segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

OPINIÃO DO DIA: Marcus Pestana

"Depois de tanta contabilidade criativa, não vai ser um passeio tardio a Davos que irá recuperar a credibilidade do governo."

Marcus Pestana, deputado federal  e presidente do PSDB-MG, sobre visita de Dilma Rousseff e ministros do governo ao Fórum Econômico Mundial, nesta semana. 

Núcleo fiel a Dilma na Câmara fica 60% menor

PSD e PSB puxam derrotas do governo na Câmara; núcleo fiel a Dilma fica 60% menor

Palácio do Planalto perdeu 11 votações nos seis últimos meses do ano passado; surto de infidelidade entre os deputados que integram partidos aliados sucedeu as manifestações de rua que fizeram despencar a popularidade presidencial em junho

José Roberto de Toledo, Isadora Peron e Rodrigo Burgarelli

Foram 11 derrotas do governo em 37 votações na Câmara dos Deputados no segundo semestre de 2013. Nunca a presidente Dilma Rousseff (PT) perdeu tanto em tão pouco tempo. Ela sofrera só 3 derrotas ao longo de todo ano de 2011, 5 em 2012 e outras 5 no primeiro semestre do ano passado. O surto de derrotas sucedeu os protestos de rua que derrubaram a popularidade presidencial.

A tendência de perda de apoio vem de longe, porém. O núcleo duro governista - aqueles que votam com Dilma em pelo menos 90% das vezes - caiu de 306 deputados em 2011 para 134 em 2012 e fechou 2013 com apenas 123 parlamentares (uma redução de 59,8%). Ou seja, a presidente só pode contar mesmo com o voto de 1 em cada 4 deputados.

Como o governo tem maioria teórica no Congresso, as derrotas só podem ser impingidas por seus aliados. Nessas 11 derrotas, os partidos da base de apoio a Dilma que mais traíram a presidente foram PSD e PSB, este último já em fase de afastamento do Planalto por causa do projeto presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Mas não foram só eles. Ao racharem, os peemedebistas também atrapalharam bastante. Além disso, o PMDB detém a presidência da Câmara e determina o que e quando será votado.

Os aliados "ma non troppo" morderam com precisão de vampiro, só em votações-chave, e assopraram nas demais, apoiando o governo maciçamente nas outras matérias. Como resultado, a taxa de apoio ao governo aumentou no segundo semestre, apesar das derrotas. A média de apoio na Câmara foi de 81% dos votos entre julho e dezembro, contra 72% no semestre anterior.

Tome-se o caso do PSD. O partido de Gilberto Kassab foi o primeiro a anunciar publicamente apoio à reeleição de Dilma. Mas, na Câmara, o PSD agiu como se fosse de oposição. O líder do partido recomendou que sua bancada votasse contra o governo em 8 das 11 derrotas de Dilma no segundo semestre. Só para comparar, o PSDB fez isso em 9 das 11 votações.

A liderança do PSD foi na contramão do governo, por exemplo, na apreciação das propostas de extinção da multa sobre o FGTS a ser paga pelos empregadores em caso de demissão, na criação do programa Mais Médicos e no apoio da proibição de o BNDES conceder empréstimos subsidiados em fusões ou aquisições de empresas. Também bateu de frente nas votações da dívida dos municípios e dos royalties do petróleo.

O PSB fez o discurso oposto - anunciou sua saída do governo, por causa da candidatura presidencial de seu chefe, Eduardo Campos, e cumpriu a promessa. De uma taxa de governismo de 94% em 2011, o PSB caiu para 88% em 2012 e para 77% em 2013. Foi o único grande partido que teve taxa de governismo menor no segundo semestre (74%) do que no primeiro (79%). E já anunciou que vai radicalizar a tendência em 2014.

Senado. A situação no Senado é similar, apesar de mais confortável. O número de derrotas pulou de três no primeiro semestre de 2013 para dez no segundo - e todos os partidos governistas votaram contra o governo em algum momento. O núcleo duro, porém, continua o mesmo de 2011, com 25 senadores.

Para o professor da FGV-SP Cláudio Couto, o "desgaste" na relação de Dilma com os aliados explica parte das derrotas sofridas pelo Planalto. "Quando fica claro que a conduta ruim do governo não vai se alterar, as pessoas votam contra." Humberto Dantas, do Insper, concorda. "As derrotas mostram que é notório que temos um governo que não sabe negociar e que envolve pouco o Legislativo nas decisões."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Inflação alta, dólar valorizado e gastos públicos dificultam trabalho do BC em 2014

Autoridade monetária, responsável por controlar a alta dos preços, enfrenta problemas semelhantes aos do ano passado

Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, Copa e eleições tornam o cenário ainda mais difícil

Gabriela Valente

BRASÍLIA - O ano virou, mas o Banco Central continua a ter de lidar com os fantasmas de 2013. O comportamento da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, que orienta o sistema de metas de inflação do governo), que no ano passado atingiu 5,91%, acima dos 5,84% de 2012, levou o BC a aumentar os juros, na semana passada, mais que o esperado pelo mercado financeiro, para 10,5%, e deixou no ar que a escalada deve continuar. Os problemas que rondam o presidente Alexandre Tombini e sua equipe vão além da inflação resistente. As manobras do Ministério da Fazenda para fechar as contas públicas prejudicam a imagem do país. A nota de risco do Brasil pode ser rebaixada por agências internacionais. Cada vez mais, investidores retiram dólares do mercado brasileiro, o que encarece a moeda americana e bate na inflação porque aumenta o preço dos importados. Se o rating brasileiro for rebaixado, essa situação piora.

Para completar o quadro de ano complicado, haverá eleições. Os economistas ouvidos pelo GLOBO não acreditam em qualquer controle de gastos neste período. A Copa do Mundo é outra ameaça aos preços. Com a possibilidade de ganhar mais com a demanda turbinada pelos turistas, comerciantes aumentam os preços. O efeito em cadeia bate diretamente à porta do Comitê de Política Monetária (Copom) que é responsável por controlar a inflação.

- Você imagina quanto custará uma Coca-Cola em um posto de gasolina no Rio? Vão pedir o quê: R$ 15? - supõe o economista- chefe da corretora Gradual, André Perfeito.

Ameaça dos preços administrados
A preocupação com os preços no Brasil transcende fronteiras. Na semana passada, a revista “The Economist”, a publicação mais influente no mundo econômico, disse que a inflação é um “bicho-papão” para o Brasil. A edição disse que Tombini foi muito rápido na hora de colocar a culpa da surpresa inflacionária no fim do ano - em dezembro, a taxa de 0,92% foi a maior em dez anos - no câmbio, salários e tarifas de transporte.

Para Perfeito, entretanto, o presidente do BC começa a recuperar a credibilidade, arranhada no ano passado. Os juros vêm subindo desde abril, passando de 7,25% para 10,5% ao ano, o que fez aumentar a confiança de que o BC combaterá a inflação com mais força. Ideia reforçada pelos sinais dados pela autoridade monetária de que pode subir ainda mais a taxa para conter a inflação. Isso derruba uma das maiores bandeiras da presidente Dilma Rousseff: a dos juros baixos.

Novos perigos para a economia são citado pelos especialistas. Eles lembram que não há mais coordenação no trabalho de combater a alta dos preços com o Ministério da Fazenda, como visto no início do governo Dilma Rousseff. Hoje, enquanto o BC tenta controlar a inflação, a Fazenda aumenta gastos.

A política fiscal influencia o trabalho do BC. Além de ser combustível para os preços, causa barulho no exterior. As agências de risco têm alertado que o governo brasileiro pode não continuar a reduzir a dívida pública por gastar demais.

Só esses avisos já mexem com o dólar. Fazem a moeda americana aumentar e isso traz mais inflação. O BC já usou suas principais armas para conter a alta da moeda americana e até estabeleceu uma “ração diária” de dólares para o mercado financeiro e, assim, segurar o câmbio. No entanto, para o economista-chefe da corretora NGO, Sidney Nehme, chegará a hora em que o Banco Central terá de intervir com mais força, pois o que fez até agora foi emprestar dinheiro para os bancos colocarem no mercado.

Sérgio Vale, economista da MB Associados, lembra outra dificuldade para o Banco Central conseguir cumprir a meta de inflação, de 4,5% podendo chegar a 6,5%: as tarifas de serviços públicos. Ao contrário do ano passado, quando o governo reduziu a conta de luz e negociou para que as prefeituras adiassem o aumento da passagem de ônibus, a fatura deste ano dos chamados “preços administrados” será mais salgada. A estimativa é que chegue a 4,5%. Em 2013, ficou em 1,5%. Esse aumento se perpetua, por causa do alto índice de indexação da economia brasileira.

- Cada vez mais fica claro que a taxa não deve voltar para os patamares anteriores e, por isso, o risco de repasse para preços fica cada vez maior e espalhado - critica o analista.

Fonte: O Globo.

Inflação em alta é desafio de Dilma em ano eleitoral

Ao contrário dos antecessores Fernando Henrique e Lula, que foram ajudados pelos índices de preços, situação da presidente será desfavorável

Miana Tomazelli

RIO - A economia, principalmente a inflação alta, promete ser o "calcanhar de Aquiles" da presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014. Isso porque a alta de preços tem mostrado resistência no patamar de 6%, acima da meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central (BC). Para este ano, analistas esperam nova aceleração, com possibilidades de a taxa acumulada ultrapassar a banda superior da meta (6,5%) em alguns meses.

A situação é completamente oposta àquela enfrentada por Fernando Henrique Cardoso e Lula na reeleição. "Será a primeira vez, desde 1994, que a inflação pode se tornar o foco da agenda econômica nas eleições", diz Carlos Kawall, econo-mista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro.

O cenário de 1994 era diferente, diz o economista. A questão era acabar de vez com o avanço galopante dos preços, ainda sob o fantasma da hiperinflação, o que envolveu a consolidação do Plano Real. Mas, depois disso, a inflação passou longe dos debates eleitorais, ressalta Kawall.

Caso as projeções se mostrem corretas, a reeleição de Dilma será mais "trabalhosa", avalia o cientista político e professor da PUC-Rio, Ricardo Ismael. "Dilma tentou fazer mudanças que não deram certo, e agora a política fiscal gera desconfiança. Ela ficará pressionada. A economia talvez sej a o "calcanhar de Aquiles" da eleição."

Com leituras negativas sobre a situação fiscal do governo e das contas externas, o que não pode escapar das rédeas da equipe econômica de Dilma, segundo Ismael, é a inflação e o desemprego. Isso porque a população, ainda que não entenda com profundidade os fundamentos da economia, sente seus efeitos. "Na medida em que a inflação beira 6%, não é mais um debate de especialistas. O discurso dela vai ficar mais difícil."

Não por acaso, essas têm sido as frentes que concentram os esforços da presidente e da equipe econômica. Com algum sucesso, Dilma mantém o mercado de trabalho aquecido e o desemprego nos menores patamares da história do País, apesar do baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Em relação à inflação, contudo, nem o represamento dos preços administrados foi suficiente para impedir a aceleração em 2013. A desvalorização do câmbio e o aumento do crédito, de acordo com Kawall, ajudaram a impulsionar os produtos comercializáveis. Com isso, os preços livres subiram 7,3% em 2013, a maior alta em dez anos.

Histórico. Apesar disso, no governo Dilma a inflação média é inferior à dos últimos governos. A taxa acumulou 19,38% em três anos, até 2013. Nos três primeiros anos do governo de FHC, foi de 41,12%. Na vez de Lula, foram 24,29% de 2003 a 2005.

Porém, embora mantenha uma taxa média inferior, Dilma I conta com expectativas bem mais desfavoráveis. Em 1998, quando FHC venceu, a inflação desacelerou a 1,65%, comprimida por uma atividade econômica fraca e uma conjuntura internacional desfavorável. Mas havia a bandeira da estabilização, que o ajudou a vencer ainda no primeiro turno. Com Lula, a inflação oficial também reduziu o passo até fechar em 3,14% em 2006, ano da reeleição.

O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e sócio-diretor da Schwartsman 8c Associados, concorda que a inflação de hoje é produto das escolhas do governo Dilma. Ele afirma que a situação da presidente era mais confortável do que quando FHC e Lula iniciaram seus mandatos.

"Embora a inflação de 2010 não tenha sido baixa, teria bastado um pouco mais de austeridade em 2011 para pôr as coisas nos eixos. Mas a condução desastrada da política econômica pôs mais lenha na fogueira."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma e Lula reúnem-se no Alvorada

Bruno Peres e Andrea Jubé

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff tem um encontro previsto para hoje com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu mentor político, no Palácio da Alvorada, residência oficial. O compromisso é mantido sob sigilo na agenda presidencial, embora as tratativas políticas dessa reunião tenham reflexo direto no governo, com as substituições de ministros que deixarão os cargos nas próximas semanas para concorrer às eleições e a inclusão de partidos aliados que apoiarão a campanha para a reeleição de Dilma.

Segundo apurou o Valor com integrantes da cúpula do PT, a reunião de hoje é um desdobramento da série de encontros políticos que a presidente tem mantido para tratar de reforma ministerial e composição de palanques estaduais. Na semana passada, Dilma esteve com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, o vice-presidente Michel Temer (PMDB).

Dilma se ausentará do país durante uma semana, a partir de quarta-feira, devendo efetivar as trocas em sua equipe ao retornar de seus compromissos internacionais. Além de enfrentar o anseio do PMDB por mais espaço na Esplanada dos Ministérios, ao mesmo tempo em que precisa acomodar novos aliados que ainda não detém cargos no primeiro escalão - como Pros e PTB, Dilma precisa buscar um entendimento dentro do próprio PT sobre os representantes do partido ao seu redor.

A cúpula do PT avalia, por exemplo, que caso o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, seja deslocado para a Casa Civil, o petista deverá afastar-se da coordenação da campanha para a reeleição de Dilma e concentrar-se no andamento do governo. Em outro cenário, Lula defende que o recém-filiado ao PMDB Josué Gomes da Silva assuma o Ministério do Desenvolvimento, atualmente sob o comando do petista Fernando Pimentel, nome do partido para concorrer ao governo em Minas Gerais.

A substituição de Alexandre Padilha no Ministério da Saúde é outro debate aguardado para hoje entre Dilma e Lula. O nome do secretário de Saúde de São Bernardo do Campo, Arthur Chioro, ganhou força na disputa por uma das pastas prioritárias do PT, após a consulta que Dilma fez, também na semana passada, a Luiz Marinho, a quem Chioro está subordinado.

Já na construção de alianças partidárias nos Estados, preocupa sobremaneira o PT a situação da legenda no Maranhão e no Rio de Janeiro. A insistência de Lula na candidatura do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) ao governo estadual tem criado um impasse considerado incontornável, diante da cobrança do PMDB por apoio petista à candidatura do atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão - que conta com a simpatia de Dilma.

Os contornos da crise política no Maranhão, decorrente da situação de agravamento da violência no Estado, também serão debatidos no encontro de Dilma e seu conselheiro político, já que ambos querem apoiar o candidato da família Sarney ao governo do Estado. A cúpula do PT local, por sua vez, defende o apoio ao pré-candidato do PCdoB, Flávio Dino, principal candidato de oposição à família Sarney, que tentará emplacar o secretário estadual de Infraestrutura, Luis Fernando Silva. Dino deve deixar a presidência da Embratur, vinculada ao Ministério do Turismo, até o fim deste mês para dedicar-se à sua candidatura, o que pode incluir uma articulação política com PSDB e PSB.

O imbróglio político no Estado deverá intensificar-se em abril, quando a governadora Roseana Sarney (PMDB) pode deixar o Palácio dos Leões para concorrer ao Senado. Em novembro, o então vice-governador Washington Oliveira, do PT, renunciou ao cargo para assumir uma cadeira no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Um "governador-tampão", com mandato até janeiro de 2015, deverá ser escolhido por eleição indireta pela Assembleia Legislativa, atualmente comandada por um peemedebista, o deputado Arnaldo Melo.

Fonte: Valor Econômico

Depressões estaduais

Depois de idas e vindas, anúncios informais e mudanças de planos, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), confirmou que vai se desincompatibilizar no fim de fevereiro para concorrer à uma vaga no Senado. A decisão foi tomada após o PT fluminense ter decidido que, antes de março, entregará os cargos na administração municipal. Os peemedebistas sonhavam em deixar a vaga de senador para o os petistas, caso estes apoiassem a candidatura de Luiz Fernando Pezão. Nada feito. Cabral concorrerá ao Senado.

Tarefa que não será das mais simples. O governador peeemedebista, após oito anos de mandato e de ter se vangloriado pela implantação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) nos morros cariocas, amarga uma depressão política profunda, com índices de aprovação irrisórios. E não está sozinho. Nesse seleto grupo encontram-se ainda a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB) — também reeleita — e a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini (DEM), que está em primeiro mandato.

Em situação menos grave está o governador da Bahia, Jaques Wagner. Mas, a exemplo de Cabral e Roseana, o petista terá grandes dificuldades em eleger o sucessor, o atual chefe da Casa Civil baiana, Rui Costa (PT). Temendo que o vice-governador Otto Alencar (PSD) se candidatasse ao Palácio de Ondina e interrompesse a gestão petista no estado, optou por ficar no cargo para tentar eleger Rui Costa e abrir para Otto a vaga ao Senado, em uma tentativa de fechar as portas para a aliança oposicionista DEM-PSDB-PMDB. O grupo deve lançar Paulo Souto (DEM) para o governo estadual e Geddel Vieira Lima (PMDB) para o Senado.

Roseana está em dúvida se concorrerá ou não ao Senado. A exemplo de Wagner, ela também terá extremas dificuldades em eleger o sucessor no Maranhão. O favorito até o momento é o pré-candidato do PCdoB, Flávio Dino. Ela tem demonstrado disposição de não disputar novos cargos eletivos, mas tem sido pressionado pela família, sobretudo pelo pai, José Sarney (AP) a concorrer em outubro. "Creio que ela não terá dificuldades em se eleger, já que os demais pré-candidatos ao Senado são nomes inexpressivos. Se Dino fosse candidato ao Senado ou ela à reeleição, a vitória seria quase impossível", acredita o ex-presidente do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), Antonio Augusto Queiroz.

A situação de Rosalba Ciarlini (DEM-RN) é diferente, mas também dramática. Governadora de primeiro mandato, ela é a pior administradora estadual, de acordo com pesquisa recente do Ibope. "No momento certo, o partido vai se reunir e decidir qual será o melhor caminho para o DEM do Rio Grande do Norte", declarou o presidente nacional do partido, José Agripino Maia. Sinal quase inequívoco de que o partido não conta com mais quatro anos de Rosalba. (PTL)

"No momento certo, o partido vai se reunir e decidir qual será o melhor caminho para o DEM do Rio Grande do Norte" José Agripino Maia, presidente nacional do DEM

Os enrolados
A situação de alguns governadores nas eleições de outubro

Sérgio Cabral Filho, Rio de Janeiro
» Desgastado após as manifestações de junho de 2013, Cabral concorrerá ao Senado, mas patina na aprovação popular e não sabe se elegerá o sucessor

Roseana Sarney, Maranhão
» Roseana já tinha dificuldades na administração. Complicou-se mais ainda após a rebelião no presídio de Pedrinhas. Deve sair ao Senado, mas dificilmente elegerá o sucessor

Rosalba Ciarlini, Rio Grande do Norte
» Teria direito à reeleição, mas está com o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Recorreu ao TSE e aguarda a resposta. Governadora pior avaliada nas pesquisas, ainda é questionada pelo próprio partido, o DEM, incomodado com o flerte entre ela e a presidente Dilma Rousseff

Jaques Wagner, Bahia
» Também já está reeleito, mas decidiu ficar até o fim do mandato para evitar que o vice, do PSD, assumisse o governo e dificultasse o esforço de manter o PT mais quatro no comando do estado. Ainda enfrenta a concorrência acirrada da frente de oposição: PSDB, DEM e PMDB

Fonte: Correio Braziliense

De olho no eleitor da periferia, políticos reforçam discurso social

Guilherme Serodio e Renata Batista

RIO - Com a perspectiva de uma das eleições mais fragmentadas da história, os pré-candidatos ao governo fluminense já elegeram seu alvo prioritário: os bairros e municípios da periferia da região metropolitana do Rio, que concentra 74% da população do Estado. A decisão considera o peso do eleitorado dessa área: foi lá que apostaram os candidatos vencedores nas últimas três eleições ao Palácio Guanabara. Este ano, a estratégia é contemplada tanto pela máquina governista do PMDB, quanto pelos candidatos de oposição, com um discurso fortemente calcado na prestação (ou crítica) ao serviço público.

"Tradicionalmente, a batalha eleitoral foca no voto de opinião da Zona Sul, Centro e parte da Zona Norte, que nessa eleição tende a ficar muito fragmentado. É por isso que os candidatos estão dando pouca atenção a esses eleitores. Para estes, a estratégia é dizer que está ruim com [o governador Sérgio] Cabral [PMDB] e pode ficar pior com [o deputado federal e pré-candidato ao governo do Rio Anthony] Garotinho [PR]
", resume o cientista político Cesar Romero Jacob, responsável por uma análise cartográfica que colocou no mapa, pela primeira vez, o percentual de votos nas últimas eleições ao governo do Rio. Os mapas mostram a repetição do desempenho tanto dos vencedores - Rosinha Garotinho (2002) e Sérgio Cabral (2006 e 2010) - quanto dos perdedores - Benedita da Silva (2002), Denise Frossard (2006) e Fernando Gabeira (2010).

Sobreposto, o mapa de investimentos do governo estadual e da Prefeitura do Rio - ambos a cargo do PMDB - nas áreas de saúde, educação e infraestrutura, além de programas sociais, revela a priorização das mesmas regiões.

Partidário do vice-governador Luiz Fernando Pezão, pré-candidato do PMDB ao governo, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, aponta a estratégia de investimentos da máquina do partido: "Os BRTs [vias expressas de ônibus] estão todos na Zona Norte, na Zona Oeste. E tem o morar Carioca, de urbanização de favelas, que junto com o Bairro Maravilha urbaniza essas áreas", diz.

"Você não vai encontrar uma placa da prefeitura na Zona Sul. Não tem uma obra minha aqui. Amo a Zona Sul e acho que é uma marca do Rio, mas não precisa de investimento", afirma o prefeito.

Desde novembro, Cabral - com Pezão ao seu lado como coordenador de infraestrutura do governo - já entregou 406 casas do Minha Casa, Minha Vida em Queimados e outras 16 na favela do Pavão-Pavãozinho; lançou o programa Bairro Novo no município de Belford Roxo, e em bairros de Japeri, na Baixada; e inaugurou uma maternidade em Nova Iguaçu. O vice-governador Pezão ainda foi a Brasília pedir recursos federais para os municípios atingidos pelas chuvas do fim do ano na Baixada.

A Prefeitura do Rio fez um tour de inaugurações parecido. No mesmo período, o prefeito Paes entregou em Triagem, subúrbio do Rio, 520 imóveis do programa habitacional municipal Bairro Carioca. Na última quinta-feira, o governador entregou mais 1200 apartamentos do Minha Casa, Minha Vida em Barros Filho, Zona Norte da capital. No mesmo bairro, a prefeitura construiu recentemente um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI), modelo de escola para ensino básico lançado por Paes.

Para Romero, a efetividade das políticas sociais pode contar pontos a favor dos candidatos aliados da máquina governamental. Associada ao aumento da penetração de smartphones e redes sociais na periferia, pode ajudar a quebrar a tradicional influência de pastores e políticos locais. "Se os partidos souberem usar o recurso para enfraquecer o mecanismo de controle de pastores e lideranças regionais, pode ser um golpe no voto de máquina", diz.

Na avaliação de Romero, na periferia, é forte a influência dos pastores neopentecostais, mas existe também uma máquina de votos capitaneada por centros sociais - e assistencialistas - de deputados, prefeitos e vereadores. "Essa máquina da periferia não é de ninguém e vai na direção que o vento sopra", diz, citando políticos tradicionais da região, como Rosa Fernandes, que já foi do PSDB de Marcello Alencar, do DEM do Cesar Maia e do PMDB. Hoje no Solidariedade, foi lançada ao governo estadual em dezembro.

Sem contar com obras para mostrar, o senador Lindbergh Farias, pré-candidato do PT, também direciona seu discurso para o eleitorado da região. Para um petista próximo ao candidato, Lindbergh buscará o apoio de vereadores e líderes comunitários para tentar ganhar a disputa nessas praças.

O petista sustenta sua ação nas críticas aos investimentos do governo estadual, que aponta como direcionados à Zona Sul e Barra, regiões ricas da capital. Lindbergh critica até a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), carro chefe da política de segurança pública de Cabral, por focar nos bairros nobres da capital e desprestigiar outras regiões.

"[Junto com as UPPS] deveria ter ocorrido um planejamento na Baixada, São Gonçalo, Campo Grande. Isso não houve mas houve migração dos bandidos", disse em entrevista recente.

Na estratégia de aproximação, Lindbergh mira também os evangélicos - eleitorado cuja distribuição se assemelha à dos candidatos vencedores. Para isso, tem se aproximado do pastor Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, de quem conseguiu apoio público em outubro. A aproximação reflete no comportamento do senador em votações no Congresso. Em dezembro, Lindbergh foi o único senador do PT a votar contra um projeto de lei pela criminalização da homofobia. O voto foi contra a orientação do partido, mas elogiado por Malafaia.

A aproximação do petista com pastores evangélicos incomoda Garotinho, pré-candidato do PR, que tem no segmento um eleitorado cativo. "O mal dos metidos a esperto é achar que é fácil passar a perna em todo mundo. Esse é exatamente o caso do senador Lindbergh Farias. Sua campanha é baseada apenas em mentiras e enganações. Finge que defende os princípios cristãos para tentar ludibriar o povo evangélico", disse Garotinho em seu blog. "Quer se passar por oposição ao governo Cabral quando faz parte desde o início da administração estadual", disparou.

A aposta de Lindbergh é oposta à tradição do PT no Estado. Em disputas anteriores os candidatos do partido conquistaram mais votos na Zona Sul, Barra e Tijuca, bairros onde o nível médio de renda é mais elevado. "Mas não é com os votos da Zona Sul que se ganha eleição para governador", diz Romero. "A eleição no Rio é ganha com votos dos bairros populares da capital e da Baixada Fluminense".

O presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani, desdenha da estratégia do petista. "Hoje ele não tem o voto do eleitorado da esquerda da Zona Sul nem ao centro ou à direita na cidade do Rio e vai disputar um voto evangélico conosco, Garotinho e Crivella. A situação dele é muito delicada", diz Picciani, um dos líderes da máquina de centros sociais que mobiliza quase um terço da Assembleia Legislativa.

A necessidade de reconhecimento na região é lembrada até por políticos do PSDB, na discussão sobre a candidatura do treinador de vôlei Bernardinho. "O Estado não é Ipanema ou Leblon", diz um cacique que critica o nome associado à Zona Sul.

Para o presidente do Instituto Informa, Fábio Gomes, as pesquisas de avaliação do governo comprovam o impacto das obras na avaliação do eleitor. "Fizemos pesquisas antes e depois da entrega de obras do programa Bairro Novo [do governo do Estado]. Há uma clara recuperação no índice de aprovação do governo Cabral após as entregas", diz.

A tarefa de suplantar a força das lideranças locais, porém, tem contornos históricos. Em Santa Cruz, bairro com eleitores suficientes para eleger um deputado federal, dois estaduais e dois vereadores, a força de alguns desses líderes ultrapassa duas décadas. É o caso de Joilson Moço, que chegou a região há 24 anos, trazido de Campos pelo cunhado e também militante João Manuel Monteiro, aliado do ex-governador Leonel Brizola. Do PDT, passou ao PSDB de Marcello Alencar e hoje tem uma relação menos orgânica com o PMDB governista.

Segundo ele, a chegada de novos moradores, removidos de outras regiões, e a estratégia de investimento social da prefeitura e do Estado diluem a influência de lideranças locais. "A gente queimava pneu na Rio-Santos e conseguia um posto de saúde, uma creche. Hoje, bate no assessor do assessor e não consegue conversar nem com secretário", diz.

Para o diretor do Instituto do Trabalho e da Sociedade (Iets), Manuel Thedim, até iniciativas como a central de relacionamento da prefeitura, conhecida como 1746, podem resultar em uma decisão de voto mais independente por parte desse eleitor. "Esse canal nunca existiu, mas hoje permite o encaminhamento das demandas e está conquistando reconhecimento", acredita.

Fonte: Valor Econômico

Minha Casa Minha Vida sofre com fraude em cadastros

O segundo problema mais comum é a corrupção, como o pagamento indevido de vantagens a servidores públicos

A fraude na lista de beneficiados é o problema mais comum encontrado no Minha Casa Minha Vida, segundo levantamento que leva em conta as investigações abertas pelo Ministério Público Federal sobre o programa habitacional que é bandeira eleitoral da presidente Dilma Rousseff.

Desde o lançamento, em 2009, no governo Luiz Inácio Lula da Silva, os procuradores abriram 224 procedimentos, dos quais 82 são sobre as fraudes de cadastro.

O segundo problema mais comum é a corrupção, como o pagamento indevido de vantagens a servidores públicos. Há 26 procedimentos abertos sobre o tema.

A lista ainda inclui financiamentos irregulares, imóveis entregues em mau estado, questões ambientais, entre outros. Parte dos procedimentos virou ação civil pública. Ainda não há conclusão dos casos na Justiça.

O objetivo do Minha Casa Minha Vida é destinar habitação popular a famílias com renda de R$ 1.600 a R$ 5 mil. O Ministério das Cidades gere o programa. Com ajuda do Tesouro Nacional, a Caixa Econômica Federal financia construção e a compra dos imóveis por parte das famílias. As prefeituras fazem o cadastro de possíveis beneficiados.

Em Sergipe, a presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Jane Rocha, afirma que no Estado não está sendo cumprida a determinação legal de se reservar ao menos 6% das moradias para pessoas com deficiência e idosos. “Aqui as reclamações são gerais. Não há transparência. Os sorteios funcionam assim, você vai no município, no conselho de habitação e lá nós só ficamos sabendo do resultado.”

Após constatar possíveis desvios no processo de seleção dos beneficiados, o procurador regional dos direitos do cidadão, Ramiro Rockenbach, ingressou com uma ação civil em que pede que a União interrompa o repasse de recursos para quatro município: Aracaju, São Cristóvão, Lagarto e Itabaiana. “Temos denúncia de que está havendo todo tipo de direcionamento, de favores políticos. Com nossas ações na Justiça estamos insistindo que é preciso reorganizar todo esse processo”, diz Rockenbach.

Numa denúncia apresentada em Roraima, uma associação de moradores do Bairro Planalto, em Porto Velho, que estaria cobrando de forma ilegal uma taxa de inscrição aos postulantes.

Servidores da Caixa também são alvo de investigações devido a suspeita de receber propina em Brasília para a concessão de financiamento habitacionais vinculados ao programa.

Eleições - As irregularidades também incluem o uso eleitoral do programa por políticos.

Em 15 de novembro passado, por exemplo, o Ministério Público passou a investigar um provável candidato à deputado estadual do Amazonas que estaria cadastrando irregularmente motoristas de caminhão e ônibus com a promessa de contemplação de casas do programa.

Há também suspeitas de desvios no Ceará, com favorecimento de pessoas ligadas à prefeituras e a partidos políticos.

Diante da possibilidade de o programa também ser utilizado como barganha por candidatos nas próximas eleições gerais de 5 de outubro, o procurador regional eleitoral do Estado de Goiás, Ailton Benedito de Souza, se antecipou e encaminhou no final de dezembro do ano passado um ofício a todos os promotores eleitorais do Estado recomendando um acompanhamento da execução dos programas, ações e políticas públicas federais nos municípios goianos, com especial atenção ao Minha Casa Minha Vida.

“O uso promocional do programa, vendendo à população mais carente uma ilusão de que se trata de uma distribuição gratuita e farta de unidades habitacionais, revela-se assistencialismo nefasto, característico do patrimonialismo eleitoreiro, mesmo que antecipadamente ao período eleitoral legalmente previsto”, afirma o procurador em trecho do documento.

Parceria - O Ministério das Cidades, responsável pela operacionalização do programa Minha Cada Minha Vida, afirmou por meio da assessoria que as denúncias de irregularidades que chegam ao conhecimento da pasta passam por uma primeira apuração interna e, posteriormente, são encaminhadas aos órgãos de controle - um dos quais é o próprio Ministério Público Federal - para as devidas providências.

“O Ministério das Cidades responde a todos os procedimentos do Ministério Público, um dos órgãos que recebem as denúncias de irregularidades. Em alguns casos, o Ministério das Cidades encaminha ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal irregularidades para as devidas providências”, diz um trecho da nota oficial do ministério.

Por sua vez a Caixa Econômica Federal afirma que o cadastramento e a seleção de beneficiários cabem aos poderes locais.

Quanto ao inquérito em que se pede a investigação de fraudes no âmbito de uma das agências de Brasília, a Caixa informa que foi ela mesma que pediu a abertura do inquérito. “A Caixa reforça sua parceria com o Ministério Público Federal na prevenção e combate as práticas irregulares que atinjam a finalidade maior do Programa Minha Casa Minha Vida: permitir o acesso à moradia à população de baixa renda”, afirma o banco em nota oficial.

Fonte: Jornal do Commercio

PT oficializa entrada no bloco de oposição a Eduardo na Alepe

Decisão foi tomada sábado (18), na reunião do Diretório. Partido assumirá a liderança ou vice-liderança do bloco

Na reunião sábado  - a pruimeira do ano -, Diretório Estadual dor PT decidiu que participará da oposição ao governo Eduardo Campos (PSB) na Assembleia Legislativa, em uma ação articulada com o PTB do senador Armando Monteiro. A "oficialização" se dará nos próximos dias.

O PTB deixou o governo em outubro, por causa da pretensão de Eduardo de disputar a Presidência da República em um embate com a presidente Dilma Rousseff (PT), que disputará a reeleição. Armando vai disputar o governo do Estado e apoiará a candidatura Dilma.

Segundo a deputada Teresa Leitão, presidente estadual do PT, um parlamentar petista (ainda não está escolhido) deve ocupar a liderança ou a vice-liderança do bloco oposicionista na Assembleia Legislativa. A definição do cargo será tomada com o PTB.

Com a adesão do PSDB ao governo Eduardo, o tucano Daniel Coelho deixará a liderança do bloco.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

PT e PTB à frente da "nova oposição" a Eduardo na Alepe

Com as dificuldades do tucano Daniel Coelho de permanecer no cargo, Manoel Santos é o petista cotado para liderar a bancada

Após três semanas de indefinições, com o anúncio, no início do mês, da adesão do PSDB à gestão do governador Eduardo Campos (PSB) - até então o principal partido a fazer oposição ao governo socialista na Assembleia Legislativa (Alepe) -, deputados do PT e PTB decidiram tomar o comando da bancada. Na próxima quarta-feira (22), uma reunião dos oito deputados dos dois partidos deve eleger o novo líder do grupo.

As conversas em curso apontam para a escolha de Manoel Santos, atual líder da bancada petista. No último sábado (18), o Diretório Estadual do PT fez a primeira reunião do ano e aprovou a participação efetiva no bloco oposicionista, ocupando a liderança ou a vice-liderança da bancada. Caso Manoel Santos seja oficializado como líder, Augusto César (PTB) é cotado para ser o vice-líder.

Quando os postos estiverem definidos, caberá ao líder escolhido trabalhar na configuração da nova bancada, conversando com as demais legendas que ainda estão na oposição – o DEM, do deputado Maviael Cavalcanti, e o PMN, de Ramos –, e discutir a estratégia conjunta. Os partidos devem acertar temas e audiências públicas, por exemplo.

O PTB quer o PT no palanque do senador Armando Monteiro Neto (PTB) ao governo do Estado, em outubro, mas petistas locais resistem à aliança pelo desejo de lançar nome próprio. A atuação conjunta na Alepe significará mais um gesto de aproximação entre as duas legendas. A cúpula nacional do PT, inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já indicou que quer o apoio ao senador.

No entendimento do PTB, a liderança deve ficar com um petista por causa do embate nacional entre o PT e PSB, que lançará Eduardo Campos na disputa pelo Palácio do Planalto contra a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição.

Quando entregaram os cargos no governo Eduardo, PT e PTB afirmaram que assumiriam postura “independente” no Legislativo. Entretanto, em novembro, ao mesmo tempo em que ia se consolidando a candidatura do governador ao Planalto, petistas já avisavam que iriam engrossar o tom.

Hoje, o líder da oposição é o tucano Daniel Coelho. Ele ainda não assume que deixará a liderança, embora reconheça que o cenário aponta para “dificuldade” da sua permanência. Desde o dia 2 de janeiro, o PSDB ocupa a Secretaria de Trabalho e Qualificação e a presidência do Detran-PE.

“Não vou me apegar ao cargo, porque sei que posso exercer a função independente de ser líder”, disse Daniel à Rádio JC News, na sexta (17), ao garantir que continuará com postura crítica e fiscalizadora. Ele estipulou como prazo para aconteceram as definições o próximo dia 3, quando o Legislativo retoma os trabalhos, após o recesso parlamentar.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

PT pode quebrar aliança com PTB em corrida ao Senado do DF

PMDB indicou vice na chapa para a reeleição de Agnelo Queiroz ao governo distrital e abriu caminho para a tríplice aliança com o senador Gim Argello. Petistas de Brasília, porém, resistem a apoiar o trabalhista

Eduardo Miranda

Se a aliança nacional entre PT e PTB em torno da candidatura da presidenta Dilma Rousseff já está praticamente sacramentada, o mesmo não se pode dizer sobre as tentativas de acerto entre os dois partidos para a corrida ao Senado em Brasília. No PT regional, a resistência em apoiar a reeleição do senador Gim Argello (PTB) cresce na mesma proporção em que o diretório do partido tenta dar visibilidade aos nomes do deputado licenciado e atual secretário de Habitação Geraldo Magela e do deputado distrital Chico Leite.

Partido da base aliada em Brasília e no governo federal, o PMDB vai reeditar com o PT a chapa para reeleger o governador Agnelo Queiroz, indicando mais uma vez o peemedebista Tadeu Filippelli como vice. Por esse motivo, o PMDB já havia dado indícios de que deixaria o caminho livre para o PTB indicar o senador e, assim, compor uma tríade partidária. O PT nacional, por sua vez, não tem problemas em apoiar a reeleição de Gim ao Senado, mas, por enquanto, não quer desrespeitar o processo de decisão do diretório distrital, que deve apresentar sua decisão até maio.

No PTB, já se fala em rompimento da aliança, com o argumento de que a reeleição de Gim Argello no Congresso era prioridade em Brasília e foi vendida dentro do pacote da coligação nacional da legenda com o PT para reeleger a presidenta Dilma. Receosos com a ruptura, alguns petebistas articulam o nome do senador para a Câmara. A ideia seria a de aproveitar a popularidade de Gim em Brasília e torná-lo puxador de votos nas eleições majoritárias.

Cientista político da consultora Arko Advice, Cristiano Noronha diz que ainda é cedo para definir o cenário dos candidatos ao Senado, mas assinala que o PTB pode ter alguma vantagem sobre o PT no futuro, já que o governador Agnelo Queiroz enfrentará "uma reeleição difícil por conta da alta rejeição". Na pesquisa CNI/Ibope de dezembro do ano passado, apenas 16% das pessoas ouvidas no Distrito Federal aprovavam o governo de Agnelo.

Nome que oferece riscos à reeleição de Gim, o deputado federal José Antônio Reguffe (PDT) era apontado dentro de seu partido como candidato natural ao Senado. Porém, pedetistas já têm falado na candidatura de Reguffe para o governo distrital. A lógica seria capitalizar a popularidade do deputado, o mais votado nas eleições de 2010, com 266 mil votos. Em pesquisa realizada pelo instituto Vox Populi, em setembro do ano passado, o deputado aparecia tecnicamente empatado com a deputada distrital Eliane Pedrosa (PPS), liderando a corrida ao Senado, com 14%.

Assim como Reguffe, Eliane, que era o nome do PPS para o Senado, pode se aproveitar da popularidade para tentar fazer frente à reeleição do governador Agnelo. Há menos de dois meses, o partido aprovou, durante um congresso da legenda no Distrito Federal, o nome da parlamentar como pré-candidata ao governo de Brasília.

A decisão sobre a candidatura de Eliane, porém, será definida somente a partir de maio, quando acontecem as convenções estaduais que irão oficializar os nomes dos candidatos.

A nove meses das eleições, a indefinição de nomes para a vaga única do Senado é natural, explica Cristiano Noronha. Para o cientista político, a disputa fica a reboque da movimentação dos partidos em torno de candidatos ao governo do Distrito Federal. Daí, o fato de o senador Gim Argello ser o único que declarou pública eclaramentesua intenção de concorrer ao Senado.

O fenômeno se repete, também, no Psol, onde Toninho do Psol foi escolhido no congresso regional do partido como o pré-candidato ao governo da capital federal. Ex-governador e ex-senador que renunciou em 2007 para escapar de um processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética, Joaquim Roriz (PRTB) já cogitou concorrer ao Senado, mas, assim como os demais, tenta articular sua volta ao governo do Distrito Federal.

Fonte: Brasil Econômico

Inflação sobe na estimativa da pesquisa Focus

Para 2015, a projeção passou de 5,50% para 5,60%. Há quatro semanas, estava em 5,50%

A projeção de inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2014 subiu de 6,00% para 6,01%, de acordo com a pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira (20) pelo Banco Central. Há quatro semanas, a estimativa estava em 5,97%.

Para 2015, a projeção passou de 5,50% para 5,60%. Há quatro semanas, estava em 5,50%. A projeção de inflação para os próximos 12 meses recuou de 5,99% para 5,98%, conforme a projeção suavizada para o IPCA. Há quatro semanas, estava em 6,05%.

Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da pesquisa Focus, a previsão para o IPCA em 2014 no cenário de médio prazo segue em 6,19%. Para 2015, a previsão dos cinco analistas continua em 6,00%. Há um mês, o grupo apostava em altas de 5,90% para 2014 e 5,80% para 2015.

Entre todos os analistas ouvidos pelo BC, a mediana das estimativas para o IPCA em janeiro de 2014 subiu de 0,74% para 0,75%. Há quatro semanas, estava em 0,72%. Para fevereiro, a projeção passou de 0,64% para 0,65%. Há quatro semanas, estava em 0,64%.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PDT abre palanque para Aécio e Campos

Fábio Brandt

BRASÍLIA - O PDT, partido que apoia o governo da presidente Dilma Rousseff, incentiva a aproximação de um de seus principais candidatos a governador neste ano com os oposicionistas Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Trata-se do senador Pedro Taques, do Mato Grosso, considerado pela cúpula pedetista como um de seus filiados com mais chances de ser eleito este ano para governar o Estado.

Desde que chegou ao Senado, em 2011, Taques não se diz governista nem oposicionista. Intitula-se "independente". A parceria que ele busca no Mato Grosso, no entanto, é muito mais próxima da oposição à Dilma e ao PT. Ele tem negociado a formação de uma aliança com o PSDB, o PSB, o DEM, o PPS, o PV e o PTB.

PSDB, DEM e PPS são, no Congresso, os portadores do discurso oposicionista mais contundente contra o governo. Estiveram juntas na eleição de 2010 apoiando José Serra. Já o PSB tornou-se o mais novo adversário do Palácio do Planalto ao lançar a candidatura de seu presidente, Eduardo Campos, na corrida presidencial. O PTB e o PV, por sua vez, ainda não definiram posição para a eleição nacional.

Cauteloso, Taques afirma que a formalização da candidatura "está um pouco longe" e que a aliança "ainda não está definida". Mas o vice-presidente nacional do PDT, deputado cearense André Figueiredo, assegura que a cúpula partidária aprova as negociações conduzidas pelo colega mato-grossense e que a sigla "não abre mão da candidatura [de Pedro Taques], que é irreversível".

Segundo Figueiredo, é inaceitável que um candidato a governador do PDT faça campanha para um presidenciável que não seja o escolhido pela direção nacional do partido. De acordo com essa lógica, se a sigla decidir ficar ao lado do PT e apoiar a reeleição de Dilma, Pedro Taques não poderá pedir votos para Aécio nem para Eduardo Campos. "Mas a gente compreende que o Aécio suba no palanque dele. O palanque é do Pedro, não do Aécio. Apoio não se recusa", afirma o dirigente.

Apesar de ser uma sigla da base governista no Congresso Nacional, o PDT dá sinais ambíguos com relação à eleição presidencial. Seu presidente nacional, o ex-ministro Carlos Lupi, já indicou que pode apoiar a reeleição de Dilma ou embarcar nas campanhas de Aécio ou de Eduardo.

Outro indício do caráter oposicionista da candidatura de Pedro Taques é o fato de ele topar disputar o governo do Estado contra um candidato que tem chances de ser apoiado por Dilma. Fontes do PT falam sobre a possibilidade de apoiar, no Mato Grosso, o empresário Eraí Maggi, filiado ao PP e primo do senador Blairo Maggi, filiado ao PR. Outra hipótese, menos provável, é que o PT consiga convencer o juiz Julier Sebastião da Silva a entrar no partido e disputar o governo.

Taques está em seu primeiro mandato de senador. Elegeu-se em 2010, ano em que abandonou a carreira que fez como procurador da República para poder disputar a eleição. Eleito, adotou um discurso de combate à corrupção para seu mandato. É autor do projeto que propõe tornar a corrupção um crime hediondo e da proposta de emenda à Constituição (PEC) que exige ficha limpa das pessoas que ocupam cargos públicos de confiança. Ele desfruta de prestígio entre líderes da oposição.

O presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), diz que incentiva a formação da coligação de seu partido com o PDT de Pedro Taques. Segundo ele, o que ainda é preciso definir é a composição da chapa. O DEM espera emplacar Jayme Campos como candidato ao Senado na chapa de Taques. O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), diz que "o Pedro Taques tem se revelado um grande parlamentar e que merece todo o respeito, não apenas como político". Segundo Freire, a situação no Mato Grosso já está "bem encaminhada".

Fonte: Valor Econômico

Aécio Neves: Truques & riscos

O conhecido "jeitinho brasileiro" ameaça ganhar status de política de Estado, tal a frequência com que tem sido usado como estratégia de repaginação dos indicadores macroeconômicos. Os exemplos vão se acumulando, dia a dia.

Para calcular a inflação, nada melhor que contar com o controle político sobre preços administrados em setores estratégicos. E por que não atrasar a transferência de R$ 7 bilhões a Estados e municípios, inclusive recursos voltados para a saúde pública, prejudicando milhões de brasileiros, para dar a impressão de que cumpriu-se o superavit primário?

A inventividade do governo parece não ter limites.

É preciso reconhecer a habilidade dos truques contábeis e o uso de artifícios para melhorar a performance das contas públicas. Se há brechas legais, parece que a ordem é aproveitá-las.

Neste campo instalou-se um autêntico vale-tudo, como a estarrecedora operação da Caixa Econômica Federal, ainda sob grave suspeição, na transferência de recursos de contas de caderneta de poupança pretensamente inativas para engordar o seu balanço. É a velha tática: "se colar, colou"...

O resultado da economia brasileira certamente seria melhor se o esforço gasto em maquiar números fosse efetivamente aplicado no aperfeiçoamento da gestão. Instituições que guardam histórico compromisso com o rigor, a transparência e o profissionalismo, como o Banco Central, estão cada vez mais isoladas diante do descontrole fiscal generalizado e, não por acaso, patinam na implementação do ajuste necessário para amenizar o ambiente inflacionário.

"Estamos no limiar de um novo ciclo econômico do Brasil", disse o ministro da Fazenda, para justificar o injustificável. A verdade é que, infelizmente, o Brasil está perdendo oportunidades preciosas de ativar o seu crescimento, como a Copa, pródiga em promessas de realizações e pífia em resultados, até o momento.

Os investimentos em infraestrutura são praticamente inexistentes, em face ao que foi prometido. Em termos de desempenho, o que temos a mostrar à comunidade internacional, para nossa vergonha, é o segundo pior crescimento na América do Sul, atrás apenas da Venezuela.

A desconfiança generalizada da sociedade não é uma peça ficcional criada pelos críticos do governo, mas o resultado de uma gestão ineficaz, pouco transparente e incapaz de reintegrar o país a uma rota de desenvolvimento e de ampliação das conquistas sociais.

É urgente agir, com coragem e responsabilidade, para não permitir que o país retroceda e coloque em risco as conquistas que nos trouxeram até aqui.

Uma das principais, a credibilidade, nem mesmo o "jeitinho brasileiro" foi capaz de assegurar. Esta, infelizmente, já perdemos.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Portal do PSDB &Folha de S. Paulo

Renato Janine Ribeiro: Para além da inveja do tênis

Terminou a brincadeira de injustiça social

Na década de 1990, um sintoma aterrorizou o país: cresciam relatos de meninos que agrediam ou até matavam outros, um pouco mais ricos, para roubar um par de tênis de grife, no que parecia ser o paradigma do crime por motivo fútil. Cunhei a expressão "inveja do tênis", para explicar por que algo tão supérfluo, vaidoso ou vão quanto um item de conforto pode mobilizar paixões que a luta por grandes necessidades da vida nem sempre desperta. Sustentei que as "causas nobres", como a educação, a saúde, a segurança, o transporte, o emprego, não conseguiam gerar o investimento psicológico que um artigo de grife suscita. O caso dos rolezinhos traz de novo à tona esse tema, mas numa chave bem diferente.

Lembremos as manifestações de 2013. Em julho de 2011, Juan Arias, que há anos cobre com competência para o jornal espanhol "El país" o que acontece no Brasil, lamentava: por que investimos tanta energia na Parada Gay - que hoje, em São Paulo, rivaliza com o carnaval carioca em mobilização de libido - e não depositamos sequer uma parcela disso na luta por questões prementes, como poderiam ser as que mencionei acima? Pois as manifestações de maio e junho de 2013 devem ter realizado alguns sonhos do correspondente espanhol. Elas marcaram uma grande novidade em nosso país, com multidões indo às ruas para traduzir suas carências, suas necessidades, em direitos, em exigências, em política. Ponto para o Brasil.

Já os rolezinhos parecem voltar à lógica do tênis. O que os jovens pobres vão fazer nos shoppings é clamar por sua integração na sociedade de consumo. Querem, como todos os de sua idade, desfrutar do prazer. Há um charme nisso, que inclui o uso do verbo "pegar" (que na sua polissemia herda o lugar de outra palavra ambígua, que os mais velhos não entendiam, o "ficar" de dez anos atrás) nas convocações que circulam no Face. Mas algumas grandes mudanças precisam ser apontadas - e celebradas.

Primeira: os rolês não são ações individuais, mas coletivas. A ação coletiva tem mais chances de construir o futuro, de mudar o mundo. Segunda: as convocações claramente repudiam o crime. Os rolês são chamados para serem atos não-violentos.

Recomendo o fascinante filme "O mordomo da Casa Branca" (2013), que mostra décadas de preconceito racial vistos por um mordomo que serve a sucessivos presidentes dos Estados Unidos. Destaco uma cena. Em 1960, vários jovens negros entram numa lanchonete do Sul, sentam-se do lado proibido para os "de cor" e pedem para serem atendidos. Não o são. Acabam espancados por brancos da elite local. O pedido - educadíssimo, sem violência alguma - para "ser atendido" num lugar em que eles não são bem-vindos aproxima o caso norte-americano do brasileiro. Uma diferença é que no Brasil a segregação não é legal - mas mesmo assim existe. Outra é que nossos jovens pobres estão indo aos shoppings para rir, brincar, ocupar o espaço com sua alegria.

Daí, terceira característica: os rolezinhos são atos políticos. Com ou sem consciência disso, os participantes se reúnem - em vez de atuar sozinhos - para exigir direitos. É incrível o poder da união. Longe do que o pensamento mais conservador teme, unir forças não leva ao crime, mas afasta dele. Soluções individuais, para problemas coletivos, são as piores. São elas que levam alguns a roubar, sonegar, fraudar para resolver um problema que não é apenas deles. Já, quando a solução se torna coletiva, pode até haver a opção quadrilha; mas esta é sempre limitada: a união de bandidos não resolve problemas sociais, apenas melhora a vida de parte deles. Quando se ganha escala numa mobilização, a tendência é reivindicar soluções para todos. Não há dúvida de que a escala, como o elefante da cantiga, incomoda muita gente. Mas é esse incômodo que coloca as questões na agenda política.

Tenho plena compreensão do medo que muitos sentem quando veem entrar uma multidão de desconhecidos no shopping. Posso me colocar no lugar deles. Mas o ser humano é dotado de razão. Não pode pensar com base só no medo. A questão não é mais, apenas, a desigualdade social clamorosa, a intensa exclusão dos mais pobres, aquilo que Cristovam Buarque chama há décadas de "apartheid social". Até aí, trata-se de fatos da realidade. A questão é que, desde a democratização de 1985, essa desigualdade foi-se tornando injustificável e intolerável. Amélia, "que achava bonito não ter o que comer" (1942), é hoje apenas um verso do passado. O playboy brasileiro da opereta "La vie parisienne" (1866), ladrão e corrupto no país, homem fino na Europa, não faz mais rir. Pobres, negros, mulheres, indígenas e gays querem a plenitude de direitos, já. Passou o tempo de qualquer discurso que lhes peça paciência. Eles não acreditam mais em promessas para o futuro. Por isso é tão significativo que a bola da vez sejam os rolês. Se há algo que caracteriza o prazer, é sua imediatez. Quer-se prazer já, não daqui a dez anos. A diversão que não rolar hoje, não é a mesma que poderá rolar sábado que vem - menos ainda, quando estiverem casados, empregados, com filhos.

Um mundo acabou. Durante décadas, nos protegemos dele atrás de grades - no prédio ou no shopping, ou as grades simbólicas da escola, do hospital e do carro melhores. Isso não tem mais como durar. A boa nova é que a exigência de que isso mude, seja em junho de 2013, seja em janeiro de 2014, tem-se feito dentro da lei e com nenhuma ou pouquíssima violência. Mas o tempo urge. A brincadeira de injustiça social terminou. Quem quiser continuar jogando esse jogo só vai gerar problemas - para si e para os outros.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

Ricardo Noblat: Mesmo sem o PT, Cabral votará em Dilma

“Vamos tentar manter uma relação (com o PMDB) amistosa”
Lindbergh Farias, aspirante a candidatura do PT ao governo do Rio

O governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) alterna momentos em que ainda acredita no remoto apoio do PT ao vice Luiz Antonio Pezão, candidato à sua vaga, com outros em que não acredita mais. O PT anunciou que deixará o governo dele no próximo dia 28. Cabral se acha credor de Lula. Duas vezes o apoiou para presidente. No segundo turno da eleição de 2010, Dilma saiu do Rio com larga vantagem sobre José Serra.

Cabral está convencido de que fez uma boa administração ao longo de dois mandatos com destaque para a área da segurança pública. Atribui aos desafetos, Anthony Garotinho à frente, parcela do seu índice de ruim e de péssimo medido pelas pesquisas de opinião. A campanha deles para enlamear sua imagem foi grande e, de certa forma, bem-sucedida. Cabral deu-se conta disso quando era muito tarde.

Admite, contrariado, que contribuiu para sua própria desgraça ao usar jatinhos de Eike Batista em viagens de lazer. E quando se deixou fotografar em Paris feliz da vida ao lado do dono da Delta Construções, Fernando Cavendish, o maior fornecedor de serviços ao governo do Rio. Cavendish - soube-se depois - meteu-se em negócios sujos com o ex-bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Repele, porém, qualquer insinuação de que tenha cometido algum ato desonesto. Não poderia ser diferente. E compreende que tenha aumentado o grau de exigência dos eleitores. Eles simplesmente não parecem mais dispostos a tolerar qualquer tipo de comportamento dos políticos. Aí Cabral foi relapso. Nem mesmo isso, imagina, justificaria o rigor com o qual seu governo está sendo avaliado.

Se antes era natural que tivesse um candidato ao governo para chamar de seu, agora considera imprescindível. Cabral precisa de uma voz para defendê-lo durante a campanha. Pezão não tem carisma, e nem sorri com frequência. Mas foi o administrador da administração Cabral. Viajou mais ao interior do Estado do que a Paris. Esteve presente em todos os momentos bons e ruins do governo.

Pezão está lá embaixo nas pesquisas – não importa. Como disse o deputado Paulo Melo (PMDB), presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro: “Só em filme de Kung Fu meia dúzia vence cem”. Cabral, o PMDB e a máquina do governo serão os mais ativos cabos eleitorais de Pezão. É razoável que ele obtenha entre 20% e 30% dos votos e que se credencie a disputar o segundo turno. Contra quem? Contra Garotinho - quem sabe?

Assim como o PMDB, em ocasiões especiais, pressiona o presidente da República por mais cargos ameaçando abandoná-lo, Cabral sussurra que ele e sua turma poderão não suar a camisa para reeleger Dilma. Ou até mesmo apoiar Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB) para derrotá-la caso o PT não marche unido com Pezão. É blefe. Cabral não é homem de aventuras. E sabe que, vencido no primeiro turno, o PT tenderá a apoiar Pezão no segundo.

Se quiser, Dilma contará com quatro palanques certos no Rio: de Pezão, Garotinho (PR), Marcelo Crivella (PRB) e Lindbergh Farias (PT). Por ora, o ex-prefeito César Maia (DEM) está órfão de candidato a presidente. O PT só voltaria ao regaço de Cabral se até abril Lindbergh despencasse nas pesquisas. Improvável. Pela primeira vez em sua história, o PT tem a chance de eleger simultaneamente os governadores de Minas Gerais, Rio e São Paulo.

Acautele-se Dilma se não for reeleita no primeiro turno. Aí, sim, Cabral e outros nomes do PMDB poderão largá-la. Os políticos, em geral, não gostam dela. Mas a temem.

Fonte: O Globo

José Roberto de Toledo: Nas ondas do Congresso

A política vem em ondas. Como um mar seria poético demais. Melhor comparar com uma rádio e sua programação repetitiva. O terceiro ano de governo é sempre o mais crítico na relação dos presidentes petistas com o Congresso. Foi assim em 2005 e 2009 para Lula. Repetiu-se com Dilma Rousseff em 2013. Os motivos vão além da coincidência. Desgaste, barganha e chantagem.

Dilma perdeu 16 votações na Câmara no ano passado. Foi o dobro das derrotas que ela sofreu em 2011 somadas às de 2012. Seu núcleo duro de apoio - aqueles parlamentares que votam ao menos 9 em cada 10 vezes segundo a orientação do governo - caiu de 306 deputados no primeiro ano de mandato para 123, quase todos petistas ou do PC do B, em 2013.

É notícia, mas não chega a ser novidade. No seu ano de estreia na Presidência, Lula teve 309 deputados federais ponta-firme. Dois anos depois, o grupo estava reduzido a menos de um terço: 91. No segundo mandato, mesmo o presidente tendo superado o desgaste do mensalão e estar surfando a onda do consumo de massa, o filme passou de novo: os 329 deputados do núcleo duro de apoio no primeiro ano viraram 197 no terceiro ano de governo.

A ciência política um dia explicará esse ciclo de altos e baixos previsíveis dos presidentes e suas bases de apoio no Congresso. Até lá, resta se conformar com o empirismo jornalístico.

O terceiro ano é crítico porque há o acúmulo das denúncias que se abatem sobre a maioria dos governos, sem contar o desgaste de três anos de relação franciscana entre Legislativo e Executivo. Mas é também o ano de criar dificuldades para vender facilidades no momento crucial para todos, o quarto ano, o ano da reeleição.

Às vésperas de barganhar todo o tempo de propaganda na TV e no rádio que puder conseguir, o presidente da vez dificilmente irá às últimas consequências em um confronto com os partidos que lhe dão sustentação no Congresso. Mesmo traído em uma votação ou outra, tende a ceder. E para garantir que isso ocorra, os aliados mostram as garras e lhe impõem derrotas no terceiro ano.

O PMDB é o mestre nesse jogo. Sua taxa de apoio ao presidente é sempre mais alta nos dois primeiros anos. Mas está longe de ser o único a praticar esse caxangá de votos, pondo no primeiro biênio, para tirar na sequência. PSB e PP, apesar de terem sido dos mais fiéis aos petistas, adotam a mesma tática.

Primeiro governo Lula: 89% dos votos do PMDB foram a favor do presidente nos dois primeiros anos, mas a taxa caiu para 74% no terceiro. Não foi por causa do mensalão? Sim, mas não só. Ou o fenômeno não teria se repetido no segundo mandato: os 92% de apoio nos dois anos inicias caíram para 88% no ano subsequente. Com Dilma, a queda voltou a ser grande: de 90% para 77%.

O PSB caiu de 96% de votos pró-Lula no biênio 2003/2004 para 84% em 2005. No mandato seguinte, caiu de 93% para 88%, entre 2007/2008 e 2009. E, já sob Dilma, passou de 92% em 2011/2012 para 77% em 2013. No PP, as quedas, nos mesmos períodos, foram de 83% para 78% com Lula-1, depois de 93% para 87% em Lula-2, e de 90% para 82% durante o governo Dilma. Parece um relógio.

De tão repetitivo, esse ciclo de toma lá, dá cá com tira-põe-deixa-ficar acaba fazendo o jogo político previsível. Se valer o retrospecto, o quarto ano de Dilma será melhor do que o terceiro. Dá até para entender: com os próprios mandatos em jogo, ninguém quer arriscar-se a esticar demais a corda e vê-la arrebentar bem no meio da campanha eleitoral.

Além disso, prevalece outra onda do Congresso: o último ano de mandato dos deputados é ainda menos produtivo do que os três primeiros. Com menos embates em plenário, diminui a oportunidade de impor uma derrota ao governo. Em 2006, houve um terço a menos de votações nominais do que na média dos anos anteriores. Em 2010 a redução foi de dois terços. Imagine com a Copa no Brasil.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Luiz Carlos Azedo: Eles querem mais diversão e arte

Os padrões de análise e de comportamento da nossa política não conseguem explicar o rolezinho. Provocam, porém, narrativas à esquerda e à direita que vão da tentativa de capitalizar as manifestações dos jovens de baixa renda nos shopping centers, como se fossem uma forma de contestação das desigualdades sociais, ao apelo à ordem e à consequente ação repressiva, por encarar o fenômeno como mera delinquência, ou seja, um caso de polícia. Nem uma coisa nem outra. Essa garotada das periferias e dos subúrbios resolveu zoar nos modernos templos do consumo por outros motivos, que precisam ser melhor estudados.

O antropólogo angloamericano Victor Turner (1920-1983) talvez nos ajude a entender o que se passa. Antes de se radicar nos Estados Unidos, o escocês fez seu trabalho de campo na aldeia dos Ndembu da Zâmbia, entre 1950 e 1954. Resultaram dois clássicos da antropologia social: O processo ritual (Vozes) e Floresta de símbolos (Eduff). Seus estudos nos confins da África servem de referência para a análise de certos fenômenos da sociedade pós-moderna, na qual categorias, identidades e símbolos da sociedade industrial foram desconstruídos. As "performances", por exemplo.

Nas atividades artísticas e culturais, nas disputas políticas, nas relações de trabalho, nas redes sociais e na vida mundana, ninguém se estabelece sem uma boa performance na "sociedade do espetáculo". Até que ponto nossos jovens de baixa renda, ao se organizarem em rede e se reunirem em massa nos shopping centers, não estão tentando apenas traduzir para o restante da sociedade que eles existem em seu próprio mundo, com lideranças e estilo de vida próprios? Que não querem só a comida que a renda lhes garante, mas também diversão e arte, como na música dos Titãs: "A gente quer inteiro/E não pela metade..."

Na sociedade pré-estabelecida pare esse jovens, há ritos para tudo, da festa de 15 anos ao casamento, da entrega de diplomas à posse de políticos. Na visão de Turner, porém, certos ritos de passagem, ao se realizarem, criam uma nova hierarquia entre seus participantes. Hipoteticamente, por exemplo, um preto velho, num passe de umbanda, pode soprar a fumaça do charuto na cara da madame sem perder o emprego de motorista; o mesmo ocorre num desfile de escola de samba, quando a empregada se veste da rainha e leva a patroa para desfilar como simples figurante. A propósito, tanto o samba quanto a umbanda foram muito perseguidos.

Mobilidade e status
A verdade é que mobilidade social por meio da educação e da renda, por si só, não garante um novo status para os indivíduos. O discurso oficial sobre a nova classe média diz o contrário, mas entre o marketing do Palácio do Planalto e a vida como ela é há uma grande distância. Essa mudança de status também exige reconhecimento, pois sua aceitação pela sociedade não é tão simples assim. De certa forma, o rolezinho é a teatralização e a dramatização de algo que está acontecendo com 50 milhões de jovens entre 15 e 29 anos, dos quais 10 milhões não estudam nem trabalham. O acesso dos jovens de mais baixa renda, principalmente os que trabalham, a certos bens de consumo obedece a uma vontade e uma simbologia que não estão no "manual cultural" de quem habitualmente frequenta os shopping centers. Isso nada tem ver com luta política.

Ritos levantam contradições e divergências, costumam fugir à coerência e ao senso comum. Ao mesmo tempo, são elementos de conscientização da vida social. Aquilo que a sociedade é e deve ser (a ordem vigente e sua manutenção) se legitima naquilo que ela não deve ser (as contradições expostas pelos rituais). O rolezinho não deixa de ser um rito de passagem, revela formas e características da nossa estrutura social que estavam confinadas territorialmente, em verdadeiros guetos culturais. Marca, reivindica e legitima a transição de um estado social para outro. Se não é aceito completamente, deve ser compreendido culturalmente, pois revela certas barreiras do status quo. Como todo rito de passagem, é melhor que seja bizarro (aquilo que não faz sentido) do que violento, que seria a negação expressa fisicamente ao convívio democrático. Talvez essa negação seja mais comum entre os jovens nem-nem da classe média tradicional, com seus "pegas" de automóveis e brigas em boates. Sem falar nos blacks blocs, mas aí já entraríamos em outra seara.

Fonte: Correio Braziliense

Marcus Pestana: A tragédia do Maranhão e o sistema penitenciário

Qualquer pessoa sensível e com o mínimo de compromisso social não pode ter dormido tranquila após as imagens desconcertantes vindas da penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão. Cabeças degoladas, dezenas de mortes, retaliações do crime organizado resultando na morte de uma criança, autoridades acuadas são faces da tragédia diária vivenciada pelo sistema penitenciário nacional. Este é o nosso Brasil dos contrastes, o mesmo que exporta jatos da Embraer e explora o petróleo no pré-sal. As cenas correram o mundo e o desgaste na imagem do país foi inevitável.

A criminalidade é um fenômeno crescente no cenário pós-moderno brasileiro. Nossos índices de homicídios intencionais são muito maiores que os de outros países. Iniquidades sociais ainda inaceitáveis se combinam com a expansão do tráfico, e o consumo de drogas, verdadeira epidemia contemporânea, com a consolidação do crime organizado e com a difusão de posturas antissociais, como violência nos estádios de futebol ou nos encontros de gangues de jovens.

Urge uma tomada de consciência e posição de toda a sociedade brasileira. Não é uma questão que será resolvida só no âmbito governamental, mas as políticas públicas também têm que demonstrar maior eficácia.

A abordagem passa pelo aprofundamento do combate às desigualdades sociais e instalação de um sistema educacional qualificado que forme crianças e jovens para a vida, para o trabalho e para a cidadania. Combater sem tréguas as drogas com medidas preventivas e repressivas eficazes.

Aprimorar a legislação penal, visando uma maior agilidade decisória e o equilíbrio na penalização do crime. O governo federal, hoje, responde por menos de 20% dos investimentos em defesa social. É preciso que o governo federal faça mais no controle das fronteiras, combate ao contrabando de armas e drogas, além de parcerias com Estados e municípios para qualificar o aparato policial e o sistema penitenciário.

Minas tem se destacado, com todas as dificuldades presentes. Experiências como o Fica Vivo, o Centro de Referência à Gestante Privada de Liberdade, a ala para gays e travestis em São Joaquim de Bicas, as 28 APACs e a primeira PPP do Brasil, em Ribeirão das Neves – que atraiu investimentos privados da ordem de R$ 230 milhões, na mais avançada experiência de gestão de qualidade e ressocialização –, são luzes de esperança dentro de um quadro nacional sombrio.

Não pode dormir em paz um país que investe, per capita, dez vezes mais, a cada mês, para manter milhares de presos do que em crianças e jovens nas escolas públicas. Não pode se orgulhar muito de seus avanços uma sociedade que convive com tragédias como a de Pedrinhas. Não pode ficar tranquila a população que tem à frente uma presidente que, com a agilidade de uma tartaruga, declara dias após os acontecimentos, por oportunismo político, alienação ou incompetência, que estava seguindo com atenção os eventos. E só.

Cenas como as de Pedrinhas, nunca mais! Esse é o desafio.

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB de Minas Gerais

Fonte: O Tempo (MG)

Luiz Carlos Mendonça de Barros: O governo Dilma e os mercados

A questão de fundo sobre a qual devemos refletir é qual deve ser o equilíbrio entre Estado e mercados atualmente

"Um analista de economia precisa ter uma combinação pouco comum de dons. Precisa ter conhecimento profundo de vários domínios e combinar talentos que não se encontram em um mesmo homem com frequência. Precisa entender de matemática, história, pensar como homem de Estado e ser filósofo em certa medida. Precisa compreender os símbolos e se exprimir por palavras. Precisa pensar no particular, mas nos termos do geral e abordar o abstrato e o concreto dentro do mesmo processo de pensar. Deve estudar o presente à luz do passado e com vista para o futuro. Nada na natureza do homem ou de suas instituições pode escapar de sua atenção. Ele precisa ser ao mesmo tempo resoluto e desinteressado; ele deve ser distante e incorruptível como um artista e, ao mesmo tempo, algumas vezes tão terra a terra como um político." John Maynard Keynes, 1930

O texto acima foi escrito há 84 anos e faz parte de um pequeno livro editado recentemente na França. Lido na fria e quase deserta Cidade Luz na primeira semana de um ano novo, ele teve um impacto muito forte em mim. Trouxe uma quase necessidade de voltar a ler alguns dos textos mais importantes deste extraordinário economista que moldou minha forma de pensar as questões econômicas. Mas, voltei bruscamente ao mundo de hoje quando de maneira surpreendente o presidente da República Francesa - François Hollande - fez declarações públicas comunicando que iria mudar de forma estrutural sua política econômica. Algo na linha do Choque de Capitalismo do governador Mario Covas e que lançado de maneira inesperada - quando ainda era governador do Estado de São Paulo - causou perplexidade na ala mais à esquerda do PSDB.

A diferença principal entre estes dois momentos é, entretanto, muito grande e, na linha do que escreveu Keynes nos anos 30, precisa ser devidamente qualificada. O Partido Socialista Francês é uma das referências da esquerda democrática por sua história de lutas e pela rigidez de sua ideologia econômica. Para ele o Estado deve ser a grande força condutora da economia, reservando ao setor privado e aos mercados um papel subsidiário e menor. E o presidente francês fez sua carreira política em um dos grupos mais à esquerda do espectro político do PS francês. Vivendo hoje um momento de muita fragilidade na opinião pública, e convencido de que o caminho trilhado até agora não levará a uma recuperação sustentada da economia, decidiu por uma saída quase revolucionária. Uma repetição clara do chamado cavalo de pau na economia anunciado pelo então todo poderoso chefe da Casa Civil do presidente Lula em 2003.

A diferença principal é que no caso do PT em 2003 havia um modelo alternativo e pronto a ser seguido. François Hollande terá que recuar ainda mais no tempo e buscar na Alemanha de Helmut Schmidt, o chanceler socialista nos anos noventa do século anterior, uma fonte de inspiração. Mas o maior obstáculo que o presidente francês encontrará serão as diferenças históricas entre seu povo francês e o alemão. Lula, no Brasil de 11 anos atrás, lidava com o mesmo povo.

Mas não quero aqui tratar das questões francesas e alemãs. Temos no nosso Brasil desafios suficientes para que eu gaste este meu espaço para refletir sobre os problemas de outras sociedades. As palavras de Keynes na abertura desta coluna - o analista precisa pensar no particular mas nos termos do geral - abrem, no meu entender, o caminho para trazer ao leitor algumas reflexões para o futuro usando o cavalo de pau francês como referência. A questão de fundo sobre a qual devemos refletir é qual deve ser o equilíbrio entre Estado e mercados em uma sociedade como a brasileira neste início de século.

Qual a função de um e do outro? Quais os limites de intervenção do Estado na economia e como organizar a liberdade dos mercados para que funcionem com eficiência sem excessiva concentração de renda? Quais são os exemplos exitosos nos quais devemos nos inspirar? Na Alemanha dos sindicatos poderosos ou nos Estados Unidos da liberdade total dos contratos de trabalho privados? A China, de um comunismo hoje apenas virtual e em desmonte acelerado, pode ou não trazer algum ensinamento a nós brasileiros? E os anos Lula de Meirelles vis a vis o governo bem mais centrado na intervenção do Estado da presidente Dilma, pode ele nos ensinar alguma coisa? Vale a pena o governo fazer luta de classes na sua relação com o mercado como vêm pregando alguns membros mais radicais do PT?

Estas são questões que trouxe na minha bagagem de analista das coisas da economia e que pretendo desenvolver este ano. Afinal, se ocorrer a reeleição da presidente Dilma para mais um mandato de quatro anos, não está claro qual caminho dos citados acima ela vai trilhar. As hipóteses são duas: tomar o exemplo francês como referência e refazer o equilíbrio dos anos Lula ou manter os conflitos que hoje separam a política econômica do Palácio do Planalto dos mercados.

Apenas uma última palavra aos leitores, principalmente aos mais agitados com o estado atual da economia brasileira: leiam com profundidade o relatório de 33 páginas da agência de rating Fitch sobre a economia brasileira e que manteve inalterado o rating BBB da dívida externa.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.

Fonte: Valor Econômico