da cidadania que os manifestantes espontâneos levaram para as ruas sem precisarem de partidos ou organizações para guiá-los.

Esses cidadãos, em boa parte, continuam descontentes, sentindo-se sub-representados, pois nada de concreto foi feito para rever prioridades do governo, a não ser medidas paliativas como vinda de cubanos para “solucionar” carência de médicos no interior do país, ou aprovação de leis no Congresso que ainda precisam ser confirmadas em novas votações longe da pressão popular.

A situação está tão radicalizada que até mesmo o ex-presidente Lula recentemente se viu obrigado a criticar as manifestações contra a Copa, e o fez com o travo de um velho líder sindical que já não consegue controlar os atos contra uma realização de seu governo, montada para ser o coroamento da campanha de reeleição de Dilma e que se transformou num obstáculo.

Como sempre, fez uma releitura da situação completamente fora da realidade: “Vocês imaginam, nesta altura do campeonato, com 68 anos, dos quais 38 fazendo protesto, eu vou ter medo de protesto? A Dilma, com 20 anos a bichinha estava presa, foi torturada, tomou choque para tudo quanto é lado por protestar.

Agora ela vai ter medo de protesto? Quem quiser protestar, que proteste”, disse o ex-presidente, dando por perdido o controle da situação.

Dessa vez ele tem que ficar do lado da Fifa, e contra os que criticam a falta do “padrão Fifa” nos serviços públicos.

Se a perspectiva para a seleção brasileira na Copa continua sendo boa, apesar da ascensão do futebol da Espanha nos mais recentes torneios internacionais, o mesmo não se pode dizer da organização dos jogos.

Os atrasos nos estádios e as reformas a meia boca nos aeroportos confirmam nossa incapacidade de organização, mesmo o governo tendo tido nada menos que sete anos entre o anúncio da escolha e a realização do evento.

Fernando Rodrigues: Conexão direta

- Folha de S. Paulo

No seu pronunciamento de 12 minutos sobre o Dia do Trabalho, Dilma Rousseff, flertou com uma possível conexão direta entre o governo e os eleitores, prescindindo do Congresso. Foi já no final de sua fala, ao mencionar a reforma política. Ela lembrou aos brasileiros que havia encaminhado a demanda ao Legislativo no ano passado.

"Sem uma reforma política profunda, que modifique as práticas políticas no nosso país, não teremos condições de construir a sociedade do futuro que todos almejamos. Estou fazendo e farei tudo que estiver ao meu alcance para tornar isso uma realidade", disse Dilma.

Aí ela resvalou numa espécie de bonapartismo oblíquo. "Sem a participação popular não teremos a reforma política que o Brasil exige. Por isso, além da ajuda do Congresso e do Judiciário, preciso do apoio de cada um de vocês". Em resumo, pressionem o Congresso. Até aí, tudo bem. Nada mais positivo do que os cidadãos cobrando o Legislativo.

Mas havia no pronunciamento um tom de "se deputados e senadores não fazem a reforma política, vamos fazê-la nós mesmos". Não é à toa que Dilma concluiu assim: "Temos o principal: coragem e vontade política. E temos um lado: o lado do povo. E quem está ao lado do povo pode até perder algumas batalhas, mas sabe que no final colherá a vitória".

O atraso civilizatório brasileiro fica sempre evidente quando um governante insinua haver atalhos por fora das instituições. Este é um ano eleitoral. Se a reforma política é tão relevante, a presidente e seus aliados podem concentrar parte substancial de suas propagandas na TV sobre o tema. Não farão isso, claro.

A reforma política surgiu na fala de Dilma como uma muleta retórica. Propagou a ideia regressiva segundo a qual "a política e os políticos não prestam" e "quando alguém propõe mudanças, eles não se mexem". Como se o Congresso fosse a fonte de todos os males do país.

Charles Pessanha: O Congresso e as nomeações para o TCU

• Recrutamento é mais dramático no DF, Estados e municípios

- Valor Econômico

A Constituição de 1988 rompeu o monopólio - estabelecido desde a primeira Constituição republicana, em 1891 - da nomeação dos ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) pelo presidente da República. De acordo com a mudança, dos nove ministros, seis são indicados pelo Poder Legislativo e três pelo presidente da República, sendo dois funcionários de carreira do TCU, alternadamente um auditor e um procurador, e apenas um de livre escolha do chefe do Poder Executivo. A nova Constituição também fortaleceu o poder de fiscalização do Legislativo e, por extensão, do TCU, que auxilia o Poder Legislativo no controle externo da administração pública. Além disso, manteve o caráter vitalício do cargo e reforçou os requisitos para nomeação: mais de 35 e menos de 65 anos de idade; idoneidade moral e reputação ilibada; notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública, todos comprovados por mais de dez anos de atividade.

O Senado Federal e a Câmara dos Deputados partilharam as nomeações de suas seis vagas e indicaram, quase exclusivamente, senadores e deputados para o cargo de ministro do TCU (ver quadro abaixo). A prática reiterou o velho vício de nomear para o tribunal de contas pessoas sem a devida expertise para o exercício do cargo, como Golbery do Couto e Silva no passado. No período recente, dois presidentes, Collor e Lula, tiveram oportunidade de nomeações livres e também indicaram pessoas sem a devida expertise para o TCU. Em duas oportunidades, entretanto, a reação da sociedade e, sobretudo, dos auditores do tribunal de contas dificultou as nomeações pelo Senado Federal. A primeira delas se deu com o senador Luiz Otávio de Oliveira Campos. Acusado de irregularidades, o senador teve sua indicação criticada pela grande imprensa e, durante cerca de dois anos, o TCU funcionou com oito ministros, dada a negativa de o Senado retirar seu nome. Quando isso afinal aconteceu, Raimundo Carreiro, funcionário da mesa do Senado, tornou-se o único não parlamentar até hoje nomeado ministro por indicação do Senado, embora também não apresentasse familiaridade com a missão constitucional do TCU.

No momento atual, a situação se repetiu com a indicação do senador Gim Argello, também acusado de irregularidades de forma ainda mais contundente. Os próprios ministros do tribunal ameaçaram não dar posse ao senador caso sua aprovação se efetivasse, e as associações dos auditores e procuradores anunciaram adoção de medida judicial questionando a ausência do critério de "idoneidade moral e reputação ilibada" para a indicação do candidato. Diante das críticas, amplificadas pela imprensa, o candidato retirou seu nome. Posteriormente, três nomes com perfil técnico receberam aprovação da Comissão de Assuntos Econômicos, em sessão de 23 de abril. A escolha do plenário, em 29 de abril, recaiu sobre Bruno Dantas, cujo nome segue para Câmara dos Deputados para aprovação.

A situação do recrutamento dos membros do tribunal de contas torna-se ainda mais dramática nos tribunais regionais, estaduais e municipais. A Constituição determina a adaptação das regras nacionais aos tribunais estaduais e do Distrito Federal, com sete membros; aos tribunais e conselhos de contas dos municípios, também com sete membros; e aos tribunais de contas dos municípios do Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente, com sete e cinco membros. Em muitos casos, os problemas de "reputação ilibada" se potencializam, como demonstra o noticiário da imprensa ("Nos Estados, 15% dos conselheiros de TCEs já sofreram ações do Ministério Público", "O Globo", 23/9/2013). Seria interessante um debate sobre o aperfeiçoamento da composição dos tribunais, por exemplo, aumentando as vagas técnicas, por mérito, em detrimento das indicações políticas, oriundas do Legislativo e do Executivo, respeitando-se obviamente as nomeações já efetuadas; ou sobre o estabelecimento de um critério de mérito mais afinado com a missão constitucional do principal órgão de controle externo do país e de seus congêneres nos Estados e municípios.

Charles Pessanha é professor de ciência política da UFRJ, editor emérito de Dados - Revista de Ciências Sociais

Cristovam Buarque: Adoção federal

• Quando um município não tem condições de oferecer boa escola, União fecha os olhos

- O Globo

Quando um banco entra em crise, o Banco Central intervém para evitar a falência; quando a segurança de uma cidade entra em crise, o governo federal aciona a Guarda Nacional; quando a saúde fica catastrófica, importam-se médicos; quando uma estrada é destruída por chuva, o governo federal auxilia o estado; mas quando um município não tem condições de oferecer boa escola a suas crianças, o governo federal fecha os olhos, porque isso não é responsabilidade da União. Limita-se a distribuir, por meio do Fundeb, R$ 10,3 bilhões por ano, equivalente a R$ 205 por criança ou R$ 2 a cada dia letivo.

A boa educação de uma criança, assumindo um bom salário para atrair os melhores alunos das universidades para o magistério, em boas e bem equipadas novas escolas, todas em horário integral, custaria R$ 9.500 por ano, por aluno. Das 5.564 cidades brasileiras, a receita orçamentária total não chega a R$ 9.500 por criança em idade escolar. Se considerarmos os gastos fixos e custeios da administração municipal, nenhuma de nossas cidades teria condições de oferecer educação de qualidade a suas crianças.

Para mudar tal panorama, o país tem dois caminhos: deixar que o futuro de nossas crianças dependa de alta renda de sua família ou responsabilizar a União pela educação dos filhos do Brasil.
As cidades que não têm condições de oferecer uma boa educação para seus filhos apelariam ao governo federal e este adotaria as escolas dessas cidades, respeitando todos os acordos federativos, todos os direitos dos municípios, mas também os direitos de todas as crianças do Brasil, independentemente da cidade onde moram.

Antes mesmo de uma Lei de Adoção Federal ser aprovada, quem sabe um ou outro prefeito não toma a iniciativa de ir ao governo federal e dizer: “Presidente, não tenho condições de oferecer a educação que minhas crianças merecem como qualquer criança brasileira. Por isso, peço que o governo federal adote as escolas da minha cidade”.

Para isso, o caminho é uma carreira nacional com elevados salários e elevadas responsabilidades, com estabilidade submetida a avaliações periódicas, em edificações bonitas e confortáveis com os mais modernos equipamentos, em horário integral.

Lamentavelmente nem todos os prefeitos teriam este gesto de responsabilidade para com suas crianças. Muitos vão preferir continuar sem condições de pagar bons salários, enfrentando greves periódicas que terminam com mínimos aumentos de salários e imensas perdas pedagógicas. Mas, se de repente, muitos despertassem e colocassem os interesses de suas crianças acima de tudo, o governo federal poderia definir critérios para selecionar aos poucos as cidades que seriam adotadas.

Na medida em que este caminho fosse dando certo, em 20 ou 30 anos veríamos todas as crianças brasileiras serem tratadas como brasileiras, em vez de municipais, como hoje. O país teria um sistema de qualidade e com qualidade igual na educação de suas crianças, quebrando o muro do atraso e o muro da desigualdade que nos caracterizam.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

Alberto Goldman:Padilha no ofício de conselheiro do PSDB. Quem diria?

Interessante esse Padilha, o Alexandre. Que ele se defenda de acusações, é legítimo. Rejeita a afirmação de que teria indicado como executivo do Labogen, o laboratório adquirido pelo doleiro Youssef para operações pouco republicanas, o seu ex auxiliar, Marcus Cezar Ferreira, o Marcão, conforme gravação obtida pela Polícia Federal de conversas entre o deputado petista André Vargas e o citado doleiro. Marcão seria a ponte entre o esquema corrupto e o ministério.

Minimiza o fato de ter assinado como testemunha o termo de possível parceria com o laboratório dizendo que, antes de qualquer contrato, ele haveria de passar por filtros de avaliação. Até aí, tudo aceitável, a ser comprovado, como seu direito de defesa.

O que não é aceitável é ele, debaixo dessas acusações, virar as baterias contra o PSDB como se esse fosse o autor das denúncias. Não é. São matérias do jornal "O Globo" e investigações feitas pela Polícia Federal. Padilha, naturalmente "preocupado" com o futuro de seu adversário, o PSDB, lhe dá orientação política, afirmando que "o PSDB vai perder de novo se continuar a minar as candidaturas petistas como a dele e da presidente Dilma, por meio de denúncias". Patético.

Não satisfeito em se meter a ser conselheiro do PSDB, acusa o governo de São Paulo de não investigar a formação de cartel, "cujas investigações começaram por autoridades internacionais e pelo CADE". Pelo contrário, o governo de São Paulo, logo após a confissão de um diretor da SIEMENS, uma das partes do cartel, iniciou uma investigação e um processo judicial de ressarcimento dos prejuízos eventualmente provocados pela formação do cartel, inclusive utilizando as investigações feitas pelo CADE.

É importante que se esclareça, que o cartel das empresas que atuaram na área teve abrangência internacional e, no Brasil, teria se organizado em todo o território nacional, inclusive nas empresas federais que utilizam os bens produzidos pelas empresas que formaram o cartel, não só na área do transporte sobre trilhos como também no setor elétrico, onde a participação federal é dominante.

Aliás, no âmbito federal, além das investigações do CADE desconheço qualquer iniciativa para processar e pedir judicialmente ressarcimento por prejuízos provocados pelo cartel. Dizer que "no âmbito do governo federal a apuração começa no governo federal", é desconhecer que ministros caíram sem que qualquer dos acusados por corrupção tenha sido molestado. Pelo contrário, vários deles voltaram a dirigir e mandar em ministérios e órgãos federais.

Reconheço o seu direito de defesa. Seus argumentos devem ser avaliados e aceitos, ou não. O que ele não tem o direito é de ser intelectualmente desonesto e tentar encobrir seus problemas com ataques a terceiros, sem base nos fatos.

Alberto Goldman é vice presidente nacional do PSDB

*Rolf Kuntz: A diplomacia fantástica e a política da estagnação

- O Estado de S. Paulo

O governo estuda um novo pacote de ajuda às montadoras - mais um de uma longa série. Na Venezuela persiste a escassez de alimentos e até de papel higiênico. Prolonga-se o impasse nas negociações comerciais entre o Mercosul e a União Europeia. Mais do que nunca o Brasil depende da exportação de matérias-primas para o mercado chinês, numa relação semicolonial. A economia brasileira deve crescer entre 2,3% e 2,5% este ano, segundo o governo, ou nem 2%, segundo outras fontes, perdendo o bonde da recuperação global. Todos esses fatos estão estreitamente relacionados. São aspectos e consequências da opção do governo brasileiro, a partir de 2003, pela diplomacia da mediocridade, pelo caminho fácil do mais chinfrim populismo e pelo desfrute político e pessoal da administração pública. A decadência da Petrobrás, rebaixada de empresa a instrumento das fantasias, caprichos e interesses políticos da Presidência da República, também é parte desse filme.

A exportação rendeu às montadoras US$ 2,9 bilhões no primeiro trimestre deste ano, 15,3% menos que de janeiro a março de 2013. Os números foram publicados pela associação das indústrias. A produção de autoveículos foi 8,4% menor que a de um ano antes. Os empresários atribuem os problemas em parte à retração do mercado interno e em parte às dificuldades de embarques para a Argentina, destino de cerca de 80% da exportações brasileiras de veículos.

Há algo obviamente errado nessa dependência. O Brasil importa carros tanto de países avançados quanto de economias emergentes e de industrialização recente, como Coreia, China e Índia. Nenhum desses parceiros emergentes era mais industrializado que o Brasil nos anos 70, mas todos, hoje, produzem marcas próprias, vendem para todo o mundo e até investem por aqui. Sempre muito protegida, a indústria automobilística brasileira ainda se acomodou nos estreitos padrões da diplomacia comercial petista, concentrando suas exportações na vizinhança. Com isso, aceitou uma dependência excessiva do mercado argentino e, portanto, de um dos governos mais incompetentes, mais populistas e menos confiáveis do mundo.

A diplomacia da mediocridade amarrou o Brasil a um Mercosul estagnado, entravado por barreiras comerciais até no interior do bloco, e deu prioridade, na região, a relações com países comandados por governos autoritários. Num desses países, o governo realizou o quase milagre de converter uma das maiores potências petrolíferas numa economia com gravíssimos problemas de abastecimento, inflação acima de 50% ao ano e escassez de dólares.

Sem reservas cambiais, o governo venezuelano recentemente reteve US$ 3,9 bilhões de companhias aéreas estrangeiras. Sem matéria-prima, a indústria Alimentos Polar suspendeu a produção de duas marcas de massas em uma de suas fábricas, segundo informou nesta semana o boletim colombiano Notas Confidenciales, especializado em notícias regionais.

A crise do papel higiênico, um escândalo no ano passado, nunca foi inteiramente superada. Uma estatal desse país, a PDVSA, deveria ter sido parceira da Petrobrás na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Mais uma vez a fantasia diplomática do presidente Luiz Inácio Lula da Silva resultou em custoso fracasso, perfeitamente compatível com os atrasos de pagamentos a exportadores brasileiros.

Ainda fiel a esse terceiro-mundismo de circo, a presidente Dilma Rousseff seguiu a companheira Cristina Kirchner, em junho de 2012, na manobra para suspender o Paraguai do Mercosul e facilitar o ingresso da Venezuela.

A opção pelo realismo fantástico da diplomacia Sul-Sul, subproduto de um esquerdismo infantil, produziu o primeiro resultado em 2003-2004, quando os presidentes Lula e Kirchner decidiram liquidar o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Essa decisão condenou o Mercosul a perder o bonde da integração no mercado global, enquanto outros países sul-americanos negociavam acordos com os Estados Unidos e outros mercados desenvolvidos.

Lula e seus grandes conselheiros diplomáticos selecionaram como parceiros estratégicos alguns dos maiores emergentes - China, Rússia, Índia e África do Sul. Os governos desses países jamais incluíram o Brasil entre seus parceiros prioritários. Tinham outros objetivos e sempre se esforçaram muito mais para ampliar o comércio com as maiores economias capitalistas. Sem acesso preferencial ao mundo rico - até porque a Argentina sempre dificultou o acordo com a União Europeia -, o Brasil perdeu espaço no mercado internacional de manufaturados. Passou a depender muito mais do que antes da exportação de produtos primários e facilmente se converteu em fornecedor de matérias-primas para a economia chinesa.

Não há nada errado em exportar matérias-primas. Mas é um erro enorme tornar-se muito dependente desse tipo de exportação enquanto a indústria nacional perde dinamismo, competitividade e participação até em seus principais mercados, como a América do Sul.

A política interna, marcada por uma combinação de populismo, gastança federal, baixo investimento, desleixo com a educação, protecionismo, aparelhamento e loteamento do governo e de suas empresas, tolerância à inflação e desprezo à produtividade, levou a indústria à estagnação e erodiu as contas externas. A economia cresceu em média 2% ao ano entre 2011 e 2013 e talvez nem isso seja alcançado em 2014.

A presidente Dilma Rousseff é apenas parcialmente responsável pelo descalabro. A destruição começou no governo de seu antecessor. A prosperidade internacional puxava o Brasil, ainda restava boa parte dos fundamentos criados nos anos 90 e a demolição era menos visível, mas estava em marcha. Subdesenvolvimento, escreveu Nelson Rodrigues, não se improvisa.

*Jornalista

Míriam Leitão: Ponto morto

- O Globo

Não há uma crise no setor automobilístico. Aconteceu o previsto. A redução de impostos provocou antecipação de compras e agora as montadoras estão tendo um ano mais fraco. Além disso, a queda é principalmente nas exportações, e dar garantias para que um país em crise cambial importe carros do Brasil é uma insensatez. A decisão sobre isso está suspensa, por enquanto.

O governo já deixou claro que dará benefício às empresas e pressiona os bancos a liberarem mais crédito. Mas a inadimplência dobrou quando as vendas podiam ser feitas em 60 meses sem entrada.

No quarto ano seguido de PIB fraco, o governo está preocupado com o desempenho do setor automobilístico, principalmente porque é ano eleitoral. As vendas caíram 1,68% no primeiro trimestre e a produção recuou 8%, pela perda de fôlego da demanda interna e pelos problemas da Argentina. Com isso, outros setores da economia sentem os efeitos indiretos, como as siderúrgicas, que produzem aço, e os fabricantes de vidro e borracha.

Estimular novamente as vendas, para criar um novo ciclo de crescimento, vai trazer de volta velhos problemas. Não faz muito tempo, a inadimplência da carteira de veículos disparou. Subiu de 3,6%, em março de 2011 (início da nova série do Banco Central), para 7,23%, em junho de 2012. Os bancos e as próprias financeiras ligadas às montadoras se assustaram e fecharam a torneira do crédito. Foi exigido uma entrada maior para a compra do automóvel, e o prazo para o pagamento, que chegou a 60 meses, foi reduzido. As medidas deram resultados e a inadimplência recuou para 5,04%. Ainda alta, mas em queda em relação ao pico.

A pressão do governo para que os bancos aumentem a oferta de crédito não chega em boa hora. Os atrasos de até 90 dias nos pagamentos de veículos deram um salto em março. Subiram de 7,4% para 8,5%. Esse é um indicador antecedente da inadimplência, que passa a ser registrada quando o atraso ultrapassa três meses. Ou seja, mesmo com as regras mais rígidas, há risco de um novo repique à frente.

Os financiamentos de automóveis triplicaram nos últimos cinco anos. O saldo total de crédito concedido com esse objetivo saiu de R$ 60 bilhões, em 2007, para 193 bilhões em 2012. Uma alta de 221%. De lá para cá, entrou em estagnação e caiu para R$ 189 bilhões em março. O que tem incomodado as montadoras é que os novos financiamentos caíram 15% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quatro do ano passado. O número foi 8% maior que o do mesmo período de 2013.

As vendas externas de carros caíram 32% no primeiro trimestre deste ano, segundo dados da Anfavea. Em dólares, a redução foi de 15%, com uma redução de receita de US$ 3,4 bilhões para US$ 2,9 bilhões, incluindo veículos e máquinas agrícolas. Com isso, os estoques subiram de 37 dias para 48, o que levou muitas montadoras a darem férias coletivas e adotarem programas de demissão voluntária. O problema é a crise cambial na Argentina e quanto a isso o Brasil nada pode fazer. Até mesmo executivos do setor são céticos de que as negociações entre os dois governos vão resolver o problema. A crise no país vizinho tem raízes profundas.

O número de carros nas ruas subiu muito, nos últimos anos. A venda anual de veículos saltou de 1,3 milhão, em 2002, para 3,6 milhões, em 2013. Quase triplicou. Poucas foram as obras de infraestrutura, nesse período, para melhorar as condições de tráfego e estacionamentos.

O governo já fez amplos pacotes de apoio às montadoras. Aumentou barreiras de importação, reduziu IPI e subsidiou o preço do combustível, por meio da Petrobras. A cada número negativo, a indústria vai a Brasília. Fazer novos pacotes não resolverá o problema do setor nem do baixo crescimento do país.

Diário do Poder – Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Dilma barra Gilberto Carvalho em seu gabinete
A presidenta Dilma meteu o ministro Gilberto Carvalho em seu frigobar: já não o recebe há exatos 17 dias. O “gelo” coincide com o crescimento do movimento “Volta, Lula”, e essa atitude não é represália ao secretário-geral do Planalto, mas a seu padrinho. É que Lula tem mandado Carvalho negar sua eventual candidatura este ano, e Dilma sempre achou que o próprio ex-presidente é quem deveria desmenti-la.

• Ministro de recados
Indicado por Lula, Gilberto Carvalho tem o papel de repassar a Dilma os recados, os pedidos e as recomendações do ex-presidente.

• Missão difícil
Na crise do “Volta, Lula”, Gilberto Carvalho virou “algodão entre cristais”, tentando preservar as relações entre Dilma e o ex-presidente.

• Vaia histórica
Não tem sido fácil a vida do ministro Gilberto Carvalho: hostilizado por Dilma, ele encarou a gigantesca vaia no 1º de maio para defendê-la.

• Hostilidades
Outros muito próximos de amigos de Lula, como o rico fazendeiro José Carlos Bumlai, seriam alvo de hostilidades do governo Dilma.

• Gaúcha pode delatar na Suíça a máfia no Brasil
A gaúcha Maria de Fátima Stocker da Silva, 41, presa há dias na Espanha e ex-“gerente financeira” da máfia italiana Ndrangheta em Basel, na Suíça, poderá aceitar delação premiada para explicar o contrabando de duas toneladas mensais de cocaína em portos do Brasil. Em 2003, ela abriu uma empresa de fachada para lavar a grana em imóveis, e pagava “cash” aos chefões do tráfico no Peru e Bolívia.

• É a idade
Ao contrário de Delúbio Soares, que ri à toa, José Genoino, que foi magro, entrou na Papuda sem disfarçar proeminente barriguinha.

• Efeito Cerveró
Nelson Trad (PMDB) acha que tomou do senador Delcídio Amaral (PT) a condição de favorito, em Campo Grande.

• Não está agradando
No Fórum de Comandatuba, o empresariado parecia tão furioso com Dilma quanto a multidão de trabalhadores que a vaiou, no 1º de Maio.

• De novo, não
Advogados de Alberto Youssef procuraram o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), que prendeu o doleiro em 2001 e atuou em sua delação premiada, para pedir nova intermediação. O comunista refutou.

• Papo Papuda
Com a prisão de Genoino, a ex-ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) descobriu no Twitter que “parte” da população carcerária é “discricionada” em seus direitos, como o ex-ministro José Dirceu.

• Pé na bunda
A Fifa do secretário-geral Jerôme Valcke já faz por merecer um pé na bunda: é grande a aflição de estrangeiros, às vésperas de viajar ao Brasil, com a falta de informações oficiais no site da entidade.

• Esperneando
O ex-senador Gerson Camata está indócil com a decisão de Paulo Hartung (PMDB-ES) de disputar o governo, o que inviabilizou sua candidatura como vice do governador Renato Casagrande (PSB).

• Saiu da toca
O governador Jaques Wagner (PT-BA) ficou visivelmente incomodado com a desenvoltura e as críticas de Aécio Neves no Fórum Empresarial de Comandatuba, na Bahia. Para aliados, ele “finalmente saiu da toca”.

• Mensaleiro fujão
O processo de extradição do mensaleiro Henrique Pizzolato já tem data para ser julgado: 5 de junho. Também é cidadão italiano, ele se mandou para escapar da pena de 12 anos e 7 meses pelo mensalão.

• Na gaveta há 90 dias
Líder do PSD, Moreira Mendes (RO) exigirá que o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB), designe os membros da CPI dos Precatórios no TRT de Rondônia. O PSDB, DEM, PT, PR, PV e PSC até agora não indicaram nomes para comissão começar a funcionar.

• Calado ele é um poeta
Pelé, que ultimamente não dá uma dentro, minimizou o ato racista sofrido pelo jogador Daniel Alves. O “rei” considerou “banal” o fato de jogarem banana contra o atleta: “No meu tempo, jogavam jaca”.

• Pensando bem…
…foi emblemático o “desembarque” na Papuda do ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, José Genoino, no Dia do Trabalho.

Brasília-DF: Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

PT em busca da limonada
O encontro do PT ontem em São Paulo definiu, pelo menos, três linhas de discurso para a largada imediata da campanha da reeleição de Dilma Rousseff. A primeira providência é tentar tirar o caráter de troca de governo, daquele sentimento de mudança detectado nas pesquisas. O ensaio para ver se o eleitorado vai aceitar esse suco de limão foi o discurso do presidente do PT, Rui Falcão: "As pesquisas atestam que o eleitorado deseja mudanças, deseja continuar mudando. Deseja superar, conservando. Ou seja, quer que Dilma continue a mudar o Brasil como vem fazendo", escreveu em seu discurso, que seria lido ontem à noite no ato político.
» » »
As outras duas iniciativas serão dirigidas diretamente aos principais adversários, uma para cada um. No caso do presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), a ideia é tratá-lo como "volta ao passado", sem compromisso com as políticas sociais — algo de que o senador vem se prevenindo ao assegurar, inclusive, que o Bolsa Família não só será mantido como deve se transformar em um programa de Estado.
» » »
Para o caso de Eduardo Campos, a estratégia é desqualificá-lo como protagonista principal de um governo bem-sucedido em Pernambuco e tratá-lo como uma cópia fajuta dos programas petistas. Não por acaso, Rui Falcão se referiu à aliança de Eduardo com Marina Silva como uma mistura de "tapioca com açaí" que pode causar indigestão.

Segunda chamada
Em menos de quatro meses, o PT fez dois atos políticos para dizer que Dilma Rousseff é mesmo a candidata do partido à Presidência da República. Quando se chega a esse ponto, lembram os políticos mais atentos, é sinal de que algo está fora da ordem.

Imagina depois da Copa...
O governo está quase em pânico por causa da imagem que o país passará na abertura da Copa, quando a transmissão de dados deve ser prejudicada pelas deficiências crônicas de infraestrutura para esse tipo de serviço na área do Itaquerão, em São Paulo. O que mais preocupa é a voz corrente entre os empresários de que, se o país não consegue uma boa infraestrutura para abertura de uma competição mundial tão importante, definida há sete anos, imagine em outros casos. Não é à toa que, enquanto presidiu a Embratur, Flávio Dino sempre dizia que sua preocupação central era com a impressão dos estrangeiros que viriam para a Copa da Fifa, e não com os jogos em si.

Vargas e Marquezelli
Os grandes partidos não estão com a menor vontade de mexer agora com Nelson Marquezelli por causa de pagamento a manifestantes, conforme demonstrou a reportagem de André Shalders, do Correio. Por enquanto, a ordem é concentrar atenções em André Vargas, do Paraná.

Assediado/ O senador Aécio Neves (PSDB-MG) não deixa de trocar ideias com o colega do PMDB Eunício Oliveira, do Ceará, no plenário da Casa. Ontem, porém, foi a vez do socialista Eduardo Campos telefonar para o senador cearense e ficar por quase uma hora ao telefone. Como Eunício está com uma forte gripe, trocaram receitas de chá e impressões políticas. Essas pontes fazem sentido, uma vez que o governador do estado, Cid Gomes (Pros), resiste a apoiar o líder na corrida pelo governo do Ceará.

Esqueceram dele.../ Ao anunciar as autoridades presentes e convidá-las para compor a mesa, a mestre de cerimônia do encontro do PT não incluiu o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. Ao ser chamada por quem já estava sentado, ela corrigiu a gafe. Padilha, então, entrou sob efusivos aplausos e palavras de ordem do tipo "Padilha, guerreiro do povo brasileiro!".

... E dela também/ A mestre de cerimônias também chamou outra que havia sido esquecida, a senadora Gleisi Hoffmann. Gleisi é do Paraná, assim como o doleiro Alberto Yousseff e o deputado e ex-petista André Vargas. É bom lembrar que Padilha tem passado maus bocados tentando explicar que não tem envolvimento com Yousseff e o laboratório Labogen.

Empate triplo/ Já vazou para o mercado o resultado da revisão de pontuação técnica da concorrência para escolha da agência de comunicação que atenderá à Empresa Brasileira de Planejamento e Logística, a EPL — uma conta de R$ 9 milhões. A Informe, que estava com 95 pontos, ganhou um recurso depois da troca de um dos membros da comissão, e empatou com a CDN e a FSB. O resultado oficial da análise da proposta técnica sai na próxima semana.

Panorama político - Ilimar Franco

- O Globo

Dilma no ataque
A presidente Dilma decidiu partir para a ofensiva. O tom vem subindo gradativamente desde o início da crise da Petrobras. E não vai parar, segundo seus estrategistas. Dilma cansou de ouvir, sem revidar, ataques dos aliados no Congresso e dos adversários na eleição que se avizinha. Determinou aos ministros que sigam sua linha e não deixem nada, nem provocações, sem resposta.

Limpando a área
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) e o vice-presidente Michel Temer almoçaram ontem, em São Paulo, para discutir a candidatura ao governo paranaense. O PT não quer Requião na disputa, mas, com ele, o PMDB se afasta do PSDB do governador Beto Richa. Temer tenta unificar ospeemedebistas em torno de Requião.

Estas empresas são muito malas (oferecendo ofertas nos sites e não cumprindo o preço na conta). Elas têm mais advogados que engenheiros para resolver as reclamações
Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, sobre as operadoras de celular

Um típico paulista
A candidatura de Paulo Skaf (PMDB) ao governo de São Paulo tornou-se uma das maiores preocupações do PT e dos estrategistas da presidente Dilma. Pesquisa qualitativa do partido aponta que Skaf tem ótima imagem, sendo citado como típico paulista de descendência libanesa e perfil de executivo, que agrada ao eleitorado. Alexandre Padilha (PT) enfrenta desconfiança porque o eleitor o compara ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), cuja gestão é considerada muito complicada. Quanto ao tucano Geraldo Alckmin, a qualitativa mostra que a falta d’água o atingiu em cheio, somando-se à fadiga de material e ao caso Alstom.

#fail
O e-mail criado pelo governo desde que Dilma teve suas mensagens violadas pelo governo dos EUA é tão seguro que não funciona. Ou são jogados na caixa de spams, ou não chegam aos destinatários.

Troca-troca
O deputado Anthony Garotinho (PR) propôs ao deputado Vieira da Cunha (PDT-RS), que é vice-presidente do PDT, que convença seu partido a apoiá-lo ao governo do Rio. Em troca, garante o apoio do PR à sua candidatura no Sul.

Descompasso
Enquanto o governo reajusta em 4,5% o Imposto de Renda, projeto de lei que será votado terça-feira na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara estabelece correção de 10,86% (5% de correção + rendimento médio do trabalhador, segundo cálculo do Sindifisco). A proposta é apadrinhada pelo PT, que pôs o tema na pauta.

Tal pai, tal filho
Eduardo, filho do deputado Jair Bolsonaro (PP), resolveu seguir os passos do pai. Escrivão da PF, concorrerá à Câmara pelo PSC de São Paulo. Acha que tem chance pela votação estimada do pastor Feliciano e do Dr. Ray, do mesmo partido.

Indeciso
A chapa PSB-PDT ao governo do Distrito Federal será lançada dia 17. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB) como candidato ao governo e o deputado Reguffe (PDT), ao Senado ou a vice. Ele ainda não decidiu qual vaga prefere disputar.

FORA DE ÉPOCA. Deputados do PROS querem trocar o ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira. Reclamam que ele não os representa.

Morre Rodolfo Konder. O jornalista que lutou contra a ditadura

• Durante o regime militar,foi o primeiro a denunciar que Vladimir Herzog fora assassinado sob tortura. Autor premiado, publicou 21 livros; era diretor do Masp e da ABI-SP

- O Globo

A trajetória do jornalista, professor universitário e escritor Rodolfo Konder ficou marcada pela militância contra a ditadura militar iniciada em 1964, tendo sido o primeiro a denunciar que Vladimir Herzog fora assassinado pelos militares dentro da prisão.

Konder, que foi preso junto com Herzog em 1975, apontou que a causa da morte de seu companheiro não fora enforcamento, como constava na certidão de óbito, mas assassinato sob tortura. A retificação da certidão de óbito só foi feita em 2013.

Devido à perseguição durante o regime militar e por ser militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Konder teve que morar fora do país.

Com a redemocratização, participou de grupos que trabalhavam com direitos humanos e presidiu a seção brasileira da Anistia Internacional.

Na década de 90, foi secretário municipal de Cultura de São Paulo nos governos de Paulo Maluf (1993-1996) e Celso Pitta (1997-2000). Também foi membro do Conselho da Fundação Padre Anchieta, que gerencia a TV Cultura, e membro da diretoria da Bienal.

Seu primeiro emprego como jornalista foi como redator na agência de notícias Reuters,onde trabalhou durante quatro anos. Anteriormente, fez traduções para Ênio da Silveira, que por anos dirigiu a editora “Civilização Brasileira” e também pertencia ao PCB.

Além disso, trabalhou nas revistas “Realidade”, “Visão”, “Singular Plural”, “Isto é”, “Afinal”, “Nova” e colaborou na “Playboy”, “Revista Hebraica” e “Época”.

Na televisão, foi editor-chefe e apresentador do “Jornal da Cultura”, da TV Cultura.

Escreveu ainda artigos para os jornais “El Clarín”, “O Paiz”, “Folha de S. Paulo”, “Jornal da Tarde”, “O Estado de S. Paulo” e “Jornal do Brasil”.

Rodolfo Konder também é autor de 21 livros e foi conselheiro da União Brasileira de Escritores. Entre suas principais obras estão “Hóspede da Solidão”, que ganhou um prêmio Jabuti na categoria Contos e Crônicas, “A Palavra e o Sonho”, “A Memória e o Esquecimento”, “Anistia Internacional: uma Porta para o Futuro” e “Agonia e Morte de um Comunista”.

Também recebeu os prêmios Monteiro Lobato (1979), Vladimir Herzog (1982), Hebraica (1995), ECO (2002) e Borba Gato (1996).

Foi ainda professor na Faculdade de Jornalismo da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Atualmente, era diretor do Museu de Arte de São Paulo e da Associação Brasileira de Imprensa, em São Paulo.

Nascido em Natal, em 1938, o jornalista era filho de Valério Konder, que foi dirigente do PCB, e de Ione Coelho, e irmão do filósofo Leandro Konder e de Luíza Eugênia Konder. Ele morreu anteontem, aos 76 anos. Em tratamento contra um câncer, Konder estava há dois meses internado no Hospital da Beneficência Portuguesa, sendo os últimos 20 dias na UTI.

Seu corpo foi cremado no Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, na própria quinta-feira, em cerimônia restrita aos familiares. Rodolfo Konder deixa mulher e um filho.

A filosofia é para todos

Em vez da aristocracia igualitária, como prega Platão, Badiou imagina a igualdade aristocrática, em que cada um tem acesso ao que há de melhor

Diego Viana - Valor Econômico

SÃO PAULO - Durante seis anos, o filósofo, dramaturgo e romancista francês Alain Badiou se dedicou à tarefa de reescrever a "República" de Platão. A empreitada não se resumiu a traduzir o texto grego, mas a uma atualização radical de seu tema, naquilo que o próprio Badiou denomina "um experimento de química": o que ocorre quando uma obra composta há mais de dois milênios é mergulhada em outro universo? O resultado é "A República de Platão Recontada por Alain Badiou", lançado em 2012 e agora traduzido no Brasil.

Badiou tem um fascínio particular por Platão. Outro de seus projetos é a realização de um filme em Hollywood sobre a vida do pensador ateniense. Desde que começou a falar publicamente sobre essa ideia, ele já sugeriu que o elenco poderia incluir Brad Pitt, Meryl Streep e Sean Connery. "Apesar de muito difícil, a filosofia é para todos. Como o cinema é a arte de massas por excelência, parece ser o caminho para mostrar o filósofo como alguém que vive de verdade, e não um barbudo distante. E Platão teve uma vida muito interessante", diz Badiou, que afirma já ter escrito dez sequências para um possível filme, de um total de 20.

A "República" é o mais antigo dos textos filosóficos sobre política. Escrito no século IV a.C., o diálogo se inicia com a questão de saber o que é a justiça e contém algumas das passagens mais célebres do discípulo de Sócrates, como o mito da caverna, uma metáfora sobre a busca da verdade. Na nova versão, a caverna torna-se sala de cinema. A tirania é chamada de totalitarismo. A sociedade ideal construída por Sócrates e seus interlocutores aparece como comunismo. E os sofistas, que na antiga Atenas eram os mercadores de opinião com os quais Platão se digladiava, são transformados em jornalistas.

"O jornalismo também é uma forma de transmitir a ideia e a verdade", diz o filósofo. "Mas a tentação sofística é enorme na mídia, como é no mundo universitário, sem falar na política." E conclui: "A grande lição de Platão é esta: a filosofia consiste em lutar contra o sofista que está sempre à espreita em todos nós".

Nascido em Rabat, no Marrocos, em 1937, Badiou é professor na Universidade Paris 8. Sua obra filosófica está publicada em dois grandes volumes, "O Ser e o Evento" (1988) e "Lógicas dos Mundos" (2006). O terceiro volume, que completa seu sistema, ainda não tem título e está sendo redigido. O público amplo também conhece Badiou por sua militância comunista de inspiração maoísta, expressa em diversos artigos e opúsculos.

Valor: Sua versão da "República" faz pensar em Jorge Luís Borges, em particular, "Pierre Ménard, autor do Quixote".

Alain Badiou: Se não posso dizer que a empreitada foi inspirada em Borges, certamente faz pensar nele. As alegorias de Borges sobre a grande biblioteca, seu interesse pela multiplicidade das línguas, do trânsito entre elas, o modo como constrói ficções intemporais, o ar de romance policial linguístico... Um momento que considero borgesiano na "República" é quando, no meu livro, Sócrates fala de mim: "Badiou disse tal e tal". Esse é o tipo de montagem ficcional que agradava a Borges.

Valor: A cidade ideal de Platão poderia ser encarada como modelo abstrato, não fosse o fato de que ele tentou implantar suas ideias como conselheiro de Dionísio de Siracusa. Em que medida essas utopias podem ser perseguidas?

Badiou: É uma ilusão filosófica. Uma boa analogia é com o Iluminismo. Voltaire estava persuadido de que podia influenciar Frederico II da Prússia. Diderot foi dar aulas para a imperadora Catarina da Rússia. É uma tentação irônica. O filósofo lúcido, concentrado em seu pensamento, não se dá conta de que ser conselheiro privado de um déspota não é o melhor meio de fazer triunfar a filosofia. O déspota esclarecido é sempre mais déspota que esclarecido.

Valor: Mas persiste a dúvida sobre a articulação entre pensar e agir.

Badiou: Quando se trata de política, estamos em outra seara, não no conhecimento, mas na transformação efetiva das relações sociais. Essas relações são construídas materialmente: quem controla os recursos, gente muito determinada a defendê-los, inclusive com violência. É preciso se engajar numa disciplina que não é a filosofia. É ilusão pensar que podemos pôr a filosofia no lugar da política ou vice-versa. A política tem princípios seus. Platão foi um grande pensador do que a política poderia ser, mas não foi um político. Não é em Platão que vamos encontrar a solução dos problemas políticos. O personagem da política é o militante, que não é uma figura platônica.

Valor: O senhor associa a noção de comunismo à ideia de uma aristocracia alargada...

Badiou: É uma ideia presente em Platão, que serve para mais do que o político. A cultura resulta dessa dialética entre o que é comum e o que é "elevado". Trata-se de colocar aquilo que toma a forma do aristocratismo no coração do comum. Platão busca realizar algo como um comunismo no interior da aristocracia. Devemos inverter a fórmula. Em vez da aristocracia igualitária, a igualdade aristocrática. Fazer que cada um possa ter acesso ao que há de melhor na atividade humana.

Valor: O comunismo do século XX não se parece em nada com isso, mas o do século XIX muitas vezes reivindicou Platão; outras vezes, o rejeitou.

Badiou: Os comunistas do século XIX tinham uma relação complicada com Platão. O aristocratismo era algo que eles tinham de combater. Mas muitos comunistas utópicos consideraram Platão um dos primeiros comunistas. E é verdade. O que conta é a liberação da capacidade máxima da humanidade no que ela comporta de possibilidades criadoras. Num mundo estruturado pela concentração de capital, essa liberação é impraticável.

Valor: O senhor, que escreveu um livro contra [o ex-presidente francês Nicolas] Sarkozy, também falou em escrever contra o atual governo [do socialista François Hollande]...
Badiou: Nas últimas eleições [em 2012], escrevi um opúsculo cujo título era: "Sarkozy: pior que o previsto. Todos os outros: prever o pior". Hoje, na política, há uma convergência, a aceitação pura e simples de uma necessidade exterior que faz com que não tenham nenhuma "ideia", no sentido platônico. Nenhum esquema de transformação real da situação.

Valor: Falta o que aparece na sua versão da "República" como "acesso ao absoluto"...

Badiou: O absoluto não é uma ideia fixa, como se acredita. Mas se nenhuma ideia, nenhum princípio, é absoluto, então não há nem verdade, nem princípio. Em nome de tudo ser relativo, pode-se mudar de opinião constantemente. É o que se vê no corpo eleitoral, com declarações opostas, antes e depois das eleições. Como nada é absoluto, isso é normal. Enquanto não se produzir o que chamo de "sacudida dos eventos", algo que não seja redutível às maneiras de fazer da política atual, não se passará nada além dessa decadência molenga. Isso só pode ser interrompido por eventos, internos ou externos, que provocariam um tal choque subjetivo que seria necessário fazer uma completa revisão dos parâmetros. Estamos num daqueles momentos em que as coisas não dependem da decisão dos atores.

Valor: Os movimentos de contestação que surgiram desde 2008 não chegaram a nada?

Badiou: Foram mais sintomas da crise que propostas de transformação. Produziram proposições pouco radicais e foram incapazes de formular alternativas globais. Foram insuficientemente comunistas, no sentido etimológico: não radicalizaram o fato de que se trata de retomar, em condições novas, a luta contra o sistema dominante. Os jovens sentem que o mundo como está não convém. Mas entre isso e a construção de uma política capaz de afrontar os inimigos temíveis que comandam o sistema, e que seja capaz de fixar etapas, encontrando formas de organização duráveis, há um abismo. Estamos no começo de uma longa marcha histórica que pode ser marcada por episódios terríveis. A questão que pouco a pouco se constitui é a da guerra, isto é, saber até quando a globalização vai se desenvolver sem que suas contradições estourem. O que vai sair disso tudo, não sei, mas afirmo que a única alternativa seria aquele comunismo aristocratizado.

Valor: O que cresce hoje é o oposto: uma extrema-direita anti-intelectual.

Badiou: O fascismo é a ponta extrema da consciência de crise do capitalismo. A aparição de grupos nacionalistas fascistizantes é parte do panorama. A fraqueza extrema do pensamento revolucionário é notável. Está sensivelmente mais fraco que nos anos 1930, quando já era limitado. Estamos numa conjuntura precária, um período intervalar. A antiga concepção revolucionária esgotou suas virtudes e a nova mal começou a nascer. Como sempre, as ideias novas estão atrasadas em relação ao conservadorismo.

Valor: Como o senhor chegou à ideia de que deveria trabalhar o texto dessa maneira?

Badiou: É um texto que conheço como se conhece um amigo. Fiz diversos cursos sobre ele e me dei conta, há uns dez anos, de que devia fazer algo diferente: mergulhá-lo na experiência contemporânea, no meu próprio universo, e ver o que dá. Foi como um experimento de química. Mergulhar um corpo em outro meio e ver o que dá.

Valor: O senhor imagina que esse tipo de iniciativa possa se tornar um gênero filosófico?

Badiou: Percebi que esforços parecidos foram feitos com outros textos da Antiguidade. Não fui o único, a não ser para textos completamente filosóficos. Houve uma nova tradução das "Confissões" de Agostinho [por Frédéric Boyer], e também das "Metamorfoses", de Ovídio. Talvez a primeira tentativa tenha sido a de [Pierre] Klossowski, que buscou traduzir de maneira completamente nova a "Eneida" de Virgílio. Há uma pequena corrente, como uma nova maneira de visitar textos antigos, aproximando-os da língua viva. É uma aventura que indica algo, a busca de uma nova relação com os textos antigos.

Valor: No seu caso, redescobre-se a perenidade da questão da justiça, ponto de partida da República de Platão.

Badiou: Platão foi o primeiro a escrever um grande texto sobre a justiça, um texto que foi meditado por séculos. Ele o fez nas condições da civilização grega. É um texto escrito em grande medida no espetáculo da decadência da cidade-Estado grega. Mas também nos permite ler a decadência da nossa própria sociedade. Com ajustes, pode-se fazer viver o pensamento de Platão. O que marca a filosofia é que as questões não mudam ao longo dos milênios. Tentar fazer uma sociedade justa é uma questão que continua contemporânea. O problema é explicitar a questão e seu valor eterno, além das circunstâncias particulares. Empreitadas como a minha buscam preservar o caráter indispensável da reflexão filosófica sobre a justiça. Poderíamos dizer que é fazer justiça à justiça tratá-la assim, em vez de como um monumento que visitamos de vez em quando.

Valor: Alfred North Whitehead afirmou que toda a filosofia consiste em notas de rodapé a Platão. O senhor concorda?

Badiou: Talvez não dissesse isso de toda a filosofia, mas a ideia de que ela foi escrita à margem de Platão me parece verdadeira. Mesmo aqueles que se creem inimigos mortais de Platão esquecem que o próprio Platão pôs em cena seus maiores críticos. Hoje, conhecemos os principais sofistas a partir dos retratos extraordinários que Platão faz. Platão é o ancestral de seu próprio pensamento racionalista, claro, mas foi também o principal encenador das filosofias adversárias: os céticos, sofistas, niilistas. Foi o primeiro a pôr em cena pensadores tirânicos, que chamaríamos hoje totalitários. Quando lemos textos de Platão, às vezes não sabemos quem está falando. Em muitos diálogos, quem defende expressamente o pensamento de Platão não é mais Sócrates. Podemos dizer que os elementos borgesianos já estão em Platão.

Valor: A figura histórica de Platão foi posta em categorias rígidas: o antidemocrático, o inimigo das artes, o racionalista.

Badiou: Escrevi o livro pensando na história contemporânea do platonismo. Platão foi o inimigo de quase todas as correntes filosóficas do século XX. Quem começou essa tradição foi Nietzsche, ao dizer que a Europa padecia da "doença Platão". Correntes opostas, como a filosofia racionalista analítica, que domina as universidades americanas, e a filosofia oficial do marxismo-leninismo soviético, estavam de acordo em um ponto apenas: ser contra Platão. A definição oficial soviética de Platão era: ideólogo dos proprietários de escravos. Os existencialistas viam em Platão o inimigo particular, porque era o teórico da essência. O juízo sobre ele, nessas escolas, é parcial, fragmentário e muitas vezes indefensável. Mas, logo no começo da história da filosofia, Platão põe em ação uma enorme gama de possibilidades. Todos que tentaram reduzir Platão a um sistema falharam. Pode-se sempre encontrar um diálogo que contradiz outro. É um pensamento em movimento.

"A República de Platão Recontada por Alain Badiou"
Tradução: André Telles. Zahar. 384 págs., R$ 59,90