sexta-feira, 21 de março de 2014

Opinião do dia: Eduardo Campos

"Do jeito que as coisas vão, vai piorar para o povo brasileiro, e a gente precisa evitar isso. A forma de evitar é a gente mostrar que há uma nova opção para o Brasil seguir mudando."

Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Petrolândia (PE). Diário de Pernambuco, 21 de março de 2014.

Ex-presidente da Petrobras contradiz Dilma sobre compra de refinaria nos EUA

José Sérgio Gabrielli defendeu a operação, em entrevista ao 'Jornal Nacional', e disse que cláusula que obrigou estatal a adquirir o restante participação da belga Astra na unidade é comum no mercado

Para ele, valor da companhia não foi afetado pelo prejuízo na negociação

O Globo

RIO - Em entrevista ao Jornal Nacional, na noite desta quinta-feira, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, justificou o investimento da Petrobras na refinaria de Pasadena, nos EUA, negou que os valores pagos à holandesa Astra significassem prejuízos de quase US$ 1,2 bilhão para a estatal e que o uso da cláusula de put option Gabrielli – que permite o direito de um sócio comprar a parte do outro em caso de desacordo – é algo comum no mercado e não foi uma exclusividade da operação.

Na íntegra da entrevista, disponibilizada na internet, Gabrielli, disse que a Petrobras buscava oportunidades de investimento em refino em território americano desde 1999, uma vez que o mercado brasileiro não mostrava sinais de crescimento à época. Gabrielli garantiu que o valor pago, inicialmente, de US$ 360 milhões por 50% das ações da refinaria, foi uma boa oportunidade.
Segundo ele, desse valor, US$ 190 milhões correspondiam aos 50% de participação e os US$ 170 milhões restantes, a estoques na refinaria que seriam processados no futuro. O ex-presidente disse ainda que — A cláusula de put option é uma prática corriqueira em todas as aquisições no mercado e é realizada frequentemente por bancos de investimento. A compra da refinaria deve ser vista pelo cenário de 2005 e 2006, quando o mercado nos EUA era favorável as aquisições.

Segundo ele, com a eclosão da crise global, em 2007 e 2008, o mercado brasileiro dava sinais de reversão, as taxas de juros internacionais ficaram em patamares extremamente elevados e houve uma mudança no mercado de fornecimento de petróleo leve, fatores que, segundo ele, não podiam ser previstos em 2005.

— O negócio provocou impacto no caixa da Petrobras, mas não a ponto de afetar o valor que a Petrobras tem.

Além disso, ele lembrou que, fora as paradas necessárias para manutenção de segurança, a refinaria em Pasadena sempre esteve operacional, continua lucrativa e faz parte do patrimônio da empresa.

— Desde o início, houve uma série de diferenças de gestão (com os sócios da Astra). Em primeiro lugar, pela própria visão divergente entre as empresas, uma vez que a Astra tem um enfoque de comercializadora, ao contrário da Petrobras — admitiu ele.

Também houve divergências quanto ao planejamento de ações de segurança e meio ambiente e garantia na divisão de novos investimentos. Gabrielli lembrou que em 2007 e 2008, por não chegar a consenso sobre essas diferenças, a Petrobras iniciou um processo de arbitragem, período no qual nada foi pago pela refinaria.

Por diversas vezes, no entanto, Gabrielli se recusou a responder a perguntas. Quando indagado sobre se os conselheiros e o Conselho de Administração tiveram acesso a todos os detalhes do contrato, sobre se houve algum integrante que se opôs ao fechamento do negócio, sobre quem teria indicado Néstor Cerveró para a Diretoria Internacional e os motivos que o levaram, após deixar a empresa, a ocupar cargo importante na BR Distribuidora, Gabrielli foi enfático nas respostas:

— Não vou comentar decisões internas da Petrobras.

Conselho da Petrobrás se reúne nesta sexta sob pressão

Integrantes de colegiado da Petrobrás discutem a compra da polêmica refinaria de Pasadena em 2006, com apoio da presidente Dilma

Mariana Sallowicz, Mariana Durão e Mônica Ciarelli - O Estado de S. Paulo

RIO - O Conselho de Administração da Petrobrás se reúne nesta sexta-feira, 20, sob a expectativa de que sejam cobradas explicações sobre a compra da refinaria de Pasadena (EUA), com aval em 2006 da presidente Dilma Rousseff, conforme revelado pelo Estado. Os conselheiros também devem tratar das investigações sobre suposto pagamento de propina a funcionários da empresa pela holandesa SBM Offshore.

Em relação ao caso de Pasadena, ex-executivos ouvidos pela reportagem afirmam que Dilma, que presidia à época o Conselho de Administração, poderia ter solicitado a documentação completa da refinaria, antes de votar pela aprovação da compra. "Se não tem como avaliar tudo, poderia ter montado uma equipe para examinar o material", diz um dos especialistas.

A advogada e ex-diretora da CVM Norma Parente diz que é preciso analisar as circunstâncias do caso concreto, antes de concluir se a presidente do conselho da estatal agiu sem diligência. Se for possível detectar a falha nas informações prestadas, a obrigação do conselheiro é pedir mais informações à diretoria.

Caso contrário, a responsabilidade poderia recair sobre os executivos que repassaram os dados ao conselho, como o laudo de avaliação do ativo. "É preciso analisar se o administrador tomou cuidados, estudou o assunto, procurou um perito para esclarecer questões técnicas, se cercou de um time competente para dar base a sua decisão."

A Lei das Sociedades Anônimas prevê que o administrador pode ser responsabilizado pelos prejuízos que causar (mais informações nesta página).

Atualmente, o Conselho de Administração da Petrobrás é presidido pelo ministro da Fazenda Guido Mantega e composto por Maria das Graças Foster (presidente da empresa), Luciano Coutinho (presidente do BNDES), Francisco de Albuquerque (ex-comandante do Exército entre 2003 e 2007), Márcio Zimmermann (secretário executivo do Ministério de Minas e Energia), Sérgio Quintella (vice-presidente da FGV), Miriam Belchior (ministra do Planejamento), Jorge Gerdau Johannpeter (empresário), Mauro Gentile da Cunha (presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais) e José Maria Ferreira Rangel (coordenador do Sindipetro). Johannpeter pertencia ao conselho em 2006.

Transparência. O caso de Pasadena também levanta uma discussão em torno do nível de transparência das decisões tomadas nos Conselhos de Administração. No dia 17, o conselheiro da Petrobrás Mauro Rodrigues da Cunha abriu uma reclamação contra a estatal na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O representante de acionistas minoritários pedia que a empresa divulgasse os votos da reunião que aprovou as demonstrações financeiras de 2013. Queria tornar pública sua reprovação às contas.

A reclamação entrou no site da CVM às 17h10 de segunda-feira. Pouco mais de uma hora depois, às 18h32, a Petrobrás divulgou a posição de Cunha aos acionistas, algo inédito. Os demais votos, entretanto, permaneceram em segredo. Procurado o conselheiro não se manifestou.

O questionamento de Cunha, entretanto, pode se estender a todas as decisões relevantes de um conselho. Hoje nem todas as atas de reuniões de companhias abertas são publicadas no site da CVM, mas as informações devem estar registradas no livro da companhia.

Gabrielli e Foster põem em xeque versão de Dilma sobre cláusulas

No comando da Petrobrás quando refinaria de Pasadena foi comprada, ele diz que condições que presidente dizia desconhecer ‘são normais em contratos’

Tiago Décimo e Andreza Matais - O Estado de S. Paulo

SALVADOR e BRASÍLIA - Presidente da Petrobrás de 2005 a 2012, período da compra da polêmica refinaria de Pasadena, nos EUA, Sérgio Gabrielli afirmou nesta quinta-feira, 20, que as cláusulas que obrigaram a estatal brasileira a ficar com toda a planta são "normais em negociações de grandes empresas".

A declaração ocorre dois dias após o Estado revelar que a hoje presidente da República, Dilma Rousseff, apoiou o negócio bilionário em 2006, quando era chefe da Casa Civil do governo Lula e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás. Dilma disse, em nota, que só deu seu apoio porque não tinha conhecimento das cláusulas.

O "resumo técnico" que embasou a decisão, disse a presidente, não explicitava que, em caso de desentendimento com a sócia belga Astra Oil, uma das partes teria de ficar os 50% da outra.

O desentendimento surgiu e a Petrobrás, que havia pago US$ 360 milhões em 2006 por metade da refinaria, desembolsou mais US$ 820 milhões em 2012 para ficar com toda a planta, num negócio que superou US$ 1 bilhão. O pagamento ocorreu após um longo litígio com os belgas.

"Quando você compra uma participação em uma empresa, é normal que você preveja a possibilidade de venda dela", disse Gabrielli, num discurso que sugere uma contestação à fala da presidente, de que não tinha conhecimento das cláusulas. Diretores da Petrobrás afirmaram reservadamente ontem que, como presidente do conselho, Dilma teria como saber de todas as cláusulas do contrato.

Gabrielli, porém, não quis revelar se as cláusulas foram debatidas pelo conselho. "As discussões internas são privadas e eu me reservo o direito de preservar a confidencialidade delas", disse o ex-presidente da estatal, que hoje integra o primeiro escalão do governo Jaques Wagner (PT) na Bahia.

Intenso. Em audiência na Câmara dos Deputados em maio do ano passado, a atual presidente da Petrobrás, Graça Foster, foi questionada sobre as discussões que antecederam a decisão do Conselho de Administração pela compra da refinaria americana. Ela disse que as discussões do conselho sempre são muito "intensas" e chegam a durar "semanas". "Treinamos bastante para irmos ao conselho", disse à Comissão de Minas e Energia.

O deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), líder do PSDB na Câmara, teve de insistir três vezes para que ela respondesse "se houve alguma manifestação de membro do Conselho de Administração, seja criticando ou desaprovando essa negociação". "Eu participei, talvez nos últimos 15 anos, eventualmente, de algumas reuniões do conselho como assistente, dando apoio ao meu chefe que lá estava, em algumas situações, e a discussão do conselho é intensa. Nós temos ali o controlador, os minoritários e a Petrobrás, que quer crescer. Há uma discussão muito forte. É sempre intenso. A preparação para uma reunião do Conselho de Administração é algo que toma semanas de discussão. Treinamos bastante para irmos ao Conselho", respondeu.

As declarações da atual presidente da Petrobrás também põem em xeque a justificativa de Dilma para aprovar a compra da refinaria - desconhecimento de cláusulas do contrato.

Na audiência, Graça Foster defendeu a compra da refinaria no contexto da política da empresa em 2006, mas afirmou que, se fosse hoje, ela não seria favorável.

Ex-diretor. Na ocasião, ela também defendeu o ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró, atual diretor financeiro da BR Distribuidora, acusado por Dilma de ter elaborado o resumo técnico "falho" sobre Pasadena. Cerveró foi indicado para o cargo com o apoio do ex-ministro José Dirceu, hoje cumprindo pena na prisão por causa do escândalo do mensalão, e do senador Delcidio Amaral (PT), hoje pré-candidato ao governo do Mato Grosso do Sul. O ex-diretor da Petrobrás está em férias e viajou nesta semana passa a Europa.

FHC é contra abertura de CPI da Petrobrás

Enquanto lideranças do PSDB no Congresso já se articulam para instalar comissão, ex-presidente argumenta que momento eleitoral pode 'partidarizar' investigação sobre estatal

Luciana Nunes Leal – O Estado de S. Paulo

RIO - O ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso disse nesta quinta-feira, 20, não ser favorável à abertura da CPI da Petrobrás agora, mas avalia que o desdobramento do caso depende do empenho do governo em investigar as denúncias de irregularidades na estatal. Para FHC, a proximidade das eleições presidenciais pode 'partidarizar' a apuração.

No Congresso, entretanto, a liderança do PSDB já participa da articulação que cobra abertura de comissão. "Acho que o momento eleitoral não é o mais propício. Não sou favorável a partidarizar. Mas se o governo não apurar direitinho, abre espaço [para CPI]", declarou o ex-presidente, após ministrar palestra para novos alunos da universidade Estácio.

Durante o evento, o ex-presidente disse que a Petrobrás "deu marcha à ré" durante o governo de seu sucessor, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, quando, segundo ele, houve uma retomada da influência dos partidos na empresa. "Nós transformamos a Petrobrás em uma corporation, uma empresa, não uma repartição pública. Para isso, tem que tirar a influência dos partidos. No governo anterior ao atual, deu marcha à ré e o resultado está aí, com escândalo nos jornais", afirmou ao responder à pergunta de um estudante.

Em entrevista ao Estado após a palestra, Fernando Henrique cobrou do governo investigação sobre a compra da refinaria em Pasadena. "Já se sabia do caso, a novidade é que a própria presidente reconheceu que está errado. Então ela tem que agir em consequência. É estranho (a aprovação pelo Conselho com base em um relatório). Pelo que vi, o valor (atual da refinaria) é muito aquém do que foi pago, é muito escandaloso. Não quero culpar ninguém, não é só ela (Dilma), o conselho é formado por muita gente, gente de peso. Mas quando se erra se paga a consequência", afirmou.

Fernando Henrique fez questão de lembrar que a compra da refinaria aconteceu na gestão anterior à da presidente atual da Petrobrás, Graça Foster. "Com essa presidência a Petrobrás voltou um pouco ao que é necessário, a ter uma visão mais profissional", disse.

O negócio de Pasadena, formalizado em 2006, é investigado pela Polícia Federal, Ministério Público e Tribunal de Contas da União (TCU). Ambos suspeitam que tenha havido superfaturamento e evasão de divisas. A compra custou R$ 1,18 bilhão à estatal e, anos antes, foi adquirida por uma empresa belga por US$ 42,5 milhões.

Conforme revelou o Estado, a presidente Dilma Rousseff justificou em nota oficial que "documentos falhos" a induziram ao erro ao dar aval à aquisição da unidade. Na época, Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobrás. Dirigentes da Petrobrás rebateram a afirmação e sustentam que Dilma tinha acesso a todos os documentos produzidos sobre a compra.

Aécio convoca 'blocão' a apoiar criação da CPI da Petrobrás

Senador mineiro e pré-candidato do PSDB à Presidência quer arregimentar votos para aprovar o pedido de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que ele apresentará na próxima terça

Nivaldo Souza - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (PSDB-MG) fez, há pouco, uma convocação para que membros do chamado 'blocão', grupo informal de parlamentares descontentes com a articulação política do Planalto, apoiem o pedido de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que ele apresentará na próxima terça-feira (25) para investigar a compra irregular de uma petrolífera em Pasadena, nos EUA, com aval da presidente.

"Aqueles da base do governo que dizem que querem investigar essa questão, e já nos ajudaram a aprovar a comissão externa envolvendo outras denúncias na Petrobrás, no pagamento de propina por parte de uma empresa holandesa, esperamos que possam nos ajudar para que essa questão seja esclarecida", afirmou, após reunião com representante da Juventude do PSDB.

O Estado revelou nesta quarta-feira, 19, que a presidente Dilma Rousseff justificou em nota oficial que só aprovou a compra de 50% da refinaria americana em 2006, quando era chefe da Casa Civil do governo Lula e comandava o conselho da Petrobrás, porque recebeu "informações incompletas" e uma "documentação falha". Se tivesse todos os dados, disse a petista na nota, "seguramente" a compra da refinaria não seria aprovada.

O negócio de Pasadena, que custou à época US$ 360 milhões (cerca de R$ 840 milhões em valores atuais), é investigado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, pelo Tribunal de Contas da União.

Aécio não acusou diretamente Dilma de irregularidade, mas cobrou explicações. "Eu não acuso a presidente de improbidade. Ela é uma pessoa de bem. Eu acredito na honestidade da presidente", disse, ressaltando que a CPI seria uma maneira para que "a própria presidente possa explicar as razões de ter tomado essa decisão (a compra da empresa americana) e por que omitiu dos brasileiros nos últimos seis anos essas razões".

Segundo o pré-candidato tucano à Presidência, Dilma teria conhecimento técnico para avaliar aquisição à época, quando presidia o conselho da Petrobrás. "O Brasil precisa que se esclareça quais foram as razões pelas quais a presidente da República, especialista na área de minas e energia, tomou uma decisão danosa para as finanças da Petrobrás e do próprio País", afirmou.

Dilma tinha acesso a detalhes da compra de refinaria

A oposição à presidente no Congresso tenta também aprovar uma CPI sobre o caso

Da AE – Jornal do Commercio (PE)

Dirigentes da Petrobrás afirmam que, como presidente do Conselho de Administração da estatal, Dilma Rousseff tinha acesso a todos os documentos produzidos sobre a refinaria de Pasadena, incluindo pareceres jurídicos, antes de dar seu voto pela aprovação da polêmica compra da planta no Texas, EUA.

Conforme revelou ontem o Estado, a presidente da República justificou em nota oficial que só aprovou a compra de 50% da refinaria americana em 2006, quando era chefe da Casa Civil do governo Lula e comandava o conselho, porque recebeu “informações incompletas” e uma “documentação falha”. Se tivesse todos os dados, disse a petista na nota, “seguramente” a compra da refinaria não seria aprovada.

O negócio de Pasadena é investigado pela Polícia Federal, Ministério Público, Tribunal de Contas da União e uma comissão externa da Câmara por suspeita de superfaturamento e evasão de divisas. A oposição a Dilma no Congresso tenta também aprovar uma CPI sobre o caso.

Dilma afirmou nessa nota que, se soubesse de cláusulas como a que obrigava a Petrobrás a comprar o restante da refinaria em caso de desentendimento com sua sócia, não teria chancelado o negócio, que custou R$ 1,18 bilhão aos cofres da estatal.

Cláusulas como a Put Option, que obriga uma das partes a comprar as ações da outra em caso de desacordo, são consideradas praxe na rotina jurídica da Petrobrás, segundo dois diretores ouvidos ontem, nos bastidores, pela reportagem. Num contrato celebrado pela Petrobrás com uma sócia na Argentina em 2003, por exemplo, a cláusula estava presente.

Um terceiro diretor, hoje político, também sustenta a disponibilidade de informações a quem está no conselho. “Acho pouco provável que algum processo chegue ao conselho (de administração da Petrobrás) sem estar devidamente instruído para liberação dos diretores e conselheiros”, afirmou o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que comandou a área de Gás e Energia da Petrobrás e é apontado como um dos padrinhos de Nestor Cerveró na estatal.

Cerveró comandava a Área Internacional da Petrobrás em 2006 e foi responsável pelo “resumo técnico” enviado ao conselho naquele ano para que a compra da refinaria de Pasadena fosse aprovada ou não.A estatal não se pronunciou oficialmente ontem. A presidente da companhia petrolífera, Graça Foster, era esperada em evento em São Paulo, mas cancelou sua participação na última hora.

Advogados afirmaram que a cláusula de Put Option é comum em negócios envolvendo grandes aquisições, mas que não é aceitável que essa informação seja omitida do conselho de administração. “O que não me parece admissível é a Petrobrás, com toda a estrutura de controle que tem, ter omitido do Conselho de Administração informações tão importantes, que poderiam ter sido decisivas para o prosseguimento ou não do negócio”, disse o advogado especialista em Direito Empresarial Fernando Tibúrcio Peña. Nesse sentido, caberia responsabilização de quem omitiu a informação.

Conforme a ata 1.268 da reunião do conselho que tratou da compra dos primeiros 50% de Pasadena, por “solicitação” do então presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, o diretor internacional da empresa na época, Cerveró, participou da reunião do conselho, quando fez um relato sobre o negócio. Antes do colegiado, a diretoria executiva da empresa estatal já havia aprovado a compra, mas decidiu submetê-la à avaliação do conselho.

OUTRA CLÁUSULA - Na nota em que justificou o apoio à compra de 50% da refinaria, Dilma também disse que não tinha conhecimento de uma segunda cláusula. Chamada Marlim, garantia à sócia da Petrobrás, a belga Astra Oil, um lucro de 6,9% ao ano mesmo que as condições de mercado fossem adversas. Aqui, segundo os diretores ouvidos reservadamente pelo Estado, havia uma discrepância. O índice mais usado em negócios assim é de 5% para baixo sobre o capital investido.

As fontes da Petrobrás informaram, ainda, que o conselho poderia solicitar uma auditoria no contrato antes da compra, a qualquer tempo, caso houvesse dúvidas sobre o processo, o que não ocorreu com Pasadena. A Petrobrás só começou a agir contra o acordo em 2008, dois anos após a aprovação do negócio. Segundo a nota de Dilma, foi nesse ano que o conselho tomou conhecimento das cláusulas em questão.

‘Se quisermos avançar como nação, temos que escutar mais’, diz FH

Ex-presidente participa de aula inaugural em universidade no Rio de Janeiro

Paula Ferreira – O Globo

RIO - “Se quisermos avançar como nação, temos que escutar mais”. A frase foi dita nesta quinta-feira pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante uma aula inaugural na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. De acordo com FH, o Brasil passa por um momento de desconfiança regional e global no que diz respeito à política e à economia, e o fato está relacionado com a postura intransigente do governo federal.

— A sociedade atual não é uma sociedade que se vence com autoridade e sim com convencimento, com discussão. Aqui no Brasil, em um determinado momento, achamos que poderíamos resolver tudo por nós mesmos. E não é verdade, precisamos estar interconectados com os países do mundo — provocou.

FH defendeu que sejam feitas audiências públicas para consultar a população a respeito dos projetos do governo e criticou o costume de dividir a sociedade entre "bons e maus."

— A sociedade é mais complexa que isso. O que não pode haver é a resposta hierárquica: "eu sei e é isso"— argumentou.

Durante a palestra, o ex-presidente brincou que se o slogan de Obama foi "Yes, we can", o ideal para o cenário nacional deveria ser "Yes, we care", fazendo alusão ao fato de os brasileiros estarem carentes de cuidados.

— A população está necessitada de atenção, de carinho — afirmou.

Para o ex-presidente, o gargalo do país no momento é saber administrar os recursos que tem e reposicionar sua atuação. Fernando Henrique argumentou ainda que é necessária uma mudança de parâmetros:

— Quando vamos passar de quantidade para qualidade? O mais fácil é distribuir para todos. Nosso desafio não é a carência, é a desorganização (de recursos).

FH também ressaltou a dificuldade enfrentada pela economia no momento atual e destacou a importância de fomentar o crescimento da produtividade no país. Mas, de acordo com ele, o Brasil precisa ter cuidado com as manobras econômicas para não gerar um caos urbano. Usou como exemplo a crise de 2008 e a política de crédito adotada pelo país na época, na opinião dele uma estratégia acertada, que gerou um boom de veículos nas ruas e fez um mea culpa sobre os problemas urbanos do país:

— Não estou culpando tal ou tal governo. Nós somos todos responsáveis.

Além disso, o ex-presidente criticou o sistema político do país, fazendo referência à força dos partidos políticos em determinar as diretrizes do Executivo:

— É necessário diminuir a interferência dos partidos e aumentar a interferência da população.
FH comentou ainda sobre conflitos no exterior, como o caso da Criméia, e defendeu a descriminalização das drogas.

Fonte: O Globo

Presidente agiu por impulso e ‘deu tiro no pé’, afirma Lula.

Na avaliação de aliados do petista, Dilma abriu flanco à oposição ao passar imagem de ‘desleixo administrativo’

Apesar das crítica feitas nos bastidores, publicamente o PT vai tentar tirar presidente do centro da polêmica

Lula vai se reunir com deputados do PT para conter insatisfação da própria bancada

Deputados reclamam de contradição entre estratégia eleitoral e atuação do Palácio do Planalto

Encontro está previsto para depois da votação do Marco Civil da Internet

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - Diante da crise com o PMDB, do crescente descontentamento da bancada do PT na Câmara com a articulação política do governo e da preocupação com o impacto desses percalços na campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula fará uma reunião com deputados federais do partido para tentar acertar os ponteiros. Há críticas também quanto à negociação dos palanques regionais feita pelo presidente do partido, Rui Falcão.

Deputados do campo majoritário do PT reclamam que as ações do Palácio do Planalto e da direção do partido em relação ao PMDB não correspondem à estratégia traçada para as eleições de outubro, que tem como prioridade reeleger a presidente Dilma.

— Em 2002, 2006 e 2010 tínhamos uma estratégia muito clara das campanhas presidenciais. Em 2002 fizemos uma aliança com o centro, com o vice José Alencar; em 2010 era muito clara a prioridade da aliança com o PMDB. Agora, a tese aprovada no congresso do partido e pelo Diretório Nacional, com 80% dos votos, coloca o PMDB como aliança estratégica, mas o pessoal está meio perdido, porque as ações do governo e da direção do partido vão no sentido contrário. Há uma certa contradição — afirmou um deputado da Construindo um Novo Brasil (CNB), maior corrente do PT.

A princípio, a reunião com Lula estava prevista para a próxima segunda-feira, na sede do PT, em Brasília, mas o encontro foi adiado para depois de viagem do ex-presidente à Espanha, para onde vai na próxima quarta-feira. Além de problemas de agenda de Lula e dos deputados, que já tinham compromissos agendados nos estados e não costuma ficar em Brasília às segundas-feiras, o partido achou conveniente fazer a conversa após a votação do Marco Civil da Internet, prevista para a próxima semana.

O presidente do PT se reuniu na tarde de anteontem com o líder do partido na Câmara, deputado Vicentinho (SP), para discutir a panela de pressão que se tornou a bancada. Ele também tinha uma reunião marcada na noite de anteontem com deputados insatisfeitos, mas o encontro foi adiado e deve ser feito em conjunto com Lula.

Integrantes da corrente majoritária do PT consideram um erro, por exemplo, o lançamento da candidatura do senador Lindbergh Farias (RJ) ao governo do Rio de Janeiro contra o PMDB. A avaliação, no entanto, é que agora a situação está cristalizada e não há como voltar atrás.

— O Lindbergh vendeu para o Lula que, como o Pezão (vice-governador Luiz Fernando Pezão) estava lá embaixo nas pesquisas, ele ia reunir os partidos em uma ampla coligação. E agora cadê? Ele está sozinho. Sem contar que ele (Lindbergh) ameaçou ir para o PSB e dar palanque para o Eduardo Campos, mas não interessa, o Rui (Falcão) tinha que ter segurado. O partido não podia ter estimulado a candidatura — afirmou um membro da CNB.

Vice-presidente do PT, Alberto Cantalice, defendeu ontem o lançamento de Lindbergh e reclamou do vazamento das críticas, afirmando que isso enfraquece a pré-candidatura petista no Rio.

Na reunião do diretório nacional do PT, ontem, Falcão defendeu, de acordo com presentes, a atuação do governo na crise com o PMDB; disse que os peemedebistas não vão romper a aliança nacional, atribuindo a rebelião a um grupo que nunca teria sido fiel ao governo; e afirmou que os peemedebistas reclamam, mas, por ora, só apoiarão o PT no Distrito Federal, nas eleições de outubro.

Um dos críticos da estratégia do Palácio do Planalto de tentar isolar o líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), o deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente do PT, defendeu na reunião do diretório, de acordo com participantes, que a aliança com o PMDB tem que ser mais programática, e não só eleitoral.

O Palácio do Planalto e dirigentes do PT, no entanto, têm minimizado a crise com o PMDB e a ameaça dos peemedebistas de não fazer campanha para Dilma nos estados, dizendo que o que importa é o tempo de TV no horário eleitoral gratuito. Eles confiam que o vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer, vai domar o partido e garantir a aprovação da aliança na convenção nacional.

Apesar de a relação com o PMDB ter tomado boa parte da reunião do diretório, o partido resolveu não fazer nenhuma referência ao aliado no texto de resolução política aprovado no encontro "para não dar mais pano para manga".

Eduardo: com Dilma, tendência é de piora no Brasil

No interior, governador diz que presidente não conseguiu melhorar situação econômica do País

Do JC Online

Mantendo a estratégia de atacar a gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), o governador-presidenciável Eduardo Campos (PSB) voltou a assumir o discurso de oposição à gestão petista. A cada agenda pública, o socialista intensifica as críticas ao governo federal e ao PT. Na quinta (20), durante uma maratona de inaugurações no Sertão pernambucano, Eduardo afirmou à imprensa local que Dilma é responsável por pioras no cenário econômico brasileiro. “Dilma foi eleita para melhorar o Brasil e não conseguiu melhorar. As coisas pioraram e o povo quer mudança”, disparou.

O socialista ainda destacou que se a petista continuar no cargo, há uma tendência de piora para o povo brasileiro.

Nos últimos dias, Eduardo não tem poupado críticas ao PT. O socialista quer se colocar como a verdadeira oposição à gestão petista, apostando no argumento de que a população quer “novidades” na política.

Na sua passagem por Serra Talhada, que é governada pelo prefeito Luciano Duque (PT), Eduardo Campos lembrou que esteve ao lado do PT em momentos difíceis da legenda.

“Apoiamos Lula nas campanhas para perder, que dava para ganhar e perdemos. Ajudamos ele nos momentos mais difíceis do governo, e eu cheguei ao governo disputando a eleição contra o PT. Eu não cheguei ao governo com o PT me apoiando no primeiro turno de 2006. Em 2006, o PT teve candidato, Lula foi para televisão pedir votos para esse candidato e esse candidato não chegou ao segundo turno”, lembrou o governador.

Eduardo Campos nega que Lula o tenha comparado a Collor

Aline Moura - Diário de Pernambuco

PETROLÂNDIA - Em viagem pelo interior, onde cumpre maratona ao lado do pré-candidato a governador, Paulo Câmara, Eduardo Campos voltou a fazer críticas hoje (20) à presidente Dilma Rousseff, poupando novamente o ex-presidente Lula. "Do jeito que as coisas vão, vai piorar para o povo brasileiro, e a gente precisa evitar isso. A forma de evitar é a gente mostrar que há uma nova opção para o Brasil seguir mudando", afirmou o presidenciável, em entrevista ao blog de Assis Ramalho, nesta cidade do Sertão do estado.

Eduardo negou que o ex-presidente Lula o tenha comparado ao ex-presidente Fernando Collor, que governou o país de 1990 a 1992 antes de sofrer o impeachment.
"O presidente Lula não fez isso. Hoje está desmentido na imprensa nacional. Hoje saiu a frase correta. O presidente Lula disse, abre aspas: 'Eduardo é um dos nossos. Ele é é um dos nossos. Ele é nosso amigo e nós precisamos respeitá-lo', fecha aspas", declarou o governador.

Campos se referiu a um discurso de Lula para empresários no Paraná. Na ocasião, ele defendeu a continuidade do governo Dilma e disse estar preocupado com a interrupção dos programas em curso, por conta do discurso de um "desconhecido". "A minha grande preocupação é repetir o que aconteceu em 1989: que venha um desconhecido, que se apresente muito bem, jovem e nós vimos o que deu", disse Lula naquela oportunidade, o que foi entendido como uma indireta ao governador Eduardo Campos, um dos mais jovens entre os concorrentes ao Planalto. Eduardo tem 48 anos e o senador Aécio Neves tem 54. O candidato do PSOL, Randolf Rodrigues, contudo, é o mais jovem, com 41 anos. Mas sua pré-campanha não vem preocupando o staff de Lula como a de Eduardo.

Sob Dilma as ‘coisas vão piorar’, diz Campos em reportagem da Folha de S. Paulo. Leia a matéria completa aqui.

Nota de Dilma sobre Pasadena causa mal-estar na Petrobras

Dirigentes e funcionários da estatal ameaçam se colocar contra presidente abertamente

Danilo Fariello – O Globo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff despertou a ira de funcionários e dirigentes da Petrobras com a nota que divulgou na terça-feira, indicando que houve “documentação falha” e “informações incompletas” na tomada de decisão sobre a aquisição da refinaria de Pasadena, nos EUA.

Depois de avaliar que Dilma colocou em xeque o sistema de avaliação de negócios e de governança corporativa da companhia, profissionais da estatal ameaçam se colocar contra a presidente abertamente. O episódio acentuou as críticas do setor energético em relação a políticas adotadas pela presidente.

— A presidente está em uma saia justíssima, porque colocou a empresa contra ela — disse um ex-dirigente da companhia sob condição de anonimato.

Segundo essas avaliações, a declaração da presidente colocou na berlinda não só a gestão de José Sergio Gabrielli na companhia, como a das atual presidente, Maria das Graças Foster, que foi ao Senado no ano passado defender o negócio.

A divulgação de que a tomada de decisão teria sido baseada em uma informação incompleta, sem revelar quando essa descoberta teria ocorrido, coloca em dúvida o conhecimento dos presidentes sobre as operações da Petrobras ou até mesmo sua transparência perante o Congresso, avaliou uma fonte.

Segundo essa fonte, qualquer decisão de milhões de reais tomada pela Petrobras passa pelos crivos jurídico, técnico-financeiro e de auditoria.

— Há, além do resumo, apresentações de cada lado nas reuniões de conselho, sendo que o conselheiro pode tirar o processo de pauta ou pedir vista, se não entender — disse uma pessoa que já participou de reuniões desse tipo na Petrobras.

Após o questionamento feito pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, a Graça Foster entregou a Dilma uma sugestão de resposta, em linha com aquilo que ela e o ex-presidente Gabrielli vinham defendendo no Congresso. Dilma rasgou a carta e escreveu outra, onde indicou que as informações eram falhas.

Segundo um político com acesso ao Planalto, com a resposta apresentada, a presidente conseguiu tornar um assunto praticamente sepultado em uma nova crise política, dando mais munição para a oposição. O setor energético também não esquece que a presidente chegou a afirmar em fevereiro – erroneamente, segundo seus próprios assessores técnicos – que o sistema elétrico foi planejado para ser à prova de raios, depois de mais um apagão de grandes proporções.

'Sala de crise' da estatal entra em cena para conter danos

Irany Tereza - O Estado de S. Paulo

RIO - A Petrobrás já acionou a chamada "sala de crise", que está 24 horas à disposição da presidente Graça Foster. A diretoria da empresa, segundo apurou o Broadcast Político, estava ainda atordoada com a nota do Planalto em que a presidente Dilma Rousseff dizia ter referendado a compra da refinaria de Pasadena com base em um parecer "falho" do então diretor Nestor Cerveró, quando se divulgou a prisão do ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa.

"Sala de crise" é um recurso que a empresa adota em situações extremas que exigem resposta rápida e acompanhamento contínuo, para evitar prejuízos no mercado e na imagem da companhia. Geralmente, é ativada em casos de acidente, como vazamento de óleo ou problemas em plataformas. Desta vez, foi acionada por uma questão política - os eventuais prejuízos no mercado e à sua imagem ainda não apareceram.

Graça Foster, segundo algumas fontes, não foi informada com antecedência do teor da resposta de Dilma à reportagem do Estado. Desde a divulgação da notícia, anteontem, ela não se pronunciou e tem evitado compromissos públicos. "Ela não sabe o que dizer. É uma situação difícil", afirma um gerente com mais de 30 anos de da Petrobrás. Desde 2012, quando o caso foi levantado pelo Estado, sua resposta padrão era que uma auditoria interna investigava o contrato de Pasadena.

O clima na empresa é de preocupação com a possibilidade de sua imagem ser associada a atos de corrupção. "Todo mundo sabia que havia algum tipo de desvio, mas um como esse, envolvendo diretores e gerentes de primeira linha, nunca se viu", diz o gerente.

Merval Pereira: Sob o signo da mudança

A vantagem que a presidente Dilma mostra consistentemente nas pesquisas de opinião, reafirmada ontem pelo Ibope, demonstra que os candidatos de oposição mais conhecidos, como o senador Aécio Neves ou o governador Eduardo Campos, não conseguiram até agora cativar o eleitorado que reafirma, também consistentemente, pesquisa após pesquisa, que quer mudanças, e de preferência sem Dilma na presidência.

Mas se não aparecer ninguém com credibilidade suficiente para transformar o anseio do eleitorado em realidade, isto é, capaz de convencer de que tem uma proposta de governo melhor para colocar em prática, Dilma vai vencer a eleição por falta de opção melhor. É isso o que as pesquisas apontam.

Uma maioria que chega a 64% do eleitorado quer que o próximo presidente “mude totalmente” ou “muita coisa” na próxima gestão. Entre eles, apenas 27% consideram que a própria Dilma poderá fazer as mudanças necessárias. Os demais querem outra pessoa em seu lugar, mas por enquanto não encontraram entre os candidatos apresentados o perfil que buscam para a mudança.

Aécio e Campos têm a seu favor um relativo desconhecimento do eleitorado. Quando se avalia o potencial de votos, enquanto apenas 7% dizem não conhecer a presidente Dilma (serão de Marte?), nada menos que 35% não conhecem Eduardo Campos e 27% não conhecem Aécio Neves.

A presidente Dilma tem nesse quesito uma potencialidade muito maior que seus adversários, até o momento. Nada menos que 36% do eleitorado diz que votará nela com certeza, e outros 19% admitem votar, o que dá a ela um potencial de votos de 55%. Já Aécio Neves tem um potencial total de votos de 33% e Eduardo Campos de apenas 27%. A questão é saber se quando forem conhecidos do eleitorado brasileiro, os candidatos do PSDB e do PSB o convencerão de que têm a capacidade de fazer as mudanças que eles anseiam, ampliando assim a potencialidade de votos.

Por enquanto, a presidente Dilma tem um percentual de votos um pouco acima dos que afirmam que votarão nela com certeza, mas está estagnada na casa dos 40% desde o ano passado. O começo da campanha eleitoral pelo rádio e televisão pode mudar esse quadro.

Na eleição de 2010, Dilma a essa altura ainda perdia para o candidato do PSDB José Serra, mas o clima entre o eleitorado era de continuidade. Hoje a eleição está se desenrolando num ambiente que exige mudanças.

Sincericídio
O voluntarismo da presidente Dilma colocou-a em uma situação embaraçosa na questão polêmica da compra da refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, que deu um prejuízo bilionário em dólares para a empresa.

Se a presidente admite que desde 2008, quando soube das cláusulas que considera inapropriadas, ela e outros conselheiros passaram a questionar o negócio dentro do Conselho da Petrobrás, por que nenhuma providência concreta foi tomada àquela altura contra quem apresentou o negócio ao conselho com "informações incompletas" em um parecer "técnica e juridicamente falho"?

Ao contrário, o então diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró continua na empresa, agora como diretor financeiro da BR Distribuidora. Também o então presidente da Petrobrás, José Gabrielli, continua com prestígio nas hostes petistas. Secretário de governo da Bahia, foi considerado para suceder o governador Jacques Wagner que, aliás, fazia parte do Conselho da Petrobrás em 2006 quando a compra foi realizada.

O “sincericídio” da presidente Dilma tem a vantagem de ser uma atitude correta rejeitar a versão oficial da Petrobrás que defende a compra alegando que parecia ser um bom negócio na ocasião.
Mas tem a desvantagem política de expô-la às críticas sem qualquer capacidade de se defender

Fonte: O Globo

Dora Kramer: Autoinsuficiência

Não há mistério nem mérito na confissão da presidente Dilma Rousseff de que aprovou sem ler os termos do contrato de compra da refinaria de Pasadena, no Texas, quando era ministra da Casa Civil e presidia o Conselho de Administração da Petrobrás.

Ela simplesmente quis tirar o corpo fora de um negócio altamente suspeito, investigado pelo Ministério Público, Tribunal de Contas e Polícia Federal devido aos prejuízos causados à estatal, que pagou US$ 1,18 bilhão por uma refinaria negociada a US$ 42 milhões sete anos antes.

Pela singeleza da nota oficial divulgada pela assessoria de comunicação do Palácio do Planalto, transferindo sem mais nem menos a responsabilidade a um resumo "incompleto" da diretoria internacional da Petrobrás, a presidente da República acreditou-se na posse dos mesmos poderes do antecessor a quem todos se dobravam calados e reverentes.

Fez o que lhe deu na cabeça, talvez estimulada pelos conselheiros eleitorais que a colocam na rota de gestos passíveis de repercussão popular. Dilma tinha em mãos um texto redigido por Graça Foster, dizendo em síntese que o caso da refinaria estava aos cuidados dos órgãos de fiscalização. Saída pela tangente.

A presidente não quis. Rasgou a nota e fez outra, ela mesma, provavelmente na tentativa de se mostrar "verdadeira" diante do eleitorado. De imediato, contabilizou inúmeros prejuízos, a começar por levar o tema que estava aos cuidados da polícia e do Tribunal de Contas para dentro do Palácio do Planalto.

Causou espanto no PT, que não conseguiu articular uma defesa. Ofereceu de bandeja um assunto para a oposição, abriu espaço para que seja criada uma comissão de inquérito para investigar esse e outros negócios da Petrobrás, pôs lenha na crise com o Congresso e deu mais um empurrão ladeira abaixo na empresa em momento já bastante delicado de preços de combustíveis defasados, perda de valor de mercado e risco para a classificação do grau de investimento.

Na estatal o clima é de beligerância total contra a presidente.

Primeiro porque é considerada inaceitável a versão dada por ela sobre a documentação incompleta, uma vez que os resumos para orientar as decisões do Conselho de Administração podem não conter todas as informações, mas eles são sempre acompanhados dos processos completos aos quais os conselheiros têm acesso a qualquer tempo.

E, depois, a maneira como Dilma apresentou a questão deu a impressão de que a Petrobrás é uma empresa sem governança, desprovida de controles, comparável a um armazém de secos e molhados. A presidente quis usar a estatal à sua conveniência e a corporação sentiu o golpe.

Publicamente não haverá reação, mas a falta de respaldo às declarações da presidente da República é eloquente. A presidente da empresa ficou em silêncio, bem como os outros participantes da reunião em que foi aprovada a compra da refinaria. Satisfeito com a atitude de Dilma ninguém está no governo nem no PT. Ao contrário. O mínimo que se ouve é que ela mais uma vez fez uma "trapalhada", piorou uma situação que já era ruim no momento mais inadequado possível.

A presidente está desprovida de defesas no Congresso, de onde é quase certo que virão convocações da presidente atual, de ex-presidentes da Petrobrás, de conselheiros e do diretor responsável pelo parecer que Dilma considerou "técnica e juridicamente falho", Nestor Cerveró. Funcionário de carreira, com 30 anos de empresa, dificilmente vai se acomodar de modo confortável à sinuca em que a presidente o colocou.

A saída do governo será trabalhar para evitar as convocações e a CPI. Tarefa complicada no cenário de conturbação na base governista, hoje muito mais interessada em dificultar que em facilitar a vida da presidente da República.

Nesse quadro, se custar caro ao Planalto ainda sairá barato porque nessa altura é possível que já não tenha preço que pague a imposição de novas derrotas a Dilma.

Pode ser que a presidente encontre abrigo na oposição, caso prevaleça a voz contrária do ex-presidente Fernando Henrique à criação da CPI da Petrobrás. Mas, nesse caso o pressuposto seria um pedido de arreglo que contrariaria os interesses de parte a parte.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde: Perguntar não ofende

A compra da refinaria de Pasadena (EUA) virou um jogo de empurra: Dilma culpa a antiga diretoria da Petrobras, que culpa o Conselho Administrativo, que culpa a gestão de José Sérgio Gabrielli.

Como diz o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno, "essa história está cheirando mal". E há muitas perguntas sem resposta:

1 - Como a tão centralizadora e detalhista Dilma, então chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras, votou a favor de uma operação tão esquisita?

2 - Se havia todo um detalhamento da proposta, por que Dilma e os conselheiros, que são bem remunerados, contentaram-se com um mero resumo agora criticado como "técnica e juridicamente falho"?

3 - Como, à época, o diretor internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, pivô da crise, acabou diretor financeiro da BR Distribuidora?

4 - E como o presidente Gabrielli virou secretário do governo da Bahia, subordinado ao governador petista Jaques Wagner, e até é um dos pré-candidatos à sua sucessão?

5 - Mas a mais importante questão de todas, no caso Pasadena, é aritmética: como, quando e por que pagar US$ 360 milhões pela metade de uma refinaria que acabara de ser vendida um ano antes, integralmente, por US$ 42,5 milhões?

6 - E a cláusula que obrigava uma das partes a comprar 100% da refinaria em caso de divergências não acendeu nenhum sinal amarelo?

7 - É comum uma refinaria de US$ 42,5 milhões passar a valer mais de US$ 1 bilhão num passe de mágica?

8 - Por que Dilma ficou esses anos todos calada e agora resolveu soltar uma nota jogando o escândalo dentro do Palácio do Planalto? Ela quis se antecipar a outros dados que estão para pipocar?

9 - Nessa nota, Dilma disse que, se todas as cláusulas fossem conhecidas, "seguramente" a compra da refinaria de Pasadena não seria aprovada. Admitiu, assim, que o negócio foi um verdadeiro escândalo?

Fonte: Folha de S. Paulo

Murillo de Aragão: Eleições das traições

A traição na política nacional é fator recorrente. Tanto que uma das expressões comuns na política é “cristianizar” um candidato, o que significa não apoiar o candidato majoritário do próprio partido em favor de outro. Aconteceu com Cristiano Machado, político mineiro candidato à Presidência da República pelo PSD em 1950. O PSD o traiu e a maioria dos votos de seus correligionários foi para Getúlio Vargas, então candidato do PTB.

Do episódio de Cristiano Machado até hoje, a situação somente piorou. Tudo em nosso sistema político conspira para que haja traições. As razões são muitas, a começar pelo fato de que existem partidos demais e disciplina partidária de menos. Muitas vezes, as alianças em nível federal não se reproduzem no nível estadual.

Políticos de um partido têm um pé em outro. Caciques regionais controlam mais de uma legenda: a principal e uma ou mais legendas auxiliares. Pequenos partidos cedem vagas e tempo de televisão na composição de coalizões. Tudo em uma imensa feira política.

Outro fator é a regionalização dos partidos, que são franquias políticas que dão a seus caciques razoável autonomia local. Nossos partidos são, em sua maioria, aglomerados de forças políticas estaduais.

O caso mais notório é o PMDB, que funciona como um condomínio sob o comando de caciques estaduais. Destacam-se aqueles que sabem melhor articular seu poder estadual na esfera federal, ampliando, em consequência, seu poder nacional.

Pois bem, nestas eleições para presidente da República existem alguns vetores de traição relevantes. Apontarei alguns. O primeiro está dentro da esfera petista, onde permanece um desejo latente e crescente de substituir Dilma Rousseff (PT) por Lula (PT). Justificam a demanda pelo risco que Dilma corre de ir para o segundo turno e perder, ou ganhar com uma base política instável. Acreditam que Lula é o remédio para tais problemas.

Outro vetor de traição está na precária relação entre o PMDB, o PT e o governo federal. Dispensa maiores explicações o fato de que o líder do PMDB na Câmara fomentou e organizou um bloco de insatisfeitos dentro da base governista. Antes disso, algumas lideranças estaduais do PMDB tendiam a apoiar a chapa Dilma-Temer sem maiores envolvimentos no campo do voto.

Na oposição, um aspecto saliente é a opinião de alguns tucanos de São Paulo, que torcem para que o governador Eduardo Campos (PSB) chegue ao segundo turno da eleição presidencial. Consideram que ele teria mais chances de enfrentar Dilma. Outros não escondem que não engolem os atritos entre o ex-governador José Serra e o senador Aécio Neves que resultaram em dossiês e brigas internas. Nominalmente, apoiam Aécio, mas podem fazer corpo mole.

O que movimenta o mercado das traições? Claro que é a busca do poder. Porém, existem agendas específicas, e não muito claras. No PT, a troca de Dilma por Lula é entendida como o remédio para a pacificação da base aliada e a receita para se reconquistar o apoio do empresariado e a confiança do mercado financeiro. O que significaria uma eleição mais tranquila para o “lulismo”.

No PMDB, as razões para as traições ou não engajamento na aliança federal são múltiplas. Existem disputas específicas, como em Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Ceará, por exemplo, onde o PMDB e o PT terão candidatos próprios. Existe ainda, por parte do PMDB, a preocupação de que o desempenho nas eleições para o Congresso seja ruim e que o PT possa alcançar a maioria em ambas as Casas. Para esses, a disputa é um “salve-se quem puder”.

No PSDB, além da tradicional desconfiança entre partidários, existe uma desconfiança entre “serristas” e “aecistas”, cujas origens estão na disputa entre os dois pela vaga de candidato presidencial. Basta lembrar os fenômenos “Dilmaécio” e “Dilmanastasia”, em que parcela importante do eleitorado mineiro votou em uma chapa que misturava Dilma para presidente, Aécio para o Senado e Anastasia para o governo.

Mais recentemente, havia desconfianças dentro do PSDB sobre a viabilidade de Aécio Neves como candidato presidencial. A ponto de o governador Geraldo Alckmin, já no final do ano passado, dizer que o PSDB tinha muitos nomes para concorrer, quando todos sabiam que o nome da vez era Aécio. Alckmin, pelo seu lado, acompanha com cuidado a campanha, pois sabe que, se Aécio perder, seu nome poderá ser lembrado para 2018.

Circunstâncias típicas fazem aliados do passado, que romperam de forma dramática, se recompor. É o caso de José Roberto Arruda, Joaquim Roriz e Gim Argello, que, em nome de uma chapa forte para disputar o governo de Brasília, superaram divergências e desconfianças. No arranjo, o PTB de Gim, que apoia Dilma no plano federal, deve concorrer contra o PT no plano local.

Por fim, existe o fato de que o governo Dilma não conseguiu manter incólume a base de apoio político e social que recebeu de Lula. Mesmo mantendo a preferência do eleitorado, o apoio ao governo por parte da sociedade civil, do empresariado e do mercado financeiro também favorece a possibilidade de traições. Em especial, se a disputa for para o segundo turno.

Murillo de Aragão é cientista político.

Fonte: O Tempo (MG)

Maria Cristina Fernandes: Especulação

Percepção não muda com a velocidade do mercado

Campanhas são janelas de oportunidades. Eleitores têm a chance de escolher quem lhes melhore a vida e os políticos, de progredir na carreira se os convencerem de sua capacidade para a tarefa.

É depois de fechadas as urnas que essas oportunidades se mostram, ou não, viáveis. Há um grupo de eleitores para quem a aposta na corrida presidencial é a própria oportunidade. A fatia mais visível deste grupo está nas mesas de operação dos bancos.

Esta semana o mercado de ações fez o primeiro movimento do ano mais abertamente marcado pela disputa presidencial. A Bovespa teve sua melhor semana de 2014 baseada numa especulação que não se confirmou.

Na quarta-feira, o jornal "Estado de S.Paulo" manchetou o voto favorável da presidente Dilma Rousseff, então presidente do Conselho da Petrobras, à compra da refinaria de Pasadena, no Texas. Antes da abertura do mercado, a presidente já havia soltado nota em que confirmava o aval e jogava para a estatal a responsabilidade por estar insuficientemente municiada para aprovar a compra.

A despeito do aval a uma operação que já rendeu prejuízo de mais de US$ 1 bilhão à Petrobras, os papéis da estatal se mantiveram inalterados na abertura do mercado.

A nota parece ter sido motivada pela convicção dos conselheiros presidenciais de que Dilma desfrutou sua lua de mel com a classe média no auge da faxina da herança lulista, quando pôs sete ministros para correr, e manteve seus laços com esta fatia da opinião pública passando ao largo do julgamento do mensalão.

As redações logo se alvoroçaram com a informação, plantada e regada pelo entorno governista, de que a operação, além de ter sido capitaneada pelo ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli, tinha o dedo de José Dirceu. Trata-se de um seguro cordão sanitário em torno da presidente alinhavado nas cinturas de um pré-candidato derrotado ao governo da Bahia e de um réu da Papuda.

Menos de 24 horas depois vazaria a informação de que o ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa era um dos 24 presos de uma operação contra lavagem de dinheiro deflagrada no início da semana pela Polícia Federal.

Formalmente indicado pelo PP, Costa tornou-se representante de um condomínio de partidos em que vicejou o PMDB. Em sua gestão casou o interesse de seus patronos com uma defesa intransigente da expansão das refinarias da Petrobras.

A estratégia presidencial começou a clarear. Mais do que jogar a herança maldita no colo dos já conhecidos perdedores, o Palácio do Planalto iniciava a operação de blindagem de Dilma contra a abertura de uma das caixas pretas da maior estatal brasileira que, na improvável possibilidade de ser inteiramente dissecada, pode fazer vítimas em todo o sistema partidário.

A passar por corrupta, Dilma preferiu correr o risco da inépcia. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que tem em sua jurisdição outra obra polêmica da Petrobras, a refinaria Abreu e Lima, ainda não se pronunciou, mas o senador Aécio Neves (PSDB) viu na denúncia uma oportunidade de renovar sua fé na ideia de que a maior carência nacional é de gestão. Num discurso de contundência longamente represada equiparou a presidente a uma 'gestora temerária'.

Os riscos assumidos por Dilma passaram desapercebidos pelo mercado. É verdade que havia pouca margem para queda num papel que só tem despencado, mas as notícias de que a estatal estaria às vésperas de ter suas vísceras expostas tampouco pareciam ser favoráveis à sua valorização. Pois foi isso que aconteceu com a aproximação do almoço e dos boatos de uma pesquisa que traria os candidatos da oposição na cola da presidente. Subiram junto com o papel de outras estatais alavancados pela expectativa de que a intervencionista presidente poderia ser destronada.

A Petrobras continuou a subir ontem quando já pareciam claros os riscos de a disputa sucessória ser contaminada pelos desmandos da estatal. Quando o Ibope saiu com um cenário sucessório que mantém expectativa de vitória de Dilma em primeiro turno o mercado já tinha fechado. Não há dúvidas de que foi uma semana de oportunidades.

Foi para estancar um movimento parecido que em 2002 o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva soltou aquela carta prometendo ser fiel aos mercados todos os dias de seu governo. Desta vez é diferente porque não se trata de influenciar expectativas, mas de mudar opiniões formadas ao longo de três anos e quase três meses de governo.

São opiniões azedadas pelo excesso de criatividade com a qual o governo lida com o represamento da inflação e a geração de superávit, mas também pela agressiva concorrência de estatais bombadas em diversos setores da economia, a começar do financeiro.

Como os indicadores de PIB, inflação e emprego não referendam o caos, todas as atenções se voltam para aqueles indicadores menos palpáveis que medem a percepção do eleitor ao longo da campanha.

Esta percepção deriva da evolução da renda do eleitor, da qualidade dos serviços públicos que lhe são ofertados e das mudanças que acalenta para os quatro anos seguintes. É formada ao longo de anos e pode se modificar com a campanha, mas não com a velocidade e a avidez de quem prospecta oportunidades para ganhar dinheiro.

À altura
Na campanha de 1994, quando o Brasil inteiro se curvava ao Real, Luiz Inácio Lula da Silva arrumou abrigo para encerrar seu périplo eleitoral no palanque do então candidato ao governo de Pernambuco, Miguel Arraes. Foi em sua companhia que, em 1989, Lula ergueu barricada contra Fernando Collor de Mello. Pernambuco lhe deu a maior votação no 1º turno daquela eleição

A insinuação feita por Lula de que o neto de Arraes guarda semelhanças com Collor mostra que a política trata de interesses. O de Lula é jogar a isca para Campos. O governador vai bem no eleitorado que ainda acende velas para o ex-presidente. Na primeira resposta que deu a Lula, Campos usou a metáfora que marcou a eleição petista, da esperança que venceu o medo. Na segunda, disse não acreditar que o ex-presidente o tenha comparado a Collor. Em ambas, com sutileza, mostrou que Lula arrumou um adversário à altura.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política.

Fonte: Valor Econômico

Luiz Carlos Azedo: Será que Freud explica?

As razões da tensa relação entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são cada vez mais difíceis de serem diagnosticadas, inclusive dentro do PT. O estresse aumentou com o imbróglio da Petrobras

Para a psicanálise, o complexo de Édipo é universal e, portanto, característico de todos os seres humanos. São sentimentos contraditórios de amor e hostilidade. Metaforicamente, o conceito é visto como amor à mãe e ódio ao pai. Como o ser humano não pode ser concebido sem um pai ou uma mãe (ainda que nunca venha a conhecer uma dessas partes ou as duas), essa relação é a síntese do conflito humano. Em resumo, o complexo aparece quando a criança percebe que os pais pertencem a uma realidade cultural e não podem dedicar-se apenas a ela. A figura do pai representa a inserção da criança na ordem cultural. Ela começa a perceber que a mãe pertence ao pai e, por isso, dirige sentimentos hostis em relação a este.

Na política, o velho conflito bíblico entre a criatura e o Criador surge toda vez que um apadrinhado político se insurge contra o seu protetor. Quase sempre, decorre de frustradas tentativas de tutela política, muito mais do que de reações de natureza psicológica. As razões da tensa relação entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porém, são cada vez mais difíceis de serem diagnosticadas, inclusive dentro do PT. Publicamente, Lula apoia a reeleição de Dilma; nos bastidores, entretanto, Dilma contraria o ex-presidente em assuntos de toda natureza. Não dá ainda pra afirmar se o caso é de divã ou de uma disputa surda pelo poder.

O estresse aumentou por causa do imbróglio da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, comprada pela Petrobras, uma operação considerada desastrosa pelo Tribunal de Contas da União (TCU), mas que sempre foi defendida pela direção da estatal. Ex-presidente do conselho de administração da estatal, Dilma resolveu responsabilizar o ex-presidente da empresa Sérgio Gabrielli e o ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró pela decisão. Em nota oficial da Presidência, levantou suspeitas de que houve fraude nas informações técnicas que subsidiaram a aprovação da compra pelo conselho. Ou seja, jogou o problema no colo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que endossou a compra e nomeou os dois. O negócio custou U$ 1,19 bilhão à Petrobras.

Bumerangue
A atitude de Dilma voltou-se contra ela própria. Além de irritar o ex-presidente Lula, levou água para o moinho da oposição. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato tucano a presidente da República, foi à tribuna cobrar esclarecimentos e questionou a competência de Dilma na área de sua especialidade: energia. Ontem, os senadores Pedro Simon (PMDB-RS), Randolfe Rodrigues (PSol-AP), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Ana Amélia Lemos (PP-RS) decidiram representar contra Dilma Rousseff na Procuradoria-Geral da República. A intenção é solicitar esclarecimentos sobre a compra da refinaria.

Na Câmara, a pedido do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, o líder do PT, Vicente Paulo da Silva (SP), foi à tribuna para dar explicações sobre o assunto, na mesma linha adotada pelo Palácio do Planalto. A parceria estratégica entre a Petrobras e a empresa Astra na refinaria de Pasadena estaria alinhada com o Plano de Negócios 2004-2010 e no Plano Estratégico 2015. Tais documentos recomendavam que a empresa buscasse expandir sua atuação no refino internacional, em especial no setor americano do Golfo do México e no oeste da África, e que buscasse agregar valor à produção de óleo pesado da Petrobras.

Esse sempre foi o discurso da Petrobras, desde fevereiro de 2006, quando aprovou a parceria estratégica com a Astra, na qual o risco do negócio seria compartilhado pelas duas companhias, por meio da aquisição de 50% da refinaria. A Astra havia gasto 126 milhões de dólares (42 milhões de dólares pela aquisição e mais 84 milhões de dólares em investimentos). A Petrobras investiu 190 milhões de dólares na aquisição — os outros 170 milhões de dólares do negócio se referem à compra de 50% do estoque de petróleo que a refinaria possuía naquele momento.

Vicentinho, porém, reafirmou que o resumo executivo da decisão não fazia qualquer referência a duas importantes cláusulas do contrato: a Marlim, que assegurava uma rentabilidade mínima de 6,9% à Astra, independente das condições do mercado, caso fossem realizados os investimentos para a expansão da refinaria; e a Put Option, que obrigava a Petrobras a adquirir a participação da Astra, caso houvesse divergência na condução da sociedade. “Se tais cláusulas fossem conhecidas pelo conselho, a deliberação ocorreria em outros termos, sendo provável que o negócio nem sequer fosse aprovado”, garantiu, de mando, o líder do PT. É ou não é mais gasolina no fogaréu?

Fonte: Correio Braziliense

Almir Pazzianotto Pinto* :Violência

É impossível permanecer insensível e inerte diante da onda de violência que engolfa o Estado de São Paulo e o País. O problema avoluma-se dia após dia, diante do olhar apático do Poder Legislativo, da acomodação do Poder Executivo, da sonolência do Poder Judiciário. O quadro é crítico e exige decisão e ação.

Quem já passou pela experiência de ser assaltado à luz do dia, em rua movimentada, por homens armados com pistolas de grosso calibre se sente no dever de desacreditar de falsas promessas, cínicas justificativas e enganosas estatísticas apresentadas por aqueles que têm a obrigação de garantir a segurança pública.

Detalhada reportagem publicada por este jornal na edição de 2 de março, domingo de carnaval, descreve a invasão da pacata cidade paulista de Conchas por bando armado, que explodiu e saqueou caixas eletrônicos, desafiou o modesto destacamento policial, semeou pânico entre a indefesa população. Não é o primeiro episódio de cangaço motorizado ocorrido no interior e não será o último. Os salteadores perceberam ser fácil dominar comunidades de pequeno e médio porte, onde a Polícia Militar possui efetivo simbólico e a Polícia Civil se reduz ao delegado (se houver), um investigador e o escrivão. A superioridade dos criminosos em número e armamento é flagrante e a população limita-se a assistir aos ataques, sem condição de se defender.

Na capital e nas grandes cidades observa-se situação semelhante, embora os criminosos se valham de táticas específicas. Agem em quadrilhas e usam do elemento surpresa para tomar residências e edifícios, roubar restaurantes, indústrias e casas comerciais, assaltar motoristas e pedestres. Em seguida, eles se dispersam nas favelas, onde se misturam com o povo ordeiro, medroso e sofrido, para fugir e impedir a identificação.

A conclusão é óbvia: o Estado não se preparou para enfrentar a onda crescente de violência. Permanecemos regidos por códigos da década de 1940 - mais antiquados do que a arcaica Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) - e se insiste na preservação da idade-limite de 18 anos, abaixo da qual o criminoso forte, tatuado, de alta periculosidade, é tratado como adolescente frágil, digno de piedade.

Quando legisla, o Estado não alcança os resultados alardeados. São estatutos ineficazes, sancionados com estardalhaço, como observou alguém. Tome-se o caso da Lei Maria da Penha, que, apresentada à opinião pública como solução mágica para a violência doméstica, resultou em menos do que nada. Mulheres continuam a ser estupradas, espancadas e mortas, após insistirem em lavrar inúteis boletins de ocorrência. Situação similar é a do Estatuto do Torcedor. Torcidas organizadas com apoio financeiro de clubes, armadas com porretes, espetos, barras de ferro, estiletes, coquetéis molotov, morteiros, rojões, entram em choque antes, durante e depois de grandes jogos ou agridem e matam quem encontram pelo caminho, por sadismo e diversão. Se confrontadas, desafiam a polícia, pois sabem que nada lhes acontecerá.

Caso singular é o do desarmamento. Aplicado com rigor contra pessoas de bem, privou de meios de defesa pais de família, trabalhadores, empresários, proprietários rurais, possuidores de revólver ou cartucheira, adquiridos no comércio de maneira regular. Não consegue impedir, todavia, que bandidos continuem armados. Em São Paulo, e pelo Brasil afora, marginais menores ou maiores empregam metralhadoras, fuzis semiautomáticos, pistolas .45 ou 9mm, escopetas calibre 12, granadas para enfrentar as forças policiais em superioridade de condições.

A campanha pelo desarmamento da população civil teve início no governo Fernando Henrique Cardoso e ganhou corpo nos que se seguiram. Apesar de velha, trouxe pífios resultados, atingiu apenas gente do bem. Sou avesso à violência. Reivindico, todavia, o direito de cada cidadão optar entre ter ou não arma para defesa, desde que satisfaça requisitos relativos à aquisição, ao registro e ao porte.

Compete à União legislar sobre direito penal e processual penal (Constituição, artigo 22, I). Ao Estado cabe zelar pela segurança pública. Para tanto mantém a Polícia Civil, à qual incumbem as funções de polícia judiciária e apuração das infrações penais, e a Polícia Militar, responsável pela preservação da ordem pública e pelo policiamento ostensivo (Constituição, artigo 144, parágrafos 4.º e 5.º).

A coexistência de duas Polícias - a Militar e a Civil - regidas por estatutos desiguais e conflitantes, com hierarquias e finalidades distintas, tem sido apontada como obstáculo à rapidez, confiabilidade e eficiência na elucidação de crimes. Por via de consequência, é elevadíssimo o número daqueles que deixam de ser esclarecidos e caem no esquecimento, para desespero das vítimas, ou seus familiares. Quando elucidados, os processos se arrastam pesadamente por meio de recursos protelatórios em múltiplas instâncias.

Diante do quadro de insegurança, é inqualificável o silêncio dos candidatos à Presidência da República. A população cobra-lhes clara tomada de posição em face do problema da menoridade penal, do tráfico e consumo de drogas, da carência ou péssimas condições em que se encontram os presídios, da morosidade processual.

A ascensão do crime organizado é fato. Promessas de combatê-lo caíram no descrédito. Não basta confinar alguns presidiários em desumanas solitárias, medida cruel e comprovadora da vulnerabilidade do sistema penitenciário, incapaz de evitar o contrabando de celulares (para dentro das cadeias). São indispensáveis ações preventivas, conduzidas com inteligência e, quando necessário, força para conter os violentos.

A não ser assim, o clima de pavor e insegurança persistirá, para desalento de quem procura viver em paz, dentro da lei.

*Almir Pazzianotto Pinto é advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Fonte: O Estado de S. Paulo

Sandro Vaia: Apertem os cintos, o gerente sumiu

Cara ou coroa, à sua escolha: aquilo que em alguns casos pode ser chamado de propaganda enganosa, também pode ser interpretado como talento criativo, uma engenhosa criação de marketing.

Os especialistas em manipulação de emoções sabem bem como fazer isso: basta estimular com imagens ou palavras o lóbulo frontal esquerdo do cérebro e plantar nele a ideia que se quer vender, tenha ela relação ou não com a verdade dos fatos.

Publicitários e/ou marqueteiros, consciente ou inconscientemente, com maior ou menor talento, fazem isso. Políticos também. A maioria deles intuitivamente, por vocação inata.

Quando Lula precisou de um nome para lançar à presidência da República jogou as suas fichas em Dilma Rousseff, que não tinha em seu histórico nem uma larga experiência política, nem sequer uma longa vivência partidária, nem era uma das mães fundadoras da legenda, e resolveu forjar-lhe uma identidade que substituísse o escasso carisma ou a falta das qualificações da experiência.

Foi assim que nasceu “a gerente”. Reza a lenda que ela ia às reuniões ministeriais ostentando um laptop onde tomava as suas notas, e isso lhe valeu como um certificado de eficiência. Essa passou a ser a identidade de sua “persona” política.

Todos os pés pelas mãos que ela possa ter metido ajudaram a desgastar bastante a imagem de “gerentona”, a que tudo sabe, a que dá pito em todo mundo, a que cobra, faz e acontece, auréola que geralmente acompanha os manda-chuvas de grandes empresas.

Sabe-se que na política esse tipo de eficiência tem pouca valia e mais vale o jogo de cintura, a habilidade e a flexibilidade no trato com seus correligionários, seus adversários, a opinião pública e o inconsciente coletivo.

O mito da eficiência esboroou-se lentamente na lida do dia a dia, principalmente no trato com os assuntos sobre os quais vendeu-se a lenda de que eram áreas de seu absoluto domínio, como a questão energética.

Um passivo de 100 bilhões de dólares em perda de valor de mercado das duas maiores empresas do setor, demonstrado pelo colunista Elio Gaspari em sua última coluna na Folha, foi o resultado direto de uma gestão errática que ela imprimiu ao setor que supostamente dominava como a palma de sua mão.

Mas a pá de cal na reputação da gerente foi a questão da compra da refinaria sucateada de Pasadena que provocou um prejuízo de 1 bilhão de dólares ao caixa da Petrobrás. Ela era presidente do Conselho da estatal e declarou, do próprio punho, que deu parecer favorável à compra baseada num parecer “falho” e “incompleto”.

Viu-se depois que era um resumo do parecer, que omitia os itens duvidosos, e que o Conselho não leu o parecer completo.

Se há ou não alguma coisa estranha por trás do negócio, não vem ao caso. Isso cabe a uma CPI ou a PF investigar.

Numa empresa privada, um gerente assim seria convidado a passar no caixa e ir exercer a sua eficiência em outro lugar.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez e "Armênio Guedes, Sereno Guerreito da Liberdade"(editora Barcarolla).

Fonte: Blog  do Noblat

Ricardo Antunes: As eleições e as esquerdas

O ano de 2014 será emblemático para o Brasil. Na Copa da Fifa, poderemos vencer ou não; teremos o ano do hexa com rebeliões, ou um ano de rebeliões sem o hexa.

Mas será também o ano das eleições. Depois do vendaval de junho, os partidos recuperam seu espaço e já se sentem confortáveis novamente para o embate. Muitos exemplos mostram, entretanto, que a revolta nas ruas não têm tido repercussão direta nos resultados eleitorais.

Da Espanha ao Chile, da Itália a Portugal, as sublevações seguem uma lógica que recusa os calendários eleitorais, e o absenteísmo se amplia. A descrença é tal que quem opta por votar o faz alternando suas opções entre as principais rotas dominantes e aquela que vence recebe o troco nas eleições seguintes.

No Brasil, a presidente Dilma Rousseff (PT) recuperou-se nas pesquisas, ainda que a situação econômica e as turbulências de toda ordem sejam incógnitas eleitorais. A recente crise da aliança entre seu governo e o PMDB e a compra pela Petrobras de uma petroleira hipervalorizada nos Estados Unidos demonstram que o quadro eleitoral pode se turvar ainda mais.

Mas o ex-presidente Lula e seus candidatos ainda são fortes nos rincões onde o Bolsa Família se expande. Se o programa permite minimizar os níveis de miséria, é incapaz de eliminá-la. Sua perpetuação tornou-se, então, vital para a manutenção do PT no poder, criando um círculo vicioso perverso: o Bolsa Família é uma política assistencialista absolutamente insuficiente. E quanto mais tempo perdurar, mais o PT se beneficia, pois os pobres temem a volta do tucanato com sua conhecida insensibilidade social.

Foi assim que o PT encontrou seu principal cabo eleitoral. Ocupou seu espaço, gostou do poder e garante a boa vida dos grandes capitais. Não foi sem motivos que um delfim do empresariado afirmou que Dilma "tem qualidades interessantes para administrar e é de uma seriedade extravagante. Devíamos saber aproveitá-la." (Valor Econômico, 23/12/2013)

O PSDB, por sua vez, perdeu o rumo quando o PT lhe roubou a programática. É constrangedor ver o senador Aécio Neves como paladino da oposição. O neto de Tancredo envelheceu precocemente e não percebeu. Deu espaço para Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (PSB), nessa esdrúxula aliança entre alguns verdes e novos e velhos ruralistas. Eles perceberam, entretanto, a fragilidade do mineiro, mas o querem como aliado.

E as esquerdas que estão na oposição serão capazes de ouvir a voz funda que aflorou nas rebeliões de junho? Conseguirão encontrar uma alternativa que dialogue com os movimentos sociais, com o descontentamento das periferias? Compreenderão a recusa à mercadização dos bens públicos e sua oposição à via estritamente eleitoralista e prisioneira de uma institucionalidade viciada? Serão capazes de ampliar os laços efetivos com a juventude e com a jovem classe trabalhadora?

Se o eixo das lutas sociais passa hoje pelas praças e ruas, as esquerdas, apesar de sua pequena expressão eleitoral, poderão ao menos mostrar que ainda têm algo distinto a dizer para "os de baixo", mesmo quando as eleições presidenciais parecem estar inteiramente restritas a uma dança entre os partidos da ordem.

Ricardo Antunes, 61, é professor titular de sociologia na Universidade Estadual de Campinas e autor de "Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil II"

Fonte: Folha de S. Paulo